EntreContos

Detox Literário.

A Morte de Mickey Mouse (Gustavo Araujo)

No pequeno museu do parque temático da Meta World, em Orlando, um holograma de Mark Zuckerberg parece conversar com o de Jeff Bezos. Protegida por um grosso vidro, a cena remete a um escritório retrô, com quadros e livros, plantas e projetos, além de posters em que uma versão vintage de um certo Coelho Osvaldo faz selfies sob o logo do Instagram.

“Os gênios de ontem projetando o nosso futuro”, diz o letreiro.

***

Olhou sua imagem no espelho naquela manhã. Estava acostumado a ver seu rosto quase liquefeito depois de uma longa noite de sono, mas havia algo diferente desta vez. Uma penugem branca se insinuava por trás das orelhas redondas.

Mickey riu, um riso que não era exatamente por achar graça, mas um riso nervoso. Como assim, penugem branca? Por acaso estava ficando velho? Impossível. Era um personagem de filmes, animações, histórias em quadrinhos… O tipo de criação que não fica velha. Mas, olhando mais de perto, percebeu pregas na pele, próximas dos olhos ovalados e que, junto à boca, riscos desciam a partir do nariz, marcando a face.  De jeito nenhum, disse assim, para ninguém em especial.

Foi até a sala e apanhou o telefone. Minnie saberia o que dizer. Escutou a chamada, tut-tut-tut, mas nada de resposta. Engraçado… Há dias, na verdade, não conseguia falar com ela. Ligou para o Pateta, também sem sucesso. Mas o que está acontecendo? Caminhou até seu quarto e trocou de roupa — calça azul, camisa vermelha e boné verde, seu conjunto favorito há tempos. Foi até a garagem e entrou no carro, o conversível de que tanto gostava. Quando estava saindo, viu a casinha do cachorro vazia.

― Pluto? Cadê você, rapaz?

Até mesmo o cão amarelo tinha sumido.

Rodou por Ratópolis toda. Não havia ninguém nas ruas. Era como se alguém tivesse passado a borracha em todos os personagens. Seus amigos, seus vizinhos, ninguém por ali… Ninguém! Foi até a delegacia de polícia, mas o Coronel Cintra tampouco estava lá. Nem mesmo o Mancha Negra, que havia sido preso semanas antes por roubar um banco. Balançou a cabeça. O que era aquilo?

Notou um jornal sobre a mesa do Coronel. Na primeira página leu a manchete em letras garrafais: “Meta e Amazon Compram a Disney”. Logo abaixo, em letras menores estava escrito: “Zuckerberg e Bezos adquirem o espólio do antigo império e prometem reformulação completa.” Havia ali uma fotografia enorme de dois sujeitos sorrindo e fazendo um sinal de positivo diante do castelo da Cinderela. Um deles era praticamente um menino, branco que nem leite e cabelos crespos. O outro nem cabelos tinha. Na reportagem que se seguia dava para ler: “parques serão reconstruídos em Los Angeles e em Orlando. Quadrinhos, filmes e animações têm futuro incerto.”

Saiu da delegacia e voltou para o carro. Aquilo era muito grave. Muito grave mesmo. Primeiro, os sinais de que estava ficando velho, depois, a notícia de que ficaria desempregado. Ou algo pior do que isso. Sentiu um calafrio subindo pela espinha. Não, sem chance! Precisava falar com Walt. Isso mesmo. Falar com Walt pessoalmente. Ele saberia o que fazer.

A viagem até a Flórida era longa. Para não chamar muito a atenção dos humanos comuns, Mickey preferiu usar estradas vicinais. Por sorte, carros de desenho animado têm suas vantagens como não precisar de gasolina, além de contar com um porta-malas de onde se desdobra uma barraca imensa para dormir. Apesar de tudo, estava confiante. Walt explicaria tudo. Daria um jeito em tudo.

Já era noite quando se aproximou de Kissimmee, cidade vizinha a Orlando, onde se localizava o principal parque da Disney, o Magic Kingdom. Ele dirigiu até a entrada do grande estacionamento, mas viu-se impedido de prosseguir por causa dos tapumes que cercavam todo o complexo, com avisos para cair fora. Não se parecia nem um pouco com o ambiente de festa que costumava ver na TV ou em filmes.

Não se daria por vencido. Escondeu o carro entre arbustos e apanhou uma lanterna. Conhecia aquele lugar como a palma de sua mão enluvada, já que tinha rodado algumas animações por ali. Embrenhando-se pelo mato circundante, logo chegou a uma região de charco, desembocando em um grande lago. Ali estava! O bote que a equipe de bastidores usava para fugir do trânsito dos turistas!

Sob a lua cheia, deslizou suavemente pela lâmina d’água, os remos fatiando a superfície e desenhando pequenas ondas. Dali conseguia identificar as formas do parque em meio aos andaimes no horizonte. Tudo em silêncio, tudo escuro. Lá estava o castelo da Cinderela. Walt estaria lá? Sim, estaria. Talvez preso… Talvez dormindo…

Chegou a um trapiche isolado e saltou do barco. Subiu por alguns degraus de madeira até encontrar mais tapumes. Agora precisava encontrar uma abertura entre as chapas de ferro. Andou para um lado e depois para o outro, mas nada. Tentou mais uma vez e depois outra, mas aqueles tapumes pareciam infinitos e impossíveis de superar. Sentou-se. Estava cansado. Na verdade, respirar não parecia tão fácil. Fôlego curto, coração acelerado. Os anos se empilhando pesadamente sobre suas costas. Nunca imaginou que passaria por isso.

