EntreContos

Detox Literário.

Ciclo de Sombras (Claudia Roberta Angst)

Sangue. Muito sangue.

Submersa na dor, com a respiração cada vez mais irregular, Clara sentia a densidade ao redor, o ar pesado demais para ser inspirado. Um som seco de ruptura ecoou pela sala, tecido rasgando-se até o limite das fibras. A tensão no ambiente tornava tudo ainda mais perturbador, conforme o tempo e o espaço se diluíam. Os sentidos aguçavam-se diante da ameaça de uma repentina fatalidade.  

— Não vai escapar.

A voz chegou-lhe distorcida, talvez abafada pela camada gelatinosa aderida à sua pele, o estreitamento do espaço dificultando qualquer movimento.

As paredes pareciam se fechar sobre o seu corpo, comprimindo os músculos, arqueando os ossos. Iria se quebrar, era inevitável. A sala pulsava com uma pressão crescente, provocando o expulsar do ar de seus frágeis pulmões. Nada fazia sentido naquela dor insuportável. Sentiu o toque de mãos estranhas, frias como se pertencentes a outro universo. Prestes a emergir do abismo, o desconhecido chamado.

O frio alastrava-se pelo espaço cada vez mais restrito. Ao mesmo tempo, uma força se expandia dentro de si, uma pressão insuportável, tentando se libertar. A pele estava úmida, a mente turva, a resistência sem forma de incontrolável agonia.

— Precisamos intervir imediatamente, antes que…

Os ruídos ao redor produziam ecos distorcidos de um mundo que já não existia. Instrumentos metálicos tilintando em ritmo descompassado. E então, uma nova onda de dor, esmagadora, tomou conta de tudo. Algo havia se deteriorado, e ela sentiu a realidade se desfazendo. O que quer que tivesse se soltado, estava agora ali, respirando.

— Preparem tudo o mais rápido que puderem. Se não avançarmos agora, temo que …

As palavras seguintes não chegaram aos seus ouvidos. Na ignorância do que acontecia, só pôde supor que a sua jornada a partir dali seria um aglomerado de dúvidas constantes. O que começara como aventura, supostamente um momento de alegria, tornou-se um tormento marcado por um frio incomum que tomou conta da área que o seu corpo ocupava.

Ouviu vozes, o ruído de matéria pulsante, enquanto mãos a seguravam, até que o silêncio devorou o momento como se o tempo não ousasse se mover. O choro, um pequeno grito que ecoou frágil e débil, não trouxe alívio. Sabia que a tortura apenas havia começado, o caos a aguardava.

— Vamos com isso, ela vai conseguir…

E Clara conseguiu, mas teve de deixar tudo para trás. Ignorou as vozes, as mãos, o medo. Agora era uma questão de sobrevivência.

Os próximos passos foram atropelos e quedas. Tropeçava nas palavras, em objetos que não deviam estar no caminho. Ignorava o próprio sofrimento, ciente de que nada a poderia resgatar daquele labirinto kafkiano.

Quando cair revelou-se inevitável, Clara bravamente encarou a dor, fez do padecimento um rito de passagem. Ela se levantava ainda mais determinada, como se cada tombo fosse uma promessa de fuga bem-sucedida.

Percebia os vultos, seres que se pareciam com ela, mas havia outros tantos muito maiores, mais altos, assustadores.  Todos a olhavam de um modo estranho, com uma mistura de curiosidade e desprezo. O que viam nela? Será mesmo que a enxergavam?

Não se deu conta da passagem do tempo, pois o contar das horas, o desfolhar do calendário, tudo era irrelevante. Logo descobriu que havia se tornado um alvo, um nome a ser zombado, um rosto a ser ridicularizado.

— Vai logo, Clara. Ou você prefere ficar aí sozinha?

As palavras a mantinham refém sob suas bordas afiadas, cortando sem piedade suas poucas iniciativas de fuga. A tortura não era apenas verbal; havia um requinte na condução de flagelos. Uma sensação estranha de estar sendo observada, mesmo sabendo-se irremediavelmente sozinha.

Então, percebeu que havia uma liderança. Uma das criaturas mais altas, de formas arredondadas e robustas, ditava normas, testando o conhecimento dos que a rodeavam. Clara estava entre eles, tentando camuflar sua presença, com medo de não ter as respostas pretendidas pela líder.

Percebeu como ela parece vir das sombras? Uma bruxa!

Não respondeu.

Tornou a testemunhar a mesma cena muitas vezes, tantas que perdeu o receio e arriscou-se a responder. Alto, em bom som, mas não foi ouvida. Desejou só sair dali. Que fosse expulsa como já se acostumara a ser, precisava seguir adiante, a fim de alcançar a saída daquele pesadelo.

Não definia dia ou noite. Tudo era sempre igual, a mesma rotina, de suposto acolhimento e posterior exclusão. Percorreu o longo corredor, sentindo o peso de um corpo que não reconhecia.

Passos duplicavam-se às suas costas, esperando o momento propício para atacar. As risadas miúdas e outras de expansivas larguezas se transformavam em murmúrios baixos, ameaçadores. Não era apenas o sofrimento de exclusão. Era a sensação de que algo em sua vida já estava sendo moldado pelas mãos invisíveis de uma força desconhecida. Perecia.

Clara passava pelos corredores infinitos, mas a cada porta aberta retornava ao mesmo ponto. Como se o tempo se fragmentasse, dobrado sobre si mesmo e a condenasse a reviver o pesadelo.

