EntreContos

Detox Literário.

Chubesco (Leandro Barreiros)

A sala de aula era naquele momento o coração do inferno. Uma tortura indizível para os alunos que esperavam ansiosos pelo último sinal antes das esperadas férias centenárias. Talvez tortura maior ainda para o professor Paimon, que tinha que lidar com os diabos que esperavam pelo último sino. Mas ninguém sofria mais do que Chubesco.

A carne  que pendia de seu maxilar por vezes brilhava rosa, revelando sua ansiedade. Seus genitores explicaram que em tempos imemoriais a membrana era uma forma eficiente de comunicação, pois antes da Queda não havia conceito de mentira. Sua linhagem era uma das poucas a ainda ostentar um traço primordial e por isso deveria sentir orgulho.

“O Chubesco ta nervosinho de novo!”, provocou Melkior.

Orgulho é o cacete, pensou envergonhado, sabendo que o pedaço de carne deveria agora estar ainda mais rosa. Sua família não podia ter um Tesouro digno, como o de Melkior?

Os outros diabinhos apontavam e riam e assobiavam e mordiam e mutilavam uns aos outros no meio da algazarra que tomou a sala.  

“Eu acho uma cor bonita!”, Hobalo tentou defender o amigo.

As risadas aumentaram ainda mais.

“Parem com isso, agora!”, bradou o professor, irritado. Chamas escapando de sua língua.

É bem verdade que os alunos não deram ouvidos ao professor, mas o grito do sino foi ouvido por todos, afinal, que outro motivo teriam para enfiar os livros na mochila e saírem correndo em direção à porta?

“Mandei parar!”, bradou o professor.

Ainda assim, Miriam tentou abrir a porta,mas correntes de ferro se materializaram, enroscando o braço da pequena diaba na madeira ancestral, deixando claro que o professor falava sério.

“Eu…”, começou Chubesco, mas parou em seguida, pois ficou com medo de sua carne ficar ainda mais rosa.

“Mas o sino já tocou!”, disse Hobalo.

“Você não pode fazer isso!”, protestou Melkior.

“Eu acho que meu braço tá ficando sem circulação”, disse Miriam.

“Não é o sino que diz que a aula acabou. Sou eu!”. Os alunos grunhiam. A carne debaixo do queixo de Chubesco brilhou laranja, revelando sua frustração.

O professor viu que os pequenos diabos finalmente prestavam atenção nele. Um avanço, sem dúvidas, mas não o bastante

“Agora prestem atenção”, exigiu o senhor Paimon, “nossa natureza é individualista, mas devemos combater isso, afinal somos mais fortes juntos. Não se esqueçam, nós somos…” o professor Paimon fez uma pausa, esperando que os alunos concluíssem a frase, mas tudo que se seguiu foi silêncio. Quando o constrangimento foi grande demais até para ele, bateu com força na mesa, aumentou o tom de voz e repetiu, com fogo escapando dos orifícios de sua face:

“Nós somos…” berrou.

“Legião”, os alunos responderam, nitidamente compelidos pela obrigação.

“Bom…” anuiu o professor. “e para garantir que entenderam isso mesmo, vocês terão um último trabalho antes das férias do quadragésimo sétimo ciclo.”

“A aula não acabou?”, perguntou Hobalo.

“Mas as férias já começaram”, disse Chubesco.

“Até o Chubesco está falando algo correto!”, disse Melkior.

“O meu braço necrosou”, anunciou Miriam.

O professor seguiu irredutível. Tendo recuperado a autoridade, continuou:

“Eu digo quando as aulas acabam. Eu digo quando as férias começam. E elas começam quando vocês aprenderem a trabalhar juntos. Serão divididos em grupos de quatro e aqueles que conseguirem deixar a escola estarão de férias. Se ninguém escapar até o fim do dia ficarão sem férias para semprei”.

“Posso fazer com o Chubesco?”, perguntou Hobalo.

“Posso fazer sozinho?”, perguntou Chubesco.

“Alguém tem um serrote?”, perguntou Miriam.

Paimon decidiu ele mesmo os grupos. Finalmente anunciou o grupo de Chubesco:

“Estão juntos Chubesco, Hobalo, Miriam… e Melkior”, disse o professor.

“Ele está comigo!?”, perguntou Chubesco, o rosa de ansiedade ganhando seu pescoço.

“Eu estou com ele?!”, protestou Melkior.

Paimon suspirou e, sem dizer mais nada, estalou os dedos e sumiu no ar.

“Era só o que me faltava. Vou passar as férias inteiras aqui”, lamentou Melkior.

O rubro de raiva tomou conta da pele de Chubesco, mas Hobalo agiu rapidamente para proteger o amigo.

“Talvez consigamos resolver isso rápido. Só precisamos trabalhar juntos”, Hobalo disse, ignorando o suspiro de Melkior. “O que você acha, Chubesco?”

Mas antes que Chubesco emitisse um som, Melkior balançou a cabeça e se retirou, deitando-se em um canto da sala.

“Eu queria estar em outro grupo…”, Chubesco disse.

Hobalo ficou um pouco magoado, porque o Tesouro se Chubesco brilhou branco, o que significava que estava falando a verdade.

“Mas acho que seria um peso de qualquer jeito” e o branco brilhou ainda mais forte.

“Isso não é verdade”, Hobalo disse.

“É sim!”, Melkior gritou do outro canto da sala.

E o branco de Chubesco foi substituído pelo vermelho.

As outras criaturas da sala não prestavam atenção. As correntes continuavam prendendo a porta e antes que pudessem fazer qualquer coisa tinham que lidar com o braço de Miriam no caminho.

Goliath, um diabo grandão de outro grupo que repetiu de ciclo várias vezes, disse que talvez pudesse arrebentar as correntes com sua mandíbula, caso o braço de Miriam não estivesse no caminho.

“Não acho que vá ser o bastante”, lamentou Chubesco. O professor disse que precisávamos trabalhar juntos, duvido muito que consigamos fazer qualquer coisa sozinhos.

