EntreContos

Detox Literário.

Os Estranhos da Prateleira Alta (André Brizola)

– O quarto da Natália! Que lindo! Um brinco, amiga!

– Um sonho, né?

– Nossa, que perfeição! A parede rosinha, os brinquedos guardadinhos.

– Os da cama são os preferidos, o coelhinho, Orelhas, o Doguinho, e tem a bonequinha, Menina, que está com ela lá embaixo, agora. Dormem juntos, até.

– Mas… e aqueles, naquela prateleira mais alta?

– Ah! Aquilo é coisa do meu irmão, sem noção. Ele é biólogo. Está sempre indo em museus, essas coisas chatas. Aí fica trazendo esses bichos para a menina.

– O que é aquilo, um urubu?

– Não, é um corvo. Trouxe de Londres.

– Ai, meu Deus, que nojo, é uma aranha? E um… polvo?

– E um javali, que é um porco selvagem. Podia ser um porquinho rosinha, bonitinho? Não, tinha que ser esse porco chifrudo.

– Bom, mas ela nem tem idade para saber a diferença, né?

– Mas o que pensariam de mim na creche, quando ela chegasse com essas nojeiras aí? Imagina! Você acha que eu deixaria isso acontecer? Iria virar a maluca dos bichos asquerosos.

– Você iria ser personagem das conversas das rodinhas!

– Loucura! Quando a Natália tiver idade, pega esses bichos e ela mesma decide doar, ou jogar fora. Enquanto isso, ficam aí, fora do alcance. Agora, vem, quero te mostrar como ficou o closet. Trouxe dois pares de Paris que você vai morrer de inveja!

Havia algo não natural na tempestade daquela noite. As gotas, gordas, morriam nas janelas, nas calhas e nas telhas com violência, dando voz a estampidos úmidos, que ditavam o ritmo para os flashes de luz, mais frequentes do que seria normal. Os trovões descarregavam ondas sonoras pesadas, que chacoalhavam tudo que pudesse ser balançado, criando, nas ruas, uma sinfonia caótica de cristais, vidros e mensageiros dos ventos.

Mas Natália estava alheia a tudo isso. Aninhada em suas mantinhas coloridas, perdida em uma aventura onírica de árvores falantes e estrelas que realizavam sonhos, a garotinha tinha o rosto afundado em travesseiros macios, com um dos braços agarrado ao coelhinho Orelhas, enquanto o outro abraçava o cachorro Doguinho. A cena toda parecia muito rotineira, e o único detalhe destoante era a ausência da boneca de pano, Menina. E, claro, o fato de que os dois bichos de pelúcia estavam se movendo.

Doguinho esticou o pescoço e, com movimentos leves, escapou do abraço de Natália. Maravilhado com a magia que o impulsionava, buscou o amigo, preso no outro lado da garotinha.

– Orelhas! Ei, Orelhas! – Seus sussurros eram embebidos de euforia. – Eu despertei! Você também?

O coelho, redondinho, de rosto gorducho e orelhas compridas, já se levantava sozinho, longe da menininha adormecida.

– Não sei o que aconteceu. Mas, olhe! – O coelho apontou para o chão, onde diversos brinquedos, ainda ressabiados, já se aventuravam fora de suas caixas, estantes e embalagens.

– Orelhas, não importa como, mas aconteceu! Estamos vivos! E nossa vida será de diversões e abraços. E, como somos os preferidos, também de noites quentinhas com Natália!

Aos poucos, o carpete felpudo e confortável era tomado por brinquedos inofensivos e didáticos, que avançavam centímetro após centímetro, explorando o quarto e iniciando uma incoerente algazarra silenciosa, colorida e dinâmica. E os dois bichos de pelúcia, do alto da cama, sorriam bobos, já antevendo as brincadeiras e os afagos que receberiam. Agora, tudo seria muito mais gostoso.

Um deles, entretanto, revelava um sorriso não tão inocente nascendo de um dos cantos da boca aveludada.

– Uma pena que nossos companheiros exilados lá de cima não vão poder participar da diversão, não é? – O coelho apontou para a prateleira mais alta, de onde os quatro outros bichos de pelúcia, separados dos outros brinquedos pela mãe, assistiam a tudo.

– Ei, estranhos, melhor ficarem aí em cima mesmo! Aqui embaixo é lugar para os brinquedos da Natália. Todo mundo sabe que vocês só estão de passagem.

Os dois bichinhos na cama riram, enquanto os quatros estranhos se entreolhavam. Confusos pela magia que os despertara, e pela imediata segregação, nenhuma atitude que fosse diferente de aguardar uma resposta para os acontecimentos, ali naquela prateleira alta, poderia ser tomada. Mas o sentimento geral era de tristeza.

– Somos realmente diferentes? Por quê?

– Fomos colocados aqui em cima, Corvo. Acho que somos diferentes.

– Não, Aranha, por dentro todos temos espuma. As aparências mudam, mas, no fundo, somos todos iguais. Meus tentáculos não são muito diversos de suas patas.

O javali, que permanecia quieto, observava toda a cena. Seus três companheiros aguardavam sua opinião. Havia um ar de nobreza na forma como a costura moldava as dobras de seu tecido. Seus dentes, embora macios, denotavam glória. Era o mais antigo dos quatro, o primeiro a chegar, vindo do Orsay.

– Não importa o que digam e como o façam. Esse é o lugar que nos foi destinado, e é aqui que devemos permanecer. Vai chegar o dia em que teremos a chance de nos provar merecedores do carinho e do abraço de Natália. Temos que aguardar. Até lá, temos que ser respeitosos com o que foi decidido para nós. Mesmo que as palavras duras que nos dirijam incitem nosso brio.

Seus companheiros receberam a decisão resignados, mas com dignidade. Recuaram para seus respectivos lugares na prateleira e, como se a magia que os despertou não tivesse acontecido, reassumiram suas posições iniciais. Javali, após um suspiro inaudível, fez o mesmo.

Lá fora a tempestade não arrefecia. No quarto de Natália, entretanto, a festa dos brinquedos, embora tímida, ia se prolongando. Orelhas conduzia as brincadeiras, apontando, do alto da cama, para onde as letras coloridas deveriam ir para montar palavras engraçadas, e ditando como os blocos deveriam se empilhar para montar o arco em que o trenzinho poderia passar. Mas Doguinho ficava cada vez mais preocupado.

– Ela deveria estar na cama com a gente. Natália nunca dorme sem a Menina. Nunca!

– Relaxa, amigo. Deve ter ficado na sala. Ela foi a escolhida para ir para baixo hoje, lembra? Passaram o dia inteiro juntas. Na hora de dormir, esqueceu a Menina lá.

– Isso nunca aconteceu antes.

– Tudo bem, tudo bem. Você ficaria mais tranquilo se mandássemos alguém para conferir se Menina está lá? Agora podemos fazer isso.

– É, agora podemos fazer isso.

– Ei, Cavalinho, consegue sair do quarto e ir até a beira da escada conferir se Menina está na sala, lá embaixo?

– Menina não está em cima com vocês?

– Ela deve estar lá embaixo. Doguinho está preocupado. Poderia conferir para gente?

O cavalinho de madeira pareceu desconfiado, mas atendeu ao pedido do coelho. Usou as rodinhas presas em suas pernas para deslizar silenciosamente para fora do quarto. Não havia luz acesa, e tudo que se via era iluminado pelos flashes oferecidos pela tempestade.

Não demorou muito para o brinquedo de madeira voltar. A expressão assustada denunciava que a magia da noite ia além da algazarra daquele quarto. Tentou descrever com detalhes tudo o que vira, mas gaguejava e tremia. A mensagem, entretanto, foi transmitida com a urgência necessária. Cavalinho havia visto um vulto rubro, entre flashes, carregando Menina para dentro da lareira.

