EntreContos

Detox Literário.

O Menino (Jowilton Amaral)

A temperatura baixa, o céu escuro e a chuva constante em pleno fevereiro não era uma coisa comum para a cidadezinha de quase dez mil habitantes em que residia. Naquela época do ano, o costumeiro seria o sol sorrir feroz desde os primeiros minutos do amanhecer, esquentando tudo ao redor com seu hálito fervente. Era uma terceira-feira qualquer, nada especial, no entanto, foi o dia em que tive uma grande revelação. Uma descoberta que mudou a vida para sempre. Nunca mais fui o mesmo depois da insolitude daquele acontecimento.

A casa vazia e a solidão bordando o tecido das horas também era incomum. Onde antes existia movimento, gritos, reclamações, choro, gargalhadas, felicidade, vida, agora reinava uma quietude desconfortável. O tempo passou, as crianças cresceram, a existência seguiu seu rumo e eu transbordava de melancolia. Talvez, melancolia não fosse a palavra certa para aludir o que sentia. Abandono poderia ser a melhor escolha. Um sentimento de desamparo que fazia o olhar perder-se nas gotas d’água escorrendo pelo vidro da janela e refletir como eu escorregava pela vida da mesma maneira, num trajeto levemente sinuoso, sempre na descendente, até desaparecer no fim do caminho.

Minha vida mudara drasticamente. O casamento estava ruindo não era de hoje, passamos por uma fase terrível, rosas e urtigas, amor e dor, um cano quebrado que jorrava discórdia e não água, culminando num processo embaraçoso de convivência em que nos tornamos cada vez mais estranhos um para o outro. Além de tudo, minha paranoia havia aumentado. Desde muito novo, carregava em mim uma sensação de perseguição aflitiva, que algo ou alguém me observava e tramava contra mim.  Alguém próximo, íntimo. Não confiava em ninguém. Mesmo sentindo tal emoção, conseguia me controlar e viver uma rotina quase normal. Sem prejudicar a mim e nem a quem estivesse convivendo comigo, fosse familiares ou amigos.

Não obstante a isso, a pouco mais de seis meses, comecei a andar pela casa à noite, procurando barulhos que só eu escutava, perseguindo vultos que só eu via, sentindo dores de cabeça terríveis e acusando minha mulher de ser a culpada de tudo aquilo. Após uma grande discussão, ela fugiu assustada levando minha filha adolescente para a casa dos meus sogros.  A filha mais velha, aproveitando o ensejo, dias depois, adiantou a viagem para a Inglaterra, que faria só no fim do ano. Fiquei sozinho. Para piorar, chegou aos meus ouvidos que minha esposa estava se encontrando com um amigo de infância, que começou a procura-la assim que soube de sua volta a casa dos pais, me deixando ainda mais esquivo.

Um barulho de passos no escritório me despertou do alheamento. Fui até lá. Abri a porta, não havia ninguém. E nem era para haver. Voltei para sala. Liguei a televisão e perambulei pelos canais da TV paga, até parar num programa de esportes que debatia sobre as partidas de futebol do dia anterior. Meu time do coração havia feito um péssimo jogo no clássico, me frustrando após dois jogos bem acima da média para um começo de temporada.

Outra vez escutei passos e um som de uma risada de criança. A risada que me perseguia durante as últimas noites. Abaixei o volume e esperei. Ouvidos atentos a qualquer ruído. Fez-se silêncio novamente.

A chuva aumentou e a televisão saiu do ar com problema de conexão, isso sempre acontecia quando havia mau tempo.

A angustia me tomava de uma forma inexplicável. Era estranho. Sempre gostei de dias chuvosos e quietos, onde aproveitava para ler ou assistir séries ou programas de esporte. Contudo, a sensação de embrulho no estômago incomodava mais do que o normal, como se algo muito ruim estivesse para acontecer.

Saí da televisão a cabo e fui para o streaming. Minha ideia era continuar a série Hunter’s, e, desta forma, fugir da singularidade que me assolava o corpo, a alma. Um apertamento profundo que parecia me fazer diminuir, como se houvesse um campo gravitacional nas minhas entranhas, me amassando, comprimindo de dentro para fora, me sugando para o buraco infinito aberto em mim mesmo. Uma louca vontade de chorar avolumou-se, meus olhos encheram-se de lágrimas. Bufei, balançando a cabeça, tentando espantar a tristeza.  “O que está acontecendo comigo”. Falei entredentes.

