
— Por que uma mulher madura, digamos sexagenária, nem feia nem bonita, não desempenha o papel de amante em uma trama? Só as jovens e belas podem ser adúlteras?
Alguém na plateia citou as adúlteras mais conhecidas na literatura: Anna Kariênina, Madame Bovary, a Luísa de “O Primo Basílio”, a sempre polêmica Capitu. Todas relativamente jovens e reconhecidas como mulheres atraentes.
Um rapaz na última fileira levantou a mão e pôs-se a falar, antes mesmo de obter qualquer permissão.
— Ontem, maratonei uma minissérie alemã e uma das personagens tinha pulado a cerca com o detetive. Não era uma atriz jovem e tampouco bonita, na minha opinião.
Formou-se um leve burburinho, com opiniões desencontradas. A beleza apresentada em contraste ao envelhecimento era o foco em mitos, fábulas, romances, filmes, novelas, histórias de “ouvi-dizer-que”.
— Mas voltemos ao tema: que relação podemos estipular entre a beleza, o amor romântico e as estações do ano? A juventude e a beleza encontram-se atreladas à primavera ou ao verão? Qual o seu significado real? Podemos perceber a beleza somente no seu auge?
Paula sabia o que viria depois da sucessão de perguntas: uma alusão à crescente indefinição das estações, à mudança abrupta das condições climáticas e aos vários comportamentos despertados pelos preconceitos. E o reforço de significado vinha com um estalar da língua no céu da boca e a separação da palavra: PRÉ-CONCEITO. O ritual se repetia a cada palestra. Não fosse a reação inesperada dos estudantes e demais interessados, aquela seria mais uma peça encenada diariamente com o mesmo protagonista e as mesmas falas.
Encarou o desafio do tédio, projetando as imagens solicitadas com certa impaciência. O trabalho era mecânico, e ela poderia ser substituída por qualquer um ali, mas apesar disso, queria continuar empenhando a tarefa atribuída. Adorava aquele palestrante, a dicção limpa e as pernas longas. Possuía uma alma tão poética e era tão belo que se tornava difícil prestar atenção no que dizia. Ainda bem que ela já havia decorado as ideias e citações. Assim podia sentir o raciocínio descer em espiral, enquanto tentava desculpá-lo por ser tão pouco criativo. Não era mesmo dado a improvisações.
— Então, como todos sabemos, a natureza, privada de calor, aguarda a primavera. Daí surgem também os novos amores, brotam as expectativas. É preciso respeitar o ciclo natural.
Paula bocejou pela terceira vez. O tédio daquele outono invadia sua mente com o perfeccionismo de um conta-gotas. Lembrou-se da sensação que tivera naquela mesma manhã ao andar sem rumo, pisando nas muitas folhas caídas pelo chão do campus universitário. Apesar de apreciar as belas cores mescladas, sentia vontade de amassá-las e triturar suas estruturas já sem seiva. Não seria crueldade, porque ali nada mais existia a não ser a lembrança do que já havia sido vida. Um amor passado, apagado pelo tempo, um brilho desperdiçado em um momento de luto, uma ilusão há muito ceifada. Tudo viraria pó espalhado pelo vento. E isso também era belo. Talvez por isso, a mulher da tal minissérie podia ser considerada bela, apesar do aspecto envelhecido e sem viço. Era bela porque guardava em si o esplendor do que já havia sido, o registro histórico do próprio encanto.
— Fim do inverno, da hibernação que transforma tudo em latente espera. Hora do despertar da vida, do recomeçar.
O homem, que lhe despertava inquietação hormonal, também era capaz de se tornar enfadonho, repetindo chavões como mantras de autoajuda. Já o ouvira tantas vezes que as palavras provocavam calos em sua mente. Um homem muito atraente, interessante sob muitos pontos de vista, mas ainda assim…
De repente, só conseguia pensar nas folhas espalhadas sob seus pés, imaginando-os descalços. Era como remexer no próprio passado, nas emoções que se acobreavam dentro de si. As folhas adquiriam veios enferrujados, perdidas cores que desbotavam em contornos tênues. Paula também parecia desaparecer aos poucos. Sentia-se misturar ao solo como o barro formado pela última chuva em apressada alquimia.
— Mas esta não é uma ideia romântica demais para os tempos de hoje?
Alguém lançara a pergunta de um ponto próximo a ela. Ah, fora o próprio Moacir. Esse era o nome dele. M-O-A-C-I-R, soletrou o nome mentalmente, saboreando a familiaridade daquelas letras. Um nome de velho, pensou. Quem se chama Moacir hoje em dia? Velho como o outono, pior, antigo como o inverno.
— Não se pode desdenhar do sorriso da primavera, do seu querer ficar, do impulso que sempre nos traz à vida.
O homem era um poeta, mas entendia tão pouco da verdadeira poesia, aquela que se insinua antes mesmo que se abra os olhos a cada despertar. Ele conhecia o tecer dos versos, mas não as rimas que importavam de fato.
Paula duvidava que ele dissesse palavras assim doces à mulher, ali ao seu lado. Inclinada sobre uma mesa coberta de papéis, mal prestando atenção à fala daquele que deveria ser seu amado, o escolhido para toda uma jornada, a também professora, Diana, parecia estar a um passo de cair em sono profundo. Ah, ainda era outono e, decerto, esperava atravessar mais um inverno, a hibernar no amor seguro, inóspito e previsível.
— A vida experimenta novamente o dom de se renovar.
Sim, era verdade. E a primavera, um dia, acenaria logo ali na próxima esquina. Assim, aguardaria estrear, a princípio tímida em botões pequeninos e aos poucos se tornando exuberante e explosiva. Proclamaria um escândalo de cores e seria o próprio recomeçar.
Talvez fosse essa toda a verdade: uma estação após a outra. Deveria aguardar o florescer, sem querer fugir das eventuais chuvas que viriam. Seria tudo diferente, Paula decretou para si mesma ao terminar seu trabalho e sair do auditório.
Sentiu um golpe de vento gelado. A sensação era estranha e ao mesmo tempo muito familiar. Quase uma visão, um presságio incompleto. Fechou os olhos na esperança de não ver nada, nada mais.
Após vinte minutos de caminhada, Paula chegou em casa, afogueada. Trocou algumas palavras com a mãe, tentando resumir rapidamente a palestra. Não, não havia recebido o pagamento ainda. Era pouco, mas valia pelo acréscimo em seu currículo, embora Paula não pudesse revelar o verdadeiro interesse naquele trabalho.
A mãe notou a ansiedade crescente tanto no olhar quanto nos gestos de Paula. Nos últimos dias, tornara-se constante a oscilação de humores. A filha estava sempre apreensiva, aguardando mensagens misteriosas. Algo havia despertado uma maciça tensão, um desconforto mal encaixado entre as poucas palavras e o suspirar contínuo.
— Vou descansar um pouco — disse com um sorriso nitidamente forçado.
A mãe cessou o questionário e desistiu de conhecer a resposta que mais lhe interessava. Um dia, reconheceria a verdade. Afinal, as mães sabem de tudo. Sempre.
Paula sabia que tudo era questão de tempo. Esperaria mais uma noite. O amanhã parecia distante demais e surgia como um reflexo de linhas turvas. Não faria perguntas, deixaria tudo fluir, sem insistir. Ainda não tinha alcançado qualquer retorno. Não do lado de lá. Havia somente um eco, repetindo, um a um, os seus anseios.
Pegou o celular com as mãos trêmulas pela excitação. Procurou por algum sinal, com certo receio. Nada ali. De novo, o silêncio, a indecisão de um chamado adiado. O tempo parecia desafiar suas expectativas com pausas e longas esperas. Hoje, não. Hoje, ela havia resolvido empurrá-lo para fora do compasso. Estava com pressa, mais pressa do que deveria, na impossibilidade do imediatismo desejado.
Desconhecia qualquer rota de fuga possível. Aconteceria o que tivesse de acontecer. Naquele dia, na manhã seguinte, talvez dali a duas semanas. Por um dia, talvez um mês, até a perdição. Não, não era uma maldição, nem praga, nem delírio. Era apenas a vida desenvolvendo-se, tomando vulto no espaço que lhe competia.
Temia se aproximar demais do próprio reflexo e cortar suas esperanças no vidro frio da realidade. Existia algo ali que se traduzia em puro temor. Como se tudo o que fosse viver no futuro estivesse condensado em um único sorriso. O sorriso de um homem. Não o dela.
Atenta aos sons e, ainda mais aos silêncios, Paula ouviu o celular tocar. Esticou o braço para alcançar possibilidades, desviando-se do rolar da imaginação, dos inúmeros pensamentos que surgiam.
Na estreita tela do celular, um nome brotava: Moacir.
