EntreContos

Detox Literário.

O Conde que me Amava e o Cemitério de Elefantes (Kelly Hatanaka)

Bianca olhava pela janela, ainda sob o impacto da estranha conversa que entreouvira na sala. Bárbara, a madrasta que a odiava, oferecia a seu marido, Theodore Wycliff, o conde de Witmore, a possibilidade de se livrar da esposa e, ainda assim, manter a fortuna que lhe coubera de dote. Um golpe sujo e desprezível, como tudo o que vinha daquela mulher, e que representava liberdade para Theodore, preso a um casamento indesejado. Mas, para sua surpresa, ele declinou a oferta e a expulsou de sua casa.

A lua entrava pela janela e tingia todo o quarto com sua luz branca. Enquanto observava os reflexos prateados nas águas do lago, pensava na atitude do marido. Ele a confundia. Sempre havia deixado dolorosamente claro para Bianca que aquele seria um casamento de fachada, que seus reais sentimentos estavam em outro lugar e que apenas se sujeitava a um casamento arranjado por sua responsabilidade com o legado da família.

Então, por que abriu mão da chance de se livrar dela?

— “O conde que me amava”?  Sabrina, querida, você não está velha demais para isso?

Paro de digitar e olho para ela por cima dos óculos. Sim, eu sei que este gesto é uma resposta afirmativa a sua pergunta impertinente, inconveniente e desnecessária. Mas olho, mesmo assim. Algumas reações são inevitáveis. Meus personagens vêm me ensinando isso ao longo dos anos. Obtenho o efeito desejado: Julia fica sem graça, larga meus rascunhos na escrivaninha e olha para o outro lado, subitamente interessada na cor da parede.

Continuo escrevendo.

— Não quis ofender. — Julia retoma.

— Claro que não. Afinal, você é só um ano mais nova do que eu. — Respondo, fria.

— Mas, aos 72 anos, você não acha que poderia escrever sobre outra coisa?

— Como você?

Julia caminha pelo escritório, parece escolher as palavras com cuidado.

— Minha escrita evoluiu. Não vi sentido em continuar escrevendo bobagens românticas, clichês sobre mocinhas virginais e mocinhos incompreendidos.

— Agora você escreve sobre pessoas normais vivendo suas vidas. Fala sobre a pressa, a angústia, o medo, a fluidez dos sentimentos, a opressão. Escreve grandes calhamaços em uma linguagem poética, hermética, críptica, cheia de neologismos, sem vírgulas, sem pontuação, longos fluxos de pensamento simbólicos e sem fim.

— Como disse, evoluí. Falo de questões filosóficas, de inquietações humanas, de dores universais, de assuntos que me atravessam.  Exploro formas inovadoras…

— Eu também. Só que de um jeito que o leitor não caia no sono.

— Sabrina!

— Desculpe. Achei que ainda estivéssemos sendo inconvenientemente sinceras. A hora da verdade acabou? Se sim, poderia por gentileza me deixar trabalhar? Esta mocinha virginal não terá seu primeiro orgasmo com o mocinho incompreendido se você continuar atrapalhando o clima perfeito que estou montando.

Julia, a imagem da dignidade ferida, se afasta e senta-se à sua escrivaninha. Ao contrário da minha, que é uma peça de carvalho em estilo Luis XV, adquirida em uma loja de antiguidades há muitos anos, a dela é um móvel minimalista de metal e vidro que é trocada a cada mudança de vento. Apesar de todas as diferenças, quando olho para minha irmã trabalhando de frente para mim, sinto-me olhando para um espelho.

Dividir a casa e o escritório com a irmã tem seus problemas, mas nada supera as vantagens. Nessa idade em que os filhos estão criados, os amigos estão morrendo e percebemos que temos mais passado do que futuro, é bom dividir a existência e o espaço com alguém que viveu o mesmo tempo que nós, alguém que tenha testemunhado nossos dias. De preferência, alguém que amemos.

Sobre este sentimento universal, algo que mereceria de Julia um longo solilóquio de cem páginas, devo dizer que a solidão e o medo do que vem depois dos cabelos brancos e das dores no joelho têm me “atravessado”, para usar o termo adorado por minha irmã. Imagino que o mesmo aconteça com ela, pois vive questionando se posso ou devo fazer isso ou aquilo nessa idade. Reagimos de forma diferente às situações, mas somos mais parecidas do que gostamos de admitir.

Aliás, sempre fomos parecidas. Houve um tempo em que trocávamos ideias sobre nossos trabalhos. Apesar de escrevermos o mesmo tipo de livros na época, não éramos rivais, e sim, parceiras. Líamos os textos uma da outra, sugeríamos melhorias. Éramos, ambas, bem-sucedidas. Mas, um dia, Julia passou a renegar seu próprio trabalho.

“É mera literatura de entretenimento”, passou a dizer.

Sim, é mera literatura de entretenimento. Sempre foi. E qual o problema? Segundo ela, muitos. É literatura de segunda categoria. Não contribui em nada com o mundo, não possui valor artístico. É sempre a mesma história, que já foi contada antes, enredos simples e previsíveis, sem nada de inovador.

Ora, quanto pedantismo! Como se o livro que ela está escrevendo atualmente, “Cemitério de Elefantes”, uma longuíssima história sobre o vazio existencial de Titânia, mulher de meia-idade que vive numa comunidade finlandesa nos confins do Piauí e sofre de uma rara condição que a impede de mentir, fosse resolver os problemas da humanidade. Bom, quem sabe, curará a insônia.

