EntreContos

Detox Literário.

A Procissão (Pedro Paulo)

O serviço não principiou diferente dos demais. Três homens desceram da caminhonete. Dois deles com suas próprias pernas, mas o terceiro foi descido, embalado em uma lona encardida que permitia identificar apenas os contornos do cadáver. Ezequiel já os aguardava. Como orientado, vieram pelo outro lado do cemitério, onde costumava conduzir aquele tipo de trabalho. A cova já havia sido cavada, apenas um buraco fundo na terra, sem qualquer marcação. Tinha uma boa distância entre aquele ponto e as fileiras de lápides que guardavam os mortos da cidadezinha de Aratu. Naquele canto remoto do cemitério, Ezequiel havia feito vários buracos como aquele, omitindo os azarados que ninguém queria encontrados.  Apontou para o buraco com o queixo e os sujeitos atiraram o corpo lá. Um deles lhe passou um envelope, Ezequiel deu uma espiada dentro e assentiu. Assim, sem palavras, trataram e os homens foram embora. Em uma hora, o buraco estava preenchido. Banhou-se e dormiu. Na manhã seguinte, o chão em torno do buraco preenchido na noite anterior pulsava.

De início, pensou que fosse impressão sua, sentiu primeiro sob os pés, como uma vibração. Agachado, topou a terra e constatou que, de fato, ela avançava e recuava sob os seus dedos. Colocou-se de pé num salto. Já estava acostumado ao cheiro do cemitério, então notou de imediato o novo odor que circulava naquele ponto. Era um cheiro ferroso. O chão, geralmente mais firme, parecia ceder um pouco sob os seus pés. Olhando-o sob o sol matinal, percebeu como o solo adquirira uma tez avermelhada. Roçou os dedos com os quais tocara a terra e os sentiu úmidos. Cheirou-os e distinguiu ainda mais intenso aquele aroma metálico. Sangue. Ezequiel recuou aos tropeços. O chão pulsava, meio molhado. Com um toque mais demorado, descobriu um ritmo naquilo. O mesmo de um coração.

Não podia entrar em contato com os sujeitos que desovaram aquela carcaça. Não era uma compra, não havia devolução para aquele tipo de encomenda. Pela primeira vez em todas as ocasiões que desempenhara aquela função clandestina, perguntou-se: quem é esse peste? A resposta o colocou sentado, as pernas fracas demais para sustentá-lo em pé. As palavras vinham de baixo. Os vários metros de terra que o apartavam da superfície abafavam a voz, como se ao pronunciar o próprio nome fosse preciso forçá-lo pelo meio da terra, cada sílaba cavando um punhado da cova até alcançar e amaldiçoar a superfície.

— PE-DRO… PI-E… DADE. PEDRO PIEDADE!

Aquele brado estremeceu o solo sob o corpo encolhido do coveiro, que ouviu as gralhas crocitarem em resposta. Parte do percurso que Ezequiel fez para se afastar daquele buraco amaldiçoado foi ainda no chão, arrastando-se para longe. O restante fez em pé e correndo. Não entrou em casa. Seguiu direto para a sua motinha, montou e arrancou pela estradinha que levava à entrada do cemitério, do outro lado daquele terreno funesto.

Enquanto saía, observou que as gralhas rodopiavam em uma espiral ascendente no ponto em que enterrara o famigerado. Pensou ter ouvido no corvejar delas a repetição daquele nome. Ezequiel piscou várias vezes para espantar as lágrimas dos olhos.

A pequena e pacífica Aratu estava acostumada a ver o coveiro apenas em dias de feira e, em seu caráter prosaico, a imagem de Ezequiel balançando em cima da sua bis 125 coberto de lama chamou a atenção de todos. Então, quando parou no boteco, uma pequena multidão se reunia para saber o que havia ocorrido. De início, não respondeu a ninguém, dirigiu-se somente ao balconista, um senhor que atendera gerações de alcóolicos, alguns dos quais acompanhavam o tumulto com olhares meio interessados, dividindo a atenção entre o caso e seu copinho de cerveja. Ezequiel pediu pinga.

Virou duas doses. Jogava os ombros para trás algumas vezes, querendo relaxar os músculos. Passou a mão no rosto para enxugar o suor, mas era inútil, transpirava mais do que secava. Assim, com a fronte reluzindo de suor, finalmente respondeu, sem se dirigir a alguém específico.

— Me passaram um corpo. Enterrei sem perguntar. Era o do acabrunhado… Pedro Piedade! — Benzeu-se. — Está de volta. Arranjou sua maneira de contornar os proibitivos que lançaram sobre ele e voltou pra cidade que nasceu! Vai cumprir a sua promessa!

Os senhores alcóolatras se viraram de repente, postos de pé em um pulo tão equilibrado quanto a bebedeira permitia, e se juntaram ao grupo que cercava o coveiro. Daqueles que já se assomavam sobre o coitado, apenas os mais velhos reagiram, enquanto os mais novos se voltavam a eles, inquirindo. Um dos recém-levantados gaguejou um pedido para que repetisse. Ezequiel foi mais breve.

— Pedro Piedade está entre nós.

Sinalizou ao balconista, mas este já vinha ao seu encontro segurando a garrafa e um copinho idêntico ao seu. Encheu tanto o de Ezequiel como aquele que trouxera consigo. Virou a dose e Ezequiel o imitou. Não deixou aquela mesa, assim como o coveiro também não. Não houve novos clientes naquele dia. Os contumazes, que tinham se levantado para escutar de perto a tragédia que Ezequiel trouxera consigo, não se tornaram a sentar, pegaram seus chapéus, fizeram uma reverência e foram embora, tão ordenados quanto uma marcha fúnebre.

Conforme a notícia se espalhava, outros aratuenses mais velhos saíam até a esquina da praça central onde ficava o boteco, buscando confirmar os agouros que se discutiam entre as ruelas. Nenhum dos curiosos falava com Ezequiel. Miravam-no ali, a dividir doses e silêncio com o dono do boteco, e retornavam. Ao anoitecer, o balconista se levantou, trôpego, e deu a chave do boteco para o outro homem, dizendo que não retornaria e que podia dormir ali. O coveiro agradeceu. Uma última pessoa visitou o boteco antes que o fechasse, Ezequiel tinha a garrafa de cachaça vazia em uma das mãos. Reconheceu a mulher de imediato.

