EntreContos

Detox Literário.

A Mulher de Vestido Vermelho (Fabio Baptista)

Em uma tarde qualquer, o sr. Menezes vaga pelos corredores de um shopping qualquer. O fluxo de pessoas leva a crer que é sábado ou feriado. Além de proficiência matemática para fechar as contas do mês, a aposentadoria também trouxera uma aversão completa a relógios e calendários. Passa o olhar a esmo pelas vitrines, brinca com cães alheios, todos os cães agora são brancos, pretos ou marrons? O que veio fazer mesmo? Ah é, comprar um presente para a neta. Muita gente nas lojas, melhor tomar um café. Muita gente na cafeteria também, mas por um cappuccino vale a pena esperar.

Com a paz que só a ausência de alternativas pode trazer, ele aguarda. Com a sabedoria que só nos chega quando não serve mais para nada, ele reflete. Houve uma época em que a disposição estava lá, mas não o dinheiro. Em outra fase, até havia dinheiro, mas não o tempo para aproveitá-lo. Hoje sobram as horas, mas falta o ânimo para preenchê-las. A felicidade é casa de poucos cômodos, o que há de se fazer?

Menezes!?, a mocinha da cafeteria, que com destreza circense equilibra uma bandeja atulhada de xícaras, se faz ouvir em meio a um mar de mesas e conversas. Ele pega o cappuccino, agradece. Seu sorriso sincero só não é mais cansado do que o da mocinha da cafeteria. O cheiro do chocolate amalgamado ao café traz, por um instante, apenas a tranquilidade de deleitar os sentidos sem precisar pensar em nada. Dois segundos depois, uma língua queimada e um pires inundado. Enquanto junta guardanapos para conter o estrago, sua atenção é arrebatada por um vislumbre. Será que é ela? Não, não pode ser. Mas e se for?

Lembranças sequestram sinapses. Houve outra época. Faz tanto tempo que às vezes parece ter sido em outra vida ou em um filme da Sessão da Tarde, mas, sim, houve outra época. Uma época em que alguns trocados para comprar sorvete eram toda fortuna que se precisava. Uma época em que havia tempo para elaborar planos infalíveis para se tornar o rei da rua. Em que sobrava energia para jogar bolinha de gude, ganhar figurinhas no bafo e dar nós em orelhas de bichos de pelúcia.

O sr. Menezes faz menção de se levantar, de ir até aquela senhora baixinha de vestido vermelho para confirmar se por trás das rugas e cabelos brancos está realmente quem ele gostaria que estivesse, ou se, mais provável, são apenas saudosismo e catarata lhe pregando uma peça.

Ele volta à segurança da cadeira e se ocupa em enxugar o leite derramado. Desiste de ir até ela, já não tem idade para passar pelo constrangimento de ouvir não ao chegar em alguém e perguntar se esse alguém se lembra dele. Mas o aterroriza ainda mais a possibilidade de que a resposta seja sim. E eles, em nome dos velhos tempos, se convençam de que é uma boa ideia tomar um café e ela dê risada e lhe traga a certeza de que era só a imaginação de criança trabalhando em escala 6 x 1 igual a mocinha da cafeteria, confirmando que não era bem assim quando surgirem os assuntos inevitáveis – e a menina que comia dez melancias em um dia só?, e aquele menino que nunca tomava banho?, e o coelho de pelúcia que pesava uma tonelada? E se ela dissesse que também ficou com o coração partido quando ele foi embora do bairro e que também imaginou por muitas e muitas vezes como as coisas teriam sido se não tivessem perdido contato? Deus do céu, e se ela dissesse que o Floquinho era branco, preto ou marrom e não verde? E se não tivessem mais nenhuma afinidade? E se…

Senhor? Senhor? Trouxe um pires novo, deixa eu levar esse que está molhado. A mocinha da cafeteria o resgata dos devaneios. A senhora de vestido vermelho desaparece na multidão. Ele termina o cappuccino e a mocinha logo trata de recolher a xícara, a gentileza treinada deixando transparecer um pouco da pressa em liberar logo a mesa. Estava bom? Estava ótimo, muito obligado. Dois sorrisos cansados, porém sinceros. Ele não resiste a uma última espiada na direção em que a viu pela última vez. Nada. Melhor assim. Ao passado, o passado. Ao presente, o… o que ele estava fazendo ali mesmo? Ah, é… o presente. Da neta.

O sr. Menezes volta a percorrer vitrines com um olhar que não sabe muito bem o que procurar. No vidro iluminado ele se dá conta do próprio reflexo e balança levemente a cabeça, confirma para o menino que ainda vive dentro de si que não há arrependimentos. A ele bastavam as memórias imaculadas de um período que acabaria de um jeito ou de outro, porque mesmo as coisas mais doces não podem durar para sempre. E, de um jeito ou de outro, ela sempre foi e sempre haveria de ser parte disso. A ele bastava que um dia, no bairro do Limoeiro, eles foram amigos e compartilharam a mais inocente de todas as infâncias.

A ele bastava que, em uma época que agora parecia tão perto e tão distante ao mesmo tempo, a vida lhes permitiu que pudessem ser apenas Mônica e Cebolinha.

Sobre Fabio Baptista

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22 comentários em “A Mulher de Vestido Vermelho (Fabio Baptista)

  1. André Lima
    15 de junho de 2025
    Avatar de André Lima

    É, agora entendo porque não tive chances nesse desafio! kkk Nuvens e A Mulher de Vestido Vermelho são muito melhores que meu conto.