O que se seguiu à notícia foi desespero. Brinquedos de todos os tipos buscavam refúgio em seus devidos lugares, se enfileirando nas estantes, fechando caixas por dentro e dando por terminada aquela festa mística de início desconhecida.

Orelhas e Doguinho, num piscar de olhos, se viram sozinhos num quarto escuro e silencioso. Todos os sons eram assustadores, a chuva, os trovões, o vazio da noite. E o que quer que estivesse escondido, com Menina sob seu cativeiro, os amedrontava ainda mais.

Com o rabo entre as pernas, Doguinho gania baixinho.

– Pobre Menina. Nunca mais a veremos. Natália vai ficar muito triste.

– Não sei que mágica é essa que nos trouxe à vida, mas ela também criou esse monstro. E se ele vier atrás de nós também?

Os dois bichos, aterrorizados, com bigodes acrílicos arrepiados, correram para baixo das mantas da garotinha. Suas pelúcias, murchas de medo, os deixavam de orelhas e focinhos caídos. Não havia mais sorrisos, e suas cores eram pálidas e opacas.

Javali ouviu o chamado. Foi à frente da prateleira e assistiu ao relato de Cavalinho e todo o desenrolar que se seguiu. Viu quando os brinquedos preferidos de Natália não conseguiram enfrentar o medo, e recuaram frente a primeira dificuldade de seu breve despertar. Devagar, seus três colegas reuniram-se ao seu lado.

– Amigos. Chegou a hora. Temos que fazer algo.

– Mas, Javali, eles não gostam da gente.

– Eles nos desprezam.

– Dizem que somos estranhos!

– Nada disso importa – bradou o suíno. – Menina precisa de nós. É a felicidade de Natália que está em jogo. Podemos fazer o que está ao nosso alcance, ou podemos ficar aqui, na prateleira mais alta, indiferentes a tudo. Mas não é o que quero para mim. E vocês?

Nada precisou ser dito. Os olhares trocados revelavam a cumplicidade daqueles que, marginalizados, retiravam força um dos outros, mostrando que os quatro, na realidade, representavam uma unidade.

– Corvo, você voa, e é furtivo. Vá na frente, encontre um lugar para observar atentamente a lareira. Se algo estranho acontecer, grasne um sinal de aviso. Nós vamos descer e já te encontramos na sala.

O pássaro acenou firme, e jogou-se da prateleira abrindo as asas macias, num planar irreal e mágico, que o levou quarto afora. Algumas batidas de asas a mais o levou pelo corredor e, com uma manobra aguda, passou pela abertura da escada, encontrando um local para pousar. De lá conseguiu uma boa visão da sala escura. Então, lançando-se ao ar mais uma vez, entrou no cômodo de baixo girando o corpo em trezentos e sessenta graus, em uma velocidade muito acima daquela que planejara. Assustou-se com o perigo da manobra, sem saber que era possível tamanha vicissitude de movimentos. Encontrou poleiro no suporte da cortina e, ali, foi tentar controlar a adrenalina. Primeiro, identificou que não havia nada à vista que representasse perigo para seus amigos. Passou, então, a asa na testa, num ato inútil de secar o suor inexistente da testa e grasnou para si mesmo.

– Nunca mais!

– O cavalo disse que o vulto rubro levou Menina por aqui. – Javali, diante do vão da lareira, tentava enxergar pela chaminé. – É estreito, escuro e sem apoio. Aranha, esse é um serviço para você. Tente descobrir como ele subiu, e para onde pode ter ido a partir daqui.

A aranha moveu as quelíceras positivamente e, num salto, adentrou a escuridão de cinzas, buscando a parede oposta. Movia-se delicadamente, oito passos de cada vez, testando cada centímetro tocado e sentindo as vibrações que vinham de cima, separando o que era chuva, vento, onda sonora, e o que poderia ser o vulto rubro. Sentia-se confortável naquele ambiente e, não fosse um bicho de pelúcia, aquela chaminé poderia muito bem ser seu Cirith Ungol. Mas, afastando esse pensamento, chegou a uma passagem para o sótão da casa, com tijolos afastados e uma corda recolhida. Sabia que deveria jogá-la para baixo e içar seus amigos, um a um, não importando o esforço que seria exigido.

– Bom, com grandes poderes, vêm grandes responsabilidades.

No sótão, a confusão era imensa. A família, aparentemente, depositava ali tudo que era resto, dispensável, feio, ou que simplesmente não combinasse com a estética da casa. Haviam diversas caixas d´águas enfileiradas, e alguns tanques do aquecimento solar. E, ao redor disso, caixas e mais caixas de todo o tipo de coisa estavam empilhadas em torres tortas e irregulares. Os companheiros avançavam com cautela, com medo de detonar qualquer tipo de desastre.

Pouco à frente a passagem parecia impossível. Malas e baús estavam colocados de forma estratégica, formando uma parede instransponível para um bicho de pelúcia comum. Javali, aranha e corvo, então, olharam decididos para Polvo.

– Sim, entendo que este é o obstáculo para o qual fui selecionado. Estou à altura do desafio. Não falharei.

– Nunca duvidamos – disse Javali.

A fresta era bastante estreita, mas um tentáculo foi buscando seu espaço, deslizando entre a madeira escura de um baú antigo e o policarbonato de uma mala velha, mas ainda utilizável. O segundo foi pelo mesmo caminho e, tendo encontrado o outro lado, juntou-se ao primeiro para fazer força e içar o restante do corpo pelo espaço diminuto.

Seus amigos assistiam a tudo estupefatos com tamanha maleabilidade. O polvo parecia se dissolver através da fresta. E, pouco tempo depois, lá estava ele, do outro lado, acenando com um tentáculo bulboso, enquanto usava os outros para abrir a mala, deixando a passagem maior, de modo que todos conseguissem passar. Estava satisfeito consigo mesmo, e comemorava em sua língua submarina.

– Iä, iä, Cthulhu fhtagn!

Já próximos ao lado oposto ao de onde entraram, Javali, Corvo, Aranha e Polvo notaram uma luz acesa e sombras se movendo. Vozes. Menina estava ali. E precisava de ajuda. O caminho, ainda cheio de obstáculos, representava um problema, pois os atrasava demais. Javali, então, viu que era o momento de utilizar suas habilidades.

O nobre líder do grupo raspou uma das patas dianteiras no chão, abaixou a cabeça e, com o ímpeto e a urgência pulsando em sua pelúcia, atacou com suas presas protuberantes a confusão de tralhas que ainda havia em seu caminho, jogando badulaques e quinquilharias para os lados, trazendo seus companheiros correndo logo atrás, numa fila indiana esquisitíssima de heróis macios.

A cena que os quatro encontraram não era nada daquilo que esperavam. E a confusão que surgiu momentaneamente foi o suficiente para que o vulto rubro tomasse a iniciativa e, com isso, a vantagem nas ações. Uma corda passava por uma viga acima de tudo. Numa das pontas, amarrada, pendia Menina, pairando sobre uma enorme lata de tinta vermelha. Segurando a outra, mantendo a boneca suspensa, para a surpresa dos bichos de pelúcia, uma segunda Menina!

– Duas Meninas!

– O que está acontecendo aqui?

Com exceção de Javali, que parecia ter compreendido o que ocorria, seus companheiros, em estado de alerta, se preparavam para o pior. Cada um deles já preparando suas habilidades para salvar a Menina amarrada de ser mergulhada em tinta vermelha.

– Se vocês avançarem mais um passo, eu solto essa corda e a boneca vai ficar inteira vermelha!

