EntreContos

Detox Literário.

Linha Cruzada (Leandro Brarreiros)

– Da minha infância?

– É. Vai acalmar essa choradeira. Isso sempre te distrai. 

– Mas… falar o que?

– Alguma coisa que eu não sei.

– Mas…

– Ou que você acha que eu não sei. Vai. 

– Eu…

– Você quer que eu continue falando? 

– Não…

– Anda, eu to te dando uma chance.

– Ta…

– Anda.

– Ta… eu… sabe os biscoitos de recheio que você comprava? 

– Eu não podia botar o pé pra fora de casa que você pedia um.

– Eu costumava raspar o recheio do biscoito primeiro, aí depois de separar eu comia só o biscoito… 

– Como assim? O recheio é a melhor parte, até eu sei disso. 

– Então… eu comia o biscoito primeiro porque eu tava guardando o recheio para comer sozinho depois.

– Aham.

– Daí depois que eu… tinha comido o biscoito todo do pacote eu tinha… uma bola gigante de recheio.

– Você era muito levado. E não devia ser gigante. Os recheios tudo não dá quase nada. 

– Não, pô. Antigamente vinha coisa pra caramba. A bola de recheio… ficava do tamanho do meu punho. 

– Mas seu punho era menor, né. 

– Que nada, eu nem cresci tanto. 

– Ha! Isso é verdade.

– Tinha mais recheio mesmo.

– Sei. 

– Mas parando pra pensar, acho que não era a coisa mais saudável do mundo. 

– Como assim?

– Fazer uma bola gigante de gordura hidrogenada e meter pra dentro. 

– É verdade. Gordura faz mal, né?

– Pô e essa ainda era hidrogenada. 

– É pior?

– Muito! Hidrogênio faz muito mal. Tu não sabe?

– Ah… É verdade… Se bem que se você comesse o biscoito do jeito normal ia dar no mesmo. 

– Ia?

– É a mesma quantidade de biscoito, gordura e hidrogênio, né? Acho que não faz diferença.

– É, acho que não. Tu nunca me viu fazendo isso não? Hein? Oi?


*

*

*

– Alô? 

– Alô.

– Tá me ouvindo? Achei que… 

– Tô te ouvindo.

– …tinha caído. Tá, então…

– Qual era o seu sabor favorito?

– Ahn?

– Do biscoito. Eu lembro de você reclamando uma vez porque eu tinha comprado o de baunilha. Mal agradecido. 

– Ah… morango. 

– Você sabe que o morango de verdade passa longe daquele recheio, né?

– Óbvio. Mas morango artificial é o melhor tipo de morango, tá ligada?

– Sei.

– É sério. Ô porra de fruta pra ser ruim. Agora vê, biscoito de morango, sorvete de morango…

– Aham…

– Milkshake de morango, porra. Bom demais. 

– Só você…

– Lembra que uma vez você me deu morango orgânico e disse que tava docinho? 

– Eu?

– É, sei lá. Eu tinha uns dez anos. Eu lembro que mordi um pedaço na vontade, achando que ia ter gosto de milkshake. Meus olhos encheram d’água na hora! Lembra?

– Seus olhos se enchem d’água sempre.

– Até parece. 

– Nunca vi menino chorar tanto, sinceramente.

– Você podia ter só respondido “não lembro”. Ia ser melhor que… ué, você chegou?

– Eu? Eu chego tarde hoje, você sabe disso. 

– É. Mas eu acho que eu ouvi al… Aí! de novo, você ouviu?

– Para de besteira. Só tem você aí. Foi só você. Já passou da fase de…

– Desculpa, eu…

– …chamar atenção.

– Tá bom, Jesus. Eu só achei que tinha ouvido alguma coisa.

– Tá na hora de você crescer, né. Não dá pra fazer as coisas eeeeEEe…

– Alô? Oi! Você tá aí? Alô? 

*

*

*

*

*

*

– Oi, a ligação caiu naquela hora. Acho que o sinal tá ruim. 

– É, eu… 

– Tá falhando demais.

– Eu ouvi alguma coisa lá em baixo de novo, achei que era você…

– De novo isso? Puta que pariu, vai começar a………………..dddde nnnnovo?

– Oi? Não eu… eu fui lá em baixo, não tinha ninguém. 

– Claro que não. Eu vou demorar. 

