EntreContos

Detox Literário.

Assassinando Clichês (Leonardo Jardim)

Começaria esta história falando sobre a noite sombria e chuvosa da cidade se ela não se passasse no verão infernal do Rio de Janeiro. Falaria sobre como chegaria à cena do crime e encontraria a perícia investigando cada centímetro, mas não é assim que funciona aqui. Cheguei sozinho, estacionei a viatura na vaga de idoso e me identifiquei com o porteiro.

— Que bom que chegou, seu detetive. A dona Luiza do 601 já tava reclamando do cheiro.

Entramos no apartamento e, além do péssimo odor, a cena era grotesca. Tal qual um apresuntado encontrado perdido no fundo da gaveta de frios, o corpo já estava em estado avançado de decomposição.

— Quando foi mesmo que descobriram?

— Ontem à noite a dona Luiza interfonou. Ela faz pilates nas terças e costuma chegar bem tarde. Se eu fosse Seu Maurício, não deixava ela voltar nessas horas.

— Mas ele tá morto há mais tempo que isso — interrompi a fofoca, mas de forma leve. Não queria fechar totalmente as portas.

O corpo jazia numa mesa de jantar na sala e aparentava estar ali há uns quatro ou cinco dias. A pele escurecida e o odor fétido não eram as características mais marcantes. Aquilo que chamava atenção na cena como um todo era que seus tornozelos estavam virados do avesso, com os calcanhares apontados para frente. Fora isso, e os punhos amarrados nas pernas da mesa, não tinha outra marca de violência. O sangue empossado no chão indicava que ele havia morrido de tanto sangrar.

— Você sabe o que ele fazia? Se tinha inimigos?

— Ah, Seu Manuel não saía muito de casa. Pedia delivery todo dia, fumava feito chaminé.

— E ele vivia de que?

— Ele escrevia uns livros. Não sei se isso dava dinheiro, mas é o que ele fazia. De vez em quando vinha um pessoal meio estranho aqui, de óculos moderninho e boina, mas acho que eram mais amigos que inimigos. Se é que você me entende, né?

Enquanto ouvia o porteiro, depois de tirar umas fotos, agachei para olhar embaixo da mesa. Havia uma confusão de pedaços de papel, sacolas de entrega e restos de comida. Banhado pelo sangue da vítima, algo chamou a atenção: um livro. Peguei o objeto e o limpei com um guardanapo de pouco uso que também estava por ali. O título era “Sangue de fada”, escrito por Manuel Santana.

— Acho que esse foi o último livro do Seu Manuel — o porteiro contou. — Lembro porque ele me pediu pra distribuir uns flyers do lançamento. Tadinho, acho que foi só aqueles amigos esquisitos. Mas eu só fiquei sabendo, porque também não deu pra eu ir. Sabe como é, né, seu detetive, moro em São Gonçalo e a Ponte engarrafa muito.

— Sei — respondi, enquanto folheava o livro manchado de sangue. — Então, seu…

— Adriano. Nome de imperador.

— Gosta de história?

— Não, sou flamenguista.

— Saquei — sorri. — Mas, Adriano, você viu alguém estranho entrar no prédio nos últimos dias?

— Além de morador, só delivery. Sabe como é, né?, o povo daqui não curte muito descer pra buscar na portaria.

— Sei como é. Mas isso é perigoso.

— Já falei com a síndica. Mas o marido dela é um dos que não gosta de descer.

— Valeu, Adriano. Vou lá. Já falei com uns parceiros meus do IML pra buscar o corpo.

— Valeu, seu detetive. Espero que descubra quem matou seu Manuel.

— Também — respondi, entrando na viatura, mas sem qualquer esperança. Meu trabalho é mais documentar que resolver mistérios. Estamos no verão carioca, afinal, e não no CSI ou num livro da Agatha Christie.

E um chope na orla me esperava.

***

Preciso confessar que, quarentão que sou, não estou acostumado com esses aplicativos de pegação. Mas também tenho que reconhecer a facilidade da tecnologia. Antes a gente precisava ir num bar, boteco ou noitada, beber até quase cair, chegar em algumas garotas, tomar um monte de toco, usar o distintivo e pegar uma “Maria-camburão”.

Hoje isso já fica explícito no meu perfil. Quem dá match é porque ou gosta da minha fuça ou do meu ofício. Estava indo encontrar uma professora uns cinco anos mais nova que eu e marquei no Leme, por causa do calor. Cheguei e cumprimentei o garçom, que me conhecia das outras investidas e me arrumou o lugar mais fresco do bar e já me deixou com um chope gelado.

Marta chegou uns quinze minutos depois. Era bem mais bonita do que eu imaginei, exatamente igual às fotos, uma coisa rara hoje em dia. Mantinha o ar professoral, com seus óculos sóbrios, mas usava um vestido justo que deixaria os alunos doidos.

— Olá, professora — iniciei a conversa de um jeito brincalhão.

— Oi, investigador. Espero que não esteja armado hoje — ela sorriu de volta, sentando-se à mesa.

— Deixei a arma na viatura, mas devo dizer que raramente fico desarmado — pisquei.

— Amigo, vou querer um também — pediu chope ao garçom. — Que calor, né? — disse se abanando.

— Coisa de doido!

Iniciou-se então aqueles segundos de silêncio constrangedor, ela olhando para o cardápio e eu procurando assunto num gole etílico.

— Você dá aula de quê? — finalmente perguntei.

— Literatura.

— Interessante. Não gostava muito de ler na escola, mas hoje me amarro.

— É mesmo!? — ela duvidou. — Lê o quê?

— Ah, de tudo um pouco. De Harry Potter a Machado de Assis.

— Legal, um dia deixo você ler meu manuscrito.

— É sobre o quê?

— Romance policial — senti uma certa malícia na resposta.

— Não sei se devia te mostrar isso, mas — peguei na minha mochila o livro que encontrei na cena do crime — conhece esse autor?

Tal qual o sol surgindo no horizonte numa manhã sem nuvens, seus olhos, até então distantes, começaram a se iluminar.

— Está sujo de sangue?

— Promete não contar pra ninguém?

— Eu vou virar cúmplice de um crime?

— Não, vai no máximo ser minha assistente na investigação.

Fiz um breve resumo sobre o assassinato e a conversa com o porteiro. Enquanto isso, ela folheava o volume como se tocasse um ultrassensível manuscrito bíblico.

— Você percebeu isso? — ela perguntou, apontando uma página.

— Sim, “girou nos tornozelos” está sublinhado, que que tem?

— Não foi assim que você disse que o morto estava?

A luz de seus olhos desanuviou meus pensamentos.

***

Evidentemente terminamos aquela conversa no apartamento dela. Bebemos muito vinho enquanto líamos “Sangue de fada”, tentando entender a relação das frases batidas — os clichês — com a morte do autor. Não lembro de tudo, apenas que acordei na cama dela.