Eu implico com ela. É o que irmãs fazem, aos cinco, aos vinte, aos trinta ou aos setenta anos. Ela continua sendo uma excelente escritora, seus livros vencem prêmios e ganham matérias em jornais, podcasts e revistas culturais. Mas, o que a irrita e a faz implicar com meu trabalho, é que, mesmo assim, meus “romances de banca de jornal”, como ela chama, vendem muito mais do que os dela. Vendem feito água. Não posso me queixar. O fato é que ela tem sucesso de crítica e eu, um estrondoso sucesso de público, o que parece fomentar uma espécie de ressentimento dela com o mundo, o que acho muito triste, para falar a verdade.

Olho para ela, que trabalha compenetrada em seu novo livro.

O rio que corre, águas desenhando pedras, segue, indiferente ao olhar de Titânia, que espera pelo dia em que as águas correriam para o outro lado, um milagre que ela não cansa de pedir em suas orações. A volta das águas, o retorno da correnteza, o fim do esquecimento. Se o rio voltasse, as águas corressem de volta por onde vieram, no final do caminho ela estaria inteira novamente.

Meus livros não têm a pretensão de levantar discussões relevantíssimas. Só quero que minhas leitoras leiam com prazer, percorram as páginas, ávidas pelo próximo parágrafo e, por fim, possam ter um alívio na dura rotina. Considero muito digno conceder à mocinha que passa horas sacolejando em três conduções para ir e três para voltar a esperança de um amor perfeito e idílico. Ou, à dona de casa que não tem tempo de cuidar de si mesma, o alento de imaginar-se uma princesa por algumas páginas. Forneço sonhos, na forma de príncipes árabes, nobres misteriosos, gentis tratadores de cavalos e guerreiros honrados. Eles são convenientemente lindos, protetores e, alguns deles, ricos? Claro. Como disse, são sonhos. Ninguém quer verossimilhança em sonhos. Só o bastante para mergulharmos neles e os confundirmos com a realidade por alguns instantes.

O que seria de nós sem o sonho? Sem a fuga, sem o suspiro, sem a imaginação de um mundo menos sórdido e árido? Por que esta fuga seria menos válida do que uma discussão cerebral sobre o tempo e a angústia? Uma discussão racional e filosófica pode ampliar nossa compreensão, mas a fuga proporcionada por um sonho pode ser questão de sobrevivência.

“Velha demais para isso”. As palavras de Julia continuam ecoando em meus pensamentos. Preciso reconhecer que essa observação teve o poder de me irritar. Olho para ela, digitando. Decido pensar nisso depois. Volto à cena que estou escrevendo, antes que perca o fio da história.

Distraída, Bianca demorou a perceber que a porta de seu quarto se abria. Voltou-se e viu quando o marido adentrava o recinto, a atitude febril, os olhos ardendo de uma estranha chama desconhecida. Durante o curto noivado, estiveram sempre rodeados pela família dela, os longos braços da madrasta se intrometendo, impedindo que se conhecessem. Após o casamento, tiveram a dolorosa conversa em que o conde deixara claro os termos da união. Esta era a primeira vez que se viam a sós, sem familiares, sem criadagem. A primeira vez em que se encontravam em situação tão íntima, pensou Bianca, corando, subitamente consciente da fina roupa de dormir, que desenhava sua silhueta perfeitamente contra a luz da lua.

Percebeu a admiração nos olhos de Theodore e observou enquanto ele se aproximava dela com passos decididos. Bianca mal podia respirar, embriagada pela proximidade daquele homem enigmático, os olhos ardentes, a mão se perdendo entre seus cabelos escuros. E sentiu aqueles lábios cobrindo os seus, o sabor de menta…

— Sabor de menta? Soa estranho, isso. Havia chiclete na época? E por que todas as suas heroínas têm cabelo escuro?  

Pulo de susto.

— Julia, você sabe que odeio quando leem pelas minhas costas. E as pessoas mascavam menta. Que chatice. Você não tem o que fazer? Ou depois de trinta e nove páginas de fluxo de pensamento você nem sabe mais como prosseguir com sua história?

— Sei exatamente como prosseguir. Titânia está indecisa entre seu trabalho arqueológico na comunidade e a possibilidade de ir para Njelele, encontrar o cemitério de elefantes com que tem sonhado.

— Já que o título do seu livro é “Cemitério de Elefantes”, me parece meio óbvio o que ela vai fazer, não?

— Tem razão. Talvez seja bom mudar o título.

Julia volta para a escrivaninha, pega seu caderninho e faz algumas anotações.

Por meu lado, não consigo segurar a pergunta que segue perturbando em um canto de minha cabeça.

— Qual é a idade limite?

— Como?

— Você questionou se não seria velha demais para escrever meus romances. Há uma idade limite para escrever histórias românticas? Qual seria essa idade?

Julia parece surpresa que eu tenha me incomodado com a pergunta a ponto de trazê-la de volta à discussão. Sai de trás de mim e retorna para sua escrivaninha. Volto a tê-la diante de mim, um reflexo desigual.

— Não é que exista uma idade. Na verdade, eu queria saber como você consegue. Não entendo. Eu escrevia como você, as cenas de sedução nasciam de forma natural. Era fácil imaginar. De repente, não consegui, não pude mais.

Esta informação me choca.

— Eu não sabia disso. Pensei que você tivesse se cansado de escrever romances de banca de jornal, que quisesse ser considerada uma “escritora de verdade”.