    Desde o início, somos imersos na rotina e no estado de espírito do “Sr. Menezes” e a ambientação em um shopping movimentado serve como pano de fundo para uma profunda jornada introspectiva. A narrativa estabelece um tom melancólico e reflexivo, onde a busca por um presente para a neta logo cede espaço a um encontro fortuito que desencadeia uma torrente de memórias… Isso é muito bom. É justamente o que adoro fazer também, onde coisas cotidianas, corriqueiras, pequenas, podem desencadear grandes eventos, questões existenciais, cósmicas…

    O conto se destaca pela construção habilidosa do personagem principal, de sua psique. Sua exaustão, tanto física quanto espiritual, é palpável. A prosa nos permite mergulhar em sua mente e o passado é revivido com uma vivacidade que contrasta com a apatia do presente. A genialidade do conto reside na forma como ele explora a tensão entre o desejo de reviver o passado e o temor de desmistificá-lo.

    O elemento que eleva este conto a um patamar ainda mais interessante é a intertextualidade sutil, embora no final tenha ficado explícito. E me pergunto: precisava? Torci para que não, mas a resposta veio, escrita… Lamentei um pouco, mas o brilho da obra já havia se estabelecido de tal modo que isso se tornou irrelevante.

    A linguagem é rica e evocativa, com frases poéticas, com um lirismo melancólico existencialista, um flerte com o Expressionismo Alemão.

    Parabéns pelo resultado! Contaço!

  2. Thiago
    14 de junho de 2025
    Avatar de Thiago

    Esse conto tem dois níveis, um da vida interna da personagem, outro do mundo externo em que ela atua. A narração do primeiro é bem melhor que a do segundo. Mesmo faltando certa tensão e verossimilhança, a parte da onisciência do narrador agradou. Já as descrições do mundo externo não ficaram tão boas, por caírem em clichê: exemplo são as descrições e gestos da garçonete, que ficaram batidos e artificiais. Também ficaram batidas as transições de um plano para outro, quando os pensamentos do protagonista são interrompidos pela garçonete. 

    Ao final percebemos que o protagonista é o Cebolácio Menezes. Escolha criativa. E diante do fato de que, no final das contas, é uma história sobre Cebolinha e Mônica, talvez não se deva cobrar rigor psicológico das personagens. 

    Inteligente pensar em um Cebolinha mais velho pensando na mulher de vermelho, com a revelação apenas no final. 

  3. Thales Soares
    14 de junho de 2025
    Avatar de Thales Soares

    Considerações Gerais:

    Que surpresa boa foi ler este conto! Acho que ele se encaixaria muito bem naquele desafio de Nostalgia, porque bateu uma sensação boa relembrar da Turma da Mônica… deu até aquele quentinho no coração. O texto tem uma abordagem sensível, nostálgica e madura, que transforma uma fanfic em uma verdadeira crônica melancólica sobre o passar do tempo, as memórias da infância e os afetos que sobrevivem mesmo quando os protagonistas já não lembram direito o que vieram fazer no shopping.

    A grande sacada está no plot twist, de que o sr. Menezes é, na verdade, o Ceboiolinha, e a senhora de vestido vermelho, a Mônica. O texto não precisa dizer isso diretamente… ele deixa pistas inteligentes, como a referência ao Floquinho, à menina que comia dez melancias (Magali), ao coelho de pelúcia (Sansão) e ao bairro do Limoeiro. Essa delicadeza é um mérito raro em fanfics, que muitas vezes apostam no óbvio ou no sensacionalismo (como aquela do Faustão comendo a Selena Gomes). Aqui, temos o contrário: um texto contido, maduro, reflexivo, que respeita os personagens e os reinsere num mundo possível, real, cheio de saudade.

    Pedradas:

    Não há grandes falhas aqui. Mas… achei curtinho demais. Fiquei com um gostinho de quero mais. Acho até um pouco injusto eu dar uma nota tão alta para este conto, porque ele não teve o mesmo trabalho que outros autores para criar todo um universo, com uma trama mais rebuscada e costurar tão bem tantos acontecimentos. Aqui a aposta está na simplicidade e na leveza. E isso não é necessariamente ruim… mas é uma aposta mais fácil, porque um conto mais contido exige menos do autor, na questão de planejamento, revisão, e construção de personagens.

    Conclusão:

    Uma fanfic muito boa que revisita personagens clássicos da infância com sensibilidade e inteligência. Este conto emociona não pelo reencontro que não acontece, mas justamente pelo reencontro que só existe na memória. Um conto triste, daquele estilo de véio com saudades, exatamente da forma como eu não costumo gostar… mas esse daqui fala da Turma da Mônica, né porra… então me conquistou!

  4. leandrobarreiros
    14 de junho de 2025
    Avatar de leandrobarreiros

    Fiquei surpreso ao me sentir melancólico lendo uma história da Turma da Mônica.

    A escolha dos personagens para abordar a passagem do tempo e as transformações da vida foi, sem dúvida, brilhante. A força da Turma da Mônica no imaginário popular, especialmente ligada à infância, cria uma conexão imediata. Ao ler a fanfic, somos transportados não apenas para a infância dos personagens, mas para a nossa própria… uma sacada de mestre.

