EntreContos

Detox Literário.

Luke e Talita (Bia Machado)

— Só mais uns ajustes e… O que está achando da ideia de poder sair comigo em forma de um gato?

Talita sabia a resposta, mas fez de conta que não.

Luke conseguia mostrar toda a sua indignação, ainda que em sua tela naquele momento houvesse o rosto de um guaxinim. As feições podiam variar, Talita fazia questão de escolher todo dia uma carinha diferente. A menina, porém, sabia que Luke estranhamente tinha uma aversão a gatos. Por mais que fosse uma inteligência artificial, quando se tratava de felinos parecia ser irracional, a ponto de dizer que “ainda bem que eles haviam sumido da face da Terra”.

 — A menina sabe o quanto isso para mim é ultrajante.

— Deixa disso, uma IA tão avançada como você, tendo medo de gatinhos? Era só o que me faltava… Quem sabe quando estiver na pele de um, verá o quanto isso é primitivo – Talita escovava o pelo sedoso do pequeno robô de quatro patas que estava quase finalizado. — E sabe que isso não é um gato de verdade, não é mesmo? Quem sabe um dia eu consiga reprogramar você, acabando com essa fobia.

— Sim, acredito que isso seja possível. O humano que me produziu certamente foi o culpado disso, ele mesmo não gostava de gatos, afinal era alérgico… Seu pai não levou em conta que seria bom que ele me reprogramasse, então… agora isso fica a seu cargo, menininha.

— Só mais uns ajustes aqui nesse comando de ronronar e pronto, poderemos sair.

— Eu poderia muito bem ir com o  mecanismo de sempre.

— Ah, poderia, mas… você não enjoa? Porque eu estou enjoada de ver você andando para lá e para cá como se tivesse saído de um livro do Asimov. Já que não tenho muito o que fazer, vou me especializar em protótipos de tudo que é jeito pra você me acompanhar.

Talita sorriu. Sentiu que seu pai estaria orgulhoso dela, se o robô gato ficasse em condições de uso. Era um dos que ele mesmo estava tentando terminar, antes de morrer. Poderia fazer um em formato de menina, para brincar com alguém do seu tamanho e idade. Um em formato de cachorro, claro! E até mesmo em formato de mãe…

— Luke, elabore uma imagem de minha mãe aos quarenta anos, se ela não tivesse morrido quando eu era pequena. Faça uma cópia em formato de foto em preto e branco.

— Claro! Gostaria de escolher o vestuário que ela estará usando na foto?

Talita se lembrou de uma foto do pai gerada por Luke em que o homem se vestia como o Capitão do filme A Noviça Rebelde. Para combinar, pediu que a mãe trajasse a roupa de Maria ao dançar no baile.

— Sua mãe ficará linda nessa fotografia.

— E poderia, por favor, elaborar uma fotografia em que os dois estivessem juntos, como no filme?

Talita sabia que sim, Luke poderia elaborar qualquer fotografia que quisesse. Não era à toa que possuía álbuns e mais álbuns de fotos dos pais, mesmo eles tendo vivido juntos por tão pouco tempo. As fotos impressas cobriam uma das paredes da casa, um grande galpão construído por seu pai, perto da colina mais distante que havia encontrado da grande metrópole totalmente destruída. A mãe se fora logo depois do nascimento da menina. Não havia como conseguir os remédios necessários na época.

O pai ensinou a Talita tudo o que podia. E a menina fez o possível para aprender o que precisava para depois conseguir sobreviver, com a ajuda de Luke. Não gostava muito de pensar em algumas circunstâncias, como ficar sozinha de uma vez por todas. Parecia algo muito difícil de acontecer às vezes, mas… E se?

— Luke, você poderia me prometer que vai ficar comigo enquanto eu estiver viva? E que assim que eu morrer, você vai se desligar? Porque não quero ficar sozinha aqui, mas também não quero que você fique só.

— Compreendo, menina. Vou acrescentar em meus registros, não precisa mais se preocupar com isso.

Quando ouviu um ronronar melódico, capaz de derreter até o mais cibernético dos corações, Talita largou a placa de comandos.

— Está funcionando, aaaaaaaiiii, olhaaaa, que coisa mais fofa, Luke!

O rosto do guaxinim na tela demonstrou toda a repulsa por aquele robozinho se movendo, lambendo as patas e fazendo aquele som que, para ele, era desesperador.

— Que coisa primitiva e desnecessária, essa mania de lamber as patas…

— Só as patas não. Eles lambem o corpo todo.

— Sim, menina, as patas são o lugar mais genérico, enfim… Me recuso a ronronar quando meu código fonte estiver instalado nisso.

— Não vai doer. E vai ter ronronado, sim, programei isso para que fosse involuntário. E agradeça a mim por poder falar, mesmo com seu código nesse robô gato.

Depois de Luke devidamente instalado no robô gato, Talita colocou dentro de uma mochila tudo o que achava importante levar para alguns dias fora. Colocou barraca e uma sacola com alimentos dentro de um carrinho de madeira a ser puxado por ela, onde o gato poderia ficar também.

Antes de irem, a menina foi ao túmulo do pai se despedir, pois não sabia quantos dias ficaria fora. Queria ir o mais longe possível, o quanto mais pudesse, ver se havia alguém ou alguma coisa ainda na metrópole que, dali da montanha, parecia estar deserta.

— Pelos apetrechos que colocou na mochila e tudo, menina, sei o que está pretendendo. Você prometeu ao seu pai que não iria até lá.

— Eu preciso ir, Luke. Preciso saber o que há lá embaixo… Acho que papai me entenderia.

O gato fez um barulhinho que Talita entendeu como de desaprovação, antes de voltar correndo para dentro do galpão. Não podia negar que, se estivesse com o protótipo de sempre, não conseguiria correr daquele jeito. A menina o seguiu, sem entender.

Havia um pequeno armário trancado que, para Talita, ainda não podia ser acessado por ela. Segundo Luke, somente quando a menina crescesse poderia abrir e ver o que havia lá dentro.

— Mas o papai disse que eu não posso…

— Pode, sim, menina. Aliás, você deve.

Talita abriu o armário e, lá dentro, uma caixa com fotos e papéis. Fotos antigas de seu pai ainda menino. Fotos de outras pessoas que deviam ser seus parentes, conhecidos… Atrás de cada foto, o nome das pessoas, datas… Os papéis eram documentos impressos, depois veria com mais calma. Depois de olhar o que havia em um caderno com as folhas muito amareladas. Era a primeira vez que via um daqueles.

Dentro do caderno, algumas anotações, em uma letra que ela ainda precisava decifrar. A caligrafia de seu pai. Em uma das fotos, reconheceu a si mesma, em sua idade atual. Como? Seu pai tinha morrido há muito tempo. E ela…

Há quanto tempo ela não crescia?

Em uma das fotos, Talita engatinhava, apenas uns poucos dentes na boca, um sorriso largo. Ao virar a fotografia, espantou-se com a data: dezembro de 2048. “Talita começou a engatinhar”.