Entrei no banheiro e lavei meu rosto. Olhei-me no espelho. Eu havia me transformado no meu avô. O mesmo formato quadrado das faces, a cova no queixo, os olhos amarelo-esverdeados e os trejeitos de falar e andar. “É assombroso, você é igualzinho ao papai”, mamãe dizia. Consequentemente, eu também era igualzinho ao meu tio avô, eles eram gêmeos univitelinos. Nossa família era cheia deles. Fiquei encarando meu reflexo duplamente atávico por um longo tempo. Algo nos meus olhos me chamou a atenção. Aproximei-me ainda mais do espelho. Subitamente, dei um pulo para trás quando vi um menino sorrir por de trás das írises refletidas na minha imagem. O coração disparou e comecei a tremer. Fechei os olhos, respirei fundo e os abri novamente. O menino havia sumido.

Voltei à sala de televisão ainda tentando controlar a respiração ofegante.

Não consegui me concentrar na série. Desliguei a TV e abri o notebook. Entrei na pasta de e-books. Passeei pela biblioteca virtual, abrindo alguns livros que não havia terminado. Kafka à beira mar, do Murakami, Essa Gente, do Chico e Pacto de Sangue, um livro de contos do King. Acabei não conseguindo focar em nenhum deles. Minha mente viajava entre minha mulher, as risadas que eu escutava e na figura do menino refletido em meus olhos. Fechei o computador e resolvi telefonar para minha esposa.

— O que você quer? — ela disse assim que atendeu.

— Oi, bom dia, tudo bem? Como vai? Como está nossa filha? E seus pais? — Falei tentando parecer cortês, entretanto, soei irônico.

— O que você quer!? — A irritação na voz era cristalina.

— Quero que volte, meu amor. Volte pra casa — Falei com uma voz verdadeiramente embargada.

— Não vou voltar, você precisa se tratar, procurar um médico, um psiquiatra, um médium, um pai de santo, qualquer coisa que possa livrar você dessa, dessa… obsessão, dessa loucura. Você está doente, Ricardo!  — Ser chamado de doente me tirou do sério, não achava que estava doente, talvez, um pouco desnorteado, fora de foco. Convivi mais de quarenta anos com a paranoia fungando no meu pescoço e sempre me saíra bem, eu iria me reequilibrar sem precisar de medicamentos.  

— Por isso mesmo, eu estou doente e você aí de conversinha com seu amiguinho, porra! Volta logo pra casa!

A chamada encerrou abruptamente. Tentei ligar mais algumas vezes, sem resultado. Ela havia desligado o aparelho.

Fiquei andando pelos cômodos da casa, indo e vindo, incontáveis vezes, da garagem a cozinha, entrando nos quartos, sentando nas camas, lembrando momentos, sentido cheiros, ouvindo a memória.

 Ao voltar para a cozinha, pela milésima vez, eu o vi. Não refletido nos meus olhos, não um reflexo, e sim, sentado à mesa, real, bem real. Não, não era real, ele parecia desbotado como uma fotografia em preto e branco antiga. Estava de cabeça baixa, seus longos cachos loiros davam a ele a inocência de um anjo. Quando me aproximei, ele me encarou. O olhar era severo e escuro, como num túnel sem luz no fim. A ingenuidade não existia naquele menino. Parei abruptamente, mas, continuei a encara-lo, hipnotizado. Era como se aqueles olhos houvessem me acorrentado pelo peito, fiquei petrificado de puro horror.  A única coisa que se movia em meu corpo eram os pulmões. Eles inflavam e desinflavam, inflavam e desinflavam, cada vez mais rápidos, cada vez mais acelerados. Hiperventilei. Senti meu rosto e meus dedos dormentes. Era inacreditável, aquele menino era eu quando criança.

Ele se levantou e andou até bem perto de mim. Sempre me olhando nos olhos. A diferença de tamanho me fez abaixar os meus, eu não conseguia movimentar a cabeça e nem desgrudar daquele olhar sinistro.

— Não me reconhece? — Ele perguntou. Mas seus lábios não se mexeram. Eu o escutava sem que ele precisasse falar. Tentei balbuciar algumas palavras, não obtive sucesso.

— Sei que você me conhece, talvez não lembre, foi há muito tempo, quarenta e cinco anos precisamente.

“Claro que eu o conhecia, ele era eu. Com a mesma camisa do Mickey, o mesmo cabelo grande e encaracolado da foto que tenho guardada de quando eu tinha sete anos de idade” pensei.

— Não, eu não sou você, sou outra pessoa, completamente diferente, apesar da fisionomia idêntica ao menino que foi.

“Ele consegue saber o que eu penso”, meu corpo estremeceu.

