EntreContos

Detox Literário.

A Rainha Vestida de Estrelas (Marco Piscies)

A mente daquele menino, ausente diante do tédio e do julgamento do mundo, capturou no ar a premoção antiga. A mão, distraída, escreveu o poema sem saber que era também um louvor:

Além do fio de vida mais longo
Além do alcance da memória
Além da luz do dia e do alvorecer do Tempo
Vinda de éons tão distantes, que nem mesmo os Antigos dela se lembram
Além dos orbes de pedra de mundos recém-nascidos
E das primeiras explosões de incontáveis sóis
Lá Ela se encontra, Ela que nos engolfa com a sua presença
(…)

~~~

Alguém havia deixado um pacote da Amazon na frente do apartamento oitocentos e oito, abandonado há anos.

“Acho que é um livro”, disse Felipe.

“E como você sabe?”

“Olha só o formato”

O trio de meninos olhava o pacote de longe. A porta ficava no final do longo corredor, solitária. Todos os andares eram iguais, mas a porta do oitocentos e oito sempre pareceu estar mais longe do que as suas contrapartes. Para os garotos, não era coincidência que as luzes falhavam ao redor dela. Por mais que tentasse revisitar toda a extensão dos seus treze anos de vida, Felipe não se recordava de ter visto as lâmpadas mais próximas da porta funcionarem.

“Mas o moço da entrega deixou lá?”

“Corajoso”

“Que livro vocês acham que é?”

“Necronomicon”, falou Vinícius. Os três amigos tinham a mesma idade, mas ele era o que tinha a aparência de mais novo, então os outros o tratavam como tal.

“Vade-retro”, falou Natã.

“Necromomo… o que você falou?”

“Necronomicon”

“Vade-retro”

“Sério, o que é isso?”

“É um grimório do mal. Eu vi no Taru Majutsu

Afe, para de falar os nomes dos animes em japonês”

“Mas é que esse não saiu nome traduzido…”

“Não é livro de anime coisa nenhuma”, falou Natã. “Deve ser a bíblia. Minha mãe fala que toda casa precisa de uma bíblia aberta no salmo”

“O que é salmo?”

Natã fez que responderia, mas a mãe de Felipe chamou da cozinha. Era hora do jantar. O trio se despediu, e Felipe abriu a porta do oitocentos e seis, onde o cheiro de feijão fresquinho e purê de batatas inundava o ambiente.

Os talheres tilintavam sobre a louça durante a refeição noturna. Os pais de Felipe conversavam entre si, enquanto ele mergulhava em perguntas que nunca haviam lhe ocorrido antes.

“O que é um éon?”, falou, em um momento de silêncio.

“Éon?”, disse a mãe.

“Isso”

A mãe buscou a ajuda do pai apenas com um olhar.

“É uma medida de tempo”, falou o pai, ainda mastigando.

“Quanto tempo?”

“Muito tempo”

“Mas não tem um número? Tipo, sei lá, mil anos?”

“Isso é um milênio”, falou a mãe.

O pai encolheu os ombros.

“Deve ter alguma definição científica para éon. Mas não sei dizer”

Felipe grunhiu uma concordância insatisfeita.

“É isso que você aprendeu na escola hoje? Éon?”, falou a mãe.

“Não. Hoje foi o dia das visitas dos padres”

“Ah, é verdade. Tinha esquecido. Como foi?”

Felipe não entendia o interesse interminável dos pais quanto à sua vida escolar. Não era como se houvesse algo de interessante a cada novo dia na escola católica. Toda manhã cantavam uma música de louvor, e toda quinta-feira cantavam também o hino nacional. As aulas eram entediantes, e ele não tinha amigos para brincar. Trocava palavras com algumas crianças da sua classe, mas no geral passava o tempo lendo mangás e evitando ser visto pelas outras crianças que achavam que mangás eram coisas de idiota. Às vezes, mergulhava tanto na leitura que esquecia de se esconder, e eles o viam. Não era bom quando aquilo acontecia.

“Foi nada de mais”

“Falaram que ia ter um monte de atividades”

“Teve umas gincanas. E depois os padres deram umas palestras. Teve um deles que não foi muito com a minha cara”

“Como assim, Felipe?”

“Ele pediu para a gente escrever num papel o que estava no nosso coração. Falou que deus vê o que está no coração, mas é sempre bom escrever, para a gente ver também”

“E daí?”

“Ele não gostou do que eu escrevi. Fez uma cara feia”

“E o que você escreveu?”

“Agora não lembro né, mãe. Era uma coisa sobre a noite, eu acho”

“A noite?”

Entre uma garfada e outra, o pai soltou uma risada nasal.

“É que eu gosto mais da noite do que do dia. De dia não acontece nada de legal. Mas de noite eu vejo os meus amigos daqui do prédio, a gente joga bola até apagarem as luzes da quadra, ou então a gente vai no cinema, ou no parque”

“Isso faz bastante sentido para mim”, falou o pai, e a mãe concordou com uma expressão muda.

“É de noite que as coisas acontecem de verdade”, disse Felipe, voltando a comer.

Ainda naquela noite, pouco antes de dormir, ele foi incumbido de jogar o lixo fora. No corredor do prédio, viu que uma luz vermelha fugia pelas frestas da porta do oitocentos e oito, projetando no corredor uma sombra comprida e retangular, como se o pacote da Amazon se esticasse até ele em uma tentativa tocá-lo. Notou que outras sombras iam e vinham no interior do apartamento que deveria estar vazio.

Não falou com os pais o que viu, mas ocorreu-lhe, pela primeira vez, que a parede do seu quarto fazia divisa com o apartamento vizinho. No silêncio da noite, por cima do som do ar-condicionado e dos latidos distantes dos cães, ele pôde ouvir risadas abafadas que escapavam de lá e, quando prestou bastante atenção, gemidos de prazer. Pensou que havia uma festa acontecendo. Imaginou que houvessem, finalmente, vendido o apartamento abandonado.