O vazio tomou conta de tudo. A solidão diante de uma multidão de potenciais assassinos. Por que não a deixavam em paz? Só queria seguir adiante, até alcançar a próxima porta, alguma brecha que a permitisse sair dali. O arrastar de sombras a acompanhava em cada canto, em cada momento. Não havia margem para ter esperança de algum socorro. Nada de amigos, todos os heróis estavam ausentes.

Não podia contar sequer com a sua voz, tudo nela era inaudível. Quando alguém parecia se aproximar, talvez para ajudá-la, quem sabe, logo revelava-se uma farsa, e Clara se preparava esperando para ser abandonada novamente. As poucas fagulhas de esperança foram substituídas por pesadelos em que seus próprios medos tomavam forma, perseguindo-a pelas dunas cada vez mais amplas de um deserto.

— Não siga por ali. Não vê que vai se dar mal?

Ela não via. Não podia enxergar o que lhe apontavam como perigo. O tempo, medida inexistente, revelava-se lembrança. O que era afinal o amor? Sentimento que não tinha acesso àquele lugar. Mas o medo, sim.

Quando o tal sujeito se deteve por um instante a assistir ao seu desespero, ela soube que estava perdida. Podia ver em seus olhos um misto de comiseração e repulsa. Mas ele ficou ali, fascinado com o seu aspecto doentio, pronto para acolher poeira e lágrimas. Os braços fecharam-se em armadilha sem escape. Estava selado o pacto.

Trataram logo de providenciar algemas, mas era preciso apenas um elo, mesmo que fino, pó dourado solidificado em promessas vãs. Ela estava presa. E não adiantava se debater porque todos os outros a observavam e sorriam. Devia estar mesmo perfeita naquele papel, desempenhando função de vítima conivente.

— Agora é para sempre. Não vai se livrar de mim nunca, nunquinha, te prometo.

Ela o odiou, mas também o amou. Deus e demônio em um só corpo. O intervalo de alívio foi computado, embora a ruptura tenha chegado com a mesma força de um tornado. Os gritos, as palavras afiadas, as promessas quebradas. O espaço que antes parecia ser o refúgio de dois corações, agora estava vazio, um eco constante. Papéis foram assinados, ela sabia que o amor que se foi carregava consigo futuros inutilizados.

Se você acha que essa é a saída…

Algo se arrastava, tal e qual um espectro, atrás de cada um dos vultos que se multiplicavam. Estava em uma caverna? Não, aquele tormento era só o fim de uma etapa pela qual Clara precisava passar para alcançar a liberdade. Era o fim de algo mais profundo, a esperança que se escondia nas dobras de sua alma.

Um apanhado de nuvens caiu sobre Clara, envolvendo-a em um manto de silêncio angustiante. No último casulo, a respiração seguia um ritmo pesado, oscilante, como se algo puxasse o corpo para um lugar onde o ar era rarefeito.

Estava novamente presa. Uma espécie de ventilador girava preguiçoso no teto, lançando sombras trêmulas pelas paredes. Interrogaram Clara por horas, talvez dias, mas o que podia ela dizer? Devia ter partido antes até mesmo de existir.

— Pode ir, já não serve pra nada.

Ela ficou. Não sabia mais para onde ir, que direção tomar. Sua cabeça doía, não havia expectativas que a pudessem consolar durante a jornada. Para onde voltaria, se não pertencia a lugar nenhum? Nem antes, nem depois.

Então, ela ficou, ficou e ficou. Só sabia ficar.

O tempo voltou a existir, implacável, a girar sem trégua. E Clara não conseguia mais seguir em frente. Seus passos só conheciam curvas, voltavam a mesmo ponto, estacionavam. Não descobriam futuro algum.

Afinal, tudo se resumia àquilo? Um fim sem o triunfo da liberdade. Desistiu. Não tinha mais forças para criar novos planos ou sonhos. Perdia-se sem vontade de se encontrar.

Foi então que notou o suor frio formando-se em sua testa, ainda que a temperatura do ambiente parecesse amena. De repente, um aperto invisível agarrou seu peito, uma mão espectral espremendo seu coração como quem torce um pano encharcado.

O corpo, quase adormecido na falsa paz do abandono, não reagiu. Apenas um espasmo sutil percorreu seus dedos, um eco fraco de um desespero que ela sequer conseguia compreender.

Por um momento, imaginou a vida lá fora, o vento sussurrando entre as árvores, rotas de fuga se multiplicando aos seus pés. Mas dentro do quarto tudo parou. Nenhuma dor, nenhum som, apenas um vazio crescente.

O organismo esgotado pelos anos já não lhe pertencia. As veias, antes pulsantes, secaram como raízes expostas ao sol. Sua mente tentou acordar, mas estava afundando, cada vez mais fundo, em um abismo sem nome.

O relógio disparava horas quando seu peito se tornou pedra e sua respiração, um eco ausente. Ela queria se mover, gritar, mas já não havia quem pudesse ouvi-la. Estava realmente só.

A última fagulha de consciência brilhou por um instante, iluminando a verdade aterradora: Clara deixaria de existir.

A aproximação da indesejada das gentes não se fez alívio. Veio de forma silenciosa, visitante inesperada, trazendo o peso das muitas fases não vividas, dos erros não corrigidos, das esperanças desfeitas. Clara olhou-se na face da morte, deparou com um sorriso vazio.

Ela sabia que não haveria escapatória. Nunca houve. As sombras que a acompanharam durante toda sua jornada agora estavam diante dela, mais nítidas, mais pesadas. Então percebeu que o seu maior medo não era morrer, mas continuar à beira de abismos imaginários, apenas um reflexo distorcido daquilo que pretendera experienciar: a liberdade.