“O meu sangue é ácido e poderia ajudar, mas o meu couro é duro demais. Alguém tem aquele serrote?”, perguntou Miriam.

Mas ninguém tinha serrote, ou facas, ou machado. Minutos preciosos escorriam pelo tempo até que uma luz verde se irradiou da membrana de Chubesco.

“Tive uma ideia!”, anunciou.

Melkior abriu um dos olhos, fitando o demônio pequenino.

“Goliath e se você mordesse o braço de Miriam? Com certeza vai abrir o couro e o sangue vai escorrer pela corrente!”

“Ótimo!”, exclamou Miriam.

“Boa ideia, Chubesco!”, disse o diabo, se aproximando. Mas então, hesitou. “Espera, mas o sangue ácido não vai me machucar?”

A luz verde deu espaço para o ansioso e envergonhado rosa.

“É… droga”, Chubesco lamentou.

“Foi uma boa ideia”, disse Hobalo.

“Vamos continuar pensando”, declarou Chubesco.

Melkior revirou os olhos.

“Não gosto de admitir, mas foi uma boa ideia. Deixa eu corrigir ela.”

“Corrigir?”, perguntou Chubesco.

E Melkior estalou os dedos.

Chubesco perguntou, “Corrigir?”.

“ela corrigir eu Deixa. ideia boa uma foi mas, admitir de gosto não.”

olhos os revirou Melkior.

Chubesco declarou, “pensando continuar Vamos”.

Hobalo disse, “ideia boa uma Foi”.

lamentou Chubesco, “droga… É”.

rosa envergonhado e ansioso o para espaço deu verde luz A.

machucar me vai não ácido sangue o mas, Espera?”. hesitou, então Mas. aproximando se, diabo o disse, “Chubesco, ideia Boa!”.

Miriam exclamou, “Ótimo!”.

corrente pela escorrer vai sangue o e couro o abrir vai certeza Com? Miriam de braço o mordesse você se e Goliath!”.

pequenino demônio o fitando, olhos dos um abriu Melkior.

“Calado, Chubesco!”, disse Melkior, levantando em um rompante. “Não temos tempo para isso. Aqui, Goliath. Tive uma ideia”.

E a luz verde virou rosa.

Melkior aproximou-se de Miriam e o demônio gigante fez o mesmo.

“Está vendo isso aqui?”, perguntou, apontando para o braço de Miriam.

“Não vejo nada”, disse Goliath.

“Está cego? Aqui, olhe de perto!”

“Tem alguma coisa no meu braço?”, perguntou Miriam, nervosa.

O gigante aproximou os olhos do braço e disse:

“O que, Melkior? Só vejo o braço necros…”

Melkior foi rápido. Empurrou a boca de Goliath contra o braço de Miriam e com o joelho golpeou a mandibula de Goliath para cima. A primeira dentada rompeu o couro e sangue ácido voou pela porta, corrente e pela própria boca de Goliath. Não foi o bastante. Com uma segunda joelhada a porta se viu livre das correntes, Miriam de seu braço e Goliath de seus dentes.

“Pronto”, disse Melkior.

“Cacetada”, disse Hobalo.

“Eu ia falar para fazer isso, juro!”, disse Chubesco.

“Ai.”, disse Miriam.

“Ahhmm ahhhhhhg aaaaaa”, disse Goliath. E então não falou mais nada.

Todos deixaram a sala

“Eu ia dizer a mesma coisa… ou algo parecido… juro”, disse Chubesco, entristecido.

“Eu sei” disse Melkior, sem olhar para o lado.

“Sabe?”

“Sua membrana, Chubesco. Está branca.”, informou Hobalo.

“Oh”.

Caminharam pelos corredores, indo em direção ao portão principal. Os outros diabos com certeza já estavam por lá. O sangue de Miriam gotejava de seu não braço e o barulho do chão se desfazendo preenchia o silêncio da caminhada.

“Você tem boas ideias de vez em quando”, sugeriu Melkior.

“Eu tenho?” perguntou Chubesco.

“Ele tem?” entoou Miriam.

“Tem sim!” Hobalo se intrometeu.

“É…”, concordou Melkior.

A membrana de Chubesco brilhou um verde intenso, ainda que seu rosto mantivesse-se impassível. Melkior grunhiu.

“Sua covardice que é insuportável!”, bradou.

O rosto continuou o mesmo, mas a cor da membrana oscilou para rosa.

“Chubesco não é covarde!”, disse seu companheiro. “Só é tímido…”

Melkior deu de ombros.

“É a mesma coisa”.

O portão principal tinha cinquenta metros de altura e as correntes que o guardavam eram proporcionais.

“Talvez se eu tivesse mais uns vinte braços”, mencionou Miriam.

Melkior a fitou por um tempo, calculando se havia no corpo dela sangue o bastante para romper uma das correntes.

“Precisaríamos de uns cem”, disse por fim.

Os outros diabos se uniam e tentavam puxar o ferro. Arranha-lo. Mordê-lo.

“Não vai dar certo”, lamentou Chubesco. O azul da tristeza tomando conta de sua membrana.

“Não”, concordou Melkior.

“Podemos tentar o poço dos desejos invertido”, disse Hobalo.

“Agora é só poço Mefistófeles depois que ele fez a doação para a escola”, corrigiu Miriam.

“Irrelevante”, respondeu Hobalo.

Ela deu de ombros. Melkior suspirou e disse:

“O poço dos desejos inver…”

“Poço Mefistófeles”, corrigiu Miriam. 

Ele a fuzilou com o olhar

“O poço dos desejos invertido…” repetiu “… é alimentado por coisas importantes. Não é por menos que quase ninguém usa. Escapar de um castigo que pode durar para sempre exigiria algo de elevado apreço. Eu não consigo pensar em nada.”

“Talvez eu possa jogar meu braço. Eu tinha muito apreço por ele”, comentou Miriam.

“Eu disse que tinha que ser algo importante”, replicou Melkior.

“As coisas que eu fazia com ele…”

“Sabemos o que você fazia com ele!”, disse Hobalo. Foi a vez de Chubesco se manifestar.

“Podemos deixar o Poço Mefistófeles…”

“Obrigada!”