~~~

“Tem gente no oitocentos e oito”, falou aos amigos na noite seguinte, após mais um dia enfadonho na escola.

“Tem nada”

“Tem sim, eu vi”

“E como eram?”

“Tipo a família Adams?”

“Eu não vi eles, não. Só vi as sombras. E ouvi eles conversando pela parede”. Felipe achou de bom tamanho deixar para depois a parte dos gemidos. “É tipo como se fosse uma festa. Devem ter vendido o apartamento, agora tem gente lá”.

“Só tem um jeito de saber”

Os três foram até o porteiro e perguntaram sobre os novos inquilinos do oitocentos e oito. Não havia novos inquilinos.

De volta a casa de Vinícius, Felipe contou-lhes tudo. Falou da luz vermelha, e dos gemidos também.

“Minha mãe fala que luz vermelha é coisa do capeta”

“Não falei que era o necronomicon?”

“Será que não é só gente fazendo sexo escondido?”, disse Felipe, e o silêncio veio rápido entre eles, enfeitado por risadinhas abafadas e olhos arregalados. A palavra sexo era tabu, mas agora que Felipe já a havia pronunciado, não sabiam se conversavam em tom alto demais, se algum adulto os havia escutado.

Segundos arrastados de silêncio confirmaram que estavam a salvo.

“Quem você acha que é?”, sussurrou Natã.

“Tua irmã”, falou Vinícius, o que fez Natã socá-lo no ombro.

“Sei lá, pode ser a Fernandinha”, disse Felipe.

“Do trezentos e dois?”

“Ela”

“Mas você não viu um monte de gente?”

“Não sei se eu vi um monte de gente. Foi um monte de sombras, mas pode ter sido só duas pessoas”

“Essa história tá ficando estranha”

“Mas uma coisa é certa”, falou Vinícius, e os outros dois esperaram pelo resto da frase: “Tem chance que é a sua irmã, sim”

Novos xingamentos, e socos que não doíam de verdade, e risadas. E uma decisão: dormiriam todos no quarto de Felipe naquela noite, para escutarem as vozes com os próprios ouvidos.

As famílias dos três amigos se conheciam há anos, então não era difícil arranjarem aquele tipo de encontro. A mãe de Felipe providenciou porções extras para o jantar, as crianças dividiram a refeição daquela noite, responderam às perguntas enfadonhas dos adultos e, logo, estavam no quarto de Felipe, ouvidos grudados na parede, esperando escutar alguma coisa.

Nada.

Aguardaram os adultos dormirem para abrir a porta da frente do apartamento. Uma única luz vacilou e acendeu, iluminando um nicho do corredor mergulhado em trevas. No final do túnel, mal era possível enxergar a silhueta da porta oitocentos e oito. Não havia luz vermelha.

“Sabia que você tava de sacanagem”

“Não tava, não”

“Eu sei que você não ia mentir do nada”, disse Natã, e fecharam a porta devagar. “A gente tenta outro dia”

Mais tarde naquela noite, Felipe acordou com o erotismo que atravessava a parede vizinha. Os amigos dormiam. Encostou o ouvido, e os gemidos ganharam forma. Uma voz feminina sussurrava, destilando palavras desconhecidas em tom instigante. Sentiu algo diferente, uma comichão nas partes íntimas, um desabrochar inquietante. Fechou os olhos e tocou-se ao som daquela mulher, o rosto grudado à parede gelada pelo ar-condicionado. A voz o envelopou, até ele sentir uma onda eletrizante e algo ser despejado sobre a cama.

Sentiu nojo de si. Fugiu para debaixo das cobertas, onde podia adicionar uma camada extra entre ele e o mundo. O coração batia acelerado, mas a memória dos gemidos era ainda recente, e a sua imaginação o ninou na direção de um sono conturbado.

Sonhou que urinava, e que o seu pênis escorregava pelos dedos e caía dentro do vaso sanitário. Acordou assustado. Os amigos despertaram junto com ele.

“Que cheiro ruim”, falou Vinícius. “Alguém peidou malzão”

E iniciaram uma briga de travesseiros.

~~~

Passou a ouvir a voz da mulher todas as noites, e todos os seus dias viraram um inferno. Pensava nos sussurros o tempo todo. Tentava dar forma à voz, mas a sua imaginação o deixava desconfortável. Sempre queria ouvi-la um pouco mais, achava que o quanto mais a ouvisse, mais nítida a sua imagem se formaria no olho da mente. Fingia ler o seu mangá durante o recreio, mas os pensamentos flutuavam, e ele não prestava mais atenção nos garotos que deveria evitar, e que agora abusavam dele constantemente. Nada muito sério: jogavam as suas revistas no chão, rabiscavam o seu caderno, riam da sua cara. Ele voltava para casa sem marcas no corpo, mas a mente cansada buscava refúgio na mulher do outro lado da parede. Passou a brincar menos com Natã e Vinícius. Voltava cedo para o jantar, comia o mais rápido que podia sem levantar as suspeitas dos pais, e corria para grudar o ouvido na parede. Os gemidos deleitosos da mulher eram pontuais. Agora, sussurravam o seu nome.

Felipe.

Feli-ii-pe.

Ela esticava as sílabas com os gemidos de prazer. Não sabia que o seu nome podia soar tão belo.

~~~

Após mais um dia de aula, viu-se parado diante da porta do próprio apartamento. Olhava o pacote da Amazon no final do corredor, que ainda aguardava ser coletado. Decidiu ir até lá.

Cada passo na direção da porta parecia alongar a distância até ela. Os sons dos fechos da mochila ecoavam como sinos de alerta. Cruzou a distância que desafiava a lógica e alcançou o apartamento oitocentos e oito, cuja porta parecia ser pintada com a própria escuridão.