    Mais do que a ideia, a estrutura, a organização e o ritmo do texto são executados com extrema competência. As frases reflexivas se encaixam perfeitamente na narrativa, sem parecerem forçadas ou cansativas.

    Embora eu tenha notado alguns trechos que poderiam se beneficiar de uma revisão para aprimorar a clareza, o texto, no geral, é muito bem construído e impactante. Um conto fortíssimo que, na minha avaliação, flutua entre a nota 9 e 10.

  5. Gustavo Araujo
    13 de junho de 2025
    Avatar de Gustavo Araujo

    Gostei muito do conto. É uma fanfic da Turma da Mônica, porém voltada para o universo adulto, ou melhor, para os leitores que envelheceram como eles – ou com eles. Bacana descobrir aos poucos que o Sr Menezes é o Cebolinha. Deixar isso escondido e ir revelando aos poucos foi uma jogada muito boa, já que essa perceção não deixa de causar certa epifania.

    Mas o melhor são as divagações próprias da idade adulta – e que talvez se acentuem na terceira idade (quando eu chegar lá, saberei), já que o Sr Menezes tem um momento de resgate do passado e não sabe ao certo o que fazer. Quer falar com a Mônica (ou com alguém que ao menos se parece com ela), mas tem medo. Medo do quê? Da reação, do desapontamento. No fim, melhor foi ficar com a lembrança, com a mera possibilidade de que ela fosse quem ele imaginava. Assim o risco de decepção é minimizado e ele pode viver com o coração quentinho, mesmo sem ter certeza de nada. O conto, apesar de curto, é certeiro nesse aspecto. É verossímil, inapelavelmente belo e doloroso, pois ainda que fale de uma realidade alheia, faz com o que o leitor se identifique com a situação.

    Para não ficar só nos elogios, sugiro tirar a horrível palavra “amalgamar”, que definitivamente não combina com a narração. Tenho minhas dúvidas, também, acerca da necessidade de revelar com todas as letras, no fim, que era de Mônica e Cebolinha que se estava falando. Creio que informação diluída no desenvolvimento privilegia a inteligência do leitor. Vamos lembrar que esse não é um texto para crianças. De todo modo, é um baita conto. Parabéns à pessoa que escreveu e boa sorte no desafio.

  6. Andre Brizola
    13 de junho de 2025
    Avatar de Andre Brizola

    Olá, Sr. Menezes!

    Minha primeira ideia para este desafio também envolvia a Turma da Mônica. Mas eu ia num caminho bem diferente do que você escolheu. E, sinceramente, não acho que o seu foi uma escolha ruim, mas acho que você apostou demais em algo seguro demais. Tendo dito isso, acrescento que desta vez, optei por fazer meus comentários de forma estruturada, organizada, para ser mais organizado e justo com os participantes.

    Técnica – Como disse antes, você escolheu um caminho bastante seguro para contar sua história. A estrutura do conto é bastante tradicional e combina com o enredo curto e polido. A narração dialogando com a memória do Sr. Menezes funciona legal e, se eu fosse alterar algo, talvez fosse com relação aos diálogos, que não foram demarcados, gerando alguma confusão.

    Enredo – Bastante simples, focado na narração e nas memórias e reflexões do Sr. Menezes que, depois, descobrimos ser o Cebolinha. Não há conflito, e não há ação, praticamente. O texto é tomado pelo saudosismo e pelos devaneios do passado, trazidos à tona pelo simples vislumbrar de uma senhora de vestido vermelho. Achei que é pouco. Sobretudo porque ali caberia dois personagens quaisquer. Mônica e Cebolinha, Charlie Brown e Lucy, Calvin e Susie. A simples menção a outros personagens não gera um vínculo forte o suficiente para termos acesso a uma ligação mais pessoal. Há uma única menção aos planos infalíveis, mas é o único enlace dos dois personagens trazido das histórias originais e, com tanto espaço ainda a ser cultivado, esse aspecto poderia ter sido mais trabalhado.

    Tema – Neste aspecto, desta vez, decidi ser bastante rígido no que diz respeito ao respeito ao que foi proposto. Entendo que os temas são um tanto quanto diferentes do usual, mas essa foi a proposta do EntreContos e acho que nós, autores, deveríamos honrá-la com textos que a atendessem da melhor forma possível. Como disse antes, são poucos os detalhes que fazem desse conto uma fanfic de A Turma da Mônica. São apenas algumas menções, mas há muito pouco do personagem original em Sr. Menezes para que possa caracterizá-lo como o Cebolinha. Não vejo muito disso aqui. Acho até que há, sim um esforço em colocar elementos da criação de Maurício de Souza no texto, mas é muito pouco e superficial, e acho que a proposta não foi totalmente atendida, uma vez que, como disse antes, qualquer dupla de personagens infantis retratada como idosos ia funcionar nesse texto.