“para o final do prazo, se não acharmos outra saída. Por enquanto podemos nos dividir e nos encontramos em algum lugar depois”

“É uma boa ideia”, disse Melkior. E a membrana de Chubesco ficou verde.

“Ah, tenha santa paciência! Anda, vai com o Hobalo. Nos encontramos depois no sino”

E, assim, se dividiram. Melkior e Miriam rumaram para a parte leste, enquanto Chubesco e Hobalo moviam-se para Oeste.

Olharam cada janela, porta, saída de emergência e fenda espaço-temporal que puderam encontrar. Tudo estava selado com poderosas correntes de ferro. Chubesco movia-se com suas mãos-pernas, por vezes iluminando os cantos escuros da escola com um brilho azul não intencional.

“Vai ficar tudo bem!”, Hobalo dizia, sempre que suas cores adquiriam a tonalidade da tristeza.

Por fim, subiram até a torre do sino, esperando que Melkior e Miriam tivessem notícias melhores. O sino, vendo os pequenos diabos pela primeira vez tentou sussurrar alguma coisa. Tinha os pés e as mãos amarradas por cordas pulverizadas com vidro. Na garganta, o amplificador, invenção de Lorde Elon há séculos atrás para que a voz do sino alcançasse toda a escola. Uma invenção bastante intrusiva.

“porfavor…porfavor…porfavor…” dizia o sino, mas os diabos estavam acostumados com o sofrimento humano. Afinal, a escola já havia feito várias excursões para o mundo dos últimos filhos de Deus. Então não tiveram problema em ignorá-lo.

“Você acha que Melkior achou uma saída?”, Hobalo perguntou.

“Tenho certeza que sim!” respondeu Chubesco. “Melkior é muito inteligente. Um verdadeiro descendente dos primeiros”

Hobalo bufou.

“Você é um descendente dos primeiros!”, disse. Foi a primeira vez que o Chubesco o viu perdendo a paciência com ele. Mas deu de ombros.

“porfavorporfavorporfavorporfavor”

“Você quer comparar o sangue puro cujo Tesouro é voltar no tempo com o outro cujo Tesouro é mudar de cor?”

“Existe valor no seu Tesouro”

“meu deus, porfavor, me ajudem, me ajudem”

“Ah, sim”

“E ele volta no tempo o que? Uns trinta segundos no máximo?”

“É. E eu fico branco quando falo a verdade e amarelo quando minto.”

“E rosa quando está ansioso e vermelho nervoso e verde feliz. Suas cores são lindas, Chubesco. De verdade. Eu acho que Melkior tem inveja delas”

Chubesco riu.

“porfavormeajuda eu ajudo voces me ajuda me ajuda”

“Deve morrer de inveja.”

“É sério. Vocês não eram amigos há algumas centenas de anos atrás?

Chubesco deu de ombros.

“Eramos. Eu, ele e Miriam tínhamos reuniões de clãs desde sempre. Foi bem antes de te conhecer. A gente era inseparável mesmo. Mas aí…”

“Aí vocês ganharam seus Tesouros e ele passou a te tratar mal, é muito simples pra mim”

“É complicado. Os tocados pelo Tesouro do clã dele sempre são escolhidos para serem generais para a grande batalha. Melkior vai ter que liderar um monte de diabo…”

“Nossa, que problemão”, ironizou Hobalo.

“eusei sair… eu sei sair daqui… mesolta”

“Eu não gostaria de ter que ser responsável por hordas inteiras. Por outro lado… ele virou mesmo um babacão” disse Chubesco, rindo. E Hobalo o acompanhou.

“Ei, o que o sino ta dizendo?” perguntou Chubesco. E ambos passaram a prestar atenção nele.

“Eu sei sair, eu sei sair”

“Você acha que é verdade?” Chubesco perguntou.

“É verdade é verdade é verdade eu sei eu sei sei”

“Como?”, perguntou Hobalo.

“Eu ouço sempre sempre seeem… professores zeladores perto da torre que saem para escapar do trabalho eu sei saídas secretas sei sei sei”

Os dois diabos olharam para o homem. Era difícil achar um pedaço no seu rosto que não tivesse sido esfolado. Então ler sua expressão era um problema.

“Podemos esperar Melkior, perguntar o que ele acha”, disse Chubesco.

Hobalo ficou particularmente irritado com aquilo, porque foi a deixa para que começasse a soltar o sino.

“Que se foda Melkior. Vamos mostrar pra ele que encontramos a saída.”

Chubesco ficou com medo. E roxo.

“Ande, sino. É bom que esteja dizendo a verdade.”

“Estou, estou estou estou”

Estavam cruzando a porta da torre quando avistaram Melkior e Miriam se aproximando.

“Que estão fazendo?” irritou-se Melkior.

“Ele conhece uma saída! Você por um acaso acharam algo?” respondeu Hobalo.

“Não”, disse Miriam, dando de ombros.

“Sabe o que vão fazer com a gente se descobrirem que a gente soltou o sino?! Não ter férias vai ser o de menos!”, Melkior disse e o Tesouro de Chubesco começou a ficar rosa.

“Ele mostra a saída e a gente prende ele de novo!”

E então o sino gritou.

O barulho foi tanto que se desequilibraram e quase perderam a consciência. Quando deram por si, o sino tinha Miriam imobilizada, as mãos enfiadas em sua boca ameaçando abri-la até não poder mais. 

“Me deixem ir, me deixem ir, me deixem ir”

“Olha o que vocês fizeram!”, disse Melkior.

“Volta no tempo e salva ela!” gritou Chubesco.

“A gente ficou apagado por mais de um minuto. Eu vou voltar pra inconsciência!”, respondeu Melkior.

“Desculpa!”, lamentou Hobalo.

“Me solta me solta me solta”

“A escola ta trancada, idiota! Esqueceu?” Hobalo questionou.

“Então…” começou o sino, um sorriso sinistro no rosto “vou ser o sino mais famoso que matou um de vocês!”, disse, abrindo mais a mandibula de Miriam que gritava em pânico.