Maria Piedade se aproximava, coxeando, o braço destroçado recolhido junto ao corpo, sustentando uma mão torcida como uma garra. O maxilar inferior também não fechava bem com o restante da cabeça, dando a impressão que entortava a boca. A bebida não enevoara Ezequiel o bastante para que não sentisse pena. O problema é que não conseguia esconder. Queria chorar. Maria Piedade se aproximou sem notar ou sem dar importância às emoções do coveiro. Olhou-o fixamente com seu único olho que ainda enxergava.

— É verdade? Meu filho…

—Pedro Piedade foi enterrado ontem e grita pela libertação.

Ela sorriu. Era uma visão tenebrosa. Deu-lhe as costas e capengou em pequenos saltinhos no fim dos quais sempre aparentava que cairia. Ezequiel olhou com compaixão para aquela mulher que havia sido odiada e tripudiada por todos daquela cidade. Mas não mais do que pelo filho dela. Pedro Piedade havia feito aquilo com a própria mãe. Sua primeira malvadeza notória, das tantas com as quais espalharia a sua fama pela região.

Três noites tinham se passado desde a debandada de Ezequiel. O cemitério já estava todo mudado. Fileiras de formigas tinham escavado metade do terreno, tão numerosas que andavam umas por cima das outras, tecendo veios escuros na terra vermelha daquele solo profanado. Túmulos se revelavam meio escavados, enquanto todo o lugar se convertia em um enorme formigueiro. E então cemitério inteiro acendeu. Chamas azuladas esvoaçaram acima das lápides, forjando sobre o terreno uma coroa de fogo fátuo, algo que agora tanto os mais novos como os mais velhos moradores de Aratu reconheceriam como apropriado, a frágua de uma coroa de fogo cadavérico àquele que conquistara para si, pelo pagamento de mil vilanias, a alcunha de Rei dos Ermos. Seu corpo, sugado de sua imponência física, da carne e do sangue, ressecado sob uma pele cinza. Ele estava de pé, emergido da gruta de terra ensanguentada que se formara em torno de sua cova. Seu corpo seco deu o primeiro passo após a morte. Pedro Piedade, rejeitado por céu e inferno, apenas começava a andar pela primeira vez, mais uma vez.

Havia décadas que não era capaz de pôr um bom jantar sobre a mesa. Maria Piedade não podia ir à feira sem ouvir os xingamentos e o risco de um empurrão ou mesmo um safanão em seu corpo debilitado lhe mantinha em horários estranhos de mercado. Costumava ser a última a passar pelos quiosques, só conseguia as sobras. E desconfiava que em alguns casos eram o que escolhiam te dar. Décadas antes, depois de aprontar bandidagens na própria Aratu, seu filho havia a espancado. No limiar da inconsciência, não contou quantas vezes ele fechou a porta em seu braço direito. Mas nunca esqueceu que foi no terceiro pisão em seu rosto que desmaiou de vez. Quando o delegado o levou, Maria Piedade tinha recobrado a consciência. Só não suplicou que deixassem seu menino porque o queixo dela pendia sobre o seu ombro, mal segurado por uma tira de carne e cartilagem.

Nunca perdoou a cidade por tirá-lo de seus cuidados. Seu único filhinho. O Pedrinho Precioso, como costumava chamá-lo. Quando ele fugiu da cadeia, uma bruxa local rogou-lhe uma praga. A maldição ditava que seu filho só retornaria à cidade morto. A primeira coisa que Maria fez quando conseguiu andar foi achar a megera e agarrá-la pelos cabelos. Todos se surpreenderam, menos a própria. A bruxa foi também quem em nenhum momento demonstrou compaixão por Maria. Quando as separaram, ela cuspiu-lhe:

— Quem dá à luz o diabo já tem as trevas dentro de si.

Anos depois, ao passo que Pedrinho Precioso ganhava sua fama como o Impetuoso, o Rei dos Ermos, a relação entre a cidade e ela foi mudando… e assim ela ia tomando a culpa pelas baixezas que seu filhote aprontava afora. Talvez não fosse assim se Maria não se orgulhasse delas, coletando os recortes de jornais que retratavam os horrores levados por Pedro e seu bando. Quando era pequeno, ele dizia, cheio de orgulho: “vou ser importante, mamãe, você vai ver, vou te dar um orgulho danado!” Chorava se lembrando disso, culpando-se por não ter feito entender, embora dissesse a ele com firmeza, que já a fazia a mãe mais feliz do mundo apenas em tê-lo. Mas Pedrinho era teimoso. Em sua persistência, saiu a fazer seu nome tão grande e pesaroso que bloqueava o céu.

Naquela noite, Maria Piedade sentia que o crepúsculo instalava a sua escuridão não com a usual dormência do sol, mas emprestando das sombras do nome do seu menino. Estava certa. Nunca havia anoitecido tão cedo na agreste Aratu. Seu filho querido, Pedro Piedade, seu Pedrinho, estava à porta. As décadas de desgaste tinham rendido a casa, que já não era lá muito consistente, a uma construção de remedos. Preenchendo o umbral gasto, viu a silhueta desnutrida de seu menino. Um homem. Defunto.

Juntou as mãos, tentando disfarçar os tremores. A hesitação embargava a sua voz.

— Meu amor?

As palavras dele, entretanto, eram cuspidas. Cheias de veneno.

— Um bom filho à casa torna.

— Vá… vá me desculpando, viu? Eu não tive tempo de fazer feira…

Mamão, banana, uvas, bolo de leite, a garrafa térmica cheia de café e uma jarra de suco de goiaba. Essas e outras iguarias preenchiam a mesa de uma ponta a outra. Como só havia sido antes de sua partida. A casa estava tão limpa como uma ruína poderia estar. Ele lembrava com desgosto do seu lar e agora sentia nojo em ver aquela casa acabada… aquela mãe acabada. Com uma braçada mandou o jantar todo pro chão. De outro golpe, a mesa voou para o lado oposto. Maria Piedade não saiu do lugar, recolhendo sua cabeça já meio virada para o lado entre os ombros magros. O filho se aproximou com um sorriso debochado.

— Mainha achou que ia me receber com uma miséria dessas? Achou que eu ia esquecer da infância medíocre que me deu? Da miséria? Da sem-vergonhice de ser uma desquitada e de me criar sem pai?

Seu terceiro golpe foi reto e direto no meio do rosto de Maria Piedade, fazendo a cabeça dela pendular antes do corpo despencar. Caída, aturdida pela renovada sequência de pisões e cascudos, tudo o que Maria Piedade pôde pronunciar por quanto que lhe sobravam dentes e consciência, foi que o filho a perdoasse. Ardeu nas chamas azuladas que seu menino cuspiu, engolfando a casa em seu desprezo. Chamou por ele, mesmo da angústia da carbonização, do sufoco da fumaça invadindo seus pulmões já meio colapsados pelas costelas que os perfuravam. Seu primeiro e último pensamento eram sempre o filho.