A Menina que ameaçava, embora fosse idêntica à amarrada, tinha um detalhe que a diferenciava. Sua parte de baixo, dos pés à cintura, era inteira vermelha. O vulto rubro.

– Eu servia enquanto fui perfeitinha, não é? Mas quando sofri um acidente, a mãe me jogou aqui em cima e me trocou por essa… por esse clone! Eu sou Menina! Eu! Sou a original!

A boneca balançava a corda, e a Menina amarrada balançava perigosamente sobre a lata de tinta. Chorosa, não conseguia organizar frases, limitando-se a pedir desculpas por existir.

– Eu não quero suas desculpas! Você, eu, esses quatro exilados, somos só objetos de demonstração! Só servimos enquanto somos bonitos, novos! Não importa a alegria e o prazer que damos. A garotinha não sabe dizer a diferença entre um corvo e uma pomba! Mas a mãe, essa sabe! E é ela que eu vou aterrorizar. Essa boneca vai aparecer inteira vermelha. E a próxima também. E a seguinte!

Javali ouvia tudo de forma tranquila. E seus companheiros, notando essa serenidade, desfizeram a tensão. Asas foram dobradas, tentáculos enrolados e patas recolhidas. Os quatro estranhos da prateleira alta, agora, apenas ouviam.

– Vocês me entendem, não? Também são rejeitados! Me ajudem! Vamos nos vingar!

Javali avançou muito lentamente e, ao falar, sua voz, naturalmente grave, preenchia o sótão da mesma forma que um órgão preenche a cúpula de uma igreja.

– Menina, todos nós temos um propósito. E ser esquecido, substituído, dói. Mas magoar os outros não faz com que sejamos lembrados com carinho. A verdadeira importância de um brinquedo não está em ser o mais usado, e sim nas lembranças que ele vai causar na criança. A Menina que te substituiu não tem culpa alguma.

Corvo, então, parou ao lado de Javali.

– A gente te compreende. Também fomos deixados de lado. A poeira, o silêncio…. A solidão faz a gente pensar coisas sombrias. Mas temos que ser resistentes a elas.

Aranha, tímida, pouco atrás dos dois.

– A teia da inveja é pegajosa. Pode prender até quem a tece. Soltar a boneca agora não é fraqueza, é libertação.

E o Polvo, abraçando a todos com seus tentáculos.

– Machucar alguém para ser notado transforma a dor em uma corrente. Não se prenda nela. Vem com a gente! Tem outro caminho.

Javali avançou mais um pouco e, vendo que as palavras iam encontrando uma brecha através da barreira da vingança da Menina original, ofereceu uma pata felpuda e conciliadora.

– Não é pela força que se conquista um lugar no coração de alguém. É pela coragem de fazer o certo, mesmo quando ninguém está olhando. É o que estamos fazendo agora. Vem.

Os olhos de menina se cruzaram com os quatro pares dos estranhos da prateleira alta. Ali viu honra, esperança, sabedoria e companheirismo. Terminou cruzando olhares com a outra Menina, aterrorizada na outra ponta da corda. E viu a si mesma, no passado, momentos antes de cair na lata de tinta.

Aquela noite mágica de bichos de pelúcia falantes e tempestade monstruosa terminou em uma manhã ensolarada, com ruas e casas brilhando com raios de sol refletidos em acúmulos de água espalhados por todos os cantos.

– Natália, é hora de acordar, bebê. Mas o que é isso? A garotinha, deitada, coberta por suas mantinhas coloridas, sorrindo em um sono acalentador, abraçava não uma Menina, mas duas. E não os dois bichos de pelúcia, mas seis. E nunca parecera tão feliz ou protegida. Esteticamente, nada ali estava certo, a mãe pensou. Mas, ao mesmo tempo, tudo combinava perfeitamente.

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47 comentários em “Os Estranhos da Prateleira Alta (André Brizola)

  1. Rodrigo Ortiz Vinholo
    14 de junho de 2025
    Avatar de Rodrigo Ortiz Vinholo

    Gostei! Boa mensagem, boa construção de personagens. O enredo vai por caminhos óbvios para tentar equilibrar a participação de cada um dos brinquedos, mas funciona e envolve. A escrita madura e bem técnica ajuda muito! Parabéns!

    • Andre Brizola
      15 de junho de 2025
      Avatar de Andre Brizola

      Olá! Muito obrigado pela leitura e pelos comentários. Fico feliz que tenha gostado. Esse conto foi criado para dar vida aos bichos de pelúcia da minha esposa!

      Valeu!

  2. Felipe Lomar
    14 de junho de 2025
    Avatar de Felipe Lomar

    olá

    um conto realmente chubesco, finalmente. Gostei das referências. Também aprece ser uma fanfic de toy story. Então está perfeitamente no tema. Acho que falta algum impacto maior pra ficar perfeito. E talvez também seja demasiadamente longo. Poderia ser mais enxuto. A trama dos brinquedos substituídos ou negligenciados também não é muito original, é já foi explorada ad nauseam até mesmo dentro de Toy story propriamente. Mas o final pra mim é o maior problema, especialmente a parte de “honra, esperança, sabedoria e companheirismo” e as duas últimas frases do conto. É uma coisa bem clichê, de buzzwords vazias, digna de chatgpt. Tira toda. Profundidade do resto. Pode ser bem melhor

    boa sorte

    • Andre Brizola
      15 de junho de 2025
      Avatar de Andre Brizola

      Olá! Muito obrigado pela leitura e pelo comentário! A ideia era realmente parecer ser uma fanfic, sem ser. Quis brincar com a questão das referências, e achei legal fazer referência inclusive ao outro tema do desafio. Seus apontamentos vão muito na linha do que outros comentaram também, e vão me dar experiência para o futuro!

      Valeu!

  3. André Lima
    14 de junho de 2025
    Avatar de André Lima

    Este conto tem aspectos muito interessantes, embora, num geral, eu considere que poderia ser melhor.

    Aqui, temos a clássica jornada do herói, o que acaba tornando o enredo previsível demais e pouco impactante. Os “estranhos” são os rejeitados, vivendo em seu “mundo comum” (a prateleira alta, fora do alcance), a notícia do rapto de Menina por um “vulto rubro” serve como o “chamado à aventura”, a “recusa” inicial por parte dos brinquedos “preferidos” e o desprezo que os estranhos sentem por si mesmos são superados pela sabedoria do Javali, que atua como mentor e líder, a “travessia do primeiro limiar” ocorre quando eles descem da prateleira e enfrentam os desafios (a chaminé, as pilhas de tralhas no sótão, etc), o confronto com a “segunda Menina”, que na verdade é a original, representa a “prova máxima”, enquanto a resolução por meio da empatia e sabedoria dos “estranhos” simboliza o “retorno” com o “elixir”.

    Entende onde quero chegar? Embora a jornada seja bem delineada e cumpra seu papel, a forte adesão a essa estrutura arquetípica, sem grandes subversões, acaba por diminuir a sensação de novidade no desenvolvimento da trama. Não só nos tira o senso de novidade, mas nos dá um grande peso de “já vi isso muitas vezes e sei como vai acabar”. E acaba.

    Mas mesmo dentro dessa estrutura pouco original, há de se destacar alguns elemtnos positivos, tal como a subversão do vilão, que foi executada de maneira criativa. Essa reviravolta é inteligente e eleva o nível da narrativa, transformando um potencial conflito físico em uma questão de empatia e perdão.

    O autor também demonstra qualidade técnica. Gosto da descrição da tempestade e de outros elementos sensitivos.

    Ah, parece também gostar bastante de RPG. Há alguns termos como “vicissitude” e “furtividade” que geralmente são utilizados nesse contexto.