Após uma sucessão de estremecimentos, o corpo desfazia-se em mácula borrada pelas lágrimas. Um último suspiro percorreu a boca já sem saliva, ressoando entre os dentes. Clara, atada à derradeira fibra de existência, demorava-se, à espera do Ser que talvez a impregnasse de eternidade.

Em vão.

Era apenas sombra.

Sobre Fabio Baptista

Avatar de Desconhecido

38 comentários em “Ciclo de Sombras (Claudia Roberta Angst)

  1. Fabio D'Oliveira
    29 de março de 2025
    Avatar de Fabio D'Oliveira

    Buenas, Clara!

    Confusão. Escuridão. Ciclos viciosos. É a vida de muitas pessoas. Esse conto é uma grande alegoria para a caminhada dos perdidos, aquelas almas que vivem numa realidade abusiva, tóxica. Aqui, representada por uma mulher, não deixa de ser uma representação de todas as almas perdidas.

    De certa forma, identifico-me um pouco com este conto. Minha vida não foi muito salubre, digamos, rs. Talvez isso tenha facilitado minha conexão com o texto.

    Como fã de um bom surrealismo, apenas as descrições do ambiente sinistro e das sombras já me conquistaram. Todo o simbolismo, toda a perdição, toda a escuridão; tudo isso complementou minha admiração por este conto. Mesmo que não tenha sido admirado por alguns colegas da EC, saiba que alguém admirou. E muito.

    Abração.

    • claudiaangst
      29 de março de 2025
      Avatar de claudiaangst

      Foi o primeiro comentário que li e… Muito obrigada, Fabio, fez com que eu me sentisse melhor. Que bom que gostou do meu conto. Eu já sabia que não ia agradar a maioria, mas se alguém como você curtiu, fico feliz.

  2. Bia Machado
    29 de março de 2025
    Avatar de Bia Machado

    Enredo/Plot: 1/1 – Estou muito confusa quanto ao enredo desse conto. Uma mulher que teve uma vida em que infelizmente só teve tristeza e foi enganada por todos? Até que morreu? Ou seriam várias vidas de uma mesma alma, em que os infortúnios se repetem? Infelizmente, não consegui ter certeza do que é, na verdade.

    Criatividade: 0,7/1 – Estranho colocar pontuação neste item sem entender realmente o que se passou, mas não posso dar pontuação máxima também… enfim, acho um conto difícil pra mim, pelo menos, em todos os sentidos…

    Fluidez narrativa: 1/1 – O conto tem uma narrativa que flui, apesar de eu não ter compreendido ao certo o que se passou, foi uma leitura que fluiu e eu pude até me emocionar, mesmo sem saber ao certo o que houve de verdade. A pessoa que escreveu sabe emocionar com sua escrita. Foi uma narração segura.

    Gramática: 1/1 – Não vi quaisquer erros.

    Gosto/Emoção: 1/1 – Apesar de não ter compreendido, eu gostei do conto, porque me comovi com a personagem. Pra mim, o conto tem uma carga dramática muito boa. Talvez lendo mais vezes eu conseguisse definir afinal o enredo, mas vou ter que fazer isso em outro momento, infelizmente. Mas parabéns pelo texto.

    • claudiaangst
      29 de março de 2025
      Avatar de claudiaangst

      Obrigada, Bia, pelo comentário generoso. Sim, foi uma tentativa ousada. E eu sabia dos riscos envolvidos. Restou-me as sombras. 🙂

  3. Andre Brizola
    29 de março de 2025
    Avatar de Andre Brizola

    Olá, Clara!

    O conto, me parece, versa sobre o ciclo da vida, do nascimento à irremediável morte. A forma como esse ciclo é descrito e contado, entretanto, é feita de forma bastante hermética, escondida em construções que tentam mascarar seu propósito.

    O texto é interessante. Algumas construções frasais são muito bonitas e geram aquele prazer de estar em contato com a literatura que te leva além e te desafia, que tenta te mostrar que existe uma forma de se contar histórias diferente da usual e te levar pra lá. Por outro lado, essa é uma forma bastante difícil de controlar, e acho que não há um equilíbrio totalmente completo na forma como o conto foi concluído.

    Digo isso porque ele deveria se enquadrar num dos dois temas do desafio, e não acho que o conto tenha tido sucesso nisso. Obviamente não é comédia e, entendendo o desespero pessoal da personagem, ficamos com a possibilidade do terror. Mas se a vida é desesperadora, todo conto sobre a vida será terror? Penso que não. E não acho que esse tenha sido o foco do conto e, se realmente não foi, ele falha em demonstrar isso de forma mais clara, pois se perde na forma hermética como foi criado.

    Gosto do conto. Acho que é criativo, engenhoso, mas um tanto quanto desbalanceado para o tema para o qual foi remetido. Não fosse isso, estaria entre os meus preferidos.

    É isso, boa sorte no desafio!

    • claudiaangst
      29 de março de 2025
      Avatar de claudiaangst

      Pois é, André, eu arrisquei ao escrever um conto assim sem terror explícito. Para mim, a protagonista encarava a vida como um interminável horror ( terror psicológico talvez?). Não acertei a mão, mas tudo bem. Valeu pela experiência. Obrigada pelo comentário criterioso e pelos elogios.

  4. Raphael S. Pedro
    28 de março de 2025
    Avatar de Raphael S. Pedro

    A história me parece contar a experiência pós e pré-morte da personagem.

             Sendo um desafio com o tema terror, não fez medo, porém soube explorar o tema muito bem o que é um ponto positivo.

             A técnica me pareceu de boa qualidade, sabendo conduzir o leitor até onde queria.         

