Tonica era mesmo especial. Muito esperta e arteira, sempre surgia com uma novidade. Mas não sabia que era bicho, muito menos uma capivara. Aliás nem perdia tempo pensando ser isso ou ser aquilo. Pouco importava. Entendia era de sonhar.
Não se via nem mesmo como um mamífero roedor. Mastigava ruidosamente uma coisinha aqui, outra ali, mas só por distração. Não tinha conhecimento de que “capivara”, em tupi-guarani, significava “comedor de capim”. Talvez se soubesse disso, se enchesse de orgulho por ser um animal tão ecológico, de fato, vegano.
Sendo a caçulinha da família, Tonica não se identificava com os outros membros da manada. Viviam todos reunidos perto da água, chafurdando em banhados, e ela cobiçando o ar.
Gostava do parentesco com as pacas, cutias e preás. E quando soube que aquele bicho fofinho, o porquinho-da-índia, era seu primo, ficou até emocionada.
Alegre e mansa, Tonica podia ser esperta, mas nada antenada com a realidade. Afinal, era uma capivara e não se dava conta disso. E por insistência, teimosia mesmo, alimentava um sonho que mantinha seus olhos no céu.
Olhava os pássaros e já lhe vinha uma certeza. Iria para os ares com as lindas asas que já julgava suas. Elas nasceriam em algum momento, só precisava esperar mais um pouco, só mais um pouquinho.
Dona Tonha, aflita com os delírios da cria, alertava:
— Filha, não teima, você não foi feita para brincar no céu.
A capivarinha fingia escutar com atenção o conselho materno. Já conhecia aquela história de ser de outra espécie, mas aquela era uma lição que não queria aprender de jeito nenhum.
— Você por acaso tem asas?
Tonica, sem argumentos, balançava a pesada cabeça.
— Tem motor de avião?
Em resposta, ela apenas baixava os olhos, sem se atrever a contrariar a mãe.
— Então me diga, filha, como pode sair voando?
Mas o sonho era de Tonica, e só ela poderia entender o que enchia seu peito de alegria ao acordar. A capivara teimosa só queria voar. E para isso acontecer, precisava convencer o céu, e não a mãe.
Lá onde vivia, naquele matagal sem fronteira, quase nunca apareciam aviões, pequenos ou grandes, nem mesmo helicópteros. Era raro se avistar outro risco no céu que não fosse ave ou nuvem de chuva.
Mas Tonica queria mesmo voar. E ela sabia, lá no fundo do seu coração, que quando se acalentava um sonho, tudo era possível. Precisava de um bom plano. Só não sabia como os sonhadores planejavam. Ou não faziam planos e apenas sonhavam?
Tonica era persistente, e aquela teima em fantasiar a enchia de planos, de plumas imaginárias, tantas e tão leves que a deixavam tão fofa quanto o primo porquinho-da-índia.
— Porquinhos-da-índia voam?
— Acho que não. Nunca vi um sair do chão. — respondeu um desorientado preá.
A família de Tonica vivia em grupo, um clã grande e bem organizado, formado por uma dúzia de capivaras. Onze capivaras não sabiam e nem queriam voar. Onze atinavam que eram mesmo capivaras. Só uma entre todas elas parecia não ser capaz de se enxergar como tal. Não queria saber de nada disso. Não, não, não. Essa era Tonica, a capivara não-capivara mais teimosa do mundo.
— Olha lá, no céu, meus companheiros de voo já estão me chamando. Viu só?
— Aquilo é um bando de urubus, estão é buscando carniça para se fartar. — Resmungou um dos mais jovens da manada.
Tonica nem prestou atenção à resposta negativa. Tentou acenar para as aves que davam voltas e voltas, rodeando um terreno próximo. Tudo em vão. Se ao menos já tivesse suas asas, poderia batê-las como saudação.
— Logo, logo, amigos, estarei aí com vocês.
Com o tempo, todos do grupo foram desistindo de apontar a verdade para Tonica. Alguns ficavam com pena, enquanto outros perdiam a paciência com tanta teimosia. Por que Tonica cismava querer o impossível?
O padrinho, Dom Redondo, procurou a todo custo a menina alertar, mas por mais que se esforçasse, descobriu que era inútil tentar tirar de Tonica os devaneios de voar.
— Tem jeito, não, Comadre Tonha, essa menina só sossega se ganhar asas.
E assim, foi. Ou não foi. Porque asas mesmo Tonica não ganhou. Nem viu nascer hélices ou qualquer coisa que a ajudasse a levantar voo rumo à imensidão do firmamento.
Até que um dia, assim mesmo do nada, surgiu no azul do céu, não só o sol, mas algo mais. Não eram nuvens, brancas e fofas feito carneirinhos antes de tosquiar. Nem pássaros em revoada tomando destino para um lugar de clima quente. Nem urubus a espreitar fartas carniças. Nem borboletas valsando entre as flores. Nem outro bicho com asas.
Era outra coisa. Era outra a novidade. Tão colorida, tão leve e desimpedida, que parecia bailar entre os raios do sol. Tinha uma espécie de cauda, longa e fina, quase sem fim. Uma cauda que rastejava no ar, mas não servia para espantar insetos.