Não era possível.

— Luke, verifique nos seus registros… Já paramos de contar, mas… Em que ano estamos?

— Estamos em 2094, menina…

— Então eu… Como é possível?

Resolveu olhar os papéis que deixou para depois. Um deles, sua certidão de nascimento. Pela primeira vez via o documento. Abril de 2048.

Talita olhou para Luke, que só conseguiu ronronar e se enroscar nas pernas da menina, buscando confortá-la.

— Você podia ter me contado antes, Luke.

— Poderia ter feito isso, mas registrei no meu código o pedido de seu pai para que só fizesse isso em uma situação bem extrema.

— E… o meu código fonte? Eu tenho um, não tenho?

— É o seu própro código de login.

Talita pegou Luke nos braços e o abraçou, emocionada.

Dias depois, Talita e Luke, ainda com o código fonte no robô gato, aproveitavam o primeiro dia de calor, depois de alguns dias chuvosos. Naquele dia, a menina resolveu levar o caderno escrito pelo pai para ler debaixo de uma árvore frondosa, próxima ao lago. Enquanto isso, Luke estava mais preocupado em capturar uma borboleta. Fazia muito tempo que uma daquelas, amarelinha, não aparecia por ali. Usar um protótipo de robô gato até que era divertido. E o melhor de tudo? Ronronar. Uma verdadeira terapia.

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34 comentários em “Luke e Talita (Bia Machado)

  1. Thiago
    14 de junho de 2025
    Avatar de Thiago

    Li esse conto várias vezes. Nas primeiras eu não gostei, mas depois fui gostando. Ele é curto, sucinto, tem delicadeza. No começo me incomodava essa coisa de IA, de “humanos me programaram”, e mais algumas fórmulas desse tipo de história. Mas, dentro do que foi proposto, realizou bem o texto e ele soou curto, não pelo tamanho, mas porque deu vontade de ler mais. Gostei muito, de verdade.

  2. Thales Soares
    14 de junho de 2025
    Avatar de Thales Soares

    Considerações Gerais:

    Este é um conto cheio de ternura, que mistura com leveza elementos de ficção científica e narrativa infantojuvenil. A história nos apresenta um futuro pós-apocalíptico sutil, mas calorosamente humanizado pela relação entre uma garota solitária e sua inteligência artificial de estimação. A ambientação melancólica é suavizada por toques de humor e carinho, como o fato de Luke ter aversão a gatos, mesmo sendo uma IA. O uso da figura felina como interface de afeto e contradição é uma sacada ddivertida que torna o conto memorável.

    Talita é uma protagonista carismática, resiliente, criativa e sonhadora. Mesmo em um mundo isolado e após a perda dos pais, ela demonstra afeto, curiosidade e determinação. Luke, por sua vez, é uma mistura de robô ranzinza e pai substituto, proporcionando momentos cômicos e, ao mesmo tempo, profundos.

    A reviravolta final sobre a verdadeira natureza de Talita foi sutilmente construída e entrega um belo soco emocional. E aqui está um grande mérito do texto: apesar do tema maduro (identidade, perda, solidão), tudo é apresentado com delicadeza e leveza, numa linguagem acessível, que respeita a sensibilidade de um público infantojuvenil sem subestimar sua inteligência. É o tipo de história que agrada tanto crianças quanto adultos, num raro equilíbrio.

    Pedradas:

    Apesar da narrativa ser muito bem conduzida, o conto é um tanto curto e termina deixando o leitor com vontade de explorar mais esse universo. O mundo apresentado (com IA, cidades destruídas, galpões convertidos em casas-laboratórios e diários de pai engenheiro) gera grande curiosidade, e seria incrível conhecermos mais dessa mitologia.

    O pseudônumo utilizado pelo autor aqui é brincadeira autorreferente (“Alguém que não sabe escrever chubesco”), mas também achei meio bréga.

    Conclusão:

    Este conto é doce, futurista, emocionante e divertido. Com personagens adoráveis e um universo promissor, a história entrega afeto, reflexão e um final tocante. O conto cumpre lindamente a proposta do desafio: é um conto infantojuvenil todo chubesco (apesar do pseudônimo piegas dizer o contrário), que poderia remeter a tantas influências (de Chobits a Big Hero 6, ou AI: Artificial Intelligence), mas constrói algo único. Um dos meus favoritos até agora.

  3. leandrobarreiros
    14 de junho de 2025
    Avatar de leandrobarreiros

    Há uma pequena referência às histórias de Asimov. Não sei se é uma indicação de fanfic, mas, de todo modo, a história funciona muito bem como um “chubesco”.

    A ideia de limitar os personagens a apenas dois funcionou bem para se manter dentro do limite de palavras do desafio. Em um espaço muito curto, o autor conseguiu não apenas dar bastante personalidade à dupla, mas também construiu um subtexto forte na narrativa, preparou uma reviravolta e a conduziu para que fosse fofa.

    A única coisa que achei um pouco abrupta foi a revelação de que a menina era um robô por não poder ir a determinado lugar, como se o autor estivesse com um pouco de pressa para a reviravolta.

    Mas essa é mais uma crítica do tipo “se eu tivesse que reclamar de algo…”, porque, sinceramente, o conto está bem resolvido, emotivo e interessante, do início ao fim.

    Por enquanto, é o meu favorito.

  4. Gustavo Araujo
    13 de junho de 2025
    Avatar de Gustavo Araujo

    Um conto curto, bem escrito e que vai direto ao ponto. Talvez possa ser entendido como um texto atual, eis que não se perde em delongas ou em descrições mais elaboradas. Perde pontos com quem prefere o êxtase das boas construções, mas ganha com quem tem prazos a cumprir. A relação entre Talita e o gato, que na verdade nem gato é, está bem construída, bem desenvolvida, culpa dos diálogos bem montados e bastante naturais. Saber que Talita também era, ela mesma, uma IA, foi uma surpresa bem interessante.

    Embora eu tenha gostado do conto não posso avaliar com nota alta, já que para mim a adequação aos temas do desafio importa bastante. Não enxerguei fanfic, tampouco chubesco. A presença do gato, ou daquilo que seria um gato, não me parece suficiente para fazer do conto algo fofo, assim como a temática sci fi não o aproxima do universo infanto-juvenil, pelo menos não na minha percepção.

    Enfim, um bom conto, mas que peca na adequação à proposta do certame.

    P.S. Adorei a imagem.

    • Bia Machado
      20 de junho de 2025
      Avatar de Bia Machado

      Olá, Gustavo, valeu pelo comentário. Bem, não fui nem de fanfic e nem de chubesco, realmente. Antes de enviar, pesquisei sobre infantojuvenis de ficção especulativa e encontrei alguns. Então estou tranquila quanto a ele se encaixar no desafio. 😉

  5. Andre Brizola
    13 de junho de 2025
    Avatar de Andre Brizola

    Olá, Alguém!