A ressurreição de Pedro Piedade afugentou os poucos que sobraram na cidade. A política havia sido o seu primeiro sonho de menino, ser tão grande quanto um prefeito. Tornara-se Rei. E, agora Rei Renascido, foi para a prefeitura que se dirigiu. Ainda encontrou o prefeito, apenas um garoto. Pregou seus pés e joelhos à cadeira da secretaria e o nomeou seu escrivão. O prefeito recém-destituído, todo chorado, cagado e mijado, secretariaria para ele e escreveria os seus decretos. Sua primeira ordem foi a ressurreição de seu bando.

Tinham sido emboscados meses antes e Pedro Piedade havia sido o único sobrevivente. Por pouco. Carregou suas feridas pestilentas até o mais próximo de Aratu que pôde, encomendando o próprio corpo para a cidade. Seus parceiros não tiveram tanta sorte, mortos a maioria, as cabeças cortadas e expostas na cidade mais próxima, como sabia que ainda seguiam. Pois bem. Depois do seu decreto, os próprios cadáveres se levantaram da clareira onde foram executados e trataram de buscar suas cabeças. Ninguém os parou. A essa altura, as gralhas sobrevoavam as cidades e cantavam o seu nome, avisando que retornava para o seu Reino Derradeiro, com a capital em sua cidade de nascença. Os sinos das igrejas soavam em resposta. Os cefalóforos, seu bando decapitado, eram os seus apóstolos.

O molecote ex-prefeito chorava que não sentia as pernas e a constatação fez Pedro rir.

— É melhor que não sinta, abestalhado! Estão acabadas em vermes, um negrume só. Vamos, escreva! Eu tenho o meu decreto principal. O meu manifesto, se quiser florear.

A insinuação de mais choramingo se acabou quando ameaçou arrancar sua língua. A ameaça não foi por aviso verbal. Pedro Piedade retirou seus lábios à faca, deixando os dentes expostos e tingidos do sangue da mutilação, como se o garoto estivesse prestes a gritar. Mas não emitia som algum, apenas tremia sentadinho em sua cadeira de angústias.

— Esta é a minha ordem, assim como direi, sem tirar e nem pôr! Todos os homens de verdade escutem o meu chamado, daqui de Aratu, nova capital da Nova Era! Varei os quatro cantos desses interiores e onde pisei, mandei! Marquei a ferro as mulheres desviadas, corrigi à paulada os homens aveadados, casei os amigados sob a benção do meu fuzil, queimei as paróquias dos padres mercenários, pus a terra sem uso à disposição dos despossuídos e bati de frente com o coronelato covarde! Se tem alguma coisa que aprendi nesse tempo de viagem é que neste mundo o que se tem é o que se pega. Este é o meu comando. Meu bando renascido caminha entre vocês. Sigam. Sigam e peguem o que é de vocês! Façam verdadeiras colunas e se reúnam aqui em Aratu, vocês têm a minha benção! Vocês merecem mais do que ninguém. Faça do que estiver ao seu alcance a sua arma e marche! Aratu é a sua capital e eu sou o seu rei. Será bem-vindo. E daqui levaremos Aratu adiante!

O manifesto alcançou todos os ermos por onde Pedro Piedade havia passado. Os homens ressuscitados do seu bando decapitado tinham se espalhado, chegando às praças centrais das principais cidades da região, levantando suas cabeças soltas e nauseabundas o mais alto que podiam. Ao mesmo tempo em que Pedro dava a sua ordem, as cabeças repetiam as palavras, copiando também a voz do rei, estremecendo todos e acendendo aquele canto obscuro dos corações alheios no qual se crê, ainda que eventualmente se esquecendo, que a violência é o caminho e o fim da maioria das gentes pobres desse mundo.

O anúncio de Pedro Piedade logo se converteu em premonição. Primeiro das maiores cidades e depois das adjacentes, fileiras de homens ensandecidos avançavam tomando o que precisavam, fosse mantimento ou fosse gente, arrasando a terra, atropelando as autoridades e subvertendo tudo o que era digno. As colunas de homem fiavam o interior da terra como linhas de um novelo de devassidão e atrocidade.  Mulheres marcadas como gado eram levadas em fileira, enquadradas nas cada vez mais extensas famílias dos capitães de coluna. À frente de cada agrupamento, ia um dos cefalóforos, apóstolos do Rei Renascido, Pedro Piedade. Alguns homens armados os guardavam e serviam, justificando sua posição por conversarem com as cabeças, interpretando seus desígnios e comandos: quase sempre saques, violações e mortandade. De cada canto, a procissão seguia para o seu encontro terrível em Aratu, onde não se podia prever que sacrilégio ocorreria.

Na capital desse reino maldito, no agora Palácio Real, Pedro Piedade foi até o seu quarto. Um corpo enegrecido manchava os lençóis de seda branca com pus e lágrimas. Se houvesse forma de reconhecê-la, seria pela sua anatomia prejudicada. O olho que sobrevivera à primeira provação não havia resistido àquela noite. Cega, Maria Piedade ainda conseguia distinguir quando dividia o recinto com seu filho. Ergueu uma das mãos, na qual dois dedos carbonizados pendiam quebrados. Ele se sentou ao seu lado, pegando aquela mão com delicadeza.

— Eu disse, mamãe… eu disse que me tornaria grande. Agora todos virão para cá. Prestar juramento a mim, ao nosso nome.

E desde o seu renascimento, desde a sua debandada, nunca soara tanto como o jovem sonhador que tinha sido, antes de aceitar a sua sina de ser o pior dos homens. Por debaixo de sua máscara de queimaduras e pancadas, Maria Piedade sorriu para ele.

— Eu sempre soube, meu filho.

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39 comentários em “A Procissão (Pedro Paulo)

  1. Pingback: Pedro Paulo | EntreContos

  2. Bia Machado
    29 de março de 2025
    Avatar de Bia Machado

    Enredo/Plot: 1/1 – Muito bom, muito original, do começo ao final. Surpreendente.

    Criatividade: 1/1 – Uma criatividade tremenda, não sei nem dizer, só sentir.

    Fluidez narrativa: 1/1 – Muito boa, li de uma vez só e imaginei cena a cena. Outro conto que daria um filme dos melhores.

    Gramática: 1/1 – Pra mim, não identifiquei nada incorreto.