— Bom dia — ela estava vestida, mas não como na noite anterior. Usava roupas largas e um rabo de cavalo. — Preciso dar aula. Você pode ficar se quiser.

— Não posso, tenho que ir pra delegacia.

Nos despedimos com um beijo demorado e promessas de um novo encontro.

Entrei no carro parado torto na calçada em frente ao prédio e olhei o celular enquanto dirigia. Ignorei algumas mensagens e vários grupos, porque precisava ouvir uma mensagem do delegado.

“Ferreira, te liguei pra cacete ontem à noite e você me ignorou. Sei que tava de pegação ou bêbado ou as duas coisas, mas preciso que você vá em mais uma cena de crime. Só se prepara. Dizem que essa tá foda!”

Nem tinha comido nada e estava de ressaca, então parei numa birosca para pegar um pão e um café de graça. Cheguei no endereço que o chefe mandou, estacionei de qualquer jeito, e toquei o interfone. Era uma portaria remota. Essa nova forma de gerir condomínios era cada vez mais comum no Rio de Janeiro. Podia ser barato e seguro, mas um porteiro bem falastrão resolvia metade do meu trabalho.

— A entrada está liberada, senhor.

— Mas quem vai abrir a porta do apartamento pra mim?

Houve apenas silêncio em resposta. Procurei o elevador e fui sozinho. Toquei a campainha, mas obviamente ninguém atendeu. Testei a fechadura e nada. Era eletrônica, daquelas que precisam de senha para abrir.

— Maldita tecnologia! — chutei a porta.

Um jovem de no máximo dezesseis anos abriu a porta por dentro. Junto com ele, mais quatro rapazes estavam no apartamento tirando selfies com o morto.

— Estão malucos?! Saiam daqui, porra! Isso é uma cena de crime!

Eles saíram, mas não sem antes gravar um story indignados com a abordagem truculenta da polícia carioca.

Só então pude olhar o defunto com mais atenção. Realmente esse se apresentava numa situação muito pior que o primeiro. Seu rosto, desde a testa até os olhos, estava completamente destruído. Era como se alguma prensa tivesse sido usada para apertar aquela região. Além das mãos e pernas amarradas, percebi alguns sinais de luta, como uma lesão no ombro esquerdo. O corpo usava apenas cueca.

Podia ser um assassinato isolado, mas as condições eram muito parecidas com o dia anterior. Tirei as fotos, olhei ao redor e achei, conforme esperado, um livro jogado sobre a mesa da sala: “O Suspeito Invisível”, por Carlos Mendes.

Meu coração acelerou e folheei o volume em busca de uma palavra sublinhada.

— “Franziu o cenho”!

Liguei para Marta e contei pra ela.

— Que coisa mais doida! — ela conseguiu dizer ao fim.

— O que acha de nos encontrarmos à noite para discutirmos o caso? — sugeri, pegando uma garrafa de vinho da adega do morto. — Hoje eu levo a bebida.

— É sério que você está pensando em sexo na cena do crime?

— Não estava… mas agora que você falou.

***

O encontro com a Marta ocupava minha mente, mas antes eu tinha que encarar um outro compromisso sério: o delegado.

— Ferreira — ele me recebeu assim que cheguei na delegacia —,  temos que parar com esses assassinatos malucos. Esse último já tá na Internet. Você sabe que morte na Zona Sul dá mais Ibope.

— Calma, chefe. Tá vendo esses livros aqui? Os caras morreram por causa dessas frases marcadas.

— E por que esse tá sujo de vinho?

— É sangue, chefe.

— Olha pra mim, garoto. Você me conhece há quanto tempo? Acha que pode meter essa? Aqui é sangue — mostrou a capa — e isso — apontou para uma página interna — é vinho, porra!

— Tá bom. Tomei uns vinhos com uma professora. Conversamos sobre o crime. Ela que me explicou essa parada de clichê.

— Sei bem o que vocês conversaram…

— É sério, confia em mim.

— Você tá querendo que eu confie que tem um maluco à solta por aí matando porque não gosta do jeito que os caras escrevem os livros?

— Tipo isso.

— Puta que pariu! Parece roteiro de filme ruim, Ferreira.

— Verdade.

— Pega logo esse cara ou vai dar merda pra gente.

— Pode deixar, eu e a professora vamos desvendar o caso.

— Ah, vai à merda! Some logo daqui.

Depois da conversa bem-sucedida com o delegado, mandei as fotos dos mortos para um amigo legista. Gravei um áudio explicando a ideia das mortes pra ver se ele encontrava outra parecida. Depois, tomei um banho gostoso em casa e coloquei um perfume bonzão.

Antes de sair, recebi a resposta do legista. Eram duas fotos. A primeira de um homem que foi encontrado com um tambor de brinquedo enfiado no meio do peito, com a legenda “coração batia como um tambor”. A segunda, de uma mulher com os globos oculares queimados com um maçarico, “faiscaram de raiva”. Também havia o nome de cada um e o livro que escreveram. Agradeci pelo ótimo trabalho que ele fez enquanto dirigia para o encontro, ou melhor, para desvendar os crimes.

— Então já foram quatro vítimas? — Marta perguntou enquanto abria a garrafa de vinho que eu peguei na casa do segundo morto.

— Pelo menos…

— Eles podiam escrever clichês, mas não mereciam morrer — ela disse, pensativa. — Algumas críticas que recebemos às vezes são capazes de causar a morte do nosso espírito literário.

— Profundo isso — disse, já meio bêbado.

— Bobo — ela respondeu e me beijou.

Fosse esse um conto para vender na Amazon, expor no Whatpad ou em bancas de jornais, eu descreveria melhor como nos despimos lentamente ou o que ela fez com meu “membro”. Mas esse não é o objetivo, então pulo para a parte em que levantei nu do sofá, muito grogue, e a encontrei tensa, mexendo no iPad.

— Foi tão ruim assim? — brinquei.

— Nem um pouco — ela se desarmou, me puxou para seu lado e tascou um beijo bem gostoso enquanto eu abraçava seu corpo apenas parcialmente vestido.

Findo o momento romântico, ela lembrou do tablet e me mostrou o que estava vendo.

— Andei tentando encontrar uma relação entre os livros, mas não avancei muito. São de editoras diferentes, mas todas pequenas.

— Não pareciam livros grandes mesmo.

— Eu acho que o assassino é alguém do meio, que se incomoda muito com esses clichês.

— Quer roubar meu emprego, mulher?

— Tenho uma notícia ruim pra você, querido: investigação não é sua maior qualidade.

Ela me beijou, mas senti uma forte azia subindo. Afastei ela com carinho e peguei o iPad.