    Para alguém que não sabe escrever chubesco, seu conto até que ficou bastante agradável. Acho que a temática pode ser um tanto quanto complicada para o público infantil, mas ele me parece bem adequado para o infanto-juvenil atual, que abraça as IAs com unhas e dentes. Para este desafio, optei por estrutura meus comentários de forma mais definida, para ser mais prático, ágil e justo com os participantes, ok?

    Técnica – O que mais gosto neste conto, tecnicamente, é a sua estrutura. Essa alternância entre diálogos e narrações em terceira pessoa funcionou muito bem, mesmo indo em uma direção bastante tradicional. A escolha de termos simples, aliada à estrutura que mencionei, deu um ritmo bastante ágil para o texto, e a leitura flui de forma muito agradável. De forma geral, o conto é bem escrito e bem revisado, mas eu teria tido um pouco mais de cuidado com algumas construções aqui e ali, que são corretas, mas geram um pouquinho de dissonância. São coisas pequenas, mas que podem definir a parada entre um conto e outro quando a coisa é um desafio do EC. Tomo “tendo medo de gatinhos” como exemplo. “Tendo” está errado? Não está, mas o “com” funciona melhor, pois gera uma construção muito mais fluida e sonora, ao contrário da forma anasalada que a anterior monta. Outro exemplo é em “o que está achando da ideia de poder sair comigo em forma de um gato”. Há um excesso de informação que não gera nenhum benefício ao leitor, somente um pouco de poluição textual, como “poder sair”, que poderia ser simplesmente “sair”, e “em forma de um gato”, que poderia vir como “como um gato”. A segunda até poderia gerar alguma confusão, pois “como um gato” pode gerar o sentido de metáfora, mas acho que não precisamos deixar tudo tão mastigado para o leitor, e a explicação viria nas linhas seguintes. Não vou me alongar mais porque acho que me fiz entender, mas ressalto aqui que o que apontei não são erros, apenas sugestões do que eu faria, ok?

    Enredo – Achei que, embora simples, o enredo é o grande charme desse conto. Há um segredo, que vamos descobrindo conforme o diálogo vai ocorrendo, e o ápice vem na revelação final, bem ao estilo Jurassic World, mas sem tantos dinossauros. É interessante e foge do padrão. Casou bem com a forma como o autor escolheu contar sua história.

    Tema – Neste aspecto, desta vez, decidi ser bastante rígido no que diz respeito ao respeito ao que foi proposto. Entendo que os temas são um tanto quanto diferentes do usual, mas essa foi a proposta do EntreContos e acho que nós, autores, deveríamos honrá-la com textos que a atendessem da melhor forma possível. Acho que alguns leitores podem encontrar alguma dificuldade em qualificar seu conto como chubesco. Mas, para mim, ele se adequa à classificação infanto-juvenil, então o item é atendido. Aliás, o tema chubesco tem se destacado pra mim, pois é o que me ofereceu, até o momento, os melhores contos.

    Impacto – Escrevo esse item do meu comentário alguns dias após ter lido o conto, para medir a forma como reagi ao texto e como ele me afetou. Acho que se a experiência foi boa, se o enredo me provocou, me fez pensar sobre o assunto, ou se há algo extremamente particular, mesmo que ruim, o conto reaparece em minha cabeça e penso sobre ele depois. Seu conto encontrou algum espaço em minha mente, sim, mas não foi tanto como imaginei quando o li. Ele foi desaparecendo aos poucos, sendo sublimado pelos afazeres rotineiros. Não o comparo a outros, que conquistaram um pouco mais de reflexão de minha parte, mas acho que, sim, posso dizer que Luke e Talita me impactou positivamente, mesmo que pouco.

    No geral, seu conto tenta propor mais do que executa, acredito. Ele propõe uma ficção científica reflexiva, de diálogo, para desaguar numa revelação que é, de fato, interessante, mas que mata um pouco da proposta inicial do conto, de estarmos diante de um possível embate entre humano e máquina. É um pouco frustrante. Troca-se o questionamento pelo plot twist, e achei que isso tira a profundidade do texto. Mas, como é dirigido para um público que, na teoria, buscaria um pouco mais de entretenimento, e menos reflexão, talvez esteja até adequado. Mas para a minha percepção, há uma decaída de qualidade com a revelação final.

    Bom, é isso. Boa sorte no desafio!

  6. Pedro Paulo
    11 de junho de 2025
    Avatar de Pedro Paulo

    Olá! Tentando simplificar, estarei separando meus comentários em “forma” e “conteúdo”, podendo adicionar um terceiro tópico para eventuais observações que eu não enquadre em um ou outro.

    FORMA: Escrita sóbria, preferindo descrições simples e o diálogo para contar a história e caracterizar seus personagens. É meritório não ter recaído em exposições e contextualizações exacerbadas, deixando a ambientação de ficção científica se transmitir naturalmente. Funciona e cativa. 

    CONTEÚDO: Ótima reviravolta! Mais próximo ao final me preparei para avaliar o texto como um conto com personagens encantadores, mas sem uma trama bem definida. Apesar de ter sido surpreendido, ainda senti falta de um entendimento mais concreto quanto ao que motivou Luke a revelar a verdadeira natureza de Talita, dado que a orientação foi de contar a ela assim que a menina estivesse grande o bastante. Talvez, um maior investimento em desenvolver esse “marco de amadurecimento” tivesse tornado a revelação ainda mais catártica, dando mais força ao final do conto. Como “chubesco”, a imagem de uma jovem e seu gato ciborgue é acalentadora, ainda mais na amizade íntima dos dois, com suas brincadeirinhas e os devaneios melancólicos da menina. A vontade é de ler mais sobre os dois.

  7. Leo Jardim
    9 de junho de 2025
    Avatar de Leo Jardim

    📜 TRAMA (⭐⭐⭐▫▫)

    Pontos Fortes:

    • Revelação Sutil – A descoberta de Talita ser um robô é entregue com delicadeza (fotos antigas, caderno amarelado).
    • Dinâmica Encantadora – A relação entre a menina e Luke mistura afeto e humor, especialmente com a “fobia” felina da IA.
    • Mundo Pós-Apocalíptico Implícito – Detalhes como a metrópole destruída e a solidão dos personagens sugerem uma lore rica sem exposição forçada.

    Pontos de Melhoria:

    • Final Aberto Demais – A questão central (“o que há na metrópole?”) fica sem resposta, me deixando frustrado.
    • Ritmo Desigual – A revelação final é abrupta; poderia ser preparada com pistas mais visíveis (ex.: Talita não se lembrar de infância).
    • Motivação Subutilizada – A jornada até a cidade é abandonada; seria melhor integrá-la à descoberta.

    📝 TÉCNICA (⭐⭐⭐▫▫)

    Excelência Narrativa:

    • Vozes Distintas – Luke tem um tom formal e irônico (“Que coisa primitiva”), enquanto Talita fala com curiosidade infantil.
    • Detalhes Sensoriais – O ronronar “melódico” e o caderno “amarelado” criam texturas vívidas.

