EntreContos

Detox Literário.

Nem Toda Saudade é Vontade de Regresso (Anderson Prado)

Não era justo que pagasse aluguel por todo o terreno. Não o usava e ainda tinha o trabalho de o manter limpo, ao menos alguns metros em frente ao barraco. Era só sobre esses poucos metros que investia a enxada. O caminho até o portão se mantinha por si mesmo, pisado. A capina, ainda que pouca, era um trabalho árduo, entremeado pelos rigores de uma velhice precoce.

Pousava a enxada sobre a terra e as mãos sobre o cabo. Observava o entorno.

– Velho amigo.

Curioso como acabara aos pés de seu algoz. Não fora proposital. O presídio tinha sido construído quando tudo era pasto. Mas a cidade engoliu o entorno verde, loteou o que era mato. Não é caro ser vizinho de um presídio, mesmo quando o terreno é grande, especialmente se amatagado.

Saiu daqueles muros sem trazer nada de seu. Não deveria ficar mais de trinta anos enjaulado. Mas ficou. Pagou pedágio à burocracia. Quando completou as três décadas a que estava obrigado, parou de contar. Alguns meses desesperançados passaram. Um dia lhe chamaram na cela.

Saiu do prédio principal, atravessou o pátio, entrou na Classificação.

O carcereiro não levantou os olhos do papel.

– Qual seu nome?

A cada resposta, emendava nova pergunta, assentindo a cada correspondência.

– Nome da mãe?

Até se certificar de que tinha diante de si o preso certo.

– Tá liberado.

A liberação era mais para o segundo carcereiro na sala do que para o preso. Saíram da sala, o preso e o segundo carcereiro, atravessaram nova extensão do pátio até uma outra porta. À aproximação da dupla, uma portinhola se abriu revelando apenas os olhos de um terceiro carcereiro. Antes de abrir o cadeado e correr o trinco, olhou ao redor tanto quanto o estreito espaço lhe permitiu.

Vencida a porta, entraram por um corredor longo e largo, ladeado pelos prédios da Administração.

– Ei, preso, cabeça baixa e mãos pra trás. Vem caminhando devagar, junto à parede. – gritou um quarto carcereiro, na guarda do que seria a última porta.

Desnorteado, ainda tentando entender o que acontecia, o preso havia esquecido de sua condição, havia se esquecido das regras do presídio, do comedimento diante da autoridade. Pressentindo a iminência da liberdade, a cabeça havia se erguido e as mãos pendulado livres.

Antes que o último cadeado se abrisse e o último trinco corresse, o ritual se repetiu na íntegra.

– Qual seu nome?

– Nome da mãe?

Tudo confirmado, o último carcereiro entregou a identidade do preso, uma folha de papel e a derradeira advertência:

– Vai sair na moral, hein! Sem gracinha! Nada de grito, nada de dancinha! Caminhando na moral!…

Então a liberdade era isso. Estar fora dos muros. Cabeça raspada, vestindo blusa branca, bermuda jeans e chinelo Havaiana, a mesma vestimenta de cada um dos de dentro. Nas mãos, a identidade e a ordem de soltura. Sem dinheiro, sem destino e na moral.

Era indecente não sentir apenas rancor pelos anos passados naquele lugar. Mas sempre tivera propensão ao erro. O pai tinha tentado corrigir:

– Estuda, moleque. Estuda pra não ter que baixar cabeça pra doutor.

Nesse dia, o pai tinha sido advertido por um erro não cometido. Tinha seguido a orientação do síndico e não deixara o entregador subir até um dos apartamentos. O condômino não gostou, esbravejou, e isso e aquilo. O pai seguiu outra orientação do síndico: não discutir com morador. Baixou a cabeça, pediu desculpas, e presenteou o filho com o conselho.

O garoto gostava de visitar o pai no trabalho, quase sempre.

– Quer pra você?

– Isso é lixo, pai.

– Tá novinho…

O pai era uma mistura de zelador, porteiro, faxineiro, um faz tudo. Logo cedo, recolhia o lixo e passava uma vassoura nos corredores. Pelo resto do dia, atendia o interfone, recebia encomendas e fazia pequenos reparos no prédio de cinco andares e vinte apartamentos.

O garoto gostava de estar pelo prédio, despercebido, brincando pelas escadas que os moradores nunca usavam. Gostava da portaria e de seus mármores, do balcão de madeira que escondia a televisão minúscula, e teria gostado do elevador se algum dia tivesse sido autorizado a usá-lo. Do que não gostava era do pai apalpando os sacos de lixo.

– Vai querer ou não?

A vontade de brincar acabou vencendo a repulsa. E o helicóptero sem hélices voou por muito tempo em novas mãos.

Mas nem toda sobra vinha de sacos apalpados. Alguns moradores, antecipando misérias, deixavam itens separados ao lado da lixeira. Outros entregavam diretamente ao zelador.

– Dá uma olhadinha… Se for útil ao senhor, a alguém da família…

O pai agradecia, com excessivas mesuras. Mais por conveniência do que por necessidade, a casa se via cheia de indignidades: panelas sem cabo, bonecos sem perna, carrinhos sem roda, toda sorte de incompletudes a encher de cobiça o garoto que ansiava o mundo inteiro.

Aprendiz de porteiro, o garoto memorizou os principais moradores e suas unidades.

– Tá com ajudante hoje, seu Carlos?

– Pois é, vai vendo. Filho, pega a encomenda da dona Miriam do 503, por favor.

Aprendeu a evitar o síndico, a não usar o elevador, a não obstruir os corredores, a se fazer útil e a não atrapalhar o pai. Aprendeu que só havia câmeras na entrada, na portaria e no elevador. Aprendeu que nem todo morador trancava as portas quando saía e que quem tem muito não dá falta do sumiço de pouco. Entrava e saía dos apartamentos tão anônimo quanto sempre fora. Se maravilhava com os quartos infantis repletos de rosa, de azul e de brinquedos. Escolhia o que queria das caixas, baús, armários, nichos e prateleiras, sem pressa e sem exagero.

Mas o pai, que sempre tivera de seu muito pouco, logo percebeu aquele outro pouco que vinha se somar ao seu. Olhou com dúvida e repreensão para os brinquedos que o filho tinha em mãos. Percorreu a casa pequena da família, vasculhou o quarto e o quintal, certificou suas suspeitas. O filho esperou e se preparou pra reprimenda, mas ela não veio. Não naquela hora, não diretamente.

– O síndico não quer mais saber de criança no prédio.

O garoto pouco tinha a opor àquela quase impunidade. Ficaria em casa pelo resto das férias, quando não pudesse evitar, ou pelas ruas, entre bolas e pipas, piques e brigas. Seguiria aprendendo o que o entorno tinha a ensinar.

A adolescência, quando chegou, o encontrou pelas ruas do bairro, repleto de novos e prementes quereres.

– Relaxa, cara, não dá nada. Nem roubo é. A gente devolve. – argumentou o amigo.

Rápido pegou gosto pela arma na cinta, ainda que reles simulacro. Pegou gosto pela autoridade emprestada, pela inversão de papeis, playboy se derretendo, desembarcando, entregando a moto na qual o adolescente mal dava pé. Saía acelerando, fritando pneu, desequilibrando. O lance era simples. Pegavam as motos no início da noite, tiravam um barato no baile, apostavam arrancadão, davam grau, impressionavam as meninas, atormentavam o sono da comunidade, depois abandonavam num canto qualquer, longe da quebrada.