Acomodei-me no sofá e pesquisei cada uma daquelas editoras na internet e em sites que nem todos têm acesso. Peguei o nome de seus editores e os procurei nas redes sociais. Alguns não tinham imagem ou conta aberta, mas um dos que tinha me chamou bastante atenção: usava boina e óculos estranhos em todas as fotos. Deslizei por sua timeline até que encontrei aquilo que procurava: a foto no lançamento do livro “Sangue de fada”. Era um dos amigos esquisitos que o porteiro Adriano disse que frequentava a casa do autor.

— Diria que esse tal — mostrei para ela — Eduardo Vasconcelos é nosso principal suspeito.

— Não é a maior qualidade, mas talvez seja a segunda — ela sorriu, mas de olhos estranhamente fechados.

A azia não era só culpa da bebida, mas alguma coisa estava realmente nos fazendo mal. Comecei a suar frio e percebi que Marta tombava para trás. Ela deitou no sofá e eu despenquei no chão.

***

Acordei amarrado com as mãos para trás numa cadeira e Marta numa outra a poucos metros na minha frente.  Ela ainda estava inconsciente. Alguém mexia em alguma coisa atrás dela.

— Eduardo Vasconcelos, nós pegamos você — eu disse, desafiador.

— Acho que foi o contrário, não? — ele levantou, com a mesma boina e óculos escroto das fotos.

— O que você vai fazer? Vai quebrar sua regra? Nós não somos escritores, babaca!

— Você acha que estamos num filme? — sorriu. — Vocês vão morrer porque estão me atrapalhando. Simples assim?

— Mas por que não nos matou ainda?

— Aí você me pegou — vontade de esmurrar aquele sorriso debochado!

— Já sei! Você quer um livro — eu disse e ele parou de sorrir. — Está criando esses assassinatos pra depois escrever sobre eles.

— Cala essa boca!

Ele abaixou novamente e quando levantou tinha dois fios nas mãos. Desenrolou-os com calma até onde estávamos. Na ponta de cada fio, um pregador de ferro, daqueles jacarés para fazer chupeta na bateria do carro. Prendeu um deles na pele da Marta, na altura do coração, e caminhou lentamente até mim.

— “Seus corações bateram em uníssono” — ele disse, ao perceber minha expressão de dúvida, voltando a sorrir.

Quando estava próximo, me balancei até conseguir derrubar a cadeira no chão. Ele mudou sua expressão para uma bem mais tensa.

— Por que está franzindo o cenho? — perguntei.

— Silêncio, porra! Não era pra você acordado.

— Tô acostumado com drogas.

Ele virou-se e foi à cozinha.

— Girou nos tornozelos, né, babaca?

Puxou uma gaveta e remexeu nos talheres procurando por alguma coisa em específico. Abriu as portas dos armários até que pareceu ter encontrado. Voltou de lá com um rolo de amassar pizza, daqueles bem pesados de madeira.

— Ei, o que você vai fazer com isso aí, seu doido? Tá com os olhos faiscando de raiva, né?

Ele caminhava devagar na minha direção, calculando os próximos passos.

— Meu coração tá batendo como um tambor — a cada clichê que dizia, ele ficava mais irritado.

Agachou ao meu lado e, sem dizer uma palavra, acertou com o rolo na minha cabeça. A porrada abriu meu supercílio e o sangue cobriu a visão de um olho.

— Não tem mais nenhuma gracinha pra dizer? — ele zombou.

— Não vai me fazer desmaiar assim. Isso aqui não é um filme.

Ele bateu de novo, agora com mais raiva.

— Vai acabar me matando assim, sem clichê nenhum.

— Cala a boca, filho da puta — e bateu de novo. Não queria ver o estrago que ele estava fazendo.

Levantou com raiva, caminhou até o canto onde devia estar uma máquina, bateria ou coisa assim.

— Marta, acorda! — gritei e continuei gritando o mais alto que consegui. Nem articulei as palavras corretamente, somente berrava.

Minha visão estava muito danificada, apenas conseguia ouvir seus passos.

— E o livro, porra? — berrei, desesperado. — Sempre tem um livro.

— Acho que é esse — ouvi a voz da Marta dizendo, bem baixo.

Ela chutou uma resma de papeis encadernados que estavam sob seus pés. Parou próximo o suficiente para eu conseguir ler com dificuldade com meu olho bom: “O detetive carioca”, de Marta Aguilar.

— Droga — gritei, enquanto ouvia o maluco mexendo na máquina.

Ela percebeu a situação e empurrou a cadeira até fazê-la tombar para trás. Ouvi o som da queda, sobre Eduardo e a máquina.

Depois, um zumbido, um clarão, seguido de muita fumaça e cheiro de queimado.

Não consegui ver nada, mas gritei o mais alto que pude:

— Marta, sai daí. Marta!!! — mas ela não respondia.

— Que que tá acontecendo aí? — um vizinho gritou do lado de fora

Alguns minutos depois, alguém arrombou a porta.

Cortaram as minhas amarras e me perguntaram se estava tudo bem.

— Não — respondi, seco.

O fogo consumia a cadeira, o sofá e parte da sala. Queimava minha pele, secava as lágrimas que brotavam, mas eu não conseguia parar de olhar.

Um extintor apareceu trazido por um qualquer e reduziu as chamas, mas não o suficiente.

Nas labaredas, estava o corpo da bela e simpática professora de literatura, que, em seu último gesto, salvou minha vida.

E também de Eduardo Vasconcelos, editor frustrado, que não gostava de clichês e queria escrever uma história de true crime e serial killer no Rio de Janeiro. Desejava ficar famoso por ser inteligente e metódico.

É por isso que decidi escrever esse conto: para mostrar ao mundo como ele era, na verdade, um imbecil cruel e incompetente.

E um baita vilão clichê.

Sobre Fabio Baptista

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21 comentários em “Assassinando Clichês (Leonardo Jardim)

  1. Bruno de Andrade
    6 de abril de 2025
    Avatar de Bruno de Andrade

    Oi, Leonardo!

    Vou dividir meu comentários em pontos positivos e negativos.

    Positivos: O ponto mais forte do conto é o enredo inventivo. Foi uma boa sacada brincar com os clichês em que todos nós eventualmente escorregamos. Como o público leitor do desafio é composto por escritores, certamente gerou bastante identificação. A escrita é leve, fácil de ler, sem nada muito particular no trabalho com a linguagem, mas é funcional. O personagem é um tipo comum, facilmente reconhecível, com aquela dose de cafajestagem que o torna pitorescamente simpático. O clima policial/humorístico funciona bem. Me lembra um pouco o Ed Mort, personagem do Veríssimo. O conto tem méritos para estar no alto do pódio.