    Sugestões:

    • Reduzir Reticências – Substituir por vírgulas ou pontos finais em frases como “Não era possível… Luke, verifique…”.
    • Clareza na Revelação – A frase “É o seu própro código de login” soa estranha.
    • Mostrar a IA – Em vez de “Luke conseguia mostrar toda a sua indignação”, descrever como a tela piscava em vermelho ou emitia sons de protesto.

    🎯 TEMA (⭐⭐)

    • Fanfic? – Não parece ligado a nenhuma obra específica, mas ecoa temas de A.I. Inteligência Artificial (Spielberg) ou Klara e o Sol (Ishiguro).
    • Chubesco – é um conto com temática infantil.
    • Tópicos Tratados:
      • O que nos torna humanos? (memórias, envelhecimento, afeto).
      • Lealdade além da programação (o voto de Luke de se desligar após Talita).

    💡 CRIATIVIDADE (⭐⭐▫)

    Destaques:

    • IA com Fobias – Luke odeia gatos por herança do criador, humanizando-o de forma inesperada.
    • Fotos como Pistas – O álbum de família é um dispositivo interessante para revelar a verdade.
    • Gato-Robô Terapêutico – O ronronar involuntário adiciona camadas de humor e ternura.
    • Falta Profundidade – A discussão sobre identidade robótica fica superficial; faltou explorar o trauma de Talita ao descobrir-se artificial.

    🎭 IMPACTO (⭐⭐⭐▫▫)

    Por Que Não Arrebatou?

    • Emoção Contida – A reação de Talita à revelação é muito contida; faltou um momento de crise existencial.
    • Vilão Ausente – Não há antagonista (a menos que seja a própria verdade), o que reduz a tensão.

    O Que Funcionou:

    • Cena Final Poética – Luke caçando borboletas e ronronando sob a árvore é uma imagem forte de aceitação.
    • Ironia Sutil – O robô que odiava gatos acaba encontrando paz em um corpo felino.
    • Bia Machado
      20 de junho de 2025
      Avatar de Bia Machado

      Oi, Leo, tudo bem? Valeu pela análise, concordo com quase tudo, porém:

      Emoção Contida – A reação de Talita à revelação é muito contida; faltou um momento de crise existencial.

      Falta Profundidade – A discussão sobre identidade robótica fica superficial; faltou explorar o trauma de Talita ao descobrir-se artificial.

      Bem, sobre esses dois itens pensei muito no pouco tempo que tinha antes de enviar o texto a respeito de como uma não humana reagiria…: por que ela não é humana, né? Digamos, é uma réplica. Quase humana, já que é alguém que foi programado para ser Talita, mas não é a Talita “original”, aquela morreu… Se fosse a original, humana, creio que reagiria de outra forma… Foi o que consegui pensar no pouco tempo sobre esses “E se…?” do texto.

      Vilão Ausente – Não há antagonista (a menos que seja a própria verdade), o que reduz a tensão.: mas ora, ora, é regra ter vilão? Um antagonista?

      Enfim, é isso. 😉

      • Leo Jardim
        20 de junho de 2025
        Avatar de Leo Jardim

        Oi, Bia. Dessa vez tentei estruturar melhor os pontos positivos e também os pontos que achei que afetou a nota na minha avaliação enquanto lia, como uma forma de justificar a avaliação. Mas o texto é seu, são só coisas que eu, como leitor, senti falta. Ignore essas sugestões se assim desejar. Não vou ficar chateado :

  8. cyro eduardo fernandes
    7 de junho de 2025
    Avatar de cyro eduardo fernandes

    Excelente conto! Criativo e com ótima técnica. O tema atualíssimo misturou com maestria a crueza que a IA tem, com a ternura de uma menina com o seu animalzinho de criação.

  9. danielreis1973
    5 de junho de 2025
    Avatar de danielreis1973

    Luke e Talita (Alguém que não sabe escrever chubesco)

    Segue a minha análise, conforme método próprio e definido para este desafio:

    CONCEITO: uma história que pende para o chubesco, já que trata de um “gato”; mas na qual a composição máxima disso é uns 5%. O resto, 95%, é uma ficção científica clássica, com robô-gato e humano artificial, e uma história muito triste, contada aos poucos.

    DESENVOLVIMENTO: justamente esse “contar aos poucos” foi a tônica do conto – tudo o que sabemos é o que o diálogo entre menina e robô IA nos permite ir conhecendo de sua vida. Apesar de entrecortado, essas linhas de diálogo são também a linha de código que o leitor tem que desvendar para ter acesso à fonte da história.

    RESULTADO: o efeito do conto foi bom, ainda que a ação tenha sido muito parada, sem grandes sobressaltos ou aventuras – só as desventuras de uma menina e seu gato, ambos futuristas e futurísticos…

  10. Mariana Carolo
    4 de junho de 2025
    Avatar de Mariana Carolo

    História: Um cenário futurista e pós-apocalíptico, no qual uma menina quer transformar a sua IA em um gato. Ela se sente sozinha e quer companhia. No entanto, a Inteligência revela para ela que as coisas não são bem como ela pensa (uma ideia que não é tão surpreeendente assim, se você consome bastante ficção). Não sei se é uma fanfic, é bonitinho, mas não no estilo dos outros contos. No entanto, é um bom recorte de história 1,5/2

    Escrita: Quem não sabe escrever chubesco pode se considerar apto na escrita. Fluída, segura, com começo e final. No entanto, é um texto curto e poderia ter sido expandido. Caberia até a expansão de um universo, sempre fico cuirosa em saber como ocorreu os apocalipses 1,5/2

    Impacto: É um bom conto, isso é inegável. No entanto, como já disse antes, a ideia não é tão inovadora assim… 0,8/1

    • Bia Machado
      20 de junho de 2025
      Avatar de Bia Machado

      Oi, Mariana, tudo bem? Sobre a ideia não ser tão inovadora, bem, o que eu queria era participar. Escrevi o texto em cerca de duas horas, correndo, fiz uma revisão meia boca em menos de meia hora e enviei. Não deu tempo de pensar em inovação… E há muitos contos que se parecem com outros, tem fórmula de viagem no tempo, fórmula de soap opera, de pós-apocalíptico, enfim. Um plot pode ser usado dezenas de vezes, não importa… O que conta é a habilidade do escritor. Mas na correria é meio complicado mesmo conseguir pensar em inovar algo.

      E quanto ao tema, escrevi como um infantojuvenil, que tem classificações etárias definidas. Para mim esse meu conto poderia ser lido tranquilamente por jovens de 15, 16, 17 anos…

  11. Amanda Gomez
    30 de maio de 2025
    Avatar de Amanda Gomez

    Oi, bem?

    Gostei do seu conto. Você conseguiu tecer, aos poucos e na medida certa, a história. O leitor vai descobrindo junto com Talita o que se passa. Já falei que é sempre uma boa estratégia colocar um gato no texto, mesmo que seja um robô, sempre vai cativar.