– Não tem como vir mais cedo hoje? 

– Como é?

– Só hoje, sei lá. 

– Achei que você gostava de ficar sozinho. 

– Eu gosto… Eu… gostava…

– Não foi isso que você disse? Que queria ficar sozinho?

– Foi? É… foi… mas…

– Já tá na hora de você viver as consequências das suas ações. Não vai ter gente pra passar a mão na sua cabeça pra sempre. 

– Desculpa, mãe. Eu só tava me sentindo sozinho e…

– Isso não é desculpa.

– Mas…

– Para o que você fez isso não é desculpa. Não tem desculpa. Eu te criei melhor do que isso. Achei que tinha criado.  

– Eu tô ouvindo alguém lá em baixo de novo. 

– Eu já diss     eeee      eeeeeeees………..

– Mãe? Alô?


*

*

*

*

*
– Mãe, o telefone não tá funcionando. Você tá aí?

– Oi, você quer que eu leve alguma coisa? 

– Mãe eu tava ouvindo barulho de novo, eu desci… e porra… não tinha ninguém…

– Já sei. Vou levar morango. Você tem que comer mais fruta. Parar…

– Mãe, não tinha ninguém mas eu ouvi.

– …com essas viadagens na hora de comer.

– Eu tentei ligar pra polícia, porque porra. Eu tava ouvindo barulho. De gente mexendo na cozinha, abrindo os armários, barulho… 

– Eu devo chegggar taaaarddddddde hoje.

– …de talher. Mãe, tá me ouvindo? Tá falhando de novo… porra, mãe. Alô? 

– Oi, você quer que eu leve alguma coisa? 

– Mãe, você tá me ouvindo? 

– Já sei, vou levar morango.

– Mãe! Porra! Você me ouvindo?

– Oi.

– Mãe, tem alguém aqui e meu telefone não tá ligando pra ninguém. 

– Menino levado. 

– Mãe?

– Mal agradecido. 

– Por que você tá chorando, mãe?

– Queria ficar sozinho, né?

– Mãe, por favor… Por favor, não me deixa sozinho. Por favor… Alô? Alô?

– Querido eu vou chegar um pouco tarde, você quer alguma coisa?

– M…mãe?

– Já sei, vou levar morango.

– Mãe…

– Por que você tá chorando? Tá tudo bem?

– Mãe… tem alguma coisa errada. O barulho…

– Querido, a ligação tá falhando. Você precisa de alguma coisa? 

– Nã…não… que… ho… horas você…

– Eu vou passar na loja de construção e comprar corda. Eu acho melhor. Roupa de cama pode ser desconfortável.

– Mãe, que horas você deve che…. chegar? Alô?

*

*

*

*

*

– Mã… eu to ouvindo de novo… na cozinha… e o celular não liga pra

– Você não vai falar com mais ninguém nesse celular.

– Por que? Como assim?

– Eu disse, não tem mais ninguém pra passar a mão na sua caaaaaaAaaaaa

– Mãe?

– aaaaaaaaaaaaAAAAaaaaaaaaaaa

– Mãe!?

– aaAaabeça. Querido, vou chegar um pouco tarde. Você quer que eu leve alguma coisa?

– Eu não… por que eu não posso ligar pra…

– Ah, para! Não lembra que eu tentei te ligar? Você viu o celular…

– Eu não vi! 

– Você viu! Você viu e não quis atender. Você não vai mentir mais aqui. Você estava pouco liganddddoOOOOooo…

– Alô? Por favor…

*

*

*

*

*

*
*

*

*

– Mãe, eu não sei o que tá acontecendo. Alô? Por favor.

– Querido eu vou chegar um pouco tarde, você quer alguma coisa?

– Por favor, por favor, por favor, por favor…

– Que foi? 

– Tem alguém lá… na cozinha. Eu estou ouvindo as coisas. Mas eu fui lá. Não tem ninguém, mas o barulho… o barulho continua, como se tivessem abrindo a geladeira, as gavetas… olha só! Agora, tá ouvindo? Meu Deus, meu Deus… 

– Ah, seu bobo. Sou eu.

– Mas…

– Eu cheguei tem um tempo e…

– Você disse que ia demorar… e eu não vi…

– Ah, não sou bem eu. É a sua mãe de verdade. 