    Impacto – Escrevo esse item do meu comentário alguns dias após ter lido o conto, para medir a forma como reagi ao texto e como ele me afetou. Acho que se a experiência foi boa, se o enredo me provocou, me fez pensar sobre o assunto, ou se há algo extremamente particular, mesmo que ruim, o conto reaparece em minha cabeça e penso sobre ele depois. Como um grande fã de Turma da Mônica, que cresceu e se educou lendo a obra de Maurício de Souza, devo dizer que o conto causou algum impacto em mim, pois fiquei pensando nele nesses últimos dias. Algumas vezes pensando se gostei, algumas vezes se não. Mas aqui, não importa muito qual é o veredito, importa se o conto me impactou, e a resposta é sim. Seu conto causou efeito, digamos assim. Muito disso vai naquilo que eu já citei antes, eu queria muito que mais elementos da Turma da Mônica, principalmente do Cebolinha, tivessem sido utilizados. Acho que fiquei mais frustrado do que pensei inicialmente, nesse aspecto. É coisa de fã, talvez. Mas eu teria citado alguma coisa de alguma história clássica, tipo A Sereia do Rio, ou algum personagem mais característico, mesmo que adaptado para essa forma mais realística que você trouxe para o seu texto, como o Lorde Coelhão. Enfim, aqui são devaneios de um fã.

    Vejo diversas qualidades no seu conto. Mas não posso ignorar os apontamentos que fiz antes. No geral, é um texto que funciona muito bem sozinho, mas que perde pontos na hora que é tratado como fanfic pelos pontos que citei. Muitos vão passar batido nesse aspecto, mas para esse desafio, especificamente, decidi ser bastante criterioso nesse ponto, ok?

    É isso. Boa sorte no desafio!

  7. Amanda Gomez
    13 de junho de 2025
    Avatar de Amanda Gomez

    Oi, bem ?

    Lindo conto, você conseguiu transmitir uma sensação agridoce de nostalgia. Quando você começa a leitura, não há pistas; o uso ausente de uma imagem está perfeitamente justificado.

    É um conto em camadas, como uma cebola (pistas). Conforme avançamos na leitura, reconhecemos o personagem que, nessa altura da vida, tenta também revisitar o passado a partir da visão de alguém que um dia foi tão importante para ele. É meio triste, mas é a vida: as pessoas crescem, se separam e ficam guardadas na mente, bem no fundinho, e quando chega o momento da velhice pode já não haver como resgatar tudo.

    Achei muito certeira a forma como você descasca essas camadas para mostrar quem era o personagem. Na primeira frase, com a língua presa, tudo fica claro e a gente dá aquele meio sorriso de reconhecimento, um sentimento de ternura.

    Nada dura para sempre, mas para sempre vai estar ali.

    Parabéns pelo texto, muito bom.

    Boa sorte no desafio.

  8. Pedro Paulo
    11 de junho de 2025
    Avatar de Pedro Paulo

    Olá! Tentando simplificar, estarei separando meus comentários em “forma” e “conteúdo”, podendo adicionar um terceiro tópico para eventuais observações que eu não enquadre em um ou outro.

    FORMA: A opção narrativa é nos manter junto dos pensamentos do personagem e, por isso, em um fluxo indefinido que o coloca entre devaneios, esquecimentos e, de supetão, na areia movediça da melancolia. Foi o preparo para a catarse, a força da revelação de quem realmente é o Sr. Menezes. Foi muito bem construído, pegando de surpresa e emocionando, talvez em meu caso por ter sido um leitor ávido da Turma da Mônica e ter a percepção sendo aguçada conforme lia até o singelo detalhe de um obLigado. Muito bom!

    CONTEÚDO: Li a turminha majoritariamente enquanto eu era criança e eles também. Até li a Turma da Mônica Jovem, mas não acompanhei e com certeza li muito mais dos quadrinhos originais dos anos dois mil do que os mais recentes. Em alguns desses, a turminha aparecia mais velha, geralmente de forma breve e projetando como seria alguma situação específica, como eles lidando com os pais por exemplo. Neste conto, ultrapassamos a superficialidade da projeção para estarmos dentro da mente do pretenso Dono da Rua e o resultado é um resgate de si mesmo a uma compreensão de que, pode-se imaginar como tudo seria diferente, mas também se pode agradecer pelo que foi. Ter sido o Cebolinha uma vez, e vivido depois disso. Infalível.

  9. Leo Jardim
    10 de junho de 2025
    Avatar de Leo Jardim

    📜 TRAMA (⭐⭐⭐▫▫)

    Pontos Fortes:

    • Nostalgia Bem Construída – A transição entre o presente melancólico e as memórias da infância é fluida e emocionalmente impactante.
    • Revelação Sutil – A identificação do sr. Menezes como Cebolinha é entregue de forma orgânica no clímax.
    • Tom Consistente – Mantém o equilíbrio entre doçura e melancolia sem cair no melodrama.

    Pontos de Melhoria:

    • Potencial Não Explorado – O encontro com a possível Mônica poderia ter rendido cenas mais significativas (ex.: um diálogo indireto ou reconhecimento mútuo sem abordagem).
    • Ritmo Irregular – Algumas reflexões prolongadas (como sobre felicidade) quebram a fluidez da narrativa.

    📝 TÉCNICA (⭐⭐⭐⭐▫)

    Excelência Narrativa:

    • Mostrar, Não Contar – Detalhes como “dois sorrisos cansados” e “pires inundado” revelam mais que descrições explícitas.
    • Voz Autoral Distinta – O narrador em terceira pessoa limitada captura bem a perspectiva envelhecida do personagem.

    Sugestões:

    • Fragmentação de Parágrafos – Dividir o trecho mencionado para melhorar o ritmo:
      “O sr. Menezes faz menção de se levantar. Quer ir até aquela senhora baixinha de vestido vermelho, confirmar se por trás das rugas está quem ele gostaria que estivesse. Mas desiste. Já não tem idade para constrangimentos. Ou será que o verdadeiro medo é ela lembrar?”