    Negativos: Humor é algo subjetivo e não posso ser taxativo e tentar determinar se um texto tem ou não graça. Só posso relatar a minha experiência. E, bom, eu não achei graça. Lógico que isso compromete minha leitura. É um dos riscos do humor: se o leitor acha engraçado, ele tende a sair satisfeito mesmo quando o texto tem erros; mas, se não ver graça, sai meio decepcionado mesmo quando o texto é bom. É meio que um tudo ou nada. Infelizmente, não funcionou pra mim. Mas não posso apontar como defeito. Então vou me ater a algumas questões pontuais:

    O sangue empossado no chão indicava que ele havia morrido de tanto sangrar.

    Aqui passou um erro de revisão meio feio. Seria empoçado e não empossado.

    — Gosta de história?

    — Não, sou flamenguista.

    — Saquei — sorri. — Mas, Adriano, você viu alguém estranho entrar no prédio nos últimos dias?

    Simplesmente não entendi, rs.

    então parei numa birosca para pegar um pão e um café de graça

    Policiais ganham pão e café de graça em biroscas? Foi uma insinuação de corrupção? Não entendi muito bem aqui também.

    Agradeci pelo ótimo trabalho que ele fez enquanto dirigia para o encontro, ou melhor, para desvendar os crimes.

    Pode ser coisa minha, mas tenho faniquito com essa coisa de narrador se corrigir. Mesmo em primeira pessoa. Há soluções melhores.

    — Marta, sai daí. Marta!!! 

    A mesma coisa para as múltiplas exclamações.

    — Olá, professora — iniciei a conversa de um jeito brincalhão.

    — Oi, investigador. Espero que não esteja armado hoje — ela sorriu de volta, sentando-se à mesa.

    — Deixei a arma na viatura, mas devo dizer que raramente fico desarmado — pisquei.

    — Amigo, vou querer um também — pediu chope ao garçom. — Que calor, né? — disse se abanando.

    Outro ponto que não posso apontar necessariamente como defeito, mas que me incomoda bastante: a narração constantemente aparecendo em meio ao diálogo. Tira a fluidez da conversa e, muitas vezes, não acrescenta nada. Todas essas expressões destacadas poderiam ser cortadas sem nenhum prejuízo ao texto. É uma questão de estilo, eu sei. Mas creio que em alguns momentos você pesa a mão nesse ponto. E em outros, apenas destaca obviedades, como aqui:

    — É mesmo!? — ela duvidou. 

    Mesmo que o texto brinque com clichês, ainda escaparam umas analogias muito esquisitas, como essa:

    Enquanto isso, ela folheava o volume como se tocasse um ultrassensível manuscrito bíblico

    Não é uma imagem que sequer faça lá muito sentido.

    Achei o final do texto meio decepcionante também. Mesmo que o foco seja o humor e não a parte policial, a resolução ter ido até os personagens é um pouco frustrante.

    Conclusão: Embora não possa dizer que tenha gostado do conto, consigo reconhecer seus méritos. É criativo, aborda bem o tema, tem uma escrita adequada. Mesmo que eu não tenha me envolvido com o texto, não teria motivos para tirar muitos pontos se estivesse avaliando. E, de toda forma, fico feliz em ver uma comédia no topo do pódio.

    Nota de zero a cinco: 4,2.

  2. Thales Soares
    29 de março de 2025
    Avatar de Thales Soares

    Considerações Gerais:

    Esse conto é uma delícia de ler! Tem um humor sarcástico, bem carioca, com uma vibe meio tira cansado que já viu de tudo misturada com uma trama que, apesar de zoar os clichês, utiliza eles de forma pontual e irônica.

    O protagonista tem uma personalidade interessante, criando uma proximidade do leitor com ele. O Ferreira reclama do calor, bebe demais, dá em cima da professora e tem uma vibe de “não nasci pra herói, mas tamo aí”. Parece um cara gente boa.

    A metalinguagem aplicada é divertida. O tempo inteiro o autor brinca com o próprio gênero literário, tirando sarro de frases batidas, mas usando todas elas no processo.

    O Plot twist funciona bem. A revelação do assassino é boa, e o fato de ele ser um editor com ranço de clichês dá uma camada engraçada ao personagem. E o final, apesar de trágico, fecha tudo direitinho.

    ***

    Pedradas:

    O ritmo está meio acelerado no fim, parecendo que o autor estava ficando sem palavras e precisava fechar logo a história. A parte do sequestro até a conclusão corre bem rápido. Podia ter estendido um pouco o momento de tensão ali com Marta e Ferreira amarrados, só pra aumentar o drama antes do final.

    Marta merecia mais tempo de tela no final: ela manda muito bem no apoio à investigação, mas morre num estalo. Se tivesse mais um momentinho de despedida ou um gesto simbólico (tipo ela terminando de escrever o próprio livro antes de morrer, fechando assim o seu arco de personagem), seria mais impactante.

    ***

    Conclusão:

    Esse conto é divertido. Não me proporcionou nenhuma risada, e muitas piadas eu achei até um tantinho forçadas… mas possui uma escrita extremamente competente, uma história criativa, e uma fluidez narrativa elevada. Mas apesar de eu não ter rido, admito que é engraçado, ácido, cheio de frases de efeito e irônico.

  3. Pedro Paulo
    29 de março de 2025
    Avatar de Pedro Paulo

    COMENTÁRIO: Sufocou no final. O texto é carismático, desenvolve uma premissa muito boa de um assassino em série motivado por uma guerra aos clichês. A ideia é tanto criativa como também ainda tem um gosto a mais por remeter à nossa própria comunidade, cobrindo a metalinguagem de uma pessoalidade que nos faz participar da brincadeira por recobrar todas as discussões mais ou menos razoáveis que tivemos sobre a pertinência de certas expressões. Fosse só a ideia, eu não estaria elogiando, o conto tem em sua maior parte uma ótima execução, equilibrando o mistério com o bom-humor sacana e ainda um toque de romance, dando mais personalidade aos protagonistas do texto enquanto se estimula saber o desfecho… mas é na condução da narrativa que vi a falha. No final, a sequência de parágrafos curtos resumindo a ação me pareceu menos um recurso de aceleração do texto e mais uma forma desesperada de fazer caber o texto no limite de palavras, tanto pela paragrafação como pela escolha da narrativa ao sacrificar a personagem e dar uma última dimensão metalinguística ao tornar o protagonista também um escritor. Essa última escolha até poderia ter funcionado se o texto não estivesse parecendo como alguém que conta uma história de um único fôlego. Suponho que na revisão tenha pesado mais a mão no final do que nas outras partes, sem dispersar os cortes necessários. Ainda assim, é um conto muito divertido e uma ótima contribuição para o desafio!