– Minha…

– A nossa casa e a casa dela ocupam o mesmo espaço, então isso acontece às vezes, esqueceu?.

– Mas você é…

– O que você merece e o que você precisa. Todo mundo tem o seu próprio “o que você merece” e “o que você precisa”. Eu sou o que você merece o que você precisa quando você morre. 

– Por favor, eu tô com medo.

– E você vai precisar de mim e dessa casa por muito tempo… 

– Eu tô sem ar…

– Claro que sim. E sem lençol dessa vez. 

– Por favor, mãe. Eu quero a minha… 

– Mãe? Eu já disse, eu sou a mãe que você precisa agora. Por muitos anos. Muitos e muitos e muitos e muitos…

– De verdade… eu… minha mãe de…

– Para de chorar, eu não aguento mais. Não é à toa que ela te achava tão patético.

– Por favor…

– Sua mãe de verdade mal lembra de você. Já são vinte anos.

– Para…

– E sabe o que é pior? Ela ficou triste no começo…

– Deus, Deus, Deus, Deus…

– Mas você estava certo. Depois, ela ficou melhor sem você por perto.

– Deus! Ai, Deus! Por favor… Para de falar, para…

– Para de chorar!

– Por favor, por favor… 

– Bom, eu vou parar. Ta na minha vez de parar…

– Por favor… por favor… 

– Fala você, alguma coisa, então.

– Por favor… 

– Ta me ouvindo? Eu disse pra você falar alguma coisa.

– Falar… falar o que?

– Por que você não fala um pouco da sua infância?

– Da minha infância?

– É. Vai acalmar essa choradeira. Isso sempre te distrai. 

Sobre Fabio Baptista

Avatar de Desconhecido

23 comentários em “Linha Cruzada (Leandro Brarreiros)

  1. Priscila Pereira
    31 de março de 2025
    Avatar de Priscila Pereira

    Leandro, gostei bastante do conto!

    A primeira coisa que senti foi curiosidade, o que será que está acontecendo? Aí comecei a entender e que choque… o protagonista se suicidou e está condenado a ficar muito tempo num loop contínuo de conversas telefônicas (talvez a última coisa que ele fez) com a mãe, não a real, mas a que ele precisava.

    A forma em diálogo foi muito bem executada, revelando só o essencial e deixando a maior parte do enredo para a imaginação do leitor.

    Como disse no grupo, o conto é cheio de subtexto e isso é muito difícil de fazer!

    Parabéns pelo conto! 😘

  2. Fabio D'Oliveira
    29 de março de 2025
    Avatar de Fabio D'Oliveira

    Buenas, Telebrás!

    Acabei de comentar exatamente a mesma coisa: é um bom conto. Boa história, bons personagens, bom ápice, boa conclusão. Um conto equilibrado e que entretém o leitor. Na verdade, achei este conto levemente superior ao outro, que foi Hereditário. Por quê? É mais criativo. Ousa mais. E tem um formato interessante e muito bem executado.

    Movimentar a trama pelos diálogos não é tão fácil quanto a maioria pensa. Para funcionar bem, precisa ter naturalidade, timing certo, etc. E você acertou em basicamente tudo, aqui. Foi um dos poucos contos de terror que me deixou agoniado. O movimento no andar de baixo, a repetição de falas — como se estivesse num loop —, a agressividade súbita da outra mãe. É um conto imersivo e poderoso. É um bom conto, sim.

    Abração!

  3. Bia Machado
    29 de março de 2025
    Avatar de Bia Machado

    Enredo/plot (0,5/1): Olha, confesso que entendi o básico, que era uma conversa. E pelo jeito não era real… Do restante da ideia, fico igual ao Guimarães: eu quase de nada sei. Ou quase isso.

    Criatividade: (0,8/1) Não se vê quase contos assim, sem narrador, achei criativo, mas faltou mais elementos pra eu ter certeza (um pouco mais, pelo menos) do que li.

    Fluidez (1/1): Sim, o texto flui e o autor/autora tem repertório. Mesmo que não exista narrador.

    Gramática (1/1) se faltou algo, eu não percebi mesmo.

    Gosto/emoção: 1/1 Eu gostei, mesmo com a certeza de que perdi algumas coisas. Acho que faltou alguns detalhes a mais na conversa, pra ter certeza do que foi tudo isso, afinal. Era louco? Foi uma conversa com o sobrenatural? Talvez você reescreva após o desafio e desenvolva um pouco mais, porque vale a pena.