    🎯 TEMA (⭐⭐)

    • Fanfic Afetiva – Respeita o espírito da Turma da Mônica enquanto expande o universo para a velhice dos personagens.
    • Tópicos Relevantes:
      • Saudade como preservação da memória.
      • O conflito entre reencontrar o passado ou idealizá-lo.

    💡 CRIATIVIDADE (⭐⭐▫)

    Destaques:

    • Metáfora Visual – O cappuccino derramado espelha a desordem emocional do personagem.
    • Subversão de Expectativas – A cor verde do Floquinho revelada como invenção infantil é um detalhe muito bom.

    🎭 IMPACTO (⭐⭐⭐⭐▫)

    Por Que Funcionou:

    • Final Circular – A volta às vitrines no encerramento reforça o tema de ciclos inevitáveis.
    • Emoção Contida – A decisão de não abordar a mulher de vermelho é mais poderosa que qualquer reencontro.

    Faltou Impacto:

    • Conexão Física – Uma ação concreta ou um contato visual aumentaria o clímax emocional.
  10. cyro eduardo fernandes
    6 de junho de 2025
    Avatar de cyro eduardo fernandes

    Boa técnica e narrativa interessante. Achei criativa a maneira de evidenciar o personagem através da característica troca de letras! Bom conto.

  11. danielreis1973
    5 de junho de 2025
    Avatar de danielreis1973

    A Mulher de Vestido Vermelho (Sr. Menezes)

    Segue a minha análise, conforme método próprio e definido para este desafio:

    CONCEITO: uma fanfic da Turma da Mônica, que descreve o reencontro não realizado entre Cebolinha e Mônica. O autor seguiu por uma linha autorreflexiva, em que apesar de narrar na terceira pessoa, nos colocamos sob a ótica do Sr. Menezes, ou Cebolinha.

    DESENVOLVIMENTO: em questão de técnica, eu achei um pouco truncada a exposição do que é narrativa, o que é fala e o que é pensamento, tudo num fluxo só. Talvez para refletir o momento do protagonista, o ambiente do shopping, não sei. Como recurso estilístico, achei interessante, mas um pouco confuso.

    RESULTADO: o resultado é bom, apesar do título meio que entregar o final (se não era a Chapeuzinho, sobrou a Mônica). Destaque para as cominserações e devaneios, que são um pouco nossos também.

  12. Marco Saraiva
    24 de maio de 2025
    Avatar de Marco Saraiva

    Uau. Que porrada!

    Antes de mais nada: tenho que confessar que passei metade do conto achando que isso era fanfic de Matrix, e que o senhor de idade veria a mulher de vermelho do primeiro filme (rs rs rs).

    Cara, que conto único. Pequeno, sucinto, mas que pesa uma tonelada. Ele pega no coração e esmaga. Explora sem trégua questões que afetam a todos: a velhice, que sobrevém a todos, as escolhas perdidas, os caminhos não seguidos, a nostalgia… e, para esmagar ainda mais o coração do leitor, conta isto tudo na pele do Cebolinha, agora um homem idoso, avô, olhando para trás na sua vida e lembrando de uma época que se foi, com saudosismo.

    O texto pega por que, além de tudo o que escrevi acima, ainda é espelho do que sentimos hoje: olhando para trás, na época em que líamos os quadrinhos da Turma da Mônica, quando a vida era mais simples e, como o Cebolinha, nossos maiores problemas não passavam de coelhinhos de pelúcia que pesavam uma tonelada.

    Incrível a sacada, incrível a poesia na escrita, tudo está bom demais neste conto.

    “A felicidade é casa de poucos cômodos, o que há de se fazer?”

    Parabéns!

  13. Mariana
    23 de maio de 2025
    Avatar de Mariana

    História – um senhor vai ao shopping comprar um presente para sua neta. Enquanto toma um café, pensa encontrar uma antiga companheira de infância e, a partir daí, entra em devaneios. É um conto muito interessante – a partir de um pequeno recorte, como um encontro em um shopping, há todo um leque de fatos e acontecimentos que estão ali e não precisam ser descritos. A escolha da Turma da Mônica, algo que infelizmente está cada vez mais no saudosismo, foi um tiro de mestre. 2/2

    Técnica – irreprensível. Escrita segura e muito bonita, sem ser piegas. O final, com ele não falando com a senhora, poderia ter caído em um clima de frustração, mas o autor soube deixar um gosto agridoce – 2/2

    Impacto – senti o peso de não ser mais uma garotinha, fiquei saudosa e feliz por tudo o que construí. Baita literatura. 1/1

  14. Kelly Hatanaka
    22 de maio de 2025
    Avatar de Kelly Hatanaka

    Ah, que lindo! Amei esta fanfic da Turma da Mônica.

    De início, achei estranho o questionamento sobre as cores dos cães. “Ora, de que outra cor poderia ser um cão?”. Verde, ué! Ou azul.

    A história foi muito bem pensada, as revelações são disponibilizadas aos poucos e, quando por fim descobrimos quem é o sr. Menezes, o coração fica apertado e a sala é invadida por ninjas descascadores de cebola. Aqui aconteceu isso.