— Sim, consigo saber tudo o que você pensa e sente. Sei tudo o que você aprendeu, todos os livros que você leu, tudo o que você viveu, é meu. Estou enraizado em você a mais de quatro décadas. Enraizado em seu cérebro. Eu sou você, contudo, você jamais será como eu. Sou único, especial. Renascido por graça de um sortilégio. Divino ou profano? Não poderei responder. O fato é que eu existo, sempre existi, dentro de você. Camuflado nas sombras, entremeado de vasos, ossos, nervos…

— Fiquei tempo demais escondido, me energizando, me alimentando de tudo que era seu, acumulando forças para o dia que eu me mostrasse. Esse dia chegou. Cansei de acompanhar a vida medíocre de um homem fraco e sem ambição. A partir de hoje tomarei as rédeas do cavalo chucro que você é.

“Meu deus, estou louco”.

— Não, não está. Sou real, qualquer exame de imagem da sua cabeça poderá me detectar.  

Naquele momento, a cabeça do menino inchou, seus cabelos caíram como uma cascata de minhocas, desaparecendo assim que tocaram o piso da cozinha. Os olhos esbugalharam, a pele pareceu derreter, deixando apenas um nariz rudimentar, fazendo a boca tornar-se uma ínfima fenda. Os braços e as pernas afinaram e encurtaram e seu corpo ficou translúcido. Ele transformou-se num feto gigante, do tamanho de uma criança de sete anos, que flutuava no meio da cozinha. O cordão umbilical saia do umbigo e se projetava até o meu crânio. O terror que senti foi indescritível. Meu corpo sofria espasmos terríveis, e, ainda assim, eu não conseguia sair do lugar.

Seus dedos se alongaram, transformando-se numa espécie de fios e entrelaçaram todo o meu corpo, numa anastomose demoníaca. Fechei os olhos aterrorizando. Tentei gritar, foi em vão.

— Eu sou seu irmão, seu irmão gêmeo, o que os médicos chamam de fetus in fetu. E, a partir de hoje, eu estarei no comando.

 Meu corpo parecia estar eletrificado, envolto pelos tentáculos daquele monstro. Um zumbido infernal inundou meus ouvidos, uma onda sonora poderosa, aumentando o volume a cada segundo, dominando todos os meus pensamentos. Viajei para dentro de mim mesmo e o vi incrustrado em meu cérebro como uma massa maligna. E por um instante, achei que havia morrido

Aos poucos os ruídos forram diminuindo de intensidade. E tudo se acalmou, minha respiração ficou lenta, cada vez mais lenta. Fiquei num estado de entorpecimento agradável e consegui ouvir meu coração batendo. Por de trás do meu batimento cardíaco, pude escutar uma outra batida, menos cadenciada, num ritmo descompassado, no entanto, pude perceber que era mais alto, forte e seguro.

Abri um grande sorriso, que não era mais só meu.

Sobre Fabio Baptista

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19 comentários em “O Menino (Jowilton Amaral)

  1. Fabio D'Oliveira
    29 de março de 2025
    Avatar de Fabio D'Oliveira

    Buenas, Ricardo.

    É um conto que cumpre com tudo que promete. Mas é uma promessa que não impacta, que não encanta. Desculpa começar o comentário assim, mas essa foi a impressão geral do seu conto. Ele não é ruim, longe disso. No entanto, ele consegue ser mediano em tudo. Na premissa, na escrita, na execução, na conclusão.

    Não demorou muito para perceber que tudo que o protagonista ouvia era fruto do seu irmão gêmeo. Foi a cena do banheiro. Você entregou a trama ali. E a imagem do conto. Esses dois fatores colaboraram para entender a premissa que estava sendo construída. Depois disso, fiquei esperando a solução. Era um espírito? Ou um gêmeo parasita? Foi a segunda opção. É menos comum do que o fantasma do gêmeo, mas tem filmes e contos que falam do gêmeo parasita e de como ele luta para tomar o controle.

    Quando você entrega tudo que o leitor espera, ele dificilmente vai se encantar com seu conto. Vai ser uma leitura okey, no máximo, como foi comigo.

    Abração!

  2. Bia Machado
    29 de março de 2025
    Avatar de Bia Machado

    Enredo/Plot: 1/1 – O enredo é interessante. Temos um terror aqui, a história de um cara atormentado, que aos poucos vai mostrando ao leitor quem é.

    Criatividade: 0,5/1 – Achei criativo em partes, algumas coisas me chamaram a atenção, como a construção do narrador-personagem, é quase como se ele levasse o conto sozinho contando sua história…

    Fluidez narrativa: 0,5/1 – A leitura foi um pouco complicada pra mim, no sentido de que não me prendeu tanto a atenção, da metade para o final. Como se eu estivesse “perdendo o ‘gás’ da leitura”.

    Gramática: 0,7/1 – Algumas coisinhas passaram na revisão, como “terceira feira” (terça-feira), acento faltando e concordância também.