Agachou-se para pegar o pacote, e o cão do outro lado começou a rosnar. Afastou a mão. Não podia enxergar nada atrás da fenda sob a porta, mas havia de fato um cão ali, e o seu rosnado era agora constante. Tentou alcançar o pacote novamente, e o rosnado intensificou. Pode ouvir o cão lamber as presas e mostrar os dentes. Tocou o pacote, e o cão latiu, e ele saltou para longe. O cão latiu outra vez e Felipe correu, açoitado pelos ladros ensandecidos. Entrou no próprio apartamento e fechou a porta com o corpo. Suava e tremia. Os latidos cessaram.

Naquela mesma noite, por mais que agora temesse a parede, não pôde resistir ao seu chamado. Tocou o ouvido, e a voz, mais próxima do que nunca, gemeu e sussurrou. Então, pela primeira vez desde que a entreouvia naquele ritual velado, ela cessou. Em um momento soprava uma palavra em um idioma que desconhecido, e ele regozijava. Já sabia a sua cadência, sabia que outra palavra viria a seguir, e o momento que a voz soaria novamente, mas ela não soou. Um hiato.

Então, a mulher falou, tão próxima e tão clara, que era como se estivesse ao seu lado.

“Sabe, se me ouve daí, posso ouvi-lo daqui, também”. Ele ouvia os lábios emoldurados, o sorriso entreaberto. O mundo aquietou-se. Só havia ele, o toque frio da parede, e a voz. “O gato comeu a sua linguinha?”

Ele saltou para longe da cama. Aquilo era mais do que conseguia suportar. Andou até a porta do quarto, fez que a abriria, mas olhou para a parede outra vez, e hesitou. Voltou. Encostou o ouvido.

“Achei que falaria, agora”, disse ela. “Não é do meu feitio falar sozinha”. O coração acelerado de Felipe grudava os seus lábios um no outro. A mulher tentou mais uma vez: “Qual é o seu nome?”

“Achei que já sabia o meu nome”, ele ficou surpreso com o som da própria voz.

Ela levou cinco batidas de coração para responder:

“Eu sussurrei um nome, sim. A brisa o sussurrou por mim. Seu nome é frio. Eu o sinto em minha pele. Mas também sinto o seu calor, e o calor da sua curiosidade. Qual é o seu nome, anjinho? Quero saber o nome daquele que me deseja”

“Felipe”

“Felipe. Feli-ii-pe”, ela repetiu, na nota prolongada. “Você me quer, Felipe?”

“Eu quero te ver”

“Você quer me tocar?”

“Eu…”

“Meu toque é como seda. Você sabe como é a seda?”

“Não”

“Sua mãe se veste de mim quando vai dormir. Seu pai me veste também, mas de maneira diferente. Você quer se vestir de mim também, Felipe?”

Ele não tinha uma resposta para aquela pergunta. Não sabia se queria vestir-se dela, ou ela vestir-se dele.

“Por que não pegou o pacote sob a porta?”, falou a mulher.

“Tinha um cachorro. Ele parecia irritado”

“Como sabe que ele estava irritado, se não o viu?”

“Do mesmo jeito que você está atrás da parede e eu não consigo te ver, mas eu sei que me ama”

Um suspiro de alívio escapou pelos lábios do garoto, como se aquelas palavras fossem um fardo que ele havia acabado de largar ao chão. Pronunciá-las tornava-as reais.

Seu pai deu duas batidas na porta e entrou. Ele afastou o ouvido da parede, mas a risadinha provocante da mulher seguiu-o, ecoando em seu ouvido.

Seu pai queria falar sobre sexo.

Ele disse que a sua mãe havia encontrado as meias e os lençóis manchados, então prosseguiu falando sobre coisas que nada tinham a ver com a mulher do apartamento ao lado. Ela não carregava doenças. Ela não era suja do jeito que ele descrevia aqueles atos. Mas ela era proibida, sim, e ele a desejava, mas não como o seu pai achava que era o seu desejo. Queria vê-la. Queria abraçá-la e descansar o rosto em seus seios. Queria ser vestido por ela.

~~~

O dia seguinte era Sábado, e ele passou a maior parte do tempo em seu quarto, ouvindo. Quando a noite caiu, andou até o armário da mãe e encontrou a camisola de seda. Vestiu-a. Deixou o tecido escorrer pelo rosto, demorou-se com ele entre os dedos.

Esgueirou-se para fora do apartamento. Fez o caminho proibido, cobriu a distância impossível e, ignorando os latidos do cão atrás da porta, pegou o pacote e o abriu. Os protestos caninos cessaram.

Dentro do pacote estava o poema que havia escrito para o padre na escola, quando pediram para que escrevesse o que o coração sentia. Não lembrava de ter escrito nenhuma daquelas palavras, mas sabia que eram suas, e todas faziam pleno sentido:

Além do fio de vida mais longo
Além do alcance da Memória
Além da luz do dia e do alvorecer do Tempo
Vinda de éons tão distantes, que nem mesmo os Antigos dela se lembram
Além dos orbes de pedra de mundos recém-nascidos
E das primeiras explosões de incontáveis sóis

Lá encontra-se a Noite, Ela que nos engolfa com a sua presença
Diante dela o próprio Tempo
Aquele que faz pó das montanhas mais altas
Que cria e destrói os mais poderosos impérios
Que preenche os tomos da história com páginas infinitas
Nada mais é do que mera sombra passageira

A Noite aguarda, paciente e faminta
Entre os mais elevados Céus e mundos distantes
Até que o Tempo escreva a última linha no seu livro
Até que as estrelas envelheçam e se apaguem
Até que todos os mundos caiam e se tornem apenas pó e ossos
Até que o Homem e a Memória respirem uma última vez

A Noite canta, para entoar melodias nunca antes ouvidas
A Noite canta, para afogar a voz do Homem
A Noite canta, para lamentar a morte do Tempo
A Noite canta, para conquistar o trono dos Céus

A porta rangeu e se abriu, mas a luz que escoava de dentro do apartamento era agora da cor do céu sob a lua cheia. O mundo assumiu um tom esmaecido, e mesmo que Felipe estivesse de olhos bem abertos, tudo era sugestões e sombras e os movimentos das sombras.

Adiante, a silhueta da mulher o aguardava, alta e altiva, os cabelos esvoaçantes na brisa noturna. O seu longo vestido cobria o céu – ela se vestia de estrelas. Diante dela, o cão de três cabeças era também uma sugestão, grunhia sentado em guarda, mas permitia que Felipe desse um passo adiante. E mais outro. E mais outro.

Abriu os dedos e o papel fluiu para o chão devagar, em um vai-e-vem lento, que marcou o avanço dos seus passos.

Felipe tornou-se escuridão. Tornou-se medo e prata e o brilho das estrelas. Alongou-se para aderir ao caimento adequado, e quando ela o vestiu ele pôde senti-la sorrir.

A porta do apartamento vazio fechou devagar. No chão um poema, que a Noite soprou para longe.