— Sim, e foi isso. Mas, também teve o fato de eu não conseguir continuar escrevendo sobre o amor romântico, sobre a sedução e o desejo, quando em minha cabeça, o romantismo não existe, sentimentalismo virou bobagem e sofrer de amor se tornou coisa de adolescente.

No meu computador, a página em branco me chama, mas esta conversa inédita com minha irmã fisga minha atenção. Fecho o notebook.

— Do que sofre um adulto?

— De falta de dinheiro, que preocupa, corrói. Da passagem do tempo, do envelhecimento, que vai arrancando partes de nós. Arrancou de mim o desejo, a vontade, o ímpeto, os joelhos e a coluna. O que é isso diante de uma desilusão amorosa, que se cura facilmente com vodca e chocolate? Na pior das hipóteses, que se deixe o tempo correr. Ele mesmo vai arrancar essa desilusão, jogar tudo no fosso do esquecimento. Não foi assim com você? Achei que depois que Thomas partiu e seu conto de fadas acabou, você enfrentasse o mesmo que eu. Não me leve a mal, não estava torcendo contra você, não mesmo. Só estava curiosa para saber o que você faria.

— Entendo. Você faz o mesmo com seus personagens. Coloca-os numa situação impossível e observa como eles se saem.

— Todo escritor é sádico e voyeur. Sabia que você entenderia. — Julia abre seu notebook e retoma sua história.

De onde está, em Demerval Lobão, até Njelele há um oceano que não importa mais. Só quem já foi tragado pelo tempo sabe o que é a expectativa da imensidão. Ao fim de todas as coisas grandes, do grande tempo, do grande espaço, da kalunga grande que separa Titânia de onde ela quer estar. Como a um velho paquiderme, o cemitério a chama. Ela teme o tempo, mas tudo o que deseja é mais e mais dele.

— Thomas não partiu. Ele me abandonou por uma menina trinta anos mais jovem. Eufemismos não vão mudar nada. E eu nunca vivi em um conto de fadas. Depois de duas décadas de casamento, observei enquanto ele fez suas malas, deixou a chave sobre a mesinha e fechou a porta atrás de si. Tentei chorar, tentei espremer uma lágrima que fosse, sem sucesso. Nada foi mais triste do que perceber que tudo o que eu consegui sentir foi alívio. E o alívio, o grande peso que saiu de meus ombros, do julgamento, do escrutínio diário daquela presença constante, me ajudou a escrever.

— A solidão lhe fez bem.

— A solitude, ela sim, me faz bem. Nascemos uma para a outra.

É estranho conversar com ela assim, frente a frente. Há tanto tempo não fazemos isso.

— Mas, Sabrina, você ainda deseja? É isso que não entendo. Eu só quero manter meus pés quentes e o conforto de minha poltrona. Você ainda quer os tais lábios com sabor de menta explorando sua boca, o peso de um corpo sobre o seu ou um arrebatamento que já foi sentido tantas vezes?

Não sei o que pensar destas palavras de minha irmã. Ela parece muito frágil, em seu vestido preto de corte moderno e austero.

— E você, Julia? É sobre isto a história de Titânia? Este sentimento de que a vida passou, a hora se aproxima e é o momento de conduzir o peso da própria carcaça até o derradeiro destino, o cemitério de elefantes e esperar? Pois saiba, sou velha, mas enquanto eu estiver viva, vou viver. Se a vida colocar um novo amor em meu caminho amanhã ou aos noventa anos, vou desfrutá-lo também, como se tivesse vinte. E se isso for ridículo, pode rir. Rir faz muito bem à saúde.

Abro meu notebook e prossigo com minha história.

E sentiu seus lábios cobrindo os seus, o sabor de menta, a língua explorando sua boca em uma carícia íntima. As mãos dele a puxaram para perto e a sensação de seu corpo tão colado a fez querer mais, a querer algo que ela não saberia definir. O que aconteceu com o casamento de fachada? Por que ele teria mudado de ideia? Este pensamento a paralisou. Temeu algum novo golpe de Bárbara. A madrasta sempre tirou de suas mãos qualquer fonte de alegria. Do que ela seria capaz se descobrisse que Bianca amava o marido que lhe havia sido imposto?

Antes que ela pudesse expressar suas inseguranças, Theodore, percebendo sua hesitação, disse, a testa encostada na sua, os olhos negros fixos nos seus, transbordando um calor que ela jamais vira nele, sempre tão contido e distante.

— Eu te amo, sempre te amei.

— Que clichê! — Julia estava novamente lendo por sobre meus ombros. Desde quando ela adotou essa mania irritante? — Agora ele vai dizer que nunca demonstrou seu amor porque a madrasta má tinha feito com que acreditasse que Bianca era uma interesseira calculista e ela vai dizer que agia de forma fria para preservar seus sentimentos e eles vão se beijar, transar e passar as últimas páginas do livro em um romance idílico e perfeito.

— Exatamente. Você só esqueceu de um detalhe: serão felizes para sempre.

— Isso não existe.

— Eu sei disso, você sabe disso, minhas leitoras sabem disso, todo mundo sabe disso. Mas queremos esquecer. Que inferno ser um elefante, ter memória prodigiosa, lembrar de tudo e ainda saber quando vai morrer. Os deuses são eternos, sabem disso e são felizes. Os animais são mortais, mas não sabem disso e são felizes. E nosso grande horror é sermos mortais e termos consciência dessa finitude.

— A memória do elefante é um mito, você sabe. A história do cemitério idem.

— Sim, sei. Mas prefiro acreditar nessas coisas por um motivo muito bom.