A coisa que voava, nem bicho parecia, nem com avião se assemelhava. Tinha uma forma inusitada. Não era redonda, nem quadrada. Também um triângulo não era, não. E o rabo, que rebolava no ar, era todo feito de pedacinhos, alguns amarelos, outros tantos vermelhos.
Uma plumagem bem estranha, nunca vista por aqueles lados. Pena não parecia de jeito algum, mas o que haveria de ser então? Tanta beleza, só de olhar já causava admiração.
Seguia seu caminho celeste como se fosse um catador de ventos. E rodopiava no ar
feito uma bailarina ao ritmo de invisível aragem. Apresentava a coreografia de movimentos perfeitos, indo cada vez mais para o alto e avante, como se o infinito fosse o seu destino.
Não era uma capivara. Não era, não. Também não era Tonica, que cheia de planos e plumas invisíveis ainda não sabia como alcançar o céu. Parecia algo mais leve que o ar. Uma folha fugitiva de uma árvore talvez. Grande e larga para se fazer planar. Mas o formato estranho revelava que folha não era. Pelo menos não uma daquelas que Tonica podia reconhecer.
Era algo além. Alguém que sabia voar como ninguém mais. E se podia voar assim, talvez Tonica o fizesse também.
Tonica pôs-se a correr. Correu, correu, correu muito. Para não perder do olhar aquele voo feliz. Se descobrisse o mistério no ar, haveria de encontrar um jeito de voar.
Subiu nas pedras, escorregando no limo que cobria o caminho. Subiu, subiu o mais alto que pôde. Quase sem fôlego, foi alcançando perigosa elevação.
Dona Tonha, aflita, começou a gritar lá de baixo, querendo pôr juiz em quem já ia longe.
— Menina, desce agora daí ou vou te pegar!
Tonica não quis saber. Não tinha medo dos castigos da mãe, nem mesmo do bicho-papão, que certamente também não sabia voar. Só queria alcançar o voo que tanto a fascinava. O estranho rastro a cortar o céu. Tão leve e frágil que parecia sumir em um piscar de olhos.
E a capivarinha voltou a subir sem se importar com o perigo que poderia surgir. Alcançou o topo de uma colina que nem sabia existir. Ofegante, quis por um instante descansar e acompanhar a exibição sem se esfalfar.
Um grande giro deu aquele pássaro sem asas, uma volta que pareceu encantamento. Os tons de amarelo e vermelho se misturavam ao azul do céu. Que bonito, pensou Tonica. Voar é mesmo muito bonito. A coisa mais linda do mundo.
E do alto onde estava, a pequena capivara olhou para baixo, somente por um momento quis ver o que ali acontecia. E viu sua mãe e todos os outros do grupo, lá longe a clamar. Pareciam ora gritar, ora chorar. Que descesse logo, bem ligeiro, pediam, mas ela nada ouvia.
Tonica encheu-se de confiança, evitando contradições no peito. Ia bem assim, entretida que estava com o voo colorido, um espetáculo todo seu.
De repente, num só repente, sentiu gotas pesadas atravessarem o ar. Breves, tão breves que Tonica mal se deu conta de que era mais uma chuva de verão. Passageira, que enganava com um frescor que logo se desfazia.
Mas os poucos pingos foram suficientes para ela ver algo que a fez tremer. Não podia mesmo acreditar, mas o pássaro sem asas parava de flanar. E punha-se a deslizar, veloz, levando cauda e voo ao que parecia ser um final. Apontando como flecha, para baixo e para o fim, como se uma das asas tivesse sido arrancada. Mas se asas não tinha, como teria aquilo acontecido?
Tonica tratou também de arriar. Foi descendo, sem cuidado qualquer, pedra por pedra.
Deslizando, sem se importar em escorregar na superfície molhada. E só por um milagre, só mesmo assim, escapou de acidente mais grave.
Teimosa, seguia, acompanhando a queda em espiral
— Cuidado, menina, não vá se ferir.
— Tonica, se atente, que essas pedras podem rolar …
— Ai, ai, ai, minha Nossa Senhora dos Roedores, salve minha Tonica.
Eram tantos ruídos, altos e outros abafados, que se confundiam ao balançar dos galhos e ao ruído das águas. Tanto barulho misturado fez Tonica não entender, ou talvez ela não quisesse admitir que a torcida era por ela. Só por ela. E não pelo pássaro sem asas que descia ligeiro, escorregando dos céus feito água perdida entre os dedos das mãos.
Aquela queda parecia muito perigosa, e não haveria de acabar bem.
Tonica sentiu o coração dar pulos de sobressalto, e foi só chegar ao solo e perceber a desgraça acontecida. O pássaro, que nem pássaro era, estava caído, com o corpo rasgado em tiras.
— É só papel! – gritou alguém.
— Não há sangue, não vê?
— Nem vida tem.
E todos se avolumavam em procissão para checar o acontecido. As plumas coloridas rentes ao chão, pareciam feridas enrugadas. As asas molhadas desfaziam-se contra a terra. O pássaro sem plumas ou asas, o peso da chuva não aguentou. E o rasgo no peito fez seu destino ser desfeito.