    Em resumo: é um bom conto, mas longo demais, com um ritmo um pouco atravancado. Brilha pela técnica do autor, mas tem seu brilho ofuscado por ser lugar-comum demais. Faltou originalidade! Fica a impressão de que o autor tem capacidade para uma história mais singular.

    • Andre Brizola
      15 de junho de 2025
      Avatar de Andre Brizola

      Olá! Muito obrigado pela leitura e pelos comentários! Segui a cartilha da jornada, não segui? Mas foi proposital. Não queria inventar a roda aqui, sobretudo porque as grandes narrativas que permeiam o infanto-juvenil vão por esse caminho, O Senhor dos Anéis, por exemplo. Mas entendo a crítica. E, sim, gosto de RPG, e ele foi inspiração para o conto, haha… Mas aqui acho que isso fica exemplificado não pelo uso das palavras que você citou, mas pelo fato de ter utilizado um grupo clássico de D&D, em que cada classe tem a sua habilidade apropriada para passar pelas dificuldades da jornada.

      Valeu!

  4. Fabio Baptista
    14 de junho de 2025
    Avatar de Fabio Baptista

    Em uma noite, devido a algum evento mágico, os animais de pelúcia ganham vida e descobrem que há algo errado no quarto de Natália. Descobrimos que é a boneca Menina que caiu na tinta e foi substituída e agora quer vingança. Com as habilidades combinadas e o poder da amizade, os bichos estranhos da prateleira alta conseguem salvar o dia (ou a noite).

    Gostei do conto, é um infanto juvenil mais “sombrio”, me lembrou um pouco o clima de Coraline. Inevitável lembrar também de Toy Story. Achei legal que cada animal teve sua frase de efeito com referências (Poe, Ctulhu, Homem-Aranha) e o javali apareceu pra fazer a referência interna.

    Na técnica, só notei essa repetição de palavras:
    a asa na testa, num ato inútil de secar o suor inexistente da testa

    Bom trabalho.

    • Andre Brizola
      15 de junho de 2025
      Avatar de Andre Brizola

      Olá! Obrigado pela leitura e pelos comentários! A intenção de parecer Toy Story e Coraline era fazer referência ao outro tema do desafio, de fato. Mas sem ser fanfic, por isso o “somehow Palpatine returned”.

      Valeu!

  5. Alexandre Costa Moraes
    13 de junho de 2025
    Avatar de Alexandre Costa Moraes

    Entrecontista,

    O seu conto apresenta uma premissa encantadora, com pelúcias esquecidas que protagonizam uma aventura noturna com propósito simbólico e emocional à la Toy Story. A ambientação é bem feita e a história traz uma metáfora poderosa sobre o descarte e a substituição, remetendo a temas como exclusão e preconceito. A boneca “marcada”, esquecida no sótão e clamando por reconhecimento, é uma figura forte.

    Ainda assim, o clímax da narrativa perde impacto ao optar por uma sequência de lições de moral explícitas, o que enfraquece o subtexto e a tensão dramática. Apesar disso, o conto é bem escrito, tem ritmo, estilo e um universo próprio que encanta. A imagem final, com todos juntos na cama, carrega ternura e entrega um desfecho que aquece.

    Parabéns pela construção desse pequeno mundo. Boa sorte no desafio!

    • Andre Brizola
      15 de junho de 2025
      Avatar de Andre Brizola

      Olá! Muito obrigado pela leitura e pelo comentário! A menção ao clímax da história é o campeão dos apontamentos do conto, e é muito pertinente. Não fiquei satisfeito, de fato. O trecho do embate com a boneca original foi reescrito inúmeras vezes, e nenhuma das versões me deixou satisfeito. Mas, mesmo assim, fico feliz que toda a parte da crítica à marginalização e ao culto à aparência tenha tido o seu efeito!

      Valeu!

  6. Givago Domingues Thimoti
    13 de junho de 2025
    Avatar de Givago Domingues Thimoti

    Os Estranhos da Prateleira Alta – NOTA:

    Da série “fazendo a boa”, vou tentar comentar o máximo de contos da Série A possível, apresentando minhas impressões pessoais sobre o seu conto. Os Estranhos da Prateleira Alta é um conto infanto-juvenil, com uma pitada de fanfic de Toy Story sobre o resgate de Menina, uma das bonecas favoritas de uma criança por um grupo de brinquedos velhos e antigos.

    Por mais que esse seja um conto em boa parte bem escrito, eu diria que as fraquezas desse conto se sobressaíram. A brincadeira com as palavras no início, a forma lúdica de contar a história. Adorei o jeito que foi descrito o escorrer da chuva; singelo e infantil. Entretanto, a narrativa não sustentou tanto tempo esse jeito de contar uma história e foi para um lado mais adulto, sério…

    Talvez seja aquele cansaço de final de desafio, talvez por guardar semelhanças com Toy Story (eu fui uma criança que não gostava de Toy Story), quase não terminei a leitura desse conto. Enfim, a sensação que tive foi a de que esse conto se esticou demais na leitura, sabe? Esse conto daria um salto com menos linhas, menos palavras sérias e bem mais brincadeiras com as palavras.

    Ah, teve um trecho muito estranho no desfecho de salvamento da Menina II que merece ser retrabalhado: 

    A teia da inveja é pegajosa. Pode prender até quem a tece. Soltar a boneca agora não é fraqueza, é libertação. => Sabe aquela cena do Batman – O Cavaleiro das Trevas, que o Batman fala para o Coringa “Larga ela!”, e o Palhaço do Crime está segurando uma mulher do alto de um prédio e ele fala “Péssima escolha de palavras?” E larga ela, assim como o Batman pediu? Pois é, mesmo efeito aqui…

    Enfim, resumidamente, um trabalho competente, mas que não dialogou bem com o tema infantil.

    • Andre Brizola
      15 de junho de 2025
      Avatar de Andre Brizola

      Olá! Muito obrigado pela leitura e pelos comentários! E seus apontamentos vão muito na linha daquilo que eu mesmo penso de meu próprio conto. Todo o final foi retrabalhado inúmeras vezes e, acho, a ideia original foi descaracterizada de tal forma que eu já não estava conseguindo mais combinar as duas partes. É fato. Minha primeira versão tinha um tom muito frio, segundo o feedback que tive. Racional demais. E eu tentei encontrar um diálogo “Disney”. Não gostei, mas foi o que enviei. Então seu comentário é muito pertinente.

      Valeu!

      • Givago Thimoti
        15 de junho de 2025
        Avatar de Givago Thimoti

        Oi, André! Que bom que meu comentário foi pertinente. Como falei, seu conto foi um dos últimos que li após uma sequência longa de contos. Depois de algum tempo, ficamos um tanto resistentes a ler mais. Pelo menos é o meu caso. Ler que o comentário foi pertinente é um incentivo a continuar a ler e comentar para além dos obrigatórios! Boa sorte na próxima etapa.

  7. Bia Machado
    12 de junho de 2025
    Avatar de Bia Machado

    Olá, autor/autora, tudo bem? Gostei de ler seu conto, mas não foi uma leitura que me conquistou de todo. Com relação à parte técnica, de coerência, estrutura e fluidez dei pontuação máxima nos meus critérios, no item “Personagens” tirei 0,2 porque não senti aquela identificação com eles. Pra mim foi como se tivesse faltado algo para que eu me conectasse com eles. Faltou espaço para desenvolver tantos brinquedos que no início pareciam interessantes? Talvez, para alguns, a sensação tenha sido essa… foi apenas esse item que me fez descontar também uma parte da pontuação do item “Emoção”, que é o mais importante para mim. Não tive dificuldades em chegar ao final tendo achado uma boa leitura, mas para mim não houve aquele momento de identificação com o que acabei de ler de forma que terminasse com uma sensação de “que pena que acabou”… É isso, boa sorte pra você no desafio.