    Gosto/Emoção: 1/1 – Eu amei, simplesmente. Escrevi pouco porque se não tivesse feito critérios para avaliar os contos, bastariam poucas linhas para dizer que pra mim foi o melhor conto que li da série A. Parabéns!

    • Pedro Paulo
      6 de abril de 2025
      Avatar de Pedro Paulo

      Oi, Bia!

      Muito obrigado por essa exaltação. Abraços!

  3. Fabio D'Oliveira
    29 de março de 2025
    Avatar de Fabio D'Oliveira

    Buenas, Givago!

    Esse conto me deixou dividido. Eu gostei MUITO do começo do texto. Na verdade, estava adorando até a parte em que Pedro Piedade visita a mãe e queima toda sua infância junto com ela. No entanto, porém, entretanto… A história desanda, a partir daí. Pra mim, claro.

    O conto tinha ares sombrios, quase íntimos, um quê de mistério. E, depois da cena da prefeitura e do renascimento do bando de Pedro Piedade, tornou-se algo absurdo, gigante, um tanto megalomaníaco, contrastando demais com o início sutil e elegante. Rei… Não precisava disso tudo.

    Às vezes, a simplicidade é o melhor caminho.

    Não é um conto ruim, Givago. Não mesmo, mas achei inconstante, com uma trama levemente perdida.

    • Pedro Paulo
      6 de abril de 2025
      Avatar de Pedro Paulo

      Oi, Fábio!

      A primeira versão do conto mantinha o enredo nos limites da cidade, transmitido pelas reações dos seus moradores ao retorno de Pedro, que teria um grande impacto, mas uma presença efetiva menor… mas eu não resisti. Megalomaníaco é mesmo uma palavra justa.

      Deu certo, ainda assim.

      Obrigado pelo comentário!

  4. Andre Brizola
    29 de março de 2025
    Avatar de Andre Brizola

    Olá, Givago!

    Seu conto envereda profundamente pelo gênero do terror, sobretudo nos primeiros parágrafos. E acho que ele funcionou muito bem enquanto esteve ali, classificado como terror, na antecipação, deixando o leitor em suspense com relação ao destino do coveiro, do cemitério, do cadáver, e da cidade de Aratu. Quando o horror se instala, ou seja, quando a antecipação acaba e estamos diante do que deveria ser realmente assustador, acho que o conto perde força. Mas vamos por partes.

    Opto por dividir o conto entre a parte terror e a parte horror, pois a parte terror é muito interessante e constrói um cenário muito convidativo à leitura. O coveiro Ezequiel, que me pareceu ser o protagonista da história, era carismático o suficiente para conduzir não só esses primeiros parágrafos e foi triste abandoná-lo no meio do enredo. A sensação de não saber direito o que estava acontecendo e ir recebendo detalhes aos pouquinhos estava muito legal.

    Mas aí o conto muda. O horror toma conta, pois aí já sabemos que o ser maligno instaurado na ressurreição de Pedro Piedade passa a ser figura central na narrativa, e aqueles pequenos detalhes de informação são substituídos por cenas cinematográficas de zumbis apocalípticos, com algumas cenas de extrema violência e altas doses de influência das histórias de Lampião e seu bando famigerado. E isso, pra mim, fez o conto ficar muito menos interessante.

    Outro aspecto que me fez ficar decepcionado com o rumo tomado é que Pedro Piedade simplesmente acontece, como uma força da natureza. É como um conto sobre um terremoto, ou um tsunami, narrado por alguém que não nos dá as explicações científicas, somente alguns fatos horríveis sobre os desastres. Não há explicação, só acontecimento sobre acontecimento, e enredos assim me parecem formas simples de envelopar um cenário forçosamente horroroso.

    Devo salientar que a forma com que o conto foi construído, no quesito gramatical, foi exemplar, fugindo do coloquial e montando um cenário com palavras que, na primeira parte do conto, funcionou absurdamente bem. Na segunda parte, sim, foi adequada, mas, como o conto, de maneira geral, acabou perdendo força. Mas algumas construções frasais ficaram realmente muito bonitas.

    Não é um conto ruim, de forma alguma. Mas eu sinto que ele se aproxima mais do horror/terror pela sua “aparência” do que pelo seu enredo.

    É isso. Boa sorte no desafio!

    • Pedro Paulo
      6 de abril de 2025
      Avatar de Pedro Paulo

      Oi, André!

      Seu comentário é de uma leitura muito atenta e técnica, acho que te indiquei como um dos comentaristas de destaque, tarefa difícil já que fui beneficiado com impressões tão bem construídas. De fato, a transição da primeira parte para segunda parte muda o foco do texto e acaba sendo um pouco brusca, aspecto notado pelos demais leitores, mas que em seu comentário é analisado em pormenores. Senti que ter tirado a história do chão e seus personagem para investigá-la do alto, abrangendo as repercussões de Pedro Piedade na região foi algo que te incomodou, mas eu não mudaria. Foi mais divertido escrever assim. Acho que o mal maior é ter em mãos uma história com potencial para ser estendida, na qual eu poderia, por exemplo, investigar as origens da ressuscitação de Piedade e dar mais espaço a Ezequiel… entretanto, sob a pressão do limite de palavras preferi seguir a rota que escrevi.

      Muito obrigado pelo comentário! Desde o meu primeiro desafio de terror aqui, suas impressões me ajudam.

  5. Raphael S. Pedro
    28 de março de 2025
    Avatar de Raphael S. Pedro

    O(a) autor(a) soube bem prender o leitor, trouxe uma escrita experiente, com expressões que fazem jus ao tema abordado. Aqui podemos dizer que realmente temos um conto de terror.

    Quanto ao tempo/lugar do conto, acredito que ficou um pouco confuso, visto que parece ter acontecido em um passado distante, contudo, é dito que o personagem pilota uma “biz125”. Se realmente no passado, poderia ter sido trocada por um “burrinho” ou outro transporte mais arcaico, que tal? Caso seja no presente, a associação de uma cidade do agreste ao atraso (ainda que sutilmente) soa caricata.

    No mais, gostei do conto, visto que soube prender e foi criativo.

    Parabéns!

    • Pedro Paulo
      6 de abril de 2025
      Avatar de Pedro Paulo

      Oi, Raphael!

      Você foi o primeiro a mencionar a biz e, de fato, eu a incluí no meu primeiro esboço, acabei esquecendo de revisitar o detalhe. Mas acho que eu não o mudaria. Não situei a história em um tempo específico justamente para não ter que cristalizar as referências que faria.

      Obrigado pelo comentário!