Era só uma pipa, os outros gritavam. Dessas que meninos soltam ao vento, que vez ou outra se perdem das mãos, em meio à folia.
Uma pipa perdida. Só uma pipa.
Mas Tonica não sabia o que era uma pipa. Para ela, aquele era um pássaro, que mesmo sem asas, havia se atrevido a voar
— Não chore, menina, ela soube cumprir bem sua missão.
Tonica não entendia. Que missão seria aquela que terminava tão triste assim? Voar por segundos e acabar sem valor.
O padrinho quis intervir e escolher outro modo de explicar. Não queria que a capivarinha sofresse pelo papel desmanchado pela chuva e pelo vento.
— Tem sonhos que a gente guarda no peito e sonha todo o tempo.
A afilhada fungava, rejeitando o consolo, que para ela não fazia sentido algum. Era mais um voo frustrado que seus olhos presenciavam.
— Sonho que não se realiza acaba virando esquecimento. – respondeu com tristeza.
Dom Redondo não se deixou vencer. Sonhos eram elementos mágicos e ninguém deveria ser privado deles.
— Também se voa sem se tirar os pés do chão.
Tonica olhou para o padrinho e não reconheceu sua sabedoria naquelas palavras.
— Como assim?
O líder do grupo aproximou-se e completou o esclarecimento:
— Sonhar nunca paralisou ninguém. Se você acredita nos seus sonhos, eles te levam a voar, a voar cada vez mais alto.
Tonica foi parando de chorar e fungar, achando algum significado em tudo o que ouvia. Fazia sim sentido, mas ainda assim o medo parecia desafiar seu maior sonho. Ainda queria voar? Não sabia mais.
— Não quero acabar moída e sem vida como a ave que caiu. — Declarou contrariada.
Dona Tonha lançou para a herdeira o olhar mais doce que podia. Era tanto amor que suas palavras soaram como bendita profecia.
— Só tem uma maneira de realizar o seu sonho, Tonica.
— Qual, mamãe? — perguntou lançando um olhar triste para os destroços da pipa espalhados pela terra.
— Abra as asas da imaginação e levante voo. Voe, minha filha, voe.
Uma breve pausa fez tudo se encaixar. Tonica então entendeu. Havia outras formas de se mover no ar mesmo sem asas. Não precisava planar feito ave ou borboleta para sentir o vento a acariciar. Bastava fechar os olhos e deixar o sonho adentrar.
Aprendia agora a ir muito além dos pássaros e nuvens, sem rasgos ou chuvas temer. Voaria sempre que quisesse e ninguém a impediria de sonhar.
Não era pipa, nem papagaio de ripa. Era Tonica e já sabia voar.
Oi!
Fiquei encantada com a delicadeza simbólica do seu texto: uma capivara que imagina voar, e com isso revela muito mais sobre os limites que nos cercam.
A leveza da narrativa — quase fábula — me trouxe uma sensação de infância e impossibilidade doce. O contraste entre o corpo pesado e o desejo de leveza deu ao texto um lirismo simples e poderoso.
Uma leitura que faz voar pelo abismo do imaginário. Muito bem feito!
O ponto forte desse conto é a maneira como a pipa é apresentada sem ser nomeada, de modo que o leitor sente o mesmo estranhamento da personagem quando vê o objeto. É um texto delicado e bem condizente com o gênero.
O que não gostei foi de umas informações deslocadas que, creio, sairiam com cortes que visem deixar o conto mais curto e coeso. Por exemplo: informação etimológica de capivara e referência ao veganismo no segundo parágrafo; as rimas no parágrafo que começa em “E a capivarinha voltou a subir” não fazem muito sentido em um texto que não tinha rima nenhuma, ainda mais rimas com infinitivos; finalmente, o uso de verbos depois do substantivo, que é artificial. Essas construções aparecem em momentos mais melosos, com valores autoajuda, e acabaram me incomodando.
Mas são só ruídos para o meu ponto de vista. No mais, é um conto bom, principalmente diante de uma rodada que, sinceramente, não gerou bons textos. Este conto é delicado e agradavelmente leve.
Um dos textos com a linguagem mais bonita do desafio.
Somos apresentados a uma capivara que tenta alcançar um sonho impossível e, no fim, descobre que só pode realizar o sonho na sua imaginação e que isso, talvez, seja o bastante.
É definitivamente um texto Chubesco e bem escrito, mas sinto que a narrativa se arrastou mais do que o necessário, com uma repetição temática que, embora agradável, não avança a história e acaba se tornando um pouco cansativo na meiuca.
nesse sentido, é um texto que ganhariam ao ser encurtado, não por ser ruim, mas porque passa boa parte do tempo reforçando a mesma coisa. Ou poderia ser um pouco reescrito para dar uma sensação maior de movimento da narrativa em algum momento ali pelo final da primeira e início da segunda parte da história.
De todo modo, um texto agrada bastante pela invejável linguagem utilizada.