  4. Andre Brizola
    29 de março de 2025
    Avatar de Andre Brizola

    Olá, Telebrás!

    O conto tem uma premissa interessante, com um espírito, de um suicida, preso na casa em que se matou, “vivenciando” um ciclo em que assombra e é assombrado pela situação que causou com seu suicídio.

    A premissa de fato é interessante. Me parece uma mistura de Os Outros (um tema já encontrado em outro conto desse desafio), com a proposta episódica de séries televisivas como Além da Imaginação. Penso, inclusive, que esse enredo seria muito interessante se levado para um formato cinematográfico, pois tem potencial para cenas muito assustadoras, de fato.

    Mas (e devo dizer que há um “mas”), se penso que funcionaria muito bem em uma tela, acho que aqui, em forma de conto, muito de seu potencial acabou desperdiçado. Não sei se foi a opção pela permanência nos diálogos, mas todo o foco acabou ficou nas informações dadas entre os dois personagens, e os sons dos arredores, os sumiços na linha fantasmagórica (traduzidas em onomatopeias), a ambientação, que poderia ter sido explorada, acabam em segundo plano. Não temos um panorama geral, apenas as respostas e reações dos personagens, e me pareceu pouco para traduzir o terror que o personagem sentia.

    Acho que é um bom enredo, mas traduzido num formato que não é o ideal. É bem escrito, e há uma boa dose de criatividade. Mas acho que não funcionou muito bem, em minha opinião.

    É isso. Boa sorte no desafio!

  5. Raphael S. Pedro
    28 de março de 2025
    Avatar de Raphael S. Pedro

    O conto te apresenta um diálogo que parece ir de encontro ao cômico e vai se apresentando como terror, ponto positivo para o(a) autor(a).

             Por ser apresentado em forma de diálogo, as transcrições exatas de expressões cotidianas acabam sendo cansativas para quem lê, principalmente palavras onde se repetem as letras várias vezes.

    Notei ainda que o número de palavras ficou em torno da metade do limite estipulado para o desafio, o que de forma alguma diminui o mérito de ter conseguido contar uma história completa. É, claro, apenas uma observação, já que o regulamento estabelece um máximo, e não um mínimo. Parabéns!

  6. Thiago Lopes
    27 de março de 2025
    Avatar de Thiago Lopes

    É difícil escrever uma história por diálogos, ainda mais dando a naturalidade de uma conversa telefônica. Você usou alguns recursos que deram certo, como marcar as interrupções e usar expressões idiomáticas. Também foi inteligente a ideia de cruzamento de linha com uma espécie de cruzamento de dimensões. 

    Fiquei um pouco cansado no final, porque algumas situações pareciam se repetir, gerou a sensação de que o conto saiu longo demais.

  7. Leo Jardim
    27 de março de 2025
    Avatar de Leo Jardim

    📜 TRAMA (⭐⭐⭐▫▫): um loop simulando uma ligação telefônica entre um homem e a “mãe”. O cara se suicidou e tem dificuldades de aceitar isso. Enquanto isso conversa com alguém que ele acha ser a mãe de verdade, mas não é.

    Um conto ágil, fácil de ler, inteiro no formato de diálogo. Interessante porque funciona bem sem nenhuma cena. Boa, apesar da trama simples.

    📝 TÉCNICA (⭐⭐⭐▫▫): boa, conduz bem, ágil, como já disse. Sem firulas, mas também sem defeitos.

    🎯 TEMA (⭐⭐): se enquadra no terror.

    💡 CRIATIVIDADE (⭐⭐▫): dentro da média de desafio.

    🎭 IMPACTO (⭐⭐⭐▫▫): gostei do texto. Apesar de não ter um grande impacto no fim, prende a atenção para descobrir o que está acontecendo. O loop no fim sempre cria uma boa sensação de circularidade.

  8. claudiaangst
    27 de março de 2025
    Avatar de claudiaangst

    Terror psicológico? Gostei da estruturação do conto em diálogo, isso agiliza muito a leitura. Mãe só tem uma? O seu texto mostra que não é bem assim em alguns casos.

    Percebi que alguns acentos estão faltando, mas nada grave.