— Qual?

— Acreditar é mais divertido.

Julia olha para mim, parece indignada. Por fim, respira fundo e ri. Talvez me ache um caso perdido, mas não me importa. Não enquanto eu puder arrancar esse tipo de risada dela.

Retomamos nossas escritas. Há muitas páginas a serem povoadas nesta sala em que duas irmãs escrevem frente a frente.

Titânia passou dois anos em Njelele, mas não encontrou nenhum cemitério de elefantes. Viu ossadas e presas espalhadas em espaços perdidos, procurou-se nelas e só viu a brancura dos restos mortais. Cruzou o mar na esperança de encontrar seu lugar de repouso só para perceber que, embora aquele fosse o lugar, com certeza, ainda não era a hora. No hotel, arrumou suas coisas para partir e, na recepção, cruzou olhares com um feliz casal em lua de mel. Conde e condessa de Witmore. Um casal feliz, tão feliz como só seria possível em um conto de fadas ou em um anacrônico romance de banca de jornal. E pensou no que significaria encontrar tais pessoas, tão irreais, brotadas de algum livro de época piegas, como são todos os amores. Talvez existisse, em algum lugar, em algum tempo, algo que os unisse e que os fizesse parte de uma mesma história.

Sobre Fabio Baptista

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22 comentários em “O Conde que me Amava e o Cemitério de Elefantes (Kelly Hatanaka)

  1. Bia Machado
    25 de setembro de 2025
    Avatar de Bia Machado

    Olá! Já faz dias que li seu conto e agora finalmente comento. E, como sempre, gostei demais! Um conto com começo, meio, fim, mas que poderia virar algo maior tranquilamente. E com outras histórias no meio. Coisas que adoro encontrar por aqui, ainda mais quando bem escritas. Parabéns! E desculpe por ser repetitiva rssss…

  2. Thiago Amaral
    19 de setembro de 2025
    Avatar de Thiago Amaral

    Cometi o pecado antissocial de não ler os contos da série A, então perdi muita coisa. Mas a live de revelação deixou algo muito claro: não poderia deixar de ler esse conto aqui. Ele prometia tudo que eu gosto – profundidade, metalinguagem, análise psicológica… bom, pensando bem, talvez não tudo que eu gosto, mas essas coisas estão entre as minhas preferidas.

    Agora tirando um tempo pra ler de fato, instigado pela enquete do grupo (por que eu me importo com essas coisas?), entendo todos os elogios. Era mesmo tudo que parecia e que diziam que era. Apenas uma coisa é um pouco diferente do que eu imaginava: o conto não apenas valoriza ambas as visões, mas tenta resgatar a literatura de entretenimento. Temos aqui uma defesa, mas, claro, sem panfletagem. Senão não teria alcançado a posição que alcançou.

    O conto é um manifesto sobre a leitura divertida, emocionante, sem fins importantes, sem pretensões, que ousa sonhar um pouco. Parece indicado a certas pessoas, e influenciadas pelas discussões do grupo. Até me lembro de uma crítica sua, Kelly, durante o desafio fanfic, falando da importância da forma, mesmo que numa trama clichê, sobre uma trama “rocambolesca”. Fiquei me reccordando disso enquanto lia, e pude ver que o conto é a tradução literária dessa sua reflexão.

    Gostei da defesa natural de Sabrina, e como ela ironicamente nos traz bastante profundidade psicológica e, pelo menos na minha impressão, um fluxo de pensamento sobre a divisão das irmãs. Aqui temos alta literatura vinda de uma boca sem pretensões. Não sei se isso foi de propósito, mas funcionou bem pra mim.

    Gostei também da comparação entre histórias e sonhos, que é a mais pura verdade. Dava pra descobrirem todos os meus maiores medos e traumas lendo meus contos – só não conta pra ninguém. E aqui vemos a própria discussão moldando os sonhos uma da outra, enquanto os sonhos também afetam a realidade, causando a discussão racional das duas.

    E o final, claro, muito doce, no bom sentido. A redenção de Julia, que sempre esteve lá ao lado de Sabrina nas bancas de jornal, e talvez nunca tenha perdido completamente sua ternura. Que não percamos também.

    Engraçado notar que seu conto defensor do entretenimento tenha ganho na série A, e o conto defensor da alta literatura tenha quase ganho a série B. Isso diz alguma coisa também sobre essa disputa que insiste em existir.

    Uma parte mais pessoal: te conheci no desafio Viagem, onde você escreveu o conto sobre Veneza e confessou que se sentia numa espécie de zona de conforto ou algo assim, me corrija se estiver errado. Não parece que continua no mesmo lugar….

    Parabéns, você mereceu o resultado!

  3. Priscila Pereira
    18 de setembro de 2025
    Avatar de Priscila Pereira

    Oi, Kelly! Li seu conto faz um tempo e vou comentar baseado no que ele me fez sentir. Então, o conto é sensacional mesmo! Super merecido o primeiro lugar! Coisa de gênio como você explicou os dois temas de forma original e não didática! Confesso que pulei algumas passagens do Cemitério de elefantes… descobri nesse desafio que alta literatura não é pra mim mesmo… rsrsrs No mais, excelente conto! Parabéns!!

  4. Mauro Dillmann
    13 de setembro de 2025
    Avatar de Mauro Dillmann

    Sabrina e Julia (assim, sem acento) são irmãs, amigas, e conversam sobre a escrita da primeira. As duas, velhas que escrevem. Fiquei com a impressão de que a autoria do conto é de alguém jovem, porque em algumas passagens o universo idoso me pareceu inverossímil. O texto é bem escrito e tem fluidez, embora apresente certos lugares comuns literários.