*
Enquanto caminhava, sentiu o vento soprando de maneira preguiçosa as folhas que se espalhavam pela rua. A dança incerta parecia bonita diante de um primeiro vislumbre, mas Paula sabia que, no fim do dia, elas estariam perdidas na imensidão da cidade. E, pouco tempo depois, aquilo que nelas sobrava de vida se esvairia.
Encolheu-se com o frio.
A mensagem havia sido enevoada, como as palavras que ela mesma soprava quando estavam a sós.
Moacir sugeriu que ela visitasse sua casa para receber o pagamento. Ela estava fazendo um ótimo trabalho. Ele não esperava que fosse tão boa. Paula jamais havia visto alguém ser elogiada por passar slides. Mas ele era, de muitas maneiras, antiquado e podia estar apenas tentando um elogio gentil. Se isso era verdade, contudo, por que mencionar, de maneira tão casual, que Diana estaria em uma reunião na faculdade e que esperava que Paula não se importasse?
Se ele tinha qualquer dúvida sobre as intenções de sua assistente, elas desapareceriam quando visse o vestido que usava sob o casaco. O decote em V era discreto e complementado por alças finas que se entrelaçavam nas costas, deixando seus ombros à mostra. O tecido era macio e escuro, moldando-se às suas curvas, revelando de forma provocativa a tenacidade da juventude.
À noite, a peça era perfeita para cativar olhares rápidos nas casas noturnas e nas festas universitárias. Às quatro da tarde, na casa de um homem com quem trocara flertes, em um encontro aparentemente casual quando sua esposa está ausente, o seu propósito é claramente outro.
A casa era o que se podia esperar de um casal de professores universitários bem-sucedidos. O jardim era amplo, enfeitado por flores e árvores frutíferas. O ar doce era uma dádiva das murtas ali plantadas. O muro baixo em pedra era parecido com os outros da vizinhança e contrastava com o resto da cidade, que desde muito aprendera sobre a importância da autopreservação.
Moacir foi ao seu encontro poucos minutos depois de tocar a campainha. Ela lançou um rápido olhar aos arredores, de repente sentindo que cometia um crime.
— Foi difícil chegar aqui?
Paula combateu a urgência de dizer que sim, que quase deu meia-volta algumas vezes.
— Não muito. Seu jardim é lindo.
Ele deu de ombros.
— A beleza sempre me encantou — disse, pegando uma maçã em uma das árvores. — Para você.
Paula pegou a fruta, mas não mordeu. Não ainda.
— Ah, entra, por favor. Vamos conversar melhor lá dentro.
Ele tocou suas costas com delicadeza, conduzindo-a pelo quintal. Ela sentiu a mão dele descendo pela sua cintura e se perguntou mais uma vez o que estava fazendo. Atravessou a porta da sala, aceitando o calor que emanava da lareira. Removeu o casaco e, não muito tempo depois, mordeu a maçã.
*
Sua mãe questionava as saídas repentinas que se seguiam ao toque do celular. Ela fez o melhor que pôde para diversificar seus motivos. Houvera vezes em que Paula quis, verdadeiramente, explicar o que estava fazendo. Por que estava fazendo. Mas nem ela sabia com certeza.
A primeira vez com Moacir foi de difícil definição. Havia sido como observar uma terrível tempestade varrendo a costa. O fenômeno trazia estranha beleza para aqueles que o observavam em segurança. Havia, sem dúvidas, motivos para as forças da natureza serem adoradas em tantos lugares e em tantos tempos. A chuva, enfim, viera, mais forte e frequente do que Paula esperava. A tempestade a soprou, a molhou, a conduziu. E ela adorou.
Ou acreditava que deveria adorar.
A cada vez que a tempestade se formava novamente, Paula sentia que dava um passo para trás. E outro. E outro. Admirava-as cada vez menos. Importava-se cada vez menos. Não sabia se o sorriso que brotou em seu rosto na primeira vez que sentiu tamanha tempestade estava realmente ali, ou se era apenas uma marca deixada pela chuva e pela lama.
Seguiram-se mais palestras, reuniões, encontros. O outono desabrochando em todo seu esplendor. Mas também morrendo. Porque o frio começava a esticar seus dedos gelados em volta de tudo aquilo que era belo. E de tudo aquilo que fingia que era belo, lembrando a tolice daqueles que anseiam por um outono eterno.
E foi em um dia frio que Paula recebeu outra mensagem. Um convite como o da primeira vez. Diana em outra reunião. Outro pagamento pelo excelente trabalho de passadora de slides. Uma volta ao início. Talvez precisasse daquilo para se aproximar de novo da tempestade. Por Deus, precisava de alguma coisa.
— Outra reunião? — A mãe perguntou, fingindo desinteresse.
Paula esticou o rosto, tentando um sorriso.
— Sim e dia de pagamento!
E, de repente, a mãe pareceu preocupada.
— Paula, está tudo bem?
— Como assim?
— Você tá chorando?
Paula levou a mão aos olhos e, sim, havia lágrimas.
— Acho… acho que estou com alergia.
— Filha, o que tá…
— Desculpa, mãe, eu tenho que ir, senão vou me atrasar. Depois compra antialérgico? — disse, rapidamente ganhando as escadas e o próprio quarto.
Na cozinha, a mãe suspirou. Sempre acreditou em dar espaço aos filhos para que navegassem nas próprias experiências e aprendizados. Sim, eventualmente saberia exatamente o que acontecia. As mães sempre sabem. Mas nem sempre a tempo, pensou sombria.
Usou exatamente a mesma roupa que da primeira vez.
Esperou o mesmo sentimento de incerteza que soprara seu corpo, mas não houve nada. O frio estava ali, mas era inerte, morto. Não havia folhas dançando. Não havia vento. E, Paula descobriu desconfortável, não havia vontade de voltar. Tampouco de seguir adiante.
Ainda assim, lá estava ela mais uma vez perante a casa de portão branco, muros baixos, jardim e pomar. O bairro tranquilo, exatamente como outrora. É verdade que a grama era agora mais espectral e as frutas menos constantes. Contudo, nada tão diferente.
Tocou a campainha e sentiu o coração pular uma batida quando avistou a pessoa atravessando o jardim. Não era Moacir.
Diana caminhava com um casaco branco sobre o corpo e um olhar confuso no rosto. Paula sentiu-se menor diante da mulher e quis imediatamente alcançar o celular para conferir se havia lido o dia, ou talvez o horário de maneira errada. Diana estava maquiada e nitidamente pronta para sair a qualquer momento.
— Paula? — perguntou, sobrancelhas arqueadas em surpresa.
— Oi, Diana. Tudo bem?
— Aham.
O silêncio começou a preencher o espaço entre as duas, Paula começou a sentir o rosto queimando.
— Então, o Moacir pediu para eu vir pegar o pagamento.
— Ah.
Diana ficou em silêncio por mais alguns segundos antes de abrir o portão.
— Ele esqueceu de me falar. Vem, ele tá tomando banho.
Caminharam pelo jardim em passos lentos. O silêncio dando trégua entre as folhas secas pisadas. Assim que atravessou a porta da sala, pôde ouvir a torrente de água do chuveiro no andar de cima e o calor abrasivo da lareira.
— Quer me dar seu casaco? — Diana perguntou.
Lembrou-se do vestido.
— Estou bem.
— Não está com calor aqui dentro?
— Sempre sinto muito frio — disse, lutando contra o suor brotando no pescoço.
— Ah.
Diana guiou Paula até a cozinha e disse para que se sentasse.
— Se for uma hora ruim, posso voltar depois.
— Bobagem.
— Você tá arrumada, devem ter planos.
— Eu tinha uma reunião na Universidade, mas cancelaram. Então decidimos sair, mas não estamos com muita pressa.
Lá de cima, ouvia a água cair ininterruptamente.
— Quer um pouco d’água?
— Pode ser.
A água estava gelada e ajudou a reduzir a temperatura do corpo. O suor deu uma pequena trégua, mas sabia que não duraria muito.
— Me diz, você tá se divertindo?
— O quê?
— As palestras. Está gostando do trabalho?
— Ah, sim.
— No seu lugar eu acharia um saco. Eu não aguento mais ouvir falar sobre primavera, amor, inverno.
Diana deu as costas à Paula e foi até o balcão da cozinha.
— Está com fome?
— Estou bem.
A mulher pôs algo sobre um suporte de madeira e começou a cortar com a faca. Um movimento rítmico de vaivém, coroado pelo som da batida sempre que a lâmina atingia o suporte.
— É sempre a mesma coisa. Claro, uma pequena mudança aqui e ali, mas o tema, as palavras, as poesias vazias… E eu gostava delas quando a gente era mais novo. Mas você enjoa, depois de um tempo.