  4. Luis Fernando Amancio
    28 de março de 2025
    Avatar de Luis Fernando Amancio

    Olá, Ferreira,

    Seu conto tem no título, no tema e no desenvolvimento, o assunto “clichê”. No título, por motivo óbvio. No tema, porque descobrimos estar diante de um serial killer que mata autores que abusam de clichês. E no desenvolvimento, afinal você usa e abusa dos clichês dos textos de detetive/ noir (o investigador, o caso de amor, os assassinatos brutais, o assassino pessoa comum…). Aqui, não estou criticando: esse gênero é praticamente uma celebração aos clichês.

    Gosto de como você começa o conto dando certa, vai, “brasilidade” ao noir. O investigador que estaciona na vaga de idoso é quase um Peçanha, personagem do Porta dos Fundos. Essa acidez vai se perdendo ao longo do conto e você veste o clichê sem grandes dilemas. O conto se torna um noir convencional, de certa forma. Sobretudo no relacionamento do protagonista com a professora de literatura. Ali, pensei estar lendo alguma aventura do Mandrake, do Rubem Fonseca.

    A escrita e a narrativa fluem bem. Sua voz é adequada ao personagem. O limite de palavras talvez tenha feito você acelerar o desfecho. O assassino é descoberto com muita facilidade – pode ser uma ironia sua com o gênero. E há uma cena de ação no fim que, posso estar enganado, mas tem a função de reforçar com o leitor desavisado de que, sim, é uma história de terror.

    As ironias com o “assassino de clichês” são interessantes e dão um tom metalinguístico ao conto. De fato, clichês são um crime, sobretudo algumas expressões que escritores usam de forma automática e pouco inteligente. Aqui no EntreContos tem alguns desses meliantes ocasionalmente. Seu texto não é assim, brinca com a situação. 

    Parabéns pelo conto e boa sorte!

  5. danielreis1973
    27 de março de 2025
    Avatar de danielreis1973

    Comentário inicial (válido para todos os contos):
    Prezados participantes: este meu comentário NÃO É UMA CRITÍCA, É A MINHA IMPRESSÃO PESSOAL sobre o seu conto – e não é sobre você, como escritor ou ser humano!  Espero que os comentários possam ajudá-lo a aprimorar sua história ou sua escrita, num sentido mais amplo. Outra coisa é que não está sendo fácil é comparar os contos participantes, já que apesar do desafio estar  restrido a DOIS TEMAS (que inclusive tem fronteiras tênues, e às vezes se misturam entre si, em diferentes proporções), as diferenças dos gêneros literários escolhidos pelos participantes tornam muito difícil dar um valor absoluto entre os contos, quando colocados lado a lado. Então, o melhor humor não tem o mesmo efeito que o melhor terror, e um terror com elementos realistas pode ter um efeito mais impactante para mim que um horror com elementos de fantasia ou ficção científica – por isso, digo que é MINHA IMPRESSÃO, ok? As notas não representam “média para aprovação”, mas O EFEITO FINAL que me causaram.

    Dito isso, vamos ao:

    COMENTÁRIO ESPECIFICO:

    LOGLINE: história detetivesca com um toque sobrenatural, em que um policial e uma professora de literatura investigam assassinatos ligados ao uso de clichês literários.

    TEMA ESCOLHIDO: misto humor/terror (90/10)

    PREMISSA: na linha dos romances de detetive pulp,uma investigação de assassinatos em que o protagonista, o perseguidor, cai na mão do perseguido, junto com sua auxiliar. Como referência, muito clara, está o Batman dos anos 60, além dos romances em geral, e em especial me lembrei do Pulp, do Bukowski.

    TÉCNICA E ESTILO: estilo descontraído, muitas vezes abusando de sacadas e referências às discussões do grupo do Entrecontos, sobre lugares comuns e quetais, mas que são também motivos de debate entre os amantes da literatura em geral. Em alguns momentos, a intenção do humor não parece tão aparente, mas subentendida pela situação. Uma espécie de comédia bastante referenciada em Woody Allen, por exemplo, em que o objetivo não é o riso, mas a graça.

    EFEITO FINAL: um conto bom, que se destacou no desafio, ainda que não tenha me impactado especialmente pela originalidade ou recursos narrativos – a premissa prometia, mas o desenvolvimento foi somente correto, e poderia ter mais ganchos cômicos, a meu ver.

  6. Mauro Dillmann
    26 de março de 2025
    Avatar de Mauro Dillmann

    Para esse conto, tenho apenas registros pontuais.

    Em determinada passagem o detetive fala “Saquei”. Não sei se essa gíria condiz com o tom da narrativa adotada.

    Personagens estão no Rio de Janeiro: se conheceram no aplicativo, beberam juntos, foram para a casa dela. No outro dia, ela disse: “Você pode ficar se quiser”. Gente, quem faz isso na vida? Conhece alguém numa noite, dorme junto e oferece a casa para ficar? Para um desconhecido?

    Em determinado momento, o narrador faz uma pausa e conversa com o leitor: “Fosse esse um conto para…”. Acho que quebrou o movimento do conto. Se fosse assim desde o início, tudo bem.

    “um banho gostoso”, depois “um beijo gostoso”. Não gostei (rsrs) do excesso de ‘gostoso’.

    O narrador identifica uma pessoa pela rede social e, sem qualquer motivo, exceto pelo fato de ser julgado ‘esquisito’, torna-se o principal suspeito. Que baita detetive. Não me convenceu, enquanto leitor. 

    Depois, o assassino surge de repente, do nada. Aparece na casa da mulher.

    Nessa passagem: “Vocês vão morrer porque estão me atrapalhando. Simples assim?” [Aqui não seria um ponto de exclamação no lugar da interrogação?]

    — E ele vivia de que? [quê]

    Fora o fato de que todo e qualquer assassinato é um horror, não senti horror no texto. Sei que está ali, mas o sentimento de repulsa mesmo, eu não senti enquanto leitor.

    De todo modo, o texto me prendeu. É bom de ler.

    Parabéns!

  7. Amanda Gomez
    25 de março de 2025
    Avatar de Amanda Gomez

    Oi, bem?

    Achei a história do seu conto bem original. Quem pensaria num assassino de clichês tão literal? Gostei da construção dos personagens, e a leitura fluiu bem. Estou dando pontuação pra isso, uma vez que tive leituras bem difíceis nesse quesito.

    Apesar de algumas coisas inverossímeis. Como a abordagem policial na cena do crime — especialmente no segundo crime, que tinha uns malucos tirando foto e nada de perícia ou isolamento. Não entendi o cara ter 40 anos e estacionar na vaga de idoso também… Era pra ser tipo um policial folgado? Enfim, voltando à história…

    No geral, eu até considero ele um bom terror. Porque, pra quem escreve, ver as cenas e os famigerados clichês é engraçado… girar nos calcanhares… franzir o cenho. Foi uma boa sacada as causas da mortes. E a motivação do assasino. A resolução do caso, apesar de meio atrapalhada, também ficou legal.