    Um bom conto.

    Parabéns!

  5. Rodrigo Ortiz Vinholo
    12 de setembro de 2025
    Avatar de Rodrigo Ortiz Vinholo

    Excelente! Adorei como a escrita consegue trabalhar diferentes vozes, tanto nas personagens, quanto nas vozes narrativas de cada uma e ainda na narração da narradora-personagem. Também é refrescante ver um ponto de vista diferente, em meio a tantos personagens jovens e idosos desinteressantes. Parabéns, adorei!

  6. leandrobarreiros
    12 de setembro de 2025
    Avatar de leandrobarreiros

    Achei que já tinha encontrado meu conto preferido, até me deparar com esse aqui. 

    Há dois motivos para isso, o primeiro, é a qualidade técnica. Existe uma certa confusão com o uso de técnica nesses concursos, então quando falo de técnica me refiro à capacidade de conduzir a narrativa de modo a trazer o leitor para perto. 

    Esse conto traz um assunto que vem sendo discutido fora do certame a algum tempo e reconfigura tudo em uma narrativa que é agradável e interessante. Acho, ainda, que consiga se aproximar com o leitor de ambas as posições nessa discussão, tudo isso enquanto usa as temáticas do concurso em duas histórias dentro da história, sem ultrapassar o limite de 3000 palavras. 

    O drama, o bom humor, a discussão, a capacidade de transitar entre os dois tipos de linguagens representados nessa discussão, os personagens super interessantes e vivos, tudo isso se soma de maneira muito legal. 

    Acho que, até aqui, é meu preferido.

    De mim, ganha um dez.

  7. Thaís Henriques
    12 de setembro de 2025
    Avatar de Thaís Henriques

    Não sei o que dizer além de: sensacional!

  8. claudiaangst
    11 de setembro de 2025
    Avatar de claudiaangst

    Olá, autora, tudo bem?

    Você construiu uma narrativa muito bem elaborada, abordando o tema sabrinesco de forma muito criativa. Explorou as várias vertentes e exemplicou as diferenças entre a escrita sabrinesca e alta literatura através das duas irmãs/escritoras com estilos tão contrastantes.

    Não há muito o que falar sobre este conto, só podemos apreciar a leitura fluida e aplaudir a ótima ideia.

    Parabéns pela participação e boa sorte na classificação (pódio, né, amiga?).

  9. Fabiano Dexter
    8 de setembro de 2025
    Avatar de Fabiano Dexter

    História

    Fuga total dos tabus.

    Um texto delicioso onde duas irmãs já senhoras, Julia e Sabrina, conversam enquanto escrevem seus livros de temáticas opostas. As duas são escritoras há muito tempo sendo que Sabrina se manteve fiel às origens românticas enquanto Julia passou a escrever livros mais técnicos e profundos.

    Os diálogos ente as irmãs dão o tom à história e trazem a discussão sobre os valores da Alta Literatura e da Literatura de entretenimento.

    Tema

    Ainda que brinque (e muito) com o sabrinesco, até no nome das protagonistas, temos um exemplo de que Alta Literatura não precisa se chato ou maçante.

    Construção

    O modo como os livros escritos pelas personagens se mistura à narrativa é muito bem pensada e elaborada, sem falar do cuidado com o português e a narrativa.

    Os diálogos são a essência do conto e é possível ver e ouvir cada uma das protagonistas conversando, com seu estilo próprio e modo de pensar.

    Interessante estarmos dentro da cabeça de uma delas, que nos dá um caminho a seguir e, ainda que saibamos exatamente o que ela pensa, a realidade de Julia é colocada no texto através dos diálogos.

    Impacto

    Ainda que o início do conto tenha um impacto maior em um desafio onde sabe-se que sabrinesco é um dos temas, a saída no livro para a realidade é muito leve e bem-feita. Além disso o fina, onde os livros escritos pelas irmãs se encontram dá um fechamento muito agradável à história.

  10. Givago Domingues Thimoti
    8 de setembro de 2025
    Avatar de Givago Domingues Thimoti

    O Conde que me Amava e o Cemitério de Elefantes

    Olá, autor(a)! Espero que esteja bem no momento da leitura! Parabéns por participar do Desafio EntreContos! Sempre um prazer ler e comentar o trabalho dos colegas. Espero sinceramente que, ao final da leitura, você sinta que esse comentário tenha contribuído para você de alguma forma! Caso contrário, não leve para o pessoal ou crie ressentimentos. Escrevi com cuidado (atenção)!

    Além disso, tomando as definições sugeridas pela Moderação, eu considerei sabrinesco como aquele conto que, por mais que tenha sexo nele (embora não seja obrigatório que tenha), você mostraria tranquilamente para uma pessoa da sua família que é bem careta. Já um conto de alta literatura eu interpreto como um conto mais rebuscado, que instiga o leitor tanto nas ideias (fazendo-o pesquisar sobre algum elemento do texto)  quanto na técnica empregada (podendo ser um ou outro).


    Adequação ao tema:
    O conto aborda de forma clara, criativa e relevante o(s) tema(s) proposto(s)? Há relação explícita ou simbólica (mas detectável) com o tema indicado?

    Adequadissimo! Alta Literatura pulsante. 

    Correção gramatical: O texto segue a norma culta da língua portuguesa? Se sim, há erros gramaticais, ortográficos ou de pontuação que prejudiquem a leitura? Se optou pelo coloquialismo ou regionalismo, deu para sentir que foi uma boa imitação? Soou forçado? 