O chuveiro continuava a cair ininterruptamente e Paula notou que uns bons minutos haviam passado desde que chegara. Seu copo agora estava vazio, e o calor começava a exigir água de seus poros. O silêncio cresceu na cozinha, até que Diana pôs a faca de lado e se virou.
— E na cama, sabe, é a mesma coisa. Você começa encantada com os movimentos, os toques, a atenção, a violência, mas depois de um tempo começa a perceber que é a mesma coisa sempre. O carinho, a animalidade, tudo repetição. Tudo vazio.
A cozinha ficou em silêncio e mesmo o barulho eterno da água caindo no andar de cima parecia mudo.
— Você sabe como é.
Paula sentia agora o suor brotando no corpo, no pescoço e no rosto.
— Tem certeza que não quer tirar o casaco?
Paula sentiu o suor correr mais rápido. Diana a observava com um olhar que misturava curiosidade e algo mais, algo que Paula não conseguia identificar.
— Não, estou bem assim — respondeu, a voz ligeiramente trêmula.
Diana se aproximou, cada passo ecoava na mente de Paula. Parou a poucos centímetros dela, o rosto sereno, mas os olhos pareciam penetrar em sua alma. Diana estendeu a mão e tocou levemente o casaco de Paula, como se estivesse testando a temperatura de uma panela no fogão.
— Não precisa mentir para mim, Paula. Eu sei que você não está confortável. E também sei que você e Moacir… — Diana pausou, procurando as palavras certas, — têm se encontrado fora das palestras.
Paula sentiu como se o chão estivesse prestes a ceder sob seus pés. Sua mente buscava desesperadamente uma resposta, algo que pudesse dizer para se defender, para explicar, mas as palavras lhe faltavam.
— Não precisa negar — continuou Diana, a voz suave, quase maternal. — Eu já sabia há algum tempo.
O silêncio entre elas se tornou insuportável. Paula queria sair correndo, queria gritar, queria desaparecer. Mas estava paralisada.
— Eu entendo — Diana continuou, sentando-se ao lado de Paula. — Entendo o que você vê nele. Eu também vi. Mas o que você talvez não entenda ainda é que o que você está procurando nele, o que você acha que vai encontrar… não está lá.
Paula olhou para Diana, tentando compreender o que ela estava dizendo. Sentia-se como se estivesse sendo levada em um turbilhão de emoções, sem saber onde iria parar.
— Moacir é… previsível — Diana disse, escolhendo as palavras com cuidado. — E por mais que isso possa parecer reconfortante no começo, a previsibilidade mata a paixão. Mata a alma. Eu sei que você é jovem, Paula. E eu sei que você está tentando descobrir o que é o amor, o que é o desejo. Mas eu te digo, o amor, o desejo… são imprevisíveis. São incontroláveis.
Diana olhou profundamente nos olhos de Paula, e por um momento, Paula sentiu como se estivesse olhando para um espelho que refletia o futuro que ela não queria ver.
— Você tem a sua vida toda pela frente. Não se prenda a algo que já está morrendo, que já está esgotado. Não siga pelo mesmo caminho que eu.
As palavras de Diana perfuraram o coração de Paula, trazendo à tona uma tristeza que ela não sabia que existia. Ela olhou para Diana, não mais como a esposa do homem que ela desejava, mas como uma mulher que havia experimentado e sobrevivido àquilo que ela mesma estava começando a experimentar.
O chuveiro parou de correr no andar de cima, e o silêncio da casa se tornou ainda mais pesado. Diana se levantou, foi até a pia e lavou as mãos, deixando Paula com seus pensamentos e com a revelação que acabara de receber.
— Eu vou te dar o que você veio buscar — disse Diana, voltando à mesa e colocando um envelope na frente de Paula. — Mas faça um favor a si mesma. Pense bem antes de decidir o que realmente quer da vida.
Paula pegou o envelope, sentindo o peso das palavras de Diana em sua mente. Ela sabia que aquela visita tinha sido mais do que uma simples troca de dinheiro. Algo havia mudado dentro dela, algo que ela ainda não compreendia completamente, mas que sabia que não poderia mais ignorar.
Levantou-se e, com um aceno de cabeça, saiu da casa sem olhar para trás. Enquanto caminhava de volta para casa, a maçã que Moacir havia lhe dado parecia mais pesada em sua bolsa, como se carregasse todo o peso de suas escolhas, de seu futuro incerto.
Ela sabia que, naquele momento, o outono finalmente chegara ao fim. E com ele, algo dentro dela também.
Paula caminhava pelas ruas, com os pensamentos confusos e o coração apertado. O peso do envelope em sua mão parecia aumentar a cada passo, e a maçã na bolsa tornava-se um lembrete constante de Moacir, de tudo o que ela pensou que sentia por ele, de tudo o que ela acreditava que poderia ser.
As palavras de Diana ecoavam em sua mente. “O amor, o desejo… são imprevisíveis. São incontroláveis.” Aquilo mexia com ela, perturbava suas certezas. Moacir sempre fora uma presença constante, uma figura de segurança em sua vida caótica. Ele era o porto seguro que ela tanto ansiava, alguém que parecia compreender suas dúvidas, seus medos. Mas agora, pela primeira vez, Paula começava a questionar o que realmente significava essa segurança.
Ao chegar em casa, Paula se trancou em seu quarto. Sentou-se na cama, olhou para o envelope lacrado em suas mãos. Sabia que ele continha o pagamento que havia combinado com Diana, o dinheiro que ajudaria a cobrir as despesas dos estudos. Mas agora, aquilo parecia tão insignificante. Era como se o valor material tivesse perdido o sentido diante da revelação emocional que ela havia experimentado.
Lentamente, Paula abriu o envelope. Contou as notas, mas não sentiu a alegria ou o alívio que esperava. Em vez disso, sentiu uma pontada de culpa, como se aquele dinheiro estivesse impregnado de um peso que ela não queria carregar. Era como se a decisão de aceitar o dinheiro, de continuar seguindo o caminho que estava trilhando, fosse uma escolha que a afastava ainda mais de si mesma, de quem ela realmente queria ser.
Naquela noite, ela não conseguiu dormir. As palavras de Diana, as memórias de seus encontros com Moacir, tudo parecia girar em sua mente sem cessar. Ela se perguntava se estava mesmo apaixonada por Moacir ou se era apenas uma ilusão, um desejo de encontrar algo que ela ainda não entendia. Seria ele o reflexo de uma carência profunda, de uma necessidade de ser amada, ou havia algo mais ali, algo que ela ainda não havia descoberto?
Ao amanhecer, os primeiros raios de sol entraram pela janela, banhando o quarto em uma luz suave. Paula se levantou, sentindo uma estranha sensação de clareza. Sabia que precisava tomar uma decisão, mas não era sobre Moacir, ou sobre Diana, ou sobre o dinheiro. Era sobre ela mesma, sobre o que realmente queria para sua vida.
Pegou a maçã na bolsa e a segurou por um momento, observando sua superfície lisa e brilhante. Por um instante, sentiu-se tentada a jogá-la fora, a se livrar de tudo que aquela fruta simbolizava. Mas, em vez disso, deu uma mordida. O sabor doce e ácido explodiu em sua boca, e ela percebeu que, assim como a maçã, sua vida também era uma mistura de sabores, de experiências que ela ainda estava aprendendo a saborear.
Com um suspiro profundo, Paula decidiu que precisava de um tempo para si mesma. Pegaria o dinheiro, mas não o usaria ainda. Guardaria, como um símbolo de que ela tinha escolhas, de que poderia decidir o que fazer com sua vida, com seus sentimentos. E, acima de tudo, de que não precisava se prender ao que os outros esperavam dela.
Naquele dia, Paula não foi às aulas, nem encontrou Moacir. Em vez disso, foi até o parque, o lugar onde costumava caminhar sozinha, onde conseguia ouvir seus próprios pensamentos. Sentou-se em um banco, deixando o sol aquecer seu rosto, e fechou os olhos, respirando fundo.
Ela sabia que a jornada estava apenas começando, que ainda tinha muito a descobrir sobre si mesma, sobre o amor, sobre o desejo. Mas, pela primeira vez em muito tempo, sentiu-se em paz. A primavera estava chegando, e com ela, a promessa de um novo começo.
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Buenas!
Dessa vez farei uma avaliação mais pessoal, apontando o impacto do conto em mim.
Diferente do pessoal, meu problema com o conto não foi o final. É um bom conto, achei coeso, no geral, mas a história não me cativou. Admito que achei a leitura chata.