    Li o conto bem rápido, leitura leve, com o tom certo de melancolia. Afinal, por detrás da doçura da amizade entre esses dois seres, há muita tristeza como plano de fundo. Saber dosar isso em uma literatura infantil é importante. Dá aquele ar de sabedoria, de alguma coisa para aprender, uma moral da história.

    Tem um ótimo plot no final e deixa tudo em aberto, prometendo várias possibilidades. A cena final ficou bem aconchegante.

    Parabéns pelo texto.

    Boa sorte no desafio.

  12. Marco Saraiva
    24 de maio de 2025
    Avatar de Marco Saraiva

    Um conto tocante. Curto, porém eficiente no que pretendia mostrar. E executado muitíssimo bem.

    Na historia, vemos duas versões de Talita: a primeira é a Talita menina, humana e inocente. Aqui acompanhamos uma interessante jornada mental (já que toda a história se passa dentro da casa) da menina quanto à vida que tem pela frente. Os pais se foram. A humanidade se foi. E ela sobreviveu a tudo isto, deixando o leitor um pouco angustiado quanto ao que se passa na mente desta menina, como ela consegue lidar com todas aquelas perdas.

    Durante este mesmo ato, temos também uma discussão interessante sobre o papel da IA na relação humana. Gostei de como o texto coloca estas questões em pauta apesar de não fazer isto diretamente, o que foi perfeito. As muitas fotos dos pais na parede – todas criadas por IA. De que adiantam as fotos, se não para guardar lembranças? Que valor tem uma foto na parede, se não há lembrança atrelada a ela, apenas a imaginação de um código que gerou um futuro que a menina queria ver? E o conto vai além e bota estas fotos na parede em contrate com as fotos que ela encontra mais tarde: fotos reais, com nomes e datas.

    Por fim, ainda há a questão da menina em relação a IA que ela conversa. Apesar de a IA demonstrar personalidade e ate preferências quanto a certos animais, a menina ainda a trata como apenas um algoritmo, uma ferramenta. Ela não respeita, por exemplo, as preferências da IA quanto ao animal que gostaria de usar como avatar. E quando ela pensa em morrer, a questão da finitude vem a ela como a grande metáfora na mente de todos os seres humanos: quando eu morrer, quero que você morra junto comigo. Se o mundo irá acabar para mim, que acabe para o resto das pessoas que conheço, também. No texto ela usa como desculpa o medo que tem de deixar a IA solitária no mundo, mas isto entra em conflito direto com a falta de consideração que ela tem pela mesma IA quando ignora o seu asco a carcaça felina.

    Na segunda parte do conto – o final, após a grande revelação, temos a segunda versão desta mesma menina: a versão robótica. Ela mesma também é uma IA. Isto traz outro ângulo ao conto: por exemplo, a questão da percepção que um tem de si mesmo. Enquanto se percebia humana, ela se considerava humana. Sentia-se humana. Mas quando viu-se IA, abraçou o novo papel.

    Enfim, um conto curto mas com grande impacto e profundidade. Parabéns!

    NOTAS:

    • O texto claramente não é uma fanfic, então se agarra ao tema do “chubesco” para fazer parte deste desafio. Este conto anda MUITO na corda bamba da adequação ao tema. Mas acabei conseguindo convencer a mim mesmo que sim, e um conto chubesco. Especialmente por que o “chubesco” é um termo um tanto aberto, podendo ser interpretado de diversas formas. Então, apesar da linguagem e da forma usadas fugirem um pouco do que e esperado para este estilo, o sentimento geral acaba se adequando ao tema.
    • Só achei estranho a menina estar viva há 50 anos e não ter notado a passagem do tempo até que a IA contasse para ela a sua real natureza. Achei um pouco forçado. É como se a menina só descobrisse este detalhe crucial naquele momento da narrativa apenas por que foi assim que o autor quis que fosse. Vi a famosa “mão do autor” ali, e isso acaba me tirando um pouco da ambientação.
    • Bia Machado
      20 de junho de 2025
      Avatar de Bia Machado

      Oi, tudo bem? Valeu pelo comentário, observações anotadas. Porém, ele não é “chubesco”, se adequa ao infantojuvenil, que tem várias faixas etárias de classificação. Meu texto poderia ser lido tranquilamente por jovens de 14 anos acima, no mínimo… 😉

      • Marco Saraiva
        20 de junho de 2025
        Avatar de Marco Saraiva

        Oi Bianca! Voce entende disso muito mais do que eu, entao so abaixo a cabeca e aceito, hahaha. Realmente, estes estilos para o publico mais jovem fogem completamente do que eu conheco. Por isso, apesar de estar em duvida, considerei o seu conto como estando dentro do tema. So tirei ponto de tema mesmo daqueles contos que nao vi NADA que parecesse infantil ou infanto-juvenil.

        Abraco!

    • Bia Machado
      20 de junho de 2025
      Avatar de Bia Machado

      Tranquilo, Marco! Ah, acabei me esquecendo de comentar sobre a parte da “mão do autor”, que achei muito curioso, acho que nunca tinha ouvido essa expressão… Pela sua explicação, de “apenas por que foi que assim que o autor quis que fosse”, fiquei zonza. Mas nós que escrevemos, não escrevemos como queremos que fosse? hahhahaha. Essa parte da menina não perceber a passagem do tempo após tantos anos, talvez seja porque na realidade dela não havia a necessidade da contagem do tempo, talvez ela tivesse sido programada para tal. Mas sim, verdade, poderia ter esclarecido isso na história. Só que eu não tinha tempo, me restavam menos de duas horas para enviar o conto, escrevi muito em cima da hora, só para participar mesmo… E apesar de tudo, acabei fazendo a coisa certa, porque com os comentários tenho um norte para trabalhar mais nele e enviar para uma antologia… Depois, se puder, me explique mais sobre esse conceito de “mão do autor”, ou alguém que aborde esse tema… 😉

      • Marco Saraiva
        27 de junho de 2025
        Avatar de Marco Saraiva

        Oi Bia! Desculpa a demora, eu nao tinha visto essa sua resposta ao meu comentario. Estou escrevendo em um teclado ingles entao perdoe a falta de acentos =)

        Quando eu falo “mao do autor”, o que eu quero dizer eh que eu sinto que a leitura nao fluiu naturalmente. Geralmente eu falo disso no campo do enredo: o personagem fez algo que ele nunca faria, mas que foi necessario para mover a trama para frente. Um personagem foi salvo pela “mao de deus” por uma grande coincidencia que o manteve vivo (em um livro, a mao de deus eh a mao do autor!).

        No caso do seu texto, o que eu quis dizer foi “nao faz sentido, ao meu ver, ela nao ter notado a passagem de 50 anos, especialmente por que Talita eh bastante inteligente, entao soa pouco natural esta falha de percepcao dela, como se o autor precisasse que ela nao notasse isso para que a trama existisse (logo, o autor interviu).