    Não percebi grandes deslizes gramaticais. Apenas o famoso “palavras estrangeiras devem ser escritas em itálico”… Logo, podcast.

    No mais, parabéns pelo trabalho bem feito de revisão gramatical!

    Construção narrativa: A estrutura do conto é bem organizada (início, desenvolvimento, clímax e desfecho)? Estica demais, apertou demais? Caso tenha optado por um conto não linear, deu para entender/acompanhar a história? O estilo de escrita é adequado? A técnica chama a atenção? Há fluidez, ritmo e coesão textual?

    Temos aqui um conto muito bem construído. Leitura fluida e um texto muito bem coeso. Pessoalmente, senti que o último parágrafo sobrou um pouco (embora ele traga o impacto da conversa entre as irmãs na escritora literata). 

    Parabéns pela condução!
    Impacto pessoal: O conto provoca reflexão, emoção ou surpresa? Causa uma impressão duradoura ou significativa?

    Bem positivo! Temos aqui um conto que nos apresenta a metalinguagem, retratando de forma ousada e criativa  a dualidade Alta Literatura vs Literatura de Entretenimento entre as irmãs. Achei uma abordagem criativa, especialmente quando se tem em conta que há, aqui, uma discussão relativa à idade avançada e o papel que se espera de pessoas mais velhas.

    Nessa toada, entre uma escritora mais romântica (e extremamente consciente sobre o papel e a necessidade de clichês) e uma escritora mais literata, a leitura é leve e instigante.

    Um trabalho muito bom, que incorporou o espírito do Desafio com propriedade; afinal, não penso que há uma necessidade em descartar uma para exaltar a outra. Na literatura há espaço para todos os textos (até sobre histórias sexuais/românticas de objetos animados com humanos) 

  11. Gustavo Araujo
    5 de setembro de 2025
    Avatar de Gustavo Araujo

    Muito bom o conto. O melhor que li até o memento – e olha que já é o vigésimo do desafio! Gostei muito da discussão, do embate entre as irmãs Sabrina e Júlia (homenagem percebida) sobre as vantagens e desvantagens de se escrever literatura rasa, consumível, mas talvez por isso mesmo adorável, e a chamada alta literatura, aquela que obriga a pensar, a filosofar, a mergulhar em assuntos desconfortáveis com a promessa nem sempre factível de irá nos transformar.

    Os diálogos são muito bem montados, naturais, como duas irmãs de idade mais avançada travariam, irmãs que adoram se incomodar mas que têm entre si um pacto secreto de extrair o melhor uma da outra. Esse, aliás, é o diferencial do conto: além das histórias em que Sabrina e Julia trabalham, há, ainda, a relação entre elas. Histórias dentro de histórias. Sabrinesco e alta literatura debatidos com metalinguagem. Excelente!

    Eu estava com o pé atrás com a ideia de transcrever os textos em que ambas trabalhavam – o conde sabrinesco e o elefante literato – mas ao fim percebi a genialidade disso. Justamente a mistura de ambos os enredos no parágrafo final, como se Julia homenageasse a irmã Sabrina. Ficou muito bom. Há tempos não via um arremate assim perfeito.

    Cheguei ao ponto em que as qualidades do conto me impedem de ver seus eventuais defeitos. Para mim, vai ser difícil algum concorrente superá-lo. Parabéns e boa sorte!

  12. Mariana
    5 de setembro de 2025
    Avatar de Mariana

    História: duas irmãs vivem juntas e trabalham escrevendo, acompanhamos uma tarde delas. Uma escreve romances água com açúcar, a outra busca produzir o que chama de literatura séria. A história busca uma metalinguagem, apresentando também os mundos das personagens criadas pelas personagens. Eu simpatizei com as irmãs e a relação delas, achei bem crível e construída a fraternidade das duas. Nessa releitura rápida me dei conta que os nomes delas homenageiam as autoras dos clássicos livretos de banca 1,7/2

    Escrita: a ideia é boa, mas, desculpe, a execução não me agradou tanto. A autora ou autor parecia estar mais preocupado em defender a literatura dita de massas do que desenvolver o enorme potencial das personagens. É aquilo de mostre, não conte. Os dialógos acabaram ficando expositivos e repetitivos. Uma cena, por exemplo, com a Sabrina autografando seu livro e as leitoras agradecendo os momentos que ela proporciona, poderia passar a mesma mensagem de forma mais orgânica… 1,2/2

    Impacto: o conto demonstra um enorme potencial, só acabou não me agradando o tanto que eu queria. Mas é isso, a literatura é feita de ideias e públicos. 0,5/1

  13. Jorge Santos
    4 de setembro de 2025
    Avatar de Jorge Santos

    Olá, escritora séria. Li por duas vezes o seu conto. Da primeira vez, escapou-me a ironia do seu conteúdo, talvez por não saber da “problemática” da literatura “sabrinesca”, um termo que não existe aqui em Portugal. Na segunda leitura, saltou-me à vista o nome da personagem Sabrina. Logo a seguir, vi o nome Júlia. Uma rápida pesquisa na internet revela o triunvirato da literatura romântica, Sabrina, Júlia e Bianca. A ironia é interessante: um texto escrito sobre as escritoras que criaram o tema. O resto do texto poderia ser igualmente impactante, com uma narrativa mais desenvolvida. A linguagem é correta, sem mostrar sinais de Alta Literatura. Estamos perante o sabrinesco, puro e duro, assistindo a uma discussão existencialista. Esperava algo mais.