    No geral, foi uma leitura muito positiva. Vou considerar meu conto confort do certame pq toda a leitura foi ótima. Minto, esse status é do gato do banheiro….mas vc quase chega lá rsrs. Brincadeiras á parte.

    Enfim, pra mim o texto funcionou bem. Deve ficar bem colocado.

    Parabéns e boa sorte no desafio!

  8. Givago Domingues Thimoti
    24 de março de 2025
    Avatar de Givago Domingues Thimoti

    Assassinando Clichês (Ferreira)

    Bom dia, boa tarde, boa noite! Como não tem comentários abertos, desejo que tenha sido um desafio proveitoso e que, ao final, você possa tirar ensinamentos e contribuições para a sua escrita. Quanto ao método, escolhi 4 critérios, que avaliei de 1 a 5 (com casas decimais). Além disso, para facilitar a conta, também avaliei a “adequação ao tema”; se for extremamente perceptível, a nota para o critério é 5. Caso contrário, 1 quando nada perceptível e 2,5 quando tiver pouco perceptível. A nota final será dada por média aritmética simples entre os 5. No mais, espero que a minha avaliação/ meu comentário contribua para você de alguma forma.

    Boa sorte no desafio!

    1 – ruim 😓 / 2- abaixo da média😬  / 3- regular,acima da média,   😉/ 4- bom 😇/ 5- excelente!🥰

    Critérios de avaliação:

    • Resumo: 5

    Um criativo conto de humor (logo, 5!) bem escrito, satirizando por meio de uma narrativa de romance policial a clichêfobia! 

    • Pontos positivos e negativos: 

    Positivo: um conto bastante criativo e bem executado

    Negativo: o que faltou para o cinco foi realmente um conto mais divertido. De resto, ele está muito bem escrito

    • Correção gramatical – Texto bem (mau) revisado, com poucos (muitos) erros gramaticais: 4,5

    Eu acho que esse conto tem pequenos erros de revisão (“que” os quais necessitavam de um acento circunflexo), uma vírgula errada ali ( Sabe como é, né?, o povo daqui) e algumas repetições de palavras. Fora isso, achei um texto bem escrito e correto gramaticalmente.

    • Estilo de escrita – Avaliação do ritmo, precisão vocabular e eficácia do estilo narrativo. 4

    Nesse quesito, apenas dois pontos; é uma linguagem simples, o que, via de regra, não é um demérito. Faz sentido dentro do contexto do conto. Contudo, penso que poderia ter uma escrita um pouco mais rebuscada em alguns pontos.

    Fora isso, eu diria que o ritmo está perfeito, exceto pelo desfecho apressado, quase como se corresse para fechar o conto dentro do limite de palavras.

    • Estrutura e coesão do conto – Organização do conto, fluidez entre as partes e clareza da construção narrativa.4.5

    Conto muito bem estruturado, com uma boa fluidez; início, meio e fim. Como disse anteriormente, exceto pelo final apressado, foi uma execução muito boa. 

    • Impacto pessoal – capacidade de envolver o leitor e gerar uma experiência memorável 2,5

    Eu queria ter gostado um pouco mais desse conto. Me lembrou um pouco aquele livro do Jô Soares “Assassinato na Academia Brasileira de Letras”. A sensação final é como ter ido num restaurante conhecido, na moda por assim dizer, ter comido um prato bem feito, bem pensado, mas sem muito sabor. É um conto inteligente, que brinca com uma alegoria metalinguística e satírica sobre os clichês da literatura. O parágrafo inicial já dá o tom do que leremos adiante.

    O foco, no entanto, vai indo para a investigação do assassino serial. Nesse momento, o conto se torna morno; a investigação não é interessante, o humor se diluí…

    Nota final: 4,1😇👍

  9. Gustavo Araujo
    23 de março de 2025
    Avatar de Gustavo Araujo

    Não é um conto brilhante, mas é um conto competente. É muito difícil construir uma atmosfera policial com começo, meio e fim, onde tudo se conecta bem e o leitor sai satisfeito. Ainda que não brilhe, o conto tem suas qualidades, como um narrador cheio de defeitos e uma femme fatale. Só o vilão é fraco e unidimensional, mas, levando em conta o limite de 3 mil palavras, não dá para exigir muito. Também por conta disso, o fim ficou um tanto apressado e aquém do desenvolvimento, mas ainda assim funciona com o pequeno plot twist no momento em que se revela que a professora era, ela própria, uma escritora que abusava dos clichês. Cheguei a pensar que haveria uma quebra de quarta parede, em que o vilão estaria a se vingar do detetive por saber do conto que ele estaria escrevendo — este mesmo que lemos no desafio, também pleno de clichês. De todo modo, as boas construções tornam a leitura agradável e a maneira de narrar, um tanto informal, como R. Chandler costumava fazer, colaboraram para com a fluidez da experiência. O ponto fraco — e este não tem como desculpar — fica pela adesão um tanto tímida aos temas do desafio. Ainda que o protagonista solte uma ou outra observação sarcástica, isso não torna o conto uma comédia, já que o que se sobressai é a atmosfera policial.

    Nota: 3,5

  10. claudiaangst
    23 de março de 2025
    Avatar de claudiaangst

    Para este desafio, utilizarei o sistema de avaliação TERRORIR:

    T(ítulo) — ASSASSINANDO CLICHÊS — Associei o título a algum tipo de comédia. Será? Veremos (leremos).

    E(nquadramento ao tema) — Não chega a ser um conto de terror, também não tem um tom propriamente cômico, acho que esbarra nas margens do terrorir. Não ri, nem tremi, mas o importante é que eu li.

    R(azão de gostar do conto) — Uma leitura que flui fácil e não cansa.

    R(evisão) — Alguns detalhes poderiam ser revistos:

    – E ele vivia de que? > E ele vivia de quê?

    – repetição de sons (pode ter sido proposital, mas achei chato):  é/ né/como é/ Mas isso é

    – repetição seguida de VALEU

    – Não estava… mas agora que você falou. > Não estava, mas agora que você falou… (uma questão de pontuação)

    O(utras questões técnicas) — A linguagem empregada é simples, coloquial, com gírias e os clichês tão esperados.

    R(azão de desgostar do conto) — Algumas incongruências nas cenas tornaram a narrativa pouco verossímil. O desfecho também não causou impacto. 😨

    I(ntesidade da narrativa) — Mediana. Pensei que fosse cair na gargalhada, ou tremer de medo, mas a trama se desenvolveu sem surpresas. 👿

    R(esumo da ópera) — Uma boa tentativa de transformar uma história policial com pitadas de humor tosco e inserir o mundo dos escritores para agradar o público do EC. Valeu!

    Parabéns pela sua brilhante participação no desafio e boa sorte!

  11. José Leonardo
    23 de março de 2025
    Avatar de José Leonardo

    Olá, Ferreira.

