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Detox Literário.

Amanhã – Conto (Priscila Pereira)

Chovia lá fora. E dentro, algumas gotas escorriam das frestas das janelas e outras mergulhavam em potes, do teto. 

Helena fingia não notar. Fingia não estar chateada, cansada, desgostosa da vida. Fingia porque se não fizesse, teria que encarar os fatos e então seria exigida alguma ação. 

Quando parou de agir? Quando tudo demandava esforço sobre humano para ser feito? Quando seus sonhos e planos começaram a parecer dificultosos demais para serem executados?

“Preguiçosa!” “Procrastinadora!” “Fraca!” “Porca!”

Sua mente berrava. Mas ela fingia ignorar. Era tão mais fácil, tão mais fácil! 

“Amanhã! Amanhã será diferente! Eu prometo!” 

Só que o amanhã nunca vinha. Sempre era o hoje. Dormia ansiando pelo amanhã que mudaria tudo, mas quando acordava era simplesmente hoje, o novo, antigo hoje. 

E tudo continuava difícil demais. Levantar da cama, preparar o café.

 “Será que preciso mesmo tomar café?” 

Não era tristeza, luto, angústia, medo … nada disso. Era apenas cansaço, desânimo, anemia de alma.  Queria mudar, ser diferente, se sentir de outra maneira. Mas só de pensar em dar o primeiro passo já ficava cansada. Cansava só de pensar. 

Olhou em volta a sujeira e bagunça de sua casa. Suspirou. “Preciso limpar isso!” 

Mas não podia começar logo hoje, que estava chovendo tanto. Com tantos potes no chão e barro para todo lado lá fora. 

Olhou pela janela o matagal sendo alvejado pela chuva no quintal. O mato estava tão alto que subia pelas paredes e chegava quase até o teto. 

“Preciso dar um jeito nesse quintal!” 

Mas hoje não, é claro! Não com esse tempo. 

Trovões se ouviam ao longe e vez ou outra um relâmpago solitário iluminava o céu de fim de tarde. 

“Se pelo menos acontecesse alguma coisa que me obrigasse a mudar…” 

“Se ao menos o amanhã chegasse logo…”

Sentada no sofá encardido, entulhado de roupas, com copos e pratos se equilibrando nos braços estofados, Helena pensou que sua vida,de alguma forma, combinava perfeitamente com alguma coisa que ouvira em um programa de tv sobre o triângulo da auto-obsessão: 

Culpa do passado, raiva do presente e medo do futuro.

Sim, estava tudo lá. Culpa por ter desperdiçado sua vida, raiva de estar desperdiçando agora e medo de continuar desperdiçando amanhã. Se ele chegasse. 

Tinha consciência disso, sabia que precisava mudar, fazer alguma coisa, mas não tinha coragem, iniciativa, vontade de fazer nada. 

Naquele momento, enquanto ouvia a chuva e pensava no triângulo, ouviu batidas fortes na porta. 

Quando abriu, uma mulher entrou depressa, sacudindo o guarda chuva sem cerimônia e encostando-o no batente da porta. 

Olhou assustada para a desconhecida que invadia sua casa, enquanto a mulher olhava ao redor e balançava a cabeça. 

— Quem é você? — disse ainda segurando a maçaneta, prestes a sair correndo se fosse preciso. 

— Eu sou Amanhã, muito prazer! — Estendeu a mão para Helena. 

— Como assim, “Amanhã”? Que tipo de nome é esse? — Ignorou a mão estendida. 

— Não é um nome, é mais uma constatação. Eu sou Amanhã. O amanhã que você tanto quer. 

— Isso só pode ser pegadinha, ou então enlouqueci de vez. É isso, não é? 

— Bem, não posso garantir o contrário… — disse olhando em volta — mas não é o caso agora. Vim pessoalmente porque está na cara que precisa da minha ajuda, né.

Andou pela sala procurando um lugar para sentar mas não encontrou. 

— Arrume um lugar para que eu possa me sentar, por gentileza. 

Helena notou que não era um pedido. Fechou a porta e foi até a poltrona e retirou um maço de revistas e jornais velhos. Pegou um pano e bateu no tecido até que estivesse relativamente livre de poeira. 

Amanhã sentou-se e a encarou. 