~~~

Este conto foi baseado na minha adaptação de um poema que encontrei há anos, e cujo nome do autor perdeu-se no Tempo.

Sobre Fabio Baptista

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27 comentários em “A Rainha Vestida de Estrelas (Marco Piscies)

  1. Gustavo Araujo
    15 de abril de 2025
    Avatar de Gustavo Araujo

    Rapaz, que conto! Quem diria que o tesão por uma vizinha misteriosa chegaria a esse ponto? 😊 Brincadeiras à parte, gostei muito. Desde a ambientação, que a mim remonta aos anos 80, a uma atmosfera meio stranger things, até a construção do mistério. Tudo se encaixa bem: a amizade entre os meninos, com a intimidade, com os soquinhos, com os insultos típicos da idade, com a descrição do condomínio; a ansiedade de Felipe com a descoberta dos desejos típicos da idade, com a imaginação a mil, com a antecipação dos acontecimentos; e finalmente a criação da lenda da mulher, do mistério do apartamento, do pacote da amazon, do cachorro… enfim, tudo se conecta bem e, como plus, há uma certa leveza, uma ingenuidade tocante, uma inocência prestes a ser pedida. Somos, enquanto leitores, testemunhas de tudo isso, reféns de uma narração muito envolvente. Em diversos pontos, para além da ambientação stranger things, enxerguei um tanto do Niccolò Ammaniti, especialmente do “Não Tenho Medo”. Isso é para poucos. Parabéns pelo conto.

    • Marco Saraiva
      21 de abril de 2025
      Avatar de Marco Saraiva

      Eitcha, não tinha visto o seu comentário aqui no conto, Gustavo! Obrigado pela leitura! 😁

  2. Bia Machado
    29 de março de 2025
    Avatar de Bia Machado

    Enredo/Plot: 1/1 – Terminei o conto chorando. Que história, meu Deus, que história.

    Criatividade: 1/1 – Continuo dizendo a mim mesma, que história. Criatividade monstra de imaginar um enredo desses.

    Fluidez narrativa: 1/1 – Muito fluída a narração, não pude parar de ler enquanto não cheguei ao final.

    Gramática: 1/1 – Para mim, nada de mais, na verdade não percebi nada. Entendi que as frases sem pontuação no final se devem por serem de uma conversa virtual.

    Gosto/Emoção: 1/1 – Eu amei esse conto. Estou chorando até agora. Parabéns, autor (a).

  3. Fabio D'Oliveira
    29 de março de 2025
    Avatar de Fabio D'Oliveira

    Buenas, Nyx!

    Gostei muito desse conto. Simples, cativante e levemente bizarro. Não é um conto que pretende ser maior do que realmente é, e, de fato, torna-se grande exatamente por isso.

    Os personagens estão bem construídos, principalmente o protagonista. Algumas pessoas podem estranhar o fato do menino ter uma relação sexual com a voz feminina por detrás da parede, mas é nesse idade, de fato, que os rapazes começam a despertar seu lado sexual. E o que não falta, pra garotada, era desejos e paixões por mulheres mais velhas. Achei ousado, por isso, ganhou pontos comigo.

    Na verdade, a ambientação desse conto mexe um pouco comigo — o que é um bônus, não sendo o fator de maior apreço pelo texto. Numa época da minha vida, eu morei num condomínio e eu gostava muito de ficar no corredor. Eu via sombras por debaixo das portas. Muitas risadas, muitas brigas. E eu ficava lendo, quieto, naquele espaço que, pra mim, sempre foi surreal. Um caminho entre mundos diferentes, que são as casas das pessoas, escapando um pouco da minha realidade, também.

    É um conto que trabalha com o terror de forma sutil e presente, muito atmosférico. Um dos melhores, pra mim.

  4. Andre Brizola
    29 de março de 2025
    Avatar de Andre Brizola

    Olá, Nyx!

    Um conto interessante, que envereda pelo terror, sem nunca revelar o que está acontecendo de fato, já que o final, embora bastante descritivo, pode ter sua parcela interpretativa, já que podemos estar vendo através dos olhos de Felipe. Ou não.

    O que mais gostei nesse conto foi a forma como o ritmo foi se desenvolvendo. O enredo pega carona numa forma de contar histórias que Stranger Things mais ou menos popularizou nos últimos anos, e se desenrola em diálogos simples, mas bem construídos, descrições cuidadosas, mas sem exageros, e num arremate que, se não é o suprassumo do terror, também faz sua parte, dando equilíbrio ao que havia sido contado, até então.

    O tema é claro e muito bem enquadrado, e achei interessante como o terror não precisa ser explicado. E, de fato, não precisa. Ao contrário do que é natural, aqui, o sobrenatural, é o que vai além do que o ser humano pode encontrar explicação, e Felipe se vê às voltas exatamente com isso.

    Fiquei muito satisfeito. Acho que se trata de uma reunião de artifícios simples que criou algo bonito e funcional.

    É isso. Boa sorte no desafio!

  5. Raphael S. Pedro
    28 de março de 2025
    Avatar de Raphael S. Pedro

    Sinto que a história se perdeu um pouco, confesso que até a terceira parte esta conseguiu me prender bastante, percebe-se a facilidade do(a) autor(a) com a escrita.