Achei o conto muito bem escrito. A prosa é envolvente e a história cativa fácil. Dá para imaginar fácil a capivara alimentando seus sonhos de Ícaro. Como conto infantil (chubesco) que é, o texto é de fácil identificação para a criançada. Que pequeno serumaninho nunca se imaginou voando? Como plus, há certa poesia nas entrelinhas e, nesse quesito, mesmo os adultos acabam vítimas do encanto.
Se posso criticar alguma coisa é a extensão do conto. Acredito que ficou um tanto longo. Esse encantamento a que me referi pode ser obtido ou até melhorado num texto mais enxuto. No início, por exemplo, há muitos parágrafos que reforçam o desejo de Tonica voar. Também são repetitivas as descrições sobre a caçada à pipa. Enfim, não quero me alongar, acredito que você, prezado(a) autor(a) captou minha impressão. De qualquer forma, o resultado da leitura, ao menos para mim, foi muito bom. É um conto que se destaca dos demais e que certamente fará sucesso com quem tem menos de dez anos. Parabéns e boa sorte no desafio.
Olá, Kapi!
Um conto bonito, com uma história agradável e que leva como protagonista Tonica, uma capivara, um animal que se transformou, graças à internet, no novo queridinho dos internautas, elevado a bicho fofo, como um urso panda, ou o coala. Não à toa a capivara também está presente, com papel relevante, na última animação vencedora do Oscar, Flow, pois é um bichinho deveras carismático. E, tendo dito isso, quero dizer que desta vez assumi uma organização mais metódica em meus comentários, para tentar ser mais ágil, prático e justo com os participantes.
Técnica – Aqui acho que temos o conto que mais fugiu da estrutura tradicional ao tentar acrescentar um pouco de poesia em sua elaboração. Não é muito, mas é perceptível. Essa rima, se é que foi proposital, e acredito que sim, dá à leitura uma musicalidade agradável. E fico feliz que tenha sido, como falei antes, apenas um pouco. Num texto que ultrapassou suas duas mil palavras, se esse recurso foi constante, teria se tornado cansativo. Nesse aspecto achei que foi muito equilibrado. Os diálogos, num texto que normalmente seria mais focado numa narração em cima da personagem principal, também ajudaram a deixar o ritmo bem mais ágil, diluindo um pouco a mancha no papel. Há alguma revisão a ser feita, entretanto. Há uma frase sem ponto final, por exemplo (Teimosa, seguia, acompanhando a queda em espiral), falta de vírgula (Talvez se soubesse disso,) e um parágrafo cortado ao meio, que entendo ser um erro de formatação que, mesmo assim, entra na área da revisão.
Enredo – Há algo de muito simples e muito leve no conto. A capivara Tonica, sonhadora, quer voar e, alheia à sua incapacidade, esperar o dia que lhe venham meios. Embora muito bem escrito, o enredo é bastante simples e curto, desenvolvido em um texto que se alonga além do necessário. Grande parte da primeira metade do texto se concentra em estabelecer a premissa, quase que tentando convencer o leitor de um argumento que já foi vendido nos seis primeiros parágrafos. Há algum mérito aí, pois esse alongamento é feito com um texto bem elaborado e bonito. Mas a falta de propósito não passa despercebida. Acho que faltou algo.
Tema – Neste aspecto, desta vez, decidi ser bastante rígido no que diz respeito ao respeito ao que foi proposto. Entendo que os temas são um tanto quanto diferentes do usual, mas essa foi a proposta do EntreContos e acho que nós, autores, deveríamos honrá-la com textos que a atendessem da melhor forma possível. E, acredito, o tema aqui é bem claro dentro do que o portal chamou de chubesco. Embora alguns termos sejam bastante difícil até mesmo para um leitor adulto, e o conto vá para o lado mais infantil, o público alvo é o leitor do EC, então acho que está tudo OK.
Impacto – Escrevo esse item do meu comentário alguns dias após ter lido o conto, para medir a forma como reagi ao texto e como ele me afetou. Acho que se a experiência foi boa, se o enredo me provocou, me fez pensar sobre o assunto, ou se há algo extremamente particular, mesmo que ruim, o conto reaparece em minha cabeça e penso sobre ele depois. E acho que pouco do conto conseguiu isso. E o que conseguiu foi de forma negativa, pois o que me veio à cabeça depois foi justamente o que comentei sobre a falta de propósito de alguns aspectos do enredo. Tonica poderia mais, sabe? Algo como um Tom Sawyer, pois a descrição dela, de ser sonhadora, poderia leva-la a pelo menos uma pequena aventura anterior à subida do morro para encontrar a pipa. Então acho que faltou um pouco disso, ação, aventura, curiosidade. O conto ficou muito na contemplação e reflexão, e deixou o enredo muito sustentado nisso.
Acho que no geral, o conto é sim, agradável. Mas peca no que expus antes. Tem algumas construções bonitas, e que vai achar público certo aqui no EC. Mas, pra mim, frases tão bonitas como as que tem aqui, num texto que não me convenceu totalmente, é muito frustrante, porque ele poderia facilmente ser o melhor conto do desafio. Faltou ousadia.
