EntreContos

Detox Literário.

O Novo Protocolo de Voight-Kampff (Daniel Reis)

“Viver com medo é uma experiência e tanto, não é?

É o mesmo que ser um escravo.”

(Roy Batty, 1:45:15,  aposent. 2019)

Pela janela lateral, Larry, o barman, percebeu a chegada daquele que seria o seu primeiro freguês naquela noite: outro homem solitário e desconhecido, saindo de um spinner caindo aos pedaços. 

Mas aquele era diferente. Parecia vir de longe. 

Pousou com um solavanco, sem se importar com a integridade da aeronave, que deixou escondida atrás de arbustos na pequena floresta de coníferas, longe do estacionamento principal. Desligou os motores à força, arrancando o cabo da ignição e guardando-o no bolso externo da mochila militar.

Larry raramente recebia novos clientes. A vila era pequena, mas havia sempre os desesperados — ainda mais naquela época do ano, em que era preciso muita coragem para atravessar o pátio com quase quatro palmos de neve nos joelhos, até o bar Klondike. Mesmo assim, o lugar só começava a encher depois das onze da noite, com sua clientela habitual.

A maioria dos frequentadores eram prostitutas, bêbados, ou ambos. Esperavam a cidade escurecer com o fim da iluminação temporária das fontes intermitentes, restando só energia nuclear que mantinha as cabanas aquecidas durante a noite. Curiosamente, era mais seguro caminhar no breu das trilhas da floresta artificial do que sob as luzes de neon e postes de argônio, onde qualquer um era alvo fácil para nômades assaltantes.


O homem entrou com pressa e frio, fechando a porta do bar atrás de si. Limpou o gelo dos sapatos, dos bigodes e do cavanhaque. Tirou o chapéu, depositou a mochila pesada numa das mesas vazias e cumprimentou o barman com um leve aceno, apontando em seguida para uma garrafa específica na prateleira, sem dizer palavra.

Era uma garrafa única, inconfundível.

Continha um destilado de álcool que, sintetizado a partir de um extrato químico artificial, imitava perfeitamente o gosto de uma planta sulamericana extinta há tempos. Era exclusividade ali, talvez a única existente em todo o Alasca. 

Pertencia a um cliente também muito especial.

— Sinto muito. Essa garrafa tem dono — desculpou-se Larry.

— Eu sei. Vim beber com ele — respondeu o forasteiro, apontando discretamente a pistola de taser na cintura para esclarecer ao barman suas intenções.

— Mais alguém lá para dentro? — complementou.

—  Só o menino que ajuda na cozinha.

— Diga a ele que venha aqui.

Larry chamou Allan, que chegou limpando as mãos engorduradas num avental de chumbo imundo, e se assustou com a arma à mostra, detendo-se na porta de serviço.

— Allan, não é? Mostre-me o seu pulso.

O rapaz arregaçou a manga e mostrou o pulso esquerdo. Nada havia lá.

— Você também, barman. Qual é o seu nome?

— Larry Andersen — respondeu, mostrando os pulsos, ambos sem marcas visíveis.

— Ótimo, Larry. Agora eu quero que vocês dois vão lá atrás um minuto, até a cozinha, comigo.

Entraram os três no pequeno espaço abarrotado de panelas, velhas, penduradas pelas paredes ou acumuladas sujas na pia.

Ordenou ao barman:

—  Pegue aquele trapo e amarre os pulsos dele para trás, nesta coluna. Coloque também outro pano, que seja mais limpo, de preferência, na boca, caso ele caia em tentação de falar quando não deve. 

—  E você, rapaz, fique tranquilo, quieto, e nada deve acontecer por aqui — reforçou ao apavorado cozinheiro.

Larry obedeceu e manietou Allan. O forasteiro então indicou ao barman que o acompanhasse de volta ao balcão do bar.

— Se mais alguém aparecer, mantenha a normalidade. Só diga que hoje não tem mantimentos para preparar lanches ou o jantar, e que pretende fechar mais cedo. Isso, só até meu amigo chegar. Daí, resolveremos a sua situação. 


Esperaram quinze minutos. Ninguém.

Então a porta se abriu e uma mulher muito jovem entrou, equilibrando-se como se estivesse em gelo fino, enquanto tirava o casaco artificial de pele de urso, exibindo o generoso decote do vestido vermelho.

— Oi, estranho! Me paga uma bebida? 

— Hoje não, baby. Quem sabe outra hora.

Sendo assim, ela se voltou ao barman:

— Larry, me sirva um prato de tenia solium empanada, por favor…

— Desculpe, Lídia, hoje estou sem nada no estoque. E o rapaz da cozinha não veio. Aceita um uísque de soja? É por conta da casa.

O visitante fulminou o barman com o olhar.

— Nossa, quanta gentileza, aceito sim… Sem gelo, por favor.

— Tome rápido e dê o fora. Daqui a pouco eu preciso fechar o bar e voltar pra casa. Não estou me sentindo bem, hoje…

—  E o nosso amigo aqui?

—  Ele já está de saída. Vou servir só mais um drink a ele também…

Larry preparou e entregou os dois copos, um para o visitante, outro para a mulher, em pontas opostas do balcão. 

— Com essa neve, duvido que mais alguém apareça hoje… — arriscou ela, tentando puxar conversa com o desconhecido.

— Estou esperando um amigo. Já devia ter chegado — disse o homem. — Rick Deckard. Conhece?

— Conheço, sim. Nunca me deu muita moral. Casado, mora com a esposa nas montanhas. Mas passa aqui quase todo dia, né, Larry?

— Quase — confirmou o barman. — Talvez hoje não apareça.

— Vai aparecer — afirmou o forasteiro, sem hesitar.

A mulher consultou Larry com o olhar, sem obter resposta imediata.

Beberam em silêncio, por alguns minutos.

— Terminou com seu drink, baby? — perguntou o estranho, em tom seco.

Ela balançou a cabeça afirmativamente, com um sorriso malicioso, sugando o resto do gelo pelo canudo.

— Alguma chance pra mim? — ela arriscou, quase suplicando ao estranho.

— Melhor ir pra casa agora — o barman cortou aquela conversa dela. — As luzes já estão apagadas lá fora. Deixe um pouco da diversão para amanhã.

— Quanto devo?

— Nada. Como eu falei, hoje é por conta da casa — disse Larry, impaciente.

Ela limpou a boca com o guardanapo que ele lhe estendeu e o guardou, discretamente, na bolsa de pele de foca.

— Tchau, Larry. Até mais, estranho.

Vestiu devagar o casaco de urso, engolindo a rejeição e levando na bolsa o guardanapo manchado, onde se lia, num canto, quase apagado: “AVISE DECKARD”.


O tempo se arrastava como um cão sarnento na lama.

Com a escuridão lá fora, o estranho ordenou que Larry mantivesse o gerador a óleo de baleia ligado, mas com as luzes reduzidas ao mínimo — em meia fase, só o suficiente para tornar o bar visível, uma isca noturna. Queria atrair Deckard como quem atrai uma mariposa pelo brilho da lâmpada, ou para o calor de uma chama acesa.

Funcionou. 

Mais um quarto de hora, ele apareceu: trôpego, enregelado e já completamente embriagado.

Aproximou-se do balcão e, forçando a vista cansada, tentou confirmar se não estava alucinando, e aquele era mesmo quem ele imaginava.

Era Ernie.

Abraçaram-se efusivamente. 

Pela tensão até ali, o barman não foi capaz de entender a súbita demonstração de amizade entre os dois.

Imediatamente, Ernie convidou Deckard a se sentar com ele numa mesa mais ao fundo.

