EntreContos

Detox Literário.

O Caminho dos Barcos (Fabio Baptista)

Outrossim, voltam a desabrochar as bromélias ao menor vestígio de primavera, preenchendo de vermelho o que dantes era só verde opaco da época em que a chuva faz vezes de pai ausente e nos abandona na batalha perdida travada dia sim e dia também contra o calor que não há ventilador ou leque que faça amainar, voltam cipós a enredarem-se em samaúmas, voltam araras aos ninhos e ritos de amor, voltam castanheiras e mognos a esticarem-se em direção ao sol, disputando galho a galho, folha a folha, seu quinhão da luz da vida.

Voltam os passageiros. Eles sempre voltam. Não os mesmos, quase nunca os mesmos, quase nunca os mesmos rostos, nem sempre as mesmas cores, mas iguais em seus anseios, iguais em suas dores. Vêm do estrangeiro, de outras cidades, estados ou de qualquer outra fronteira imaginária que traços em um mapa possam criar, falam muitas línguas, secam muitas gotas de suor. Buscam contato com a natureza, experiências transcendentais, buscam preencher o buraco cavado por horas e dias e semanas e meses e anos e décadas enclausurados em salas de vidro, a motivação que já não encontram em meio ao concreto do mundo civilizado onde a respiração é tolhida por gravatas, buscam a melhor foto para mostrar que, sim, eles vieram aqui, sim, eles se divertiram, sim, valeu cada minuto, sim, eles são felizes, sim, eles aproveitam a vida. Sim. Sim.

Amiúde, mosquitos enlevam-se ao posto de contato com a natureza mais marcante, ou ao menos mais frequente, enquanto, não raro, desidratação e pressão baixa afiguram-se ao mais próximo de uma experiência transcendental oferecida pela viagem. Inobstante aos percalços que cartões postais, agências de turismo e Instagram não mostram, em geral sinto que genuinamente aproveitam o tempo aqui e levam um pouco de saudade consigo quando vão embora. Ou talvez seja só a tristeza do prisioneiro obrigado a voltar à cela findado o banho de sol.

Indiferente a tudo isso, eu navego. Eu os conduzo de uma ponta à outra do rio, aponto um animal aqui, uma árvore acolá. Escuto suas conversas, entendo vários de seus idiomas, mas tento não demonstrar. Quando descobrem que sou mais letrado e supostamente mais inteligente do que suas noções de mundo lhes permite acreditar que um ribeirinho possa ser, as conversas invariavelmente desaguam em:

— Nunca pensou em sair daqui, barqueiro? Viver na cidade, ganhar dinheiro, fazer um pé-de-meia para quando chegar a velhice?

— E na minha velhice — eu lhes repondo —, eu deveria usar o dinheiro da cidade para comprar um barco e navegar tranquilamente pelos rios da floresta e daí sim aproveitar a vida? — alguns ainda insistem, mas a maior parte se cala doravante.

Aprendi essa resposta com meu pai. E a navegar também. E a pescar. E a refletir sobre coisas da vida. E tudo o mais que guardo de bom e de ruim, de mais nobre e mais mesquinho, do que mais me orgulho e do que mais me faz desejar ser outra pessoa ou jamais ter sido alguém. Em verdade, algumas coisas não aprendi com ele diretamente, mas com os livros que estavam em casa desde sempre. De onde vieram é um mistério tão insondável quanto o interesse e a facilidade do meu eu-menino pela leitura, devorando páginas e mais páginas com mais voracidade do que os cupins e a umidade onipresente.

Ele me ensinou sobre o rio e a mata, sobre peixes, enchentes e sobre o caminho dos barcos. Ele me ensinou a prever os dias em que a chuva cai e respinga tão forte que quase se pode acreditar que o rio está sendo puxado para cima a fim de aplacar a sede dos anjos, os dias em que os animais ficam ariscos nas árvores e os dias em que as sucuris resolvem caçar nas margens, para deleite dos passageiros que quase tombam o barco, ávidos por obter o melhor ângulo de uma foto que haverá de ser perder entre tantas outras. Com ele, aprendi que uma vida simples é a única dádiva que deveríamos desejar.