    A verossimilhança da história age como mais um elemento que nos distancia da fantasia da infância e do passado dos personagens, que todos conhecemos. A perda de contato com os velhos amigos, os dias despreocupados de criança que parecem se tornar um filme antigo, algo que aconteceu com outra pessoa. São elementos da vida real que fazem com que sr. Menezes pareça cada vem menos com Cebolinha, até que ele solta um “obligado”.

    O conto está muito bem escrito, com escolhas precisas de palavras, uma narrativa fluida e muito boa de ler. É um conto curto, imagino que tenha ficado bem abaixo do limite máximo de palavras. E isto é bom, porque fiquei com a impressão de que a história ficou do tamanho que tinha que ficar. Mesmo com poucas palavras, contou uma história grande, em que cada elemento foi bem explorado.

    Parabéns e boa sorte no certame!

    Kelly

  15. Priscila Pereira
    20 de maio de 2025
    Avatar de Priscila Pereira

    Olá, Fábio! Tudo bem?

    Temos aqui uma fanfic, com muita fofura, embora o conto não seja de modo algum infantil! Coisa dificílima de fazer!

    O texto é bem melancólico e nostálgico, e muitas pessoas vão se identificar com a premissa. Será que na velhice nos arrependeremos do que deixamos de fazer? E quando a memória começar a escapar, o que será importante para nós?

    Bem, voltando ao conto… Está muito bem escrito no estilo mais puro “aura do Fábio” (certeza que não vou errar dessa vez) só que eu tiraria a última frase, ela é completamente desnecessária. Todo mundo já sacou quem são os personagens, mas suponho que você não quis arriscar que alguém não pegasse a referencia…

    Gostei bastante do conto, com certeza ficará muito bem posicionado.

    Parabéns e boa sorte no desafio!

    Até mais!

  16. andersondopradosilva
    17 de maio de 2025
    Avatar de andersondopradosilva

    Olá, autor.

    Gostei do seu texto.

    Julguei que você apresentou ótimas imagens e construiu muito gradual e competentemente o enredo, entregando um a um os elementos do desfecho, a exemplo daquele cãozinho azul insinuado no primeiro parágrafo.

    Seu texto está bem revisado.

    Se eu fosse colocar alguma ressalva ao seu texto seria o uso de “A ele bastava” iniciando as duas últimas frases, o que tornou o desfecho muito explicativo – não era necessário explicitar quem eram os dois protagonistas, seria plenamente possível dispensar o último parágrafo, a segunda frase iniciada por “A ele bastava”.

    Fiquei impressionado com o quanto você entregou em um texto tão curto.

    Pela brilhante participação no desafio, nota máxima, 5.

    Abraço.

  17. Givago Domingues Thimoti
    14 de maio de 2025
    Avatar de Givago Domingues Thimoti

    A Mulher de Vestido Vermelho:

    Bom dia, boa tarde, boa noite! Como não tem comentários abertos, desejo que tenha sido um desafio proveitoso e que, ao final, você possa tirar ensinamentos e contribuições para a sua escrita. Quanto ao método, escolhi 4 critérios, que avaliei de 1 a 5 (com casas decimais). Além disso, para facilitar a conta, também avaliei a “adequação ao tema”; se for perceptível, a nota para o critério é 5. Caso contrário, 1. A nota final será dada por média aritmética simples entre os 5. No mais, espero que a minha avaliação/ meu comentário contribua para você de alguma forma.

    Boa sorte no desafio!

    Critérios de avaliação:

    • Resumo: 

    Uma fanfic (5) de A Turma da Mônica! Como seria se um reencontro de Cebolinha e Mônica, depois que a vida aconteceu? Bom, de certa forma o conto nos mostra isso. Se o Cebolinha, claro, tivesse ido atrás da Mulher de Vestido Vermelho. 

    • Pontos positivos e negativos: 

    Positivo: preparem seus lenços! Conto bem emocionante, bem feito e bem calculado! Um dos meus favoritos do desafio até aqui.

    Negativo: uma ou outra parte sobra com algumas repetições…

    • Correção gramatical – Texto bem (mau) revisado, com poucos (muitos) erros gramaticais. 5

    Único erro gramatical que percebi:

    “Além de proficiência matemática para fechar as contas do mês, a aposentadoria também trouxera uma aversão completa a relógios e calendários.” => Além DA

    Trabalho muito bem feito, na minha opinião. Parabéns!

    • Estilo de escrita – Avaliação do ritmo, precisão vocabular e eficácia do estilo narrativo. 4,5

    A escrita é simples, mas muito talentosa e robusta. Escrita correta gramaticalmente. A leitura atenta revela uma escolha cuidadosa das palavras.

    De positivo, eu separei alguns trechos que me chamaram a atenção: 

    “Com a paz que só a ausência de alternativas pode trazer, ele aguarda.” 

    “Lembranças sequestram sinapses.”

    De negativo, repetições de palavras e termos. Ah, mas foi uma questão de estilo, etcetera-etcetera e tal? É verdade, isso me ex relevar algumas. Contudo, para mim, sobrou demais aqui:

    Lembranças sequestram sinapses. Houve outra época. Faz tanto tempo que às vezes parece ter sido em outra vida ou em um filme da Sessão da Tarde, mas, sim, houve outra época. Uma época em que alguns trocados para comprar sorvete eram toda fortuna que se precisava. Uma época em que havia tempo para elaborar planos infalíveis para se tornar o rei da rua. Em que sobrava energia para jogar bolinha de gude, ganhar figurinhas no bafo e dar nós em orelhas de bichos de pelúcia.