        Eu falo assim por que para mim parte da atracao de um texto eh a imersao, e quanto mais imerso o leitor esta no texto, menos ele nota que esta lendo uma ficao, algo escrito por alguem. Quando eu noto que o texto foi escrito por alguem, a imersao se quebra. Eh como se eu notasse a maozinha do autor ali escrevendo aquela parte, nao soou natural.

        Espero que eu tenha conseguido explicar melhor! 😁

  13. Kelly Hatanaka
    22 de maio de 2025
    Avatar de Kelly Hatanaka

    Daí vem a pessoa, assina como “Alguém que não sabe escrever chubesco” e manda uma fofura dessa. Ironia, que chama. E olha que eu nem pertenço ao núcleo gateiro do EC.

    Um conto todo bonitinho, bem escrito, com personagens carismáticos e que ainda tem a virtude de não se alongar desnecessariamente para ficar próximo do limite de palavras. O autor, sabiamente, fez a história, percebeu quando ela estava completa e concluiu. “Ah, mas sobraram palavras…”. Melhor sobrar palavras no limite do que no texto. Parabéns pelo bom senso.

    Talita coloca o código fonte de Luke em um gato e descobre que ela mesma é uma IA. No fim, Talita está descobrindo mais sobre si mesma enquanto Luke desfruta de sua forma de gato, de que antes ele não gostava. O surgimento da borboleta amarela parece simbolizar uma recuperação do mundo, uma regeneração após algum evento apocalíptico.

    O conto é belo pelas cenas que mostra, pela amizade entre Luke e Talia, mas também pelas suas entrelinhas. O mundo sofreu uma hecatombe. Talvez, em função dela, Talita tenha perdido a mãe e, depois, seu pai perdeu a filha, a verdadeira Talita, e criou um robô que se parecesse com a menina para abrigar uma IA.  Talvez para aliviar a solidão e a tristeza? Talvez para lidar com o luto?

    O final é idílico, doce, mas sugere uma ameaça. O pai não queria que Talita descesse a montanha e fosse à cidade. Existe lá algum perigo que é apenas sugerido.

    Gostei muito deste conto, como disse acima, pelo que mostra e pelo que não mostra. Um conto rico e belo.

    Parabéns e boa sorte no certame!

    Kelly

    • Bia Machado
      20 de junho de 2025
      Avatar de Bia Machado

      Oi, Kelly! Obrigada pelo comentário. =) E não sei mesmo escrever chubesco (sinônimo de fofo), porque não sei escrever coisas fofas, esse aqui é infantojuvenil, para jovens de 14 anos acima. =D

  14. Givago Domingues Thimoti
    18 de maio de 2025
    Avatar de Givago Domingues Thimoti

    Luke e Talita:

    Bom dia, boa tarde, boa noite! Como não tem comentários abertos, desejo que tenha sido um desafio proveitoso e que, ao final, você possa tirar ensinamentos e contribuições para a sua escrita. Quanto ao método, escolhi 4 critérios, que avaliei de 1 a 5 (com casas decimais). Além disso, para facilitar a conta, também avaliei a “adequação ao tema”; se for perceptível, a nota para o critério é 5. Caso contrário, 1. A nota final será dada por média aritmética simples entre os 5. No mais, espero que a minha avaliação/ meu comentário contribua para você de alguma forma.

    Boa sorte no desafio!

    Critérios de avaliação:

    • Resumo: 

    Luke e Talita é um conto infanto-juvenil (?)que apresenta a história de uma garota-IA orfã (que ainda não sabe que é uma IA) e um robô+IA (Luke) que acompanha essa menina num futuro distópico.

    Confesso que senti um pouco mais de aderência ao tema para dar 5 nessa avaliação.  Assim, tem elementos fofos? A imagem é fofa e infantil/juvenil. OK, mas não entra na avaliação. 

    Quando você para e observa o aspecto geral do conto, o conto não é nem infantil/juvenil, já que falta aquele aspecto lúdico do universo infantil e o aspecto fofo só aparece no final, com o gato-robô ronronando e caçando borboleta. 

    Essa ambientação tinha que ser construída a partir da linguagem e da narrativa. A linguagem é formal demais, meio cintura-dura, enquanto a narrativa caminha mais para uma ficção científica, meio distópica, meio existencialista, do que infantil/juvenil.

    2,5, portanto.

    • Pontos positivos e negativos: 

    Positivo: Correto gramaticalmente em sua boa parte. 

    Negativo: História batida e sem clímax. Estilo de escrita (travado) formal demais para um conto infanto-juvenil. Faltou o ludismo…

    • Correção gramatical – Texto bem (mau) revisado, com poucos (muitos) erros gramaticais. 4,5

    Encontrei poucos erros gramaticais, mais voltados para questões de concordância e regência. Por exemplo:

    “Dias depois, Talita e Luke, ainda com o código fonte no robô gato, aproveitavam o primeiro dia de calor…” – parece que se refere a Talita e Luke, mas semanticamente só se aplica a Luke. Falta clareza de concordância semântica

    Uma revisão um pouco mais detalhada os corrige, mas já está de bom tamanho.

    • Estilo de escrita – Avaliação do ritmo, precisão vocabular e eficácia do estilo narrativo. 2

    O estilo de escrita tem alguns problemas. Primeiramente, acho o tom formal bastante dissonante, em desarmonia com uma escrita infanto-juvenil. O tom de Talita em especial é um tom anti-natural, quase forçado. 

    Além disso, a repetição das reticências para demarcar pausas nos diálogos foi um tanto cansativo…

    Alguns trechos também tem repetições de palavras em excesso. Por exemplo:

    Sua mãe ficará linda nessa fotografia.

    — E poderia, por favor, elaborar uma fotografia em que os dois estivessem juntos, como no filme?

    Talita sabia que sim, Luke poderia elaborar qualquer fotografia que quisesse. Não era à toa que possuía álbuns e mais álbuns de fotos dos pais, mesmo eles tendo vivido juntos por tão pouco tempo. As fotos impressas cobriam uma das paredes da casa, um grande galpão construído por seu pai, perto da colina mais distante que havia encontrado da grande metrópole totalmente destruída. 

    Outro trecho:

     E agradeça a mim por poder falar, mesmo com seu código nesse robô gato.

    Depois de Luke devidamente instalado no robô gato,

    Essas repetições acontecem por todo o texto. Faltou um pouco de jogo de cintura para construir melhor essas cenas sem repetir tanto. É importante lembrar que a repetição cansa a leitura.

    • Estrutura e coesão do conto – Organização do conto, fluidez entre as partes e clareza da construção narrativa. 2

    Bom, o conto em si é claro.  Mais pela narrativa simples e batida do que pela construção em si do autor/da autora. A sensação que tive ao final da leitura é a que faltou alguma parte da história. Sim, o conto é curto e, invariavelmente, sobrou palavras para articular melhor a narrativa, preenchendo-a com o clímax por exemplo. Afinal, a garota acabou de descobrir que ela é uma IA e não esboça qualquer reação! Nada de raiva, nada de tristeza…

    • Impacto pessoal – capacidade de envolver o leitor e gerar uma experiência memorável: 1

    Hum, eu não gostei desse conto.