    Não comentaram sobre este conto lá no grupo de Whatsapp, mas acredito que siga ileso na série A (tirando o meu lugar, sem pesar).

    Boa sorte!

  9. paulo damin
    26 de março de 2025
    Avatar de paulo damin

    Interessante como tem contos sobre questões familiares nessa rodada. Suponho que seja porque a família pode ser um terror mesmo.

    Neste caso, a linha cruzada é entre mãe e filho. Os elementos significativos são o recheio da bolacha (o rosinha no centro do útero), a ligação que se corta (o cordão umbilical) e a busca desesperada pela reconexão (um lençol, uma corda no pescoço). Uma história sobre a dificuldade de se liberar da infância, num ciclo. Um complexo do qual o personagem tenta se livrar falando. O terror está aí, nessa coisa que não se resolve.

  10. rubem cabral
    25 de março de 2025
    Avatar de rubem cabral

    Olá, Telebrás.

    Gostei bastante do conto feito só de diálogos. Já fiz algumas vezes e sei como é difícil, pois os diálogos não podem soar artificiais e nem serem explicativos demais, pois os personagens não devem explicar coisas ao leitor. Você foi feliz em não cometer tais erros e conseguir inserir bastante tensão nos diálogos entre o homem e – supostamente – sua mãe.

    Os cortes funcionaram bem, assim como as distorções de voz, criando um crescente de tensão.

    Parabéns!

    Boa sorte no desafio e abraços.

  11. bdomanoski
    23 de março de 2025
    Avatar de bdomanoski

    Olha só, um dos melhores contos que li até agora! Totalmente dentro do tema. No começo achei que seria uma comédia, mas – felizmente – descambou pro terror, e foi tudo muito bem feito. As explicações foram inseridas na conversa de forma que o leitor pôde se situar sobre o plot do conto. Falas muito naturais. Nem foi preciso mais do que os diálogos pra construir a história e delinear todo o contexto. Descobrimos que o rapaz, ainda jovem, 20 anos antes, suicidou-se, e que ele não valorizava a própria mãe. Então agora ele meio que sofre um terrível karma de estar preso na mesma casa, e sozinho. Porque ele queria ficar sozinho, então agora ele conseguiu o que queria – e descobriu que preferia não estar. Texto entretivo, fluído, interessante e criativo. Nada de ruim a declarar, parabéns!

  12. Rodrigo Ortiz Vinholo
    21 de março de 2025
    Avatar de Rodrigo Ortiz Vinholo

    CARACA! Impactante! Bizarro, mas bem impactante. O formato focado em diálogos, no começo, me pareceu ser um artifício mais barato, mas a montagem da ligação vai ganhando corpo, as repetições adicionam camadas, e no final temos um excelente terror! Gostei muito! Em alguns pontos achei que faltou alguns cuidados com revisão (indo além, claro, dos pontos desencontrados pelas interferências na ligação), mas no geral está muito bom.

  13. Kelly Hatanaka
    21 de março de 2025
    Avatar de Kelly Hatanaka

    Um conto muito interessante. O fato de ser inteiro narrado por uma conversa telefônica dá um toque de incerteza e anacronismo muito bons. No final, trata-se de uma alma presa a um purgatório em que revive seu relacionamento com a mãe.

  14. paulo damin
    21 de março de 2025
    Avatar de paulo damin

    Interessante como tem contos sobre problemas familiares nessa rodada. Suponho que seja porque a família pode ser um terror mesmo. Neste caso, a linha cruzada é entre mãe e filho. Os elementos significativos são o recheio da bolacha (o rosinha no centro do útero), a ligação que se corta (o cordão umbilical) e a busca desesperada pela reconexão (um lençol, uma corda no pescoço). Uma história sobre a dificuldade de se liberar da infância, num ciclo. Um complexo do qual o personagem tenta se livrar falando. O terror está aí, nessa coisa que não se resolve.

  15. Jorge Santos
    20 de março de 2025
    Avatar de Jorge Santos

    Olá. Este seu conto foi o conto mais criativo que li neste desafio. Descrito como um diálogo numa ligação telefónica entre um filho e a mãe, onde mais alguém interfere, criando tensão psicológica que vai aumentando a intensidade. O problema é que falta o desfecho impactante para desvendar a trama, pelo que ficamos com um monte de perguntas sem resposta, um conto que começou bastante bem e que tinha um potencial imenso.