    Gosto/Emoção: 0,7/1 – Eu gostei em grande parte, achei que ficou um pouco explicativo na parte em que fala dos gêmeos.

  3. Andre Brizola
    29 de março de 2025
    Avatar de Andre Brizola

    Olá, Ricardo!

    O tema terror é muito claro e óbvio em seu conto. Ricardo é um personagem paranoico, melancólico e, num arremate clássico da narrativa do gênero, nos consta sua história em forma de uma quase confissão.

    Essa narrativa em primeira pessoa, quando bem construída, é uma técnica que eu gosto muito. Acho que o contato do personagem com o leitor dá ao terror um panorama que cria dúvidas, gera cenas dúbias, deixando muita coisa para que nós possamos inferir ou deduzir, mesmo quando as descrições são bastante óbvias. Aqui, no final, vemos uma cena bastante clara e bem descrita de algo sobrenatural. Mas… e se tudo isso for apenas a loucura se instaurando de vez em Ricardo? É a união do dito, o terror, com o não dito, que pode ser terror ou horror, e isso é muito legal no gênero.

    Mas, sinceramente, mesmo que eu tenha apreciado a proposta, acho que esse conto deveria ter tido um cuidado maior com duas coisas: revisão e coerência. Cito a revisão pois, em diversos momentos, fiquei com a sensação de estar passando por uma lombada gramatical, pois trombava com termos, ou construções, que poderiam ter sido revistos. Por exemplo, logo no primeiro parágrafo há uma “terceira-feira”, e eu sinceramente não conheço, nem encontrei no google, quem utilize tal termo. Outro que me chamou atenção foi em “sempre gostei de dias chuvosos e quietos, onde aproveitava para ler”, em que esse “onde” está deslocado, pois denota local, e não condição, ou momento, e poderia ter sido substituído por “quando”, por exemplo.

    Com relação à coerência, me refiro ao motivo pelo qual o conto existe. Talvez coerência não seja o termo correto, mas o que quero dizer é que, no final, o outro toma conta, fica no comando. E isso ocorre porque Ricardo é considerado fraco. Mas, mesmo assim, é Ricardo que conta a história, em primeira pessoa, à frente, relembrando todos os detalhes, dando a entender que ainda tem autonomia. Então acho que faltou algo nessa conclusão, uma explicação mais detalhada, algo que concluísse melhor a simbiose que foi estabelecida.

    E aí, isso gera uma crítica extra. Talvez o conto tenha se alongado demais em construções textuais que povoaram os parágrafos, mas que só serviram para florear informações que já estavam estabelecidas. Por exemplo, em “um apertamento profundo que parecia me fazer diminuir, como se houvesse um campo gravitacional nas minhas entranhas, me amassando, comprimindo de dentro para fora, me sugando para o buraco infinito aberto em mim mesmo”. Veja que aqui temos “me”, “minhas”, “me” novamente, e de novo, “mim mesmo”. É Ricardo narrando, isso está estabelecido, não há necessidade de tantos pronomes. E isso ocorre diversas vezes, em diversas situações, ás vezes não com excesso de repetições, mas com excesso de reafirmações de informações já estabelecidas.

    No geral, minha impressão é que tem muita coisa que poderia ter sido suprimida do texto, sem nenhum prejuízo para o conto. E, ao mesmo tempo, acho que faltou algo no final, algo que concluísse melhor, que explicasse, ou definisse melhor a situação do narrador.

    Bom, é isso. Boa sorte no desafio!

  4. Raphael S. Pedro
    28 de março de 2025
    Avatar de Raphael S. Pedro

    O conto foi bem escrito, com um domínio marcante da gramática, deixando bem clara a experiência do(a) autor(a).

             Contudo, a impressão que ficou foi de uma história sem um “algo a mais” que pudesse prender o leitor.          Talvez a trama principal pudesse ser mais desenvolvida, principalmente porque o texto ficou bem abaixo do limite de palavras do desafio.

  5. Rodrigo Ortiz Vinholo
    27 de março de 2025
    Avatar de Rodrigo Ortiz Vinholo

    Eu gostei muito da aplicação da ideia. O artifício narrativo do vilão, o irmão gêmeo mal absorvido dentro do corpo do “gêmeo bom” foi uma excelente sacada. O que não me pegou muito foi a ambientação e a construção. Achei o início do texto muito enrolado, muitas voltas de ambientação que pouco serviram para a trama ou para caracterização do personagem. A “assombração” pelo gêmeo mal é interessante, mas fiquei pensando que ela poderia ter aparecido mais vezes, ser mais desenvolvida. Gosto da ideia de que a paranóia era derivada da presença dele aquele tempo todo, mas ainda assim sinto que faltou. Mesmo a relação do personagem com a esposa e a gradual decadência do relacionamento poderiam ter algumas melhorias, mesmo com o distanciamento dos personagens, fica difícil se importar com o fim do relacionamento. Enfim, acho que daria para dar uma evoluída, mas é uma boa história.