Trata-se de uma história de autodescoberta, através do pecado, através da chuva. Um conto introspectivo e com tons filosóficos. Normalmente, acho que poderia gostar dessa narrativa, então culpo a história pelo desinteresse da minha parte. É uma zona de comum muito grande.
Enfim, como disse, o conto é bom, no geral, apenas não me cativou, mesmo. É o clássico “o problema não é você, sou eu”, rs.
Boa tarde aos autores!
Enquanto a área off não incendeia, eu vou comentando alguns contos que surgiram na discussão dentro do grupo e eu não pude comentar. Acho que esse foi um conto que os dois primeiros autores souberam dialogar bem, o estilo poético de um sendo alcançado e desenvolvido pela narrativa competente do outro. Mas, resumidamente, acho que talvez os dois esgotaram a história para o terceiro autor (não sei, não dá para saber muito bem onde começa e termina). Minha sensação é que a história termina ali no final do conflito entre Paula e Diana. A conclusão de Paula culpada para a mãe sobrou, assim como sua ida no parque. O desfecho é um tanto fraco quando comparado com o início e o desenvolvimento e alguns detalhes não dialogam entre si. Por exemplo, a impressão que tive é que o affair entre Paula e Moacir se passa no outono (a maçã ficou esse tempo todo na bolsa e não apodreceu? Haja conservante risos) e o deslinde aparentemente acabaria no inverno. Mas rolou num verão (…) Enfim, acho que o desfecho deveria ter amarrado melhor essas estações.
Conto de leitura agradável, com bons diálogos e trama simples. Os diálogos tornam a narrativa mais dinâmica e refletem bem a personalidade dos personagens envolvidos e a dinâmica entre eles.
As descrições dos cenários trazem boa imersão, mas também refletem o estado de espírito de Paula. Apesar da boa construção dos personagens, não consigo simpatizam com adúlteros.
Olá, Frankensteiners!
Este conto tinha muito potencial para ser um dos melhores neste certame e o final estragou, e muito, a bela progressão que a estória estava levando. Eu tenho certeza que foi IA, pois é muito difícil um ser humano passar tanta superficialidade na narrativa. Contos escritos por IA jamais terão a mesma criatividade que os escritos por uma pessoa. IA não consegue imprimir sentimentos, não tem as variações no comportamento que somente nós podemos passar, as emoções ficam artificiais e inverossímeis.
É muita sacanagem ter um texto escrito por IA. Beira a falta de respeito com os autores que dispuseram do seu tempo em pensar em uma estória minimamente coesa para compor este certame, e estavam caminhando muito bem se não fossem prejudicados por um terceiro autor infeliz. Não tenho dúvidas que foi uso de inteligência artificial e recomendo ao autor praticar melhor a escrita ou desistir e deixar para quem realmente se importa. Não preciso falar que sou contra este artifício. Parabéns pelo Frankenstein! Desculpa aos autores que não mereciam ler este desabafo! Boa sorte!
Esse conto para mim foi………… complicado!
A primeira parte tenho certeza de que foi escrita pela Claudia. Escrita impecável, linguagem poética e filosófica, mistura de pensamentos e emoções que tanto possuem dificuldade em entrar em minha mente. Ela praticamente assinou o conto quando encerrou sua parte. Aqui, devo dizer, que eu deveria jogar uma pedra em minha própria cara, e não na primeira parte do conto, pois para mim isso é arte pura, mas eu sou como um acéfalo incapaz de compreender o significado, e isso tira para mim toda a fluidez e diversão do texto. Mas segui a leitura do jeito que dava… li e reli zilhões de vezes cada parágrafo, toda hora meu TDH apitava forte e eu me perdia, ai eu lia novamente as frases e não fazia a menor ideia se eu já tinha passado por aquilo ou não… então eu tinha que recomeçar o conto.
Pelo que eu entendi após ficar durante horas lendo esse primeiro trecho, a protagonista se chama Paula e ela está numa palestra sobre o amor, sobre a beleza, e sobre a conexão com as estações do ano. Ela trabalha ali, e é a responsável por ficar avançando os slides. O problema, porém, é que o palestrante é um gostosão, daqueles que usam palavras belas pra passar a vara em geral, e Paula fica encantada por aquele macho de alta categoria, que se chama Moacir (que nome feio!). O Gostosão, no entanto, é casado, e sua mulher se chama Diana.
Aí entra a parte que, para mim, doeu mais… que é toda essa reflexão da Paula, mergulhando em pensamentos filosóficos que vão além de minha compreensão, e acaba não engrenando o andamento do enredo. Depois de muito divagar, indo de nada a lugar nenhum, terminamos a palestra (aliás… quero fazer a observação de que esse conto foi MUITO fiel com essa questão de palestra… pois enquanto eu lia, senti exatamente a mesma sensação de agonia que eu sinto toda vez que tenho que presenciar uma palestra na vida real).
A trancos e barrancos, conseguir passar dessa parte mais poética, e então a autora 1 termina sua parte com Moacir enviando uma mensagem pra Paula, falando pra ela ir na casa dele, pegar o pagamento, e ai entra o segundo autor. O segundo autor, para mim, foi genial! Não que a primeira parte não tenha sido… mas a segunda parte é uma genialidade que cabe na minha cabeça extremamente limitada. Aqui o tom da história perdeu quase que completamente seu tom poético, ficando bastante perceptível a mudança de autoria. Mas… eu não culpo o segundo autor. Acho que o estilo presente na primeira parte é muito autoral, quase impossível de ser emulado por outras pessoas… então era evidente que na hora da passagem do bastão iria destoar os estilos de escritas. Mas tudo bem… porque finalmente as coisas começaram a acontecer na história, e eu comecei a me entreter!
Paula chega na casa do Gostosão, e percebe que sua esposa, Diana, não está (na verdade, ele já tinha avisado isso na mensagem). Então, depois daquela conversinha safada, Paula decide dar uma sentada no Gostosão. O autor 2, no entanto, é bastante sagaz e não deixa isso evidente. Ao invés de ser vulgar e direto, para essa questão da Paula sentando no Gostosão, ele faz uma referência bíblica de Adão e Eva, com a mordida do fruto proibido (a maça), dando uma piscadela para o leitor poder imaginar o que ocorreu em seguida. Muito bom!
Depois disso, Paula e o Gostosão se encontram mais algumas vezes. A mãe de Paula tenta descobrir o que tá acontecendo, mas Paula se comporta como aquelas adolescentes rebeldes e não deixa vazar nenhuma pista pra sua mãe. Até que o Gostosão chama Paula para receber seu pagamento em sua casa novamente (junto com o extra, da sentada), e ela vai correndo pra lá. Na realidade, ela parece não estar tão empolgada com a aventura que está prestes a acontecer… e mais tarde, até a Diana reclama dessas aventuras… o que me faz chegar à conclusão de que o Gostosão na verdade tem um pênis pequeno e que não consegue apetecer as mulheres, daqueles que ficam saindo do lugar a cada movimento da sentada. O autor 2, novamente, é muito sagaz, e não descreve as coisas de forma vulgar em momento algum… mas agora, sou eu que dou uma piscadela para ele, pois eu consegui entender as entrelinhas da história.
Enfim… quando Paula chega na casa do Gostosão, quem abre a porta é a Diana. Essa cena é muuuuito empolgante, pois a Diana oferece para Paula um chá de climão! Não sou noveleiro, e não tenho o hábito de me deparar com esses casos de traição em histórias, mas a cena aqui é conduzida com tanta maestria que não havia como eu não ficar empolhado. O autor 2 consegue deitar e rolar na história, brilhando muito, e enriquecendo toda a trama a tal ponto de conseguir me prender.
Mas então, quando minhas expectativas chegaram às alturas… rapaz…….. entrou o autor 3. Meu deus……………………………… e eu achando que o Siameses era o maior assassinato deste desafio. Mas aqui o autor 3 conseguiu se superar. Ele fez uma terceira parte bem curta, e inteiramente produzida por IA! Sim….. algum problema nisso? Bom, não exatamente, pois não havia nada no regulamento que proibia o uso da ferramenta. Mas isso acaba por ser uma falta de consideração muito grande com seus companheiros. E sim, não adianta negar, senhor ou senha autor 3… a IA foi utilizada aqui, com toda certeza. Na verdade, foi mal utilizada. Para mim, qualquer ferramenta que auxilie um autor a criar textos é muito bem vinda na literatura. Mas por que então estou reclamando? Pois o autor 3 pegou a continuação da IA, não lapidou, e enviou de uma forma totalmente crua. Eu até poderia colocar várias evidências aqui, mostrando todo o padrão do algoritmo utilizado por IAs na hora de criação de textos, pois eu trabalho com isso. Mas estou sem tempo agora… e basta qualquer um dar um ctr+c e ctr+v na terceira parte do conto e jogar num detector de IA, para verificar com seus próprios olhos que há 100% de uso de IA no texto. Tá, mas não pode ser um engano? O falso positivo praticamente nunca acontece, pois a IA possui traços muito marcantes.