Inevitavelmente fechou os olhos. Em sua mente, memórias distantes tomaram forma. Viu-se ainda em branco-e-preto, um rato magricela de olhos esbugalhados e pés descalços tentando construir um avião. Depois veio o barco a vapor. Ah, o Willie, com seu imenso timão de madeira que ele adorava girar de um lado a outro para o desespero do João Bafo-de-Onça… Fantasmas. Ele e Minnie num piquenique. Ela vestia um lindo vestidinho florido e ele, o indefectível calção vermelho com grandes botões brancos. Seus olhos, então grandes gotas pretas como carvão, eram cheios de energia. Naquele tempo ele odiava usar camisa. Ah, como era bom ser jovem e inconsequente…

― Mickey?

Alguém chamou. Uma voz esganiçada, o som lembrando uma taquara rachada. Tentou enxergar pela escuridão, mas não viu ninguém. Em seguida perguntou:

― Quem está aí?

― Mickey! Quack! é você mesmo?

― Donald?

― Sim, sou eu! Sou eu! Como adivinhou?

Ligou a lanterna e apontou na direção da voz. Era ele. O Pato Donald. Quer dizer, não parecia ser. Mas era. Estava ali, o mesmo jeito de andar, a mesma roupa azul de marinheiro. Mas o rosto… Ah, o rosto. Também ele havia sido atingido pelo tempo. Estava… Velho.

― Donald! Eu não acredito! Você aqui!

― Que bom encontrar você, Mickey! Eu não sei o que está acontecendo, eu…

― Eu também não sei… Mas acho que o Walt pode ajudar a gente.

― É o que eu acho também. Por isso vim… Todo mundo desapareceu lá de Patópolis. O Tio Patinhas, os meus sobrinhos, até a Margarida!

― A Disney vai desaparecer, Donald. Li isso num jornal. Uns caras compraram tudo. Vão acabar com os parques. Reformular foi o que disseram…

― Quack! Isso não pode acontecer!

― Não vai acontecer. Nós vamos dar um jeito nisso. Que bom que você está aqui! Juntos a gente vai conseguir!

― Você acha que o Walt está preso aí?

― Tenho certeza. Ele jamais deixaria algo assim acontecer. Temos que libertar ele o quanto antes! Vamos!

Tomaram o caminho por onde Donald tinha vindo, analisando os tapumes com atenção redobrada. Sem sucesso. Adiante pararam mais uma vez para recuperar o folego.

― Tenho medo ― disse Donald, a voz baixa denunciando o cansaço.

― Eu também. Não sabemos o que tem aí dentro… Está tudo escuro e…

― Não é isso, Mickey… Tenho medo que a gente acabe que nem a… Como era mesmo o nome dela? Sim, que nem a Betty Boop. Não só ela… O Gato Félix, os Sobrinhos do Capitão…

― Ah, eles… Sim. Ninguém mais sabe quem eles são…

― Foram esquecidos. Para sempre, né?

― Não, Donald! Não vamos ser pessimistas. A gente ainda tem chance de reverter isso tudo! Vamos encontrar o Walt… Vamos libertar o Walt se ele estiver preso. Vamos dar um jeito em tudo. Isso. Um… Um reboot! Uma nova série, novos desenhistas…

― Sim, seria bom ser desenhado de novo, mas não abro mão do meu uniforme!

Retomaram a procura. Lá pelas tantas Donald encontrou uma fresta.

― Mickey, veja!

― Ora essa! Passei por aqui umas trinta vezes e não percebi essa abertura! Bom trabalho, Donald!

Forçando um tanto a placa de metal, conseguiram entrar. Era o antigo setor da Fantasyland do parque. Com a luz fraca da lanterna, perceberam estar em uma área de bastidores, numa espécie de depósito, com muitas caixas e baús.

― Olha o que eu encontrei! ― disse Donald.

― Meu chapéu do Aprendiz de Feiticeiro! Puxa vida!

Mickey ficou tão contente que trocou o boné pelo chapéu azul e pontudo.

― Daquela vez eu aprontei poucas e boas, hein? O feiticeiro ficou furioso comigo!

― Você estava cansado. Quem nunca quis colocar os outros para trabalhar que atire a primeira pedra. Quack!

― Vamos! O castelo é por ali!

Caminharam no escuro, ainda que conseguissem notar as xícaras giratórias e os aviõezinhos do Dumbo. Estavam perto do carrossel e…

― Parados aí mesmo! ― disse uma voz metálica.

Luzes se acenderam ofuscando a visão dos dois.

― Vocês invadiram propriedade privada! Estão presos!

― Quem é você? ― reagiu Donald, a voz aguda como nunca, agitando os braços como quem procura briga.

― Alguém segure esse pato ― disse a voz enquanto a luz diminuía de intensidade. ― Somos androides da Meta. Guardamos este lugar dia e noite para evitar bisbilhoteiros.

― Me solte ― protestou Mickey. ― Quero falar com Walt!

― Quem é Walt? ― perguntou o robô.

― É o dono disso tudo, seu paspalhão! ― disse Donald.

― Sim, ele está no castelo da Cinderela ― completou Mickey. ― Nós vamos falar com ele. Me solte!

― Não tem ninguém no castelo, rato. Walt se foi há muito tempo. Quem manda agora é o Mark e o Jeff ― afirmou o autômato. ― Senhores Zuckerberg e Bezos para vocês, personagens ultrapassados. Huahauahaua!

Encapuzados, foram embarcados em um veículo qualquer, conduzidos por vias que não podiam reconhecer. Meia hora depois pararam. Ainda vendados seguiram caminhando por corredores e escadas indefinidas, até serem separados um do outro.

― Você vai por aqui e você para este outro lado ― disse o robô, a voz sem emoção reverberando no ambiente gélido

― Mickey! ― gritou Donald. ― Quack! Me ajude!

― Não desista! Vamos dar um jeito! Eu…

Caminhando mais um tanto, Mickey foi deixado, enfim, em uma cela.

― Me tire daqui ― gritou na direção do autômato. ― Você não pode fazer isso!