             Na minha humilde opinião, história flertou com suspense, thriller, fantasia, mas se tratando de um desafio sobre terror, faltou aquele elemento “medo”.

             Gostei do poema apresentado e sobretudo da mensagem final, causando aquela dúvida no leitor, ponto positivo.          No mais, parabéns!

    • Marco Saraiva
      31 de março de 2025
      Avatar de Marco Saraiva

      Oi Raphael, obrigado pelo comentário!

      Não vejo literatura de terror como algo que tenha que inspirar medo. Até mesmo por que, nunca senti medo lendo nada que se diz terror. O medo geralmente vem de mídias audiovisuais, videogames, filmes, etc. Talvez até quadrinhos, dependendo da forma que são apresentados. Mas na literatura o terror acontece somente na mente do leitor, e é fácil para o leitor simplesmente criar defesas contra o tal do “medo” e nunca senti-lo.

      Para mim, na literatura, o terror envolve o desconhecido, o profano. Terror é brincar com o que não deve ser brincado, é olhar para algo de um ângulo errado. É contemplar questões fundamentais e transformá-las em encarnações físicas. Assim, quando leitor traduz a história para a sua imaginação, ela vem, talvez, na forma das coisas que ele mais teme.

      É claro que esta é a minha visão de terror. Mas, ao mesmo tempo, acho que reduzir histórias de terror a apenas “sentir medo” possa ser um pouco raso. Minha opinião!

      Grande abraço e obrigado pela leitura!

  6. Thiago Lopes
    27 de março de 2025
    Avatar de Thiago Lopes

    Esse conto, para mim, começou fraco e terminou bom. Na primeira parte, o pacto ficcional não surtiu efeito em mim, acho que pelo diálogo não muito convincente, pela ausência de individualização na fala e pela situação clicherizada na representação dos meninos.  

    Terminou bem, com imagens mais nítidas, mais metaforizadas, ganhando tensão. O lirismo deu bom efeito.

    A ideia de acrescentar erotismo é boa, mas os pequenos clichês sobre o assunto atrapalharam, na minha opinião. 

  7. Leo Jardim
    27 de março de 2025
    Avatar de Leo Jardim

    📜 TRAMA (⭐⭐⭐⭐▫): um grupo de pré-adolescentes estranha um apartamento abandonado. O vizinho mais próximo se relaciona com a figura feminina através da parede. Ele acaba indo se entregar pra “Noite” encarnada.

    É uma história interessante, com mistério, desenvolvimento e entrega. Fica tudo fechadinho, exceto pelos pais e amigos, que acabam sumindo da narrativa. Nada grave, porém.

    📝 TÉCNICA (⭐⭐⭐⭐▫): achei muito boa, com ótima condução da narrativa, leve de ler, bons diálogos e desenvolvimento.

    Pode ouvir o cão lamber as presas e mostrar os dentes (Pôde)

    🎯 TEMA (⭐▫): existe uma sugestão de terror na porta, nas luzes, no cachorro. Se esvai logo, porque acaba indo pra luxúria e menos pro terror. Não fiquei com medo do que ia acontecer ao garoto.

    💡 CRIATIVIDADE (⭐⭐▫): dentro da média do desafio.

    🎭 IMPACTO (⭐⭐⭐▫▫): apesar das qualidades do conto, não curti muito o final. Ficou aberto demais o que aconteceu com o menino: ele entrou pra Noite e o que mais? Acho que esperava mais e, por isso, acabei me frustrando um pouco. Apesar do final, gostei do que li até ele.

    🦶 CHUTE: Claudia

  8. bdomanoski
    23 de março de 2025
    Avatar de bdomanoski

    Algumas descrições do conto me trouxeram algum desconforto, sinal de que está extremamente bem escrito. Caso contrário, eu nem teria ligado. A narrativa, diálogos e descrições estão vívidos e naturais – bem realistas. Achei que o título e imagem do conto não combinaram tanto com a narrativa. A tal “Rainha” é revelada mais pro final e não é a protagonista. A história com adolescentes está casual demais para um título e imagem que pendem para a fantasia. Há sim, doses de terror no conto. Mas não sei se no todo se encaixaria bem no tema. Senti porém que fui um tanto quanto enrolada pelo desenrolar da história. O poema pareceu um amontoado de palavras bonitas, vazias de significado paupável, exatamente como a tal mulher, dama da noite, ou própria noite. Não fez muito sentido tudo que aconteceu e sua explicação final. Talvez nem era pra fazer sentido também, mas sou do time que prefere alguma lógica mesmo que subjacente. Enfim, a narrativa foi bacana, bem escrita, bem pontuada, mas quando somada a conclusão pareceu água e óleo, uma coisa meio nada a ver com a outra. Assim como o título e imagem são água e óleo com 90% do texto. Pareceu um crash de 2 ideias distintas, uma tentativa de casamento forçado de 2 mundos, o terror e a fantasia mágica e positiva. Quase um terror do bem.

    • Marco Saraiva
      31 de março de 2025
      Avatar de Marco Saraiva

      Terror do bem. Vou usar essa expressão daqui para frente. 🤣🤣

  9. Kelly Hatanaka
    21 de março de 2025
    Avatar de Kelly Hatanaka

    Tadinho do Felipe. De suas primeiras incursões onanísticas para vestido de demônia/deusa/fantasma, o conto vai mostrando sua crescente obcessão com o apartamento do lado. Muito bom!

  10. Jorge Santos
    20 de março de 2025
    Avatar de Jorge Santos

    Olá, Nyx. Terminei o seu texto sem perceber a ligação a qualquer um dos dois temas: não me fez rir e o terror foi muito relativo. É a história de um rapaz que descobre uma vizinha num apartamento supostamente abandonado. Quando ele entra no apartamento, parte para outra dimensão e desaparece. Foi este o entendimento que fiz do conto. Existe um excesso de sentido poético que dificulta a compreensão do texto sem ter qualquer mais-valia à qualidade do texto. O texto não apresenta problemas evidentes, mas tem falta de ritmo. No fundo, não há desenvolvimento e o final poderia ter sido mais impactante.