Ele só não me ensinou, porque esse é o tipo de coisa que não se pode ensinar e, em derradeira instância, sequer se pode aprender, que entre todas as coisas que terminam e recomeçam no ciclo sem fim da natureza, entre todos os dias e noites, entre todas os imprevistos e intempéries, haveria um dia de Gabriela.

Eu já me considerava marinheiro experimentado nas águas do amor, ou do que eu pensava ser amor. Longe das amarras sociais do concreto, muitas das moças estrangeiras acabam estendendo seus conceitos de “contato com a natureza”. Provavelmente elas me enxergavam como parte de um pacote turístico, algo não muito diferente de interagir como um animal selvagem em um safari. Parte do meu ego já chegou a questionar se eu deveria me submeter a tal papel, um fetiche de férias a ser esquecido já no caminho do aeroporto, ou relembrado apenas em rodas de amigas contando vantagens umas às outras sobre experiências exóticas que tiveram em suas andanças pelo terceiro mundo. Para meu corpo, no entanto, nunca houve dilema moral algum. E sempre esteve bom assim. E assim ainda estaria se não a tivesse conhecido.

Todavia, num entardecer chuvoso, eu a conheci.

Gabriela, não cravo e canela, mas carne, osso e uma voz que faria sereias envergonharem-se de seus dons. Eu havia deixado o último grupo de turistas na pousada e me preparava para ir para casa. Então ela veio correndo até mim, a tez alva avermelhada pelo calor e pelas últimas luzes do dia. Num fôlego só, ela disse:

— Moço, eu preciso voltar para a cidade, preciso falar com a minha mãe, recebi uma mensagem dela e não entendi nada, o sinal tá horrível aqui, ninguém tá conseguindo falar com ninguém. Pode me levar? Por favor?

— Moça, já está escuro, fica perigoso voltar todo esse trecho essa hora — as palavras treinadas à exaustão para lidar com esse tipo de pedido saíram antes que eu pudesse raciocinar.

— Eu pago. Quanto você quer? 500? 600?

— Não é questão de dinheiro, moça… o que a sua mãe tem?

— Na cabeça dela, todas as doenças que você possa imaginar. Eu nunca sei quando é sério ou não. Geralmente resolve só de conversar, mas não estou conseguindo com essa merda desse sinal aqui.

— Tá, vamos lá.

Resisti o quanto pude, mas a mãe dela poderia estar em perigo.

Logo descobrimos que não estava. Alguns quilômetros rio acima, o sinal do celular voltou, com tempo e força suficientes para que minha passageira inesperada pudesse conversar com a mãe e convencê-la de que ela não teria um derrame naquela noite, assim como não teve nas incontáveis noites anteriores.

— Obrigada, moço. Olha, vou te pagar o valor combinado, tá bom? Você pode me levar de volta para a pousada, por favor? — ela pediu, dando-se conta e deixando transparecer, passado o desespero, de que estava sozinha com um estranho no meio do completo nada.

— Me dá só 50, que já é mais do que gastei com combustível.

Ela insistiu para que eu aceitasse os 600 combinados e não fiz desfeita. Não conversamos no caminho de volta. Quando ela desceu do barco, me agradeceu novamente, equilibrando-se nas tábuas do píer. Normalmente eu teria virado as costas e ido embora, mas eu quis provocar o destino:

— Amanhã, depois dos passeios que vocês fazem aí com os guias da pousada, se a moça estiver livre… bom, eu gostaria de tomar uma cerveja com a moça. Por minha conta — mostrei os 600 reais que ela havia me dado havia pouco.

Ela se virou, acredito que pronta para me dispensar, mas senti que naquele momento ela de fato olhou para o meu rosto pela primeira vez, livre de medos e preocupações. Então ela sorriu. E eu percebi havia me tornado peixe que se engalfinha na rede por vontade própria.