Sozinho, percebeu que era impossível convencer aqueles caras. Mais impossível ainda era fugir. Até havia uma janela em uma das paredes da cela, de onde se percebia a lua, só que ela ficava a mais ou menos sete metros de altura. Impossível alcançar.

Sentou-se. Estava exausto. Não podia deixar-se abater. Mas estava muito, muito cansado.

― Mickey… ― alguém sussurrou. ― Mickey?

― Donald? Onde você está? Não consigo enxergar muita coisa.

― Estou na cela ao lado da sua, acho… Tem uma rachadura aqui na parede…

Mickey sentou-se junto à parede.

― Você está bem?

― Estou acabado, Mickey… Não vou mentir. Muito cansado mesmo.

― Vamos descansar. Amanhã a gente pensa em alguma coisa…

― Tão cansado…

Um manto de silêncio cobriu o local. Mickey fechou os olhos. Não dava para acreditar naquilo tudo.

― Donald?

― Sim…

― Lembra quando você quis participar da banda de música e eu não deixei?

― Claro que me lembro! Você queria reger e eu não parava de tocar aquela flauta, misturando as notas haha

― Eram quantas flautas mesmo? Umas cem?

― Ou mais! Quack!

― O Horácio e a Clarabela estavam tocando tão bem e você simplesmente não parava…

― É que o furacão estava a caminho haha Quack! Quack!

― Hahaha!

Riram um tanto. Era muito bom ter um amigo por perto numa hora como aquela.

Então o silêncio voltou a cair.

― Mickey…

― Sim?

― Quando você encontrar o Walt diga que eu agradeço muito…

― O que está dizendo, amigão? Vamos sair daqui juntos!

― Diga que agradeço por ele ter me escalado para aquele episódio da galinha…

― Donald…

― A Galinha Sábia…

― Donald…

Silêncio.

― Donald, fale comigo.

― Se o Carl estiver por lá também…

Silêncio.

― Donald…

Não houve resposta.

Mickey engoliu em seco, os olhos cheios d’água.

― Vou tirar a gente daqui. Não se preocupe. Eu vou…

Pela janela, no alto, o luar atingiu o chapéu azul que jazia num canto da cela. O chapéu pontudo com desenhos de lua e estrelas que ele havia usado como aprendiz de feiticeiro. Sim, o chapéu!

Vestiu-o sobre a cabeça. Como era mesmo o feitiço? Sim, com as mãos. Como se elas erguessem algo do chão. Uma vassoura… Em algum lugar daquele depósito, daquela prisão em que estavam, deveria haver uma vassoura.

Podia ouvir o clássico de Paul Dukas inundando suas orelhas. As mãos chamando! Venha! Venha! Acordes de violinos, trombones, tubas e trompetes despertando o universo de Fantasia.

Eis que chega a vassoura trazendo dois baldes d’água virando tudo sobre o chão. A marcha solitária e resoluta. Mickey riu. De repente eram duas, dez, vinte vassouras, todas despejando água sobre o piso naquele compasso musical irresistível. Cinquenta, cem, duzentas… Uma tempestade armou-se. Trovões! Chuva intensa! O piso começava a se encher! Água e mais água para todos os lados!

Os androides da Meta tentaram controlar a situação, mas foi impossível para eles. Alguns entraram em curto, outros simplesmente fugiram. Enquanto isso água e mais água enchendo o ambiente, subindo, subindo… Água, trovões, chuva! Chuva! Com a cela inundada, Mickey conseguiu flutuar até a janela no topo da parede e escapar por ali, acessando os telhados.

Donald… Tentou voltar para acudir o amigo, mas o vento era demasiado forte. Tentou de novo. E de novo. Mas a todo momento era soprado na direção contrária.

A lua que se esgueirava por entre nuvens gigantescas não deixava dúvidas: o complexo que um dia fora o Walt Disney World havia sido tomado pelas águas, lembrando agora um gigantesco pântano.

Um rio se formava planície abaixo. Mickey agarrou uma tábua e mergulhou. Nadando na direção do Magic Kingdom, conseguia ver a fúria dos elementos. No olho do furacão, em meio à tempestade de Guilherme Tell, imaginou o som de uma flauta. Imposs… Foi quando viu o Castelo da Cinderela! Sim, o Castelo!

Raios acenderam o céu. Agora era como se Sininho comandasse um show de fogos de artifício. Ele quase podia ouvir “Se Uma Estrela Aparecer”. Ali estava a salvação. Batendo as pernas, nadou com força na direção do castelo. Na direção de Walt! Estava exausto, esgotado. Seus sapatos amarelos, encharcados, pareciam puxá-lo para baixo.

Não posso desistir agora. Não posso. Mas o fôlego é curto, a respiração é difícil. A visão fica turva. Está amanhecendo. Não, não… agora não. Imagens desencontradas lhe cruzam a mente. Pateta, Pluto, Clarabela, Horácio, João Bafo-de-Onça, Coronel Cintra, o Mancha… E Minnie. Minnie… Mesmo engolido por águas revoltas, mesmo sabendo que tudo o que vê é alucinação, Mickey chora.

Um homem desliza um lápis sobre o papel. É um sujeito chamado Ub Iwerks. Com habilidade, ele traça um círculo encimado por outros dois, menores. Depois vêm os olhos pretos e uma expressão esperta, quase marota, na forma de um ratinho com as mãos na cintura. Outro homem surge e sorri. O bigode fino, o rosto simpático. Walt.

Pai.

Mickey quase não percebe quando é pinçado das águas. Semi consciente, sente que alguém o leva no colo, passos firmes e seguros. Então tudo se apaga.

Em algum momento ele desperta. Sente-se bem. Está em um lugar agradável, um campo verde. Percebe então que todos os seus amigos estão ali. Todos. Até Donald. Até o Pateta. Chiquinho e Francisquinho! E o Esquálidus! Minnie, ah, a Minnie está ali também com aquele vestido de flores que ele adora! Não só eles. Também Betty Boop, o Gato Félix e os Sobrinhos do Capitão.

