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Detox Literário.

O Jarro – Conto em Série – Parte IV (Marco Piscies)

X

Sentados em bancos de metal no baú da van, Finnegan, George e outros quatro agentes sacudiam com cada solavanco do automóvel. Há alguns minutos haviam abandonado a rodovia, e agora seguiam por uma estrada de terra, subindo a encosta da montanha por um caminho serpenteante. Todos os membros da força-tarefa revisavam seus equipamentos: pistolas, coletes a prova de balas, munição, equipamento de observação. Não carregavam armamento pesado. O objetivo naquela manhã era coletar informações e recolher as evidências que George precisava para que o MI6 enviasse uma unidade de invasão tática.

Do assento de passageiros, Samantha abriu a portinhola na parede, e o grupo virou-se para o seu rosto de meia-idade. Como chefe de comunicações da operação, a mulher demonstrava uma tranquilidade que não condizia com o que estavam prestes a fazer.

“Dez minutos, meninos”

O tempo passou rápido. A van chacoalhou vigorosamente: estavam agora fora da estrada, e mesmo que a motorista mal pisasse no acelerador, o solo era desnivelado de tal forma que todos tiveram que se segurar em seus bancos. Aquilo não durou muito. Assim que o automóvel parou, ouviram o som da abertura da tranca da porta traseira, e Finnegan foi o primeiro a saltar para fora.

Os coturnos encontraram solo macio. O outono mal havia começado, mas algumas árvores já se despiam, formando um tapete fino de folhas mortas no chão. A brisa soprava gelada, e o céu, parcialmente coberto pela folhagem, estava cinzento. Os outros cinco agentes desceram da van, um atrás do outro. Acostumavam-se com a atmosfera do lugar em um silêncio tenso. Até mesmo Karen, a jovem motorista do grupo, desceu da van seu o seu sorriso típico no rosto.

George reuniu todos em um círculo, puxando o GPS. O mapa no aparelho exibia um pin vermelho que indicava a última localização de Milena, fornecida por Tanya na noite anterior. Havia outros três pins em um raio de cinco quilômetros dali: três mansões propositalmente construídas longe da civilização, em terras ignoradas pelas cidades, para que bilionários pudessem aproveitar o anonimato. Um deles, o pin marcado de amarelo, indicava uma mansão a um quilômetro e meio dali. Era uma construção centenária, opulenta, e que havia sido comprada há sete anos por uma empresa ligada aos Filhos do Ancestral. Era lá onde apostavam as suas fichas.

Todos sabiam de suas instruções, mas George fez questão de revisá-las em um minuto: Karen e Samantha permaneceriam na van, monitorando os arredores e acompanhando-os pelo feed de vídeo e som. Os outros seis seguiriam em duplas: Nick e Scott para a entrada traseira da mansão, Lucas e Anton para a entrada frontal. George e Finnegan subiriam uma elevação próxima para analisar a propriedade de um ângulo mais favorável.

“Lembrem-se: estamos coletando evidências. Eu quero fotos e vídeos. A prioridade é não sermos vistos. Não assumam riscos desnecessários, e notifiquem o grupo de qualquer atividade. Se não se sentirem seguros, recuem. Eu quero sair daqui com o meu time inteiro e um mandato garantido, sem ter que preencher nenhum formulário de disparo, entenderam?”

O grupo concordou e as duplas se dispersaram.

A caminhada até o topo da elevação lembrou Finnegan das corridas matinais no exército irlandês, e todos os treinos de marcha forçada com a sua unidade. Ele e George não vestiam camuflagem naquela manhã, mas a dinâmica entre os dois era idêntica à que tinha com seus companheiros de exército: caminhavam atentos e silenciosos, trocando informações em voz baixa, falando apenas o essencial para alcançarem o objetivo de forma mais eficiente. Momentos como aquele davam a ele algo em que focar os pensamentos. Pelas próximas horas, tinha carta branca para relegar ao segundo plano todos os outros problemas da sua vida pessoal.

Alcançaram o ponto de observação no tempo esperado, antes dos outros agentes alcançarem as suas posições. Encontraram uma área com vegetação rasteira e se deitaram de bruços. No céu as nuvens corriam rápidas com a brisa que se tornou vento, nunca deixando o sol brilhar por entre as camadas de algodão cinza. George monitorava o time pelo GPS, então Finnegan foi quem pegou o binóculo.

A mansão misturava-se bem com a mata que a cercava. Apesar dos muros altos, as árvores dentro do terreno da propriedade pareciam ser uma extensão da floresta. Era uma ampla construção vitoriana, com os seus milhares de detalhes intrincados, torres cilíndricas com pontas cônicas voltadas para o céu, um número estrondoso de janelas, tudo encoberto por tons de cores frias. Havia um ar de ancianidade no lugar. Mesmo com a tinta aparentemente nova, a casa transmitia a imponência de quem existia há mais de um século.

A experiência de Finnegan com aquele tipo de trabalho de reconhecimento o levou a buscar imediatamente pelos detalhes mais relevantes. Usando o rádio, atualizou o time com o que via.

“Guarita no portão principal. Muitos carros estacionados, a maioria de luxo. Parecem civis. Ninguém na frente. Duas câmeras no portão frontal, cobrindo ao menos cento e vinte graus”. O time confirmou, e ele prosseguiu: “Entrada de serviço nos fundos. Câmera no portão, olhando para Sudeste. Há um jardim, mas não vejo ninguém. Porta dos fundos com uma única câmera pegando um ângulo amplo do terreno”.