Ainda incrédulo, Deckard pediu a Larry sua garrafa exclusiva de cachaça e dois copos grandes. O barman hesitou. Sabia que a arma do visitante permanecia oculta, mas à mão; e preferiu não arriscar. Obedeceu.

Foi então surpreendido pelo tom amistoso na voz de Ernie.

— Pegue mais um copo e sente-se aqui com a gente, Larry. Você merece testemunhar o reencontro de dois velhos amigos.

Desconfiado, Larry preferiu pegar para si um copo sujo da mesa ao lado, sem se afastar demais. Sentou-se entre os dois.  Dessa vez, ele é quem foi servido pelo seu cliente habitual — uma dose do líquido transparente e inflamável dos trópicos, que desceu silenciosamente, como se estivesse queimando sua garganta.

— Quanto tempo… — murmurou Deckard, mesmerizado pela presença do antigo conhecido.

— É, você sumiu do radar.— respondeu Ernie, sério.

— Não tive como avisar. Mas, no fundo, sabia que uma hora alguém iria me encontrar aqui… pelo menos foi você, e não eles

— Não foi fácil seguir os seus rastros. Depois que sumiu, sobraram poucos Blade Runners com memória boa… ou disposição pra lembrar…

— Eu ainda te devo aquela… nunca esqueci. Achei que nunca mais…

Deckard engasgou com as palavras, emocionado.

Ernie entornou todo o conteúdo do seu copo num gole e sacou rapidamente a arma, apontando-a para a testa de Deckard.

— Pois é. Chegou a hora de cobrar.


Na cozinha, Allan finalmente havia conseguido se desvencilhar dos nós que imobilizavam suas mãos e, em seguida, da mordaça sufocante. Pensou em fugir, mas a porta dos fundos estava bloqueada com a neve alta. Tentar sair pela frente, passando pelo salão, era suicídio: qualquer movimento seria percebido imediatamente.

Havia uma alternativa 

No fundo do congelador, Larry mantinha escondida uma pistola de prótons. Allan sabia disso. E sabia também que não estava pronto para atirar. Nunca tivera treinamento, nunca sequer segurara uma arma de verdade. Sua especialidade era fritar bolinhos de foca e grelhar postas de pinguim — e isso já era o bastante para ele. Decidiu arriscar.

Tremendo, mais de medo do que de frio, rastejou em silêncio até a beirada do balcão do bar. Dali, talvez conseguisse mirar no estranho antes que fosse notado.

Não houve tempo.

Ernie sacou sua segunda arma com a mão esquerda e disparou por baixo do outro braço. Mesmo sem olhar diretamente para o alvo, atingiu o cozinheiro em cheio na testa, com precisão profissional.

O cheiro forte de matéria plástica queimada infestou o ambiente.

Quando a fumaça baixou, Deckard se recompôs o suficiente para perguntar:

— Você sabia que ele era um replicante?

— Quando pedi que mostrasse o novo código, exibiu apenas o braço esquerdo, tentando esconder o QR Code que estava no pulso direito. Mas vi a identificação positiva enquanto nosso amigo aqui o amarrava na cozinha. Só acho que você, Larry,  poderia ter me avisado disso antes, ou quem sabe ter feito um trabalho mais decente ao imobilizá-lo, não é mesmo? Talvez ele também saísse daqui com vida… — disse Ernie, num tom que deixou o barman em pânico.

— Ele era um Nexus 7 identificado — argumentou Deckard. — Não precisava tê-lo aposentado assim…

— Os novos N-7 estão identificados e sob vigilância, sim, mas agora aprendem sozinhos — e ninguém pode garantir que ainda sigam as diretrizes de fábrica. Os antigos N-6 foram criados para funções específicas e uma vida curta. Mas descobrimos que, como eles, muitos dos novos também divergiram do padrão e continuam operando … só que aprendendo. Não morrem fácil. E estão fora do radar. Muita coisa mudou nesses seis anos em que você esteve fora, inclusive os protocolos — até o teste Voight-Kampff foi reformulado.

Com um leve gesto de queixo, indicou a enorme mochila perto da entrada e sinalizou a Larry que a trouxesse imediatamente até eles.

—  É por isso que eu estou aqui.


Iluminada por um único foco de luz pendente do teto, a complexa máquina montada sobre a mesa do bar respirava por conta própria.

O bar, mergulhado na penumbra e já com a placa de “FECHADO” balançando do lado de fora, havia se transformado num laboratório improvisado. Desta vez, era Rick Deckard quem se sentava diante do teste Voight-Kampff — não mais como examinador, mas como examinado.

Larry, imóvel na penumbra atrás dele, permanecia ao alcance da mira de Ernie, o Blade Runner. Este, atento, não desviava os olhos da tela onde acompanhava, em silêncio, cada microvariação da pupila de Deckard.

—  Posso continuar bebendo? —  o examinado indagou, mesmo sabendo a resposta.

—  Claro que sim. Não vai alterar o resultado do teste— respondeu Ernie, sem desviar os olhos do visor. Ajustou o foco da máquina e conferiu se o relatório estava sendo impresso, linearmente, no papel do formulário contínuo.

— Já apliquei esse teste centenas de vezes — continuou Deckard, agora mais sério. — Se eu fosse um replicante… acha mesmo que não saberia como trapacear?

— As perguntas mudaram, Rick. Estão mais diretas agora. Deixamos a ambiguidade de lado, depois de 2019. Você sabe por quê. Você estava lá.

Ambos se remexeram nas cadeiras, desconfortáveis com a situação e com as lembranças trazidas à tona.

Ao fundo, Larry observava em silêncio, consciente de que não havia como intervir.


— Vamos começar. Nome e profissão?

— Richard Henry Deckard. Já fui Blade Runner. Agora… quase aposentado.

Ambos sorriram. A ironia não afetou os sensores: a máquina seguiu sem registrar variação pupilar ou alteração olfativa.

— Já saiu do planeta?

— Nunca.

Verdade. Ernie sabia que Deckard preferia o pó da Terra aos riscos de qualquer colônia.

— Se uma mariposa estivesse aqui, agora, batendo nesse foco de luz… você desligaria a lâmpada para ajudá-la a sair para a escuridão?

Deckard franziu a testa, pensativo.

— Eu deixaria acesa. Ela continuaria aqui, mesmo com as luzes apagadas. Depois que algo a trouxe até nós, pouca coisa poderia espantá-la.

A máquina captou uma leve oscilação. Ernie anotou sem desviar os olhos.

— Você já matou um humano?

Deckard estremeceu.


Sete anos antes, Ernest Lamott e Richard Deckard eram amigos inseparáveis. Tanto que deveriam ter começado a trabalhar em dupla, caçando andróides. Antes, porém, estavam trancados numa sala de reuniões enfumaçada na delegacia central de Los Angeles, na última fase do treinamento para utilização da nova máquina inventada por Voight e aperfeiçoada por Kampff, destinada a interrogar e identificar de maneira inequívoca qualquer modelo de replicante.

— Só quando aprovados neste teste vocês poderão sair às ruas, sozinhos, para aposentar andróides. A tarefa é simples: entrevistar, sem supervisão, um sujeito que pode ser humano ou um Nexus-5 — explicou o instrutor. 

— Ainda não temos exemplares da versão 6, o alvo real dos Blade Runners, mas esses Nexus-5 são bastante parecidos com os mais novos, em comportamento. Também não sabem que são andróides e costumam reagir com revolta se forem identificados como não-humanos.

A ansiedade era clara na fisionomia de ambos.

—  A principal diferença é que os N-5 só recorrem à violência em casos de falha. Já os N-6 foram programados para agir com agressividade sempre que acuados — faz parte da função deles. E a função de vocês será eliminá-los. Podemos começar?