Ok…. mas o que há de errado nisso? Novamente, nada. Apenas o fato de que a terceira parte ficou mal trabalhada, pobre, e não chega nem aos pés das duas partes construídas de forma tão magistral pelos autores anteriores. Há momentos incoerentes, como a simbologia forçada da maçã, que foi uma tacada de mestre do autor 2, mas que aqui é estragado. Não foi uma má interpretação, apenas um erro comum da IA. Sem contar que a escrita ficou extremamente destoante das partes anteriores, ficando redundante e piegas, tornando esse conto um total Frankenstein.
Peço desculpas aos 3 autores, mas o conto não me agradou, mesmo com toda a excelente construção que estava sendo feita. Pois afinal, o impacto que fica é sempre o último. E aqui, de uma forma cliche e totalmente anticlimax, a história termina com uma promessa de recomeço….. fugindo totalmente da linha narrativa que estava sendo construída até então. Uma pena.
De qualquer forma, desejo boa sorte aos autores.
Enredo. Razoável. Paula participa de palestras e tem uma relação com o professor Moacir, que é casado com Diana e é seu empregador. Contudo, embora bem escrito, o conto bate muito nas teclas de comparações entre sentimentos e estações do ano e torna-se enfadonho em certo ponto. O final caiu um pouco, por resolver tudo de forma um tanto fácil.
Escrita. Muito boa. O conto é muito bem escrito e há muitas frases bem inspiradas, em especial na 1a parte.
Personagens. Bom. Paula é interessante e tem algumas camadas. Moacir e Diana são um tanto simples.
Coesão. Boa. Dá para se notar a troca de autores, mas a emulação do estilo do primeiro autor até que funcionou a contento.
O texto desenvolve-se, a princípio, de forma elegante, revelando que o primeiro autor tem um excelente domínio da escrita. No decorrer da leitura, porém, o excesso de comparações e referências às estações vai se tornando repetitivo e enfadonho.
Há um momento de tensão, quando a protagonista, Paula, se encontra com a mulher do seu amante, Diana. Até mesmo o fato de a mulher traída manipular uma faca, sugere que alguma coisa mais dramática pode acontecer.
No entanto, recado dado, a protagonista volta para casa com uma maçã podre e mordida na bolsa, que pesa demais…
É preciso fazer um exercício para imaginar que essa citação da maçã (um presente de Moacir para Paula no encontro anterior, é uma figura de linguagem que representa a desilusão e o estado de espírito de Paula. Culpa? Vergonha?
No fim, quem se deu bem na história foi a maçã! Quando todo mundo a julgava feia, mordida e podre, ressurgiu “lisa e brilhante” e com um sabor doce e ácido que explodia na boca. Por incrível que pareça, pouca gente reparou que, na estação das chuvas, não caiu sequer uma gota dos céus. Terríveis esses tempos que estamos vivendo, de aquecimento global.
Parabéns pela participação no desafio. Desejo boa sorte!
Olá, autores! Tudo bem com vocês?
Começo: Muito bem escrito, poético e filosófico. Um desejo, um anseio de uma jovem por viver uma grande paixão, talvez mais pelo sentimento em si do que por Moacir. Me pareceu que a Paula queria mais amar por amar do que amar o Moacir.
Meio: Continua muito bem escrito e seguindo a mesma linha do primeiro autor, mas acrescentando mais agilidade e ação.
Final: Meio anticlímax, e com um claro erro de interpretação no caso da maçã. Pq no conto tá claro que passaram-se dias, ou até meses entre uma visita e outra e como assim que a mesma maçã, que ela já havia mordido ainda estava na bolsa?? Tirando isso, achei uma escolha válida do autor, meio que nada acontecer realmente e tudo voltar a ser mais filosófico e mental do que ação. Não é o estilo que gosto, mas é um final justo e digno.
Coesão: Dá para perceber claramente onde cada um dos autores entraram na história, mas isso não é um demérito, cada um contribuiu com manutenção do estilo e da narrativa a seu modo.
Visão geral: Não gostei muito do conto… A temática da mocinha apaixonada pelo professor e indo as vias de fato ignorando completamente a esposa não me agrada em nada. Preferiria que o autor 2 tivesse feito a Paula lutar contra os desejos que a fariam possivelmente destruir um casamento, que fosse mais uma luta moral interna. Mas enfim, o conto tem suas qualidades, e a escrita poética e filosófica é a melhor parte.
Parabéns aos autores!
Boa sorte no desafio!
Até mais!
COMENTÁRIO: Outro conto potente! Confesso ter achado o início algo enfadonho, com um peso metafórico em torno das estações ocupando o espaço que poderia ter sido concedido a nos informar melhor da personagem, mas as autorias subsequentes souberam captar as sutilezas que essa primeira parte nos deixou, fazendo entender melhor a relação entre protagonista e Moacir. É então um pouco tarde que o conflito se estabelece, no primeiro encontro entre aluna e professor, no que reconheço a proeza de se preservar o peso simbólico e sutil com a maçã, descrevendo apenas o que é necessário e sugerindo significados. Ao mesmo tempo, é na segunda parte que a confusão de Paula se torna mais palpável e instiga a empatia em relação à protagonista, fazendo com que nos preocupemos e torçamos para que perceba a própria vulnerabilidade na situação. Com isso armado, seu encontro com Diana cerca a narrativa de tensão e expectativa, cada movimento da esposa traída sugerindo um desfecho distinto e tragando a ainda mais aflita Paula para a catarse, em que a mulher mais velha aconselha a mais nova e nos retorna ao conflito de onde começamos: aquele dentro de Paula. No fim, é sua resolução em relação a si mesma o que demonstra o verdadeiro movimento da narrativa. Achei essa uma escolha magistral da autoria conclusiva, pois fez uma conexão perfeita com o começo, em que ficamos retidos no interior dos pensamentos da protagonista, devolvendo a narrativa ao seu início, numa história que é justamente o recomeço o principal mote. Brilhante!
Olá autores (quase de certeza autoras).
Fizeram um trabalho brilhante que resultou num texto elegante, estranhamente homogéneo para ser escrito a três mãos. A narrativa, que parecia ser previsível, muda completamente pela calma com que Diana revela que sabe do que está a acontecer. Todo o texto versa sobre a passagem do tempo, cheio de metáforas poéticas. Até que idade podemos ser amantes? Esta parece ser a pergunta que Paula se pergunta, chegando mesmo a ser ela própria a fazê-la, durante uma palestra. Não há nada de mais elegante do que isto. Moacir, o amante, surge como personagem difusa, como uma sombra que mais não é que um pretexto para colocar Paula à prova. De resto, um texto brilhante que só não vai satisfazer quem procurar algo mais impactante.
Olá, autores! Tudo bem? Primeiramente, parabéns pela participação num desafio tão dificil e maluco quanto esse!
Início: o conto começa narrando de forma poética e metafórica, por meio da analogia das 4 estações, sobre a paixão de uma estudante por um professor. O cara, claramente, é um rei do lero lero, e todo aquele papo desconstruído é só uma fachada pra dar em cima de aluna novinha inocente. Peguei ranço desse cara logo de cara. Pra ser totalmente sincero, esse tipo de história muito metafórica e reflexiva não me pega tanto, então o início do conto acabou sendo longo e arrastado para mim. Ressalto novamente, porém, a beleza poética da escrita do autor(a).
Meio: a parte dois continua de forma tão similar que eu nem sei dizer onde foi a passagem de bastão. No meio, a história caminha para a traição do homem com a aluna, e aborda de forma sutil os impactos psicológicos que isso causa nela. O conto segue na mesma toada da primeira parte, e minha sensação lendo é a mesma: eu consigo reconhecer a beleza poética e estética da escrita, mas a história não me cativa.
Fim: o fim me deixou bastante interessado, naquela parte em que a menina está na casa com a esposa traída. O clima de tensão permeia muito bem o conto, e eu fiquei bastante interessado no desfecho. O chuveiro que não desliga (será que o cara tá morto?), a tensão da conversa (será que a esposa sabe de tudo?), a faca na mão (será que vai rolar um ziriguidun?), gostei muito dessa construção de tensão. Mas, infelizmente, a esposa dá conselhos pra menina, que volta pra casa e decide mudar de vida, e isso foi bastante anticlimático pra mim, que queria ver um Street Fighter rolar. Claro que isso diz muito mais sobre meu gosto pessoal do que sobre o conto, e tenho certeza que esse conto vai agradar muitos leitores do desafio. Infelizmente, pra mim, acabou ficando bastante monótono, exceto pela excelente cena de tensão na cozinha.