    • Andre Brizola
      15 de junho de 2025
      Avatar de Andre Brizola

      Olá! Muito obrigado pela leitura e pelo comentário! Tive, de fato, problemas com o espaço. Em minha primeira versão tinha um personagem a mais, um pouco mais de diálogos e mais conflito entre o pessoal “de baixo” e “de cima” das prateleiras. E aí a edição me fez rever muita coisa. Peço desculpas por não ter conseguido agradar tanto!

      Valeu!

      • Bia Machado
        20 de junho de 2025
        Avatar de Bia Machado

        Oi, Andre, fique tranquilo. Muita gente gostou. E eu não desgostei de todo. Foi só a parte da boneca ameaçada. rs 😉

  8. Pedro Paulo
    11 de junho de 2025
    Avatar de Pedro Paulo

    Texto belíssimo! Certamente uma ótima leitura para um público mais jovem, mas que emociona também os adultos, carregando uma lição do valor individual na diferença entre cada um e o engano pelas aparências. No final, até a mãe superficial é redimida pela percepção de como tudo se encaixa para além de suas preocupações fúteis.

    • Andre Brizola
      15 de junho de 2025
      Avatar de Andre Brizola

      Olá! Muito obrigado pela leitura e pelo comentário! Fico feliz que tenha gostado. O objetivo do conto era dar vida aos bichinhos de pelúcia da minha esposa e criticar, de fato, a segregação e o culto à aparência, por um viés divertido. Fico feliz que tenha gostado.

      Valeu!

  9. Fabiano Dexter
    11 de junho de 2025
    Avatar de Fabiano Dexter

    História
    Aqui temos um Toy Story literário, quando os brinquedos ganham vida durante a noite e, quando menos se espera, temos um sequestro. E justamente da boneca favorita.
    Os brinquedos temem o que pode acontecer, até que os excluídos da prateleira de cima entram em ação para fazer aquilo que não se esperava deles.
    Tema
    Uma colocaria como infantil, mas para crianças um pouco mais velhas. Meu filho de 6 anos ficou um pouco perdido na história.
    Construção
    Um conto com uma leitura super agradável e leve e com personagens fortes e cativantes. Inclusive colocando não apenas fases temáticas para cada um dos personagens mas também situações em que as habilidades únicas de cada um ajuda a resolver uma determinada situação, reforçando a ideia de trabalho em equipe.
    Impacto
    Um final um pouco abrupto, mas que não tira nada do conto. Uma bela história com uma bela lição.

    • Andre Brizola
      15 de junho de 2025
      Avatar de Andre Brizola

      Olá! Muito obrigado pela leitura e pelos comentários! Você acerta quando diz que o final foi abrupto. Foi mesmo. Meu conto estava ficando muito grande, e eu fiquei muito insatisfeito com o final. Não só com o desenvolvimento, mas com o diálogo. Queria ter trabalhado melhor. Por outro lado, eu estava muito fora da minha zona de conforto, então não sabia muito o que fazer para arrumar. Mesmo assim, fico feliz que tenha agradado!

      Valeu!

  10. Mauro Dillmann
    6 de junho de 2025
    Avatar de Mauro Dillmann

    Texto bem escrito.

    No início, a mãe da jovem é uma personagem meio chatinha, que, de saída, se preocupa com a imagem de si formada pelo outro: o que pensariam de mim se eu levasse esses bichinhos?

    Logo a história ganha contornos imaginários e os bichos de pelúcia ganham vida.

    Embora seja um enredo aparentemente voltado para o universo infanto-juvenil, a linguagem do conto atinge o rebuscamento, algo que me pareceu bem distante de um potencial jovem leitor: “Havia”, “nosso brio”, “não arrefecia”, “vulto rubro”.

    Alguns diálogos são monótonos, como aquele que aponta inicialmente para a constatação de que a pelúcia chamada “Menina” não está no quarto.

    O conto também se apresenta muito explicativo. Exemplo: “Podemos fazer o que está ao nosso alcance…”.

    Para mim, a temática, ursos de pelúcia falantes, não garantiu o caráter infanto-juvenil do conto.

    Achei forçada a invenção da língua animal: “Iä, iä, Cthulhu fhtagn!”. Da mesma forma, o exagerado pseudônimo.

    Não identifiquei fanfic, por isso tomo o conto como infanto-juvenil.

    • Andre Brizola
      15 de junho de 2025
      Avatar de Andre Brizola

      Olá! Muito obrigado pela leitura e pelos comentários! A questão do vocabulário foi um dos principais apontamentos que tive dos comentaristas. Tive a opção de decidir escrever para um público mais infantil, infanto-juvenil ou para o público alvo do desafio, que são os leitores do EC, e essa terceira opção foi a escolhida. Talvez não tenha sido a melhor, mas era a que se encaixava melhor para a história que queria contar. Mas “iä, iä, Cthulhu fhtagn” não é uma língua animal inventada, sabe? É uma referência ao Chamado de Cthulhu, de H. P. Lovecraft. Fiz uma referência a cada um dos bichos de pelúcia, e essa é ligada ao polvo.

      Valeu!

  11. Kelly Hatanaka
    2 de junho de 2025
    Avatar de Kelly Hatanaka

    Um conto infantil, no estilo Toy Story. Achei interessante e bem escrito, uma história bem dinâmica. Gostei dos personagens esquisitões da prateleira de cima e da forma como a história se desenvolveu. Curti, também, a referencia a Chthulu.

    • Andre Brizola
      15 de junho de 2025
      Avatar de Andre Brizola

      Olá! Muito obrigado pela leitura e pelo comentário! Esse conto foi escrito com um objetivo em mente, que era dar vida aos bichinhos de pelúcia da minha esposa. Então todos eles existem de fato e a foto é de verdade!

      Valeu!

  12. claudiaangst
    29 de maio de 2025
    Avatar de claudiaangst

    Olá, autor(a), tudo bem?

    Temos aqui um conto infanto-juvenil, talvez uma fanfic de Toy Story? Aborda temas complexos como preconceito e a necessidade de inclusão dos marginalizados (fora dos padrões estéticos).

    Há na narrativa um tom de terror mesclado à fantasia. A tinta vermelha lembrando o sangue, o descarte associado à sentença de morte, a perseguição, o isolamento, o vulto vermelho buscando vingança.

    A prateleira alta representa a condição de isolamento dos brinquedos que não se encaixam na decoração harmônica idealizada pela mãe da Nathália. Inclusive, há um javali em homenagem ao EC. Fofo!

    Não encontrei muitas falhas de revisão (confesso que também não procurei), mas um deslize gritou:  

    • Haviam diversas caixas d´águas enfileiradas > HAVIA diversas caixas > verbo haver (sempre singular no sentido de existir).

    O ritmo da trama mantém o interesse do(a) leitor(a), a leitura flui sem entraves.

    Gostei do desfecho da narrativa, a mensagem de inclusão do diferente, dos que estão fora do padrão e sofrem preconceito.

    Parabéns por mais uma participação e boa sorte para atingir o pódio.

    • Andre Brizola
      15 de junho de 2025
      Avatar de Andre Brizola

      Olá! Muito obrigado pela leitura e pelo comentário! Eu tive a preocupação de realmente focar no aspecto da marginalização aqui. Talvez ela tenha sido um pouco exagerada, como alguns comentaristas apontaram, mas fico feliz de ver que muito outros encontraram a validade desse argumento, principalmente na questão do isolamento.