    Atualização: este é mais um daqueles contos cujo pseudónimo do autor ou autora acrescenta sentido ao texto. Segundo a wikipedia, Nyx é uma divindade grega, filha de Caos e que personifica a noite. Sendo assim Felipe é atraído pela noite, perdendo-se nela, numa analogia com o que acontece com muitos jovens por esse mundo fora, deslumbrados por começar a viver e perdendo-se pelo caminho, devido aos excessos com álcool e drogas.

  11. paulo damin
    20 de março de 2025
    Avatar de paulo damin

    É um conto sobre a iniciação sexual, a curiosidade, o inevitável que pode ser assustador. Vemos a mão que escorrega pra poesia, num jorro, e a obra chega na casa da vizinha, esse apartamento estranho, de outro, de noite, simbolizado pelo “808”: um vazio no meio de infinitos bem redondinhos. Então ouvimos a voz do lado, que é a da própria mãe, a do próprio pai, e é a voz dos amigos: tudo chama o filho, o Felipe, o “Filhipe”. Até que ele assume a seda e nos lê o poema que escreveu para o padre, para o sagrado.

    Talvez o terror aqui seja nos fazer pensar que, poxa vida, é difícil resolver a questão sexual quando somos adolescentes. Ainda bem que existe a poesia!

  12. rubem cabral
    20 de março de 2025
    Avatar de rubem cabral

    Olá, Nyx.

    Lindo conto: muito bem escrito, poético e com bons diálogos; bem fidedignos e naturais.

    É bacana essa coisa do “coming of age”, das descobertas do menino, do mistério do apartamento vazio, dos amigos, dos pais, da vizinha.

    A figura da mulher vestida de noite lembrou-me Perséfone.

    Enfim, sem muito a acrescentar. É um ótimo conto e não tenho sugestões ou senões.

    Parabéns!

  13. Fabiano Dexter
    19 de março de 2025
    Avatar de Fabiano Dexter

    Estou organizando os meus comentários conforme irei organizar as minhas notas, buscando levar para o autor a visão de um Leitor regular e assim tentar agregar algum valor. Assim a avaliação é dividida em História (O que achei da história como um todo, maior peso), Tema (o quanto o conto está aderente ao tema), Construção (Sou de exatas, então aqui vai a minha opinião geral sobre a leitura como um todo) e Impacto (o quanto o produto final me impactou)

    História (1,5)

    Eu gostei bastante da história. Personagens e ambiente muito bem construídos e um desenvolvimento natural que nem dá a impressão de que o conto é longo.

    Além disso temos uma amizade entre crianças de 13 anos plenamente factível, assim como os pais têm reações dentro do que é considerado normal e contribuem para o desenvolvimento da história.

    O maior poder do final do conto está justamente nesse desenvolvimento que é feito no tempo certo, nem rápido demais nem cansativo. Ele é lento, mas no tempo certo.

    E pensando de forma objetiva a história é bem pequena para um conto tão grande, o mérito maior aqui é como ela é contada, como é construída.

    Tema (1,0)

    O tema para mim aqui ficou complicado de julgar. É claro que não se trata de uma comédia, mas ele seria para mim algo mais próximo da Fantasia do que do Terror propriamente dito, ainda que tenhamos elementos claros como a porta ao fim do corredor ou vozes que apenas o protagonista escuta.

    Construção (1,5)

    O conto tem uma leitura leve e fluida, de modo que nem ao menos notamos o tempo passando. Ele cresce de forma simples e linear, sem grandes saltos e mesmo o excelente final não chega a ser algo como um grande plot twist, mas o que foi se construindo aos poucos durante todo o conto.

    Impacto (1,0)

    Eu gostei muito do conto. A história, os personagens, o ambiente, tudo é muito agradável, familiar. Acho que a dificuldade de analisar o conto como Terror é o fato de que, de alguma forma, me senti bem ao final por ter lido uma boa história.

    Parabéns!

    • Marco Saraiva
      31 de março de 2025
      Avatar de Marco Saraiva

      Obrigado pelo comentário bem completo, Fabiano!

      Pois é né, será que todo conto de terror tem que te fazer sentir-se mal? Hahahaha. Talvez a minha visão de terror seja algo muito diferente dos demais colegas. A maioria dos comentários aqui está criticando justamente a minha adequação ao tema. Para mim, sendo bem sincero, terror é isso aqui, mesmo. Eu não levo em consideração o terror mais antigo e simples: criaturas do mal atormentando famílias inocentes, etc. Talvez eu esteja na minha fase “lovecraftiana”.

      Obrigado pela leitura!

      • Fabiano Dexter
        31 de março de 2025
        Avatar de Fabiano Dexter

        Pois é, às vezes essa questão de tema atrapalha a leitura.

        Eu gostei do conto e da história, mas dentro de um Terror/Humor acabam sendo geradas expectativas que, não cumpridas, acabam impactando nossa experiência como leitor.

        Certeza que teria lido com outros olhos em uma temática livre, até porque a história e o enredo estão excelentes!

  14. Cyro Fernandes
    18 de março de 2025
    Avatar de Cyro Fernandes

    Conto criativo e com ótima técnica.

    Os três amigos. o livro na porta do apartamento abandonado e efeito das vozes conferem um ar misterioso,

    Achei que o poema e a metáfora do vestido enfraquecem um pouco a pegada do terror.

  15. Rodrigo Ortiz Vinholo
    16 de março de 2025
    Avatar de Rodrigo Ortiz Vinholo

    Gostei! Gostei muito da caracterização. A situação toda, as falas, os personagens, todos são muito interessantes e críveis. Podemos identificar falas e existências bem humanas. O caminho da história, em si, é um tanto previsível, mas não por isso desinteressante. O trabalho mitológico e místico para mim foi bem interessante, mas pensando puramente em questão de terror, achei que faltou um pouco: é uma excelente proposta de fantasia, mas o terror foi mais sutil.
    Algumas questões de formatação também me incomodaram um pouco, como os diálogos com aspas em vez de travessão. As falas dos personagens também se confundem facilmente por essa questão de acabamento, seria interessante ter marcações mais claras em determinados pontos.