— Tá. Combinado. Moço…

— Combinado então. Moça…

No dia seguinte, fizemos as apresentações devidas, tomamos a cerveja e conversamos sobre a vida. Contei sobre como gostaria de ter conhecido a minha mãe e como era estranho e injusto não ter nenhuma lembrança da pessoa que te deu alimento e amor por três anos e se foi antes da hora por uma fatalidade da vida, um escorregão na beira do rio, no caminho trilhado tantas e tantas vezes, um descuido, uma sola de chinelo desgastada, uma pedra um pouco mais lisa, um pássaro que cantou um pouco mais alto distraindo a atenção e pronto, você não tem mais a pessoa mais importante da sua vida. Contei sobre os livros, sobre os ensinamentos do meu pai e sobre como ele se foi, levado pelas febres da malária. Gabriela chorou, contou suas próprias tragédias familiares e percebemos que os corações sangram do mesmo jeito, na floresta, na cidade ou em qualquer lugar. Fizemos a única coisa racional a se fazer em uma vida finita e destituída de aparente propósito que pode se encerrar sem prévio aviso ou garantias.

Nós nos beijamos como se fosse a primeira e a última vez.

E fomos para o barco.

Em um dia, eu não sabia sequer da existência de Gabriela. No outro, ela era a única pessoa que me importava em todo o universo infinito. Conforme os dias de estadia terminavam, uma angústia silenciosa se avolumava em nosso peito. Embora fosse o que eu mais queria, não poderia pedir a ela que ficasse comigo. Seria justo? E se ela dissesse não? Como seria nossa vida quando o boitatá da paixão deixasse de serpentear em nossas almas? Em meio às minhas dúvidas, fui pego de surpresa quando ela, malas prontas, me perguntou:

— Vem comigo? Pra cidade. Larga tudo aqui e vem comigo.

Eu hesitei. E notei no semblante de Gabriela que as coisas jamais seriam as mesmas depois disso. Um último beijo, que só serviu para fazer saudade dos anteriores, e então ela se foi para nunca mais voltar.

Isso foi há alguns anos. Continuei navegando, como sempre haverei de navegar. Pensei muitas coisas, desejei muitas coisas. Concluí em certo ponto, que se experimentasse novamente as delícias do amor pleno, seja com Gabriela ou com outra mulher que eu ainda não conhecia mas estava destinada a ser a única pessoa com quem eu me importaria em algum momento da minha vida, quando tudo estivesse bem, quando meu corpo estivesse tomado pelos hormônios que nos entorpecem e nos impelem a perpetuar o legado da nossa miséria, atirar-me-ia à boca do primeiro jacaré, para não dar mais chance para que a vida aprontasse das suas. Mas, ao menos por ora, fui demovido dessa insanidade.

Por muito tempo, e até mesmo agora, estaria mentindo se dissesse que não me sobreveio a expectativa de avistar Gabriela aguardando o barco no píer da cidade, junto a um menino a quem quando eu chegasse perto ela diria:

— Filho, aí está teu pai. Aprende com ele, como ele aprendeu com seu avô. Ama-o e respeita-o e terá uma vida abençoada. Barqueiro, aí está teu filho. Ensina ele a pescar no rio, ensina-lhe os ciclos da natureza e o caminho dos barcos. Moço, aqui está tua esposa. Beije-a, beije-a como se fosse a primeira e a última vez.

Mas isso infelizmente nunca aconteceu e, ainda dói e sempre haverá de doer admitir, sei que nunca vai acontecer. Essa saudade eu sei de cor, mas também sei que a vida segue seus ciclos e seus afluentes. Hoje começa a alta temporada. Hoje o dia amanheceu um pouco mais radiante.

Voltam as minhas esperanças de vivenciar novamente a experiência completa do amor.

Sobre Fabio Baptista

Avatar de Desconhecido

20 comentários em “O Caminho dos Barcos (Fabio Baptista)

  1. Priscila Pereira
    18 de setembro de 2025
    Avatar de Priscila Pereira

    Oi, Fabio! Li seu conto faz um tempo e vou comentar baseado no que ele me fez sentir. Então, seu conto parece ser uma brincadeira com a alta literatura, com o começo meio “empolado” como disse o chefe… notei sua aura só no final, que gostei muito, o começo foi meio difícil de acompanhar… Sem dúvidas um ótimo conto!

  2. Mauro Dillmann
    13 de setembro de 2025
    Avatar de Mauro Dillmann

    Um apelo, talvez irônico, à linguagem mais rebuscada da literatura.

    Referência à Jorge Amado, referência indireta a Guimarães Rosa.

    A expressão “com essa merda desse sinal”, ainda que na boca de um personagem, não ficou condizente com o lirismo do texto até então. Parece uma quebra no ritmo.