  6. Thiago Lopes
    27 de março de 2025
    Avatar de Thiago Lopes

    Acho que o texto carece de cortes, para manter tensão e ritmo, além de uma limpeza para extirpar as imagens que lembram filmes western, que para mim estão batidas. Eu cortaria adjetivos e advérbios, não porque sejam vilões dos textos (a verdade é que não são), mas porque, nesse conto, eles realmente estão tirando a força das imagens. Mas achei surpreendente a força dessa escrita, graças a qual a história ficou forte. Com umas cinzeladas, o texto iria agradar mais e impactar mais.

    • Pedro Paulo
      6 de abril de 2025
      Avatar de Pedro Paulo

      Oi, Thiago.

      Obrigado pelo comentário!

  7. Leo Jardim
    27 de março de 2025
    Avatar de Leo Jardim

    📜 TRAMA (⭐⭐⭐▫▫): um homem é enterrado numa cidade do interior, mas acaba renascendo como uma espécie de zumbi-demônio, tornando-se rei da região e tacando terror em geral. Conta uma história grande, mas de um ponto de vista muito distante depois que o cabra ressuscita. Até então, o foco da narrativa estava no coveiro. Ele some e nunca mais é visto enquanto acompanhamos uma saga com o foco bem mais alto. Achei essa parte interessante, mas cria menos identificação, viramos apenas expectadores da ação.

    📝 TÉCNICA (⭐⭐⭐⭐▫): gostei muito da forma como o conto foi narrado, num formato de realismo fantástico.

    ▪ Agachado, topou a terra (tocou?)

    ▪ cefalóforos (palavra que gostei de aprender)

    🎯 TEMA (⭐⭐): o terror fica na descrição de cenas em que ele tortura a mãe ou o prefeito.

    💡 CRIATIVIDADE (⭐⭐▫): boa, na média do desafio.

    🎭 IMPACTO (⭐⭐▫▫▫): apesar das qualidades e das cenas impactantes, o fato de não ter ninguém com quem me identificar atrapalhou o impacto.

    • Pedro Paulo
      6 de abril de 2025
      Avatar de Pedro Paulo

      Oi, Leo!

      Que bom que gostou de aprender a palavra “cefalóforos”. Também aprendi em uma coletânea de contos e tomei para mim que a utilizaria algum dia. A ocasião veio aqui.

      Abraços. Muito obrigado pelo comentário!

  8. bdomanoski
    23 de março de 2025
    Avatar de bdomanoski

    Credo. (Foi minha reacao pra ultima cena e pro conto como um todo, e isso é um elogio ! ) Terror do bom. Criativo, confiante. Um pouco atravancado em certas passagens , exigindo o máximo de atenção, ou seja, não muito fluido, mas altamente bem descrito e delineado com paciência! Parece que acabei de ler uma passagem bíblica do velho Testamento, sabe, aquelas em que a tribo preferida de deus saia matando todo mundo das tribos inimigas e casando com as mulheres alheias a força. Essa coisa que você incluiu meio religiosa deu um efeito mais grandioso e épico pro conto. Cenas muito massas, como as do coveiro e da mãe do sujeito. Aliás, dó zero dessa mulher. Nessa tô com a bruxa da história. Parecia ter uma dependência emocional doentia do filho, mesmo q ele fosse um monstro terrível, dava amem pra tudo q ele fazia. Essa relação contribuiu p sensação de terror no conto. Meus parabéns! Gostei; Mais um fortíssimo candidato ao pódio.

    • Pedro Paulo
      6 de abril de 2025
      Avatar de Pedro Paulo

      Oi, Bruna!

      Adorei ter iniciado seu comentário com “credo” hahahahaha; é o efeito desejado. Quanto à mãe, eu, por outro lado, tenho dó dela. Presa ao próprio amor, por mais que a destrua… quantas pessoas assim não encontramos, não é mesmo?

      Obrigado pelo comentário!

  9. Jorge Santos
    20 de março de 2025
    Avatar de Jorge Santos

    Olá, autor deste magnífico texto. A narrativa é elegante, bem escrita, prende o leitor. A história é criativa. A procissão é a evolução invertida de um homem, tido como o pior que alguma vez pisou a terra. A inversão acontece pelo simples facto de começar na sua morte e terminar no seu apogeu como homem poderoso. Pelo caminho semeia a morte e a destruição, tendo como único suporte a sua mãe, que não escapou à sua fúria mas, como todas as mães, continua a amar o filho. O texto é cheio de pormenores interessantes, a escrita é, como já indiquei, de qualidade, e isso faz com que pouco haja a dizer – um bom texto fala por si.

    • Pedro Paulo
      6 de abril de 2025
      Avatar de Pedro Paulo

      Oi, Jorge!

      Não havia pensado no conto como uma história invertida até ler o seu comentário. Ótima interpretação.

      Muito obrigado!

  10. paulo damin
    20 de março de 2025
    Avatar de paulo damin

    O bom desse conto é que, no fim, ninguém acorda e percebe que foi só um sonho. O personagem ressuscitou mesmo, a mãe dele também é uma zumbi, agora todo mundo vai virar um bando de zumbi. Acho que é o que se espera de uma união entre terror e humor. Inclusive, o conto podia se chamar Incidente em Aratu, pra brincar com o Incidente em Antares, do Erico Verissimo, em que acontece algo bem parecido.

    • Pedro Paulo
      6 de abril de 2025
      Avatar de Pedro Paulo

      Oi, Paulo!

      Foi o segundo comentarista a comparar com o romance de Veríssimo. Tenho que ler logo!

      Aliás, isso que falou do sonho é verdade. Uma das coisas mais divertidas do realismo mágico e da fantasia é ter essa liberdade de escrever o irreal com a textura de realidade.

      Agradeço pelo comentário!

  11. Kelly Hatanaka
    20 de março de 2025
    Avatar de Kelly Hatanaka

    Um conto terrível sobre um monstro ressucitado. O terror fica por conta da crueldade de Pedro, uma maldade crua e violenta. O conto segue o estilo direto e é também, cru e violento. Um ótimo conto.

    • Pedro Paulo
      6 de abril de 2025
      Avatar de Pedro Paulo

      Oi, Kelly!

      Obrigado pelo comentário.

  12. Cyro Fernandes
    18 de março de 2025
    Avatar de Cyro Fernandes

    Excelente técnica, com bastante criatividade.

    A ambição de Pedro Piedade pela maldade é um ponto forte do conto.

    O impacto é bom mas não chega a explorar todo o potencial do terror.

    • Pedro Paulo
      6 de abril de 2025
      Avatar de Pedro Paulo

      Oi, Cyro!