    • Marco Saraiva
      31 de março de 2025
      Avatar de Marco Saraiva

      Ah sim, a famosa reclamação de que uso aspas e não travessão. 😁

      Obrigado pela leitura, Rodrigo!

  16. Thiago Amaral
    13 de março de 2025
    Avatar de Thiago Amaral

    É um conto bacana.

    Temos uma mistura de slice of life com spbrenatural, que me lembrou um pouco de um conto que eu mesmo escrevi no desafio porta (aqui também há uma, aliás).

    É uma história que se mistura com o poético, e por isso é difícil de falar sobre ela como algo concreto, com um sentido delimitado. O que pude interpretar, no entanto, é que é uma história daquelas que chamam de “coming of age” no estrangeiro, ou seja, onde acompanhamos o amaadurecimento de um personagem.

    Acompanhamos o amadurecimento do garoto, que começa a ouvir o sexual, o escondido, o oculto, por detrás de uma parede, e flerta cada vez mais com isso. A noite, aqui, do outro lado da barreira, pra mim representa principalmente o inconsciente, ou uma força invisível que está por trás de todas as coisas, inclusive nos guiando sem percebermos. O poema me sugere isso (depois o autor diz se viajei demais).

    As peripécias das crianças são divertidas, e me fez lembrar de Stranger Things. Uma aventura maior parecia estar sendo prometida, mas não foi o que se concretizou. Confesso que fiquei um pouco decepcionado, porque parecia estar indo por um caminho, e não foi. Mesmo assim, o resultado, mais poético que aventuresco, foi interessante.

    Só achei algumas coisas um pouco estranhas: os meninos desistiram do quarto e foram dormir. No momento em que Felipe ouve os sons de madrugada, ele não acorda os amigos? Ele queria tudo só pra ele? Então ele se masturba na cama, ejacula nela, deita em cima e dorme, no meio dos amigos? Um pouco estranho. Mas nada que um adolescente já não tenha feito, não é mesmo?

    Achei mais slice of life / poético que comédia / terror, mas tem pitadas suficientes dos dois últimos para eu não considerar fora do tema.

    Concluindo: um conto que conseguiu se destacar por tentar algo diferente. Não foi surpreendente nem trouxe nada super emocionante, mas a viagem foi agradável.

    Boa sorte no desafio.

    • Marco Saraiva
      31 de março de 2025
      Avatar de Marco Saraiva

      Oi Thiago. Não sei se descrevi bem, mas Felipe estava sozinho na cama, os amigos estavam no chão. E ele vai dormir depois do ato por que estava assustado demais para descobrir o que tinha feito, e estava escuro, logo não viu nenhuma das “evidências” do que havia feito.

      A maioria das pessoas não achou o meu conto um conto de terror. Você não é o único.

      Obrigado pela leitura!

  17. José Leonardo
    13 de março de 2025
    Avatar de José Leonardo

    Olá, Nyx.

    Tendo em vista as minhas limitações técnicas para apreciar melhor o seu conto e de modo a tentar esquentar meus comentários que acho um tanto insossos, decidi convocar, por meio de um ritual de fervura de miojo de tomate com leite coalhado e digitação de Zerinho-um no MS-DOS, a FRIACA® (Falsa Ruiva Inteligente Auxiliar para Comentários e Avaliações) para me ajudar nessa bela empreitada e proporcionar a melhor avaliação possível acerca do seu texto (dentro da minha perspectiva de leitor).

    FRIACA: Do que se trata o conto?

    R.: Em meio ao tédio do cotidiano, Felipe se assusta e se encanta com uma voz vinda de dentro de um apartamento supostamente inabitado. Por fim, depara-se com a Rainha Vestida de Estrelas.

    FRIACA: Como você vê a narração, o estilo, a estrutura, a técnica?

    R.: É interessante, pois evoca aquela ânsia juvenil de tentar descobrir o desconhecido sob uma mentalidade ainda não totalmente formada. A forma como o(a) autor(a) dispôs o interesse e a desconfiança do grupo de garotos (principalmente dos dois amigos perante Felipe) deu até certa nostalgia. Os diálogos estão bem escritos – e aqui é no sentido de que não apresentam os clichês das palavras entre pais e filhos e entre amigos. 

    A técnica parece concentrar a ação no ponto de vista e nos anseios de Felipe, que de alguma forma tentava quebrar o marasmo do seu dia-a-dia com um mistério que precisa ser desvendado (para ele, não necessariamente para os demais componentes de seu círculo de convivência). Nesse sentido, também, creio que o(a) autor(a) se saiu muito bem.

    FRIACA: E quanto à adequação ao tema, à criatividade e ao impacto?

    R.: Parcialmente adequado. Os primeiros indícios de horror cósmico a meu ver acabam se esvaindo por conta da cena final do conto. Pareceu-me mais um garoto descobrindo a sexualidade sob a regência da Rainha Vestida de Estrelas (uma alegoria para a noite). Ainda assim, o simples fechar de porta com a folha do poema voando pode suscitar alguma maldade a acontecer com o menino ou, então, digamos, a plenitude de sua descoberta de adolescente.

    O que pode corroborar isso é o poema que Felipe escreveu. Seria algo que lhe fora ditado pelas forças exteriores ou apenas o reflexo de sua alma ansiosa por algo que vai além de seu cotidiano na escola católica e na família (que não entenderia seus motivos)? Isso para mim tanto reforça para um lado de mote cósmico quanto para o de sexualidade descoberta.

    FRIACA: Indo um pouco mais a fundo nesse particular e apesar do aspecto subjetivo do que a história pode causar no leitor, é um conto para dar risadas ou aterrorizar-se?

    R.: Nem uma coisa, nem outra, creio. Ainda penso que o conto trata da descoberta do prazer sexual. Se o elemento subsidiário envolve o horror cósmico, tanto melhor, embora não me tenha soado muito claro.