Melkior ameaçou um passo, mas o sino fez ainda mais força.

“Mais um passo e eu mato ela eu eu mato eu”

“Você acabou de dizer que ia fazer isso de qualquer jeito!”, protestou Hobalo.

“Está demente…”, disse Chubesco. “É minha culpa, Melkior, desculpa eu…”

Chubesco olhou para o rival e, pela primeira vez em séculos, viu algo que lembravam lágrimas se formando nos olhos de Melkior.

“Deixa ela ir, eu te tiro daqui!”, prometeu Melkior.

“famoso famoso famoso mentiroso eu sei que mente diabos mentirosos”, respondeu o sino.

“Deixa ela ir”, disse Chubesco em seguida.

“Ou o que? Vaimudardecor?” gracejou o sino.

Chubesco respirou fundo.

“Vou encontrar seus descendentes e vou fazer a tortura que caiu sobre você parecer brincadeira de criança enquanto esfolo e mutilo todos eles”, um brilho branco tomava conta da carne de Chubesco “e enquanto eles chorarem e pedirem misericórdia eu vou sussurrar o seu nome e vou voltar todas as noites e todos da sua linhagem vão saber para sempre o nome do tolo que amaldiçoou para sempre o seu sobrenome”

Hobalo nunca viu um brilho branco tão bonito em Chubesco. Melkior também não. O sino lembrou-se da conversa que os diabos tiveram mais cedo e soube que o diabo dizia a verdade. Chorando, deixou Miriam ir embora.

Levou algum tempo para que amarrassem o sino de novo e lhe dessem uma lição. Finalmente, partiram para o Poço Mefistófeles.

O abismo perto da cafeteria era indizivelmente profundo. Ao lado do poço, cristais refletiam os brilhos púrpuras da decoração. A única janela do lugar seguia trancada por uma poderosa corrente.

“Gostaria que fossemos para casa”, ela disse e jogou o braço no poço.

Esperaram por minutos para que ele devorasse a carne e lhe concedesse o pedido. Mas as correntes continuavam na janela. Não foi o bastante.

“Vamos embora”, disse Hobalo. “Deve existir uma passagem”.

Começaram a se afastar, mas Chubesco manteve-se firme, encarando a profundidade do poço.

“Eu também gostaria que estivéssemos livres”, ele disse.

“Vamos, Chubesco. Você não tem nada de importante consigo”.

Ele sorriu.

E pulou.

Todos gritaram, mas, poucos segundos depois, as correntes de ferro desapareceram.

Estavam livres. Ele estava livre.

Fim.

Fim.

livre estava Ele. livres Estavam.

desapareceram ferro de correntes as, depois segundos poucos, mas, gritaram Todos.

pulou E.

sorriu Ele.

consigo importante de nada tem não Você. Chubesco, Vamos!”.

disse ele, “livres estivéssemos que gostaria também Eu”.

“Não diga nada, seu tonto. Você é da linhagem dos primeiros. Orgulhe-se. Estejam livres!”, disse Melkior, antes de pular no poço.

Todos gritaram.

“Pelo menos… pelo menos ele nunca mais vai te atormentar. Foda-se ele. Fique alegre, Chubesco!”

“Eu… eu estou…”, disse Chubesco.

Fim

Sobre Fabio Baptista

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22 comentários em “Chubesco (Leandro Barreiros)

  1. André Lima
    14 de junho de 2025
    Avatar de André Lima

    Caralho, o que falar desse conto? Porra, tá foda hein. Essa porra tá escrito assim cheio de palavrão pra uma criança ler? Puta que pariu, viajou pra caralho!

    Bom, saindo da brincadeira, que tem um fundo de verdade, vou classificar esse conto como infanto-juvenil. O regulamento dá essa margem, não precisa ser necessariamente um conto para uma criança pequena, mas é aceitável para adolescentes…

    A questão é: a linguagem mais adequada para adolescentes traz também um tema e um desenvolvimento que sejam interessantes para este público?

    O conto até nos transporta para um universo peculiar, com personagens intrigantes e uma premissa original. A ideia central da membrana de Chubesco que muda de cor para expressar suas emoções é um recurso narrativo engenhoso que perigou cair na exposição barata, mas não caiu.

    Chubesco, que inicia a narrativa como um diabo tímido, envergonhado e ansioso, cresce significativamente ao longo da trama. Sua jornada, culminando no ato de coragem e sacrifício ao pular no poço, demonstra uma notável evolução, transformando-o de um “peso” para o catalisador da liberdade do grupo. A forma como ele enfrenta o Sino com uma ameaça aterrorizante, mas verdadeira, é um momento de virada interessante. A narrativa não é linear, não é clichê (Embora aborde o clichê de maneira satírica, até) e a intreração entre os personagens é boa, amarradinha, e impulsiona a narrativa.

    A linguagem, a temática e a violência “explícita” deixam o conto num enquadramento difícil. Mas, no fim das contas, aspectos legais de lado, os adolescentes com certeza gostariam. Mas a história em si deixa em suspenso. Será que é atrativa para esse público? A dúvida fica martelando na porra da minha cabeça…

  2. Bia Machado
    14 de junho de 2025
    Avatar de Bia Machado

    Olá, autor ou autora. Gostaria de dizer que consegui compreender sua narrativa, mas sendo sincera, fiquei sem entender mesmo o que foi tudo isso… qual o sentido de ter um demônio chamado Chubesco, um chamado Miriam e outros terem nome de demônio mesmo? Creio que seja fanfic de algo, que eu realmente não tive a capacidade de reconhecer, embora essas cores todas tenham me feito lembrar do Divertidamente, que no caso do seu texto seria uma versão demoníaca dele. Em algumas partes achei cômico, um humor nonsense, a Miriam perguntando coisas por causa do braço dela foi engraçado. Talvez se fosse mais curto eu tivesse gostado. Achei doideira longa demais para mim. Enfim, boa sorte no desafio.