    Tendo em vista as minhas limitações técnicas para apreciar melhor o seu conto e de modo a tentar esquentar meus comentários que acho um tanto insossos, decidi convocar, por meio de um ritual de fervura de miojo de tomate com leite coalhado e digitação de Zerinho-um no MS-DOS, a FRIACA® (Falsa Ruiva Inteligente Auxiliar para Comentários e Avaliações) para me ajudar nessa bela empreitada e proporcionar a melhor avaliação possível acerca do seu texto (dentro da minha perspectiva de leitor).

    FRIACA: Do que se trata o conto?

    R.: Ferreira, um típico investigador à moda antiga e que não tem o apoio dos CSI da vida e nem dos detetives christiescos, depara-se com uma série de assassinatos incomuns envolvendo escritores, cujos ferimentos mortais coincidem com passagens (clichês) de seus livros. Após marcar um encontro num aplicativo de namoros, aproveita os conhecimentos de uma professora para entender melhor os assassinatos e por meio deles conduzir suas investigações (e molhar o biscoito com ela, evidentemente).

    FRIACA: Como você vê a narração, o estilo, a estrutura, a técnica?

    R.: Se fizéssemos uma relação entre os títulos dos contos e o que os textos realmente demonstram, creio que sua história estaria no pódio, Ferreira. Enquanto lia, além dos clichês que vinham sendo objeto de assassinato (as frases comuns que escritores usam para gestos, sensações etc.), também me deparava com outros clichês que o investigador abordava: o das perícias técnicas ágeis, os dos métodos de investigação dos romances policiais mundialmente aclamados (escritos há várias décadas, ou seja, distantes da (r)evolução tecnológica cometida desde então). Apesar de “crime no Rio de Janeiro” me parecer um grande clichê (um romance que me marcou foi Bufo & Spallanzani, do Rubem Fonseca, uma das poucas obras que gosto do autor – e o filme também é legal).

    Tais obras policiais dependem também (ao meu ver) de bons e ágeis diálogos, e é o que vemos aqui, Ferreira. Muito bons mesmo para o tema que você abordou.

    FRIACA: E quanto à adequação ao tema, à criatividade e ao impacto?

    R.: Adequado ao tema do terror (assassinatos seriais) com um toque de humor negro, ao meu ver. O final do conto aborda os clichês (o assassino os detesta enormemente) e a surpresa sobre Marta (que vai lhe custar a vida, bem como a salvação do protagonista).

    FRIACA: Indo um pouco mais a fundo nesse particular e apesar do aspecto subjetivo do que a história pode causar no leitor, é um conto para dar risadas ou aterrorizar-se?

    R.: É um texto que transita entre o horror e o humor, desse modo, pode causar ora um, ora outro no leitor (seja pelas descrições dos assassinatos, seja pelo tom de certa trivialidade do detetive para com os demais personagens).

    FRIACA: Qual sua posição final sobre esse conto?

    R.: É uma pena que eu não possa avaliar com notas e indicações o seu texto, Ferreira, pois estaria certamente no meu pódio. Um dos melhores contos deste desafio – o que em mim se cristaliza no fato de um leitor que não é muito fã de literatura policial não conseguir parar de ler até o desfecho, dado o alto interesse na história.

    Parabéns pela estória e boa sorte neste desafio.

  12. andersondopradosilva
    23 de março de 2025
    Avatar de andersondopradosilva

    Digo, faturou nota 4,4.

  13. andersondopradosilva
    23 de março de 2025
    Avatar de andersondopradosilva

    ASSASSINANDO CLICHÊS é metalinguístico, o que acabou se revelando, no contexto do desafio, uma má escolha, porque foram muitos os contos metalinguísticos, o que os tornou, a partir de um certo número de leituras, enfadonhos e maçantes. Porém, o autor de ASSASSINANDO CLICHÊS não tinha como prever essa enxurrada de metalinguagem, de gente escrevendo sobre o fazer literário. O título é excelente. É um texto correto, bem revisado e com uso adequado das técnicas narrativas. Comparativamente, não tem o engajamento de O DILEMA DA ARANHA, não tem a forma ousada de JAZZ e não tem a linguagem diferenciada de FALTA POUCO, GALDINO. Assim, comparativamente, ASSASSINANDO CLICHÊS é um texto conservador, com início meio e fim, com linguagem denotativa e reviravolta, é um baita clichê. Não convida a grandes reflexões, praticamente se esgotando em si mesmo. Faturou nota 4,2 e o quarto lugar na minha lista.

  14. Marco Saraiva
    19 de março de 2025
    Avatar de Marco Saraiva

    Um dos melhores contos de comédia que li no EC e ponto final. É um daqueles que vai ficar para a posteridade, atemporal, dá pra ler em qualquer época e mandar para aqueles que ficam irritados com os nossos clichês (estou falando com vocês aí que não gostam dos meus “sorver” e dos meus “girou nos calcanhares”!)

    O conto é de fácil leitura, uma técnica simples mas honesta, cheia de personalidade. Conversa bem com o leitor, prende fácil, e brinca com tantas jogadas de palavras que eu ri do início ao fim. Até o final trágico tem sentido na comédia do conto. Muito bem bolado!

    A sacada da história é sensacional: um assassino que mata os autores que usam clichês nos seus livros. E você ainda foi criativo na execução dos assassinatos. O desenrolar da história é bem natural, não vi a mão do autor em momento algum. Aliás, a escolha de algumas vezes quebrar a quarta parede, inclusive no final, só adiciona na personalidade do conto.

    Não tenho críticas quanto ao conto, nem sugestão de melhorias, então vou parar por aqui antes de babar demais o texto. Parabéns

  15. jowilton
    19 de março de 2025
    Avatar de jowilton

    Bom conto. O texto narra a história de um detetive que investiga uma série de assassinatos de escritores. O assassino é motivado pelo ódio de frases clichês

    O conto é bem escrito e a narrativa é bem feita, nos conduzindo numa história com uma ambientação no estilo Noir. Tem passagens bem divertidas. O enredo é bem simples, e o caso é resolvido de forma rápida, com quase nenhuma reviravolta, talvez, a morte da professora, seja uma. O ponto alto do conto fica mesmo pela criatividade de usar os clichês como o motivo dos assassinatos.

    Boa sorte no desafio

  16. Kelly Hatanaka
    17 de março de 2025
    Avatar de Kelly Hatanaka

    Oi  Ferreira.

    Antes, um aviso geral: li seu conto com toda a atenção e cuidado e meu comentário, abaixo, expõe minha opinião de leitora, com todas as falhas que tal opinião possa ter. Os quesitos que uso para a pontuação são: Tema, Escrita e Enredo, valendo 2 pontos cada e Impacto, valendo 4. Parabéns pela participação e boa sorte no desafio!