Bom, é isso. Boa sorte no desafio!
Olá! Tentando simplificar, estarei separando meus comentários em “forma” e “conteúdo”, podendo adicionar um terceiro tópico para eventuais observações que eu não enquadre em um ou outro.
FORMA: Soube escrever de modo a atribuir verossimilhança à narrativa, criando toda uma cultura àquele clã de capivaras em que vivia Tonica. Da mesma forma, a maneira de pensar da protagonista fica bem representada, entre o sonho, a teimosia e a ingenuidade, com uma boa construção vocabular que fortalece a fábula e seus personagens.
CONTEÚDO: É uma história singela que executa muito bem o tropo comum da criança sonhadora que é inconsolável perante as limitações da realidade. Certamente, apelará a muitos escritores. A escolha da Capivara e da vida selvagem como protagonista e ambiente foi boa, vestindo de originalidade essa premissa já tão conhecida e vivida por muitos. Por mais previsível que seja, é uma história charmosa e poderosa em sua lição de amadurecimento e autenticidade.
📜 TRAMA (⭐⭐⭐▫▫)
Pontos Fortes:
Pontos de Melhoria:
📝 TÉCNICA (⭐⭐⭐▫▫)
Excelência Narrativa:
Sugestões:
🎯 TEMA (⭐⭐)
💡 CRIATIVIDADE (⭐⭐▫)
Destaques:
Oportunidade Perdida:
🎭 IMPACTO (⭐⭐⭐▫▫)
Por Que Funcionou:
Faltou Impacto:
Conto que cumpre seu propósito como narrativa infantil, com momentos de genuína poesia e uma mensagem valiosa. A avaliação acima reflete o equilíbrio entre potencial e execução – uma história adorável que poderia brilhar mais com ajustes de ritmo e aprofundamento emocional. Ideal para publicação ilustrada.
Oi, tudo bem?
O começo do conto pra mim foi a melhor parte. Descreveu muito bem a personalidade da Tonica, e o jeito diferente dela ver as coisas. Me divertiram as comparações dela com seus parentes e outros bichos. É uma personagem com bastante potencial, tanto por seu sonho como por ser uma capivara, criatura tão diferente (mas que está ficando popular no imaginário da internet).
A trama da pipa chega para dar uma emoção e uma direção à história. Fiquei o conto inteiro pensando se ela realizaria seu sonho de alguma maneira, tanto se amarrando num balão ou asa delta, ou se eu seria surpreendido de alguma forma. Ou se, talvez, ela se contentaria afinal em ser uma ótima nadadora, o que também é bacana. No fim, infelizmente, achei o significado um pouco batido e sem surpresas.
Mas tudo bem, essa é a percepção de um adulto exigente. Tenho certeza que seria um ótimo conto para crianças.
Obrigado e boa sorte no desafio.
Belo conto, bem escrito. Tem o mérito de prender a atenção e levar ao extremo o conceito de “fofura”, sem contudo causar enjoo.
A Capivara que Sonhava Voar (Kapi Asas)
Segue a minha análise, conforme método próprio e definido para este desafio:
CONCEITO: o conto parte do pressuposto que uma história infantil é também chubesco; como o conceito ficou amplo, vou considerar que a capivara, em si, é um ser chubesco por natureza. A narrativa se desenvolve ao redor dela, e trata de temas universais como desejos e aspirações, incentivo, dificuldades e impossibilidades da vida. Gostei.
DESENVOLVIMENTO: a narrativa é fluida, mesmo para crianças, e apresenta fatos filosóficos da vida sem didatismo ou moralismo, ainda que com uma ponta de inocência que eu, confesso, já perdi há muito tempo.
RESULTADO: o resultado é muito bom, e não é por eu ser um ser meio cansado e amargurado que eu vou negar a eficácia do trabalho do colega. Parabéns!
História: Uma capivara alimenta o sonho de voar, descobre o que são pipas e, no final, entende que pode voar através da imaginação. Eu gostei, estava uma história bonita sobre sonhos, crescimento e aprender a lidar com frustrações. No entanto, o final me soou apressado e um tanto panfletário, como se o autor tivesse atalhado as coisas para não ultrapassar o limite de palavras 1,2/2
Escrita: O autor sabe escrever muito bem a escrita poética e bonitinha, necessária para este tipo de história (atendendo ao tema do desafio). Até o final, não me soou piegas, o que é difícil por não gostar deste gênero. Gostei muito da frase “Sonho que não se realiza acaba virando esquecimento” 2/2
Impacto: Estava gostando muito, mas o final deu aquela frustrada. O autor pode voltar e escrever com mais calma depois, expandir as aventuras da Tonica 0,5/1
Oi, Bem?
Fofinho o seu conto. Tem uma linguagem bem de fábula infantil, com uma personagem típica.
Eu li seu texto com muitos déjà-vus. Eu já vi muitas histórias parecidas; se não vi, sei que elas existem. O texto tem aquela previsibilidade típica de uma história infantil, com moral da história e afins.