Sem que perceba, alguém se ajoelha a seu lado.

― Walt!

― Sei o que está pensando… Não se preocupe. Ninguém vai esquecer da gente. Vamos viver nem que seja num quadradinho de memória de alguma criança desse mundo. Numa biblioteca velha, no sótão de algum colecionador. Não vamos desaparecer. Ninguém vai.

Para JGC

Sobre Fabio Baptista

Avatar de Desconhecido

23 comentários em “A Morte de Mickey Mouse (Gustavo Araujo)

  1. André Lima
    14 de junho de 2025
    Avatar de André Lima

    Este conto é um show de originalidade. A história nos mergulha em um cenário onde o icônico Mickey Mousese depara com os sinais inconfundíveis do tempo. Os parágrafos iniciais já estabelecem um tom de estranhamento e melancolia. São muitos paralelos, muitas camadas: o ícone que cai no ostracismo, o envelhecimento irreversível, a modernidade passando por cima do passado, tudo isso numa narrativa que reforça a sensação de um mundo que se desfaz ao seu redor.

    O cerne da trama se revela com a notícia chocante da aquisição da Disney por Meta e Amazon, com a promessa de uma “reformulação completa” e um futuro incerto para quadrinhos, filmes e animações. Mark Zuckerberg e Jeff Bezos são retratados como figuras impessoais e dominadoras, aparecendo como hologramas. De novo: muitos paralelos.

    A jornada de Mickey até o Magic Kingdom, agora cercado por tapumes e com “avisos para cair fora”, é uma odisseia cheia de simbolismo. A entrada furtiva no parque abandonado é quase uma descida ao inconsciente, um reencontro com a própria história. O encontro com um Pato Donald igualmente envelhecido e desiludido, que expressa o medo do esquecimento, intensifica a angústia dos personagens e, consequentemente, do leitor.

    O clímax é habilmente construído com a captura dos personagens pelos androides da Meta. A cena, em especial, da “rendição” do Donald é também repleta de simbolismo e carga dramática. A reapropriação do chapéu de Aprendiz de Feiticeiro é um instante de pura magia e resgate de identidade. É a fantasia, a própria essência do personagem, que se manifesta para lutar contra a realidade opressora.

    O final fecha com chave de ouro.

    É uma obra repleta de camadas e simbolismo, com uma poética que se manifesta não na linguagem, mas em toda a construção narrativa. Texto impecável. Parabéns pelo ótimo trabalho!

  2. Alexandre Costa Moraes
    13 de junho de 2025
    Avatar de Alexandre Costa Moraes

    Entrecontista,

    Seu conto tem uma proposta instigante: imaginar um futuro em que ícones pop enfrentam o esquecimento num mundo dominado por grandes corporações (aff… Zuckerberg, Bezos, Musk e cia são anti-heróis desses tempos).

    A ambientação é bem construída e a escrita flui com leveza. Talvez a narrativa poderia se beneficiar de um clímax mais impactante e de um desfecho inesperado, mas eu curti a história. A leitura é agradável e provoca reflexões sobre o poder dos personagens conforme as gerações passam, a nostalgia que carregamos e como até os heróis da nossa infância correm o risco de se tornarem obsoletos.

    A trama é sagaz, entrega o que se propõe e apresenta uma intertextualidade bacana citando diversos personagens e referências (Entrecontista fã da Disney detectado). Curti bastante. Parabéns e boa sorte no desafio!

  3. Pedro Paulo
    13 de junho de 2025
    Avatar de Pedro Paulo

    De uma forma um pouco distorcida, lembrou-me de “Deuses Americanos” e a substituição dos velhos deuses pelos novos. Nesse caso, é a midiática e famosa figura do Mickey perdendo espaço o imperialismo cultural dos tech-bros. Bem, por um lado, é deprimente ver o ratinho famoso lidar com o ostracismo e o confinamento. É uma situação surreal que, tendo Mickey como protagonista, acaba criando uma certa dissonância entre o personagem em si e o tom da história na qual ele está inserido. Além do mais, não fui capaz de partilhar da nostalgia ou do sentimento por tanto não ter uma relação com o rato como também por achar tudo muito dissonante e muito profundamente dramático. Isto é, não consegui comprar muito a ideia ou me conectar com a imagem do personagem em uma cela, para um exemplo.

  4. Givago Domingues Thimoti
    12 de junho de 2025
    Avatar de Givago Domingues Thimoti

    A Morte de Mickey Mouse 

    Da série “fazendo a boa”, vou tentar comentar o máximo de contos da Série A possível, apresentando minhas impressões pessoais sobre o seu conto. A Morte de Mickey Mouse é um conto fanfic, com pitadas de infanto-juvenil, que convida o leitor para imaginar o ratinho mais importante do Mundo Disney numa batalha contra as IAs do Meta de Zuckenberg e Jeff Bezos pela relevância.

    De positivo, achei o conto bem escrito. Cada parágrafo mostra a competência do autor/da autora na arte de escrever. Uma singela homenagem ao final que sempre atiça o lado curioso do leitor.

    De negativo, eu diria que esse conto não me conquistou. Entre relembrar de uma forma lúdica o Mickey Mouse e inserir o desenho dentro das IAs, da obsolescência do antigo em face a chegada do novo, a opção pela segunda me mostrou um tanto enfadonha. O brilho do início do conto se perdeu ao longo do texto. Talvez, por abusar das ações e dos diálogos e não conseguir ambientar o leitor (faltou um pouquinho de requebrado na hora de escrever o desenvolvimento; escrita muito engessada). Uma pena…

    PS: Palavras estrangeiras devem ser escritas em itálico.