— Então, qual é o seu problema? 

Assim na lata, sem preâmbulos. 

— Eu não sei… só estou cansada. Da vida. 

— Sei como é. Então você simplesmente desistiu de viver e está apenas sobrevivendo. Por que você tem medo de mim?

Helena se remexia no sofá atulhado.

— Porque na realidade você não existe. Nunca chega. Ou quando chega, é igual a ontem. 

— Porque é sempre hoje, eu entendo. Eu sou uma miragem, que só promete e nunca cumpre. Eu sei. Mas o que te impede de viver hoje? 

— A chuva. 

— E ontem? 

— O sol. 

— E anteontem? 

— Era domingo.

— Viu, você tem resposta para tudo. Você se impede de viver de verdade. Aliás, como você se sustenta? 

Helena suspirou.

— Com a pensão do meu pai. Sou filha única, minha mãe morreu quando eu era adolescente e meu pai quando fiz trinta. Sou solteira, então recebo pensão. 

Amanhã balançou a cabeça concordando. 

— E depois que eles se foram você desistiu de viver? 

— Não exatamente… foi aos poucos… nem sei como começou. Eu só não vejo sentido, em mais nada.

— Já procurou um médico? 

Helena a encarou e empinou o nariz.

— Que tipo de médico? 

— Um psiquiatra, é óbvio. Mas isso não significa que está louca. Talvez depressiva. 

— Não me sinto triste. 

— Nem toda depressão vem da tristeza. Você claramente precisa de ajuda. Não vai conseguir sozinha. Se não fizer nada, em algum amanhã, alguém vai sentir o cheiro do seu corpo em decomposição e terá que vir com uma motosserra para tirar o mato e poder chegar até a casa e te dar um enterro digno. É isso o que quer?

— Sinceramente… tanto faz. 

Amanhã fechou os olhos e respirou profundamente. 

— Tá bom. Se é isso mesmo que quer.

Levantou, atravessou a sala, pegou seu guarda chuva e saiu batendo a porta. 

Helena continuava no sofá olhando para a janela. 

Olhou para a porta e nenhum sinal de que havia sido aberta, nem havia a pocinha de água que o guarda chuva deveria ter deixado. 

“Enlouqueci de vez!” 

Mas no fundo da sua alma sabia que Amanhã estava certa. Não conseguiria sozinha. Precisava de ajuda. Teria que ir a um psiquiatra. Mas hoje não. Afinal, ainda estava chovendo e o postinho já havia fechado. 

Mas amanhã iria. 

Se o amanhã enfim chegasse. 

21 comentários em “Amanhã – Conto (Priscila Pereira)

  1. André Lima
    17 de julho de 2025
    Avatar de André Lima

    Um conto bem contemporâneo, com temas importantes e necessários. Aliás, o tema central é profundamente humano: o adiamento da vida. Helena, a protagonista, vive num estado de entorpecimento emocional, no qual a promessa de que “amanhã será diferente” se repete em ciclo, sem jamais se concretizar. E eu adoro ciclos, adoro repetições. E tudo isso foi muito bem trabalhado aqui.

    A personificação do “Amanhã” foi algo que me surpreendeu, pois foge do estilo que você geralmente imprime, mostrando também sua capacidade de reinvenção, readaptação. Gostei MUITO dessa abordagem, por conta da sutileza. A personificação de Amanhã como um personagem real que bate à porta empresta ao conto diversas camadas, tornando simbólico o confronto com o próprio autoengano.

    Como disse anteriormente (Sobre ser contemporâneo), o texto capta essa melancolia sem recorrer ao clichê da tristeza dramática. Pelo contrário, o conto é marcado por essa espécie de “anemia de alma” (Por sinal, uma expressão bem original. Gostei!).

    A linguagem é simples, fluida e direta, o que favorece a identificação do leitor com a personagem e seu cotidiano. As frases curtas e os pensamentos fragmentados de Helena transmitem bem sua falta de energia e sua desconexão com o mundo.

    Há bons momentos de lirismo e impacto emocional, como na descrição do triângulo da auto-obsessão. Aliás, esse conto me parece bem mergulhado na psicanálise, quase que uma homenagem freudiana.