Na primeira vez em que foi preso, recebeu advertência formal e liberdade vigiada. Comparecimento mensal ao Conselho, fiscalização de frequência escolar. O adolescente pouco tinha a opor àquela quase impunidade.

Os pais ficaram em cima, tanto quanto seis dias de trabalho fora de casa permitiam. As saídas noturnas rarearam por um tempo. Mas, no final, pouco tinham a fazer com o adolescente que batia portas e gritava independências, que não voltava do colégio, que emendava saídas diurnas com noturnas, que não dormia em casa.

– Carlos, acho que o Juninho não vem de novo.

A esposa não se conformava, mas o filho já não era mais nenhuma criança. Há pelo menos dois anos que superara o pai em altura e compleição física. Tinha sido estranho, quase assustador, ver a transformação do menino em homem, a voz engrossando, o corpo ganhando tônus. Não bastasse, o garoto era desobediente, explosivo.  Depois de algum tempo, tudo o que sobrou aos pais foi uma espécie de estranha gratidão pelo filho aparecer de volta ao lar, como se nenhuma ausência tivesse havido, cumprimentando o pai, beijando a mãe.

– Que dinheiro é esse, filho?

– Dinheiro, mãe. Nunca viu dinheiro?

Pai e filho mal se olhavam. O dinheiro que era agora entregue à mãe tentara muito antes ser entregue ao pai.

– Não quero seu dinheiro.

– Que isso, pai? Estou só tentando ajudar.

– Não preciso desse tipo de ajuda. Tenha vergonha.

Mas seu Carlos não interveio nas escolhas de mãe e filho, não se opôs àquela via indireta de preencher as lacunas dos armários de casa, onde, se nada faltava, nada abundava.

Em suas ausências, o filho atravessava carros na fronteira, sem nem mesmo saber se roubados, se recheados, se as duas coisas. Um serviço lucrativo. Quando foi preso pela segunda vez, às vésperas de fazer dezoito anos, pagou com uma internação de três anos. No Centro de Reeducação de Menores, seguiu aprendendo, agora com outros internos:

– Se liga, irmão. Tu caiu pra passar carga maior – fazia todo sentido; no Posto, a polícia havia sido certeira, como se soubesse de antemão quem e onde procurar. – Tu é menor, tu é bucha, tu não vale nada presses caras. Irmão, segura seus B.O. Papo de mula é furada.

Os anos no Centro não foram perdidos. A frequência à educação de jovens e adultos era obrigatória, e era uma fuga aos alojamentos coletivos. Entre o prédio dos alojamentos e o das salas de aula, ficava o pátio e sua hora de bate-bola e bate-boca, um oásis de diversão entre os rigores das horas de dormir e de estudar.

Os pais compareceram à formatura realizada no refeitório redecorado. O diretor do Centro discursou. Falou em esperança e ressocialização.

O pai permitiu uma trégua.

– Parabéns, meu filho.

Teriam se abraçado se os corpos ainda se lembrassem de como fazê-lo.

Os anos que se seguiram ao Centro foram bons. O emprego como ajudante de carga e descarga numa loja de materiais de construção era pesado e pagava pouco, mas moía o corpo e entorpecia a mente. Saía cedo de casa, voltava tarde. As noites eram curtas, e o descanso sagrado. Uma vida monótona, interrompida apenas pelos bailes de sábado. Velhos conhecidos, velhas companhias, um respiro.

Os bailes eram eventos ruidosos no entorno do campinho. Atormentavam a vida da comunidade, mas não havia, não poderia haver queixas. O Movimento se fazia presente, autorizava o evento, garantia a segurança, montava sua banca e comerciava, da preta, da branca, da boa sempre. As caixas de som vibravam até a manhã de domingo, mas quem trampava no sábado não aguentava virar.

– Mano, que isso! Esse trampo tá acabando contigo. Se liga no canal. Um, dois, pá, tu cola comigo e fica firmão.

– Valeu, tô sussa.

A oportunidade veio e passou, veio e passou, mas continuou vindo.

– Mano, é sério. Num é convite, não. Tô precisando de ti. Não tenho mais ninguém. Tu num tem que fazer nada, nadinha, só pilotar. Pilotar, mano! Pilotar tu manja! Num manja? Dá pra tirar uma grana! Mamão!

Um mês inteiro de salário em uma noite… Saiu da comunidade pilotando a moto, o amigo na garupa. Emparelharam junto ao alvo já mandando encostar. Foram fechando o carro, estreitando a rua. O garupa apontava a arma em direção ao para-brisa. O motorista pareceu reduzir, mas logo acelerou, quase acertando a roda dianteira da moto, desequilibrando a dupla. O garupa não hesitou e atirou, numa só rajada, uma bala e um palavrão:

– Filho da puta!

O veículo desacelerou até parar encostado junto ao meio fio.

– Mete o pé, mano! Sujou!

Acelerar pelas ruas, amoitar a moto, depois tentar manter a rotina, espreitando ao redor, vigiando a sorrateira aproximação da polícia, paciente e metódica, colhendo provas, efetuando diligências, fazendo do medo da cadeia já o início de alguma sentença. Não queria ser preso, mas sentiu um estranho alívio quando o levaram sete meses depois acusado de tentar roubar o veículo e de matar o condutor.

Imputaram-lhe outros crimes. Pagando por eles, julgou que pagava melhor pelo único crime que de fato havia cometido. Não se defendeu. Seu mutismo gritou odiadas culpas. Foi condenado pela justiça e pela opinião pública. Foi muitas vezes condenado pelo fichário azul do reconhecimento fotográfico da polícia.

– Reconhece alguém? – indagava o investigador à vítima ou testemunha da vez.

O fichário colecionava exemplares maltratados da periferia.

– Não sei… Acho que não…

– Tem certeza?… E esse aqui?… Ele atua nessa região.

– É… Pode ser… Acho que é ele sim…

Cumpriu sua pena e a de muitos outros. Enfrentou medos, confrontou culpas, aprendeu o valor da família.

– Tem mãe, pai, irmão, alguém pra te ajudar? – logo lhe perguntaram outros detentos.

Tudo tinha um preço. Melhores espaços na cela, colchão, roupa de cama, itens de higiene, comida que não fosse a marmita insalubre do presídio.  Nem uniforme havia. As calças e bermudas jeans, os chinelos Havaianas e as blusas brancas eram fornecidos pelas famílias ou comercializados entre os próprios detentos.

A mãe cumpriu o sacerdócio rigoroso das visitas. Compras no mercado, substituição por embalagens transparentes, preparação de alimentos. Longas viagens e longas filas. Revista íntima. Definhou, envelheceu. Certa quinzena, depois de onze anos ininterruptos, não apareceu. Nem na próxima quinzena. Nenhuma carta também. Um mês e meio depois da última visita da mãe, finalmente foi chamado ao pátio. Tinha visita.

Deixou a cela, atravessou portas e corredores. Quase não reconheceu o rosto do pai mais de uma década mais velho.