  6. Thiago Lopes
    27 de março de 2025
    Avatar de Thiago Lopes

    A sensação que tive ao ler esse conto é que ele dá umas escorregadas em alguns detalhes pequenos e às vezes atinge pontos elevadíssimos. E o final é realmente bom, a ideia do irmão se internalizando deu um bom efeito. A ideia é original, um dos mais originais do certame, além de ser bem estruturado. Foi bom de ler, a escrita é boa. 

  7. Leo Jardim
    27 de março de 2025
    Avatar de Leo Jardim

    📜 TRAMA (⭐⭐⭐▫▫): homem solitário perde o controle de seu corpo para seu irmão gêmeo que absorveu no útero.

    Sempre achei bizarra essa ideia de fetos gêmeos que viram um só ser humano e é justamente essa a premissa do conto. O conto prende bastante a atenção, mas fiquei com um gosto de que as coisas ficaram em aberto. O casamento, a filha e todo o resto foi esquecido no fim do conto. Seria interessante ver como o “menino” agiria no comando do corpo.

    📝 TÉCNICA (⭐⭐▫▫▫): tem alguns vacilos de revisão, mas conduz bem a narrativa e descreve boas cenas.

    ▪ bordando o tecido das horas (gostei)

    ▪ Pontuação no diálogo (auto-jabá 😀): http://www.recantodasletras.com.br/artigos/5330279

    ▪ encara-lo (encará-lo)

    ▪ Estou enraizado em você a mais de quatro décadas (há)

    ▪ E por um instante, achei que havia morrido ponto

    🎯 TEMA (⭐⭐): possui cenas de terror.

    💡 CRIATIVIDADE (⭐⭐▫): dentro da média do desafio.

    🎭 IMPACTO (⭐⭐⭐▫▫): dada a cena no banheiro, me preparei para um impacto maior do que eu tive. A parte em que o menino assume o controle, funcionou, mas ficou aquela sensação de que faltou algo, como já disse acima. Só isso não serviu tanto como um encerramento de conto, na minha opinião. Mas gostaria de ler a continuação se o autor quiser escrever.

  8. rubem cabral
    26 de março de 2025
    Avatar de rubem cabral

    Olá, Ricardo.

    Bom conto de terror, com o sempre interessante enredo do gêmeo parasita intracraniano!

    Gostei da narração meio densa, dos personagens esboçados, como a esposa (ou ex-esposa), das descrições das sensações.

    Notei pequenos erros sem muita importância. Outra coisa que notei foi quando você usou dois travessões, mas o falante era o mesmo, não alternou, feito em:

    — Sim, consigo saber tudo o que você pensa e sente[…]

    — Fiquei tempo demais escondido, me energizando […].

    Aqui eu teria colocado algo como “E ele continuou: —“. entre os dois.

    Boa sorte no desafio e abraços!

  9. Thiago Amaral
    26 de março de 2025
    Avatar de Thiago Amaral

    O conto tem uma ideia com potencial, a eterna divisão do homem em suas partes más e boas. No caso do conto, parece ser mais uma metade medíocre, medrosa, e uma parte vigorosa, ativa.

    Infelizmente, a história em si, que envolve o tema, não apresenta nada muito interessante. Vemos o personagem enfrentando os problemas típicos das histórias de terror, como sons pela casa e figuras refletidas no espelho. Esse último é interessante por ser muito comum nos filmes, mas não funcionar da mesma forma na literatura, ao meu ver.

    Em alguns momentos, o ritmo foi rápido demais, por ter excesso de vírgulas, como em: ” Ao voltar para a cozinha, pela milésima vez, eu o vi. Não refletido nos meus olhos, não um reflexo, e sim, sentado à mesa, real, bem real.” Achei que poderia ter pausado um pouco mais para manter um drama. Entendo que o cara está nervoso, mas pareceu mais um trejeito da autoria que escolha consciente.

    Algumas palavras um pouco mais difíceis aparecem aqui e ali, como “anastomose”, mas estão perdidas em meio a descrições bem simples e referências a séries e livros.

    O conto pra mim também acabou abruptamente, quando parecia que mostraria a que veio. Poderia ter tido um clímax mais trabalhado. Além disso, achei as falas do garoto muito exageradas. Explicativas demais, bem como o início do conto. Com as 2000 palavras que sobraram, esses detalhes poderiam ser melhor explorados.