  16. Thiago Amaral
    20 de março de 2025
    Avatar de Thiago Amaral

    É um conto interessante.

    A primeira parte, slice of life, achei que seria uma comédia, mas não estava funcionando muito pra mim. Nada que chamasse muito a atenção. Quando vemos os primeiros elementos de terror, onde se escuta barulhos pela casa, começa a ficar um pouco mais interessante, finalmente culminando no mistério por trás de o que realmente está acontecendo entre os personagens.

    Minha interpretação é de que o rapaz se suicidou e agora passa a reviver conversas com uma mãe falsa, que o pune. Ele parece também ser um fantasma que vive paralelamente na mesma casa com a mãe verdadeira. Posso estar errado, já que não entendi bem quem é a mãe falsa. Um demônio punidor? Não sei.

    De qualquer modo, a ideia é boa. A circularidade do conto também ajuda a trazer a ideia de limbo, estar preso num ciclo de punição, como no inferno.

    Apesar disso, o diálogo em si não traz elementos suficientes pra causar um impacto maior. Talvez o excesso de “por favor”s do personagem não tenha ajudado, apesar de a intenção ser trazer realismo.

    Resumindo: ideia boa, resultado macabro, mas que poderia ter algum impacto a mais.

  17. Cyro Fernandes
    19 de março de 2025
    Avatar de Cyro Fernandes

    Conto criativo e com boa técnica.

    Creio que o impacto do terror acabou se perdendo ao longo dos diálogos.

  18. Fabiano Dexter
    18 de março de 2025
    Avatar de Fabiano Dexter

    Estou organizando os meus comentários conforme irei organizar as minhas notas, buscando levar para o autor a visão de um Leitor regular e assim tentar agregar algum valor. Assim a avaliação é dividida em História (O que achei da história como um todo, maior peso), Tema (o quanto o conto está aderente ao tema), Construção (Sou de exatas, então aqui vai a minha opinião geral sobre a leitura como um todo) e Impacto (o quanto o produto final me impactou)

    História (1,5)

    Primeiramente queria deixar claro que precisei para de ler o conto na metade e começar de novo por conta do título e autor. Fui certo que veria uma nove versão do trote da Telerj (dá época da Internet a vapor) e quando vi que era um conto de terror comecei de novo com novos olhos. E isso foi bom.

    O diálogo entre duas pessoas ao telefone, que depois descobrimos ser mãe e filho. Um ponto que seria interessante seria deixar essa informação mais clara no início do conto, pois fica um pouco difícil de perceber e, depois que sabemos, faz toda a diferença.

    No mais um excelente conto de terror, mostrando o que pode ser o inferno para uma determinada pessoa e com um toque especial com o final do conto repetindo as primeiras palavras, ou seja, mostrando que essa conversa já dura, segundo a “Mãe”, 20 anos…

    Tema (1,0)

    Terror de forma limpa e clara e muito bem executado.

    Construção (1,5)

    Os diálogos são muito interessantes e uma forma diferente de se contar a história, com as falhas nas ligações feitas de forma bem interessante e criativa.

    Como ponto negativo apenas que às vezes eu me perdia em quem estava falando o que é precisava voltar um pouco, principalmente nos momentos em que havia muitas falas curtas.

    Houve um risco do autor aqui em fazer um conto de terror composto exclusivamente de diálogos e deu certo.

    Impacto (1,0) Na primeira leitura não me pegou, mas em uma segunda leitura temos um maior peso do que realmente está acontecendo. Excelente!

  19. toniluismc
    18 de março de 2025
    Avatar de toniluismc

    Este definitivamente não é um conto para a geração Z xD

    O conto utiliza de forma muito eficaz o diálogo para criar uma narrativa angustiante, opressiva e desconcertante. O recurso do diálogo fragmentado, repetitivo e distorcido simula uma linha telefônica “cruzada” de maneira inteligente e verossímil, algo que hoje em dia é artigo raro no Brasil.

    A ausência proposital de explicações diretas é uma escolha técnica arriscada, mas que aqui é bem executada, aumentando a tensão e o desconforto ao longo da leitura. Contudo, em alguns momentos, a repetição pode cansar o leitor ou tornar o ritmo confuso demais, exigindo mais concentração.

    No fim das contas, gostei bastante deste experimento. Certamente é um conto memorável. Parabéns!