    O conto me tocou bastante. Bem escrito e com apelo sentimental.

    Parabéns!

  3. Rodrigo Ortiz Vinholo
    12 de setembro de 2025
    Avatar de Rodrigo Ortiz Vinholo

    Muito bom! Gosto do tom melancólico, da história do que foi, não foi e poderia ter sido, e da construção dos personagens. Em alguns pontos me parece que o estilo acaba atropelando um pouco a transmissão da narração, com o narrador-personagem preferindo poesia à clareza, mas na maior parte do tempo o resultado é positivo. Parabéns!

  4. leandrobarreiros
    12 de setembro de 2025
    Avatar de leandrobarreiros

    Foi o único texto do desafio que pulei depois de ler o início. 

    No final das contas, o conto foi muito bom, mas acho que o primeiro parágrafo joga contra ele. É denso e rebuscado sem uma grande necessidade. Um poderia argumentar que o esforço se dá para demonstrar o quanto o narrador é culto, subvertendo as expectativas sobre um barqueiro, mas a densidade do primeiro parágrafo é diluída no resto do texto (graças a Deus) de modo que ele, em si, fica destoante. O resto do texto continua sendo bem escrito, continua com metáforas, continua polido, mas sem o exagero inicial. 

    A história é curta e convincente e apesar de todas as singularidades da história gera uma boa comunicação e identificação com o leitor porque todos já vivemos o nosso momento “e se…”, independente de que área da vida estamos falando. Além disso, a narrativa é bem fluida, depois do primeiro parágrafo, o que traz uma certa singularidade entre o linguajar mais poético e o encadeamento de eventos ágil. 

    Um conto muito bom e redondo. Traz aquela sensação de “impossível dar uma nota baixa”. E, de fato, deve receber um 9 de mim. 

  5. Thaís Henriques
    12 de setembro de 2025
    Avatar de Thaís Henriques

    O início do texto me levou a viajar, criando alta expectativa pelo encontro com Gabriela. Acabei por desanimar com a brevidade e pouca intensidade do mesmo. Acredito que o limite de caracteres tenha contribuído, pois foi meu grande desafio também. No mais, muito bom conto.

  6. claudiaangst
    10 de setembro de 2025
    Avatar de claudiaangst

    Olá, autor(a), tudo bem?

    Começar o conto com “outrossim” chamou a atenção de todos. Decisão acertada? Não sei. O parágrafo inicial passa a impressão de ser uma narrativa que poderia ser considerada alta literatura. Já do meio para o final, há uma tendência ao sabrinesco.

    A linguagem adotada oscila entre o rebuscamento e o coloquial. Não se decidiu, autor(a)? Pessoalmente, gostei mais do desfecho do conto do que da sua introdução.

    Outrossim, acredito que o texto aborda ambos os temas, mas seu ritmo não se manteve linear. Há passagens mais arrastadas e outras mais fluidas.

    Um bom conto, com final de esperança melancólica. Cada leitor decidirá pelo desfecho que mais lhe agradar.

    Parabéns pela sua participação e boa sorte na classificação do seu conto.

  7. Fabiano Dexter
    8 de setembro de 2025
    Avatar de Fabiano Dexter

    História

    A história é bem simples e direta, onde um ribeirinho letrado conta sua história de vida e o amor que conheceu nos braços de Gabriela.

    A partir dessa sua história ele divaga sobre as coisas da vida, a importância do ser sobre o ter. E que os turistas vivem uma vida cheia e desgastante para poder passar uns dias ali, onde ele vive toda a sua vida e ter essa experiência. E que não basta que eles vivam aquilo, mas precisam tirar fotos e registrar, provar que viveram aquilo.

    Tema

    Alta Literatura até o osso!

    Construção

    Texto impecável e história simples, onde o mérito e a beleza do conto está na escolha das palavras e no desenrolar do texto.

    Impacto

    Um texto denso onde não há um impacto em uma cena ou momento específico do texto, mas sim na obra completa. Muito bom!