      Valeu!

  13. Rangel
    24 de maio de 2025
    Avatar de Rangel

    Olá, Mattew Paul Shelob de Erimanto!

    Às vezes é difícil avaliar um conto infantil quando não se é mais criança, embora esse seja um gênero que muito me agrada.

    Você escreveu inspirado em uma temática que sempre me interessa: brinquedos que ganham vida. Você conseguiu explorar de modo criativo as habilidades dos quatro bichinho rejeitados para salvar Menina. Há também o mistério revelado, da Menina serem duas, sendo uma delas a vilã ou melhor, a antagonista da história. Tudo isso é bem explorado, me lembrou as animações que passavam na cultura ou outros canais educativos. Inclusive você mantém o tom didático na sua história, e a utiliza para trazer as mensagens e que valores que gostaria de plantar nas crianças.

    Só que há algo na execução que soa excessivo. O tom moral é reforçado até quase cansar. Sabe aquele personagem chatão que fica dando lição de moral? Tipo o Geninho da She rá, que no final vinha para nos explicar o episódio, então. o conto me causou um pouco essa sensação. Veja: “– A gente te compreende. Também fomos deixados de lado. A poeira, o silêncio…. A solidão faz a gente pensar coisas sombrias. Mas temos que ser resistentes a elas” – diz o corvo. “A teia da inveja é pegajosa. Pode prender até quem a tece” – fala a aranha. “Machucar alguém para ser notado transforma a dor em uma corrente” – ensina o polvo. “– Não é pela força que se conquista um lugar no coração de alguém” – arremata o javali.

    Mas eu sei que para histórias infantis, esse tom está adequado e é muito utilizado. No entanto, esse tom bem infantil, não condiz com outras passagens da história: “A aranha moveu as quelíceras positivamente e, num salto, adentrou a escuridão de cinzas, buscando a parede oposta”. “Assustou-se com o perigo da manobra, sem saber que era possível tamanha vicissitude de movimentos”. E não digo isso apenas pelas palavras incomuns “quelíceras” e “vicissitude”, mas pelo próprio tom que parece bem menos didático do que as falas de algumas personagens.

    Uma outra observação que gostaria de fazer é sobre um recurso que foi utilizado muitas vezes na história: o uso da conjunção “e” seguida vírgula para separar uma oração intercalada, um adjunto adverbial ou um aposto:
    ” E, claro, o fato de que os dois bichos de pelúcia estavam se movendo”;
    “Doguinho esticou o pescoço e, com movimentos leves, escapou do abraço de Natália”.
    “E, como somos os preferidos, também de noites quentinhas”
    “lugares na prateleira e, como se a magia que os despertou não tivesse acontecido, reassumiram…”
    “pelo corredor e, com uma manobra aguda, passou…”
    “suporte da cortina e, ali, foi tentar controlar a adrenalina…”
    “as quelíceras positivamente e, num salto, adentrou…”
    “e, não fosse um bicho de pelúcia, aquela chaminé poderia muito bem “
    ” E, ao redor disso, caixas e mais caixas…”

    Por fim, quero dizer que gostei de algumas brincadeiras. O corvo com seu “Nunca mais”, a aranha “com grandes responsabilidades…” “Cthulhu fhtagn”… Fiquei sem entender se há alguma referência na fala do Javali.

    • Andre Brizola
      15 de junho de 2025
      Avatar de Andre Brizola

      Olá! Muito obrigado pela pela leitura e pelo comentário detalhado! Tenha certeza de que os apontamentos serão levados adiante e farão parte do repertório. Eu fiquei muito insatisfeito com o meu final do conto, sobretudo porque ele realmente não condiz com o que eu havia escrito antes. Recebi algumas sugestões e fiz a alteração dos diálogos finais para deixar o conto com uma cara meio “Disney” em seu final, e eu mudei e mudei muitas vezes sem conseguir chegar ao um ponto que ficasse realmente satisfeito. E acabou ficando assim, comigo sabendo onde o conto falha. Há aí também o problema da quantidade de palavras. Na primeira versão eu havia cinco personagens, com um tubarão de pelúcia e referências ao filme do Spielberg, mas que precisou ser cortado.

      Valeu!

  14. cyro eduardo fernandes
    22 de maio de 2025
    Avatar de cyro eduardo fernandes

    Excelente conto. Criativo e com boa técnica. Creio que as mensagens de bondade e de como lidar com a rejeição o classifiquem como chubesco.  Curioso com o pseudônimo do autor. Identifico partes que associam ao javali e à aranha do conto, mas não decifrei se há algo mais.

    • Andre Brizola
      15 de junho de 2025
      Avatar de Andre Brizola

      Olá! Muito obrigado pela leitura e pelo comentário! Fico feliz que tenha gostado. Eu achei que apenas o Jorge Santos havia citado o pseudônimo, mas não, você também o fez. É a união de quatros nomes relacionados aos quatros bichos de pelúcia, o corvo Matthew, das histórias de Sandman, de Neil Gaiman, o polvo Paul, da Copa do Mundo da Alemanha, a aranha Shelob, de O Senhor dos Anéis, e o Javali de Erimanto, um dos doze trabalhos de Hércules.

      Valeu!

  15. Jorge Santos
    20 de maio de 2025
    Avatar de Jorge Santos

    Olá, autor ou autora. Gostei bastante deste seu texto, que me trouxe gratas recordações. Mas comecemos pelo princípio: gosto sempre de ver o simbolismo por detrás dos pseudónimos. No seu caso, temos Mateus e Paulo, dois autores de evangelhos bíblicos, Shelob, aranha gigante do livro Senhor dos Anéis e Erimanto, local da lenda grega do Javali de Erimanto. É desta diversidade que nasce o seu texto. Em termos de linguagem, o mesmo pareceu-me bastante bem e é fluído. A adequação ao tema é perfeita: é um fanfic de Toystory, a história infantil por excelência e uma das minhas favoritas. A ambientação ficou perfeita, tem até um lado obscuro que cativa tanto crianças como adultos – desde que não saia dos limites (o que não aconteceu no seu caso). Por outro lado, o texto fala de javalis e lembrou-me do primeiro texto que enviei para o Entrecontos, no saudoso Desafio de Imagem, de 2017. Em termos de narrativa, temos uma perseguição com um ensinamento sobre diversidade: são os brinquedos estranhos que, unindo-se, conseguem salvar o dia.

    • Andre Brizola
      15 de junho de 2025
      Avatar de Andre Brizola

      Olá! Muito obrigado pela leitura e pelo comentário! Fico feliz que tenha gostado! E é engraçado que tenha citado o pseudônimo, pois foi o único a fazê-lo. Você encontrou aí duas das referências, o Javali de Erimanto e a aranha Shelob. As outras duas são do polvo Paul, aquele da Copa do Mundo da Alemanha, que adivinhava os vencedores dos jogos, e Matthew, o companheiro corvo de Sandman, dos quadrinhos de Neil Gaiman.

      Valeu!

  16. Antonio Stegues Batista
    18 de maio de 2025
    Avatar de Antonio Stegues Batista

    Resumo do conto:  Brinquedos de pelúcia adquirem vida e tentam salvar boneca em perigo.

    Gostei do enredo, além de tema infantil, deve ser uma fanfic de Toy Story e outros tantos filmes de brinquedos com a mesma premissa. Boa narrativa e ambientação, mas achei que, em algumas partes dos diálogos o autor usou palavras difíceis para uma história infantil, que crianças não iriam entender, mas o conto é para adultos, portanto isso não faz diferença. Parabéns e boa sorte.