Entraram em salas contíguas, cada um com seu próprio equipamento. A entrevista de Ernie com o sujeito de meia idade transcorreu conforme o protocolo, e ele o identificou corretamente como humano. Já Deckard encontrou dificuldades, ao entrevistar uma mulher mais jovem:

— Seu nome?

— Lydia. Com “Y” logo no começo — respondeu, com um sorriso enigmático. Sabia que essa letra representa uma encruzilhada? 

A máquina não indicou nada. Deckard ajustou o tom de voz.

—  Respostas objetivas, por favor. Você gosta de sexo?

— Agora?

A resposta veio rápida, os olhos brilharam. Um leve desvio na pupila. A máquina registrou a ocorrência.

Deckard entrou em estado de alerta, mas prosseguiu:

— Você se considera humana ?

—  Me diga você, o que acha?

Ele hesitou. Aquilo não estava no protocolo. A máquina não o ajudaria. A resposta era perfeita demais — ou humana demais.

— Se eu te dissesse que você não é? — Deckard seguiu o questionário à risca.

Lydia soltou o vestido. Ficou nua, sem hesitar.

— Se eu não fosse humana, estaria assim, na sua frente?

A máquina indicou outra alteração de padrão. Seria um possível erro? 

Deckard interrompeu a sessão.

— Por hoje é só. Muito obrigado — disse, tentando se manter impassível diante dela.

Lydia o encarou, feroz, com os olhos arregalados, respiração acelerada.

— É isso, então? — disse, a voz transbordando indignação. — Você acha que eu sou só outra máquina?

Antes que ele pudesse responder, ela avançou. Rápida, descontrolada, com um brilho nos olhos que beirava o irracional. Deckard reagiu por instinto, procurando a arma, que não estava com ele. E agiu como pôde: empurrou Lydia com força no chão tentando imobilizá-la — para ouvir em seguida o som seco da fratura no pescoço dela.

Deckard ficou paralisado. A jovem, nua no piso frio, também não se mexia mais.

E a máquina… a máquina havia falhado. Assim como ele.

Lydia era humana. Perfeitamente humana. 

Uma mariposa morta, esmagada, no chão.

Sua garganta secou. Ele não podia ter falhado daquela maneira. Aquele emprego era tudo o que restava entre ele e o desterro espacial.

Caminhou cambaleante até a sala ao lado, onde estava Ernie, já sozinho, e pediu ajuda a ele. 

— Eu assumo — disse, antes que Deckard pudesse reagir. — Vamos trocar os formulários, agora!

Deckard o olhou, sem palavras. Não sabia se aquilo era compaixão, lealdade… ou apenas uma reação programada.

Depois disso, acabaram separados. Ernie foi ao espaço, Deckard enfrentou o inferno na terra, até escapar.


— Sim, eu a matei. Mas a culpa não foi minha.

— Você tem medo de morrer? — ignorou Ernie.

— Não tenho mais do que já tive antes.

Ernie sorriu quando a alteração na pupila de Deckard apareceu na tela. A precisão do novo protocolo Voight-Kampff era surpreendente.

— Acho que basta, Deckard. Temos as respostas que precisávamos.

Deckard levantou-se da cadeira:

— Como assim? O teste VK não termina assim, do nada!

— Pelo novo protocolo, acaba, sim. — respondeu Ernie, desligando o equipamento. — Quer saber o resultado? Ou você já sabe o que é?

Antes que Deckard pudesse responder, Larry — calado até então no fundo da sala — se jogou ao chão, num reflexo instintivo.

Um disparo explodiu e espalhou pelo piso imundo os fragmentos de osso e massa encefálica do que era, até então, a cabeça de Ernie. 

De costas para a porta, ele não teve chance de ver a entrada e aproximação furtiva de Lídia, a prostituta sem y. Voltara em silêncio, recuperando a pistola de prótons caída junto ao corpo do cozinheiro aposentado, e cumprindo a missão para a qual fora programada.

Ela era uma Nexus-7 defeituosa apenas por não ostentar o QR-Code no braço, como os outros. Parte da nova geração de andróides sem prazo de validade. Jovens, eternos, sempre aprendendo coisas novas.

Deckard, por sua vez, era de outra geração. E estava envelhecendo rápido demais para aprender isso: a não confiar nas pessoas.


Deckard finalmente deitou-se ao lado da esposa grávida, que dormia profundamente. Ficou imóvel, encarando o teto, onde uma enorme mariposa repousava havia dias. Tentou adivinhar o tema do seu sonho naquela noite — talvez rostos esquecidos, fragmentos de memórias, o trecho mal resolvido dessa autoficção, esboçada no computador quântico da sala, ou apenas o vazio.

É terrível viver com medo de que, um dia, tudo dê defeito, pensou. 

Máquinas, pessoas, sentimentos. 

Lá fora, mais uma de suas ovelhas elétricas entrava em curto-circuito e combustão espontânea, sem que soubesse se havia, de fato, algum motivo para tudo aquilo.

…………………………………………..

Post atualizado em 23/06/2025

Sobre Fabio Baptista

Avatar de Desconhecido

48 comentários em “O Novo Protocolo de Voight-Kampff (Daniel Reis)

  1. Marco Saraiva
    20 de junho de 2025
    Avatar de Marco Saraiva

    Sempre bom ver Blade Runner por aqui! E voce conhece mesmo o cenario, ficou evidente nas linhas do conto.

    Aqui nos reencontramos com Deckard, agora foragido apos os eventos do primeiro filme. Mas so depois de passarmos algum tempo com Ernie, que prepara uma armadilha para o ex-amigo de profissao, na suspeita de que Deckard seja, afinal, um replicante.

    Eh o tipo de conto que se passa em um ambiente quase claustrofobico, um momento que se estica pelo texto inteiro, usando o dialogo como o modulador da tensao no ambiente. As duvidas no leitor e nos personagens so crescem conforme a leitura prossegue, e aqui os momentos de impacto vem na base do tiro: primeiro, o susto com o cozinheiro morrendo. Esta morte mostra a competendia de Ernie, estabelece que nao esta aqui para brincar. Depois, quando Deckard e salvo pela prostituta que, coincidencia ou nao, se chamada Lidia, e que explode os miolos de Ernie. Aqui, a cena demonstra o poder de ser bem-quisto, da amizade, de como nao importa se voce ou as pessoas que voce convive sejam mal-aceitas pela sociedade, todos estao vivendo juntos e protegendo uns aos outros.

    Isto tudo com referencias claras a serie. Desde ovelhas eletricas ao proprio tom da narrativa, de alguma forma soando muito “anos 80”, incluindo a nudez gratuita que era obrigatoria em todo filme daquela epoca. Gostei tambem que a pergunta do conto nao foi respondida, mantendo o eterno misterio da serie: seria Deckard um replicante ou nao?

    O conto tambem tem sua carga poetica, com os paralelos com as mariposas e as duas mulheres: uma morta pelas maos de Deckard, a outra o salvando, compartilhando o mesmo nome.

    O ultimo paragrafo foi o que me confundiu um pouco. A esposa gravida imagino que seja Rachael, ja que no segundo filme descobrimos que ela engravidou. Mas o trecho a seguir me confundiu:

    “Tentou adivinhar o tema do sonho daquela noite — talvez rostos esquecidos, fragmentos de memórias, o trecho mal resolvido da autoficção que rabiscara mais cedo, ou apenas o vazio”.

    Autoficcao? O que lemos foi apenas imaginacao de Deckard? Ou ele estava escrevendo outra coisa? Me confundi legal.

    De resto, o conto tem referencias maravilhosas, eh muito bem escrito e captura bem a atmosfera de Blade Runner. Gostei inclusive da inclusao brasileira ali de uma boa pinga. Parabens!