  8. Gustavo Araujo
    5 de setembro de 2025
    Avatar de Gustavo Araujo

    Confesso que fiquei dividido quanto a este conto. De início não gostei. A ambientação, consistente nos três primeiros parágrafos, não ficou boa. Padece de um empolamento, algo desnecessário, como se o(a) autor(a) buscasse palavras pouco comuns para emular alta literatura. Nem me refiro ao “outrossim” do início, mas a diversas expressões totalmente desnecessárias para o andamento do texto.

    Mas a partir do momento em que o barqueiro se recorda do pai abandona-se a pretensiosidade, dando-se espaço a divagações mais interessantes, reais até, que conferem, aí sim, uma legitimidade mais natural ao que está escrito, ao que está descrito. Isso ganha força quando Gabriela é mencionada, quando o romance, os encontros e os desencontros chegam à história. Nem parece o mesmo texto do início porque aí há verdade, aí há um contexto, algo a se contar, algo sobre o que se meditar. Alta literatura com sabrinesco pode-se dizer, embora essa classificação seja dispensável.

    Enfim, um conto irregular, mas que deixa uma boa impressão no fim da leitura.

  9. Jorge Santos
    4 de setembro de 2025
    Avatar de Jorge Santos

    Olá. Belíssimo texto este. Nota-se o equilíbrio natural de quem já tem o calo da escrita. Uma primeira parte de Alta Literatura, onde impera uma descrição quase hiperbólica, prepara para um desenvolvimento elegante, com diálogos impactantes e o conflito que é uma das características mais importantes de um bom conto – o personagem decide ficar e, já homem feito, medita sobre as consequências da sua decisão. A melancolia é avassaladora, mas ele continua o seu caminho. Afinal, não passou de um sonho da juventude. Como única nota negativa, alguns problemas de pontuação no primeiro parágrafo e repetições no segundo que, embora seja uma tentativa de utilização de um recurso estilístico, não me parece ter tido sucesso.

  10. Mariana Carolo
    3 de setembro de 2025
    Avatar de Mariana Carolo

    História: Narrado em primeira pessoa, como um fluxo de consciência, o conto são as memórias de um barqueiro e a noite que passou com uma turista. Um momento muito bonito, mas que não tinha como ir além de um momento. Ao final, ele fantasia sobre seus desejos e sua vida. É uma história muito simples, mas que funcionou aqui de maneira grandiosa. Apesar do romance, considero que o conto é alta literatura e das boas 2/2

    Escrita: Guimarães Rosa, você é o Ribeirinho? Que escrita fenomenal, minha nossa. É um fluxo de consciência bonito, elegante, mas crível. E, apesar de ser um conto tão íntimo, é bastante imersivo no cenário. Eu me vi no barquinho, sendo levada pelo rapaz calado e muito mais esperto do que as pessoas pensam. A capa da invisibilidade econômica , tão cruel do nosso país. 2/2

    Impacto: Parabéns, você escreveu o meu conto favorito do desafio. 1/1

  11. toniluismc
    3 de setembro de 2025
    Avatar de toniluismc

    Olá, Ribeirinho! Seguem minhas anotações sobre o seu conto:

    O texto é uma prosa poética densa, com imagens naturais ricamente evocativas: bromélias, cipós, araras, o rio e as estações se entrelaçam de forma lírica desde a abertura. Isso estabelece ambiente com clareza sensorial e ritmo elegante.

    A narrativa segue o fluxo do eu-locutor barqueiro, com alternância entre observações sobre os turistas e reflexões íntimas, mantendo fluidez e coesão.

    A voz é consistente e autêntica — uma mistura de descrição externa e interna, que carrega alto nível de intertextualidade emocional.

    O estilo é intencionalmente reflexivo e pausado, mesmo que pudesse exigir um leitor contemplativo.

    O contraste entre o ritmo frenético, superficial e turista e o tempo fluido e ancestral do ribeirinho é bem articulado, criando tensão temática e beleza simbólica. A balaustrada entre essas esferas é o barco — metáfora eficaz de fronteira entre dois mundos.

    A figura do narrador — um barqueiro erudito, portador de leitura e memória — é original e evita estereótipos. A voz que emerge é forte, sensível e espirituosa.

    A integração de temas como pertencimento, memória familiar, ciclos da natureza e o encontro místico ou simbólico com Gabriela traz profundidade e nuance criativa — não apenas paisagem, mas passagem emocional.