    Eu gostei do final, gostei da ambiguidade e do silêncio que se instaura. Queria ver mais disso em Amanhã, talvez como uma persona mais sedutora que pragmática.

    Parabéns pelo trabalho, Pri! Muita sensibilidade, muita simbologia, com uma metáfora central bem atual.

    • Priscila Pereira
      17 de julho de 2025
      Avatar de Priscila Pereira

      Um dia ainda vou comentar tão bem e com tanta profundidade quanto você! Amei! 🥰

  2. Gustavo Araujo
    17 de julho de 2025
    Avatar de Gustavo Araujo

    Priscila desenvolveu uma maneira de narrar que é de dar inveja! Fala de coisas mega complexas mas de um jeito simples (não confundir com simplório), fácil de entender e abordando as nuances mais difíceis. Isso por conta das entrelinhas. É o que não se escreve que acaba aparecendo, o silêncio, o desespero a indignação. Lemos e passamos por um turbilhão de sensações. Helena sofre de depressão, queremos que ela melhore. Ela é uma pessoa boa, mas precisa dar o primeiro passo. O realismo fantástico se impõe. É Amanhã tentando ajudar, mas, coitada, é também deixada de lado… Ah, Helena…

    • Priscila Pereira
      17 de julho de 2025
      Avatar de Priscila Pereira

      Anos e anos aprendendo com os melhores! Obrigada pelo comentário 🥰

  3. Leila Patricia
    16 de julho de 2025
    Avatar de Leila Patricia

    Oi, Priscila.

    Seu conto me pegou naquele ponto silencioso em que a existência se confunde com adiamento — e não com sonho. É curioso como você dá corpo ao “Amanhã” sem exageros fantásticos, e ainda assim com uma força simbólica concreta. Ela entra, se impõe, sacode (literal e metaforicamente) e parte. E o mais doloroso: talvez não tenha deixado rastro algum.

    Helena é de uma humanidade incômoda. Há ali a apatia que não se explica só pela tristeza, mas por essa “anemia de alma” que você nomeia com precisão. Uma exaustão que não dramatiza, só paralisa. E isso — essa dor que não grita, só vegeta — é muito difícil de retratar com tanto equilíbrio.

    Gostei, também, da costura com o tempo atmosférico: o mato que sobe pelas paredes, a chuva que escorre, o barro que tudo suja… o cenário é quase uma extensão dos bloqueios internos da personagem. E tudo isso nos conduz à metáfora final sem forçar a mão.

    Um conto que respeita o leitor e, ainda assim, o desafia.

    Obrigada pela leitura.

    • Priscila Pereira
      17 de julho de 2025
      Avatar de Priscila Pereira

      Oi, Leila! Muito obrigada por ler com tanta atenção e comentar com tanto carinho! 🥰

  4. Fabio D'Oliveira
    16 de julho de 2025
    Avatar de Fabio D'Oliveira

    Já conheço esse continho, hehe.

    Gosto de como escreve, Pri. É uma escrita simples e acessível. Existe um trabalho harmonioso entre o conteúdo, a narrativa e a forma. É um estilo literário que abraça um público amplo, tende a agradar os leitores mais exigentes, que estão acostumados com textos rebuscados e com várias camadas, e captura a atenção dos leitores casuais com muita facilidade, que buscam prazer na leitura, acima de tudo.

    A ideia de trabalhar com a procrastinação e de personificar símbolos e arquétipos são comuns na literatura. O adiamento eterno é um problema comum entre os artistas. Mais comum do que gostaríamos, infelizmente. É fácil se relacionar com a protagonista, com sua morosidade, com seu desânimo. Aposto que até você se identifica, às vezes.

    O conto cumpre sua proposta com excelência. Um texto breve que busca incitar a reflexão do leitor. Esse era o objetivo da nossa brincadeira, hahahaha.