      Acredita que em certo ponto atribuíram a autoria ao senhor?

      Obrigado pelo comentário!

  13. rubem cabral
    17 de março de 2025
    Avatar de rubem cabral

    Olá, Givago.

    Que conto excelente! Ótima ambientação, escrita, enredo, vocabulário…

    Fiquei sem palavras. Lembra um pouco “Incidente em Antares”, um dos meus livros favoritos. “Grande Sertão: Veredas” também parece como inspiração.

    Desde o começo, com o corpo deixado na cova até o renascimento, o conto só cresce. Dá muita pena da Maria Piedade: parece realmente essas mães que perdoam e idolatram o filho, não importa o que ele faça.

    Parabéns!

    • Pedro Paulo
      6 de abril de 2025
      Avatar de Pedro Paulo

      Oi, Rubem!

      Você foi um dos primeiros a elogiar o conto no grupo do whatsapp, colocando-o para discussão. Pois fiquei muito feliz! Ainda mais com essas comparações que fez. O “Veredas” eu li, mas o “Incidente” peguei o exemplar da escola em que trabalho emprestado e tenho a dívida de ler, até porque sei que a trama de fato remete a um cemitério e por coincidência tem um Padre Pedro Paulo, se não me engano.

      Obrigado pelo comentário!

  14. José Leonardo
    13 de março de 2025
    Avatar de José Leonardo

    Olá, Givago.

    Tendo em vista as minhas limitações técnicas para apreciar melhor o seu conto e de modo a tentar esquentar meus comentários que acho um tanto insossos, decidi convocar, por meio de um ritual de fervura de miojo de tomate com leite coalhado e digitação de Zerinho-um no MS-DOS, a FRIACA® (Falsa Ruiva Inteligente Auxiliar para Comentários e Avaliações) para me ajudar nessa bela empreitada e proporcionar a melhor avaliação possível acerca do seu texto (dentro da minha perspectiva de leitor).

    FRIACA: Do que se trata o conto?

    R.: O tema do Corpo-seco, do ser que foi rejeitado pelos andares de cima e de baixo por conta das suas torpezas superlativas. Mas não um simples Corpo-seco assombrador (se por si só isso já não fosse medonho), e sim um revolucionário que está moldando o seu mundo à sua maneira e conduzindo outros Corpos-secos (descabeçados) em sua “glória”. De forma adjacente, vemos também o tema da miséria, do ser humano esmagado pela falta de instrução inicial, de valores incutidos. E o sofrimento de uma mãe que nada pode fazer em face da “ressurreição” do filho. (Uma inversão do tema de Jesus e Maria?)

    FRIACA: Como você vê a narração, o estilo, a estrutura, a técnica?

    R.: Givago, sua prosa é muito bela. Vê-se que tem um bom estilo para estórias que “andam em crescendo”, se assim podemos denominar. O texto tem as características precisas em cada um dos seus blocos: o primeiro, em que a prosa vai lentamente preparando o leitor; e o segundo, onde o bicho pega verdadeiramente (apesar do polt verdadeiro estar no segundo bloco, digamos, ainda prefiro a prosa do primeiro). Confesso que algumas palavras (como “secretariaria”) me soaram destoantes da beleza geral do texto, mas são apenas filigranas nesse oásis. 

    Trecho: “Naquela noite, Maria Piedade sentia que o crepúsculo instalava a sua escuridão não com a usual dormência do sol, mas emprestando das sombras do nome do seu menino. Estava certa. Nunca havia anoitecido tão cedo na agreste Aratu. Seu filho querido, Pedro Piedade, seu Pedrinho, estava à porta. As décadas de desgaste tinham rendido a casa, que já não era lá muito consistente, a uma construção de remedos. Preenchendo o umbral gasto, viu a silhueta desnutrida de seu menino. Um homem. Defunto.” – Um dos melhores excertos que já li nestas praias entrecontistas!

    FRIACA: E quanto à adequação ao tema, à criatividade e ao impacto?

    R.: Plenamente adequado. Ainda que tenha emprestado um tema da cultura popular, vê-se que lhe deu uma nova roupagem e pretexto para o seu protagonista. Não chamaria de impacto – algo abrupto que prende o leitor -, mas uma construção que se saiu eficaz. 

    FRIACA: Indo um pouco mais a fundo nesse particular e apesar do aspecto subjetivo do que a história pode causar no leitor, é um conto para dar risadas ou aterrorizar-se?

    R.: Creio que a atmosfera foi bem construída para dar a sensação de tensão constante, e essa característica é um dos pontos altos do conto, a meu ver.

    FRIACA: Qual sua posição final sobre esse conto, inclusive sobre a nota?

    R.: Um ótimo texto com vigor literário, boas passagens e fervura constante. Pouquíssimos deslizes (na opinião de um leitor, claro). Objetivo alcançado (quanto à atmosfera). Nota: 4,8.

    Parabéns pela estória e boa sorte neste desafio.

    • Pedro Paulo
      6 de abril de 2025
      Avatar de Pedro Paulo

      Oi, José!

      A princípio estranhei a sua ruiva invocada por via de ritual questionável, mas concordo que o diálogo de vocês resume bem as suas impressões do texto hahahaha

      Fico feliz que tenha gostado, sobretudo pelo trecho que destacou, um dos excertos do texto que mais gostei de escrever.

      Abraços!

  15. Rodrigo Ortiz Vinholo
    13 de março de 2025
    Avatar de Rodrigo Ortiz Vinholo

    Gostei muito! Achei a história criativa, e o vilão-protagonista Pedro Piedade realmente tem ares de figura folclórica local, o que dá bastante força ao conto. A ambientação também é ótima, bem brasileira. Os únicos pontos que me incomodaram um pouco é a tendência a parágrafos longos, que poderiam se tornar um pouco mais fluídos com algumas quebras. A mudança de foco narrativo funciona, mas o começo poderia fluir melhor, também. Ainda assim, o saldo é muito positivo!

    • Pedro Paulo
      6 de abril de 2025
      Avatar de Pedro Paulo

      Oi, Rodrigo!

      Alguns apontaram que o começo flui melhor e a segunda metade atravanca. Por outro lado, é geral a percepção de que o texto é claramente dividido em duas partes. Eu mesmo o concluí sabendo que isso arriscaria perda de pontuação, mas não consegui me desapegar daquele começo com o Ezequiel (cogitei iniciar já dele chegando na cidade) e nem do que concebi depois, com a procissão que intitula o texto.

      Obrigado pelo comentário!