    • Andre Brizola
      15 de junho de 2025
      Avatar de Andre Brizola

      Olá! Muito obrigado pela leitura e pelo comentário! De fato, quando optei por um vocabulário menos simples a decisão foi tomada levando em conta que estava escrevendo para o público do EC, e não para crianças de fato. Fosse outro cenário, teria ido por outro caminho. Você foi o único que pegou o espírito da coisa no quesito direcionamento do público alvo.

      Valeu!

  17. paulo damin
    15 de maio de 2025
    Avatar de paulo damin

    Achei, lendo o título, que ia ser uma fanfic do Homem do Castelo Alto, até porque, na lista, esse conto vem depois do Blade Runner. Então foi uma surpresa boa ver que se trata de uma fábula com bichos de pelúcia.

    A ideia é ótima. A menina sendo protegida pelos seus brinquedos, eles se solidarizando, preocupados com o exílio dos mais distantes. Daria um belo conto infantil. A única questão seria torná-lo menos carregado nas descrições e diálogos. Ou simplesmente aliviar o tom formal do texto. Ia ficar mais de acordo com o ambiente da narração. Mesmo se a ideia for buscar um público adulto, a história se beneficiaria com isso.

    • Andre Brizola
      15 de junho de 2025
      Avatar de Andre Brizola

      Olá! Muito obrigado pelo comentário e pela leitura atenta! Curiosamente, fiquei muito tentado a escrever uma fanfic de algo do Phillip K. Dick. Mas não seria do Homem do Castelo Alto, e sim de Ubik. Mas desisti, pois achei que fanfic deveria ser algo mais popular, e poucos encontrariam a referência para se situar num conto dessa natureza.

      Valeu!

  18. Thiago Amaral
    14 de maio de 2025
    Avatar de Thiago Amaral

    Gostei muito desse conto! De linguagem clara, persongens cativantes, numa trama que misteriosa que chama a atenção. Por um momento, fiquei pensando se não era o papai noel quem roubou a Menina, mas ele não traz presentes? kkk

    O tema dos excluídos, dos estranhos, é bem prevalente nas histórias, por ser uma chaga bem profunda na nossa sociedade tão excludente. E aqui foi abordado de uma forma que achei satisfatória. A crítica da Menina I foi interessante, além do seu arco de vingança até redenção. Claro que ela mudou de ideia bem rápido, mas podemos perdoar a autoria por causa do limite de palavras.

    Outra coisa que gostei foi que, além do mistério, tivemos momentos bem-humorados na história, como as referências à cultura pop ligadas aos bichinhos excluídos. Homem-aranha, Senhor dos Aneis, Lovecraft… Não é fanfic, mas foi um aceno bacana.

    Nada muito pra falar, apenas que é um conto profissa. Com certeza ganhará nota máxima de minha parte.

    Valeu e boa sorte no desafio!

    • Andre Brizola
      15 de junho de 2025
      Avatar de Andre Brizola

      Olá! Muito obrigado pela leitura e pelo comentário! Fico feliz que tenha gostado! Eu, particularmente, fiquei muito insatisfeito com o final. Queria ter mais espaço para ter trabalhado a redenção da “vilã” e, de fato, tudo aconteceu muito rápido. Mesmo assim, fiquei satisfeito com o resultado geral. Foi um conto difícil de escrever.

      Valeu!

      • Thiago Amaral
        15 de junho de 2025
        Avatar de Thiago Amaral

        Tava achando ele bastante injustiçado enquanto falavam dele no grupo, mas que bom que atingiu uma boa colocação. Valeu, André.

  19. Augusto Quenard
    13 de maio de 2025
    Avatar de Augusto Quenard

    Se for chubesco, pra adultos, acho que dá pra cortar um pouco, tirar descrições, escolher um líder e talvez menos obstáculos, reformular a cena inicial, que parece muito estereotipada. Acho que isso ia fortalecer a história, sem perder as tensões e a magia.

    Se for infantil (e eu acho que o conto seria melhor aproveitado por esses leitores) daí dá pra tirar tudo que for complexo, dá pra cortar no sentido de simplificar, tirar a cena inicial da conversa também, que acho que não contribui muito, pois o que ali se diz já é dito também em outros lugares, ou sugerido. Com uma boa simplificação, acho que ficaria um conto infantil bem bonito.

    De modo geral gostei da ideia. Não sou um leitor do gênero chubesco, mas acho que dando uma enxugada e uma revisada gramatical (tem varias coisinhas pra corrigir) fica um conto legal.

    • Andre Brizola
      15 de junho de 2025
      Avatar de Andre Brizola

      Olá! Muito obrigado pela leitura e pelo comentário! Tenha certeza de que os apontamentos serão levados para frente como sabedoria adquirida. Quando escrevi o conto tinha em mente uma história infanto-juvenil, mas escrita para um público específico, que é o do EC. Fiquei na dúvida de qual tom deveria assumir, e escolhi escrever para o EC. Não sei se foi a melhor decisão, mas acho que, de outra forma o conto não teria saído da forma como escolhi contar a história.

      Valeu!

  20. Leandro Vasconcelos
    12 de maio de 2025
    Avatar de Leandro Vasconcelos

    Olá! Este é outro belo conto “chubesco” do desafio. Está completinho! Tem toda uma jornada instigante que envolve vários personagens, habilmente construídos apesar da limitação de palavras.

    Os estranhos da prateleira alta são os personagens centrais, como o próprio título nos esclarece. Funcionam como heróis já amadurecidos, os quais contam, cada um, com traços de personalidade distintos e desejáveis: sabedoria, esperança, honra, companheirismo e, sobretudo, abnegação. Em prol da felicidade da menina, optam por não intervirem em seu desenvolvimento, nem comprar briga com outros brinquedos por vingança ou rancor – pelo contrário, abraçam o seu destino de esquecimento. No entanto, quando o mal aparece, não se acovardam, ao contrário dos petulantes das prateleiras inferiores. Decidem salvar a boneca preferida da criança, em um ato de total abnegação, pois arriscam sua própria vida em uma aventura cheia de perigo e mistério. E aí, no fim da “caverna”, descobrem que feições o mal pode ter: inveja, ressentimento, destruição. Mas, como dito, são heróis amadurecidos que não se abalam. Trazem seus ensinamentos à criaturinha perdida e malévola, a qual se converte e aceita sua condição.

    É um texto que tem uma sabedoria profunda nas entrelinhas, transmitida de forma doce ao público. Me lembrou de histórias infantis já consagradas, tanto na literatura quanto no cinema. Em última análise, remete às grandes narrativas ocidentais sobre a eterna contenda entre bem e mal, e sobre o sacrifício que a redime.

    O maior trunfo do conto é saber transmitir essas ideias com simplicidade. O texto se desenvolve com fluidez exemplar. A linguagem é acessível, sem ser simplória, e as descrições equilibram leveza com tensão. O autor constrói bem a progressão dos eventos — da festa inocente ao resgate heroico — sem perder o leitor em digressões. A ambientação é boa e carrega peso simbólico.

    O único ponto de reflexão que coloco em meu comentário é sobre, talvez, o texto parecer um pouco repetitivo. Há trechos nos quais o narrador antecipa ou comenta o que já está claro na cena. Exemplo: “Ali viu honra, esperança, sabedoria e companheirismo” — uma enumeração talvez desnecessária, pois já foi demonstrada anteriormente. Sob o aspecto de estilo, algum abuso de adjetivos aqui e ali. Também há repetição de alguns termos nas frases.

    Mas, enfim, são apenas minudências. Nada que macule esta bela obra! Parabéns ao autor!