    FRIACA: Qual sua posição final sobre esse conto, inclusive sobre a nota?

    R.: É um bom conto, Nyx, e exala ternura de certo modo. Você escreve muito bem e sabe focar nas necessidades de seu protagonista (num mundo de interesses dispersos e imediatos, vejo como uma grande qualidade de escritor proporcionar ao leitor as sensações e pensamentos do protagonista com essa força). E ainda que eu não tenha identificado tema acentuado do desafio neste conto, ele tem seus (vários) méritos. Nota: 3,7.

    Parabéns pela estória e boa sorte neste desafio.

  18. toniluismc
    13 de março de 2025
    Avatar de toniluismc

    Conto excepcional, uma obra de arte literária que combina beleza, mistério e horror de forma magistral. A escrita é requintada, a história é original e os personagens são cativantes.

    O conto é rico em simbolismo e alegoria, e pode ser lido em vários níveis.É difícil encontrar pontos fracos neste conto. Talvez, para alguns leitores, o ritmo lento e a falta de respostas definitivas possam ser frustrantes, mas esses elementos são, na verdade, parte integrante do estilo e do propósito da história. Uma história sobre entidades cósmicas e mistérios insondáveis não deve se render a respostas fáceis.

    Parabéns pelo belo texto!

  19. Afonso Luiz Pereira
    12 de março de 2025
    Avatar de Afonso Luiz Pereira

    Outro conto em que se observa o domínio muito bom da escrita do autor(a), que consegue criar uma narrativa envolvente e imersiva. Um dos destaques do texto é a naturalidade dos diálogos entre os meninos, que soam autênticos, que ajudam a estabelecer o tom realista da história. A escolha de uma linguagem acessível, sem rebuscamento excessivo, torna a leitura muita fluida e cativante. Gostei demais.

    Felipe, um garoto de treze anos entediado com sua rotina escolar, começa a ouvir sons misteriosos vindos do apartamento 808, há anos abandonado. Uma voz feminina o chama todas as noites, sussurrando seu nome e despertando nele sensações e desejos que ele mal compreende. A atração por esse mistério cresce até que, finalmente, ele atravessa o limite do proibido e se entrega ao desconhecido. 

    O conto trabalha de forma instigante o mistério e a atração pelo desconhecido, entrelaçando o despertar da sexualidade na puberdade com um horror cósmico sutil e crescente. A voz feminina, que sussurra pela parede representa tanto a sedução quanto o perigo. Achei muito interessante a maneira como eles encaram o assunto em forma de brincadeira, o jeito que o autor(a) passou isso. A cena da masturbação, por exemplo, foi inserida com sensibilidade, sem soar apelativa ou gratuita. Em vez de um momento de puro prazer, ela é retratada com desconforto e estranheza, reforçando o tom inquietante da narrativa.

    A cena final, em que ele finalmente cruza a porta do apartamento 808, é impactante e aberta a múltiplas interpretações – ele foi consumido por algo além da compreensão humana, perdeu-se para um desejo proibido ou simplesmente transcendeu a realidade? 

    O poema dentro do conto tem um tom meio lovecraftiano, falando de algo muito antigo, além da compreensão humana. Ele descreve a Noite como um ser que existe antes e depois do tempo, que aguarda pacientemente a destruição de tudo. Fico come este final por gostar de Lovecraft.

    A propósito, a escolha da imagem foi muito feliz. Parabéns.

  20. Leandro Vasconcelos
    11 de março de 2025
    Avatar de Leandro Vasconcelos

    Opa! Um conto muito interessante e um tanto poético. O início já dá as caras do mistério, e o desenvolvimento acompanha. Somos fisgados pelo poema enigmático e depois conduzidos pela linha do anzol do menino Felipe. A narrativa segue com um forte apelo ao efeito da “caverna secreta”, aqui traduzido na forma do apartamento oitocentos e oito. Por isso, o interesse do leitor se mantém alto ao longo de todo o texto, favorecido pela leitura bastante fluida. O final desenlaça toda a trama e é bem impactante, embora aberto.

    Pessoalmente deveras me atraíram as descrições das cenas, muito vívidas. E o autor fê-las de forma direta, sem muitos floreios. Simplicidade e beleza: algo que me atrai. Outro ponto positivo é a qualidade dos diálogos, os quais emulam satisfatoriamente a realidade dos garotos (personagens bem construídos) e emprestam fidedignidade à narrativa. As inconstâncias de Felipe, tentado entender, cada vez mais, o mistério do apartamento vizinho, são assaz inteligentes e, de novo, constituem um elemento de realismo muito grande. Ou seja, mesmo no universo fantástico construído, tudo pareceu muito crível e tangível.

    Há quem critique a forma empregada nos diálogos, delimitados por aspas, pois isto é mais comum na língua inglesa, e não na portuguesa. Sinceramente: não há problema nenhum! Antes se traduz em marca da ousadia do autor, que prefere subverter regras e formalismos. Saramago, por exemplo, sequer delimita o discurso direto em seus textos; então, alinhemo-nos ao grande mestre.

    A mensagem final é mui bela. Trata da inevitabilidade da morte? Do tempo? O significado geral ficou à hermenêutica de cada leitor. Interpretei como um chamado à maturidade física, psicológica, espiritual de Felipe, que aceita (veste) o destino de tudo e de todos: o da morte, daquela escuridão que trata do não-ser. Quanto mais aceitarmos isso, melhor. O que significa o cachorro de três cabeças? O fato de o menino ter escrito aquele poema? Talvez não tenha captado bem o simbolismo de tudo. Talvez não haja nenhum. Talvez alguém com mais intelecto saiba ou faça melhor. Não sei. Mas é o tipo de texto que nos instiga, que nos impele a bons momentos de meditação. Por isso, parabenizo o autor e agradeço-o pela leitura proveitosa!

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Publicado às 9 de março de 2025 por em Liga 2025 - 1A, Liga 2025 - Rodada 1 e marcado .