    Tratando-se de um desafio onde deverá se avaliar cada conto com notas, não vejo razão para as críticas no grupo, principalmente quando comparado aos outros contos que li.

    • claudiaangst
      29 de março de 2025
      Avatar de claudiaangst

      Muito obrigada, Raphael, pelo comentário consolador. Realmente, meu conto não agradou a galera da Série B e é pra lá que eu vou. Feliz? Nem tanto, mas satisfeita por não ter desistido. Abraço.

  5. Thiago Lopes
    27 de março de 2025
    Avatar de Thiago Lopes

    O que mais gostei do conto é o esforço do autor para nos colocar nas cenas. A descrição dos detalhes ajudou a formar as imagens, a individualizar as coisas; melhor ficaria se as descrições fossem mais pessoais, mais específicas, com palavras menos comuns e verbos mais assertivos.  Creio que, com isso, a empatia do leitor aumentaria. Mas entendo que, sobretudo no início, o autor precise passar sinais de imprecisão, para reforçar o sentimento de confusão da personagem. 

    Mas em um parágrafo como este: “Ouviu vozes, o ruído de matéria pulsante, enquanto mãos a seguravam, até que o silêncio devorou o momento como se o tempo não ousasse se mover. O choro, um pequeno grito que ecoou frágil e débil, não trouxe alívio. Sabia que a tortura apenas havia começado, o caos a aguardava.”. Creio que o efeito seria mais impactante sem os clichês descritivos, com verbos mais fortes e pessoais, cortes, e supressão de expressões adjetivas: “Ouviu ruídos, enquanto mãos a prendiam e o silêncio imobilizava o tempo. O grito não trouxe alívio, pois sabia que a tortura havia apenas começado”. O mesmo vale para “suor frio”, “peito se tornou pedra”, “fagulha de consciência”.  

    O que realmente incomodou foi o “labirinto kafkiano” totalmente gratuito, que nada acrescenta e ainda tira a tensão. De resto, realmente a escrita é muito boa, as cenas, noturnas e soturnas, trouxeram realmente uma atmosfera, e a confusão da personagem foi transmitida de modo que entendemos ter sido intencional. O final também é bom, a frase final surtiu efeito. 

    • claudiaangst
      30 de março de 2025
      Avatar de claudiaangst

      Thiago, obrigada pelas dicas. Fizeram sentido para mim. Infelizmente, não trabalhei o conto o suficiente para torná-lo mais interessante. Fica para a próxima.

  6. Leo Jardim
    27 de março de 2025
    Avatar de Leo Jardim

    📜 TRAMA (⭐⭐⭐▫▫): uma vida de uma mulher, do nascimento à morte, e voltando ao início, num ciclo sem fim e de dor. Uma mulher que não se encaixa na vida, sempre perseguida, tentando se adequar aos padrões estabelecidos e não conseguindo. É uma boa história e contada de uma forma bastante poética. Só me incomodou um pouco a ausência de algo pra me guiar em meio ao mar de acontecimentos difusos.

    📝 TÉCNICA (⭐⭐⭐⭐▫): muito boa! Consegue descrever vários momentos da vida da protagonista (e de muitas mulheres) com uso e abuso de comparações e metáforas.

    🎯 TEMA (⭐⭐): usa o terror da vida cotidiana.

    💡 CRIATIVIDADE (⭐⭐⭐): achei acima da média do desafio.

    🎭 IMPACTO (⭐⭐⭐▫▫): gostei do texto. Apesar de não me impactar tanto quanto gostaria (esperava um final mais catártico), mas senti bastante incômodo ao ler o texto e acredito que era esse o objetivo do autor ou autora.

    • claudiaangst
      30 de março de 2025
      Avatar de claudiaangst

      Obrigada, Leo, pelo comentário generoso e elucidativo. Parabéns pela sua colocação. Fico feliz porque meu próximo conto será lido e avaliado por você. Tomara que eu não te decepcione. Abraço.

  7. rubem cabral
    25 de março de 2025
    Avatar de rubem cabral

    Olá, Clara Breu.

    Um bom conto, sujeito à interpretações diversas, devido a forma como foi escrito, muito misteriosa.

    Eu entendi como nascimento, crescimento, casamento e morte de Clara. O início passou-me a ideia de parto, outras partes deram-me outras ideias.

    Essa passagem, por exemplo, pareceu-me casamento: “— Agora é para sempre. Não vai se livrar de mim nunca, nunquinha, te prometo.

    Ela o odiou, mas também o amou. Deus e demônio em um só corpo. O intervalo de alívio foi computado, embora a ruptura tenha chegado com a mesma força de um tornado. Os gritos, as palavras afiadas, as promessas quebradas. O espaço que antes parecia ser o refúgio de dois corações, agora estava vazio, um eco constante. Papéis foram assinados, ela sabia que o amor que se foi carregava consigo futuros inutilizados.”

    O conto é bem escrito, mas não gosto muito de textos tão misteriosos, em especial quando não revelam bem os fatos escondidos por camadas de imagens e metáforas.

    De qualquer, forma, foi uma leitura agradável de um conto bem escrito.

    Obrigado e boa sorte no desafio!

    • claudiaangst
      30 de março de 2025
      Avatar de claudiaangst

      Pois é, Rubem, exagerei no mistério. Foi muita sombra para pouco conto. Muito obrigada pela leitura e comentário. Estaremos juntos na série B?