    • Andre Brizola
      15 de junho de 2025
      Avatar de Andre Brizola

      Olá! Muito obrigado pela leitura e pelo comentário generoso! Fico feliz que tenha gostado! E tenha certeza, as sugestões aqui serão levadas em consideração, pois é o grande tesouro do Entrecontos! Esse aspecto que você citou, da antecipação de algo que está claro, é algo que realmente devo tomar cuidado. Percebi isso relendo o texto depois de ter enviado contos para outros desafios. E, mesmo assim, sempre acabo cometendo o mesmo erro!

      Valeu!

  21. Luis Guilherme Banzi Florido
    9 de maio de 2025
    Avatar de Luis Guilherme Banzi Florido

    Boa tarde!

    Conto muito bom, escrito de modo perfeito para crianças, mas sem chato para adultos. Possui mensagens, mas que sao transmitidas sem tornar o conto pedante ou didatico. Tudo bem encaixadinho.

    Os dialogos sao otimos, os personagens sao excelentes. Voce parece ter experiencia em contos infantis, pois consegue, de forma natural, contar a historia de modo ludico, transmitindo ideias e conceitos naturalmente, sem precisar forçar. Muito bom.

    A jornada dos personagens, de excluidos para herois, ensina muito ao leitor, especialmente às crianças. É quase uma fabula moderna, mas em vez de animais reais, temos animais de pelucia. Mas está tudo ali, a estrutura toda de uma fabula bem feita.

    A cereja do bolo sem duvida é o final, que é cativante e tocante. O dialogo entre os 4 personagens e a menina rubra é muito bem construido. Existe profundidade e existe uma mensagem. E o desfecho, com todos sendo abraçados pela menina, é simbolico.

    Enfim, um otimo conto infantil, que tambem agradou ao eu adulto que leu.

    Parabens e boa sorte!

    • Andre Brizola
      15 de junho de 2025
      Avatar de Andre Brizola

      Olá! Muito obrigado pela leitura atenta ao meu conto! Fico feliz que tenha gostado! Eu tive muitas dificuldades com esse aqui, porque ele é muito fora da minha zona de conforto. E não fiquei satisfeito com muitas coisas dele, sobretudo os diálogos finais, que foram alterados inúmeras vezes e, no final das contas, acabou ficando muito num padrão Disney que me desagradou. Mas, no geral, acho que serviu ao propósito.
      Valeu!

  22. toniluismc
    6 de maio de 2025
    Avatar de toniluismc

    AVALIAÇÃO CRÍTICA – CONTO “Os Estranhos da Prateleira Alta”
    ✒️ Por um leitor que só quer uma boa história para criança, não um tratado psicológico disfarçado de fábula

    📉 PRIMEIRA IMPRESSÃO

    À primeira vista, parecia o milagre: um conto bonitinho, com pelúcias falantes, estrutura clara, narrativa linear e um clima lúdico. “Será?”, pensamos, esperançosos. Mas bastaram três parágrafos de discurso floreado do javali existencialista para que a fantasia infantil desmoronasse como castelo de LEGO mal encaixado.

    ✍️ TÉCNICA — Nota: 3.8

    Pontos fortes:

    • O texto é bem escrito, com domínio narrativo, boa construção de frases, ritmo equilibrado e uso competente de pontuação. A ambientação da tempestade inicial é ótima e o tom mágico está presente desde o começo.
    • A estrutura é sólida: tem introdução clara, conflito crescente, clímax bem definido e um desfecho redondinho. Poderia, tecnicamente, ser um conto excelente.

    Mas…

    • A linguagem não conversa com o público infantojuvenil. Quem é o leitor ideal aqui? Uma criança de oito anos ou um adulto com bom vocabulário? Porque essa pessoa teria que saber o que é vicissitude, instransponível, vicária e resiliência emocional de brinquedo marginalizado.
    • Em vez de mostrar, o conto insiste em dizer o tempo todo o que o leitor deve aprender. Isso transforma o texto numa palestra disfarçada de aventura: Javalis citando lições de moral como se fossem monges tibetanos; aranhas e polvos falando com termos de autoajuda.

    🔎 Resumo técnico: Um ótimo domínio da escrita, mas com total despreparo para lidar com o público infantil. O autor sabe escrever — mas parece nunca ter contado uma história para uma criança de verdade.

    🎨 CRIATIVIDADE — Nota: 2.8

    Há elementos criativos, sim:

    • A ideia de brinquedos esquecidos ganhando vida na tempestade é promissora e lembra boas referências (Toy Story, O Quebra-Nozes, Coraline, etc).
    • O quarteto marginalizado da prateleira alta funciona como metáfora visual bem construída, com design claro e funções distintas.

    Mas o desenvolvimento…

    • Soa derivado. A trama parece recombinada de ideias já exploradas, sem trazer uma reviravolta real ou alguma inovação na abordagem.
    • A inserção da “Menina Vingativa Tintureira” soa mais como um resquício de conto adulto reciclado, onde o trauma da rejeição tenta ser resolvido em 15 falas com lições filosóficas.
    • As personalidades dos brinquedos são previsíveis. O corvo é furtivo, a aranha é introspectiva, o polvo é versátil e o javali é o sábio. Tudo certinho demais, sem arestas, sem risco.

    🔎 Resumo criativo: A base é boa, mas falta surpresa. Parece que o autor fez a lição de casa com tanta seriedade que esqueceu de brincar com a história.

    💥 IMPACTO — Nota: 2.5

    Aqui está o maior problema.

    • O conto quer tanto ser edificante que se esquece de ser divertido.
    • O clímax da boneca ameaçando pintar a outra de vermelho poderia ser emocionante ou engraçado — mas vira uma conferência TED Talks sobre empatia e propósito existencial.
    • O leitor termina com a impressão de que foi pastoreado por um coro de brinquedos coachs. E isso frustra, porque havia ternura possível ali.

    Além disso:

    • A moral é válida, mas mastigada demais. Falta confiança na inteligência do leitor infantil. Toda emoção é explicada. Toda fala tem função doutrinária.
    • O final tenta soar bonito, mas a emoção já foi drenada por longos discursos e metáforas excessivamente explícitas.

    🔎 Resumo do impacto: Uma história que tem tudo para emocionar, mas acaba apenas ensinando, corrigindo e justificando, como um adulto que quer mostrar o quão maduro ele é — para uma criança que só queria ver os brinquedos salvando a amiga.

    🎯 CONSIDERAÇÕES FINAIS

    “Os Estranhos da Prateleira Alta” tinha a faca e o queijo na mão: proposta adorável, personagens carismáticos, cenário ideal, conflito claro. Mas tropeça feio no tom, tentando tratar seu leitor infantil como um mini-adulto que aguenta metáforas existenciais longas e complexas. Resumo cruel em uma frase:

    Uma história que deveria ser contada com olhos brilhando, mas que chega ao leitor como quem lê verbete filosófico de dicionário ilustrado.

    Uma pena. Com ajustes de linguagem, cortes nos sermões e um pouco mais de humor e leveza, esse conto teria tudo para ser um dos melhores da rodada.

    • Andre Brizola
      15 de junho de 2025
      Avatar de Andre Brizola

      Olá! Muito obrigado pela leitura extremamente atenta ao meu conto. Devo dizer que foi um desafio escrever dessa maneira, pois não está dentro da minha zona de conforto. E acho que aí entra os deslizes que foram apontados. Todos os ensinamentos e explicações visam a dar uma amainada na dureza do texto, que eu sei que é característica minha e eu, dificilmente, conseguiria amenizar. Mas, de qualquer maneira, acho que, fora o desequilíbrio apontado, fico feliz com o resultado!
      Valeu!

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Publicado às 3 de maio de 2025 por em Liga 2025 - 2A, Liga 2025 - Rodada 2 e marcado .