    • Estrutura e coesão do conto – Organização do conto, fluidez entre as partes e clareza da construção narrativa. 5

    Sinceramente, não há nenhuma ressalva sobre esse tópico. Muito bom, muito bem trabalhado! 

    • Impacto pessoal – capacidade de envolver o leitor e gerar uma experiência memorável: 5

    Puts, esse conto deu um acalento no coração. Claro, a história é, de certa forma, triste. Mas é um conto que afaga a memória afetiva da criança que leu A Turma da Mônica.

    Essa fanfic traz algo real para esse universo. A vida acontece. Por mais infinitas que possam ser as aventuras da Turma, na vida real, um se muda, outro faz um novo grupo de amigos e se bandeia, brigas acontecem… Bom, aqui a vida aconteceu. Os detalhes se perderam. Realmente, são um tanto inúteis. O que importa seria aquele reencontro de antigos melhores amigos de infância. Pena que não aconteceu. Talvez por Cebolinha ter mudado. Será que o pivete Cebolinha não teria motivado o Cebolinha senhor? Enfim, quem sabe numa próxima vida…

    Bom, esse conto me fez relembrar dos meus amigos de infância. Por onde andam, o que fazem, o que pensam…

    Parabéns pelo trabalho singelo!

    PS: um conto tão bom quanto esse merecia uma imagem! Não perdeu pontos por isso, obviamente!

    Nota final: 4,9

  18. Luis Guilherme Banzi Florido
    12 de maio de 2025
    Avatar de Luis Guilherme Banzi Florido

    Boa tarde! (esse conto nao faz parte das minhas leituras obrigatorias)

    Uma fanfic de turma da Monica! Adorei! Nao esperava uma dessas aqui, parece que eles andam meio esquecidos, né? Seu conto traz um pouco essa sensação. A sensação de coisas que eram grandes, importantes, parte da nossa vida, mas ficaram pra tras, e agora estão guardadas num canto da memoria. Eu lia, assinava, amava, colecionava turma da monica quando era criança. Era provavelmente uma das coisas mais importantes da minha vida. Mas agora, quando foi a ultima vez que pensei na turma? O conto traz esse sentimento. A nostalgia, a memoria que aflora no velho Cebola pela vestidinho vermelho. As memorias que isso traz, os “e se?”. Isso me lembra muito o tipo de coisa que o Bapinha escreve, deve ser ele. Lembra muito, inclusive, o conto do desafio nostalgia, sobre o ps1 (ou 2? nao lembro).

    Enfim, um conto curtinho mas muito bem escrito. Com um personagem real, palpavel, que carrega um pouco de cada um de nós. E que me trouxe de volta sentimentos da infancia, de quando eu percorria o Limoeiro junto da turma. Hoje, um cantinho na minha memoria, guardado com muito carinho. Ah, tava esquecendo. Gostei muito da abordagem, aqui. Gostei que voce, ao invés de escreber uma fanfic se passando no universo da turma da monica, pensou numa situação diferente. O futuro do Cebolinha, ele idoso e as possibilidades da vida pós Limoeiro. Abordagem interessante e criativa. Será que o velhote ainda troca o R pelo L? “Estava ótimo, muito obligado.” Que delícia essa frase!

    Obligado pelas lemblanças despeltadas.

    Parabens e boa sorte!

  19. Thiago Amaral
    9 de maio de 2025
    Avatar de Thiago Amaral

    ótimo conto.

    Tem um gosto de crônica, o que poderia causar algumas polêmicas entre os mais apegados ao purismo dos gêneros. Mas pra mim as linhas entre os dois são bastante embaçadas, e não vejo problema em considerar sua história também um conto.

    A história segue um pouco a “fórmula Entrecontos”, que não existe, mas pode-se dizer que é basicamente escrever algo que faz sentido a quase todos os leitores de todas as fases da vida. E aqui funcionou comigo. conseguimos sentir sim a nostalgia do Cebolinha e mergulhar em seus devaneios. Conseguimos nos identificar com ele não querer certificar-se da identidade da mulher de vestido vermelho.

    Além disso, a história não é apenas narrada, mas cada praticamente cada linha possui uma reflexão ou pelo menos uma metáfora interessante. Assim, fica mais gostoso fazer o passeio pelo shopping com o sr. Menezes.

    O que mais gostei, no entanto, foi a sugestão de que talvez as loucuras da turma da Mônica poderiam ser apenas memórias bobas de uma mente que não é mais infantil. Criações ilusórias daquela época em que a realidade era mais flexível, e por isso mais leve. Assim como os outros elementos, esse aqui carrega o tom agridoce da história, sem perder a ternura jamais.

    Bom, eu não vou votar nesse conto, pois é meu concorrente. Mas, se fosse, daria 5.

    Parabéns e boa sorte no desafio.

  20. toniluismc
    5 de maio de 2025
    Avatar de toniluismc

    Comentário Crítico do Conto “A Mulher de Vestido Vermelho (Sr. Menezes)”
    Avaliação por critério: Impacto · Criatividade · Técnica

    📌 IMPACTO: ALTO

    O conto entrega um impacto emocional silencioso, profundo e cumulativo — que não vem por choque ou reviravolta, mas pelo peso das memórias e da melancolia cuidadosamente construída. O personagem é real, cotidiano, humano em sua confusão mental e emocional. A aparição da mulher de vestido vermelho evoca um universo inteiro de possibilidades perdidas, comovendo pela universalidade daquilo que não foi.