  8. bdomanoski
    23 de março de 2025
    Avatar de bdomanoski

    Bom dia, autor(a) . Infelizmente, sofri bastante pra ler este conto. Durante 90% da história, simplesmente não dava para compreender do que se tratava, ou do que a protagonista estava falando ou o que realmente estava acontecendo com ela, com quem ela estava, e etc. Não sei se a intenção era fazer algo filosófico ou figurado, mas as passagens utilizadas deixaram tudo bastante embaralhado. Por ex, se foi essa a intenção, menção a sangue, ventilador no teto e coisas físicas não casaram bem. Se por outro lado o conto tentou retratar um punhado de cenas de ação física, e não mental, acredito que pecou na ambientação e na elaboração das descrições. Uma hora a protagonista parecia estar numa situação de aprisionamento, num momento seguinte, ela estava correndo e pulando sem uma ponte que ligasse as 2 situações. O fim do conto me deu a suspeita de que o conto seria uma reflexão sobre a personagem estar se sentindo presa e ansiando pela liberdade, mas, novamente, várias passagens não casaram com essa conclusão. Fico frustrada porque queria ter compreendido melhor e talvez até gostado. E não digo que desgostei totalmente, porque gostei da associação que supus no final sobre o medo de ser livre. Acredito que poderia ter deixado mais claro sobre o que, afinal, se tratava a história; coisas como onde a protagonista estava, maiores descrições de ambiente, etc. Achei tudo excessivamente indefinido. Não me entreteu em quase nenhum momento.

    • claudiaangst
      30 de março de 2025
      Avatar de claudiaangst

      Bruna, obrigada por ter tentado compreender o meu conto. Acho que exagerei nas sombras e deixei os leitores perdidos. Foi um risco que assumi. Vivendo e aprendendo, não é mesmo?

  9. Kelly Hatanaka
    21 de março de 2025
    Avatar de Kelly Hatanaka

    Parece ser a vida de uma pessoa, do nascimento a morte. Mas achei bem confuso e, francamente, não entendi muito bem. Acho que as passagens de tempo foram muito abruptas, o que pode ter causado a confusão. Mas o tempo passa rápido, será que era isso que se queria mostrar? A escrita é excelente, mas eu me perdi.

    • claudiaangst
      30 de março de 2025
      Avatar de claudiaangst

      Exagerei no “fog” e deixei todo mundo perdido. Confesso que não consegui lapidar bem o texto, pois estava enjoada dele e só queria encerrar a missão. Obrigada pelo seu comentário que sempre acrescenta muito.

  10. Jorge Santos
    20 de março de 2025
    Avatar de Jorge Santos

    Olá breu. Foi uma leitura complexa, a que fiz do seu conto. Na realidade, tiveram de ser três leituras, o máximo que faço aos contos destes desafios. Parto do princípio de que se ao fim de três leituras não percebo o sentido do texto, o problema não é meu, enquanto leitor. O seu texto fala da vida de uma mulher, Clara, que nasce de um parto difícil e cujas dificuldades continuam ao longo da vida, pelo simples facto de ser mulher. Foi este o sentido que percebi. O terror de ser mulher numa cultura na qual são encaradas como seres de segunda categoria, meras sombras de uma realidade machista. Foi este o sentido que tirei do seu texto, o único que faz com que tenha sentido, porque tudo o resto se esconde em metáforas poéticas, em frases tensas que descrevem psicologicamente alguém que em momento algum sentiu felicidade. Até mesmo o amor foi um ato doloroso. Caso não tenha sido esta a intenção do autor ou autora, tenho pena. No final, um texto pertence sempre ao leitor. É ele que faz do texto a última palavra. É o seu entendimento que vale. No momento em que o leitor termina de o ler, ou desiste depois de múltiplas leituras, como foi o meu caso, o escritor já não é mais do que um mensageiro. Na irrelevância da intenção versus o sentido da palavra, vencerá sempre o sentido da palavra. Aquilo que o leitor percebe. No seu caso, estamos perante um texto com um sentido profundo, que foi escondido nas muitas sombras de outros sentidos.

    • claudiaangst
      30 de março de 2025
      Avatar de claudiaangst

      Muito obrigada pelo seu comentário, Jorge, gostei imenso. Concordo com você, no final, um texto pertence sempre ao leitor. E creio que você entendeu bem o sentido que quis dar à narrativa. Sim, exagerei nas sombras e fiz muitos leitores não enxergarem a minha proposta. Abraço.

  11. paulo damin
    20 de março de 2025
    Avatar de paulo damin

    Bom exemplo de harmonia entre forma e conteúdo. Uma história que não é, cheia de acontecimentos que não são, representados por uma voz que não tem corpo, uma luz que não ilumina e uma escuridão que não esconde. O nome alusivo à repetição das sombras é bem adequado. Pura indefinição, numa rotina. Pra mim, é o terror da literatura.

    • claudiaangst
      30 de março de 2025
      Avatar de claudiaangst

      Meu conto é o terror da literatura? Espero que não… Gostei do seu comentário, da sua percepção. Obrigada.

  12. Cyro Fernandes
    19 de março de 2025
    Avatar de Cyro Fernandes

    Como o título sugere, é um conto bem sombrio. Possui uma narrativa rebuscada, de boa técnica.

    Acabei me perdendo entre as metáforas densas, que não consegui seguir totalmente.

    • claudiaangst
      30 de março de 2025
      Avatar de claudiaangst

      Então, Cyro, é isso mesmo: sempre exagero nas metáforas densas… Adoro uma densidade, mas desta vez errei a mão. Obrigada pelo comentário.