  3. Alexandre Costa Moraes
    13 de junho de 2025
    Avatar de Alexandre Costa Moraes

    Entrecontista,

    O seu conto “Chubesco” tem uma identidade própria, com uma estrutura conceitual interessante. O texto flerta com o infantojuvenil, mas não deixa claro se essa é de fato sua proposta ou se caminha para algo mais fofo (que não consegui ver), e essa indefinição acabou dificultando a clareza e custando pontos na minha avaliação. Ainda assim, achei a proposta do enredo criativa, bastante peculiar e bem construída.

    Os personagens são simpáticos (e conflitantes), os diálogos funcionam e a ambientação é curiosa e interessante. Achei a ideia das palavras invertidas na frase um recurso sagaz, que colocou uma “cerejinha” no bolo. Senti falta apenas de um arco mais tenso (achei que o sino ia fazer isso melhor), que criasse expectativa e fizesse o desfecho ter mais impacto emocional. Eu gostei do conto, tem estilo, linguagem própria e um universo visual impactante. Parabéns e boa sorte no desafio.

  4. Felipe Lomar
    13 de junho de 2025
    Avatar de Felipe Lomar

    Ola

    bem, o conto é anti-chubesco. Interessante a ideia de usar diabos, anti-cristos Para expressar isso. Bem conceitual. Mas acho que fica um pouco experimental demais. Acho que se encaixa no tema apenas tangencialmente. Também a volta no tempo é expressa de uma maneira um pouco confusa. Mas a personalidade dos personagens, individualistas e amorais, mas cada um a sua maneira, foi muito bem construída. Talvez o excesso de diálogos seja cansativo Para alguns leitores.

    Boa sorte!

  5. Rodrigo Ortiz Vinholo
    13 de junho de 2025
    Avatar de Rodrigo Ortiz Vinholo

    Achei divertido, um tanto estranho mas sem dúvida divertido! O que não fica claro é a intenção ou o modo de classificar. Apesar do título e do personagem, não sei se está exatamente chubesco, tanto pelos palavrões e acabamento, quando pela história. Está mais para uma comédia de fantasia e nonsense, apesar de pontos fofinhos. Ainda assim, tem seu mérito, parabéns!

  6. Pedro Paulo
    12 de junho de 2025
    Avatar de Pedro Paulo

    É juvenil. Mas não é chubesco. Tive a sensação de ler um mangá, pelo estilo de enredo. O uso do recurso de volta no tempo foi muito bem aplicado. Dentro do certame, entretanto, o conto perde.

  7. Fabiano Dexter
    11 de junho de 2025
    Avatar de Fabiano Dexter

    História
    Uma história diferente sobre um grupo de crianças demônios que estão prestes a sair de férias escolares no inferno. Mas como nada é tão simples (ou não teria história) precisam conseguir fugir do colégio de alguma fora. Grupos são formados e nosso protagonista Chubesco acaba caindo no grupo de seu rival Melkior. Lembrando que cada um dos pequenos demônios tem um poder específico.
    A partir daí temos a aventura dos pequenos na fuga, o que inclui amputações, torturas e risadas (para quem, como eu, em breve vai fazer companhia para ele lá).
    Tema
    Eu adorei a história, mas não consegui incluir muito no tema. Talvez infanto-juvenil, mas ainda assim com temas um pouco pesados no meu ponto de vista, como torturas e amputações.
    Construção
    Um conto muito bem escrito e com um ponto para a criatividade quando narra a volta no tempo.
    Impacto
    A história termina bem, mas ainda assim ficou faltando mais detalhes sobre a relação Chubesco e Melkior, alguma motivação para o sacrifício do segundo que coubesse na história.
    No mais uma história muito interessante e divertida.

  8. Fabio Baptista
    9 de junho de 2025
    Avatar de Fabio Baptista

    Na escola de diabinhos, o professor diabão ferra com as férias da galera, trancando todo mundo na escola no último dia. Para sair, eles terão que agir em grupo. Para abrir o último portão, um dos diabinhos se sacrifica no poço dos desejos.

    Olha, esse conto tem um estilo que eu gosto bastante, talvez meu preferido entre todos os autores aqui da A. A narrativa é dinâmica, divertida, os personagens caricatos na medida certa e as piadas “temáticas” soando algo meio Família Adams, muito boas. Foi uma ideia bem legal batizar o demoniozinho protagonista como Chubesco. O poder de voltar no tempo soa confuso a princípio, mas quando entendi foi bem criativo.

    Mas… é possível notar a pressa ali na metade pro final. Talvez saber o horário em que os contos chegam tenha influenciado essa minha percepção, mas, seja como for, esse final foi bem decepcionante.

  9. Mauro Dillmann
    6 de junho de 2025
    Avatar de Mauro Dillmann

    O conto se pretende chubesco desde o título e o pseudônimo, mas de chubesco não tem nada. Um texto difícil, hermético às vezes. Na busca por originalidade na língua, as escolhas lexicais também deixaram o texto carregado. 

    Traz o maior clichê de todos, repetido à exaustão: deu de ombros.

    Devo dizer que o conto não me prendeu, ao contrário, me cansou.

    Não funcionou comigo, mas certamente agradou a outros leitores.

    Parabéns!

  10. Givago Domingues Thimoti
    5 de junho de 2025
    Avatar de Givago Domingues Thimoti

    Chubesco

    Da série “fazendo a boa”, vou tentar comentar o máximo de contos da Série A possível, apresentando minhas impressões pessoais sobre o seu conto.

    Chubesco é um conto “chubesco”. Ou, pelo menos, tem a pretensão de ser chubesco. Pessoalmente, percebi pouca adequação ao tema. Tem uma ou outra ideia fofa, mas de uma forma geral, não é fofa.

    E acho que isso atrapalha mais do que ajuda o conto. Casar essa ideia de demônios-fofos, fazendo torturinhas enquanto tentam fugir unidos da escola foi uma tentativa infeliz. São ideias dissonantes, que não casam e permeiam todo o conto. Enfim, resultado de uma forma geral, foi um conto com impacto bem baixo.

    Em termos de técnica, eu senti que esse conto está com uma linguagem simples que, por algumas vezes, cai um pouco em qualidade com alguns erros gramaticais.