    A escrita provoca estranhamento poético que cresce até o desencontro emocional, tocando na solidão, saudade e esperança. A cena da paixão embalada pelo entardecer provoca pertencimento emocional e presságios.

    O final, com a pergunta sobre o legado e o filho, ecoa como memória e desejo não realizado — poderoso fechamento existencial e simbólico.

    O texto pode deixar o leitor leve e melancólico, com o impacto da beleza em meio à passagem de tempo e à saudade — a marca de prosa contemplativa bem-sucedida.

    Confesso que gostei muito da temática e é uma pena não ter podido dar-lhe uma nota desta vez. Parabéns pelo texto!!

  12. sarah
    1 de setembro de 2025
    Avatar de sarah

    Olá! Uau, essa comparação das pessoas da cidades grandes como prisioneiros voltando tristes após o “banho de sol” foi forte. Gostei bastante desse trecho também: “o rio está sendo puxado pra cima para aplacar a cede dos anjos”, nossa não sei porque mas achei isso tão bonito. Talvez não seja de fato bonito, porque implicaria numa cheia ou enchente, sei lá, mas a frase me pareceu linda.

    Estou achando que seu conto vai ter muitas dessas frases impactantes, para o bem ou para o mau.

    Humm, me parece que vai ser mais um sabrinesco com alta literatura. Como é que vocês fazem isso? risos, eu tenho dificuldade com um tema só! Imagina misturar os dois!

    Caramba, é tão interessante o que percebi agora. O seu conto tem tanto contexto, detalhe, história, que os diálogos, que são simples e cotidianos ficam muito bem encaixados no todo sabe? Eu tenho uma amiga que escreve dessa mesma forma os diálogos dela, mas da forma que ela faz fica tão… monótono.

    Vamos ver onde essa cervejinha vai dar! risos.

    Nossa, que história linda, quando terminou eu fiquei triste! Eu queria mais, eu queria mais Gabriela, mais momentos, queria também que ela tivesse trazido um garotinho que seria o filho do pescador! Maravilhoso conto, eu não sei nem o que falar! Tudo nele está perfeito. A história do ribeirinho, o encontro com a Gabriela, a descrição de como se conheceram melhor, em todos os aspectos. Tá realmente perfeito. Até esse sentimento meio triste no final, por ela nunca voltar, de algum jeito deixou tudo ainda mais importante e belo. Eu só achei que você usou umas palavras bem difíceis viu? risos, mas tudo bem, é bom lermos algo mais rebuscado também. Não é comum escreverem assim hoje em dia, eu acho né. Conto excelente!

    Só pra finalizar, fiquei com a sensação que essa era uma história grande e linda demais pra ser apenas um conto sabe? Ela podia ser um livro, muito boa mesmo, amei de verdade.

  13. marco.saraiva
    29 de agosto de 2025
    Avatar de marco.saraiva

    Contaço. Caramba, escrita linda, linda. Coisa boa de ler. Incrível!

    Um conto reflexivo, que fala das futilidades da vida corrida, das pessoas que vivem o futuro ao invés de viver o momento. Fala que se pode encontrar felicidade em qualquer lugar e qualquer situação, e que “...percebemos que os corações sangram do mesmo jeito, na floresta, na cidade ou em qualquer lugar.

    Um conto que fala da importância da família. Fala das dores da perda mas da importância de quem fica. Fala do peso que os livros têm nas vidas de quem os leem.

    O amor entre o personagem principal e Gabriela dói, por que sabemos que é fadado ao fracasso assim que começa. Talvez todos tenham amores assim, fugazes, momentos únicos que servirão como lampiões na escuridão até a morte. E o conto traz isso com veemência, junto com o peso no peito, a angústia, mas também a esperança de tempos bons e novas aventuras por vir:

    Hoje começa a alta temporada. Hoje o dia amanheceu um pouco mais radiante.

    Voltam as minhas esperanças de vivenciar novamente a experiência completa do amor.

    E que escrita belíssima! Poética e ponderada, com uma escolha peculiar de pontuação. Mais parece que ouço um poeta a declamar o seu poema do que a ler um conto escrito. Muito belo, muito sutil e bem feito.

    Parabéns mesmo!