  13. Rodrigo Ortiz Vinholo
    18 de março de 2025
    Avatar de Rodrigo Ortiz Vinholo

    Tenho sentimentos mistos sobre narrações demasiadamente líricas. O texto parece ir em um caminho de metáfora, depois parece ir por outro, depois é literal mas com caminhos ainda um tanto poéticos que parecem querer trabalhar mais significados do que estão ou podem estar presentes. A trajetória de uma vida é contada do ponto de vista de sofrimentos e de uma redução a sombras do que realmente são… o tema é bom, a execução tem seus momentos interessantes, mas me parece que o excesso do anseio por explorar esse estilo mais indireto e poético, esse quase solipsismo da personagem, acaba deixando o sofrimento dela mais embaçado, e isso pesa bastante em uma narração de terror. Para mim, o texto transmitiu a angústia de Clara, mas muito dos motivos por que ela sofria ficaram distantes de mim. Parabéns pelo texto, você claramente tem habilidade e a proposta é mesmo interessante, mas entendo que ele poderia ser expandido e aprofundado em vários pontos.

    • claudiaangst
      30 de março de 2025
      Avatar de claudiaangst

      Embaçado! Era essa palavra que eu estava procurando para definir como o leitor interpretou meu conto. Responsabilidade minha, pois entornei o pote todo de metáforas e prosa poética (tenho um certo vício, confesso). Obrigada pelo comentário tão atento.

  14. Thiago Amaral
    17 de março de 2025
    Avatar de Thiago Amaral

    Esse conto está abarcando uma má reputação no grupo do Whatsapp, e é meu trabalho redimí-lo um pouquinho aqui. Mesmo que eu seja apenas um. hahahah

    Olha, vou ter que dizer que gostei do conto. Sou grande fã da linguagem poética em histórias, e esse tem muita. Talvez um pouquinho demais, o que está torcendo o nariz dos nossos entrecontistas. Mas, ao menos, tentou-se algo diferente.

    Ao meu interpretar, trata-se do ciclo de vida da protagonista Clara, que pode ou não ser acometida de depressão. Desde o início, em seu nascimento, acompanhamos todas as impressões extremamente negativas que sua experiência de vida nos traz. Não há perdão, não há momento para respirar: cada segundo, cada parágrafo, é acometido de alguma tragédia, alguma dor, alguma sensação claustrofóbica vinda do desconforto de se estar vivo.

    Tem como não se identificar com isso?

    Até tem, pois nem tudo são flores apodrecidas. Se formos criticar o conto, talvez seja pelo excesso. Ele é impiedoso nas sensações ruins, o que chega a nos desensibilizar em meio a tanta dor. Se fosse criar um novo gênero baseado nessa história, seria suffering porn. Cansativo!

    Mas, como eu disse antes, tem muito a se apreciar. O modo poético como se descreve as diferentes fases da vida, por exemplo. Ou a brincadeira de decifrar o que está acontecendo (tão frustrante para muitos). Ou simplesmente a ousadia de fazer algo diferente, bem como a ótima ideia de se tratar o ordinário como extraordinariamente horrível, digno de um pesadelo.

    E, com certeza, assim é para várias pessoas.

    Por isso, apesar da recusa em explicar qualquer coisa, apesar dos exageros, eu saúdo esse conto por nos entregar algo que saiu da caixinha. Parabéns!

    Sim, provavelmente o conto vai mal, mas espero que esse feedback te ajude a não pensar que foi um fracasso… porque para mim não foi.

    Boa sorte no desafio.

    • claudiaangst
      30 de março de 2025
      Avatar de claudiaangst

      E não é que fiquei até satisfeita de causar incômodo no pessoal? Melhor do que acharem meu conto morno. Tenho pavor disso. Muito obrigada por defender meu texto, Thiago. Eu sabia os riscos que estava assumindo e me dei mal. Faz parte. Abraço.

  15. toniluismc
    17 de março de 2025
    Avatar de toniluismc

    A escrita é fluida, com uma abordagem literária bastante poética e reflexiva. Há domínio evidente de um vocabulário amplo, boa escolha lexical e descrições metafóricas sofisticadas.

    Isso é o que tenho de bom a dizer sobre o texto. O resto é só crítica, lamento.

    A técnica fica prejudicada pelo excesso de abstrações e metáforas, que dificultam o entendimento do enredo. Além disso, a ausência de diálogos claros ou uma estrutura mais definida confunde o leitor, dando impressão de imprecisão ou artificialidade.

    A temática central (sofrimento existencial, solidão, repetição de tormentos pessoais) não é particularmente original, e sua apresentação não acrescenta elementos especialmente inovadores.

    A metáfora da repetição infinita é interessante, mas não chega a trazer uma abordagem totalmente inédita.

    O impacto é o critério mais prejudicado pela escolha estilística. Embora o texto seja esteticamente forte, o excesso de abstração impede uma conexão emocional clara.

    Não fica explícito o objetivo emocional do conto: terror, angústia psicológica, tristeza existencial ou crítica social? Isso enfraquece o impacto emocional que o conto poderia causar.

    Mesmo assim, dou-lhe os parabéns pelo texto!

    • claudiaangst
      30 de março de 2025
      Avatar de claudiaangst

      Obrigada, Antonio Luís, pelo seu comentário. Entendi o que quis dizer porque não me deixou perdida em sombras. Foi um risco que assumi e não me arrependo, só aprendo. Abraço.

  16. Afonso Luiz Pereira
    13 de março de 2025
    Avatar de Afonso Luiz Pereira

    Oi, Clara! Como vai?

    Este foi o primeiro conto que me deixou realmente confuso. Li com calma, tentando entender o que acontecia com a protagonista, mas devo admitir que foi uma leitura trabalhosa e cansativa. O texto está carregado de subtextos e simbolismos, o que, pra mim, tornou a experiência mais complicada.