  11. Kelly Hatanaka
    2 de junho de 2025
    Avatar de Kelly Hatanaka

    Os diabinhos querem sair da escola e desfrutar das férias. É um infantil com uma premissa interessante: ser uma história sobre diabinhos fofos. A ilustração conseguiu este intento. O conto, nem tanto. Como disse, uma boa premissa. Mas, algumas partes deste conto são demasiadamente dark para crianças, com suas cenas de tortura. O final trágico me agradou, embora não ache lá muito verossímil. Diabinhos altruístas? Hum, não sei não. Também achei que o conto se estendeu um pouquinho.

  12. claudiaangst
    28 de maio de 2025
    Avatar de claudiaangst

    Olá, autor(a), tudo bem?

    O que temos aqui? Chubesco ou fanfic? Não sei… Os diabinhos eram fofinhos? Até que achei, viu?

    Confesso que não entendi muito bem o desenrolar da história, mas achei o contexto criativo. Um sino desejando a liberdade, um poço que aceita diabinhos pulando em seus braços… O fim foi uma incógnita. Chubesco pulou no poço e libertou a todos? Sei lá, achei tudo muito confuso, mas pode ter sido desatenção da minha parte.

    Quanto à revisão, sei que não posso considerar erro a fala dessas criaturinhas, no entanto, há detalhes que pedem acertos como a ausència de letra maiúscula no começo das frases.
    • Sua covardice > Sua covardia (talvez aqui seja mesmo um erro na
    fala do personagem)
    • Arranha-lo > Arranhá-lo
    • Voces > vocês
    • Ta > tá
    • Você por um acaso acharam > Vocês por um acaso acharam

    Parece que o(a) autor(a) quis inovar, trazer um toque divertido a uma turma de diabinhos, talvez como referência a Harry Potter, sei lá. Há habilidade na condução da narrativa, recursos criativos, mas o excesso me fez perder o interesse por puro cansaço. Falha minha, sorry.

    Parabéns por participar de mais um desafio e boa sorte na classificação.

  13. Jorge Santos
    20 de maio de 2025
    Avatar de Jorge Santos

    Olá, Chubesco. Não consegui perceber se o seu texto era fanfic – embora tenha a certeza de que não é um texto infantil. Sei que corro este risco – sou mais velho do que a maioria dos participantes, pelo que devem-me escapar referências fanfic a obras que já não sigo. Se foi este o caso, peço as minhas humildes desculpas. Não ligando à falta de concordância com os temas propostos, ficamos com uma narrativa não linear, com recurso ao regresso no tempo. Passa-se numa escola de demónios, no inferno, pelo menos foi este o sentido que dei ao texto. A ser verdade, poderia ter tido bastante mais impacto. O desfecho é algo desconcertante. O leitor fica com a impressão de que falta algo no final.

    Nota: Já li todos os textos e estou a reler os comentários antes de publicar. Algo que me escapou, devido a não ser brasileiro, é o significado de “Chubesco”. Isto acentua o sentido sarcástico do texto. Um texto “fofo” com contornos de terror.

  14. paulo damin
    15 de maio de 2025
    Avatar de paulo damin

    Legal a humanização dos demônios em forma de crianças numa escola. A cena de quererem sair correndo depois do sinal é muito bem feita. Também achei que os personagens, quase todos, a gente consegue discernir um do outro. 

    Só não entendi bem por que são diabinhos, se parecem mais anjinhos. Quer dizer, não fazem maldade nenhuma, nada além do que os humanos fazem. Daí, podiam ser ursos, gatos, potes de planta, qualquer coisa. Por que diabinhos?

    E me perdi um pouco a partir do momento em que saem da sala de aula. Fiquei esperando que houvesse algo mais, algum acontecimento, já que o texto continua. Achei que foi redundante. Qual é a diferença entre sair da sala e sair do pátio? Deve ter, mas não vi isso no conto, o que me parece que o enfraquece.

  15. Antonio Stegues Batista
    13 de maio de 2025
    Avatar de Antonio Stegues Batista

    Resumo do conto: Um grupo de diabinhos fica preso no colégio, pouco antes de entrarem em férias.

    O enredo é simples, a introdução muito longa, divaga sobre assuntos supérfluos, diálogos estéreis, sem importância. A descrição das expressões colorias é chata, insipientes. Tenho impressão de que o autor tem habilidade para escrever um bom conto, mas parece que ele teve uma boa ideia para o enredo, mas acabou sem inspiração. O final, escrito apressado, dá a impressão que ele escreveu qualquer coisa para não perder a participação. De qualquer forma parabéns e boa sorte.

  16. cyro eduardo fernandes
    13 de maio de 2025
    Avatar de cyro eduardo fernandes

    Conto criativo, ousado e com narrativa ágil. Pequenas falhas na revisão. Impacto moderado.

  17. Thiago Amaral
    13 de maio de 2025
    Avatar de Thiago Amaral

    Conto bem legal. A premissa em si é original e dá uma impressão de filme da Pixar (se eles tivessem coragem de fazer algo assim). Mas não só a premissa, como a execução é muito boa, também. Cada personagem tem sua função no grupo, e cada elemento da aventura é apresentado de maneira natural, para ser usado em seguida como solução dos problemas.

    E, como é de praxe, ficamos torcendo para nosso herói fracassado se dar bem, e no fim é o que acontece. Ele não tem poderes como os outros, mas é inteligente. A ideia não é nova, mas funciona bem aqui.

    Só não entendi bem a motivação de Elkior, no final. Pelo jeito, ele não queria ser comandante do inferno, mesmo. Ou perdi alguma coisa. De qualquer maneira, não ficou claro pra mim. E não entendi bem o que era aquele sino. Era um humano que estava sendo castigado no inferno? Acho que sim, mas não ficou super claro, também.

    Tirando esses detalhes, no entanto, é uma história redondinha, um infantil fofo com toques de rebeldia. Gostei!