    • Priscila Pereira
      17 de julho de 2025
      Avatar de Priscila Pereira

      Olá, Best! 😁 Obrigada por sempre me incentivar a escrever e tentar me convencer do quão boa autora eu sou. 🥰

  5. Pedro Paulo
    16 de julho de 2025
    Avatar de Pedro Paulo

    Amei esse conto, Priscila. O início é bem intimista, descreve a situação pela perspectiva – ou falta dela – da protagonista quanto à repetição dos dias, fazendo parecer que se tratará de um drama mais psicológico. Até brinquei no grupo que me pareceu uma descrição da minha atual situação doméstica, mas, aí tudo muda de figura quando Amanhã em pessoa chega e o tom se transforma, assumindo algo mais fantástico. Essa transição não foi com qualquer perda de qualidade e, na verdade, abrilhantou mais o texto, diminuído no descritivo e empoderado nos diálogos rápidos, mas certeiros. Os personagens se caracterizam quando falam e Helena também nos permite ver mais de sua situação. O desfecho poderia ficar cafona como uma fábula de superação, mas me surpreendeu com sua abordagem mais sombria. Ótimo conto, Priscila. Lerei mais um e vou arrumar as salas, prometo. Não tem amanhã certo.

    • Priscila Pereira
      17 de julho de 2025
      Avatar de Priscila Pereira

      Não deixe a procrastinação te pegar, PP!! Faça hoje tudo que precisa ser feito! Obrigada pelo comentário 🥰

  6. Kelly Hatanaka
    15 de julho de 2025
    Avatar de Kelly Hatanaka

    Um conto interessante e muito direto sobre depressão.

    Helena está presa e incapacitada de se libertar sozinha. O Amanhã lhe diz o óbvio, mas a decisão é dela, Helena. Que não está em condições de tomar uma ação.

    Achei engraçado que o que se diz atualmente é que as pessoas não vivem o agora, estão sempre sofrendo pelo passado e se preocupando com o futuro. Helena não. Ela está presa a um presente angustiante e esperando por um Amanhã libertador. Que, pelo jeito, não virá.

    Muito bom!

    • Priscila Pereira
      17 de julho de 2025
      Avatar de Priscila Pereira

      Verdade, Kelly, não sei qual é o pior, viver de passado e futuro ou viver apenas do presente eterno e sem esperança… obrigada pelo comentário 🥰

  7. Thaís Henriques
    13 de julho de 2025
    Avatar de Thaís Henriques

    Ahh, o amanhã… Priscila, tu arrasou! Senti tudo isso que teu conto narrou, quando perdi meu pai. Meu amanhã chegou, mas demorou…

    • Priscila Pereira
      17 de julho de 2025
      Avatar de Priscila Pereira

      Fico muito feliz que seu amanhã tenha chegado, Thais! Obrigada pelo comentário 🥰

  8. claudiaangst
    13 de julho de 2025
    Avatar de claudiaangst

    Amanhã, o tormento dos ansiosos. A protagonista está presa em um ciclo angustiante: o caos que se repete e nunca parece oferecer uma saída. Tudo justificável, a procrastinação eliminando as chances de tratamento da depressão. A visita do Amanhã a faz enfrentar por algum tempo a situação, mas nada muda. Triste, mas tão real… Parabéns pelo texto, Priscila.

    • Priscila Pereira
      17 de julho de 2025
      Avatar de Priscila Pereira

      Eu nunca tive depressão, Claudia, mas de procrastinação entendo bem e é angustiante, você deixa pra amanhã, mas o amanhã nunca vem… Obrigada pelo comentário 🥰

  9. Luis Guilherme Banzi Florido
    13 de julho de 2025
    Avatar de Luis Guilherme Banzi Florido

    Oie, Pri! tudo bem?

    Um conto bastante duro e direto, que retrata uma realidade cada vez mais presente no mundo moderno: as doenças psicologicas, como a depressao, a perda de sentido na vida, e todo o resto que a gente sabe bem. Nao é a toa que a depressao vem sendo considerada a doença do seculo, e ja é uma das que mais mata no mundo, matando mais que cancer, por exemplo. Se nao me engano perdendo apenas pra doenças cardiacas. Enfim, um conto que retrata uma realidade triste e que está por toda parte.

    Por acompanharmos tudo do ponto de vista da protagonista, acompanhamos sua auto sabotagem eem primeira mão, o que torna tudo mais doloroso e vívido, como voce pretendeu.