Coesão entre os autores: o autor 1 listrou a maçã no inverno, o autor dois cortou a maçã na primavera, e o autor 3 deu uma bela dentada na maçã no verão, naquele calorzão que queima a nuca. Em outras palavras: o conto é muito coeso, e é difícil diferenciar os autores, exceto pela mudança de ritmo na parte 3, com mais diálogos (uma mudança que muito me agradou). O autor 3 consegue elevar o nível ao dar tensão e chega perto de um clímax, que pra mim acabou quebrado pelo retorno à normalidade das metáforas sobre como tudo melhora depois do inverno.
Nota final: bom.
Não parece ter sido escrito por três autoras/autores diferentes. Gosto de textos assim, onde as reflexões do protagonista vão compondo os parágrafos com o movimento e as ambientações. Li alguns comentários sobre repetição e clichê, mas às vezes a literatura precisa disso, não é? Contos ficam belos assim também. Há a falha da citação do retorno da maçã na terceira parte (anotada pela Cláudia), e o desconforto com o final, mas na minha opinião está interessantíssimo assim, como começou e como terminou. Aliás, pelo ânimo de Paula em atender ao chamado de Moacir, a maçã fica apenas como adereço. E mais: se ele a colhe em seu quintal, poderia colher outras a cada encontro, não? Mas não teria razão para Paula manter o fruto do último encontro ainda na bolsa.
Claro que povoou minha mente de ideias, de perversão até dramalhões mexicanos. Mas como já disse comentando outro bom conto do “certame”: começa na cabeça dos autores e termina na do leitor. Grande candidato ao First Prize.
X Sensação após a leitura: bonito, repetitivo, bonito…
X Citações pro bem e pro mal:
Outro texto muito bem escrito, principalmente em sua primeira parte.
Destaco: “Atenta aos sons e, ainda mais aos silêncios” e a metáfora de morder a maçã que ficou de uma sutileza genial.
A cena da esposa com a faca é ótima, cria bastante tensão.
X Conclusões:
A história é simples (e isso é ótimo!), com personagens e dilemas bem definidos. Na minha visão houve uma boa sintonia entre o(a)s autore(a)s e, apesar de uma certa discrepância técnica e poética da primeira parte para as demais, há um bom trabalho em conjunto.
Confesso que a leitura foi um pouco maçante. Vários trechos passaram a impressão de que as reflexões davam voltas e que os eventos poderiam dar uma acelerada (e olha que eu tento ao máximo evitar esse tipo de pressa, assistir vídeos em velocidade 1.5x e tal). Meu questionável gosto pessoal de lado, dentro dos parâmetros do desafio certamente um dos melhores contos.
MUITO BOM
Para mim, é um conto muito bom, muito bem narrado. É, certamente, um dos meus favoritos do certame.
De certo modo, identifiquei meu próprio estilo nos 3 autores. A linguagem é extremamente poética, as palavras são bem colocadas, o fluxo é ótimo.
Gostei da ambientação e da forma como tudo foi conduzido. Eu não tenho críticas negativas a fazer, para mim, esta obra está completinha e muito bem acabada.
O final segue a pegada do início. É uma espécie de “anti-clímax”, artifício arriscado que, para mim, dada a temática da história, funcionou muitíssimo bem.
Parabéns aos 3 autores pelo excelente trabalho. Eu gostei muito!
Olá, pessoal, cá estou eu visitando a estação de chuvas nesse tempo outonal que vocês me apresentam no interessante conto. Puxa, a história começa muito bem, apesar da metáfora da maçã que sinto ser tremendamente clichê. O primeiro autor soube montar a trama, vê-se logo que é alguém com um excelente domínio da escrita. Tem as palavras em suas mãos. O segundo autor consegue manter o ritmo, até que chega o terceiro autor e aí eu senti que a história desanda um pouco. Esperava mais do final que você me trouxe, sabe? Está tudo certinho, tudo bem escrito. Talvez por isto mesmo é que esperava mais, pois a paixão é livre, é incontrolável e tudo ficou certinho, preso e controlado demais. Mas releve, amigo, isto que estou lhe dizendo. Muito provavelmente se trate de manias de um leitor chato. Fiquem com o meu abraço e meus votos de muito sucesso no desafio.
Olá, autor(a), tudo bem? Sem mais delongas, vamos ao que interessa.
Neste desafio, usarei o sistema ◊ TÁ FEITO ◊ para avaliação de cada conto.
◊ Título = ESTAÇÃO DE CHUVAS. Pensei logo na música: “são as chuvas de março fechando o verão, é a promessa de vida em teu coração…” Estação do ano em que chove muito qual é? Depende, né, em Belém dizem que é todo dia e com hora marcada.
◊ Amálgama = Há uma pequena diferença entre o estilo dos(as) primeiros(as) autores(as), a transição correu bem, sem solavancos. Já a terceira parte destoou um pouco do que havia sido escrito até então.
◊ Fim = Os fins justificam os meios? Talvez… E a ordem dos fatores altera o produto? Permita-me começar pelo fim, observando o impacto causado na leitura. “A primavera estava chegando, e com ela, a promessa de um novo começo”, mas espera um pouco, deixe-me raciocinar. Depois do outono, vem a primavera ou o inverno? Acho que o(a) autor(a) 3 se confundiu com a sequência das estações do ano. Pelo o que entendi, estavam ainda no outono, o tempo estava esfriando indo para o inverno… Entendo que ainda não se vislumbrava o chegar da primavera. Gostei de algumas das reflexões trazidas, mas achei o posicionamento das personagens femininas meio forçado, assim como o apagar do homem, objeto do desejo o aquele que trouxe a tentação. Acredito que o impacto seria maior se o conto tivesse sido encerrado com menos explicações simplistas. Uma falha notável foi a retomada da imagem da maçã. Sim, poderia enfatizar a simbologia da tentação, do pecado no paraíso, mas não como a coisa física, o fruto propriamente dito, pois esse já havia sido mordido por Paula na segunda parte do conto. E que bobagem seria guardar uma maçã mordida na bolsa e depois de horas, mordê-la novamente! Não tem o menor sentido isso. Poderia ter mencionado como a lembrança do gosto da maçã e já em casa, Paula poderia pegar outra maçã e observá-la, ou até descartá-la. Decerto, a passagem em que a protagonista morde a fruta passou despercebida e o(a) autor(a) 3 quis retomar a imagem tão simbólica do fruto proibido, a tentação. Além disso, fiquei com a sensação de que o(a) autor(a) 3 estendeu além do confortável a narrativa, e trouxe um desfecho que flerta com uma lição de moral, um final morno, sem clímax, muito previsível, o que me frustrou um pouco.
◊ Entremeio = Aqui, deixou-se de lado a tonalidade poética e partiu-se para a construção de um conflito real. A inserção do símbolo da maçã foi uma boa escolha. A princípio, Paula aceita o fruto (desta vez oferecido pelo Adão da história e não por Eva), mas hesita e só o morde depois. Ou seja, caiu em tentação com Moacir. Serão expulsos do paraíso? A narrativa foi bem conduzida e não destoou, apesar da diferença de estilo, da parte inicial. Trouxe uma nova possibilidade à trama, ao criar um caso amoroso entre Paula e Moacir.
◊ Início = O(A) autor(a) 1 começou o conto com uma indagação, uma fala de um personagem não nomeado, um dos estudantes que assistiam a uma palestra. Paula é apresentada, mas sem menção a sua idade, tanto poderia ser uma jovem como uma velhinha que gostava de fazer um trabalhinho aqui e ali no campus universitário. Mais adiante, durante a conversa com a mãe, presumimos que se trata de uma jovem que ainda se preocupa em enriquecer o seu currículo. No entanto, nada é definido. Moacir surge como um professor que dá palestras interessantes a um primeiro olhar, mas que depois caem na mesmice, em um círculo vicioso de poesias repetidas. Também conhecemos Diana, sua mulher, também professora que já conhece todas as falas e esse entedia com a palestra. A linguagem é clara, com algumas nuances poéticas e metáforas interessantes relacionadas às estações do ano.
◊ Técnica e revisão = O conto é narrado na terceira pessoa, centrando-se na personagem Paula. Não há grandes mistérios ou a construção de uma trama dramática, mas sim o encaixe de ações e falas que se assemelham à estação das chuvas.
Percebi poucas falhas no quesito revisão:
– A cada vez que a tempestade se formava […] Admirava-as cada vez menos > Conflito de sujeito/objeto. Paula admirava o quê? A tempestade? Não poderia usar o plural então. Uma possibilidade seria: Admirava cada vez menos o cenário tempestivo… OU MESMO Admirava as tempestades cada vez menos.