  18. Rangel
    11 de maio de 2025
    Avatar de Rangel

    Olá, Chubesco,

    Devo confessar que achei a premissa do conto extremamente intrigante. Diabos fofinhos numa escola infernal, que precisam se unir para saírem dali. O protagonista tem todos os elementos para construir uma forte identificação com o leitor. Ele tem uma característica física marcante (como o sinal de Harry Potter), uma grande timidez, sofre bullyng dos colegas etc. E de fato a gente se pega torcendo por esse diabinho e sua turma. Assim, o maior acerto no conto é a construção das personagens e na originalidade da ambientação (não da escola, mas dos tais tormentos infernais). Os diálogos também são bons.

    Mas em algum momento comecei a ficar um tanto confuso e a história foi ficando um pouco mais do mesmo, como se eu pouco me importasse para o fato de eles conseguirem ou não sair dali. Acho que faltou uma revisão mais atenta, tanto da história quanto da escrita em si. Exemplos: “e enquanto eles chorarem e pedirem misericórdia…” (ñ seria quando); “você por um caso acharam algo?” ( vocês); “eramos” ( éramos); “os alunos não deram ‘ouvidos’ qo professor, mas os gritos foram ‘ouvidos'”. Esses detalhes de revisão aparecem muito no texto e como há ali uma parte brincando com as palavras, acho que valia a pena apostar mais num segunda ou terceira leitura. Inclusive para melhor fluidez da própria história contada. 

    No final, a história tem excelente argumento, valeu  a pena ler a história do Chubesco.

  19. Leandro Vasconcelos
    11 de maio de 2025
    Avatar de Leandro Vasconcelos

    Olá! Vou ser bem sincero neste comentário: apesar de ser um texto original, não vi quaisquer dos temas do certame. Fanfic? Não pude identificar. Infanto-juvenil, fofinho? Absolutamente não. Um texto desse nunca poderia ser recomendado para o público juvenil, quando normaliza torturas e mutilações, além de fazer referências grotescas e não ter limites morais claros. Pode até parecer legalzinho para o público adulto, tem um humor ácido, irônico; mas fora isso a proposta do texto soou de extremo mal gosto, dado a temática do concurso.

    O maior problema do conto é a indecisão tonal. Apesar da linguagem simples e das interações que lembram histórias para jovens, o texto insere elementos de mutilação, tortura e ameaças de extermínio familiar. Para mim, mal funcionou como humor negro adulto, quiçá como conto juvenil. Isso gera um desalinho que torna a leitura desconfortável — e não no bom sentido do desconforto literário.

    Embora tente desenvolver o protagonista como um “patinho feio” tímido e desprezado, Chubesco não chega a despertar empatia genuína, por causa do efeito grotesco gerado por esse desalinho. Os outros personagens são caricaturas estereotipadas de uma escola infantil: o valentão Melkior, o bobão Hobalo, a grotesca Miriam. Há uma tentativa de redenção e sacrifício no fim, mas ela não emociona. Pelo contrário, o texto nos empresta verdadeira sensação de desprezo: poderiam ir todos para o fundo do poço.

    Enfim, Chubesco é uma tentativa de humor grotesco com elementos fantásticos que falha por não conseguir saber escolher qual o seu tom, público e ritmo, para dizer o mínimo.

  20. toniluismc
    8 de maio de 2025
    Avatar de toniluismc

    AVALIAÇÃO CRÍTICA — CONTO “Chubesco”
    ✒️ Por um leitor rebaixado diretamente da torre do sino para o porão da crítica.

    📉 PRIMEIRA IMPRESSÃO

    Este conto é um carrossel no inferno: gira sem parar, cheio de cores, personagens caricatos e ideias interessantes jogadas sem filtro — e termina com o leitor nauseado, suado e perguntando onde foi que errou. A tentativa de construir um universo escolar demoníaco com uma estética nonsense beirando o absurdo é ousada, sim, mas mal costurada, inchada e, em muitos momentos, ilegível. Parece o resultado de um sonho febril com Harry Potter, O Senhor das Moscas e uma microdose de ácido.

    ✍️ TÉCNICA — Nota: 2.2

    Pontos positivos (sim, eles existem):

    • A ambientação infernal escolar tem potencial: os nomes (Paimon, Chubesco, Goliath, Melkior), os “Tesouros”, as “cores emocionais” da carne e o conceito de demônios infantis sendo obrigados a trabalhar em equipe poderiam render um conto incrível se melhor explorados.
    • Alguns diálogos têm ritmo e humor ácido que lembram Hora de Aventura ou BoJack Horseman.

    Porém…

    • O conto é caótico. Frases mal pontuadas, quebras de fluxo, estruturas desconexas e o uso de repetição invertida (estilo “livres estavam / estavam livres”) são feitos sem clareza de propósito. Se a intenção era um experimentalismo moderno, o resultado foi ruído sem forma.
    • É excessivamente longo. Tudo o que ele tenta construir poderia ser feito com metade do texto. A extensão só serve para desgastar o leitor e enterrar qualquer tensão dramática que a história pudesse ter.
    • A gramática e a coesão textual estão frequentemente comprometidas. Há erros de pontuação e construções que parecem brincadeira de oficina de escrita automática, e não uma fanfic ou texto infantojuvenil.

    🔎 Resumo técnico: Tem uma ideia, mas falta estrutura. Muita estrutura.

    🎨 CRIATIVIDADE — Nota: 3.6

    Méritos criativos:

    • A metáfora dos demônios escolares com “Tesouros” que expressam emoções e habilidades únicas é genuinamente original.
    • Há esforço visível em criar um sistema de mundo próprio, com cultura demoníaca, poço Mefistofélico, hierarquia, humor negro e tensão emocional. O autor tentou algo diferente. Ponto pra ele.

    Por que não é mais alto:

    • Criatividade sem critério é só barulho. Muitas ideias legais (o sino vivo, a “membrana cor emocional”, os nomes épicos, a “grande batalha”) são desperdiçadas ou atropeladas por um texto que não consegue organizar o próprio universo.
    • O uso de metalinguagem e inversão frasal soa mais como truque do que ferramenta narrativa.

    🔎 Resumo criativo: Riquíssimo em ideias, pobríssimo em execução.