Não tinham muito a se dizer. A mãe não viria mais.

– Um derrame em casa mesmo. Os médicos não puderam fazer nada.

Não teve coragem de perguntar se o pai voltaria. Aguardou ansioso os próximos quinze dias e o próximo dia de visitas. E o pai estava lá. Trazia o jumbo recheado, cigarro, dinheiro, trazia notícias vagas da rua, do prédio onde ainda trabalhava, trazia silêncios e, alguma vez, trouxe dúvidas.

– Você fez mesmo aquilo tudo?

– Tá perguntando pra pessoa errada, pai. Aqui dentro, – fez uma pausa, olhou ao redor – aqui dentro só tem inocente. Todo mundo aqui tem um motivo, uma história. Ninguém fez porque fez e tem que pagar.

– Mas você fez?

– Eu tava lá, pai, naquele primeiro roubo, eu tava lá, pilotava a moto, e isso seria tudo. Não era pra ter terminado daquele jeito, mas também não era pra ter começado, né? Eu sabia que o Nilo tava armado, mas pensei que não ia precisar atirar em ninguém, ainda mais daquele jeito besta. O senhor não imagina como me arrependo, o quanto tô pagando por isso todos esses anos. Mas foi só esse, pai, só esse roubo. O resto colocaram na minha conta.

O pai seguiu com as visitas, por dezesseis anos seguiu. Ninguém escreveu pra falar do óbito. Nem seria preciso. Vinha escrito aos poucos, numa longa missiva, a cada visita. Um pai mais velho, mais fraco, mais murcho, mais curvo.

Sem assistência da família, os últimos anos poderiam ter sido difíceis, mas sobreviver no sistema empresta valor, impõe respeito, compra favores. Havia sobrevivido a brigas de faca, a facas feitas de qualquer pedaço de metal que fosse encontrado dando sopa, a brigas sem motivo, a disputas pelo jumbo, a algum carcereiro sádico, a doenças e à insalubridade, a verões excessivamente quentes e invernos excessivamente frios.

Havia sobrevivido a tudo e era indecente não sentir apenas rancor pelos anos passados naquele lugar. Mas recostado à enxada, desafiando os muros à distância, não conseguia evitar alguma saudade inútil. É no fim de tarde que a pior hora se avizinha. Pés se arrastam pelo pátio e corredores do presídio e de sua memória. Metal arranha metal. Cadeados estralam. Dezoito horas, hora da tranca. Todos recolhidos às celas. É a prisão dentro da prisão. Hora de recolhimento e solidão. Hora do martírio inevitável, do pensamento e da saudade. Hora de lembrar de casa e da família, das coisas perdidas, da vida que poderia ter sido.

Havia algum prazer em estar só nos jogos de imaginar a que se entregava nas horas infinitas das noites sempre muito quentes ou muito frias, nunca amenas. Noites de sonhar acordado. Noites que não reencontrou do lado de fora e suas ocupações e preocupações.

Quando olha pro passado, sempre se pergunta: “e se?”. E se não fosse pobre e não precisasse roubar pra ter? E se o pai tivesse sido mais rigoroso e o tivesse obrigado a devolver os brinquedos daqueles primeiros roubos? E se não tivesse se deixado seduzir pelo dinheiro fácil e participado daquele roubo à mão armada? E se não tivesse sido preso, teria tido tantos encontros com seus pais, tantas horas de conversas, de trocas? Teriam se mantido juntos até o final? E a vida fora da prisão teria sido livre? Ainda estaria vivo?

Já havia passado tempo bastante desde a soltura para saber que uma parte de si estaria para sempre aprisionada naqueles muros, numa nostálgica vertigem, como um pássaro liberto que insiste em tornar à gaiola em busca de abrigo, de segurança, de água e alimento, acossado por uma natureza selvagem e febril, imprevisível, habitada por rajadas de vento e gaviões. Talvez tivesse voltado pra dentro da gaiola, mas é um pássaro velho, atrofiado, depenado, não canta mais como antes. Para ele, as portas da gaiola estão definitivamente fechadas. Não interessa mais ao passarinheiro. Há muitos pássaros jovens na mata ilustrando o fichário azul da polícia.

Nem toda saudade é vontade de regresso. Aquele estar por perto era o bastante, na sua casa alugada, na capina de seu terreno amatagado, divisando seu algoz à distância aprisionando entre seus muros a dedicação paterna, as visitas periódicas, a ajuda incessante, as longas conversas, o perdão possível. Há muitos anos os pais haviam partido, mas desfilavam interminavelmente pelas ruas do bairro nos rostos cansados dos familiares que se enfileiravam à porta do presídio a cada dia de visitas.

Sobre Fabio Baptista

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26 comentários em “Nem Toda Saudade é Vontade de Regresso (Anderson Prado)

  1. Pedro Paulo
    14 de dezembro de 2024
    Avatar de Pedro Paulo

    COMENTÁRIO: Um conto magnífico que com muita verossimilhança atravessa um personagem difícil de retratar, que é aquele que foi institucionalizado. Apresentando-o em um momento prosaico, somos subitamente transmitidos às suas memórias e, dentro delas, a refletir sobre o ato de lembrar, sobretudo aquelas voltadas a decifrar não o que foi, mas o que poderia ter sido, algo que deve marcar muito a vida de quem passa pela restrição da liberdade, a sopesar a relação entre o crime e castigo, entre o erro e a existência da possibilidade de acerto… o protagonista é caracterizado em várias etapas de sua vida e com exemplar controle de narrativa conseguimos apreender também de sua mãe e de seu pai, lendo não só sobre ele, portanto, mas sobre toda a sua família a partir do que ele fez. Com isso, o momento inicial em que o encontramos deixa de ser banal, adquirindo toda a profundidade de uma escolha derradeira de nunca se desprender por completo daquilo que o prendeu a vida toda. Assim sendo, esse conto me convenceu a destrinchar a pontuação em mais um critério. Aliás, faz anos que não pontuo com critérios separados, usando uma nota mais instintiva. Não sei ao certo porque decidi por retornar. Fato é que pontuava em “narrativa”, “escrita” e “abordagem temática”. Quatro pontos ao primeiro e três para os outros dois. Destrinchei o critério de “narrativa” em mais um, atribuindo um ponto a “impacto”. É certo que este conto é impactante e o faz pelo balanço narrativo de aprofundar uma vida inteira em um momento, mas esse ponto de impacto obedecerá ao contexto do certame. Por quê? Porque também adotei uma inovação: atribuir apenas um 10. Talvez seja seu, mas só saberei ao final das leituras. É justo deduzir que as rememorações de um senhor ocuparão um espaço significativo neste desafio, o que por si só prejudicaria o impacto de originalidade desse texto. Feita essa ressalva, é um conto maravilhoso, potente e emocionante. Parabéns!

  2. Victor Viegas
    14 de dezembro de 2024
    Avatar de Victor Viegas

    Olá, Fleming!

    Acredito que dentre os contos postados, esse é um dos que têm maior potencial para virar uma novela, talvez um romance. Certamente eu leria a história do ex-carcereiro, e aprenderia sobre a rotina dele da prisão até a libertação. Gostei bastante da sua escrita, você conseguiu trazer muitos elementos que pudessem transmitir a mensagem de uma forma bem clara. Contudo, acredito que pela quantidade de elementos , mesmo que você tenha se expressado bem, ainda me pareceu um pouco apressado, precisando de mais desenvolvimento.