    • danielreis1973
      5 de julho de 2025
      Avatar de danielreis1973

      Obrigado, Marco. Sua dúvida realmente me fez reescrever e alterar o início do último parágrafo para dirimir a dúvida – a história toda é como se fosse da lavra de Deckard. Grande abraço!

  2. Rodrigo Ortiz Vinholo
    14 de junho de 2025
    Avatar de Rodrigo Ortiz Vinholo

    Gostei! Achei ótimo como o conto brinca com os tropos de Blade Runner sem “estragar” a mitologia da série. Bom desenvolvimento de personagens e boa dinâmica. Sinto que o ritmo poderia ser melhorado em alguns pontos, mas foi uma experiência positiva.

    • danielreis1973
      5 de julho de 2025
      Avatar de danielreis1973

      Obrigado, Rodrigo, pela leitura e pelas sua percepções.

  3. Felipe Lomar
    14 de junho de 2025
    Avatar de Felipe Lomar

    muito bom. Blade Runner é um universo absurdamente fértil Para boas histórias. O texto traz ótimas referências de alguém que conhece e gosta da franquia. Talvez seja só um pouco longo e sem ação. Mas ainda é bom.

    • danielreis1973
      5 de julho de 2025
      Avatar de danielreis1973

      Realmente, Lomar, não consegui me afastar do limite de palavras, se tivesse mais tempo, talvez tivesse escrito menos. Abraço!

  4. André Lima
    14 de junho de 2025
    Avatar de André Lima

    É um conto de ótima técnica, com um ritmo excelente e um vocabulário descritivo muito interessante. Embora seja uma história mais “dura”, com pouca poesia, logo nos primeiros parágrafos consegue formar imagens bem interessantes.

    “Pousou com um solavanco, sem se importar com a integridade da aeronave, que deixou escondida atrás de arbustos na pequena floresta de coníferas”

    “Desligou os motores à força, arrancando o cabo da ignição e guardando-o no bolso externo da mochila militar.”

    “era preciso muita coragem para atravessar o pátio com quase quatro palmos de neve nos joelhos, até o bar Klondike.”

    Os diálogos são excelentes. A técnica do autor, já mencionada, dá um tom cinematográfico à obra sem perder a essência literária. Não é como se estivéssemos lendo um roteiro, mas sim um conto de fato com a capacidade tão boa de formar imagens que, ao mesmo tempo, nos dá a impressão de estarmos assistindo ao filme.

    Os detalhes do futuro distópico, dito nos aparelhos, costumes e novo estilo de vida, dão um brilho muito interessante na ambientação. Coisas sutis como “o estranho ordenou que Larry mantivesse o gerador a óleo de baleia ligado”.

    O conto evolui num ritmo excelente. Diferente da obra original, aqui senti uma pegada de western futurístico. Onde tudo consegue ser lento e rápido ao mesmo tempo.

    O final é arrebatador e ganha uma força poética que não havia até então.

    “Deckard finalmente deitou-se ao lado da esposa grávida, que dormia profundamente. Ficou imóvel, encarando o teto, onde uma enorme mariposa repousava havia dias. Tentou adivinhar o tema do sonho daquela noite — talvez rostos esquecidos, fragmentos de memórias, o trecho mal resolvido da autoficção que rabiscara mais cedo, ou apenas o vazio.

    É terrível viver com medo de que, um dia, tudo dê defeito, pensou.

    Máquinas, pessoas, sentimentos.”

    Isso aqui foi excelente, ótima técnica, ótima poesia, tudo amarrado e juntinho.

    Me fez lamentar por não ver mais disso durante o conto!

    Em resumo: a temática não é das minhas preferidas, mas o conto é tecnicamente impecável. O ritmo é excelente, os diálogos são cinematográficos tais como as descrições narrativas. O final é belo, com uma poesia contemporânea interessantíssima.

    Nota 10. Ou 5, no caso.

    • danielreis1973
      5 de julho de 2025
      Avatar de danielreis1973

      Obrigado, André, estou realmente me esforçando para não aborrecer muito o leitor com a escrita. Que bom que você gostou!

  5. Bia Machado
    14 de junho de 2025
    Avatar de Bia Machado

    Olá, autor ou autora, gosto muito do universo de Blade Runner. O conto tem uma estrutura adequada, é coerente na sequência dos acontecimentos, com exceção da pistola de prótons, que precisaria de um acelerador de partículas para funcionar (e aí o que seria ficção científica se torna ficção especulativa, por causa disso), mas não descontei pontos por isso e nem no quesito “Personagens”, porque achei que estavam adequados ao estilo de Dick. Tirei pontos do item “Fluidez” porque foi uma leitura meio arrastada pra mim e, por conseguinte, o item de “Emoção” não teve pontuação máxima, porque senti que faltou algo que me fizesse chegar ao final da leitura com aquela sensação de pena por ter terminado. Mas achei essa fanfic muito coerente com a obra original.

    • danielreis1973
      5 de julho de 2025
      Avatar de danielreis1973

      Obrigado, Bia, eu também sinto um pouco isso, com ficção científica – o ritmo é mais lento que o que eu estou acostumado a ler. Tentei escrever com um pouco mais de ação, mas o contexto escolhido realmente não ajudou muito a ser mais ágil. Grato pela avaliação!

  6. Alexandre Costa Moraes
    13 de junho de 2025
    Avatar de Alexandre Costa Moraes

    Entrecontista,

    Que conto sagaz. “O Novo Protocolo de Voight-Kampff” é uma fanfic que honra e expande o universo de Blade Runner com inteligência, ritmo e impacto. A ambientação é sombria e precisa, dá para sentir a neve caindo, o ruído das botas no chão do bar a densidade do silêncio entre as falas. O texto prende sem pressa e acerta o tom do início ao fim.

    O plot twist envolvendo Lydia/Lídia é muito bem construído. Há uma pista deixada ali, seca, como deve ser. E quando a virada acontece, tudo se encaixa. Poucos personagens, mas todos relevantes, com arcos completos e presença narrativa. A escrita é firme, com humor ácido na medida certa, vocabulário exato e excelente fluidez. Uma das melhores leituras da rodada, sem dúvidas.

    Parabéns pela técnica, criatividade e impacto. Excelente conto. Boa sorte no desafio.

    P.S: E a porção de tenia solium empanada? Rachei! kkkkkk

    • danielreis1973
      5 de julho de 2025
      Avatar de danielreis1973

      Muito grato, Alexandre, pelo comentário, e fico contente que tenha apreciado. Eu também me diverti um pouco ao escrever essas barbaridades culinária aí. Abs!

  7. Pedro Paulo
    12 de junho de 2025
    Avatar de Pedro Paulo

    Conto muito bem montado, com construção da ambientação em par com o original, estabelecimento do conflito, rememoração e resolução, tudo sem revelar a ambiguidade gostosa sobre a natureza de um dos seus personagens. Mais uma ótima história em Blade Runner!

    • danielreis1973
      5 de julho de 2025
      Avatar de danielreis1973

      Obrigado PP, realmente foi difícil manter a ambiguidade sem deixar muito inexplicada a história. Agradeço a avaliação.

  8. Fabiano Dexter
    11 de junho de 2025
    Avatar de Fabiano Dexter

    História
    Um antigo caçador de androides vai a um bar esquecido no mundo encontrar um antigo parceiro para descobrir se ele é ou não um replicante. O encontro ocorre em clima de tensão e é apresentado o passado dos personagens, ligado por um erro de julgamento de um deles.
    Tema
    Uma (excelente) Fanfic de Blade Runner e que se sustenta muito bem como um conto independente.
    Construção
    O texto é muito bem escrito e a ambientação é descrita dentro do texto de forma agradável e como parte da história, de modo que mesmo quem não conhece o filme consegue se inserir e entender o que está acontecendo sem muito esforço, incluindo os motivos pelos quais o protagonista pede para que as pessoas mostrem seus pulsos.
    Impacto
    A história é muito boa e com algumas reviravoltas interessantes, com um final surpreendente. Parabéns!