Não é um texto que arrebata, ainda mais eu, no meu mais alto nível de chatice, mas cumpre o propósito e é muito eficaz nisso. Chubesco.
Talvez se demore demais na conclusão, que já sabemos qual vai ser.
No mais, um ótimo texto dentro da proposta do desafio.
Parabéns. Boa sorte no desafio.
A história de Tonica, a capivara rebelde que não aceitava o fato de não ser um pássaro, e sonhava em voar. Uma história bonita, escrita com ternura, e inspiradora, como um bom conto infantil deve ser. A estrutura do conto está perfeita: de um início introdutório, para um segundo ato avançando na fábula e construindo o conflito de Tonia com as palavras sábias da sua família, para uma conclusão espetacular, e que faz o leitor pensar.
Gostei que o conto não é irresponsável: não é daqueles que fala que “todos podem qualquer coisa”, o que, para mim, nunca foi bom conselho. Pelo contrário: ele mostra que alguns sonhos são absurdos por si só, mas que podem ser adaptados para tornarem-se algo belo, nem que seja apenas na imaginação de quem o sonhou. Para voar, não é necessário sair do chão. Sensacional.
A escrita é muito bela, cheia de poesia e muito bem executada. Parabéns!
Difícil pensar em algo mais fofo que uma capivara. Já acertou muito na escolha do protagonista.
Tonica é uma personagem carismática. Seu sonho de voar é singelo e também algo com que quase todos podem se identificar. Afinal, quem não tem um sonho impossível? O leitor segue, torcendo pela simpática capivarinha, meio tristes por saber que seu sonho é impossível. Cheguei a torcer pela chegada de algum balonista que a levasse para um passeio.
Os demais personagens, adultos, atuam como a voz da razão e da experiência. Aí, corre-se um risco. Aliás, um risco na minha opinião, pensando no meu gosto como leitora. O que, no caso, nem sei se tem alguma validade, afinal, o público alvo é o público infantil e esse risco a que me refiro só deve incomodar mesmo os adultos chatos, como eu. O risco é cair na lição de moral. Acho que é uma tendência dos contos infantis, do qual é muito difícil evitar.
Pensando nas minhas histórias infantis favoritas, como o Pequeno Principe e a coleção das casinhas, da Laura Ingalls Wilder, há sempre uma lição de moral, a gente não escapa disso. Mas as lições são dadas pela vida, pelas circunstancias que se apresentam e pelas dores e dificuldades e os personagens crescem à medida que “sofrem”.
Se eu fosse apontar um mínimo defeito no seu conto, seria este risco: de as explicações serem entregues pelos adultos. No mais, fora este detalhe, fruto da chatice desta leitora adulta e, porque não dizer, semivelha, seu conto é muito lindo e bem conduzido. A escrita, bela, com frases memoráveis, pega o leitor pela mão (no caso, pela mãozinha) e leva até o final feliz e satisfatório.
Parabéns e boa sorte no certame!
Kelly
A Capivara que ousava sonhar (KAPI ASAS)
Bom dia, boa tarde, boa noite! Como não tem comentários abertos, desejo que tenha sido um desafio proveitoso e que, ao final, você possa tirar ensinamentos e contribuições para a sua escrita. Quanto ao método, escolhi 4 critérios, que avaliei de 1 a 5 (com casas decimais). Além disso, para facilitar a conta, também avaliei a “adequação ao tema”; se for perceptível, a nota para o critério é 5. Caso contrário, 1. A nota final será dada por média aritmética simples entre os 5. No mais, espero que a minha avaliação/ meu comentário contribua para você de alguma forma.
Boa sorte no desafio!
Critérios de avaliação:
A Capivara que Queria Voar é um cara mto infantil (5!) nos apresenta a história de Tonica, uma capivara que sonhava com os céus. Um belo conto infantil sobre sonhar. Claro, nessa matéria, as crianças são mestres. E que lição restou aos adultos?
Como dizia o Milton Nascimento:
Pois não posso, não devo, não quero
Viver como toda essa gente insiste em viver
E não posso aceitar sossegado
Qualquer sacanagem ser coisa normal
Bola de meia, bola de gude
O solidário não quer solidão
Toda vez que a tristeza me alcança
O menino me dá a mão
Há um menino, há um moleque
Morando sempre no meu coração
Toda vez que o adulto balança
Ele vem pra me dar a mão
Positivo: esse é um autêntico conto infantil. Bem escrito e bem lúdico. Se minha namorada ainda trabalhasse em escola infantil, eu mandaria esse conto pra ela ler para os meninos dela
Negativo: eu tive a sensação que o conto se esticou só um pouquinho assim 👌🏽
Bom, o conto é irretocável. Amém! Um conto extremamente bem escrito e revisado!
Seguramente, esse conto tem o melhor estilo de escrita da série B. É completamente adequado ao que gênero infantil pede! É uma escrita simples, lúdica, que brinca com as ideias, com as palavras e, sobretudo, com a curiosidade de quem lê. A história de Tonica, a capivara que queria sonhar, foi capaz de, em alguns lampejos, aguçar o instinto da criança que habita em mim.