    Desculpe pelo comentário negativo demais kkk Desejo boa sorte no desafio, e espero ter ajudado de algum modo.

  10. bdomanoski
    23 de março de 2025
    Avatar de bdomanoski

    Rapaz, não sei se é porque o conto foi escrito em primeira pessoa, mas achei a leitura excessivamente descritiva, com coisas que talvez pudessem ser removidas da história – que ao meu ver não contribuíram nem para ambientação, nem para “adentrar” no personagem. Excesso de informações acabou tornando a leitura angustiante para mim. Ex., nesse trecho “Um apertamento profundo que parecia me fazer diminuir, como se houvesse um campo gravitacional nas minhas entranhas, me amassando, comprimindo de dentro para fora, me sugando para o buraco infinito aberto em mim mesmo.” há uma mesma informação repetida várias vezes, não apenas uma ou duas, mas várias vezes, tornando extremamente pedante – e redundante. O que mais gostei no conto foi da cena do menino que se transforma num feto gigante na cozinha. Achei bem escrita e criativa. Se eu entendi bem, a história é de um daqueles casos que um dos gêmeos nasce dentro do outro, e esse nasceu na cabeça. Embora o plot seja bastante interessante, a execução fez com que eu não gostasse de como foi escrito – com exceção da derradeira cena, que achei muito maneira.

  11. Kelly Hatanaka
    21 de março de 2025
    Avatar de Kelly Hatanaka

    Conto bem construído. Um homem com dificuldade de percepção da realidade, talvez sofrendo de alguma doença psiquiátrica vai perdendo controle de sua vida. Por fim, descobre (?) que há elementos de seu irmão gêmeo em si. O texto desenvolve um terror crescente, que se baseia na incerteza. Muito bom.

  12. paulo damin
    20 de março de 2025
    Avatar de paulo damin

    Talvez pelo pseudônimo vir ao lado do título, não sei, mas já li imaginando que o menino, na história, seria o próprio narrador. Não é um problema. O tema do duplo é tão ou mais prolífico no gênero terror do que o tema da família. Até porque nada é mais familiar do que o próprio eu e, ao mesmo tempo, o próprio eu é a coisa mais assustadora, se tu parar pra pensar. Aí que tá: o cara para pra pensar e descobre esses monstrinhos antigos. 

    Não sei se a ideia era ser comédia também, mas encontrar o menino vestido de Mickey na cozinha pode dar um efeito de riso. E o fim também. Acho que tem um episódio do Family Guy em que o Peter desenvolve um mini Peter no próprio corpo. Mas o mais legal desse conto aqui é que é relativamente curto. Podia ser até menor, tipo resumir os lamentos pela perda da mulher.

    Curioso isso, aliás. A solidão faz o cara ir atrás de outra? Foi por ir atrás de outra que a mulher largou ele? Não. Foi por ele ser obcecado pela própria infância.

  13. Jorge Santos
    20 de março de 2025
    Avatar de Jorge Santos

    Olá autor ou autora. Este texto teve, para mim, algumas curiosidades. Logo na primeira frase, fala do frio inusitado de fevereiro. Eu sou português, vivo em Portugal, e os fevereiros costumam ser assim. Março não é melhor, pelo que só costumo sair da minha hibernação em abril/maio. Depois, notei a coincidência do nome, Ricardo. Também tenho um menino chamado Ricardo, e que, embora já tenha 21 anos, vai continuar sempre a ser o meu “menino”. A série Hunters, eu vou pesquisar e tentar ver. Fiquei curioso. Gosto sempre de aprender coisas novas nos contos do Entrecontos. Quanto texto propriamente dito, é suficientemente interessante para ser desenvolvido e transformado em livro. Achei que faltou desenvolvimento e que o desfecho foi prematuro. A descoberta do “verdadeiro eu”, ou, neste caso, dos “verdadeiros eus” e a transformação daí advinda é um tema interessante, que pode desembocar em vários destinos. A adequação ao tema vem do medo do personagem se submeter a esta nova realidade. O texto é bom, só faltou desenvolvimento. Bora lá?

  14. toniluismc
    19 de março de 2025
    Avatar de toniluismc

    O conto apresenta uma boa técnica narrativa, utilizando um estilo introspectivo que é eficaz para retratar a paranoia crescente do protagonista. O vocabulário é adequado, com descrições vívidas e metáforas interessantes, especialmente na construção da atmosfera inquietante. Alguns trechos, porém, poderiam ser mais enxutos, pois há momentos em que o ritmo perde um pouco da fluidez devido a descrições muito extensas ou reflexões repetidas. A narrativa em primeira pessoa é bem explorada, oferecendo uma proximidade interessante com a mente do protagonista.