    • danielreis1973
      5 de julho de 2025
      Avatar de danielreis1973

      Dexter, realmente você captou uma coisa que eu queria: que a história não fosse só para fãs/conhecedores da história, mas que trouxesse algum entretenimento para quem não conhece a história original. Grande abraço!

  9. Givago Domingues Thimoti
    10 de junho de 2025
    Avatar de Givago Domingues Thimoti

    O Novo Protocolo de Voight-Kampff – NOTA:

    Da série “fazendo a boa”, vou tentar comentar o máximo de contos da Série A possível, apresentando minhas impressões pessoais sobre o seu conto. O Novo Protocolo de Voight-Kampff é uma fanfic baseada na obra de Blade Runner, apresentando o reencontro de dois amigos num bar afastado de um EUA distópico.

    De positivo, eu senti que esse conto não necessariamente necessita que o leitor conheça profundamente o universo de Blade Runner para ler e entender a história. Claro, se você é fã e lê o conto, deve gostar muito mais, deve enxergar nuances a mais e, de fato, se ambientar do universo do conto. Ainda assim, esse conto é um bom exemplo de como apresentar os elementos certos de um universo complexo. Além disso, é um texto muito correto do ponto de vista gramatical.

    De negativo, por outro lado, eu achei o final do conto um banho de água-fria. Contos encerrados por “era tudo um sonho” sempre me faz revirar os olhos. É uma negativa de tudo que foi lido. Eles podem até ter um motivo por trás, mas Céus, como eu detesto isso. Até entendo que pode fazer parte de algo na narrativa que eu deixei escapar e etc, mas ao mesmo tempo não consigo abandonar a sensação de uma saída batida, muito utilizada. Acho que somando isso a não conhecer propriamente a história de Blade Runner, eu diria que foi um impacto bem mediano. Não amei, tampouco desgostei (exceto pelo final “era tudo um sonho”); foi mais uma história sci-fi, que não é muito minha praia. 

    • danielreis1973
      5 de julho de 2025
      Avatar de danielreis1973

      Oi Givago, realmente, o final não era só um sonho… era a revelação de que a história toda era uma invenção literária do próprio Deckard! Por essa falha de comunicação da história, e como também foi apontada a mesma percepção por outros também, resolvi reescrever esse parágrafo no texto. Obrigado!

  10. Fabio Baptista
    9 de junho de 2025
    Avatar de Fabio Baptista

    Em um bar no meio do gelo, Earnie procura por Deckard. Os dois eram companheiros de profissão, caçadores de androides e se separaram após um incidente com a aplicação do novo protocolo. Earnie aplica o protocolo em Deckard e está prestes a aposentá-lo, mas a androide Lídia consegue salvar Deckard.

    Meu resumo ficou uma merda, mas o conto é sensacional, meu segundo preferido do desafio. Eu gostei de tudo aqui, a ambientação, a tensão entre os personagens, o respeito à obra original e os dilemas existenciais nas entrelinhas, sobretudo no maravilhoso último parágrafo.

    Única coisa que me incomodou na leitura foi essa redundância logo no começo:
    — Desculpe. Essa garrafa tem dono — desculpou-se Larry.

    Excelente trabalho, parabéns.

    • danielreis1973
      5 de julho de 2025
      Avatar de danielreis1973

      Fabio, você é terrível… de bom. Realmente, comi bola aí nessa frase que te incomodou, e humildemente pedi para corrigir minha redundância insistente kkkk. Muito obrigado!

  11. Mauro Dillmann
    6 de junho de 2025
    Avatar de Mauro Dillmann

    Um conto futurista, que imagina e cria universos distintos do real, alguns bem difíceis de conceber. De saída já vemos “postes de argônio”, “nômades assaltantes”, “energia nuclear”. Não é uma leitura que me agrada e digo por qual motivo: simplesmente porque encaro como um excesso de vontade de cumprir algo original e diferente. Mesmo assim tentei ler sem preconceito e sem julgamento prévio.

    Tem bons diálogos, dinamizando a leitura.

    Acontece que voltam termos específicos, referentes a seres e coisas, tornando a compreensão mais difícil, embora chegue o momento em que tudo fica explicadinho ao leitor.

    O conto parece não dar um final ao personagem Larry.

    Um texto bem escrito.

    Parabéns!

    • danielreis1973
      5 de julho de 2025
      Avatar de danielreis1973

      Eu também tenho um preconceito com a literatura de ficção científica justamente por isso: como se constrói todo um ambiente novo, desconhecido, às vezes é preciso explicar demais o que é cada coisa/tecnologia em cena. O cinema fica mais fácil, porque mostra e o telespectador cria sua interpretação. Já no texto, que dificuldade… quanto ao Larry, permaneceu lá, no meio da história que estava sendo escrita pelo Deckard e não foi terminada naquela noite. Isso realmente não ficou claro na versão original, mas espero ter minorado isso agora, com a alteração num dos últimos parágrafos. Grande abraço!

  12. Kelly Hatanaka
    2 de junho de 2025
    Avatar de Kelly Hatanaka

    Uma fanfic de verdade, escrita de fã para fã.

    O problema é se o leitor não for fã. Assisti Blade Runner nos anos 80 e lembro de ter gostado. Mas, talvez, eu fosse muito criança na época para poder entender toda a complexidade do filme.

    Achei este um bom conto. Porém, para quem não assistiu o filme ou leu o livro, ou para quem o tenha feito sem o mesmo amor, o conto termina sendo um tiquinho cansativo e longo.

    • danielreis1973
      5 de julho de 2025
      Avatar de danielreis1973

      Realmente, Kelly, eu mesmo tive que rever o filme para não escrever (muita) bobagem… mas me esforcei para tentar não deixar a história muito dependente do filme original ou mesmo do filme mais recente, que se passa depois da história que narrei. Agradeço, mesmo!

  13. claudiaangst
    28 de maio de 2025
    Avatar de claudiaangst

    Olá, autor(a), tudo bem?

    Temos aqui uma fanfic de Blade Runner. Eu era tão jovem quando assisti ao filme que não consigo me lembrar muito do enredo. Também tive o LP com a trilha sonora, que era linda.

    Fiz uma rápida pesquisa e descobri que Voight-Kampff é um teste científico e psicológico fictício citado no livro de FC Do Androids Dream of Electric Sheep?, de Philip K. Dick, adaptado no filme Blade Runner (1982). 

    Não encontrei falhas de revisão que saltassem aos olhos. Apenas a palavra “androide” acentuada (não recebe mais acento). Não prestou atenção na dica do corretor automático?

    O conto leva a reflexões sobre o que determina a humanidade de um ser. Existiria mesmo um protocolo capaz de diferenciar um androide de um humano? Não posso afirmar se, para alguém que não conheça o livro ou o filme, este texto faça algum sentido. Será que a narrativa causaria o mesmo impacto? Creio que a história construída aqui poderá ser compreendida, talvez não na sua totalidade, mas alcançará algum entendimento, mesmo sem a referência a Blade Runner.

    Parabéns por participar de mais um desafio e boa sorte na classificação.  

    • danielreis1973
      5 de julho de 2025
      Avatar de danielreis1973

      Claudinha, é o risco da fanfic… quem realmente não é fã, pode não entender nada. No caso, tentei não deixar a história muito dependente dos fatos antecedentes (do filme original) ou mesmo do posterior (não podia matar o Deckard, já que ele aparece em 2049, e essa história é em 2025… alternativo). Mas não achei modo de desvincular do “universo” dos autores originais e suas tecnologias absurdas. Quanto ao androide, é falha minha mesmo – poderia alegar, em minha defesa que é um Andróide (TM), marca comercial. Mas não seria verdade. Erramos mesmo. Abs!