  14. Pedro Paulo
    25 de agosto de 2025
    Avatar de Pedro Paulo

    Tem um desfecho forte que faz valer a introdução densa, muito profunda em caracterizar e ambientar, o que torna um pouco enfadonhos essas primeiras linhas até chegar ao conflito em torno no conto. Entretanto, a partir daí é sentida uma força inquestionável entre barqueiro e Gabriela, passada numa sutileza que dialoga com o sabrinesco, embora não tanto a ponto de ser um conto para o qual apontasse os dois temas. Desde o começo, é evidente que em forma e conteúdo o conto foi escrito para a alta literatura, mas de uma maneira que esses dois aspectos complementares não me vieram juntos. Veio a forma e só depois o conteúdo e, assim, a abordagem me pareceu caprichosa, artificial. Mesmo assim, os personagens e sua relação comovem, deixando ver uma reflexão sobre a natureza de viver, outro lugar comum da alta literatura.

    É um bom conto, de uma autoria que demonstra experiência. Mas acho que perdeu a mão em alguns pontos.

  15. Luis Guilherme Banzi Florido
    22 de agosto de 2025
    Avatar de Luis Guilherme Banzi Florido

    Bom dia! Tudo bem? Tô lendo os contos na ordem de postagem do site, sem ter conferido quais são minhas leituras obrigatórias. Bom, vamos lá pro seu conto.

    Contaço! Muito bonito, profundo, inspirado, como o titulo logo sugere. Gostei muito da linguagem metaforica e extremamente imagetica. A principio, achei que fosse me incomodar com os longos paragrafos, numa escrita estendida que conduz o leitor ao ponto de quase tirar o folego. Dai reli o primeiro paragrafo, e um sorriso brotou no rosto. Gostei bastante da tecnica aqui do conto, especialmente isso. De forma bastante poetica e metaforica, voce escreve longos trechos que tiram o folego, seja pela beleza da vida que se apresenta na leitura, seja por esses longos trechos de leitura continua. De uma forma meio maluca os dois aspectos combinam.

    O conto todo é bonito, mas tem duas passagens especialmente inspiradas:

    “— E na minha velhice — eu lhes repondo —, eu deveria usar o dinheiro da cidade para comprar um barco e navegar tranquilamente pelos rios da floresta e daí sim aproveitar a vida? — alguns ainda insistem, mas a maior parte se cala doravante.”

    Eu, lendo isso numa sexta feira às 17:00, enquanto ainda vou trabalhar ate as 21, quase coringuei lkkkkkk (eu amo meu trabalho, mas essa frase é muito impactante e no minimo faz pensar).

    “Como seria nossa vida quando o boitatá da paixão deixasse de serpentear em nossas almas?” — poesia pura, adorei.

    Sobre o inicio do conto com “outrossim”, um adverbio, tema que gerou muita discussao no grupo,m honestamente nao me incomoda nem um pouco. Claro que o adverbio conecta duas ideias, mas isso nao me parece um problema. Pelo contrario, sinto que, ao iniciar o conto com um, voce inteligentemente nos faz imaginar o que veio antes, o que aquele adverbio está ligando ao que vem depois. Conta coisas no vazio que precede o adverbio. Nao acho que esse recurso vá necessariamente funcionar em todos os contos do mundo, mas nesse, cheio de poesia e metafora, cheio de significados não explicitos, achei que combina perfeitamente.

    O comentario ta ficando longo demais, mas uma ultima coisa é que gostei muito do protagonista, e gostei da Gabriela, e gostei da relação deles. De como surge, de como cresce, de como morre, tal qual onda que tenta romper a falésia, desaguando em bolhas efêmeras. ❤

    Contaço de gente grande. Parabens e boa sorte!

  16. Kelly Hatanaka
    19 de agosto de 2025
    Avatar de Kelly Hatanaka

    Eu não avalio esta série, então, me permito avaliar como leitora, de forma mais livre e bem pelo meu gosto pessoal. Desculpe alguma coisa.

    Tema

    Um romance em alta literatura.

    Considerações

    Conto lindo, cujo protagonista é um barqueiro que faz pensar em Alberto Caeiro. Uma pessoa com uma visão clara e descomplicada da vida. Ele se apaixona por Gabriela e ela por ele. Mas ela pertence à cidade e ele, ao rio, à mata e o amor não sobe a serra. Ele, então vive com saudade, marcado pelo amor, na esperança de ter engendrado um filho, de que ela volte.