– Repetição de “exatamente” em um intervalo de linhas.
◊ O que ficou = Vontade de gritar: joga essa maçã fora que ela tá podre, menina. Aproveita e joga no lixo qualquer desejo por esse tal de Moacir. Embora atraente, é chato, previsível e casado. Pra quê, Paula?
Parabéns pela participação e boa sorte!
Olá, caros colegas entrecontistas!
Primeiramente, parabéns pela participação corajosa e desapegada.
Vou avaliar e comentar de acordo com meu gosto, não tem muito jeito, afinal não tenho conhecimento nem competência para avaliar de forma mais “técnica”. Ou seja, vou avaliar como leitora mesmo. Primeiro, cada parte separadamente, valendo 1 ponto cada. Depois, a integridade do resultado, valendo 3 e, por último, o impacto da leitura, valendo 4.
Começo
Um começo muito bonito e poético. Paula é uma estudante que trabalha com um professor por quem é apaixonada: Moacir, casado com Diana. É tudo lindo e muito bem escrito. Os personagens são apresentados de forma muito hábil. Paula me pareceu jovem e deslumbrada, Moacir, um chato de galochas. Vontade de dizer: “corra Paula, foge, é cilada!”. Chato é ruim. Agora chato e casado é ruim e não vale a pena.
Meio
O autor 2 mandou bem, não notei mudança na autoria. Paula vai à casa de Moacir. Gostei da imagem da maçã, da metáfora da tentação e do relacionamento proibido que se inicia entre Paula e Moacir. As preocupações da mãe aumentam e criam um sentimento de inquietação. Paula e Diana se encontram e a tensão se intensifica.
Fim
Do ponto de vista de estilo, o autor 3 também conseguiu emular o estilo do autor 1 e a mudança foi imperceptível. Mas, do ponto de vista narrativo, sinto que ele se desviou do caminho que o autor 2 apontava, algo mais trágico, sugerido pelo chuveiro e pela faca. E que no fim, não era nada. O final foi um anticlímax, algo morno e um tanto sem graça. Uma pena.
Coesão
Em termos de estilo, a coesão foi excelente. Do ponto de vista narrativo, não sei. Senti uma boa conexão entre os 3 autores, mas acho que o autor 2 tentou imprimir uma pegada mais dramática, que foi solenemente ignorada pelo autor 3, que, suspeito, estava mais alinhado com o autor 1.
Impacto
Gosto pessoal: para mim, se o autor 3 tivesse seguido a trilha do autor 2 e imprimido um final trágico, o impacto teria sido maior. Este é um bom conto sobre a paixão e o tédio, mas a narrativa seguiu sem um clímax, sem mudanças, uma música de uma nota só. A grande tragédia aí é esse relacionamento morno da Diana com um homem chato, chatíssimo, chatérrimo, que, vai lá entender como desperta tanta paíxão.
No início este conto me trouxe à mente o sensacional “Elizabeth Finch”, do Julian Barnes, um romance que conta a história de um estudante que se apaixona platonicamente pela professora, uma mulher já madura, e como essa paixão se desenrola. Ao contrário do que possa parecer, não é uma trama hollywoodiana, não há sangue, não há traições, não há erotismo gratuito. O que há são pensamentos, filosofia e muita psicologia, tudo isso escrito de uma maneira envolvente. É exatamente o caso da primeira parte deste conto. As passagens são excelentes e muito inspiradas — há várias delas nos primeiros parágrafos — e o autor (ou a autora) é hábil o bastante quando chama a atenção para elas por meio das críticas que Paula formula em relação a Moacir. Uma jogada genial. Achei, talvez ingenuamente, que o conto seguiria essa premissa de adoração platônica X crescimento pessoal e me empolguei. Por isso fiquei um tanto frustrado com a sequência, em que Paula e Moacir engatam um caso e o conto resvala para o adultério. Não, não está mal escrito nem nada assim. A perícia do segundo autor é evidente. É alguém que sabe o que faz e que sabe aonde quer chegar. Mas é que eu esperava algo mais, como dizer, mais adulto, menos clichê — culpa do Julian Barnes? Bem, de todo modo, embarquei na ideia e me vi tenso com a conversa entre Diana e Paula, torcendo para que as menções à faca e aos cortes, assim como ao chuveiro incessante não levassem o conto para um lado de vingança à base de assassinatos e coisas do tipo. Felizmente, não caiu-se nessa armadilha. O terceiro autor não teve muitas opções, mas teve o mérito de dar à história um final digno, sem apelações. Há um anticlímax, claro, porque Paula parece ter se encontrado consigo mesma, parece ter resolvido seus dilemas. Mas creio que isso trouxe o conto de volta para a vibe “Elizabeth Finch” que comentei lá no início, adotando um viés mais adulto do que adolescente — destacando-se positivamente nesse aspecto. Enfim, é um bom trabalho, mormente se lembrarmos que foi escrito por três pessoas diferentes. A coesão está adequada e creio que os dois autores finais conseguiram respeitar o estilo de quem inaugurou o conto, o que não é pouco. Parabéns a todos e boa sorte no desafio.
ESTAÇÃO DE CHUVAS
A primeira frase deu-me a impressão de que a protagonista seria uma senhora de 60 anos, mas não, Paula é mais jovem. Mas não tanto. Ela tem um caso com um colega de trabalho, que é casado. A narrativa tem um tom poético, faz analogias interessantes, figuras de linguagem, traça conexões entre s emoções humanas, a Natureza e as estações do ano, por isso o título. Essa parte gostei bastante, mas a filosofia, ou tese, de Moacir que deveria ter sido mais explorado, surgiu e desvaneceu-se nas primeiras linhas e nada teve a ver com a trama, ou, drama, no entanto de certo é subjetivo. Construção que gostei de uma frase; “Era bela porque guardava em si o esplendor do que já havia sido, o registro histórico do próprio encanto”.
Quando Paula tem o encontro inesperado com a mulher de Moacir, achei que haveria sangue, violência, a faca sugeria isso, mas não, Diana é uma mulher bem estruturada emocionalmente, podendo enfrentar qualquer situação com calma e sangue frio. Ela conversa com a amante do seu marido com muita sabedoria e paciência e ela mesma explica porque assim procede. Não gostei muito do final, eu esperava uma reviravolta que não aconteceu.
O tema do conto em si não me pega tanto, mas gostei da forma como ele foi trabalhado pelos autores, ainda que tenha achado um pouco arrastado para ter a conclusão que teve. Para esse mesmo resultado um conto mais curto poderia ter sido escrito (mas daí entram os limites e características próprias deste desafio). Outro ponto que achei que poderia ser melhor trabalhado por quem continuou o Conto é a relação das estações, que pareceram tão caras aos primeiro autor e foram se perdendo no texto.
Uma história de amor entre um homem em posição de poder sobre uma subordinada não é incomum, mas aqui é a protagonista, submissa, quem busca esse primeiro contato, chegando até ele (Moacir) para então aceitar a maçã que, na minha cabeça, representa justamente o pecado. Pecado esse que Paula buscou e mesmo ao final considera saboroso.
Gostei do enfretamento de Diana, é uma reação que passa a ideia de alguém cansada e presa, que simplesmente aceita o seu destino e mostra para Paula que o destino dela pode ser diferente.
O Conto, como um todo, parece ter se perdido um pouco nas trocas dos autores e talvez tivesse um maior sucesso se seguisse na mão de apenas uma pessoa. Ainda assim não é uma leitura desgostosa, mas o texto como um todo apenas passa, como passam as estações.
Não querendo repetir o que foi dito noutros comentários, senti que este conto, num todo, me parece demasiado longo para o resultado obtido. Analisado como um só, é de dizer que começa com tudo e acaba com nada. Senti uma boa relação entre os autores, embora o terceiro já fuja dos anteriores. É mais evidente a mudança de mão.
Independentemente do resultado, há coesão no texto e no enredo, embora possa referir dois pontos que me parecem falhas. Uma é a maçã “eterna” que se mantém viçosa e brilhante na carteira, apesar da passagem do tempo (entre a primeira e a segunda aparição da maçã há mais palestras e encontros). O outro é quando o/a autor/a refere “Sabia que ele continha o pagamento que havia combinado com Diana”. Em todo o texto não há relacionamento nenhum entre as duas mulheres e fora sempre Moacir a tratar da questão do dinheiro. Esse era mesmo o motivo do primeiro encontro, e, provavelmente, dos seguintes. Pelo menos é o que me faz sentido, mas posso estar errado.
Se a parte final é IA ou não, como comentaram, não faço ideia. Não uso e, como tal, desconheço o seu “estilo”. No entanto, num desafio como este, usar uma ferramenta dessas não me faz sentido nenhum.