  14. Rangel
    24 de maio de 2025
    Avatar de Rangel

    Blade Walker,

    Você foi extremamente ousado, replicando o universo de Blade Runner. A deslumbrante frase do Roy Batty logo no início já deixa o leitor familiarizado com a história e sedento pela leitura. Acho que seu conto é o que melhor explorou, ao menos na A, a experiência de uma fanfic. Você se aproveitou do embate sobre a natureza de Deckard e o trouxe para sua história, dando a sua resposta que, infelizmente, seria oposta a minha. Deckard precisa ser humano, gente! Enfim, só desabafo.

    Se posso deixar uma observação, o início está muito adequado para o estilo narrativo das obra das décadas de 1970 e 80. Mas como havia um limite de parágrafo, o trecho da entrevista com Deckard ficou corrido. Queria ter visto mais algumas respostas dele, queria ter mergulhado mais nas falas que levaram a conclusão de ele ser uma máquina.

    Apesar disso, sua história foi a que mais curti ler. Primeiro porque brinca com um clássico cult, apliando-o, sem o descaracterizar. Você é realmente fã. Merece 10.

    • danielreis1973
      5 de julho de 2025
      Avatar de danielreis1973

      Realmente, o limite foi uma tortura… normalmente, minhas histórias ficam bem abaixo, mas dessa vez, eram tantas coisas que eu queria contar que algumas partes tiveram que ser “condensadas” no tempo… mesmo assim, tem gente que achou arrastado… então deve ter partes assim, também. Obrigado pelos elogios e críticas, vamos juntos aprendendo aqui!

  15. cyro eduardo fernandes
    22 de maio de 2025
    Avatar de cyro eduardo fernandes

    Fanfic muito bem escrita. A ambientação e os personagens remetem com perfeição ao filme de ficção consagrado. Muito bom o conto.

    • danielreis1973
      5 de julho de 2025
      Avatar de danielreis1973

      Obrigado, Cyro, que bom que gostou. Abs!

  16. Jorge Santos
    20 de maio de 2025
    Avatar de Jorge Santos

    Olá, BW. Jogou bastante “sujo” com este seu texto. Este “sujo” é no bom sentido…
    Sempre fui ligado ao Blade Runner, tanto pelo autor do livro, Philip K. Dick, que é um dos meus autores favoritos, como pelo filme, outro dos meus favoritos. Escrevi mesmo um livro que pode ser considerado um fanfic, onde humanos sintéticos – andróides – interagem com humanos. Adiante. Conhecendo o livro original de Philip K. Dick, fico na dúvida sobre quantos comentadores apanharão a referência às ovelhas elétricas (referência direta ao título do livro que deu origem ao filme). Também não sei quantos comentadores perceberão a importância do teste feito a Deckard: existe uma teoria da conspiração que indica que ele pode ser um replicante sem limite de vida. Acho isso improvável porque ele envelhece e, para além disso, engravidou outra replicante (spoiler da sequela do primeiro filme). Quanto ao texto propriamente dito, está bem escrito, fiel ao ambiente da obra original, fluído e sem erros. Nota-se que o autor ou autora tem experiência quando descreve o local da ação por uma referência secundária a uma garrafa de álcool. O leitor não precisa de referências diretas, pequenas pistas bastam para que se situe – é pena que alguns autores pensem que nós temos o poder da clarividência ou telepatia. Não tendo, nem querendo ter, precisamos de pistas.

    • danielreis1973
      5 de julho de 2025
      Avatar de danielreis1973

      Olá, Jorge, muito obrigado pelo comentário! A questão da humanidade ou não do Deckard (e, por extensão, a finitude de todos nós) estava no centro da preocupação filosófica desse texto. Só procurei não responder diretamente essa questão, porque o debate continua firme entre os que interpretam que ele era um androide, e os que negam isso (e são fãs apaixonados). Mas, para mim, ele era um androide, sim. O origami de unicórnio na versão do diretor deixa isso bem claro – era o acesso aos sonhos dele, no filme original). Grande abraço!

  17. Antonio Stegues Batista
    17 de maio de 2025
    Avatar de Antonio Stegues Batista

    Resumo do conto: Caçadores de androides  se encontram em um bar para acerto de contas.

    Gostei do enredo, da narrativa e ações muito bem construídas. A ambientação no Canadá foi acertada. Tudo muito bem planejado e executado. O conto é uma fanfic do filme ( e livro) Blade Runner, Caçador de Androides. Bom conto, inclusive as ovelhas do final, fazendo referencias às do livro.. Parabéns e boa sorte.

    • danielreis1973
      5 de julho de 2025
      Avatar de danielreis1973

      Obrigado, Antonio, só faço anotação aqui de que o bar era no Alasca, e não no Canadá. Grande abraço!

  18. Thiago Amaral
    16 de maio de 2025
    Avatar de Thiago Amaral

    Um conto bacana.

    O fato de que se passa quase que exclusivamente num bar ajuda com o clima de tensão. Como em “Os Oito Odiados”, temos personagens enclausurados numa possibilidade de violência, o que nos deixa curiosos para saber o que vai acontecer. Mas foi só com a revelação do guardanapo que eu realmente comecei a ficar animado.

    No entanto, não ficou claro pra mim em que aquilo ajudou. Deckard foi pra lá mesmo assim… a libertação do menino cozinheiro deu uma atiçada a mais na trama, mas acabou não dando em muita coisa, infelizmente.

    De qualquer forma, de acordo com minha memória, o conto está de acordo com o clima e questionamentos das obras originais. O símbolo da mariposa como nós, criaturas perseguindo cegamente os desejos dentro de um mundo sem significado, ficou bastante significativo também.

    Apesar de a ação não ter me prendido, achei que o conto está bem escrito, o universo bem escrito, e rico de significado. No geral, gostei.

    Parabéns e boa sorte no desafio.

    • danielreis1973
      5 de julho de 2025
      Avatar de danielreis1973

      A referência aos Oito Odiados foi fantástica, realmente eu não tinha percebido isso… estava mais na mente com Os Assassinos, um conto de Hemingway, como símile. Mas agradeço os comentários e percepções. Grande abraço!

  19. paulo damin
    15 de maio de 2025
    Avatar de paulo damin

    No mesmo sentido do conto sobre o Mad Max, acho que esse aqui está bem de acordo com a proposta da fanfic. É uma história que aproveita a vantagem do esquema – não precisar introduzir a história dos personagens. É um texto com muitos acontecimentos, embora todos previsíveis. O que é uma pena, visto que o universo dos replicantes, acho, permitiria mais liberdade. Sei lá, eles não fazem nada além de tentar se matar? Ninguém escreveu um livro, construiu uma casa, tirou férias com a família de andróides na lua?

    Como no caso do Mad Max, minha sugestão seria transformar em roteiro cinematográfico. É que eu acho que, num conto, a graça está no modo de contar. A história com foco nos acontecimentos até os androides estão fazendo.

    • danielreis1973
      5 de julho de 2025
      Avatar de danielreis1973

      Acho que as camadas de possibilidades existem em todas as histórias – aqui, escolhi tratar o que acontece quando alguém se autoexila para saber quem é, e sem saber até que ponto é humano, finito e limitado, como todos nós. E, sobre escrever um livro, era exatamente o que Deckard estava fazendo (a história é como se fosse escrita por ele) – mas isso realmente não ficou muito claro, por isso pedi para alterar um ante-ante penúltimo parágrafo. Obrigado por essa percepção!