  5. Rodrigo Ortiz Vinholo
    12 de junho de 2025
    Avatar de Rodrigo Ortiz Vinholo

    Melancólico e bem rico na mitologia da Disney, um trabalho muito interessante! Gosto do modo como a amarração de referências funciona, caminhando por várias obras e até autores. Os diálogos e parte da ação vão em caminhos muito focados em exposição, e ainda que dê para ficar em dúvida se a escolha foi proposital para referenciar os momentos mais cheios de obviedades de alguns dos quadrinhos e animações, para mim pesou um teco no ritmo e mesmo na qualidade técnica do conto. Ainda assim, uma ótima experiência! Parabéns!

  6. Fabiano Dexter
    11 de junho de 2025
    Avatar de Fabiano Dexter

    História
    Mickey está em apuros e precisa entrar na Disney World para encontrar Walt, seu criador, e ver como pode vencer o avanço da civilização do mal, aqui representadas pela Meta e Amazon, representadas pelos seus fundadores.
    A aventura, ainda que um pouco longa, nos faz passear pela história de Mickey e lembra diversos personagens que fazem parte de sua história.
    Tema
    Fanfic, ao trazer um personagem mais do que conhecido para o nosso mundo.
    Construção
    A escrita do conto está excelente e o conhecimento do autor no tema se destaca nas atitudes e falas dos personagens. É possível ouvir as vozes e ver cada uma das cenas com perfeição.
    Impacto
    Conto lindo e emocionante. Traz a ideia de que para sermos vivos precisamos ser lembrados.

  7. Fabio Baptista
    8 de junho de 2025
    Avatar de Fabio Baptista

    A Disney é adquirida pela Meta e transformada completamente pelos bilionários da vez. Mickey percebe que algo está errado e vai ao encontro de seu criador, para ver o que se passa. Encontra o velho amigo Donald no caminho e juntos encontram Walt, que lhes garante que sempre estarão na memória de alguém e que não vão desaparecer.

    Eu nunca tive um apego emocional com a Disney, nos quadrinhos eu sempre fui mais de… Turma da Mônica. O que mais consumi do estúdio (na época a Marvel ainda não era deles) era o Duck Tales, os caçadores de aventuras, com Tio Patinhas e os sobrinhos do Donald. Tirando isso e alguns videogames, meu contato com os personagens clássicos foi pouco. Tudo isso pra dizer que infelizmente o conto não me trouxe a nostalgia que provavelmente teria trazido se eu tivesse vivido mais desse universo na minha infância.

    Não é por isso, claro, que deixei de gostar do conto. Está escrito com aquela excelência que nós aprendemos a amar e por menos referências que se tenha, os personagens fazem parte do imaginário, de modo que é impossível ler as falas do Mickey e do Donald sem as vozes. características deles, por exemplo. A aventura é gostosa de ler (curiosamente, de todas as obras que têm algo similar no sentido de alguém sair do mundo de fantasia e vir para o mundo real, a primeira que me veio na cabeça quando o Mickey pegou a autoestrada foi Barbie).

    Eu tentei abordar essa questão do esquecimento dos personagens no famigerado conto do Saci Pererê. Aqui, acredito que o autor tenha obtido mais êxito, mas ainda resvalou nos mesmos problemas que eu. Porque, na real, não é por falta ou excesso de técnica ou perícia com as palavra, por uma abordagem mais escrachada ou mais sóbria… é simplesmente porque essa ideia de que não seremos esquecidos não se sustenta ao olhar amargurado da vida adulta. Como o público-alvo é infanto-juvenil, o final esperançoso (olha o finalzinho Disney aí, literalmente dessa vez) é totalmente adequado.

  8. Felipe Lomar
    8 de junho de 2025
    Avatar de Felipe Lomar

    olá

    achei muito criativa a história. Você demonstra um bom conhecimento das animacoes do Mickey Mouse, como Fantasia e as primeiras aparicoes do personagem. Eu diria que essa mescla com o mundo real é uma certa exploração dos limites da fanfic, então não sei se se adequa exatamente ao tema. Mickey e Donald são personagens chubescos? Talvez, mas a situação certamente não é fofa. Bem, a escrita é um pouco simples demais e não tem muito brilhantismo. Pode ser mais elaborada. boa sorte

  9. Mauro Dillmann
    6 de junho de 2025
    Avatar de Mauro Dillmann

    Retiro o que disse sobre a fanfic, pois já foi esclarecido no grupo.

    Parabéns!

  10. Mauro Dillmann
    6 de junho de 2025
    Avatar de Mauro Dillmann

    Um texto bem escrito.

    No entanto, fui perdendo atenção no enredo. Talvez, para mim, o conto esteja prolixo. Algumas passagens bastante adjetivadas me cansam: “Ela vestia um lindo vestidinho florido e ele, o indefectível calção vermelho com grandes botões brancos”.

    Para além de ser o conhecido personagem Mickey, seria fanfic do quê exatamente?

     “Huahauahaua!” – isso parece ir bem numa conversa de whatsapp, mas no texto escrito, acho que perde o tom.

  11. Kelly Hatanaka
    2 de junho de 2025
    Avatar de Kelly Hatanaka

    Uma fanfic de Disney, que contou até com o coelho Osvaldo. Muito bom e comovente.

    Mickey e Donald tentam sobreviver à compra da Disney e à destruição de seu legado. Durante sua trajetória, vão revivendo momentos memoráveis de Fantasia e de outros clássicos da Disney, bem como personagens mais secundários.

    O pós morte revela outros personagens “esquecidos” que, na verdade, nunca serão de fato esquecidos.

    Um conto que parece ter sido escrito por um verdadeiro fã da Disney. Gostei muito.