    Embora seja uma narrativa atualizada com um dos grandes temas da contemporaneidade, esse conto esbarrou no clichê e no espaço comum da ficção científica sobre inteligência artificial. Aqui, similarmente ao filme do Spielberg I.A, o grande enredo do conto é o desconhecimento da personagem principal sobre o fato de ser uma I.A. Infelizmente, contos assim se proliferam por aí. Portanto, a sensação geral é que li mais um conto desse tipo, que não traz nenhuma inovação ou algo característico que o torne único, o que é uma pena. 

    Além disso, alguns trechos são escritos em dissonância com o gênero infantil/juvenil, especialmente no início. Sensação que li dois adultos conversando… Claro, talvez faça sentido, dentro do contexto do conto, a opção por uma linguagem menos juvenil, já que são 2 inteligências artificiais interagindo. Contudo, considerando o contexto do desafio (que é o que importa), achei uma péssima escolha, distante do fofo/infantil ou juvenil.

    Por fim, tudo se desenvolve muito fácil. Quer dizer, você acaba de descobrir que é uma inteligência artificial, que o seu pai e o seu gato tutor IA mentiram para você e sua existência toda e não temos sequer uma divagação ou ataque de raiva? Apenas um abraço no gato-IA e bola para frente?

    Nota final: 2,4

    • Bia Machado
      20 de junho de 2025
      Avatar de Bia Machado

      Oi, tudo bem? Obrigada pelas observações. Só comentando as partes em que você se pautou muito por ser/não ser infantojuvenil, mas tenho toda a segurança do mundo de que ele se encaixa em infantojuvenil, que é dividido em várias faixas etárias, sendo que “Luke e Talita” seria lido tranquilamente por jovens de 14 anos acima. Tem vários livros infantojuvenis que passam longe de ter gatos e borboletas e “frufrus” na linguagem…

      “Por fim, tudo se desenvolve muito fácil. Quer dizer, você acaba de descobrir que é uma inteligência artificial, que o seu pai e o seu gato tutor IA mentiram para você e sua existência toda e não temos sequer uma divagação ou ataque de raiva? Apenas um abraço no gato-IA e bola para frente?” Do tempo em que tive para escrever um conto e não ficar de fora até enviar, tive que pensar sobre essa forma de agir da menina. Bem, o que pude pensar foi que: ela não era humana, né? Tinha o código fonte da Talita real, mas não era a Talita real… Muito complicado mesmo isso. E com pouco tempo para decidir o que fazer, mais complicado ainda. Mas você não tem culpa alguma disso, eu sou totalmente responsável pelo que escrevo correndo, hahhaha. No mais, discordo de várias outras coisas, mas coloco na minha conta de culpada/responsável pelo efeito também.

  15. andersondopradosilva
    18 de maio de 2025
    Avatar de andersondopradosilva

    Olá, autor.

    Gostei do seu conto.

    Ódio e nojo a contos de gato! Menos ao seu porque é fofinho. Passei a antipatizar com contos de gato, porque surgem muitos no EntreContos, mas gostei da simplicidade e despretensão do seu texto, gostei do tema da inteligência artificial, do robô, da tecnologia, da ficção científica.

    Eu gostaria de ter visto um trabalho mais elaborado de linguagem e temática.

    Eu evitaria o uso de “pois” e outras conjunções explicativas. Ficam melhores em textos técnicos.

    Julguei “árvore frondosa” um lugar comum literário.

    Enfim, gostei do seu conto, mas gostaria de ter gostado mais. Por isso, nota 4.

    Abraço.

    • Bia Machado
      20 de junho de 2025
      Avatar de Bia Machado

      Oi, Anderson, obrigada pelo comentário.

      “Eu evitaria o uso de ‘pois’ e outras conjunções explicativas. Ficam melhores em textos técnicos.” Tem razão. Deve ter sido a correria pra postar, pra revisar e o tanto de coisa que tenho escrito para o mestrado… 😉

  16. Luis Guilherme Banzi Florido
    15 de maio de 2025
    Avatar de Luis Guilherme Banzi Florido

    Boa tarde! (esse conto nao faz parte das minhas leituras obrigatorias)

    Um conto fofinho, curto, e com reviravolta.

    Sua escrita é muito boa, a leitura flui que é uma beleza, e os personagens sao carismaticos. Pensando no desafio atual, acho que ele se encaixa melhor em infanto juvenil, a nao ser que seja alguma fanfic que me passou batida.

    Independente disso, é uma leitura gostosa e rapida, que flui com naturalidade. Acompanhamos a trajetoria da menina até a descoberta de sua verdadeira natureza. Por mais que o conto seja curtinho, voce deixa coisas na entrelinha. Por exemplo: ainda existem humanos, ou foram todos extintos? E os outros animais? Pelo visto, os gatos nao existem mais. O que aconteceu com o planetA? Por que a metropole está abandonada?

    Ao nao responder a essas perguntas, voce nos deixa imaginando e preenchendo as lacunas. E no fim, o que realmente importa é aqueles dois robozinhos amigos vivendo juntos num mundo vazio. Fofo e melancolico.

    Parabens e boa sorte!

    • Bia Machado
      20 de junho de 2025
      Avatar de Bia Machado

      Oi, Luis! Valeu pelo comentário.

      “E no fim, o que realmente importa é aqueles dois robozinhos amigos vivendo juntos num mundo vazio. Fofo e melancólico.”. É bem isso que esse conto escrito de forma corrida e louca é para mim. Essa primeira versão dele é bem isso. 😉

  17. toniluismc
    9 de maio de 2025
    Avatar de toniluismc

    Comentário Crítico do Conto “Luke e Talita (Alguém que não sabe escrever chubesco)”
    Avaliação por critério: Impacto · Criatividade · Técnica

    📌 IMPACTO: MUITO BOM A EXCELENTE

    O conto “Luke e Talita” começa como uma narrativa leve e curiosa sobre uma garota órfã e sua IA de estimação, mas desliza com sensibilidade e progressão emocional até um plot twist delicado, porém devastador: Talita não é humana.

    Essa revelação não é usada com pirotecnia dramática, mas com ternura e tristeza, o que torna o impacto mais potente. O leitor é levado a se afeiçoar pela menina, pela relação com o pai, pela carência de vínculos humanos — para então confrontar a ideia de que tudo isso talvez tenha sido parte de um simulacro afetuoso construído para sobreviver à solidão pós-apocalíptica.

    Ao final, há um tom de esperança melancólica, reforçado pela imagem do robô-gato tentando caçar borboletas: a humanidade continua, mesmo quando os humanos já não existem em sua forma original.

    O texto pode provocar lágrimas ou um nó na garganta — especialmente em leitores sensíveis à temática da perda, da infância artificial ou do afeto entre humanos e máquinas.

    🎨 CRIATIVIDADE: MUITO ALTA

    O conto mistura de maneira sutil elementos de ficção científica, drama existencial e fábula emocional, com ecos de obras como Eu, Robô, A.I. – Inteligência Artificial e O Gigante de Ferro, mas com identidade própria.