    Aqui, faço um parêntese: não sou muito fã desse tipo de narrativa. Já havia comentado sobre isso ao ler minicontos com essa abordagem em outro certame aqui no Entrecontos, e agora, com um texto mais longo, a dificuldade aumentou. Não é uma falha da autora, é apenas um estilo que não me atrai muito.

    Minha impressão foi a de uma narrativa densa e abstrata, com poucas respostas claras, o que pode ser intencional, uma forma de deixar o leitor preencher as lacunas. No entanto, essa estrutura tornou a leitura cansativa para mim. O texto sugere muitas possibilidades, mas sem definições concretas, o que me deu a sensação de estar sempre vislumbrando algo sem nunca enxergá-lo completamente. E essa sensação se repetiu ao longo de toda a história.

    Do que consegui compreender (li apenas uma vez): em alguns momentos, parece que o conto retrata um ciclo de sofrimento, aprisionamento e perda de identidade, acompanhando a protagonista do nascimento até a morte, passando por diversas fases da vida.

    Em outros, tive a impressão de que Clara estava confinada em um hospital psiquiátrico, sofrendo um ataque severo de esquizofrenia. E, por fim, também me passou a ideia de um pesadelo perturbador, em que a protagonista se move sem nunca realmente sair do lugar. Em resumo, para o meu gosto, a falta de um fio condutor mais claro dificultou o envolvimento com a história.

    • claudiaangst
      30 de março de 2025
      Avatar de claudiaangst

      Como já disseram, o texto depois de lançado ao mundo pertence ao leitor. Então a interpretação certa é a sua. Eu assumi o risco de escrever um conto que dificilmente agradaria a maioria dos colegas aqui. Não me arrependo, pois certamente aprendo algo sempre. Obrigada pelo comentário bem construído.

  17. José Leonardo
    13 de março de 2025
    Avatar de José Leonardo

    Olá, Clara ‘Breu.

    Tendo em vista as minhas limitações técnicas para apreciar melhor o seu conto e de modo a tentar esquentar meus comentários que acho um tanto insossos, decidi convocar, por meio de um ritual de fervura de miojo de tomate com leite coalhado e digitação de Zerinho-um no MS-DOS, a FRIACA® (Falsa Ruiva Inteligente Auxiliar para Comentários e Avaliações) para me ajudar nessa bela empreitada e proporcionar a melhor avaliação possível acerca do seu texto (dentro da minha perspectiva de leitor).

    FRIACA: Do que se trata o conto?

    R.: Os sofrimentos de Clara, que parece presa num lugar de díficil escapatória e é tratada por uma equipe bizarra.

    FRIACA: Como você vê a narração, o estilo, a estrutura, a técnica?

    R.: É o conto cuja leitura me deu mais dificuldade. Certamente não é demérito do(a) autor(a), cuja prosa é rica em imagens, comparações e expressões que beiram o poético. Acontece que as sensações e sentimentos aqui são superlativos (o que denota a agonia e sofrimento da personagem principal) ao passo que interagem com ela personagens e elementos alheios, digamos, “terceiros”, não nominados e pouco identificados. Os diálogos terminam com reticências, ou seja, com frases vagas ou ditas em momentos de grande esforço (para com a protagonista, ao redor dela).

    A protagonista fazia um grande esforço numa espécie de sala cirúrgica. Queria alcançar êxito (no seu parto?) mesmo que desacreditada por parte dos seus auxiliadores. Não para um mero sentimento de triunfo – era esforço para a vida ou para a morte. As criaturas em derredor (seria apenas uma maneira de caracterizar pessoas?) interagiam ainda com outros interlocutores.

    A impressão que tenho é que o(a) autor(a) escondeu as ações do enredo tão fundo, tão fundo, que a mim só resta admirar a beleza das metáforas, das comparações e de como a narradora traduz as dores do corpo e a agonia de sua alma.

    FRIACA: E quanto à adequação ao tema, à criatividade e ao impacto?

    R.: Vislumbro agonia. Vislumbro inclemência dos auxiliadores. Vejo também agonia, angústia e ausência de esperança. Tais elementos nesse contexto representam o próprio terror. Ainda que seja algo bem implícito.

    FRIACA: Indo um pouco mais a fundo nesse particular e apesar do aspecto subjetivo do que a história pode causar no leitor, é um conto para dar risadas ou aterrorizar-se?

    R.: Não me ocorreu, pois a dificuldade em distinguir elementos de enredo foi o que ocupou mais minha mente e minhas sensações enquanto lia seu cnto, Clara.

    FRIACA: Qual sua posição final sobre esse conto, inclusive sobre a nota?

    R.: Um conto que me suscita controvérsia entre admirar passagens muito belas, identificar o tema do desafio (terror) e tentar desvendar elementos mais claros do enredo e dos motivos do(a) autor(a). Mas você escreve muito bem, Clara; devo revisitar seu texto outras vezes para entendê-lo melhor. Nota: 3,2.

    Parabéns pela estória e boa sorte neste desafio.

    • claudiaangst
      30 de março de 2025
      Avatar de claudiaangst

      Muito obrigada, José Leonardo, pelo seu comentário tão bem organizado. E a nota não foi nada má, aliás. Exagerei nas sombras, exigi demais do leitor com tanto mistério e isso fez o conto ficar meio chato, eu sei. Risco assumido, consequência aceita. Abraço.

  18. Leandro Vasconcelos
    13 de março de 2025
    Avatar de Leandro Vasconcelos

    Opa! “Ciclo de Sombras” é uma narrativa sufocante de uma vida desvanecente. Um terror psicológico, mas que não conta com um enredo claro. Só sabemos que a protagonista passa por diversas provações até sua vida encontrar termo.