    O tema do “fetus in fetu” é utilizado de forma criativa e assustadora, combinando elementos de terror psicológico, drama familiar e horror corporal de maneira incomum e original. A revelação surpreendente do irmão gêmeo absorvido e sua influência maligna como uma entidade escondida dentro do cérebro do protagonista se destaca pela originalidade e ousadia. A forma como o conto explora os limites entre realidade e loucura também é criativa, enriquecendo a trama.

    O impacto emocional do conto é forte, especialmente pela construção gradual do terror psicológico e pelo desfecho perturbador.

    Gostei bastante! Obrigado e parabéns

  15. Cyro Fernandes
    18 de março de 2025
    Avatar de Cyro Fernandes

    Conto criativo. Gostei da descrição da angústia do narrador, sente-se muito bem o sofrimento.

    Pequenas escorregadas na revisão do texto não desqualificam um bom conto de terror.

  16. Afonso Luiz Pereira
    18 de março de 2025
    Avatar de Afonso Luiz Pereira

    O Menino” é um conto bem escrito, interessante, que explora a paranoia de um homem à beira do colapso emocional após o fim de seu casamento.

    Incialmente gostei do enredo, que constrói a tensão de forma gradual, começando com uma sensação difusa de desconforto, de paranoia, e culmina com uma revelação insólita: o protagonista carrega dentro de si um irmão gêmeo malformado, um fetus in fetu, que permaneceu adormecido por décadas e agora se manifesta para assumir o controle. Aqui temo mais um terror psicológico profundo neste certame, dentro da tradição de histórias sobre o “duplo.

    Os contos sobre a dupla personalidade há sempre uma luta pela identidade, onde um lado reprimido da mente do protagonista se fortalece até dominá-lo completamente. O uso do horror corporal, aqui neste caso, também é um ponto interessante a se considerar, tornando a transformação final ainda visceral e perturbadora.

    No entanto, deu-me a impressão que a história funciona mais como uma experiência sensorial e psicológica do que como um conflito a ser resolvido. O protagonista não luta ativamente contra essa força que cresce dentro dele, o que pode dar a sensação de que a história não tem um clímax tradicional.

    Mesmo assim, “O Menino” é um bom conto, que combina horror psicológico e corporal de maneira eficaz. Conseguiu me prender do início ao fim. Gostei.

  17. Fabiano Dexter
    16 de março de 2025
    Avatar de Fabiano Dexter

    Estou organizando os meus comentários conforme irei organizar as minhas notas, buscando levar para o autor a visão de um Leitor regular e assim tentar agregar algum valor. Assim a avaliação é dividida em História (O que achei da história como um todo, maior peso), Tema (o quanto o conto está aderente ao tema), Construção (Sou de exatas, então aqui vai a minha opinião geral sobre a leitura como um todo) e Impacto (o quanto o produto final me impactou)

    História (1,5)

    Uma história de terror onde temos pequenos eventos isolados que vão, de alguma forma, minando a vida do protagonista até que um espírito finalmente se identifica e, por fim, toma controle.

    Gostei muito da dinâmica do texto, do modo como ele vai se construindo e se desenvolvendo até chegar ao clímax. Como fã de terror e afins, assim que falado que ele vinha de uma família onde era comum gêmeos univitelinos eu já meio que “saquei” qual seria o plot twist final, mas isso não atrapalhou em nada a experiência.

    Tema (1,0)

    Um terror puro e simples. Como tem que ser.

    Construção (1,5)

    Gostei da construção do texto, a narração em primeira pessoa nos dá uma ideia do que se passa na cabeça do protagonista e uma maior visão dos seus temores e sensações.

    A cadência dos eventos estranhos também funciona muito bem, crescendo de uma sensação para um som, de um som para uma imagem e, enfim, para uma iteração direta.

    Impacto (1,0)

    Foi um conto de me prendeu do início ao fim, alimentando a curiosidade de forma direta e indo sempre em frente. Muito bom!

  18. Leandro Vasconcelos
    15 de março de 2025
    Avatar de Leandro Vasconcelos

    Opa! Um conto muito interessante que envereda pela senda do terror psicológico: uma narrativa bizarra de um sujeito que é tragado pelo irmão gêmeo, como se tornasse um gêmeo siamês com ele. Pelo que entendi, esse irmão era como uma entidade espiritual, que acompanhou o protagonista pela vida inteira, gerando nele a sensação de paranoia tão bem descrita no relato em primeira pessoa. Acompanhamos a descida do personagem numa espiral de loucura, que a princípio parece coisa de sua cabeça; todavia, ao cabo, revela-se um “sortilégio”, na expressão do autor.