    Tema

    Puxa, e aí? O conto atende o tema? Li uma vez, achei que não, li outra, achei que sim. Ele tem graça, um toque bem vindo de humor. Mas não é isso que predomina e, sim, a investigação, a ambientação noir. Eu não gosto de rotular histórias, acho que limita a leitura. Só que, neste caso, definir se é terror ou se é comédia é relevante para definir a adequação ao tema. Penso que este conto é um noir tropical com toques de humor. Vou considerar o tema atendido.

    Escrita

    Muito boa, exceto por um “empossado” em lugar de “empoçado”.

    Gostei da linguagem direta e do foco na história, bem conduzida.

    Enredo

    Investigador trabalha em casos estranhos de assassinato, auxiliado por sua namorada que é professora de literatura e escritora. Ele acaba se tornando alvo do serial killer por conta do livro que Marta escreveu. Acho que este é o típico simples que funciona. Uma história sem grandes malabarismos narrativos e que conta uma história interessante.

    Impacto

    Foi uma leitura bem prazerosa. Conto bom, bem desenvolvido, personagens interessantes. Podia pesar um pouco mais no humor, embora tenha ficado leve e divertido assim mesmo. Não gostei muito dos três últimos parágrafos; achei que enfraqueceu o fechamento, embora tenha gostado da ideia de pontuar que o caçador de clichês era, ele mesmo, um vilão clichê.

    Gostei bastante!

  17. Luis Guilherme Banzi Florido
    12 de março de 2025
    Avatar de Luis Guilherme Banzi Florido

    Ola, amigo(a) entrecontista! Tudo bem por ai? Esse conto faz parte das minhas leituras obrigatórias.

    Resumo: um conto bem humorado sobre um assassino cujas vitimas sao escritores que abusam dos cliches e chavões da escrita.

    Comentário geral: um ótimo conto, gostei muito. Tudo aqui funciona: é engraçado e bem humorado, tem um enredo muito bom, todo amarradinho, bons personagens, um bom romance, um desfecho à altura, é muito bem escrito (de maneira profissional até), tem um bom ritmo, bons diálogos. Li poucos até agora, mas ficarei surpreso se esse conto não ficar no top 3 da B. Muitíssimo bom. Adorei os personagens, especialmente o psicopata e a motivação dele. Adorei as mortes relacionadas aos clichês, achei impressionantemente criativo, já que nunca vi nada remotamente parecido com isso. Tô impressionado com o conto e queria ter escrito ele hahahaha. Meu único porém é que eles descobrem o pescotapa de uma forma meio aleatória. Eu entendo qe a limitação de palavras não te permitiu incluir personagens pra gente desconfiar, como seria num conto do gênero, e se o pescotapa fosse a professora, seria meio clichê (heheheh), então não vou descontar pontos por isso nem nada, mas achei valido apontar. Parabens!

    Sentimento final como leitor: amei, uma leitura divertida e muito imersiva.

    Recomendação do meu eu leitor: nenhuma, não tenho nada pra sugerir pq eu mesmo não chegaria perto de escrever algo tão bom.

    Conclusão: o que esse conto tá fazendo na série B?

  18. Mariana
    12 de março de 2025
    Avatar de Mariana

    Técnica: o melhor conto que li até agora. Uma técnica firme e fluída, cheia de malandragem carioca. O ritmo é muito bom, eu li no uber de uma vez só. Tem uma quebra no final, mas nada que prejudique demais. 1,8/2

    Criatividade: é muito difícil escapar de clichês e o conto sabe brincar de forma competente com eles. É uma história solar, engraçada e meio cruel. A leitura me lembrou João Ubaldo Ribeiro e digo isso como o maior dos elogios. 2/2

    Impacto: Li de uma vez e me diverti muito, deu vontade de sentar em um barzinho 1/1

  19. leandrobarreiros
    11 de março de 2025
    Avatar de leandrobarreiros

    Esse é um conto com diferentes méritos:

    A história é bem fluída, mesmo no limite do desafio apresenta pelo menos quatro personagens bem marcantes (o detetive, a professora, o chefe e o vilão).

    É bem humorado, sem forçar muito a barra. Eu não diria que arranca gargalhadas, mas mantém um tom divertido com constância, com algumas risadas. Me lembrou o humor de “o garoto detetive”, que é assim também, sutil e efetivo.

    Foi uma história original de investigação policial com início, meio e fim, com apenas três mil palavras e, finalmente, conseguiu fazer um romance bem bacana.

    Se tem um ponto negativo, para mim, foi o final. Além da resolução ter sido meio apressada e, diria, até um pouco confusa, acho que ficou trágico demais para o tom do texto mais bem humorado, com a morte da professora.

    De todo modo, um conto muito bom.

  20. Priscila Pereira
    11 de março de 2025
    Avatar de Priscila Pereira

    Olá, Ferreira! Tudo bem?Primeiro: ótima escolha de título. Combinou super bem com o conto e chamou a atenção do leitor.

    Gostei da ideia do seu conto. Gostei da execução. Mas achei tudo leve demais. O terror, o humor, a investigação, o clima (em um conto de terror o clima de tensão e suspense é muito importante!), o romance, tudo leve demais. Cadê a sua ousadia?? Deu a impressão de que queria agradar ao máximo de pessoas sendo meio neutro.

    Não vou descontar pontos nem nada, mas eu classificaria seu conto de policial bem humorado e não como terrir, nem terror, nem comédia, mas essa foi a minha percepção. A parte dos clichês foi ótima! E o assassino de clichês era no final das contas um vilão clichê! Muito inteligente isso.

    Vejo que vc tem muito potencial que talvez esteja sendo contido pra tentar agradar ao gosto do grupo. Não faça isso! Escreva o que gosta! A escrita está ótima, muito fluida e gostosa de ler. É um conto bem bacana! Parabéns!

    Boa sorte no desafio!

    Até mais!

  21. Antonio Stegues Batista
    11 de março de 2025
    Avatar de Antonio Stegues Batista

    A história do detetive Ferreira que investiga um assassino que mata suas vítimas fazendo uma conexão com frases clichês. Achei uma boa ideia. A estória ( Estória, ficção-História, fatos reais) tem algumas partes bem humoradas, mas não é tão engraçada que possa me fazer rir. É um humor fraco, na minha opinião. Mas o conto tem algo de Noir, aquela atmosfera de terror e mistério dos contos policiais de Raymond Chandler.

    Enredo – Bom, original.

    Escrita/Frases – Boas frases, escrita com pequenos erros de digitação. Boa narrativa, leitura fluida.

    Personagens – Marcantes.

    Ambientação – Faltou maiores descrições, a imersão dos personagens no ambiente do Rio.

    Impacto – Fraco.

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Publicado às 9 de março de 2025 por em Liga 2025 - 1B, Liga 2025 - Rodada 1 e marcado .