Que pecados habitam a mente das pessoas? A questão permeia do início ao fim o provocativo Histórias Escritas na Água, de Sonia Zaghetto, uma odisseia pelo inconfessável que se instala nos labirintos de nossos pensamentos.
Associe a uma tempestade que se adensa no horizonte, prenúncio de arrebatamento e temor. Ainda insondável, mas que por certo nos há de alcançar.
O protagonista, cujo nome não parece importar, chega a uma pequena cidade na região amazônica e precisa contratar um guia que o levará a uma região erma, floresta adentro. A certa altura, em meio a chuva, deparam-se com um casebre, onde entram para se abrigar. Ali, uma mulher descansa sobre uma mesa improvisada. Está morta. Logo, pessoas chegam para o funeral, seres estranhos, mas ainda assim reconhecíveis.
Entre o martelar insistente das gotas no telhado e os sussurros da mata, decidem contar histórias. Suas histórias. É como se cortassem os próprios corações, libertando com isso infinitas mariposas, donas de segredos dolorosos.
Uma atmosfera onírica se adensa, dominada por uma espécie de nevoeiro mental algo opressivo, que permite ao protagonista enxergar a si mesmo preso a tramas de um lençol cujas linhas são tecidas por rocas dolorosamente familiares. Realismo mágico ou realidade pura, dessas que desnudam as pessoas ao ponto da transparência e da fragilidade?
Habilmente, Sonia Zaghetto opera a desconstrução da psique humana e, em larga medida, da imagem do próprio leitor. Isso porque o espelho que reflete a alma do protagonista, diante das histórias que escuta, também o faz em relação a nós, delineando em 4k nossas iniquidades mais recônditas.
Ao navegarmos pelas tormentosas correntes da vaidade, da vergonha, da inveja – ah, a inveja de Deilos, tão dolorosa, tão verdadeira, tão repulsiva –, da traição, do ciúme, da vingança, do ódio, nos imaginamos sozinhos, mas em seguida percebemos que nessa jornada ao fundo da alma temos companhia em profusão. É só olhar para os lados.
Constatações que decorrem da prosa envolvente da autora, que conhece os abismos em que nossos demônios permanecem à espreita, prontos a nos seduzir, bastando, para isso, uma história bem contada.
Querido Gustavo, estava na Itália e só agora pude agradecer e responder à sua incrível resenha. Obrigada a você pela generosidade. E também aos queridos aqui do grupo pelo apoio. Na semana que vem vou anunciar a venda do livro impresso (capa dura) pela Amazon americana (ele concorre ao prêmio Kindle de Literatura e e uma exigência do edital que seja vendido em versão impressa somente pela Amazon) e vou abrir uma lista para quem quiser evitar o frete dos EUA para o Brasil.
Há 4 anos, Sonia Zaghetto participou do Desafio Amazônia, com o conto Iara, onde mistura realidade, fantasia e mito. Jornalista e escritora fantástica, ela se surpreendeu ao ver que eu inclui no meu conto, o ator de cinema, Klaus Kinski. Na época que se passa a história, ele estava na Amazônia filmando Fitzcarraldo.
Sonia- (Confesso que dei uma risada gostosa quando li o nome de Klaus Kinski (juro que disse um “no way!”).
Olá boa, Gustavo! Tudo bem?
Isso que é resenha! Instiga, de maneira poética, o leitor a querer saber mais! Parece muito interessante e um pouquinho assustador encarar uma leitura, tão reflexiva sobre a natureza humana, quanto essa.
Vou procurar o livro! Obrigada pela dica!
Pronto, mais um pra listinha que não acaba nunca. Fiquei com vontade.
Leio um livro, surgem mais dez que me interessam.
Ah, que legal! Vou comprar o livro assim que for lançado impresso no fim do ano! Amo tudo o que a Sonia escreve! 😍