    O grande mérito, a meu ver, é o fato de o autor conduzir esse drama psicológico de uma forma que não se torna excessiva ou modorrenta. A minha grande resistência a textos desse gênero (terror psicológico) é que facilmente descambam para uma narrativa enfadonha sobre os sentimentos do personagem central, tornando-se piegas ou exageradas, sobretudo quando se utiliza da primeira pessoa. No caso deste escrito, no entanto, a leitura corre fluida e o estado mental do sujeito é intercalado com ação e flashbacks. Ou seja, não é cansativa, muito pelo contrário, embora a parte inicial pudesse ser menos descritiva.

    O autor ainda se mostrou proficiente em projetar um domínio ao outro das palavras. Quer dizer, sabe utilizar muito bem figuras de linguagem. Algumas construções que me atraíram: “costumeiro seria o sol sorrir feroz desde os primeiros minutos do amanhecer, esquentando tudo ao redor com seu hálito fervente”; “A casa vazia e a solidão bordando o tecido das horas também era incomum”; “um cano quebrado que jorrava discórdia e não água”; dentre outras.

    No mais, creio que a narrativa ganharia anabólicos se a origem do gêmeo e sua súbita motivação fossem explicados. Claro, o mistério prevaleceu, e o leitor retire o que quiser das linhas. Mas, do jeito que foi escrito, ficou aquele quê de forçado, isto é: sem mais nem menos, o sujeitinho arrogante decide puxar as rédeas do personagem – porque ele ficou velho e desinteressante. Se houvesse um fato deflagrador, talvez ficasse melhor.

    Por fim, convém repassar com carinho a utilização do verbo haver na hipótese de tempo passado. Vi alguns deslizes no texto.

    Mas, em resumo, é um bom conto, que soube trabalhar com maestria o tema do concurso e, sobretudo, o gênero textual. Parabéns!

  19. José Leonardo
    13 de março de 2025
    Avatar de José Leonardo

    Olá, Ricardo.

    Tendo em vista as minhas limitações técnicas para apreciar melhor o seu conto e de modo a tentar esquentar meus comentários que acho um tanto insossos, decidi convocar, por meio de um ritual de fervura de miojo de tomate com leite coalhado e digitação de Zerinho-um no MS-DOS, a FRIACA® (Falsa Ruiva Inteligente Auxiliar para Comentários e Avaliações) para me ajudar nessa bela empreitada e proporcionar a melhor avaliação possível acerca do seu texto (dentro da minha perspectiva de leitor).

    FRIACA: Do que se trata o conto?

    R.: Um homem (que arruinou sua família de algum modo) se depara com uma presença que sempre estava ali e promete tomar as rédeas de sua vida (de forma meio lovecraftiana).

    FRIACA: Como você vê a narração, o estilo, a estrutura, a técnica?

    R.: As palavras que evocam imagens/expressões poéticas e a busca pelos bons (frugais) momentos do passado naquela casa vazia remetem o leitor à melancolia do personagem. Creio que o(a) autor(a) obteve êxito em transmitir essa sensação (pelo menos comigo deu certo). Porém, há alguns deslizes pequenos que seriam sanados numa nova revisão (acentos faltando, cortes que não funcionam bem com vírgulas, pronomes pessoais oblíquos iniciando frases – chatices de leitor, embora esse último não me incomode quando se trata de diálogo).

    FRIACA: E quanto à adequação ao tema, à criatividade e ao impacto?

    R.: Adequado ao terror na figura do gêmeo obsedante e do ato provocado por ele. No mais, um drama familiar, alguém tentando reaver sua família sem, contudo, desculpar-se por eventos do passado.  

    FRIACA: Indo um pouco mais a fundo nesse particular e apesar do aspecto subjetivo do que a história pode causar no leitor, é um conto para dar risadas ou aterrorizar-se?

    R.: A cena da “tomada de rédeas” por parte do gêmeozinho é bem interessante. Como disse anteriormente, o conto está mais calcado em dilema de família (ou na falta dela, para ser mais preciso).

    FRIACA: Qual sua posição final sobre esse conto, inclusive sobre a nota?

    R.: Ainda estou revisitando seu conto, Ricardo. Não me decidi quanto a ter gostado ou não. Embora conflitos familiares (que não são batidos, mas sim bem presentes nas casas de todos ou quase todos) me atraiam, creio que aqui se sobressaíram mais do que o tema proposto do desafio literário. Nota: 3,5.

    Parabéns pela estória e boa sorte neste desafio.

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Publicado às 9 de março de 2025 por em Liga 2025 - 1A, Liga 2025 - Rodada 1 e marcado .