No global, um conto com partes muito bem escritas, que me pareceu algo longo, e que termina com um happy ending que não me convenceu.
*Todo e qualquer crítica refletem mais um ponto subjetivo meu do que qualquer outra coisa. Outro leitor pode achar o oposto.
Desde muito tempo tenho uma certa dificuldade em assimilar textos com uma pegada um pouco mais poética. Não é que eu desgoste da leitura, mas meu cérebro de neanderthal acaba divagando um pouco diante desse tipo de texto.
Não foi diferente aqui.
Precisei ler a história algumas vezes para conseguir capturar melhor o que estava acontecendo. A coisa engraçada é que eu gostei tanto das metáforas e da introspecção que cada releitura foi mais prazerosa do que a anterior.
Eu achei a abertura inicial não apenas bem escrita, mas original, levantando certos questionamentos que não são encontrados com tanta facilidade por aí. A discussão sobre beleza e idade ficou particularmente interessante diante das possíveis provocações que já existiam entre Moacir e Paula. De certa maneira, acabam enfatizando que Moacir é provavelmente meio vazio, apesar de parecer interessante. Como a primeira autora* coloca , um poeta que não entende realmente de poesia.
A história segue a trama do interesse romântico da protagonista, indicando que o conflito da narrativa está no inevitável triângulo amoroso entre Paula, Moacir e Diana. Mas não está. Isso é apenas uma finta usada pelo primeiro autor, que já sugere que o verdadeiro conflito da história é mais subjetivo, interno. É o comportamento auto-destrutivo de Paula.
O segundo autor parece seguir pela mesma linha, tentando levantar um pouco mais a tensão e manter o uso de metáforas, que me obrigaram novamente a ler a segunda parte mais de uma vez. Não tivesse lido a primeira tantas vezes antes, teria certa dificuldade de apontar onde exatamente começa uma e termina a outra. A incerteza de Paula sobre suas próprias motivações, a busca por algo que não está realmente lá, dialogam, acredito, com a proposta original.
E então temos a terceira parte, que começa em algum momento do diálogo entre Diana e Paula.
E tudo se resolve de maneira fácil. Pequenos tópicos passados são retomados como se tivesse algum valor que realmente não tem (como o dinheiro do projeto), Moacir some da narrativa, Diana age de maneira superficial para resolver o plot, a maçã ainda está na mochila… e tudo parece tão… distante do que vinha sendo proposto, ao mesmo tempo em que tenta roboticamente retomar todos elementos anteriores… Desta vez não precisei ler mais de uma vez para saber o que estava acontecendo.
A impressão que fica é que, de fato, o restante do texto foi feito por IA. E é uma impressão forte. Talvez fosse desejo do terceiro autor experimentar a ferramenta, ver o quão perceptível seria seu uso etc. Eu entendo o desejo empirista, mas acho que foi uma escolha infeliz utilizar da IA justamente neste desafio e de maneira tão direta. Talvez haja usos para ela, como um esboço a ser trabalhado muitas vezes, mas certamente não deste jeito.
Dito isso, é claro, posso estar equivocado. Sendo esse o caso, apesar de improvável, sugeriria ao autor que buscasse colocar um pouco mais de si mesmo na história, ao invés de simplesmente tentar fechar todas as pontas soltas de maneira morna e feliz. Por exemplo, a nível de entretenimento, me diverti mais com a insanidade do final dos siameses.
No mais, parabéns aos autores e boa sorte no desafio.
*Ou autor
Quesitos avaliados: Entretenimento, Originalidade, Pontos Fracos
Entretenimento Presumo que o começo do conto foi escrito por alguém supostamente mais “maduro(a)”. O autor possui um estilo de escrita que não me cativa de primeira. O linguajar usado me deixou dividida, por um lado gostei de frases inspiradas como “Atenta aos sons e, ainda mais aos silêncios”, por outro, achei algumas partes muito cansativas pelo excessivo floreio ou devaneio ou ainda, chavões como “mãe sabe de tudo”. Porém a partir de algum ponto da história, talvez tendo mudado a autoria, o conto fluiu muito mais pra mim. o começo então, embora bem escrito ficou meio arrastado, mas ainda assim instigante pela suposta temática apresentada.
Originalidade O tema logo me chamou atenção, pois estamos vivendo numa época de praticamente ódio a mulher 30+, quanto mais 60+. Aí continuei lendo e descobri q o conto não tinha nada a ver c isso, e era apenas a história de uma lolita apaixonada por um professor Barra homem mais velho e casado. 😐 super bem escrito e tal… porém o começo ficou parecendo que tinha uma premissa, e logo em seguida uma história completamente diferente, e até menos interessante, surgiu em seu lugar.
Pontos Fracos Pior q ate gostei do final dela caminhando e abandonando o bofe, além da citação sobre a primavera. Mas confesso ter ficado confusa c a idade da personagem. no início pensei q ela seria mais velha, apenas p logo em seguida ela aparentar ser uma teenager cuja mãe se preocupa bastante. De ponto forte, achei que os personagens fazem com que nos questionemos sobre a moral de suas ações. Diana por exemplo, estaria sendo imoral consigo mesma? Assim como Paula? E o sujeito alecrim que desapareceu do conto após entrar no banho. Mas no fim, o resultado final do todo não ficou nem um pouco arrebatador.
Correct: Presumo que o começo do conto foi escrito por alguém supostamente mais “maduro(a) na escrita”, que escreve a mais tempo.
🗒 Resumo: Paula mergulha numa relação extraconjugal com um professor/palestrante, seu empregador. Diana, a mulher traída, acaba dando uma lição muito melhor que as palestras do professor para Paula, que resolve mudar de vida.
📜 Trama (⭐⭐⭐▫▫): o início do conto é bastante instigante, apresentando a personagem e o ambiente da palestra entediante. A segunda parte, que narra o segundo encontro eu achei ainda melhor, cheia de metáforas como a maçã que só é mordida qdo o “pecado” é cometido. O final, bem, o final é genérico, tentando escrever sem ofender. A quebra é bem perceptível, as coisas param de fazer sentido, como o sumiço da mãe e a maçã guardada na bolsa depois de mordida. Quem guarda uma maçã mordida na bolsa? Imagina o estado que estaria essa maçã no dia seguinte…
📝 Técnica (⭐⭐⭐⭐▫): a primeira parte, como disse acima, é muito eficaz em apresentar a protagonista, o ambiente e um pouco do professor. A segunda é muito boa em descrever a cena e trabalha as metáforas e entrega com fluidez o resultado. A última parece que foi escrita por IA. Sem erros, mas genérica, sem manter o nível das anteriores.
▪ *Por que* (porque) estava fazendo (não é uma pergunta)
🧵 Coesão (⭐▫): o encaixe entre às partes ficou visível pra mim (não li antes de lançada a última parte), mas mesmo percebendo a diferença entre o primeiro e segundo autor, achei que manteve bem o estilo. O mesmo não posso dizer sobre a passagem para o terceiro, que a deixou clara com mudança de estilo e forma de conduzir a trama.
💡 Criatividade (⭐▫▫): o tema escolhido não é dos mais criativos, mas foi um clichê bem conduzido até a segunda parte. Na terceira, cai num clichê total e sem o brilho anterior.
🎭 Impacto (⭐⭐▫▫▫): como ficou bem claro até agora, gostei muito do conto até a parte em que a maçã é mordida. Mas o impacto do conto mora geralmente no fim e, infelizmente, esse acabou de forma frustrante pra mim.
Desculpa ao autor da terceira parte pelas críticas, mas são apenas impressões sobre o conto.
Agora, se realmente foi 100% feito por IA, retiro minhas desculpas, pois até aceito que seja usada como apoio, mas nunca por completo. A IA não está pronta pra manter o nível dos escritores do EC e acho que ainda vá demorar muito pra isso (talvez nunca chegue).
Houlá, Leo Jardim!
Eu discordo totalmente de Vossa Mercê. Retire as suas críticas sem fundamento na tecnologia. IA vai derrubar todas as habilidades humanas em breve.
*Resposta gerada pelo ChatGPT 4.0
Duvido que uma IA respondesse isso. Ela nunca se entregaria tão fácil 🙂
Estou terminando de escrever o comentário desse conto e procurando os lapsos de revisão. Acredito que no caso do “Por que estava fazendo.”, você está certo ao apontar que não se trata de uma pergunta. No entanto esse “por que” poderia ser substituído por “Por qual razão (estava fazendo).” E assim sendo, a grafia seria por que separado. Mas não sei se essa era a ideia de quem escreveu o texto… enfim, a questão dos porquês é sempre um dilema.
Impressionante como essa regra é complicada 😅