  14. toniluismc
    1 de setembro de 2025
    Avatar de toniluismc

    Não terei a ousadia da autora séria para nomeá-la agora, então só me resta deixar os parabéns pelo texto!

    A narrativa se estrutura como uma conversa entre irmãs escritoras, abordando o embate entre literatura popular romanceada e um projeto literário denso, reflexivo. A alternância fluida entre descrições da escrita, diálogos perspicazes e cenas do conto dentro do conto indica maturidade formal.

    A prosa está bem revisada. A divisão em trechos de meta-narrativa e narrativa de Bianca/Titânia funciona de maneira orgânica, facilitando a leitura mesmo com o fluxo de consciência e referências.

    A voz narradora é consistente, com ritmo calculado para equilibrar ironia, crítica e memórias. O texto demonstra domínio da linguagem de forma equilibrada.

    O texto é criativamente metalinguístico. Ele coloca escrita dentro da escrita, costurando a rivalidade literária entre irmãs com a criação de Titânia, personagem de “literatura de bancas” versus literatura existencial de Titânia no “Piauí finlandês”.

    A escolha de colocar o “conto real” dentro das tensões entre essas narrativas confere profundidade simbólica ao texto. O debate sobre valor literário, envelhecimento, experiência e memória torna-se poesia reflexiva.

    A figura do cemitério de elefantes como símbolo do tempo e da finitude literária é instigante e inventiva.

    O impacto é sutil e cerebral, mas não menos poderoso. Há uma catarse literária entre as irmãs, onde cada texto é também posicionamento de vida.

    A cena final — a fala sobre a mortalidade, o querer viver mesmo depois dos noventa — ecoa como afirmação de desejo e resistência ao apagamento. É emocionante sem ser piegas.

    O leitor leva consigo o eco dessa conversa entre literatura leve e literatura densa, reconhecendo que ambas têm legitimidade.

  15. sarah
    1 de setembro de 2025
    Avatar de sarah

    Olá! Este conto é muito bonito! As duas irmãs escritoras e ambas em idade mais avançada, tão diferentes pelo menos no que escrevem, eu amei essa ideia. As histórias que elas escrevem parecem falar muito mais sobre elas do que elas se dão conta. Achei tão bonito mostrar os trechos do que elas escreviam e alternar isso com a própria conversa das duas. Os motivos pra escrever algo mais sério ou algo romântico.

    Gostei muito dos diálogos das duas, essa estrutura do conto encaixou bem e a conversa delas também me fez pensar. Acho que é ruim colocar tipos de livros em patamares, afinal existe público que vai preferir um ou outro.

    E eu estava muito curiosa pra ler esse conto por causa do título! risos e sei que ninguém perguntou mas… eu amo histórias de romance. kkkk, concordo com a primeira escritora, a vida já tem todas as coisas sérias, tristes e frustrantes, é tão divertido ler e apreciar uma história onde as pessoas que se amam ficam juntas, ainda mais depois de tanto sofrimento! risos. Maravilhoso conto!

    Teve apenas um ponto negativo pra mim, duas vezes eu me perdi um pouco com quem estava falando, se era a escritora de romance ou a irmã dela. Mas tudo bem, não atrapalhou a leitura não, excelente história!

  16. marco.saraiva
    29 de agosto de 2025
    Avatar de marco.saraiva

    Cacetada, maluco. Esse desafio está muito bom. Os contos da série A estão fortíssimos! Este conto, para mim, é seriamente um competidor a primeiro lugar. Se eu pudesse dar nota, seria a máxima!

    Incrível o conto, incrível todas as reflexões. A escrita está perfeita. O embate entre a Alta Literatura e a Literatura de Entretenimento foi muito bem desenhado, e o conto não pende para lado nenhum, apenas larga sobre a mesa os fatos e opiniões do(a) autor(a). Apesar de eu discordar de algumas das opiniões expressada aqui, o conto é sincero o suficiente para se fazer entender: aqui não há panfletagem ou agenda, apenas reflexões e um diálogo interessante.

    E as metáforas são muito boas, os paralelos incríveis! A literatura de entretenimento em sua mesa clássica de madeira, a alta literatura na mesa moderna, sempre em mudança. Uma se convence ser clássica, mas tem um quê de modernismo barato. A outra apenas admite ser clichê, e existe desde o inicio dos tempos, sem vergonha de se repetir. Uma apenas existe por existir, a outra parece sempre ser escrita em comparação com a primeira, sempre bisbilhotando o que é feito pela sua irmã, como se dela precisasse de validação, como se dela precisasse ser melhor.

    Conto muito bom de ler, muitíssimo bem escrito, e o melhor que li até agora!

  17. Pedro Paulo
    25 de agosto de 2025
    Avatar de Pedro Paulo

    Estou surpreso com as abordagens metalinguísticas que tenho visto neste desafio. Talvez por falta de criatividade eu achasse que ao escrever meta se tem apenas um ou poucos caminhos a seguir, mas alguns contos do nosso certame têm me revelado que não é bem assim. Aqui, o tema da alta literatura surge espelhado no seu antônimo involuntário, a literatura de entretenimento, representada no estilo sabrinesco. Definições questionáveis em si, mas operantes de uma mesma lógica classificatória. As duas irmãs são muito bem caracterizadas em torno disso e cada uma das personagens parece verossímil, sobretudo pelo ótimo uso dos diálogos, que personalizam as duas escritoras e amarram um conflito em torno do qual o conto se desenvolve, revelando aí outros embates que se perpassam as vidas das protagonistas, discutindo velhice, maturidade e processo criativo. Outro recurso, mais raro e esperto, foi a inserção de trechos das obras que elas escrevem. Além de ritmar a leitura, são excertos dessas obras que abrem e encerram o conto, esses recortes em si muito bem selecionados, sobretudo o último, que carrega consigo o arremate bastante catártico de equilibrar dois “gêneros” ao invés de os conceber em oposição.