  16. toniluismc
    12 de março de 2025
    Avatar de toniluismc

    Temos aqui um conto excepcional, forte candidato às primeiras posições. Realmente uma obra-prima do terror brasileiro contemporâneo.

    Escrita primorosa, história original e impactante, e personagens memoráveis.

    É difícil encontrar pontos fracos. Talvez a descrição gráfica da violência pode ser vista como excessiva por alguns leitores, mas entendo que isso se justifique pela natureza e caráter do vilão.

    Parabéns 👏🏻👏🏻👏🏻

    • Pedro Paulo
      6 de abril de 2025
      Avatar de Pedro Paulo

      Oi, Toni.

      E veja que eu ainda fui econômico ao descrever a violência. Por sinal, o conto mais violento que escrevi também foi para o EC, mas é um em que sou ainda menos explícito no que ocorre.

      Obrigado pelo comentário!

  17. Thiago Amaral
    12 de março de 2025
    Avatar de Thiago Amaral

    Achei um bom conto.

    O clima de terror com certeza se faz presente, e pra mim o ponto alto são as descrições escabrosas, em especial da mãe, quando ela vai até o bar perguntar do filho. Imaginei uma pessoa bem horripilante, e senti pena.

    O que se revela depois, porém, que ela era alguém também com o coração sombrio, e admirava os crimes do filho, me tirou um pouco desse sentimento, e me tornei frio ao sofrimento dela. Talvez se ela não necessariamente aceitasse, mas sentisse de maneira ambígua todo aquele literal terror que o filho toca, poderia ter sido mais interessante. Também não senti necessário saber como o filho a deixou daquele jeito. Talvez fosse melhor deixar pra imaginação do leitor. De qualquer maneira, acho que ela é o ponto mais interessante do conto.

    Mas a ideia de um tipo de imperialismo putrefato, se espalhando pelas cidades, funciona bem como causo de horror. Outras imagens, como do prefeito pregado à cadeira, são bem efetivas.

    O pobre Ezequiel sumiu completamente da história, mas também não fez nenhuma falta. Assim como a autoria, esqueci completamente dele hehehe

    No fim das contas, achei um conto competente de terror.

    • Pedro Paulo
      6 de abril de 2025
      Avatar de Pedro Paulo

      Oi, Thiago!

      Você foi o primeiro a repercutir o conto lá no grupo do whatsapp, fez o texto ser falado hahahaha

      Veja, foi uma das interpretações que me surpreendeu. Escrevi a personagem da mãe não como uma pessoa sedenta de sangue como o filho, mas como uma mulher que vai amar o seu filho até os limites das tragédias e obscenidades que ele promove. Também não esqueci do Ezequiel, só fiquei mais empolgado pela grandiloquência de imaginar a expansão do mal do que pela primeira ideia do conto em que o coveiro seguia com mais protagonismo.

      Muito obrigado pelo comentário!

  18. Afonso Luiz Pereira
    11 de março de 2025
    Avatar de Afonso Luiz Pereira

    Gostei muito deste conto. O primeiro aspecto a destacar é o claro domínio da sua escrita. O autor sabe do riscado. A leitura, apesar das descrições densas de um apocalipse restrito, até então, à cidade de Aratu e adjacências, flui com naturalidade e é muito agradável de ler. Corre lisa. O texto é bem pontuado e conduzido com segurança.

    Há aqui um forte viés sobrenatural e insólito, lembrando, em certa medida, o estilo de realismo mágico de Julio Cortázar, ou Murilo Rubião. A trama gira em torno de um homem amaldiçoado por sua própria maldade — provavelmente um cangaceiro — cuja alma perversa foi capaz de levar a própria mãe a um estado deplorável. Morto e enterrado na cidade onde nasceu, Pedro Piedade se torna uma lenda macabra.

    Tal como na figura folclórica do corpo seco, ele é rejeitado pela terra e retorna à vida como uma entidade demoníaca ou, no mínimo, um emissário do mal. A criatura então toma a prefeitura da cidade, assume o lugar do prefeito e passa a ditar decretos para que seu antigo bando também ressurja das profundezas da terra e espalhe o terror pela região.

    Um dos grandes acertos do conto está na maneira como a cidade reage ao retorno de Pedro Piedade. O senso de coletivo e a memória compartilhada do vilão dão peso ao enredo, tornando a ameaça mais palpável. Além disso, a presença de Maria Piedade, carregando consigo as marcas da crueldade do próprio filho, é um detalhe que adiciona profundidade à história também.

    O conto, reitero, está muito bem escrito e prende a atenção desde o início, sobretudo por parecer se encaminhar para uma história clássica de vingança de alma penada. No entanto, a narrativa segue outra direção, inclinando-se mais para o realismo mágico. Esse desvio pode até atenuar um pouco a atmosfera de terror, mas, ainda assim, sustenta uma leitura instigante e repleta de boas motivações para continuar, principalmente quem curte leitura fantástica, como é o meu caso.

    Destaco a “ressureição” maldita de Pedro Piedade, com o cemitério tomado por formigas e chamas azuladas, pois é visualmente impactante. A sugestão de que ele retorna como uma força rejeitada tanto pelo céu quanto pelo inferno reforça sua presença maligna, dando um ótimo desfecho apocalíptico ao conto. Gostei muito. Parabéns ao autor.

    • Pedro Paulo
      6 de abril de 2025
      Avatar de Pedro Paulo

      Oi, Afonso.

      Comparou-me a nomes grandiosos, hein? Li a breve obra complete de Rubião e lá li alguns contos magníficos do Cortázar. São autores excelentes, sinto-me honrado. Fico contente que tenha pego a referência do cangaço e que gostou do conto. Aliás, o que falou das formigas e das chamas azuladas, foi literalmente uma das primeiras imagens que me vieram à cabeça quando comecei a conceber o texto. Tem um conto da Lygia Fagundes Telles, chamado “As Formigas” que me deu essa ideia quando pensei na premissa para este texto, anos atrás: um sujeito maligno é enterrado e a terra muda com sua sepultura. A ideia das formigas se comportarem estranhamente veio do conto de Telles, assim como a própria ideia do cara enterrado ter vindo de uma série que apresentou isso e não desenvolveu. O restante a minha cabeça maluca construiu.

      Muito obrigado pelo comentário!

  19. Leandro Vasconcelos
    11 de março de 2025
    Avatar de Leandro Vasconcelos

    Olá! Este conto constitui um terrorzão bem clássico. O protagonista é um ser maligno e amaldiçoado, que retorna do mundo dos mortos (ou sequer alcança esse mundo, sendo rejeitado por ele) para aterrorizar os vivos. O grande diferencial do enredo é a ambientação brasileira. Impossível não pensar em lampião e nos cangaceiros durante a leitura, sobretudo após o “discurso de posse” de Pedro Piedade. A partir daí, o que vemos é uma marcha inexorável (uma grande procissão) até o reinado do maligno, que arrebata tudo e todos, sem encontrar grande resistência.