  20. Augusto Quenard
    9 de maio de 2025
    Avatar de Augusto Quenard

    Legal, gostei. Acho que a tensão no bar foi bem conduzida e se sustentou. O estilo do texto me pareceu adequado ao cenário, sóbrio, frio. Esse gênero não é a minha praia, mas me envolvi com a ficção e funcionou bem.

    Acho que, como ressalvas a pensar, mas sem muita importância, posso comentar a velocidade com que aconteceu a morte da menina entrevistada do passado e o aparecimento sorrateiro da Lídia matando o Ernie. No primeiro caso, parece uma morte funcional para o enredo, acho que poderia incluir uma cena de violência, para dar mais tensão, uma suspeita final, antes de ela morrer, de que ela é humana, e de que, no fundo, ele a mata porque é  ele que é android, ou ela percebe, num sufocamento, por exemplo, que ele é android, e ele a mata por isso… sei lá, tô viajando. E no segundo caso, é curioso que o ernie tenha sido tão suspicaz de dar um tiro na testa do rapaz e não ter ouvido a Lídia entrando. Aí também, de repente, valeria uma cena de tiroteio, uma confusão pequena até o Ernie morrer. 

    Mas bom, sutilezas. O conto é ótimo.

    • danielreis1973
      5 de julho de 2025
      Avatar de danielreis1973

      Obrigado, Augusto. Realmente, a cena pretérita (flashback) ficou meio corrida, pelo limite de palavras do desafio. Mas, quanto à percepção da aproximação da androide, não esqueça que ela era programada para matar (coisa que o pobre cozinheiro não era…). Abs!

  21. Luis Guilherme Banzi Florido
    9 de maio de 2025
    Avatar de Luis Guilherme Banzi Florido

    Boa tarde!

    Conto muito bom! Faz tempo que vi blade runner, lembro de gostar muito, mas preciso rever. Ainda bem que seu conto funciona mesmo sem lembrar detalhes do original. Lembro o que era necessario para imergir na cena. Afinal, o conto é basicamente uma cena, um momento naquele universo caotico do original. E uma otima cena, cheia de tensão, surpresa, duvida. Muito bem construida.

    Os personagens sao muito bons, como na obra original. Nao se sabe bem suas intenções, objetivos, pensamentos ocultos. E voce ainda deixa muito em aberto no final, muito aberto para a interpretação e a dedução do leitor. Acho que o cara era mesmo um replicante, mas será que ele proprio sabia disso?

    Alem disso, o conto ainda tem espaço para discussao filosofica. A cena no passado é muito boa, e nos faz questionar o que é real e o que nao é. Provavelmente o proprio pesonagem viveu aqueles 7 anos nessa angustia.

    O surgimento da prostituta para salva-lo é bom, pois voce plantou aquela pista anteriormente. O barman dá o recado, e ficamos com a sensação de que a mensagem nao chegou ao destinatario. De fato nao parece ter chegado, mas a prostituta agiu a partir do aviso. Entao é uma solução surpreendente, mas que nao se torna ex machina.

    O conto também é muitissimo bem escrito, impecavel até.

    Parabens e boa sorte!

    • danielreis1973
      5 de julho de 2025
      Avatar de danielreis1973

      Oi Luis Guilherme, muito obrigado. Realmente, a prostituta-androide se desencontrou de Deckard, mas retornou para salvá-lo. Mas isso não ficou muito claro, mesmo. Agradeço essa e todas as outras percepções. Grande abraço!

  22. Leandro Vasconcelos
    8 de maio de 2025
    Avatar de Leandro Vasconcelos

    Opa! Este é um conto quase poético. Não é apenas uma fanfic ordinária, é uma bela homenagem a algumas das maiores obras de ficção científica da história: o livro de Philipp K. Dick, “Androides sonham com ovelhas elétricas?”, e o filme dele derivado, “Blade Runner”. O início do texto já me cativou só pela citação da fala do replicante Roy Batty. A partir daí, coloquei um Vangelis, abri um vinho e fui adentro na leitura! Show!

    Cara, que puta escrito! Realmente me cativou. Apesar de ser um conto de três mil palavras, parece ter bem mais! Não quero dizer que a leitura é arrastada; não! Muito pelo contrário! Disse isso porque o enredo se desdobra várias vezes, como um tronco de árvore que vai adicionando camadas e mais camadas enquanto cresce! Realmente, o autor foi muito perspicaz na criação da narrativa, pois uma mera conversa de bar assume proporções épicas!

    Acompanhamos com grande interesse o desenrolar da trama. O até então desconhecido Ernie adentra o bar, cuja ambientação “cyberpunk” e “neonoir” é deveras bem construída. O cenário assume ares grotescos, o que é típico do gênero (me lembrou um pouco de Neuromancer também). Ri demais da tênia empanada! Hahaha…

    E aí, a tensão só aumenta. Vamos entendendo aos poucos os nuances, tudo de forma muito natural e bem calculada. Tudo no seu devido tempo! Então, como se fôssemos pedrinhas dentro de um chocalho, somos jogados de lá para cá com grandes reviravoltas! O fim é realmente impressionante, de tirar o fôlego! Ao mesmo tempo sombrio e reflexivo, entrega um impacto emocional condizente com o universo que homenageia.

    A linguagem é direta, sem rodeios, e a leitura flui bem. Casa muito com o gênero. Particularmente gostei das divisões entre cenas ou épocas. Os diálogos são ágeis, contribuem para a tensão dramática e ajudam a caracterizar as relações entre os personagens.

    Para mim, a narrativa é completa e, apesar de beber da fonte original, está bem explicada e urdida. Contudo, creio que leitores menos familiarizados com o gênero e com o universo de Blade Runner terão dificuldades na leitura.

    De todo modo, parabéns ao autor por uma fanfic madura, imersiva e bem construída, que não apenas revisita um clássico da ficção científica, mas também amplia seus temas e oferece ao leitor uma experiência densa e provocadora. Trata-se, sem dúvida, de um dos textos mais sofisticados do conjunto, destacando-se tanto pela fidelidade ao material original quanto pela execução narrativa refinada.

    • danielreis1973
      5 de julho de 2025
      Avatar de danielreis1973

      Muito obrigado mesmo, Leandro, nem sei o que dizer, só agradecer pela avaliação e leitura. Abraço!

  23. Raphael Polimanti
    7 de maio de 2025
    Avatar de Raphael Polimanti

    Adorei a escolha do universo de Blade Runner, especialmente o universo do livro. Você conseguiu evocar a atmosfera opressiva e cínica desse mundo decaído do apocalipse climático e existencial do Androides Sonham… É um feito bem notável.

    Outro detalhe que me agrada é como você não escreve como o K. Dick e nem se propõe totalmente a tal. O estilo do material original tem quase uma certa ignorância ao leitor e uma comédia tal qual ignorante (e isso funciona lá), mas aqui você traz uma paginação de suspense policial muito bem-vinda.

    Sua descrição do famoso teste de Voight-Kampff, com seus novos detalhes, trazem tensão e mistério para repensar o personagem do Deckard. E logo ao final você recobra um dos cenários que sinto ser mais célebre do livro: a casa dele. Ali, a esposa apática e a ovelha que mal funciona, aquilo que Deckard ao mesmo tempo depende e ama, mas também deseja se libertar. E ver essa cena junto do contexto do conto adiciona muito para um novo contexto dela.

    Posso estar sendo parcial por amar o material-base, mas você fez um ótimo trabalho trazendo seu ponto de vista, gostei.

    • danielreis1973
      5 de julho de 2025
      Avatar de danielreis1973

      Que bom que gostou, Raphael, realmente a pegada pulp foi uma escolha, para não tratar a história com muita deferência nem com desrespeito – acho que ficou no meio termo. Agradeço muito!