Mas Tonica queria mesmo voar. E ela sabia, lá no fundo do seu coração, que quando se acalentava um sonho, tudo era possível. Precisava de um bom plano. Só não sabia como os sonhadores planejavam. Ou não faziam planos e apenas sonhavam?
Até que um dia, assim mesmo do nada, surgiu no azul do céu, não só o sol, mas algo mais. Não eram nuvens, brancas e fofas feito carneirinhos antes de tosquiar. Nem pássaros em revoada tomando destino para um lugar de clima quente. Nem urubus a espreitar fartas carniças. Nem borboletas valsando entre as flores. Nem outro bicho com asas.
Era outra coisa. Era outra a novidade. Tão colorida, tão leve e desimpedida, que parecia bailar entre os raios do sol. Tinha uma espécie de cauda, longa e fina, quase sem fim. Uma cauda que rastejava no ar, mas não servia para espantar insetos.
Ainda bem que esse conto está recheado desses trechos.
Esse será um daqueles contos que vou guardar para, quem sabe um dia, usar de inspiração para escrever um conto infantil!
Parabéns!
Conto bem estruturado, bem desenvolvido, claro e fluido! Quase irretocável. Minha sensação é que o conto passou uns 3 minutos dentro do forno.
Esse conto me causou uma sensação diferente, um tanto rara. Vontade de ser criança de novo, para ouvir sobre a história da capivara que queria voar. Dizem que as crianças que fomos estão guardadas dentro de nós. E a minha conseguiu, em alguns trechos, voltar a essa superfície cascudinha para ler uma história antes de dormir.
Se me permite, um último elogio: uma pena que minha namorada foi demitida do colégio que ela trabalhava. Esse seria o conto que eu mandaria para ela ler para os meninos cá dela.
Parabéns pelo trabalho!
Nota final: 4,9
Olá, Kapi! Tudo bem?
Seu conto é muito poético, lúdico e muito lindo. Cheio de ótimas frases e evoca imagens muito bonitas, parabéns!
Da pra ver o esmero com a escrita, cada frase muito bem lapidada e a “mensagem” do conto é muito boa e não está forçada. Mas… sempre tem, né… achei o texto muito longo para uma história infantil e imagino que os adultos irão apreciar muito mais a beleza do texto e do estilo.
O texto é de muita qualidade literária. o que achei que estava faltando em alguns infantis, mas em alguns momentos eu imaginava quanto ainda faltaria para terminar….
No mais é um ótimo conto, um de meus preferidos.
Parabéns pelo conto e boa sorte no desafio!
Leria para minha filha? Claro! ❤
Até mais!
Olá, autor.
Gostei do seu conto.
Pontuo que nenhum animal se torna menos ecológico por ser carnívoro.
Dois pontos funcionariam melhor em “Olhava os pássaros e já lhe vinha uma certeza: iria para os ares”.
“Pra” funciona melhor em diálogos e textos informais do que “para”, como em “- Aquilo é um bando de urubus, estão é buscando carniça para se fartar”.
Sobrou uma vírgula em “A coisa que voava, nem bicho parecia”.
Sobrou parágrafo em “E rodopiava no ar feito uma bailarina”.
Sobrou um ponto em “correu muito. Para não perder do olhar aquele voo feliz”.
Faltou “o” e “juízo”.
Achei estranha a ideia de “pulos de sobressalto”. Talvez o melhor fosse “pulos, sobressaltada”.
Sobrou uma vírgula em “as plumas coloridas rente ao chão, pareciam”.
Enfim, gostei do seu conto, mas gostaria de ter gostado mais. Por isso, nota 4.
Abraço.
Boa tarde! (esse conto não é leitura obrigatoria pra mim)
Um conto que se encaixa perfeitamente à categoria infantil. Melhor que o meu, inclusive. Aliás, eu diria que, de todos que li ate agora (series a e c inteiras), esse é o que melhor atende às necessidades de um conto infantil. É simples, direto, ludico, ensina algo de valor, fala a linguagem das crianças, não tem linguagem complexa ou rebuscada, utiliza elementos familiares às crianças, num formato parabola. Isso tudo me sugere que voce é experiente no genero.
Dito isso, como conto em si, acho que tem pontos fortes e fracos. Gosto da curva da personagem, especialmente o desfecho, onde voce entrega a mensagem sobre a importancia dos sonhos e nao se limitar às nossas condições atuais.
Por outro lado, achei a execução do conto um pouco cansativa. Acho que o conto é longo demais pra contar o que se propoe. Fiquei com a impressao de que a mesma historia poderia ser contada com uns 50 ou 60 % das palavras usadas, reduzindo o tamanho e melhorando a fluidez, deixando mais dinamico, sabe? Acho que muitos conceitos e ideias sao repetidos demais, tornando tudo excessivamente didativo e explicado. Alem disso, algumas palavras são repetidas tantas vezes que começam a incomodar, e olha que eu nem sou alguem que se importa muito com repetição de palavras. Mesmo assim, “voar” começou a cançar depois de algum tempo. Acho que um conto mais curto e dinamico ajudaria a evitar isso.