    💥 IMPACTO — Nota: 2.0

    O que impacta:

    • Algumas passagens beiram o grotesco de forma interessante — como o braço necrosado, a mordida do Goliath ou o sino ensandecido — e funcionariam bem num conto absurdo-cômico de terror infantil.
    • A cena final, com Chubesco se jogando no poço, tem um fundo poético, mas o texto já chegou tão exausto nesse ponto que o impacto é mínimo.

    Mas o que não ajuda:

    • O texto não tem controle de tom. Oscila entre comédia pastelão, tragédia gótica e autoajuda escolar — e naufraga em todos. O leitor não sabe se ri, se chora, se desiste.
    • O uso de termos como “foda-se”, a insinuação de masturbação (com o “o que fazia com meu braço”) e outros diálogos de gosto duvidoso, comprometem qualquer chance de ser indicado para público infantojuvenil.
    • A violência exagerada (inclusive contra crianças-diabos) não tem função narrativa clara, o que esvazia o efeito dramático e torna tudo só grotesco por grotesco.

    🔎 Resumo do impacto: O texto tem momentos, mas está tão carregado que perde força. Como um sino quebrado que grita, mas ninguém entende.

    ⚖️ CONSIDERAÇÕES FINAIS

    Chubesco é um conto que queria ser irreverente, poético, inventivo e subversivo, mas acabou virando uma bagunça onde criatividade virou desculpa para a ausência de forma. Ele precisava de corte, revisão, foco, coerência e principalmente alguém que dissesse: “menas, amigo, menas.”

    Ele tem alma, e por isso não é um caso perdido, mas o autor precisa de urgente edição crítica — ou uma segunda leitura com mais sobriedade.

    📌 Sugestões ao autor:

    • Defina o público-alvo. Esse conto não é infantil. Nem juvenil. Nem adulto. É um purgatório de gêneros.
    • Reescreva o texto com um narrador mais sóbrio e menos viciado em efeitos.
    • Escolha 2 ou 3 elementos do universo e os desenvolva com profundidade. O mundo é interessante, mas está todo em superfície.
    • Corte metade. Sério. Só aí você ganha dois pontos em cada categoria.

    Resumo generoso em uma frase:

    “Chubesco” é como um aluno brilhante que escreveu 30 páginas de redação sobre o caos escolar demoníaco, mas se esqueceu de usar pontuação, senso crítico ou uma borracha.

  21. Augusto Quenard
    8 de maio de 2025
    Avatar de Augusto Quenard

    Achei ótima a ideia de uma história infantojuvenil com diabinhos. Acho que os assuntos são os clássicos dessa idade (escola, amizade, trabalho em conjunto, bullying, autoestima. etc) e nesse cenário eles ganham uma repaginada bem legal. Acho que tem uma faixa ali antes da adolescência que se divertiria com essa história. Me pareceu super coesa nesse sentido.

    Acho que pra acrescentar algo só pensaria melhor no final. Esse plot twist da volta no tempo é genial, porque mesmo a gente sabendo que existe esse poder, quando ele entra nesse momento funciona como um elemento surpresa. Só que de repente seria mais legal pensar em outra coisa jogada no poço, em vez de pensar no sacrifício da própria vida para liberar os colegas. De repente a personagem que se mata, em vez de pular poderia entregar o seu Tesouro, num sacrifício último de seu poder, o que também o deixaria numa dinâmica de transformação, de maturidade, etc, parecida, e oposta, à que o Chubesco vive, depois de usar suas cores numa resolução de um problema. O Chubesco, antes, também poderia jogar o seu poder. Ou não, sei lá. só achei o assunto do sacrifício, do suicídio, meio delicado, ainda mais nessa idade.

    Enfim, só uma sugestão para ilustrar o que pensei. Mas, fora essa sutileza, achei ótimo.

  22. Luis Guilherme Banzi Florido
    7 de maio de 2025
    Avatar de Luis Guilherme Banzi Florido

    Boa noite!

    Cara, eu tive um pouco de problema com o tom desse conto. Vou explicar melhor. A nao ser que seja uma fanfic de algo que eu desconheço, acho que temos aqui uma situação meio estranha, pois não acho que esse conto se enquadre tão bem assim em infanto-juvenil (e certamente nao é infantil). Achei a linguagem um pouco vulgar pra infanto juvenil, alem da sugestão constante de violencia tambem nao casar tão bem com o tema. Nao to dizendo que nao pode ter um pouco de humor negro e ate um pouco de insanidade no infanto juvenil, afinal isso é presente em desenhos do genero. Mas acho que aqui voce pesou a mao e deixou um pouco indigesto pro publico ao qual pretende se dirigir. Isso me incomodou um pouco.

    Mas falando sobre outros aspectos. O conto no geral tem uma boa ideia, mas nao gostei tanto assim da execução. Achei que a revisao está bem falha e a narração do conto é um pouco caotica, prejudicando, pelo menos pra mim, a imersao na leitura. Tudo acontece num ritmo tao intenso, e de forma um pouco desordenada, que nao tive tempo de me conectar tao bem ao conto de modo geral.

    Por outro lado, a ideia é boa e criativa, e os personagens sao carismaticos e bem construidos. O enredo funciona, apesar do já mencionado caos, e o desfecho, ainda que previsivel, surpreende e funciona. Acho que te faltou tempo e espaço pra trabalhar melhor com o desenvolvimento dos personagens. Achei que a relação do Melkor com o Chubesco evolui meio de repente, nao ficou muito crivel. Acho que para funcionar melhor, seria necessario mais espaço e um trabalho mais cuidadoso. Ainda assim, a curva dos personagens funciona e dá uma qualidade a mais ao conto.

    Enfim, uma boa ideia, mas que pra mim nao foi tao bem executada, provavelmente por falta de tempo e espaço. Alem disso, como mencionei no começo, esse conto me deixa muito incerto quanto ao tom, e acho que fica perigosamente no limiar do infanto juvenil.

    Parabens e boa sorte!

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Informação

Publicado às 3 de maio de 2025 por em Liga 2025 - 2A, Liga 2025 - Rodada 2 e marcado .