    A construção do mundo é feita com economia e inteligência: sabemos que o cenário é uma Terra devastada, que Talita vive isolada e que Luke é uma IA multifuncional herdada do pai — e não precisamos de mais detalhes. A escolha de colocar Luke num corpo de gato robô que odeia gatos é uma sacada genial e engraçada, que contrapõe a rigidez da máquina ao absurdo afetivo do cotidiano.

    O uso de imagens geradas por IA como álbuns de família e o armário com a revelação de que Talita é, possivelmente, um androide infantil (ou uma IA autoconsciente) são ganchos muito eficazes e bem entrelaçados com o emocional da história.

    Mesmo com um tema já explorado na ficção científica, o autor/a apresenta uma variação criativa, íntima e profundamente sensível, evitando o lugar-comum da tragédia distópica.

    🛠 TÉCNICA: BOA A MUITO BOA

    Pontos fortes:

    • O diálogo entre Talita e Luke é fluido, carismático e verossímil, o que sustenta boa parte do texto.
    • A estrutura é bem segmentada, com início leve, revelação no meio e fechamento lírico.
    • O uso de humor sutil, especialmente nas falas de Luke (o gato robô irritado com sua própria forma), é excelente para equilibrar a densidade do enredo.

    Pontos a melhorar:

    • A revisão gramatical precisa de atenção. Há erros pequenos de pontuação, repetição (“em forma de um gato”, “estava quase finalizado”, “depois veria com mais calma”) e uso ligeiramente confuso da vírgula em alguns trechos.
    • O tom por vezes oscila entre o infantil e o reflexivo adulto, o que pode confundir o leitor sobre o público-alvo. Um ajuste de tom mais consistente deixaria o texto ainda mais coeso.
    • Certos trechos poderiam ser mais enxutos, especialmente nos momentos de transição entre a leveza e a revelação central — há frases que alongam desnecessariamente o caminho até o impacto.

    🧾 CONSIDERAÇÕES FINAIS

    “Luke e Talita” é um conto de ficção afetiva e existencial que humaniza a tecnologia e tecnologiza o afeto, com personagens encantadores e um mundo pós-humano tratado com lirismo. A reviravolta central sobre a identidade de Talita não é feita com alarde, mas com melancolia e cuidado, o que amplia o alcance emocional do texto.

    Apesar da necessidade de revisão estilística e de um ajuste de tom, a história é emocionante, sensível, imaginativa e sutilmente devastadora — e isso é um elogio raro.

  18. Afonso Luiz Pereira
    9 de maio de 2025
    Avatar de Afonso Luiz Pereira

    Meu “oi, como vai”, para aquele que não sabe escrever chubesco. Este teu conto “Luke e Talita” é um texto tocante e engenhoso que mistura com sensibilidade Ficção Científica e afetividade, com uma abordagem que lembra um pouco os episódios curtos da série “Love, Death & Robots”, da Netflix. O texto parte de uma premissa intrigante: uma menina tenta adaptar uma inteligência artificial portátil, representada por Luke, ao corpo de um gato robótico, com o objetivo de levá-lo a explorar o mundo exterior. Essa premissa, aparentemente leve e até divertida, vai aos poucos revelando um cenário mais sombrio e solitário: um mundo destruído, onde possivelmente restam poucos humanos.

    A ambientação que você construiu com delicadeza foi sugerida nas entrelinhas: a relação entre Talita e Luke é o coração do conto — cheia de afeto, ironia e cumplicidade —, algo que transita entre o conforto de uma amizade e a tristeza de uma infância solitária. O relacionamento entre a “humanidade” da menina e a personalidade irônica e pragmática da IA é cativante e rende bons diálogos, cheios de sutileza emocional.

    Gostei especialmente do plot twist envolvendo a identidade de Talita, que é habilmente preparado ao longo do texto, com pequenos indícios que só fazem sentido mais adiante. Quando a revelação acontece, e isso não quebra o tom da história; ao contrário, aprofunda a sensação de melancolia e maravilhamento. É um momento de virada que também faz refletir sobre memória, identidade e o que é ser humano.

    Apesar do tom mais adulto, o conto tem uma escrita acessível que pode agradar leitores de todas as idades. É o tipo de ficção especulativa que conversa tanto com os fãs do gênero quanto com quem busca uma narrativa mais emocional. Como leitor que gosta muito de FC, apreciei muito esta mistura entre tecnologia e emoção que você conseguiu criar. Parabéns pelo texto — ele é instigante, bonito e deixa aquele gosto de que a história poderia continuar.

    • Bia Machado
      20 de junho de 2025
      Avatar de Bia Machado

      Olá, Afonso, muito obrigada! Mais uma motivação para fazer uma versão melhor dele. 😉

  19. Antonio Stegues Batista
    7 de maio de 2025
    Avatar de Antonio Stegues Batista

    Sinopse: Engenheiro eletrônico, cria um androide da filha que já não existe mais e uma inteligência artificia para conversar com ela  e a menina constrói um gato mecânico e transporta a IA para o gato. Acredito que a IA seja um computador, não vislumbrei o aspecto físico dele. A menina robô com as lembranças inseridas pelo seu criador, acaba descobrindo que não é humana e isso nada muda pois ela não está mais entre humanos, não há conflitos físicos e morais. É um conto com o tema Chubesco de ficção científica, embora os personagens sejam artificiais.  Acho que a história ficou resumida em uma só cena, embora seja válido, mas acho que faltou algo mais profundo entre convivência humana e máquina. Parabéns e boa sorte.

  20. Priscila Pereira
    6 de maio de 2025
    Avatar de Priscila Pereira

    Olá, Alguém que sabe escrever chubesco! Tudo bem?

    Gostei bastante do seu conto! Muito fofo e um pouco triste…

    A ideia de untar o fofo com FC foi muito boa e meio inusitada, né? Não vemos muita FC fofa por aí. Seus personagens são ótimos, tão reais que o final pega de surpresa… como assim ela também é um robô?

    O universo que você criou em tão pouco espaço é muito instigante, me fez pensar se ainda existiam humanos… ou só IA. E do que a Thalita morreu, ou ela morreu mesmo, ou foi embora? São várias questões que dão camadas e subtexto para o conto, mas foi ótimo você não deixar tudo explicadinho. Na literatura infantil também tem que ter espaço (até mais) para a imaginação.

    A escrita está bem direta, simples e fluida. O conto está bem revisado e é muito criativo. Gostei bastante!

    Leria para minha filha? Com certeza! (embora tivesse que explicar o final…)

    Parabéns pelo conto e boa sorte no desafio!

    Até mais!

    • Bia Machado
      20 de junho de 2025
      Avatar de Bia Machado

      Oi, Priscila, valeu pelo comentário! *-*

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Publicado às 3 de maio de 2025 por em Liga 2025 - 2B, Liga 2025 - Rodada 2 e marcado .