    A revelação final, sutil mas eficaz — ao mencionar Mônica e Cebolinha — fecha o texto com chave de ouro. Torna o conto não apenas um exercício de nostalgia pessoal, mas uma homenagem coletiva a uma geração de leitores brasileiros. É um golpe emocional certeiro, mas com doçura. Para quem reconhece os nomes, o impacto é retroativo e reinterpretativo: tudo que parecia sobre um homem qualquer no shopping revela-se um reencontro íntimo com a infância.

    🎨 CRIATIVIDADE: MUITO ALTA

    O conto parte de uma premissa simples e corriqueira — um senhor vagando pelo shopping — e a transforma em um mergulho sensível nas ruínas do tempo, com uma reviravolta afetiva baseada na cultura pop nacional. A sacada de reinterpretar Mônica e Cebolinha como idosos anônimos é ousada e ao mesmo tempo sutil: não há caricatura, nem exploração do nome. Apenas memória.

    A construção do suspense é criativa e elegante: o leitor é instigado a acreditar que algo mais vai acontecer, mas o autor entrega algo melhor — a recusa do reencontro, o silêncio preservado, o amor protegido do desencanto. A criatividade está no que não acontece. No que se evita dizer.

    🛠 TÉCNICA: EXCELENTE

    Pontos fortes:

    • A voz narrativa é refinada, íntima e fluida, misturando terceira pessoa com o fluxo de consciência do protagonista com maestria.
    • A linguagem é madura, precisa, sem excessos nem floreios, com ritmo bem controlado.
    • Os parágrafos estão bem organizados, com transições suaves entre ação, memória e reflexão.
    • O conto domina bem os efeitos de reticência, hesitação e interrupção, emulando o funcionamento da mente de alguém idoso com saudade e medo do passado.
    • Os diálogos internos e externos são naturais e bem dosados, e os detalhes sutis (a língua queimada, o nome confundido do cappuccino, o pires molhado) humanizam o personagem de forma eficiente.

    Ponto a observar:

    • Há um trecho mais denso — o parágrafo em que o Sr. Menezes imagina as conversas possíveis com a mulher — que poderia ser melhor quebrado ou levemente ajustado em ritmo, pois o fluxo longo, apesar de deliberado, pode cansar um pouco o leitor na primeira leitura. Ainda assim, não compromete a força do texto.

    🧾 CONSIDERAÇÕES FINAIS

    “A Mulher de Vestido Vermelho” é um conto maduro, delicado e brilhantemente silencioso. Une melancolia, memória afetiva e uma homenagem cultural com equilíbrio e técnica. Consegue fazer rir com pesar e emocionar com discrição — virtudes raras em qualquer narrativa curta.

  21. Antonio Stegues Batista
    5 de maio de 2025
    Avatar de Antonio Stegues Batista

    O senhor Menezes vai a um shopping comprar presente para a neta e resolve tomar um café. Na cafeteria avista uma mulher que ele julga ser uma amiga de infância. Ele divaga nas lembranças e a mulher acaba indo embora sem que ele saiba se era ela mesmo. O conto conta a história de Cebolinha e Monica já idosos. Achei uma boa ideia, o conto está bem escrito, tem frases elaboradas que torna a leitura fluida, agradável. A princípio não entendi a que tema estava inserido, mas depois de consultar o Google e perguntar o nome do Cebolinha, entendi a parada. Parabéns e boa sorte.

  22. Afonso Luiz Pereira
    5 de maio de 2025
    Avatar de Afonso Luiz Pereira

    Este conto que acabei de ler, assim como o anterior “A Capivara que Sonhava Voar”, me chamou muito a atenção pela escrita cuidadosa e sensível, que carrega tanto o domínio técnico quanto a sutileza emocional. O texto é conduzido com uma prosa fluida, madura, agradável de ler, cheia de detalhes sensoriais e psicológicos que revelam não só o ambiente ao redor, mas principalmente o mundo interior do protagonista.

    Mas o que realmente me impactou neste conto curto foi o paradoxo temático e de gênero: o conto tem, ao mesmo tempo, um pé no universo divertido da Turma da Mônica, tratando-se de uma fanfic em que o sr. Menezes é o Cebolinha envelhecido, já aposentado, e outro pé numa atmosfera melancólica, voltada ao público adulto. A referência a personagens icônicos como Mônica, Cebolinha, Floquinho e o bairro do Limoeiro é usada não para gerar humor ou nostalgia gratuita, mas para contrastar o passado vibrante da infância com a solidão e hesitação da velhice. Coisa que acontece com qualquer um.

    Achei muito criativo o uso literário de uma figura culturalmente infantil em um contexto maduro que empresta ao conto uma camada simbólica poderosa: o que acontece com os personagens quando os leitores crescem, e eles também? A infância que nos formou continua viva, mas talvez apenas como lembrança imaculada, como o vestido vermelho, marca registrada da personagem Mônica, que desaparece na multidão.

    É um texto, vamos dizer assim, bonito e que fala sobre a passagem do tempo, sobre o que deixamos de viver e sobre como, muitas vezes, a ternura das lembranças podem nos acompanhar longe no avanço da idade. Gostei do conto. Muito bom.

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Publicado às 3 de maio de 2025 por em Liga 2025 - 2B, Liga 2025 - Rodada 2 e marcado .