    De início somos apresentados à rotina do personagem na prisão “A capina, ainda que pouca, era um trabalho árduo, entremeado pelos rigores de uma velhice precoce” e ambientação em torno “O presídio tinha sido construído quando tudo era pasto. Mas a cidade engoliu o entorno verde, loteou o que era mato”, em cenas posteriores temos a tão sonhada libertação e a ressocialização com a família. Ironicamente, é o segundo conto com um personagem chamado Carlos, achei essa coincidência engraçada rs.

    “Não o usava e ainda tinha o trabalho de o manter limpo” repetição do pronome “o”, cuidado ao referenciar o mesmo elemento. Acredito que seria mais adequado colocar um sinônimo ou mesmo omitir uma das partículas.

    Gostei desse fluxo de pensamento “Quando olha pro passado, sempre se pergunta: “e se?”. E se não fosse pobre e não precisasse roubar pra ter? E se o pai tivesse sido mais rigoroso e o tivesse obrigado a devolver os brinquedos daqueles primeiros roubos?”, demonstra uma introspecção que consegue conectar com o leitor. A gente entende as aflições e dúvidas dele.

    Como palpite, digo que poderia falar mais do impacto da doença da mãe, a vida e incertezas do personagem ao sair da prisão e a dinâmica da família. São muitos núcleos para serem desenvolvidos na história e acredito que o limite de palavras possa ser um empecilho. Gostaria muito de ler outros contos seus. Desejo tudo de bom e boa sorte no concurso!

  3. André Lima
    14 de dezembro de 2024
    Avatar de André Lima

    Um dos meus contos favoritos do desafio. É belíssima a poesia moderna, sólida e, ao mesmo tempo, crua empregada aqui nessa história.

    É uma história que não deixa claro do que realmente se trata, algo que é, talvez, a principal valência do conto. É uma história de redenção? Por vezes sim, por vezes não. A única certeza que temos é que o autor humaniza o protagonista de modo que sentimentos antagônicos são causados no leitor.

    No fim de tudo, o cerne da história está na relação do protagonista consigo mesmo e com suas escolhas, fazendo com que a interação com os personagens secundários apenas sejam suporte pra trama interna. A jornada dá fim ao sentimento de que a verdadeira vida dele está no enclausuramento, que a saída da prisão já se tornou pior do que a estadia.

    Não é uma ideia super original ou brilhante, mas a execução é tão boa que merece nota máxima.

    O tema apenas resvala aqui, mas, para mim, é suficiente para qualificar o texto.

    Parabéns ao autor por sua excelente técnica.

  4. Thais Lemes Pereira
    14 de dezembro de 2024
    Avatar de Thais Lemes Pereira

    Temas como esse causam um grande impacto em mim. Eu não consigo não me envolver emocionalmente com a história, enquanto leio até me esqueço que se trata de um desafio.

    Não sei o que dizer, não sei a quem culpar, sinto a humilhação que ele fez os pais passarem e ao mesmo tempo alívio, porque os pais não o abandonaram. E penso: isso acontece no mundo real, na esquina de nossas casas.

    O que posso dizer de valioso para o autor ou a autora é que achei o conto muito bem conduzido, a escrita muito boa e a história emocionante.

  5. Felipe Lomar
    14 de dezembro de 2024
    Avatar de Felipe Lomar

    olá

    Uau, que contão. Muito bem elaborado e escrito. Parece que o autor já esteve preso, tamanho seu conhecimento. Passa a mensagem com bastante destreza e obtém bom impacto. A única questão é que talvez em alguns momentos haja uma certa romantização da pobreza e do crime, mas é um grande retrato da desigualdade do Brasil.

    Boa sorte.

  6. leandrobarreiros
    14 de dezembro de 2024
    Avatar de leandrobarreiros

    Outro excelente conto no desafio que tentou enfocar o tema da nostalgia de maneira mais singular. Aqui vemos o protagonista percebendo racionalmente essa relação de dependência com um passado negativo e tentando lidar com ele como pode. Depois de anos encarcerado Junior não tem mais muito o que fazer. Sem família, educação ou mesmo muita experiência profissional fica a pergunta do que resta.

    No que diz respeito à escrita não tenho nenhum apontamento negativo. É um texto que narra toda uma vida mas mesmo assim não ficou cansativo em nenhum momento. Méritos para o autor.

    Toda a relação familiar também foi bem crível, o incômodo da mãe, a resignação do pai, especialmente quando perdeu a esposa…

    Um dos pontos altos da narrativa foi não ter deslizado para nenhum exagero do ponto de vista social / individual. A história se tornou crível e, portanto, humana. Não é duvida que os fatores sociais pesaram no caminho do menino, bem como suas decisões individuais. A escalada gradual do envolvimento no crime, até um azar, soma ao cenário realista. Perdi alguns alunos assim.

    Enfim, um bom trabalho.

  7. Fabiano Dexter
    12 de dezembro de 2024
    Avatar de Fabiano Dexter

    Que conto maravilhoso!

    Leitura leve e agradável, nos levando para dentro do passado do protagonista, que tem toda a sua vida contada, desde a infância até a velhice.

    O conto é longo mas não cansa nem se repete. Mesmo o dia a dia nas diversas detenções tem suas diferenças, seus detalhes e seus momentos.

    Conseguimos acompanhar o seu crescimento e desenvolvimento, o desespero dos pais, o arrependimento, as emoções são claras e objetivas.

    Autor (Autora) de parabéns!

  8. Priscila Pereira
    12 de dezembro de 2024
    Avatar de Priscila Pereira

    Olá, Autor! Tudo bem?

    Gostei bastante do seu conto! Muito bom!

    A história está tão bem contada que parece ter muito mais do que o limite, mas está tudo amarrado e sem pontas soltas. Você conseguiu usar cada palavra a seu favor.

    O tema está presente tanto em nostalgia como em porta. Tudo bem óbvio e bem feito.

    Engraçado que senti a nostalgia do conto, mesmo sem nunca ter passado por nada do que o protagonista passou. É difícil gerar esse sentimento quando não há identificação.

    O conto está bastante filosófico sem cair na lição de moral, nas dúvidas sem reposta, na aceitação do inevitável e na calma com que o protagonista brinca de “e se”.

    O conto está muito bem escrito, revisado e com um enredo forte, bem pensado e extremamente bem feito! É um ótimo conto!

    Parabéns pelo conto e boa sorte no desafio!

    Até mais!

  9. danielreis1973
    9 de dezembro de 2024
    Avatar de danielreis1973

    Nem Toda Saudade é Vontade de Regresso (Fleming)

    Prezado(a) autor(a):

    Para este certame, como os temas são bastante díspares, dificultando quaisquer comparações, vou concentrar mais minha avaliação em três aspectos, e restritos à MINHA PERCEPÇÃO durante a leitura: a) premissa; b) técnica; c) efeito. Mais do que crítica ou elogio, espero que minha opinião, minhas sensações como leitor, possam ajudá-lo a aprimorar a sua escrita e incentivá-lo a continuar.
    Obrigado e boa sorte no desafio!