  12. Bia Machado
    1 de junho de 2025
    Avatar de Bia Machado

    Olá, autor ou autora, tudo bem? Olha, pra mim o que pegou na leitura do seu conto foi a falta de fluidez, no meu caso não foi uma leitura fluída. Não consegui me conectar aos personagens, não me cativaram a ponto de torcer por eles, eu me perguntava quando seria a tal morte anunciada no título. Talvez os diálogos pudessem ser mais elaborados. Outros leitores podem ter se conectado com sua história, mas no meu caso não funcionou e acho que isso é normal. Não vi nenhum problema quanto a coerência ou estrutura, foi mais com a fluidez mesmo e o envolvimento com a trama. Obrigada e desejo sorte no desafio.

  13. claudiaangst
    24 de maio de 2025
    Avatar de claudiaangst

    Olá, autor(a), tudo bem?

    Literatura infanto-juvenil, talvez, mas acho que vai mais para o lado da fanfic. Temos aqui um conto que aborda memórias de um tempo mágico do universo Disney.

    São várias as referências, inclusive de trilha sonora de desenhos animados memoráveis: Tempestade de Guilherme Tell, Se uma estrela aparecer. Para os que, como eu, tiveram sua infância encharcada dessa Fantasia, guiada por Mickey Mouse, fica difícil não se emocionar com este texto.

    No geral, o conto está muito bem escrito. Percebe-se a habilidade do(a) autor(a) com as palavras, por isso só percebi pequenas falhas de revisão:

    • ― Mickey! Quack! é você mesmo? > ― Mickey! Quack! É você mesmo? OU ― Mickey, quack, é você mesmo?
    • Juntos a gente vai conseguir! > Juntos, a gente vai conseguir!
    • recuperar o folego. > recuperar o fôlego

    O enredo apresenta bastante ação e referências bem costuradas, uma saga em busca do não apagamento dos personagens que fizeram a alegria de tantas crianças e acalentaram os sonhos de muitos adultos também.

    O final tem algo de melancólico, mas traz esperança – nossas memórias serão preservadas, de um jeito ou de outro.

    Não sei, mas essa dedicatória no final me pareceu uma espécie de assinatura. Será?

    Parabéns pela participação e boa sorte na classificação.  

  14. Jorge Santos
    20 de maio de 2025
    Avatar de Jorge Santos

    Olá, Gottfredson. Gostei do seu conto. Senti uma profunda ligação, quer aos personagens, que povoaram e enriqueceram a minha infância, quer ao seu significado, o das mudanças provocadas na passagem do tempo, da resiliência das memórias. No fim, é isso que importa, aquilo que retemos quando tudo à nossa volta muda. É um conto rico de sentidos e de fácil conexão. Como único ponto negativo, é a caracterização do Donald, que fala demasiado para quem tem tantos problemas em verbalizar. Obrigado por me fazer viajar a uma parte da minha infância, da qual guardo boas recordações.

    Nota: Só muito tardiamente é que aqui em Portugal os livros da Disney foram traduzidos para o nosso português. Até então, e estamos a falar da quase totalidade da minha infância, só tinha acesso às edições brasileiras da saudosa editora Morumbi, subsidiária da editora Abril.

  15. paulo damin
    15 de maio de 2025
    Avatar de paulo damin

    É um conto policial, de perseguição e fuga, uma aventura que tenta preservar a Disney. Achei curioso que alguém pudesse se importar com o fim disso, mas entendo que deve ter a ver com a infância. Esse conto poderia virar um roteiro de desenho.

    Interessante também que os homens maus, na história, sejam uma evolução da indústria do entretenimento e da comunicação, que o próprio Disney ajudou a criar e fortalecer. Assim, em outro nível de leitura, me pergunto se esse fim não seria apenas uma evolução natural do capitalismo. Os maus da história me parecem herdeiros do seu Walter, herdeiros perfeitamente humanos, que é o que sobrou, desde que o desenho é afogado entre os castelos e os bichinhos falantes.

    Acho que o tom melancólico, embora prevaleça, em breve vai passar. O Mickey vai entrar em domínio público, em algum momento. Ou já entrou? Não vai morrer, vai entrar pra história, aquela coisa.

  16. cyro eduardo fernandes
    12 de maio de 2025
    Avatar de cyro eduardo fernandes

    Texto muito bem escrito. O tom melancólico e a crítica aos superpoderosos dos tempos atuais permeiam todo o conto. O final esperançoso é dos que tem fé.

  17. Antonio Stegues Batista
    12 de maio de 2025
    Avatar de Antonio Stegues Batista

    Resumo do conto: Mickey descobre que está ficando velho, que seus amigos desapareceram e que os Estúdios Disney foi vendido. Ele sai a procura de Walt Disney para que tudo volte ao normal.

    Gostei do enredo, da ideia da escrever um conto com os personagens de nossa infância. Narrativa cheia de ação e suspense, que acaba bem. Ainda bem! Parabéns e boa sorte.

  18. Leandro Vasconcelos
    9 de maio de 2025
    Avatar de Leandro Vasconcelos

    Olá! Achei bem emocionante este escrito – o que o distingue de outros “chubescos” que li no desafio, os quais pecam pela falta de emoção. Este, por outro lado, toca no coração de que quem cresceu sob a influência do mundo criado por Walt Disney, cujo trabalho encantou muitas gerações. Apesar de ser um texto triste, traz uma mensagem otimista: a herança do gênio será conservada.

    A meu ver, essa decadência da empresa e o esquecimento dos clássicos não precisam de um Zuckerberg ou de um Bezos para acontecer, pois já estão acontecendo – tudo hoje se resume a números, vendas, grana etc. Mas aqui sou eu divagando. Vamos ao conto.

    É uma narrativa ágil, simples. Leitura prazerosa. Muita ação direto ao ponto. Creio que, apesar de talvez se direcionar a um público adulto (já que trata dos clássicos da animação), é facilmente digerida por uma criança, o que se adequa bem aos dois temas do certame.