    O texto está muito bem escrito. O vocabulário variegado é um ponto forte, tem um quê de grandes autores da literatura brasileira. A narrativa soa um tanto épica, como se fosse o prelúdio de uma obra de maior envergadura: um romance talvez.

    Outro mérito é a crítica social. Bem sutil, mas que resplandece em algumas partes, sobretudo quando o narrador, após a sentença de Pedro Piedade, pontua que suas palavras acendem “aquele canto obscuro dos corações alheios no qual se crê, ainda que eventualmente se esquecendo, que a violência é o caminho e o fim da maioria das gentes pobres desse mundo”. Não deixa de ser verdade, além de um apelo à revolução pelas armas, dado o contexto geral do enredo.

    Boa também foi a construção dos personagens. Cada um com seu trejeito: desde o coveiro Ezequiel, um dissimulado que recebia trocados para esconder corpos; passando pelos cachaçados do bar; até Maria Piedade, a mãe do maligno. Interessante, sobretudo, esse apego da mulher ao filho, que a deixou cega para as barbaridades cometidas por ele. Ou seja, cada um foi muito bem trabalhado, tornando-se único e coerente com os acontecimentos.

    A trama é simples e segue sem surpresas. Como dito, o enredo todo é uma espécie de introdução ao reinado de Pedro Piedade, muito descritiva acerca dos fatos que o levaram ao trono, mas sem que fossem trazida maior sorte de elementos narrativos, como conflitos, antagonistas ou reviravoltas. Não que isso seja necessário. Muito pelo contrário. O texto cumpriu a função dada pelo autor: um relato sobre a ascensão macabra daquele endiabrado. Só que o leitor fica com aquele gostinho de quero mais.

    Enfim, uma boa narrativa que satisfez, à excelência, a proposta de terror do concurso.

    • Pedro Paulo
      6 de abril de 2025
      Avatar de Pedro Paulo

      Oi, Leandro!

      Seu comentário é muito lisonjeiro, muito obrigado. De fato, outro aspecto que reconheci no conto como um elemento negativo e essa cara de “prólogo” que ele tem. E confesso que, sim, eu revisitaria essa história em um espaço maior, aliás me vieram pelo menos dois personagens criados nesse plano de fundo mítico brasileiro que conseguiriam opor a malignidade do reino de Piedade… escrever é outros quinhentos. Que bom que aticei essa vontade por mais em sua leitura.

      Abraços!

  20. Fabiano Dexter
    10 de março de 2025
    Avatar de Fabiano Dexter

    Estou organizando os meus comentários conforme irei organizar as minhas notas, buscando levar para o autor a visão de um Leitor regular e assim tentar agregar algum valor. Assim a avaliação é dividida em História (O que achei da história como um todo, maior peso), Tema (o quanto o conto está aderente ao tema), Construção (Sou de exatas, então aqui vai a minha opinião geral sobre a leitura como um todo) e Impacto (o quanto o produto final me impactou)

    História (1,5)

    Uma boa história, passada na pequena cidade de Aratu, onde um antigo e cruel morador foi enterrado e retornou à vida para dar continuidade ao império que havia iniciado quando ainda vivo.

    Após o seu retorno temos os seus passos, importantes, até culminar em um controle da região, com a violência desenfreada novamente difundida.

    Aqui o que senti falta foi de mais detalhes sobre o que aconteceu com o povo da pequena Aratu, como Ezequiel e os demais. Eles são citados com medo, os mais antigos se lembram de Pedro Piedade e o temem, mas essa ideia acaba ficando um pouco vaga e podia ser mais explorada. O caminho seguido pelo autor foi de ampliar e mostrar o real poder do novo Rei Renascido, o que encaixa bem com o final do conto, que embora feche bem a história também poderia sem um pouco mais desenvolvido.

    Tema (1,0)

    O tema aqui é o Terror e isso fica bem claro e é bem desenvolvido com cenas de violência e de eventos sobrenaturais muito bem descritos.

    A maldade de Pedro Piedade é muito clara e direta, e sua motivação fica de certa forma clara ao final do conto.

    A cena do cemitério, com a terra pulsando e o sangue surgindo foi muito bem descrita e desenvolvida dentro do tema, assim como o tratamento dado ao jovem prefeito. A ideia dos decretos com poderes sobrenaturais também dá peso à história, uma forma criativa de mostrar o alcance dos poderes do Rei Renascido.

    Construção (1,5)

    Gostei da história, como disse, mas achei o texto um pouco longo. Ainda que tenham partes que agregam ao clima e dão peso, como as torturas infligidas ao Prefeito, o texto parece se alongar um pouco demais na segunda parte, pós ressureição, o que para mim tira um pouco do impacto de ter um morto-vivo caminhando pelas ruas da cidade.

    Eu entendi que a ideia era ter uma maior mostra do poder e do estrago a ser causado por Pedro Piedade para justificar a conclusão, mas ficou um pouco solto, um pouco grande demais, perdendo a proximidade com Aratu que foi o ponto alto do início do conto.

    Impacto (1,0) O impacto para mim não foi tão grande, na segunda parte do conto, pós ressurreição, do que estava sendo na primeira parte. O crescimento da história estava em uma crescente muito interessante, mas acabou ficando tempo demais na crista, descrevendo os mandos e desmandos do Rei Renascido.

    • Pedro Paulo
      6 de abril de 2025
      Avatar de Pedro Paulo

      Oi, Fabiano!

      Vou te confessor uma coisa. Também senti falta dos moradores da cidade e, sobretudo, de Ezequiel. Na minha concepção inicial, o coveiro tinha uma função mais proeminente e heroica na narrativa ao invés de, como lembro de ter lido em um comentário, sumir. Nessa primeira elaboração da história, a personagem da Maria Piedade se aliaria a ele para enfrentar o filho, mas acabei repensando e isso influenciou os rumos da narrativa. Também achei arriscado iniciar o texto na perspectiva desse personagem e depois transferi-la para outros. Você foi o leitor que mais sentiu essa mudança grosseira e fez uma crítica justa.

      Muito obrigado pelo comentário!

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Publicado às 9 de março de 2025 por em Contos Campeões, Liga 2025 - 1A, Liga 2025 - Rodada 1 e marcado .