    DR

    A) PREMISSA: a história de um homem que foi preso, mesmo não tendo sido o principal responsável, e que se resigna em morar ao lado da penintenciária, por não ter nada nem onde ir. O tema está no portão da prisão, somente, e o sofrimento a ele inflingido pelo autor(a) como representação da sociedade me parece um pouco exagerado, melodramático demais. Trinta anos? Acho um tempo muito longo, no Brasil, para cumprir pena.

    B) TÉCNICA: a escrita é razoável, procura reproduzir o modo de falar do extrato da sociedade representado, algumas vezes resvalando para a síndrome do “Carandiru”. A história é construída num crescendo, mas ao chegar na prisão parece que o personagem “estaciona”, fica resignado demais… não tenta fugir, não se revolta, não busca uma saída. Achei estranho, só.

    C) EFEITO: o efeito geral é razoável, ainda que eu, como leitor, esperasse alguma reviravolta, algum ato mais extremo dele, que não aconteceu. De qualquer forma, desejo sucesso no desafio!

  10. Jorge Santos
    9 de dezembro de 2024
    Avatar de Jorge Santos

    Olá, Fleming. Gostei deste seu conto, que narra a história de um homem caído na marginalidade, cuja vida passada na prisão ele recorda. Há um arrependimento sempre presente, principalmente por não ter estado com a família, e a ligação ao tema existe tanto na nostalgia desde facto como na porta da prisão que separa os dois mundos, o da liberdade e o da sua privação. É quase um remake do crime e castigo de Dostoievski, que é rematado de uma forma bem sucedida, mostrando o paralelismo entre a sua história e a dor de quem está do lado de “cá”, e vai visitar os seus familiares à cadeia.

  11. claudiaangst
    3 de dezembro de 2024
    Avatar de claudiaangst

    Olá, autor(a), tudo bem?

    Neste desafio, usarei o sistema ◊ TÁ DITO ◊ para avaliação de cada conto.

    ◊ Título = NEM TODA SAUDADE É VONTADE DE REGRESSO. Título com um quê poético e reflexivo.

    ◊ Adequação ao Tema = Tema nostalgia abordado de forma sutil, não é que o protagonista sentisse falta daquele lugar, mas mantinha um elo nostálgico com o que vivera ali, dentro daquele presídio (visitas do pai e da mãe, esperança de algum futuro).

    ◊ Desenvolvimento = O conto se desenvolve conforme o narrador expõe as lembranças que constroem a vida do protagonista. Há uma volta à infância, o registro dos primeiros furtos, a retenção, a prisão, as visitas do pai e da mãe, a perda de tudo.

    ◊ Índice de Coerência = Não percebi falhas na coesão ou detalhes que fugissem à uma linha coerente de raciocínio

    ◊ Técnica e Revisão Linguagem coloquial empregada, representando a fala dos personagens. Portanto, não se pode considerar incidência de erros gramaticais nesses casos.
    Algumas falhas fugiram à revisão:
    Amatagado > essa palavra existe?
    Papeis > papéis
    […] mas quem trampava > […] mas quem trabalhava (evitar usar gírias que destoem com a linguagem empregada na narração. Se for dentro da fala de um personagem, tudo bem.)
    […] mais de uma década mais velho > […] a repetição de “mais” tão próxima não soa bem.
    […] próximos quinze dias e o próximo dia > repetição próximos/próximo
    Há muitos anos os pais haviam partido > Há/haviam

    ◊ O que ficou = Uma tristeza indefinida por uma vida praticamente perdida. “[…] seu algoz à distância aprisionando entre seus muros a dedicação paterna, as visitas periódicas, a ajuda incessante, as longas conversas, o perdão possível.”

    Parabéns pela participação e boa sorte!

  12. Thiago Amaral Oliveira
    29 de novembro de 2024
    Avatar de Thiago Amaral Oliveira

    Olá Fleming, tudo bem?

    Seu conto tem um tom bastante realista, com pequenos toques poéticos. Por vezes esse tipo de história pode cair num tom sentimental demais, ou cru demais, tentando causar impacto no leitor. Acredito que você conseguiu evitar cair nessas armadilhas.

    A escrita competente nos ajuda a seguir o caminho do protagonista sem grandes solavancos, de forma simples e fluida. No entanto, na maior parte do tempo, não vemos nada muito diferente, inovador acontecendo. Apenas o que já sabemos que faz parte da vida de tantas pessoas menos favorecidas na sociedade brasileira.

    O começo do conto, no entanto, nos traz uma situação que achei bastante interessante: um jovem aproveita a profissão do pai para realizar pequenos furtos. Uma ideia boa, bastante promissora.

    O resto do conto, como já disse, não apresenta tantas novidades. Mesmo assim, a escrita competente faz com que a viagem seja agradável, apesar do tema indigesto. No fim, podemos pensar nas contradições de uma nostalgia estranha, agridoce, pela qual o protagonista passa. Um ângulo interessante para o tema.

    Obrigado e boa sorte no desafio.

  13. Fabio Baptista
    26 de novembro de 2024
    Avatar de Fabio Baptista

    A qualidade técnica de escrita aqui é inegável e provavelmente o maior mérito desse conto. Apesar dessa boa escrita, o tempo todo, sobretudo nos diálogos, fiquei com a sensação de que a história estava sendo contada por alguém distante da realidade ali descrita (não me refiro à pataquada progressista, com o perdão do pleonasmo, sobre “lugar de fala”, mas sim tipo o Dan Brown escrevendo sobre computadores em Fortaleza Digital). Pode ser que o autor me desminta e venha aqui relatar que já puxou 7 anos de cadeia, mas no geral minha impressão foi essa.

    Provavelmente esse efeito tenha se potencializado pela trama, típica daquelas miniséries manjadas da Globo. Todos os ingredientes estão lá. Tudo vai acontecendo por acontecer, sem que o leitor se envolva (eu pelo menos não me envolvi em algum momento). Tudo parece uma desculpa para chegar no parágrafo do “e se?” e bombardear as reflexões que acabam soando vazias devido à ausência de vínculo com o personagem.

    O tema também foi algo que passou batido. Era a porta da cadeia, eram as portas que o menino entrava no prédio em que o pai trabalhava, era a nostalgia dessas recordações? Acho que ninguém que lesse essa história sem saber previamente os temas seria capaz de adivinhar.

    Destaque positivo: “Então a liberdade era isso. (…) Sem dinheiro, sem destino e na moral.” esse parágrafo me tirou uma risada sincera, foi realmente muito bom. Pena que foi lá no começo e depois o conto ficou mais “distante”.

    BOM

  14. Elisa Ribeiro
    26 de novembro de 2024
    Avatar de Elisa Ribeiro

    Que conto maravilhoso! Sem nada a ponderar. Quer dizer, alguns clichezinhos, que não comprometem, entretanto, porque complementados por belas imagens e frases elegantes. Também há certo sentimentalismo meio caçador de lágrimas, mas oquei, sabemos que o desafio é amigo dessa trucagem. Você é um craque!

  15. Mauro Dillmann
    23 de novembro de 2024
    Avatar de Mauro Dillmann

    Conto bem escrito, a leitura flui bem.