    Imaginei, no início, que ela estivesse num leito cirúrgico – de fato, é o que parece, por causa do sangue e dos “instrumentos metálicos”. Em certo momento, quando o autor menciona “criaturas”, pensei que ela tivesse sido abduzida. Depois, sem mais nem menos, narra-se uma rotina estafante de algum trabalho indigno, em que “tudo era sempre igual, a mesma rotina, de suposto acolhimento e posterior exclusão”. Por fim, um relato de sequestro, em que a protagonista é algemada, e posteriormente torturada. Liberta, caminha a esmo até se perder completamente. Em suma, somos arrastados até uma existência absurda, vaga e sem sentido.

    É um texto que possui um quê de alucinação. Deixa-se a trama de lado para focar na forma e no simbolismo. Talvez signifique uma viagem nas drogas. Ou uma representação do isolamento e da depressão. Ou um labirinto burocrático de regras obscuras, que importam no aprisionamento da personagem, à lá Kafka? Sei lá. O significado ficou oculto e entregue à livre interpretação.

    Não é uma leitura fácil ou agradável. Na verdade, um tanto repetitiva, redundante. Ok, o autor pretender transpor à forma a conjuntura asfixiante da protagonista. O problema é que isso, sem que fosse dada qualquer outra informação a respeito do porquê a situação se tornou daquele jeito, tirou muito do interesse do leitor. Em paralelo, volto a citar Kafka. Apesar de ele criar narrativas que versam sobre o absurdo existencial, elas possuem um contexto e uma lógica interna. Aqui, não. O conto se perde em repetições e na tentativa de criar um impacto emocional, mas sem oferecer uma estrutura narrativa que sustente esse impacto. O sofrimento da protagonista parece mais uma sequência de sensações vagas do que um percurso com um propósito claro, o que o distancia da precisão que Kafka conferia ao absurdo em sua obra e retira-nos a curiosidade.

    Muitos clichês também me incomodaram: “ar pesado”, “paredes se fechando”, “sensação de estar sendo observada”, “suor frio”. Além disso, as redundâncias de sensações da protagonista, como já ressaltado. No entanto, o texto possui boas construções e figuras de linguagem, é de se sublinhar.

    Enfim, uma leitura sufocante, bem pretendida pelo autor e adequada ao tema de terror psicológico, mas que deixou muitos pontos em aberto.

    • claudiaangst
      30 de março de 2025
      Avatar de claudiaangst

      Obrigada pelo seu comentário com observações muito claras. A interpretação correta é a que o leitor queira dar. Então aceito a sua, sem reclamar. Não tinha me dado conta dos muitos clichês. Mas se o amor é brega, a vida é uma sequência de clichês. Abraço.

  19. Fabiano Dexter
    11 de março de 2025
    Avatar de Fabiano Dexter

    Estou organizando os meus comentários conforme irei organizar as minhas notas, buscando levar para o autor a visão de um Leitor regular e assim tentar agregar algum valor. Assim a avaliação é dividida em História (O que achei da história como um todo, maior peso), Tema (o quanto o conto está aderente ao tema), Construção (Sou de exatas, então aqui vai a minha opinião geral sobre a leitura como um todo) e Impacto (o quanto o produto final me impactou)

    História (1,5)

    Achei a história um pouco confusa, ainda que muito bem escrita. Entendi que uma mulher, Clara, tem alguma complicação durante o parto de seu filho/filha e entra em coma. A partir deste momento temos a sua viagem em um mundo de sombras e desespero, como se fosse um Vale da Morte, mas que ela não parece estar ainda de forma permanente lá.

    Ela tem então iterações com criaturas do lado de lá e alguns relances que parecem ser do lado de cá, perdida e sem saber que sentido seguir.

    Talvez tenham referências aqui que eu não peguei (o mais provável, inclusive) mas de uma forma geral a história não me fisgou.

    Após uma segunda leitura fiquei imaginando se a história não poderia ser a sombra que ela se tornou após ser mãe, uma sobra do que era antes e que apenas sobreviveu como tal até chegar ao finalmente ao fim de tudo. (Mas pode ser viagem minha também)

    Tema (1,0)

    Terror psicológico é terror, ou seja, estamos no tema. Além disso o medo e o desespero de Clara nesse mundo de sombras ditam a narrativa e nos levam por esse emaranhado de sensações e situações.

    Construção (1,5)

    O texto é um pouco longo, o que acaba o tornando repetitivo em alguns momentos. Talvez seja esse o objetivo da autora (ou autor) pata levar a esse desespero e indicar que a protagonista está em um beco sem saída, por mais que procure.

    Além disso o texto está muito bem escrito, sendo claro e agradável de ler.

    Impacto (1,0)

    Acho que um pouco do impacto do conto se perdeu, para mim, no seu tamanho. Talvez um pouco mais curto e com menos repetições impactasse mais o leitor comum, como me enxergo. Ainda assim é um texto muito bem escrito e que me fez ficar pensando nele e suas nuances, tanto que incluí uma segunda interpretação ao final da primeira parte desta análise após uma segunda leitura.

    Parabéns!

    • claudiaangst
      30 de março de 2025
      Avatar de claudiaangst

      Achei interessante a sua interpretação do conto, Fabiano. E não está errada, já que o texto, depois de lançado ao mundo, pertence ao leitor. Sem dúvida, seu comentário acrescentou alguns pontos sobre os quais irei refletir. Obrigada.

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Publicado às 9 de março de 2025 por em Liga 2025 - 1A, Liga 2025 - Rodada 1 e marcado .