Quanto à técnica e linguagem, tá tudo legal. Tirando os pontos que mencionei acima, achei o conto muito bem escrito, bem revisado (com algumas exceções, por exemplo, voce pula uma linha de repente em algum lugar e quebra a frase)l com uma linguagem totalmente adequada ao publico, o que é um ponto muito positivo.
Enfim, um bom conto infantil, com uma boa moral e bons personagens, didatico sem deixar de ser divertido, mas que achei que pecou um pouco na execução e ganharia com um ritmo mais dinamico e um conto mais curto.
Parabens e boa sorte!
Comentário Crítico do Conto “A Capivara que Sonhava Voar (Kapi Asas)”
Avaliação por critério: Impacto · Criatividade · Técnica
📌 IMPACTO: ALTO
O conto provoca um impacto emocional consistente, principalmente ao explorar o contraste entre o sonho e a frustração, culminando numa catarse delicada. A queda da pipa — confundida com um ser alado — funciona como metáfora potente da morte de um ideal, da quebra da inocência ou da primeira decepção real. É comovente e gera identificação imediata com leitores de todas as idades, especialmente os que já foram “Tonica” um dia.
A cena final, com a mãe incentivando a filha a abrir “as asas da imaginação”, é eficaz sem ser piegas. Fecha a narrativa com sensibilidade e propósito, oferecendo um consolo simbólico que resgata a esperança após a dor. Essa transição emocional é bem construída e causa impacto duradouro, especialmente em leitores atentos à linguagem figurada.
🎨 CRIATIVIDADE: MUITO ALTA
O uso de uma capivara como protagonista de um Bildungsroman alegórico é original e eficaz. A escolha do animal foge do óbvio e carrega uma brasilidade afetiva que fortalece a identidade do conto. A construção do universo de Tonica mistura inocência, humor sutil e poesia com naturalidade.
A confusão entre pipa e pássaro é uma solução narrativa simples, mas surpreendente e poética — um toque de genialidade simbólica. A metáfora do voo é explorada com camadas: literal, emocional e filosófica. Isso eleva o texto além da fábula infantil convencional.
Outro ponto criativo: o nome Kapi Asas no título reforça o jogo entre o tupi e o desejo da personagem, criando uma ponte cultural interessante, ainda que sutil.
🛠 TÉCNICA: BOA, COM ALGUNS AJUSTES POSSÍVEIS
Pontos fortes:
Pontos a melhorar:
🧾 CONSIDERAÇÕES FINAIS
“A Capivara que Sonhava Voar” é um conto poético, sensível e espirituoso, com potencial para agradar tanto leitores infantis quanto adultos — especialmente os que reconhecem a beleza de sonhar contra todas as evidências. Tem força literária, metáfora bem trabalhada e uma brasilidade carismática que o diferencia.
Oi, Kapi. Em primeiro lugar, parabéns: gostei demais do seu conto! Uma leitura extremamente agradável, com uma linguagem fluida, carismática, sensível, adequada ao público infantil ou infantojuvenil — e, ao mesmo tempo, cheia de camadas que leitores adultos também podem saborear. Você, posso estar enganado, está muito à vontade no gênero, com um domínio de ritmo e tom narrativo que me deu a sensação de estar lendo alguém com bastante experiência na área.
A protagonista, Tonica, é um achado. Uma personalidade sonhadora, teimosa e adorável, que sustenta a narrativa com leveza, mas também com profundidade. A ideia de uma capivarinha que quer voar funciona muito bem e busca trazer a superação de limites, reais ou simbólicos.
Gostei muito também da construção do universo animal: o uso do ponto de vista de Tonica para refletir sobre identidade, pertencimento e diferença é inteligente e sutil. Se eu fosse destacar um aspecto técnico notável, seria a coerência do estilo: há uma harmonia entre forma e conteúdo, e o texto sabe exatamente como dosar humor, emoção, lirismo. Muito bom.
Por fim, repito algo que já disse: se esse tipo de escrita não está dentro da sua zona de conforto, deveria estar. Você parece dominar as ferramentas do gênero e consegue criar um enredo sem apelar e divertir com leveza. Bravo!
A história da capivara que sonhava voar, é um conto gostoso de ler. Bem escrito, boas frases, narrativa com tom poético. Tenho a impressão de que o autor(a) tem habilidade para escrever versos rimados, porque algumas frases são rimadas. Acredito que não foi intencional, deve ser um hábito do subconsciente. Algumas frases com palavras com o mesmo sufixo muito perto uma da outra que é comum na composição de versos rimados. Claro que isso não prejudica o valor do conto, é apenas uma observação de um leitor que também escreve poesias. O conto é fofo, palavra que está na moda e que tenta resgatar a sensibilidade das pessoas numa sociedade atual um tanto quanto em conflitos ideológicos e políticos. Conto que trás alguns ensinamentos virtuosos nos conselhos da Mãe capivara e Dom Redondo, para Tonica. Excelente escrita e construção de frases. A ambientação tem poucos detalhes, mas é suficiente para visualização mental das cenas no cenário. Também gostei do enredo que se insere totalmente no tema proposto. Parabéns e boa sorte.