    A imagem que ilustra, provavelmente de IA, parece condizer bem.

    Tem preocupação com o entendimento do leitor, o que fica evidente na repetição: “o preso havia esquecido de sua condição, havia se esquecido das regras do presídio” (a segunda expressão ‘havia se esquecido’ poderia ser facilmente eliminada). Também tem repetição de características da roupa do protagonista. Em uma passagem diz: ‘o rosto do pai mais de uma década mais velho’ [não seria melhor dizer apenas ‘o rosto do pai uma década mais velho’?].

    Cumpre o tema do desafio. Ao final, reforça a nostalgia e traz até certa compaixão do narrador para com o personagem.

    Um conto leve, mas um pouco monótono justo pelo excesso explicativo e pela lição moral que tenta passar.

    Parabéns!

  16. Gustavo Araujo
    19 de novembro de 2024
    Avatar de Gustavo Araujo

    Tenho sentimentos contraditórios em relação a este conto. Não há dúvidas de que no geral está bem escrito, que contém uma ideia interessante, mas falta algo. Se eu fosse adepto de leituras sabrinescas, diria que falta “alma”. Isso porque acompanhamos a história de Juninho de muito longe, sem muitas razões para nos afeiçoarmos a ele. Sim, é uma história triste – como a de tantos brasileiros vítimas de um Estado falido- mas que não chega a cativar. Penso que na literatura é preciso provocar emoção no leitor e não simplesmente escrever um relatório – o que me parece ter sido o caso aqui.

    Os fatos se sucedem, a escrita é competente, mas o drama em si não me comoveu. Não torci por Juninho, não sofri por ele. Meu eu leitor não foi atingido por sua existência miserável.

    Talvez algumas coisas expliquem essa minha dificuldade de aproximação com o protagonista, como por exemplo o uso inovador da palavra “algoz”, referindo-se a uma instituição e não a uma pessoa. Ou talvez os diálogos teatrais entre ele e seus amigos, uma emulação bem forçada, a meu ver, de um suposto dialeto de periferia. Ou talvez a explicação deficiente dos motivos que o levaram a passar 30 anos na cadeia – convenhamos que um homicídio culposo somado a meia dúzia de delitos menores não teriam esse condão. Ou ainda o fato de ter passado tanto tempo numa penitenciária sem atingir certa posição de liderança ou ser cooptado por alguma facção… Enfim, não me parece algo próximo da vida na prisão, como o que se vê, p.ex, em Estação Carandiru, do Dr Drauzio Varella. O que há aqui são clichês do gênero, nada mais.

    Outra coisa que me incomodou foi nostalgia ser tomada como sinônimo de saudade. Acredito que não sejam a mesma coisa. Pelo que entendo, nostalgia está mais atrelada a uma idealização de passado, algo que gera tristeza pela impossibilidade de ser revivido.

    No texto, Juninho rememora os dias de prisão mas não me parece que tenha vontade de revivê-los – ao contrário, já que carrega consigo uma tonelada de arrependimentos.  Ainda que se compre a ideia de que ele é como o personagem Brooks, de “Um Sonho de Liberdade”, alguém institucionalizado, acostumado à rotina da prisão, não creio que sofra de nostalgia como o simpático velhinho interpretado por James Whitmore que, posto em liberdade, quer retornar para a penitenciária. Juninho padece, em verdade, é de remorso.

    Enfim, um conto bem escrito, de boa técnica em termos gerais, mas que falhou no momento de cativar. De todo modo, desejo ao autor boa sorte no desafio.

  17. Kelly Hatanaka
    19 de novembro de 2024
    Avatar de Kelly Hatanaka

    Olá Fleming.

    Juninho é um menino pobre que, confrontado com as diferenças sociais e com as muitas faltas em sua vida, começa a praticar pequenos furtos. Não gosto do paralelo fácil de traçar, entre pobreza e crime, pois é injusto com a imensa maioria de não criminosos do mundo, e não acho que o texto tenha feito isso. Parece-me que os elementos que conduziram Juninho para o crime foram seus sentimentos e personalidade. Nota-se nele a inveja, a ganância, mostrados pelo texto ao pincelar seus pensamentos e descobertas a respeito do condomínio, quando criança.

    A história de Juninho, de sua infância às más decisões que o levaram a uma vida inteira encarcerado é contada de forma dinâmica. Começou com pequenos furtos, quando criança, passou para assaltos quando jovem, virou mula e, por fim, latrocínio. A combinação de más decisões com más companhias o empurrou em direção a seu destino.

    O tema foi abordado de maneira original. Fala sobre nostalgia, mas a nostalgia de algo ruim, da vida no presídio, que foi praticamente a única vida que Juninho viveu. Não é vontade de regresso, como diz o título, mas uma forma de rever a própria vida. Que saudades teria uma pessoa que teve pouca felicidade em sua vida? É possível uma vida sem saudades? Ou temos sempre a falta de alguma coisa?

    Um conto irretocável, lindamente escrito e bem revisado. É um texto que foi, além de bem pensado, repensado, reescrito, lapidado. Um primor.

    O pai e a mãe mostram a passagem do tempo e as perdas que Juninho vai sofrendo. O pai se afasta emocionalmente dele quando percebe que o está perdendo para o crime. A mãe se preocupa e se mantém a seu lado durante a prisão, visitando-o, levando presentes e comida. A perda, primeiro da mãe e depois do pai dão um sentido de desamparo a Juninho.

    Minha pitada de achismo: não tenho nem o que falar.

    Gostei ou não gostei: adorei. É dolorido e verdadeiro. Os personagens são definidos de forma precisa e rica e a narrativa prende a atenção desde a primeira linha. Parabéns.

  18. Marco Saraiva
    18 de novembro de 2024
    Avatar de Marco Saraiva

    É um conto muito triste, a reflexão de uma vida inteira levada pela correnteza dos eventos, cheia de arrependimentos. A ideia da nostalgia é secundária aqui, mas existe. Você escreve bem demais, usando um tom poético, que ajuda muito na ambientação do texto e que me trouxe para dentro dele. As falas também ajudam, são realistas e bem pensadas. O conto me deixou pensando nas perguntas que o personagem faz a si mesmo no final, sinal de que a leitura foi muito boa.

    Este trecho me pegou:

    “Teriam se abraçado se os corpos ainda se lembrassem de como fazê-lo.”

    Em pouco espaço você construiu o personagem e contou uma vida inteira. Esta leitura foi uma experiência e tanto. Acho que eu daria uma nota quase perfeita, não fosse a distância do tema. Afinal, nostalgia não é a mesma coisa que perguntar-se como a vida seria caso tomasse decisões diferentes, não e? Mas posso estar enganado, então não tirarei muito por causa disto.

    Parabéns! Excelente conto!