    O ponto mais forte do texto está na carga emocional que ele carrega. O autor consegue gerar empatia, nostalgia e até dor no leitor, ao fazer personagens tão conhecidos se confrontarem com o abandono e a irrelevância. A relação entre Mickey e Donald é especialmente bem construída, equilibrando humor, cumplicidade e tragédia. A cena final — em que Mickey reencontra Walt e compreende que viverão enquanto houver memória — é poderosa, entregando uma mensagem otimista e tocante.

    Confesso que fiquei um tiquinho perdido durante a parte da inundação, tentando entender o que ocorreu. Mas isso talvez seja falha minha, por não conhecer algumas das referências postas no texto.

    Enfim, de todo modo, parabéns ao autor por um texto elegante, criativo e profundamente sensível, que se destaca não apenas pela forma, mas sobretudo pelo conteúdo emocional e simbólico que oferece ao leitor.

  19. toniluismc
    6 de maio de 2025
    Avatar de toniluismc

    AVALIAÇÃO CRÍTICA – CONTO “A Morte de Mickey Mouse”
    ✒️ Por um crítico cansado de fanfics que se esquecem de ser fan… e ficam só na fic.

    📉 PRIMEIRA IMPRESSÃO

    Se o título causou impacto, o conteúdo causou confusão: o que era para ser uma homenagem se transforma numa odisseia distópica de 10 mil palavras, com direito a Zuckerberg, androides da Meta e uma tempestade de vassouras. A ideia era fazer uma fanfic ou uma história fofa, e a escolha foi por uma fanfic de personagens fofos, mas o autor parece amar tanto o Mickey que decide aposentá-lo num furacão de simbolismos e fan service embalado por trilha sonora sinfônica. Um texto que se pretende épico, mas que termina sendo… uma despedida com crise de identidade.

    ✍️ TÉCNICA — Nota: 4.0

    Pontos fortes:

    • Narrativa fluida, com vocabulário acessível e ritmo cinematográfico.
    • Algumas descrições são realmente encantadoras: o lago à noite, o reencontro com Donald, o uso do chapéu de feiticeiro.
    • O texto tem cadência, imagens vívidas e aproveita bem o repertório do leitor que conhece o universo Disney.

    Mas…

    • É longo demais, muito além da paciência de um público infantojuvenil, que seria o suposto alvo dos temas da rodada, mas também adultos que esperam algo mais “agradável”.
    • A técnica peca pelo excesso de referências intertextuais (Meta, Amazon, reboot, distopia corporativa), o que torna a história inacessível para muitos leitores.
    • O autor se perde no tom: em vez de leveza ou humor nostálgico, entrega melancolia corporativa com metáforas forçadas, criando um Frankenstein entre ficção científica, manifesto político e carta de despedida do mundo animado.

    🔎 Resumo técnico: O autor sabe escrever bem, mas parece escrever para si mesmo, ou para outros adultos nostálgicos que querem ver Mickey como símbolo de resistência anticapitalista.

    🎨 CRIATIVIDADE — Nota: 3.2

    Crédito onde é devido:

    • A ideia de tratar o Mickey como uma espécie de personagem obsoleto, ameaçado por megaempresas, é interessante e ambiciosa.
    • A reimaginação dos personagens envelhecidos tem apelo simbólico e potencial poético.
    • O uso de elementos icônicos (o chapéu do feiticeiro, o barco a vapor, os amigos antigos) mostra pesquisa e carinho com o material original.

    Mas…

    • Chamar isso de fanfic da Disney é forçar a barra. Fanfic pressupõe respeito ao tom, ao espírito da obra. Aqui, tudo é desconstruído com tanto peso que a homenagem se transforma em obituário.
    • A criatividade é mais narrativa do que conceitual. Não há invenção de novas possibilidades, apenas uma reescrita sombria do fim de um império midiático, com personagens como peças num tabuleiro distópico.
    • A ideia de envelhecimento e esquecimento já foi explorada antes (Toy Story 3, Encantada, até Ralph Quebra a Internet) — e de maneira mais infantilmente significativa e emocionalmente sincera.

    🔎 Resumo criativo: Uma proposta criativa, mas mal posicionada. Seria um ótimo conto para uma coletânea chamada “O Crepúsculo dos Ícones Pop”. Para literatura juvenil, parece apenas um lamento estendido.

    💥 IMPACTO — Nota: 3.0

    O impacto existe. Só que…

    • É um impacto triste, nostálgico, adulto demais. Resumindo, é CRINGE. O público infantil não vai entender a analogia sobre o domínio das megacorporações, o apagamento de personagens da cultura pop ou o simbolismo do chapéu de feiticeiro como artefato de revolta.
    • O conto parece sofrer de uma crise de mensagem: quer emocionar, mas exagera no tom fúnebre; quer ser poético, mas escorrega na grandiloquência. A cena final tenta ser redentora, mas chega tarde — depois de o leitor já ter passado por uma sessão de distopia, prisão, luto e inundação emocional.
    • O autor tenta amarrar tudo num final feliz “eterno”, mas o efeito é agridoce, cansativo e, para alguns leitores, talvez até irritante. Afinal, depois de 15 páginas, tudo o que Mickey ganha é um campo de memórias junto com Betty Boop?

    🔎 Resumo do impacto: O autor quis que a gente chorasse. Mas o que sentimos foi exaustão emocional e incongruência temática.

    🎯 CONSIDERAÇÕES FINAIS

    “A Morte de Mickey Mouse” é um conto bem escrito e com um bom potencial simbólico — para o leitor adulto nostálgico, que entende o peso da obsolescência cultural e vê a Disney como um império em ruínas. Mas para o público infantojuvenil? Impossível.

    Resumo cruel em uma frase:

    Uma fanfic que se esqueceu da alegria dos desenhos animados e decidiu transformar o Mickey num mártir do capitalismo moderno — com uma lágrima no olho e o chapéu do Merlin na cabeça.