  20. Afonso Luiz Pereira
    16 de março de 2025
    Avatar de Afonso Luiz Pereira

    Este texto é curioso, construído inteiramente através de diálogos telefônicos, sem marcações ou descrições do ambiente. No início, com a conversa sobre o recheio do biscoito, achei até que se tratava de um conto de humor, mas aos poucos os diálogos vão revelando uma história de terror psicológico.

    O autor não entrega tudo de forma explícita, vai deixando pistas sobre o que pode ter acontecido com o protagonista filho. Há uma forte sugestão de um evento trágico no passado e a figura da mãe, a interlocutora, na verdade, parece ser uma entidade assumindo esse papel. A história se desenrolar em um looping temporal, com falas que se repetem como se o protagonista estivesse preso em uma dimensão além da morte.

    Fiquei dividido em relação às minhas impressões sobre o conto. Achei muito interessante o fato de ser inteiramente construído por diálogos, oferecendo vislumbres da situação sem narrador ou descrições. Os diálogos são fluidos e naturais, sustentando a história e transmitindo a sensação de isolamento e desespero do protagonista.

    Por outro lado, a falta de clareza sobre o que realmente aconteceu tornou a leitura, pelo menos para mim, um pouco confusa. Entendi que havia alguém mexendo na cozinha, talvez um ladrão, sei lá, e que, de alguma forma, o protagonista morreu. No entanto, a conexão entre esses elementos não fica totalmente explícita.

    Além disso, embora os diálogos sejam envolventes, há momentos em que a repetição se torna excessiva. Sei que o efeito de looping temporal faz parte da proposta, mas esse recurso acaba tornando algumas partes cansativas. Ainda assim, o conto cumpre bem seu papel de causar inquietação e prender o leitor até o final.

  21. Leandro Vasconcelos
    14 de março de 2025
    Avatar de Leandro Vasconcelos

    Opa! Um conto curioso este. Engraçado que, quando topei com o título e o pseudônimo, já antevi que, em algum ponto, haveria uma chamada telefônica naquelas linhas precárias de antigamente. Dito e feito. No entanto, a chamada é o próprio conto. Bem apreciei essa forma empregada.

    Aqui temos um texto construído unicamente sobre diálogos, os quais são bastante convincentes. Apesar de serem um tanto enigmáticos, possuem aquela aparência de realidade, o que empresta interesse e verossimilhança. A conversa se dá, aparentemente, entre mãe e filho. Mas isso só é revelado ao longo da narrativa, assim como as demais informações relativas ao conflito. E aí vamos juntando as peças do quebra-cabeça. Ponto positivo.

    Além disso, há uma sugestão, desde o início, de que existe algo no fundo gerando estresse, e isso nos mantém presos às linhas para entender a conjuntura. O ritmo é bom, ditado pela espontaneidade dos interlocutores, juntamente com as falhas da ligação.

    No exórdio, parece conversa de dois amigos rememorando a infância – o que já dá as caras do que o autor quer nos transmitir (a superação dessa fase da vida). O próprio fato de o personagem afoito querer desanuviar por meio desses fatos da infância já demonstra muito de sua personalidade e daquilo que o texto quer nos passar. Só depois entendemos o que, de fato, está envolvido.

    A mensagem que retirei do texto, e perdoe-me se interpretei mal, é que o fulano recebeu uma chamada da maturidade – sua outra mãe. O cara deve crescer, encarar os problemas de frente, e não ficar ligando para a mamãezinha a fim de que ela os resolva. Não! O atraso da mulher ao telefone, que repete várias vezes que vai demorar, aliado às constantes repreensões ao sujeito, evidenciam que a maturidade tardou a chegar em sua vida. E aí, meu amigo, quando ela finalmente chega, pode ser tarde demais. Você vai estar desesperado. Como dito pelo autor: misturam-se aquilo que a pessoa merece e o que ela precisa, então ela morre.

    Foi isso que entendi. E a forma utilizada para transmitir a mensagem é excelente, repito. O texto voa. Pode chocar alguns, e frustrar outros – sobretudo no que tange à adequação ao tema do concurso. Mas foi uma proposta muito original. Parabéns!

  22. José Leonardo
    13 de março de 2025
    Avatar de José Leonardo

    Olá, Telebrás.