  19. MARIANA CAROLO SENANDES
    18 de novembro de 2024
    Avatar de MARIANA CAROLO SENANDES

    História: Um homem relembra como foi parar no sistema prisional brasileiro. 4/4

    Escrita: Excelente, sustentou a história muito bem. Não caiu no piegas, nem no conto pedagógico. Bem bom de verdade. 5/5

    Imagem e título: Adequados 1/1

  20. Givago Thimoti
    11 de novembro de 2024
    Avatar de Givago Thimoti

    Nem toda saudade é vontade de regresso – (Fleming)

    Resumo + Comentários gerais:

    “Nem toda saudade é vontade de regresso” é um conto dramático, que versa sobre a saída de um preso após a condenação (um tanto quanto errônea) pelo crime do latrocínio. O conto é um flashback, no qual ele relembra sua vida; como desde a infância ele tinha algum “pendor” para o crime (hum, eu particularmente tive algum problema com essa parte)

    Por mais que esse conto esteja bem escrito, eu não pude deixar de pensar como, por certos momentos, talvez no detalhe, ele é um tanto artificial, quase não sendo verossimilhante com a história que se pretende contar. Ainda assim, é um conto escrito de maneira competente.

    Frase/Trecho de impacto: “Um mês inteiro de salário em uma noite… Saiu da comunidade pilotando a moto, o amigo na garupa. Emparelharam junto ao alvo já mandando encostar. Foram fechando o carro, estreitando a rua. O garupa apontava a arma em direção ao para-brisa. O motorista pareceu reduzir, mas logo acelerou, quase acertando a roda dianteira da moto, desequilibrando a dupla. O garupa não hesitou e atirou, numa só rajada, uma bala e um palavrão

    Adequação ao tema (0 a 3) – Avalio se o conto aborda o tema proposto de forma coerente, aprofundada e relevante para o Desafio: 3

    Sim, nostalgia está bem presente no conto. Tema observado com sucesso. Próximo item

    Construção de Mundo e personagens (0 a 2) – Avalio a profundidade dos personagens e a ambientação, incluindo o cenário e como tudo interage para fortalecer a narrativa: 1,75

    Alguns detalhes transformaram esse conto com potencial da excelência em um conto apenas de bom para muito bom. Acho que dois pequenos detalhes influenciaram nisso; esse critério e o uso da linguagem.

    Sobre o primeiro, por vezes, durante a leitura, eu senti que era muito mais um conto escrito por alguém afastado dessa realidade. Claro, nem todos os contos são realistas e necessitam que o escritor tenha vivenciado, de fato, o que está escrevendo. Contudo, nesse conto específico, por vezes soou artificial a história. Exemplo, quando o menor de 18, aparentemente, atravessava carros com drogas na fronteira (aí a gente imagina o Brasil, continental), sendo que o sotaque dele parecia vir mais de São Paulo. Outro exemplo é a descrição da festa na comunidade. Me pareceu mais um relato do Cidade Alerta do que o que realmente acontece.

    Ainda assim, vou tecer meu elogio. O personagem é demasiadamente humano. Lembro de ouvir, certa vez, em um podcast, a definição psicológica do ser humano (das mais variadas que podem existir). O que define o ser humano é sua capacidade de ter consciência de suas atitudes, sejam elas boas ou ruins para si, e agir de tal forma a executá-las, mesmo sabendo que elas podem fazer bem ou mal para si. Exemplo, o que faz de uma pessoa humana é, ela tendo diabetes e consciência da doença e dos males que a glicose traz no seu corpo, tomar coca-cola e comer bolo de chocolate quando poderia não tomar ou reduzir os danos. Ou seja, ser humano é ter (pelo menos em parte) consciência das coisas boas e ruins que podem acontecer e, ainda assim, tomar decisões irracionais que irão causar prejuízos a si. E acho que o personagem principal talvez seja o melhor exemplo disso. E muito bem construído nesse sentido.

    Uso da linguagem (0 a 2) – Avalio a qualidade da escrita, incluindo o estilo, clareza, gramática e fluidez dos diálogos: 1,5

    A escrita está muito boa. É, pelo menos para mim, uma escrita competente e experiente. Claro, por vezes, desliza numa repetição. Intencional, talvez. Mas um recurso quase argumentativo meio chato.

    O que me incomodou um pouco foram os diálogos. Meio repetindo o que observei no último ponto, os diálogos às vezes parecem reproduzir artificialmente o que o senso comum de alguém de fora conhece. Exemplo: tem uma expressão assim “se liga no canal!” Parece mais uma expressão da internet do que algo realmente falado. Ou, por exemplo, “mamão”, que parece tão anos 80.

    Enfim, senti falta desse maior cuidado com os diálogos mais regionalistas (amo! Kkkaaka) para não parecer “hum, escutei na música do Mano Brown e acho que dá para usar aqui” quando na verdade não reflete a realidade.

    Estrutura Narrativa (0 a 1,5) – Examino o fluxo do enredo, a clareza da introdução, desenvolvimento e conclusão, e se o ritmo é adequado: 1,5

    O conto merece a menção máxima nesse aspecto. A história segue uma clara linha do tempo, contando a vida do personagem principal, dos momentos que ia para o trabalho com o pai, quando criança e as primeiras alterações que protagonizou até os momentos no qual o homem se viu trancafiado, perdendo a mãe e posteriormente o pai.  

    O leitor não se perde em nenhum momento e é conduzido tranquilamente.

    Impacto Emocional (0 a 1,5) – O quanto a história conseguiu me envolver emocionalmente, provocar reflexão ou cativar: 0,5

    É uma pena que esse conto não tenha conseguido me tocar. Talvez seja um conto seguro demais. Fato esse que, inclusive, não é demérito nenhum. Foi o que alavancou a nota, reflexo de um conto bem trabalhado, sem dúvida. Há aqui a experiência de um contista.

    Agora, em termos de cativar, envolver emocionalmente, o impacto foi baixo. Acho que a razão principal foi justamente a opção por contar a história com segurança, como se buscasse apenas o ótimo resultado do conto. É um grande flashback contado por narrador-observador e onisciente que conta a história do protagonista.  Não há grandes reviravoltas. E em decorrência disso e de sabermos, desde o início, o desfecho, vamos acompanhando uma notícia já batida.

    Não sei se essa era a intenção do conto, mas minha impressão foi a que li uma notícia de jornal. Para corrigir isso, ou investir num estilo de escrita mais intimista ou, talvez, mudar o enfoque da história. Focar talvez na vida dos pais, e o seu desenrolar enquanto o filho está trancafiado. Ou, por exemplo, falar nas dificuldades da reinserção dele na sociedade (embora isso esteja pincelado sutilmente)

    Acho que o conto tem potencial nesse aspecto, e é algo que pode ser trabalhado.

    NOTA FINAL: 8,25

  21. JP Felix da Costa
    9 de novembro de 2024
    Avatar de JP Felix da Costa

    A parte final vale o conto todo. Devo dizer que muitos termos usados não compreendi. Esfumam-se sobre o Atlântico e torna-se difícil a compreensão, mas não me impediu de compreender o sentido e a história. De início este conto não me prendeu, e continuo a achar que precisa de uma revisão. A execução das ideias nem sempre é a melhor e perde-se um pouco o fio ao enredo aqui e ali. Apesar destas falhas, que quase me afastavam do conto, a parte final faz esquecer todos as pequenas falhas anteriores. A história de uma vida, a irreverência da juventude, a revolta pela pobreza, o desviar por um (mau) caminho mais fácil para atingir o nível económico aspirado, o pagar pelo incumprimento com a sociedade e a maturidade da idade adulta que olha para trás e analisa a vida passada. O incontornável “e se?” que muitas vezes nos assoma ao pensamento. Teria sido melhor a vida, tendo em conta a sua origem, se tivesse ficado fora dos muros? As questões, sem resposta, que são colocada no final revelam um personagem a quem o peso da maturidade da vida e da idade fazem pensar de forma mais assertiva na vida e ver, de certa forma, os pontos positivos do seu infortúnios e se questionar se, realmente, foi um infortúnio ou não.