    Uma observação: notei um ou dois erros de continuidade em que uma das irmãs, tendo retornado à sua escrivaninha, aparece atrás da mesa da outra já no parágrafo seguinte. Não sei se foi intencional para passar um sentido de teleporte ou se escapou à revisão. Nada que prejudique o brilhantismo do conto.

  18. Luis Guilherme Banzi Florido
    24 de agosto de 2025
    Avatar de Luis Guilherme Banzi Florido

    Bom dia! Tudo bem? Tô lendo os contos na ordem de postagem do site, sem ter conferido quais são minhas leituras obrigatórias. Bom, vamos lá pro seu conto.

    Esse conto é brilhante! Sensacional mesmo, não to exagerando. É impressionante a forma como voce mesclou à perfeição os dois temas. Isso acontece com vários contos em todo desafio, mas nunca vi feito desse jeito. Aqui, não é apenas uma questão de usar os dois generos. Voce brinca com a dualidade, a contradiçao que existe entre eles. Tambem traz muito do que acontece nos desafios, a eterna discussão entre alta literatura e literatura de entretenimento, numa especie de piscadela para o grupo, mas tudo isso sem soar caricato, sem ser prepotente, sem apontar certos e errados.

    E tudo isso numa camada de alta literatura, que fala sobre vida, mudanças, medos, incertezas, envelhecimento. Sem forçar a barra, sem ser piegas. A relação das irmãs e bela e comovente, a discussão é profunda e verdadeira, e a maneira como, no final, as duas historias se entrelaçam é primorosa

    Um conto digno de palmas. Excelente! Parabens!

  19. Anderson Prado
    16 de agosto de 2025
    Avatar de Anderson Prado

    Olá, autor.

    O seu conto me cativou muito. Achei ele de técnica e estilo muito simples, um pouco distante da literatura um pouco mais elaborada que, no geral, admirei nos contos de alta literatura deste desafio. No entanto, achei o seu conto, digamos, fofo! Que delícia essas duas irmãs, seu relacionamento, seus conflitos, suas aproximações e distanciamentos. Embora me tenha sido atribuída a pecha de elitista, entendo a importância e utilidade de todas as formas de literatura. Você leu meu texto neste desafio e, embora eu defenda a ideia de que exista uma literatura que desempenha um determinado papel que a faz pertencer àquilo que se convencionou chamar de alta literatura, o fato é que reconheço o papel formador de todas as formas de literatura, sendo todas elas degraus a levar alguns ao patamares mais altos da literatura que só é alta porque alguns a fizeram assim ao perseguí-la injustamente quando a julgam incomodar os poderosos e seus ditames. Que atire a primeira pedra aquele que nunca se deliciou com textos meramente entretivos. Que atire a primeira pedra aquele que nunca se enfadou diante de um calhamaço erudito. Que bom que você encontrou uma maneira de conciliar o entretenimento e a alta literatura. À minha maneira, procurei fazer o mesmo no meu texto. Que belo desfecho esse seu.

    Parabéns.

    Nota 4.

  20. cyro eduardo fernandes
    13 de agosto de 2025
    Avatar de cyro eduardo fernandes

    Excelente a dinâmica entre as irmãs escritoras. Narrativa prende a atenção. Diálogos bem naturais. Técnica e criatividade muito boas. Impecável!

  21. Antonio Stegues Batista
    12 de agosto de 2025
    Avatar de Antonio Stegues Batista

    O CONDE QUE ME AMAVA

    É a história de duas irmãs escritoras que moram juntas e escrevem cada uma um livro, enquanto conversam sobre suas vidas e ponderam sobre suas inspirações. Sabrina, Julia e Bianca são referencias a revistas de banca de jornal dos anos 70/80. O enredo não é ruim, misturar a história delas com a ficção dos livros que escrevem, mas a relação não se aprofunda. Acho que faltou alguma coisa aí. Não gostei do trecho do livro que Sabrina escreve, como prólogo. Deveria ter começado com uma descrição do clima, ou do quarto, ou uma ponderação de Sabrina sobre a vida e depois sim, colocar o trecho do livro dela. O argumento é interessante, mas acho que deveria ser melhor elaborado.

  22. Léo Augusto Tarilonte Júnior
    12 de agosto de 2025
    Avatar de Léo Augusto Tarilonte Júnior

    Tema alta literatura.Enquadrei seu conto nesse tema, porque ele fala sobre a eterna rixa entre irmãos, também sobre se existe um tempo certo para realizar algo, e ainda questiona o valor da literatura, sua contribuição para a vida dos leitores.Gostei muito da sua escolha de nomes para as personagens femininas da história. Júlia, Sabrina, Bianca e Bárbara, são nomes de séries sabrinescas ou de autoras desse tema. Foi um dos contos que mais gostei neste desafio. Considero genial você colocar todo o debate que estamos fazendo sobre essas temáticas no grupo no seu conto.

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Publicado às 2 de agosto de 2025 por em Contos Campeões, Liga 2025 - 3A, Liga 2025 - Rodada 3 e marcado .