    Uma coisa que achei genial é como o conto, narrado em primeira pessoa, mostra os pensamentos do protagonista. O vocabulário é rico, uma linguagem poética, elegante e sofisticada. E quando ele fala, a linguagem é simples, como seu cotidiano. É como se sua vida interior fosse uma riqueza protegida, guardada para si.

    Este é um conto relativamente curto, mas ele parece maior do que é. Não porque seja cansativo, o que ele, definitivamente, não é. Mas sim por dizer muito.

  17. Anderson Prado
    16 de agosto de 2025
    Avatar de Anderson Prado

    Olá, autor.

    Gostei do seu conto.

    Correto, coeso, fluido.

    Adorei os parágrafos introdutórios, adorei o outrossim, adorei a criticidade em relação à contemporaneidade e seus celulares, fotos e redes sociais. Você começou em alta literatura. Eu teria seguido adorando o seu texto, mas passei a desgostar um pouco quando se tornou uma história de amor. Finalizou como uma média literatura.

    Parabéns.

    Nota 4.

  18. cyro eduardo fernandes
    13 de agosto de 2025
    Avatar de cyro eduardo fernandes

    O sábio e humilde barqueiro apaixona-se e passa a encarar o mundo de maneira diferente. Boa narrativa, com personagens bem construídos, mas com potencial não totalmente explorados, principalmente a Gabriela.

  19. Antonio Stegues Batista
    12 de agosto de 2025
    Avatar de Antonio Stegues Batista

    O autor usou palavras erradas em algumas frases, começando pelo” outrossim”. Sua intensão foi elaborar a narrativa com palavras não usuais, não usar a comum e optou por uma palavra incomum (não usual) mas de sentido diferente. Outra falha são as frases muito longas sem uma pausa necessária para o leitor respirar. Algumas virgulas deveriam ser ponto para encerrar a frase e começar outra. Outrossim significa do mesmo modo, igual. Igual ao quê? Do mesmo modo ao quê? Veja como eu modifiquei o primeiro parágrafo, trocando virgulas por ponto, dando uma leitura mais pausada à narrativa:

    “O ipê, a cerejeira florescem. Outrossim, (da mesma forma) voltam a desabrochar as bromélias ao menor vestígio de primavera, preenchendo de vermelho o que dantes era só verde opaco. Da época em que a chuva faz vezes de pai ausente e nos abandona. Na batalha perdida travada dia sim e dia também contra o calor que não há ventilador ou leque que faça amainar. Voltam cipós a enredarem-se em samaúmas. Voltam araras aos ninhos e ritos de amor, castanheiras e mognos a esticarem-se em direção ao sol, disputando galho a galho, folha a folha, seu quinhão da luz da vida”.

     Na minha opinião, o conto corresponde aos dois temas.

  20. Léo Augusto Tarilonte Júnior
    11 de agosto de 2025
    Avatar de Léo Augusto Tarilonte Júnior

    Tema alta literatura.

    Enquadrei seu conto nessa categoria, porque ele fala sobre saudade, preconceito, apego a uma vida simples e encontrar o grande amor por acaso.

    Achei estranho você iniciar seu texto com a palavra outrossim, já que esse vocábulo é sinônimo de além disso, é um conectivo que pressupõe um texto anterior à sua ocorrência, sendo assim e parece estranho começar um texto com essa palavra.

    Outro problema que vi no seu conto é que ele me soa como uma caricatura de uma narrativa de alta literatura. Você exagerou no uso de vocábulos rebuscados e também existem muitas repetições ao longo da história.

    Também parece estranho ele ter adquirido tanta cultura lendo alguns livros que estavam em sua casa de ribeirinho. Geralmente São casas pequenas não haveria espaço para uma grande biblioteca que justifique a cultura que ele parece ter, ele o personagem narrador. Também você citou a existência dos livros e que ali é um lugar úmido e há cupins, quem preservou esses livros por tanto tempo? Esses problemas tornam a história inverossímil.

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Publicado às 2 de agosto de 2025 por em Liga 2025 - 3A, Liga 2025 - Rodada 3 e marcado .