    Um conto que me foi conquistando aos poucos, mas que requer uma revisão. A execução nem sempre é a melhor e, em algumas partes, torna-se algo confuso.

  22. Luis Guilherme Banzi Florido
    6 de novembro de 2024
    Avatar de Luis Guilherme Banzi Florido

    Bom dia, amigo(a) escritor(a) do(a) Encontrecontos(as), tudo(a) bem(ena)?

    Primeiramente, parabéns por superar a nostalgia do desafio de trios e entrar no portal do novo certame! Boa sorte e bora pra sua avaliação(çã):

    Tema escolhido: nostalgia

    Abordagem do tema: 100%. Uma nostalgia tingida de arrependimentos e “ses”. Nem toda nostalgia é vontade de regresso, pelo jeito.

    Comentários gerais: esse conto é muito bem escrito. O autor claramente domina as técnicas de escrita, possui uma escrita muito técnica e correta, e utiliza bem as palavras. A condução da narrativa é eficaz e fluida, tornando a leitura do conto leve e rápida. O enredo é bastante simples, até demais, pra mim. Não existe nada muito arrebatador ou que tenha me causado emoções ou empolgado muito. A história de vida de um homem que passou 30 anos preso pelo crime que cometeu e por muitos que não cometeu. O autor aborda seu passado de forma muito competente, mostrando como, apesar dos avisos dos pais, o adolescente se envolveu com o crime, acabou envolvido num latrocínio, e perdeu metade de sua vida. O homem demonstra seu arrependimento e se questiona sobre como teria sido sua vida se as coisas fossem diferentes. O autor esboça o drama por meio da relação com os pais, que tentaram evitar que ele entrasse nesse caminho, sendo, no entanto, muito permissivos. O homem conquista o perdão da mãe, e após dua morte, também do pai, até ver os dois deixa-lo e terminar sozinho, cheio de uma nostalgia carregada de arrependimentos. Como falei, tudo é contado com bastante qualidade pelo autor, mas infelizmente, para mim, a história não marcou e não me tocou muito. Talvez a linearidade da história, que não tem momento de clímax ou conflito, e que apresenta uma história que pode ser deduzida logo ao início, tenha me tirado um pouco da imersão que o drama pretendia criar. Enfim, um conto de alguém que sabe muito bem o que está fazendo, mas que para mim, particularmente, foi um pouco linear e monótono demais, e pouco marcante.

    Sensação final: visitei o homem ao longo de sua longa sentença, e, apesar de aprender sobre ele e perceber seu remorso, acabei nao criando um vínculo emocional muito forte com ele. Fiquei feliz com sua saída, e espero que aproveite essa nova oportunidade e viva bem o restante de vida que tem.

  23. Thales Soares
    6 de novembro de 2024
    Avatar de Thales Soares

    O que achei deste conto: GENÉRICO.

    Veja bem… o conto está muitíssimo bem escrito, e a pessoa que o escreveu tem pleno domínio da escrita. No entanto, senti que a história não apresenta nenhum tipo de diferencial que chame a atenção do leitor, ou sequer prenda a atenção. Achei esta história tão genérica que ela poderia simplesmente ter sido enviada em qualquer dos desafios que tivemos este ano. Nostalgia? Sim, ela se encaixa. Roubo? Sim, também se encaixa. Recomeço? Sim, também daria certo. Mas isso não é um mérito, e sim uma história tão água com açúcar que não parece focar em tema algum.

    Acompanhamos aqui um véio que tem uma nostalgia dolorosa e cheia de arrependimentos. Ficou mais de 30 anos preso, e agora mora perto do presídio, vivendo um cotidiano solitário e sem graça, refletindo sobre sua vida.

    Ele lembra que teve uma infância humilde, onde vivia com seu pai, um zelador/faxineiro. De vez em quando ele roubava uns brinquedos, mas o pai nunca deu uma bronca. Aí ele ficou adolescente e, em troca de dinheiro fácil, começou a trabalhar com roubos e assaltos. Foi preso uma vez ou outra.

    Aí teve uma hora que ele foi preso por bastante tempo, e realmente se fodeu. A mãe visitava ele com frequência, mas depois ela morreu e parou de ir. Aí o pai começou a visitar ele toda semana. Mas aí eu acho que o pai morreu também. Então ele foi solto, e se deu conta de que a vida dele tinha sido uma merda. Fim.

    Poxa…….. eu realmente não consegui criar conexão alguma com este conto, e, sinceramente, eu estava um pouco ansioso para que acabasse. Até achei que ele se alongou demais. Não teve nenhum climax, nenhum conflito de personagens, nenhuma reviravolta, nada. Foi apenas…… uma vida de amarguras.

    De qualquer forma, boa sorte no desafio.

  24. Bruna
    4 de novembro de 2024
    Avatar de Bruna

    👏👏👏

  25. vlaferrari
    3 de novembro de 2024
    Avatar de vlaferrari

    Comentar o quê? Poderíamos encher o espaço do comentário com o emoji das palmas. Um texto leve e gostoso de ler, que vai desenhando um olhar fixo na muralha, um olhar que diz tanto quando frases colhidas aqui e ali: “Seu mutismo gritou odiadas culpas.” Ou então: “Ninguém escreveu pra falar do óbito. Nem seria preciso. Vinha escrito aos poucos, numa longa missiva, a cada visita.” Poderíamos sugerir utilizar a descrição do cansaço vívido do protagonista, imóvel com as mãos cruzadas sobre o cabo da enxada. Mas para quê? Está tão perfeito. A medida que a narrativa se desenrola é possível enxergar o homem parado ali, “diante do seu algoz”, quase que um esforço de camaradagem, que se revela um novo “e se …” na cabeça de quem escreve bem menos do que o autor desse “Nem Toda Saudade …” Adorei, talvez seja o comentário mais correto. Conseguiste captar uma grande estória em um instante. Parabéns.

  26. Antonio Stegues Batista
    3 de novembro de 2024
    Avatar de Antonio Stegues Batista

    Gostei do conto, embora o enredo não seja original, existem muitas histórias iguais, o texto é interessante porque é bem escrito. As palavras combinando e dando sonoridade agradável às frases, apenas o início que ficou meio confuso. A história comum de um menino que não gostava de ser pobre. Se rebelou por ter pouco e cobiçou o bem alheio, iniciando uma vida de crimes. Nem a cadeia o modificou, saiu, voltou a roubar, voltou pra cadeia. Assim envelheceu, pensando que se não tivesse feito o que fez, teria tido uma vida melhor. Se tivesse seguido o conselho do pai, não estaria ali, talvez poderia ter tido uma boa vida, ter se casado, ter tido uma família, alguém que estaria ao seu lado na hora da morte..

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Publicado às 2 de novembro de 2024 por em Nostalgia e marcado .