  24. toniluismc
    6 de maio de 2025
    Avatar de toniluismc

    AVALIAÇÃO CRÍTICA – CONTO “O Novo Protocolo de Voight-Kampff”
    ✒️ Por um leitor agora oficialmente diagnosticado com fadiga distópica crônica induzida por fanfics densas demais para o próprio bem.

    📉 PRIMEIRA IMPRESSÃO

    Este conto parece ter sido escrito com muito amor pelo universo de Blade Runner… mas pouca empatia pelo leitor que não conhece o filme, o livro ou o lore expandido. É, de fato, uma fanfic – com fidelidade estética, ritmo noir e toneladas de referências – mas falha como conto independente. A leitura exige bagagem e paciência, e a recompensa chega tarde demais. É como aplicar o teste Voight-Kampff no leitor e esperar que ele não desligue antes da terceira pergunta.

    ✍️ TÉCNICA — Nota: 4.2

    Pontos fortes:

    • Escrita correta, com domínio da construção de cena, ambientação e estrutura típica de ficção científica noir.
    • Os diálogos são razoavelmente naturais dentro do universo apresentado, e a tensão dramática é bem sustentada em momentos-chave.
    • A narrativa possui transições suaves entre presente e flashbacks, demonstrando boa técnica narrativa.

    Mas…

    • excesso de detalhamento técnico e ambiental que não serve ao propósito do enredo. Uma página descrevendo gelo, pinguins e destilados raros não é imersão – é procrastinação da ação.
    • O texto sofre com excesso de personagens secundários descartáveis e com descrições que sabotam o ritmo da história.
    • O final, embora tente surpreender, não tem o impacto emocional ou simbólico que mereceria, por ter desperdiçado energia demais na construção do cenário e pouco no desenvolvimento afetivo real dos personagens.

    🔎 Resumo técnico: Um conto bem escrito, mas inchado, que confunde riqueza de estilo com prolixidade. Tem competência, mas falta equilíbrio.

    🎨 CRIATIVIDADE — Nota: 2.8

    Crédito onde é devido:

    • A ideia de aplicar o teste de Voight-Kampff em Deckard, invertendo os papéis clássicos, é interessante e ousada.
    • A presença de uma replicante infiltrada (Lídia) que subverte o próprio protocolo é um bom aceno ao espírito do universo cyberpunk.

    Mas…

    • A criatividade é limitada ao universo pré-existente de Blade Runner, e não há praticamente nada de autoral no mundo criado aqui.
    • A história não se sustenta sozinha: é uma extensão do filme, exigindo do leitor conhecimento prévio para entender os personagens, o universo e os conflitos.
    • A resolução final (a replicante salvando Deckard) é previsível para quem já viu outras histórias no gênero, e sua execução carece de energia dramática.

    🔎 Resumo criativo: Uma fanfic que honra o universo que imita, mas não inova, nem convida ninguém de fora a entender ou se encantar com ele.

    💥 IMPACTO — Nota: 2.5

    O impacto existe? Sim, mas…

    • É um impacto condicionado. Só existe para quem conhece Blade Runner e sente nostalgia ao ver Deckard em ação.
    • Para qualquer outro leitor, o impacto é o de não entender absolutamente nada por quatro páginas até reconhecer uma mariposa como metáfora.
    • A reviravolta final (Lídia sendo a replicante que salva tudo) é interessante no papel, mas mal construída emocionalmente – a conexão entre ela e Deckard é superficial, e sua importância na trama não ganha força narrativa.

    Pior ainda:

    • O conto não decide o que quer ser – suspense noir? drama psicológico? ensaio sobre obsolescência? crítica a protocolos de identificação? O excesso de camadas dilui o efeito e esgota o leitor.

    🔎 Resumo do impacto: O conto tenta gerar impacto com revelações tardias e dilemas éticos, mas termina sendo mais intelectual do que visceral.

    🎯 CONSIDERAÇÕES FINAIS

    “O Novo Protocolo de Voight-Kampff” seria uma leitura interessante para um concurso de ficção científica, voltado a leitores familiarizados com Philip K. Dick, Ridley Scott e distopias analógicas. Para o público leigo, é um labirinto sem mapa. E o pior: não há qualquer referência introdutória ao universo Blade Runner, o que era permitido e necessário segundo as regras da rodada.

    Resumo cruel em uma frase:

    É como dar um Voight-Kampff no leitor e culpar ele por não saber as respostas da cultura nerd retrô.

    📌 Sugestão ao autor (caso queira aproveitar esse texto em outro momento):
    Reduza 50% da ambientação, ofereça 10% de contexto introdutório e aumente 40% de conexão emocional com os personagens. O universo pode ser fascinante — mas é preciso que o leitor queira habitar nele, e não apenas observá-lo de longe como uma vitrine em neon.

    • danielreis1973
      5 de julho de 2025
      Avatar de danielreis1973

      RÉPLICA AO TESTE CRÍTICO – “O Novo Protocolo de Voight-Kampff”

      ✒️ Por um autor ainda não diagnosticado com fadiga distópica, mas ciente de que replicantes e leitores, às vezes, têm algo em comum: ambos reagem mal quando pressionados demais.

      📡 Sobre ser fanfic
      É verdade: o conto é assumidamente uma homenagem apaixonada ao universo de Blade Runner. Mas mais do que fanfic, ele é uma experiência — como aplicar um Voight-Kampff sem anestesia. Sim, exige conhecimento prévio? Talvez. Mas não é essa justamente a natureza dos testes mais eficazes? Separar quem sente de quem apenas reconhece?

      🛠️ Sobre a técnica
      O detalhamento excessivo é uma escolha deliberada, não um tropeço. Gelo, pinguins e destilados raros não são procrastinação — são ambientação noir. Em um mundo saturado por narrativas apressadas, sugerir ao leitor que respire fundo antes do tiro final é, ironicamente, um gesto de gentileza. Quanto aos personagens “descartáveis”, eles são ecos: vozes de um mundo saturado de gente que já foi substituída por algo mais eficiente — inclusive no afeto.

      🎨 Sobre a criatividade
      Sim, o conto brinca dentro dos limites do universo original. Mas inverte papéis, redesenha protocolos e oferece um novo tipo de empatia cibernética. A crítica cita a previsibilidade da replicante salvadora — mas a previsibilidade é justamente o que Lídia subverte ao aplicar o protocolo em quem já se julgava humano demais para ser testado. O que parece familiar é, no fundo, dissonante. Só não salta aos olhos — como toda boa ameaça, está camuflada.

      Sobre o impacto
      O impacto é condicionado, sim — assim como quase todo impacto. Mas não se trata de nostalgia: trata-se de eco. O leitor que conhece o universo sente reverberar algo antigo sob uma nova lente. O leitor que não conhece talvez se perca… como qualquer um que entre em um beco molhado de neon sem saber para onde ir. É parte da imersão — o desconforto também é escolha estética. E emocionalidade não precisa gritar para ser percebida: às vezes, está no silêncio entre as perguntas.

      📍 Nota final (da casa):
      Se o conto exige demais do leitor, é porque supõe nele uma inteligência capaz de navegar a ambiguidade. E se falha em tornar o universo acessível a quem chega sem mapa, talvez seja porque, no fundo, esse universo nunca foi feito para ser confortável. E nem o teste de Voight-Kampff.

      🦋 Resumo provocador em uma frase:
      Este conto não testa a empatia de um leitor apenas — testa sua disposição em ser estrangeiro por algumas páginas antes de decidir se quer ou não permanecer nesse universo tão rico.

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Publicado às 3 de maio de 2025 por em Liga 2025 - 2A, Liga 2025 - Rodada 2 e marcado .