    Se fosse uma animação, seria dirigida pelo Darren Aronofsky, não pela Pixar.

  20. Thiago Amaral
    6 de maio de 2025
    Avatar de Thiago Amaral

    Um conto bastante redondinho. Logo de início o mistério do desaparecimento dos personagens, além da menção a Bezos e Zuckerberg, criam um ar de mistério que nos fazem querer saber o que aconteceu e o que vai acontecer.

    Intrigante também a mistura entre lógica de desenhos e o mundo real, na forma do carro do Mickey. Fiquei pensando como funcionava esse mundo do conto, no fim. Os personagens existem e vivem no nosso mundo, mas os humanos não sabem? Bom, a história não é sobre isso, e maiores explicações não fizeram falta.

    Outro elemento que tocou no cocração foram as várias menções a desenhos clássicos e a criadores consagrados. No meu caso, falar do gato Félix (apesar de eu ter assistido apenas ao remake dos anos 90) e a Carl Banks… Esse conto cairia bem no desafio Nostalgia também, tanto pros leitores quanto à nostalgia dos próprios personagens.

    A história me fez pensar mesmo nas mudanças culturais. Crescemos pensando e nos acostumando nesses gigantes pop, que parecem sobreviver eternamente, apenas mudando de roupagem a cada geração. E têm conseguido. Mas até quando? O final traz aquele sentimento agridoce de ver o mundo que conhecemos morrendo, mas ao mesmo tempo a esperança de que algo daquilo continuará vivo, ecoando nas próximas consciências coletivas…

    A única ressalva, talvez, seja sabermos que Walt jpa morreu faz tempo, e que não é isso que o Mickey vai encontrar lá… além disso, como ele não soube?? De qualquer forma, ficamos ansiosos para descobrir o que ele irá encontrar de fato, e isso é suficiente.

    Mas, concluindo: o que poderia ser apenas uma crítica cínica aos tempos materialistas de hoje acabou sendo uma homenagem fofa e de aquecer o coração (principalmente Mickey ao final, chamando Walt de pai…). Dou meus parabéns à autoria. Falar sobre Mickey e Disney requer um conto e uma escrita grandiosa. E a missão foi cumprida com sucesso.

    Boa sorte no desafio!

  21. Luis Guilherme Banzi Florido
    5 de maio de 2025
    Avatar de Luis Guilherme Banzi Florido

    Boa tarde!

    Um emotiva jornada de Mickey rumo ao esquecimento. Aqui, a morte de Mickey é uma metáfora para isso, o esquecimento ao qual a maioria dos personagens clássicos está fadado. Você nos lembra disso com inserções de velhos personagens dos quais, admito, eu proprio ja tinha me esquecido, como Betty Boop. A tom saudoso e melancolico dá o tom da historia, nos colocando para testemunhar os ultimos dias de Mickey (ja que o titulo nos alerta sobre sua morte). Ou seja, aqui nao se trata de “se” o Mickey vai morrer, mas sim de “como”, “por que” e “e depois?”.

    Imagino, tambem, que essa historia tenha particular importancia para voce, provavelmente se tratando de alguem que cresceu e viveu influenciado(a) pela Disney, e provavelmente voce compartilha essa paixao com alguem, daí a dedicatoria. Sendo honesto, nao tenho um vinculo muito forte com a Disney, nunca fui muito chegado. Claro que isso nao interesse na analise desse conto, to só divagando. Ainda assim, consegui sentir o carinho com que voce retratou os personagens e a tristeza com que lidou com o fim deles.

    A escrita é muito boa, deixando poucos erros ou problemas de revisão. Você escreve muito bem e sabe o que ta fazendo.

    Em relação ao enredo, acho que é o ponto mais fraco do conto, caindo um pouco nos cliches do genero. Achei que o enredo nao consegue acompanhar a força dos personagens e da melancolia que voce construiu aqui, nao sei. Dito isso, o final é bem bom, e me deixou um pouco emocionado, até. Enfim, acho que no geral foi uma historia um pouco cliche, mas como foi construida com paixão e sinceridade, acabou tocando mesmo assim.

    Um bom trabalho, bem escrito e com muita paixao e sentimento. Parabens e boa sorte!

  22. Augusto Quenard
    5 de maio de 2025
    Avatar de Augusto Quenard

    Pô, eu tenho um ranço enorme com o Mickey e a Disney, mas acho que gostei disso. Se eles tivessem essa humildade e ironia, acho que eu pensaria diferente.

    Gostei do texto, ele é muito claro, senti que tem pouca coisa pra cortar, o enredo tem suas peripécias, trabalha com o formato clássico de início meio e fim, tudo direitinho.

    Parabéns, ainda que o assunto pessoalmente não me toque, ficou uma linda história.

  23. Rangel
    4 de maio de 2025
    Avatar de Rangel

    Gottfredson,Sua história desenvolve-se muito bem. Sua ideia é clara e muito bem desenvolvida. A vã busca de Mickey por sobrevivência em um mundo com novos donos traz reflexões importantes.Os diálogos são bem construídos e tom melancólico combina com a história narrada. Os diálogos entre Donald e Mickey estão bem construídos, o diálogo com os robôs da meta já me pegaram um pouquinho, me remetendo mais a Pica-pau ou Scoobydoo “― Alguém segure esse pato ― disse a voz enquanto a luz diminuía de intensidade. ― Somos androides da Meta. Guardamos este lugar dia e noite para evitar bisbilhoteiros.”. Ainda assim não atrapalhou a imersão na narrativa.O desfecho está dentro do esperado. Embora eu meio que acho o tal Disney um tirano do mesmo nível de Besos ou Zuckerberg, ele também tem um lado artista, que me convenceu ali como pai esperançoso.Parabéns!

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Publicado às 3 de maio de 2025 por em Liga 2025 - 2A, Liga 2025 - Rodada 2 e marcado .