    Gostei da inserção da personagem Amanhã, que metaforicamente simboliza a relação dela com esse momento que nunca chega. Achei (e gostaria de ter visto) que o Ontem também aparecesse, e tivessemos algum tipo de embate entre os 3 tempos. Voce decidiu por outro caminho, e tudo bem. No caminho que voce escolheu, voce nos nega qualquer tipo de redenção ou climax. Quando o climax deveria acontecer, com alguma grande decisão ou mudança, o Amanhã simplesmente desiste dela e parte, o que faz sentido no contexto que voce criou, onde o Amanhã é só uma emanação da propria mente dela, e ela acaba rechaçando o Amanhã como sempre faz com o amanhã.

    Eu fiquei meio dividido sobre o desfecho. Acho que minhas expectativas muito influenciadas por uma perspectiva hollywoodiana onde tudo sempre acaba bem, influenciaram minha opiniao, mas voce, habilmente, me negou esse final fofinho e mostrou que, enquanto a protagonista dependesse de um ser exterior pra ajuda-la (que ela incorporou como o Amanhã), ela continuaria no mesmo ciclo vicioso. E isso foi uma otima escolha da sua parte, afinal, um final fofo onde o Amanhã a ajudasse a sair daquela situação seria apenas uma apelação emocional para agradar ao leitor, mas nao seria fiel ao quão complexo e dificil é o processo de sair do fundo do poço, desmerecendo o merito daqueles que batalham tanto para melhorar.

    Um trabalho muito sensivel e profundo, que não tenta amenizar para o leitor e se recusa a fazer pequenas concessões para agradar. Ou seja, um trabalho maduro e consciente. Parabens, Pri!

    E para qualquer um que se sinta como a protagonista ou tenha outros sintomas psicologicos, procure ajuda. Voce nao está sozinho, e existem profissionais que podem te ajudar.

    • Priscila Pereira
      17 de julho de 2025
      Avatar de Priscila Pereira

      Meu querido amigo LG! É por comentários como esse que escrevo! Obrigada 🥰

  10. Angelo Rodrigues
    12 de julho de 2025
    Avatar de Angelo Rodrigues

    Olá, Priscila,

    Um ótimo conto.

    Interessante a construção da personagem. A mulher que se meteu numa armadilha mental, com depressão e procrastinação tomando conta da sua vida.

    Normalmente esse ciclo vivido por Helena não pode ser quebrado na própria solidão. Há que vir algo de fora. E vem. É Amanhã, que é rejeitada como ponto de solução.

    A falta de um amanhã real deve simbolizar a fuga das responsabilidades cobradas pelo presente.

    Embora haja no conto algo de melancólico, há um forte indicativo de que esperar pelo futuro para dar solução aos problemas presente pode significar nunca viver. E é isso que Helena acaba por aceitar para si.

    Embora singelo, o conto é bastante duro em sua conclusão. Aponta a uma mulher que optou pela autodestruição. Ela não está pronta para viver, talvez nunca esteja quando rejeita a ajuda externa: a senhora Amanhã – a mulher metáfora para a solução, que é rejeitada pela protagonista.

    Conforme lia seu conto, lembrei-me de uma historinha que meu pai me contava quando eu era bem criança. Tudo para me fazer cumprir as tarefas que me eram imputadas. Tarefas de criança.

    Dizia o seguinte: um sujeito passava por uma viela todos os dias, e todos os dias ele tinha que se desviar de um galho que atravancava seu caminho. Ao fazê-lo ele dizia a si mesmo: Esse galho ainda vai acabar furando o olho de alguém.

    Um dia ele passou e o galho lhe furou o olho. Então ele falou bem alto, muito irritado: Eu não disse!

    Resumindo a história, não cuidar do presente pode ter um custo alto no futuro. Talvez Helena acabe também furando seu olho metafórico.

    Valeu, Priscila! E parabéns pelo conto/parábola.

    • Priscila Pereira
      12 de julho de 2025
      Avatar de Priscila Pereira

      Obrigada pelo comentário tão completo, Angelo! Gosto muito de escrever sobre a mente humana e sobre o que ela é capaz de fazer ou de aguentar. Helena estava além de qualquer ajuda interna, talvez uma ajuda extra real a pudesse salvar. Gostei de saber sobre a história de seu pai!

      • Priscila Pereira
        12 de julho de 2025
        Avatar de Priscila Pereira

        *externa

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Publicado às 12 de julho de 2025 por em Contos Off-Desafio e marcado .