    Tendo em vista as minhas limitações técnicas para apreciar melhor o seu conto e de modo a tentar esquentar meus comentários que acho um tanto insossos, decidi convocar, por meio de um ritual de fervura de miojo de tomate com leite coalhado e digitação de Zerinho-um no MS-DOS, a FRIACA® (Falsa Ruiva Inteligente Auxiliar para Comentários e Avaliações) para me ajudar nessa bela empreitada e proporcionar a melhor avaliação possível acerca do seu texto (dentro da minha perspectiva de leitor).

    FRIACA: Do que se trata o conto?

    R.: Uma conversa telefônica mantida entre o filho e sua mãe falecida. No entanto se apresentam interferências constantes e uma terceira figura se intromete na linha.

    FRIACA: Como você vê a narração, o estilo, a estrutura, a técnica?

    R.: Conto curioso escrito somente em diálogos (e sem rubricas). Sem nomes de personagens – que felizmente são poucos e cujas falas conseguimos identificar, diferentemente do diálogo sem rubricas pynchoniano, por exemplo, que às vezes ficamos perdidos tentando saber quem falou (mas ler Pynchon é uma maravilhosa viagem na maionese – isso tô pegando de alguém porque é verdadeiro!) O tom circular do conto (a repetição), para mim, reforça que está se dando entre dimensões/planos diferentes. 

    FRIACA: E quanto à adequação ao tema, à criatividade e ao impacto?

    R.: Adequado ao tema de terror, mas esse é sutil e opera nas entrelinhas do conto. O bom do texto é a impressão de estar sendo observado mesmo durante uma conversa prosaica com o espírito de sua mãe (prosaica mas com um propósito claro para o leitor: acalmar o filho enquanto este escuta barulhos em outros cômodos – dentre outros problemas que não aparecem no texto mas podem ser depreendidos no correr do diálogo mantido com a mãe). É um conto criativo, que soube tecer a tensão nas entrelinhas até o momento em que a interferência se manifesta e toma a palavra.

    FRIACA: Indo um pouco mais a fundo nesse particular e apesar do aspecto subjetivo do que a história pode causar no leitor, é um conto para dar risadas ou aterrorizar-se?

    R.: Comigo o(a) autor(a) obteve êxito nessa tessitura de ameaça implícita (digamos). É meio medonha a figura que se intromete e quer tomar as rédeas da situação e da vida do filho. É como estar falando com alguém numa sala de espera e subitamente um terceiro toma o telefone da mão de seu interlocutor e tenta se passar por ele. Não preciso saber se é fulano, sicrano ou beltrano – o tom do conto me deixa implícito que não é boa pessoa, ou melhor, um bom espectro…

    FRIACA: Qual sua posição final sobre esse conto, inclusive sobre a nota?

    R.: Conto que caiu no meu gosto pela estrutura e pelo terror implícito. A angústia de não se saber o que é às vezes é maior do que aquela de se prever quem é – e o conto se tornou exitoso, a meu ver, nesse sentido. Nota: 4,2

    Parabéns pela estória e boa sorte neste desafio.

  23. Givago Domingues Thimoti
    12 de março de 2025
    Avatar de Givago Domingues Thimoti

    Autor, autora, boa noite!

    Bom, como integrante da série A, não posso dar nota para esse conto. Ainda assim, vou tentar comentar todos os contos do desafio.

    Dito isso, meu comentário será mais leve. Surpreendente como esse conto não apareceu ainda no grupo. Eventualmente, alguém precisa comentar sobre ele. Ainda não li os demais contos da série A, mas esse aqui tem um quê de especial: um conto de terror que efetivamente impactou o leitor pelo estranhamento. Muito bom!

    A história por trás não ficou muito definida para mim. Um filho, confuso sem dúvidas, conversa por telefone com a sua mãe. Conforme o conto desenrola apenas pelo diálogo, uma presença atrapalha a ligação (por isso o nome linha cruzada). Essa presença, de alguma forma, toma a mãe, e também domina o filho. Bom, foi isso que depreendi.

    De negativo: correção gramatical e falta de revisão. Uma narrativa muito boa que foi prejudicada pela execução, pela escrita. Uma pena, mas algo me diz que o autor/ a autora ficará na série A.

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Publicado às 9 de março de 2025 por em Liga 2025 - 1A, Liga 2025 - Rodada 1 e marcado .