O time confirmou novamente. Tendo coberto os pontos mais urgentes, Finnegan perscrutou o resto do cenário.

“O lugar está vazio”, falou, fora do rádio.

“Você não falou que tinha carros estacionados?”

“Sim, mas não tem ninguém em nenhuma janela. Nenhum guarda. Nenhum filhinho de papai babaca andando pelo jardim. Espera. Tem alguém na porta da frente”

“Guarda?”

A entrada principal da mansão era digna de filmes de época. Uma fonte de água talhada em pedra adornava a passagem de carros. Poucos metros adiante, um pequeno lance de escadas terminava em uma volumosa porta dupla de madeira maciça. Uma das bandas da porta estava entreaberta. O corpo de um homem se projetava para fora, no chão, com o braço estendido adiante como se tentasse escapar do lugar, congelado no tempo.

“Finnegan?”

“Ele está morto”

“Quem?”

Passou o binóculo para o amigo. George soltou um grunhido ao avistar a cena. A folhagem da floresta farfalhava incessantemente com a ventania. No rádio, os agentes confirmaram suas posições e iniciavam o trabalho. George e Finnegan não precisavam trocar palavras para endereçarem a pergunta que pairava no ar. Os segundos que George levou para tomar alguma ação se arrastaram. Ele pegou o rádio.

“Mudança de postura. Possível ambiente hostil e possível homicídio. Há um corpo na porta principal. Samantha, eu preciso de uma permissão para entrar”

A chefe de comunicações levou um momento para responder.

“Ok, um minuto”

No rádio, Anton confirmou que tinha visual do corpo avistado por Finnegan. Os agentes mais próximos da mansão ficaram a postos.

“Vamos entrar, então?”, falou Finnegan, pronto para se levantar.

“Calma”

George aguardou em silêncio.

 

XI

A espera pelo retorno da permissão foi um desafio de autocontrole. Os pássaros sentiram-se corajosos o suficiente para retornarem aos seus postos sobre os galhos das árvores, e agora cantavam como se os instigassem a prosseguir.

“Temos permissão com restrição de não-engajamento”, falou a voz de Samantha, misturada à estática. “Duas unidades de reforço estão a caminho”

“Vocês a ouviram”, falou George. “Sem engajamento. Recuem ao primeiro sinal de antagonismo. Nick, Scott, entrem pelos fundos e nos alcancem na entrada principal”

“Há muitas janelas aqui, George”, respondeu Scott no rádio. “E o jardim é muito amplo. Seremos alvos fáceis”

“Então circulem a casa e nos encontrem no portão principal. Eu e Finn vamos entrar com vocês.”

Levaram quinze minutos para reunirem-se em um local próximo ao portão principal, ainda encobertos pela mata alta. Havia um número menor de janelas naquela face da mansão, e cobertura ampla para avançarem devagar, caso encontrassem problemas. Assim que se encontraram com a dupla que os esperava na entrada, Lucas os atualizou

“Nenhum movimento. O portão principal está aberto”

“Aberto?”

“É mecânico, com retorno hidráulico”, falou Finnegan, que analisou o portão de longe. “Vê como as duas bandas não encostam uma na outra? Alguém forçou o portão para fora, e o sistema hidráulico não conseguiu voltar para a posição inicial. O mecanismo ficou comprometido”

Estavam prontos para entrar. Finnegan pediu que o time aguardasse e avançou primeiro. Seguiu agachado. Forçou o portão, que cedeu com facilidade, e avançou até a guarita. A porta estava aberta. O lugar era pequeno, com espaço para apenas dois vigias. Sobre a mesa havia um maço de cigarros aberto, um cinzeiro com cinzas frias, e uma xícara luxuosa, com o fundo manchado de café ressequido. Acionou o mecanismo de abertura do portão, abrindo caminho para o resto do time.

Prosseguiram com Finnegan à frente e George no final da fileira. Adiante, a mansão os observava imóvel, aguardando a sua aproximação. O time procurou se posicionar atrás da fonte de água que enfeitava a entrada, ou ao lado dos carros estacionados por todo o percurso, em busca de algum tipo de cobertura. Mantinham os olhos nas janelas. A porta principal estava muito próxima agora. Podiam ver o corpo no chão e sentir o cheiro acre de carne em decomposição.

Finnegan agachou-se ao lado do morto. O rigor mortis o havia transformado em uma estátua congelada em um grito de horror. Uma espuma avermelhada fugia da boca do defunto, os olhos arregalados o encaravam. A roupa de gala estava intacta em seu corpo: o terno preto, a camisa branca e a gravata vermelha escondiam boa parte da decomposição de quem os vestia. Achou que conhecia o homem. Encontrou sua carteira no bolso interno, e confirmou a suspeita.

“É Arthur McGrimmon”, falou no rádio.

Sir Arthur McGrimmon?”

“Sim. Ele mesmo”

O homem era uma figura proeminente na política inglesa e nome importante no parlamento. De todas as coisas que esperavam encontrar naquele dia, conexões entre os Filhos do Ancestral e o Parlamento Britânico não estavam entre elas – quanto mais o cadáver de uma figura pública daquele porte.

“Puta merda”, disse Anton. O agente havia espiado para dentro do saguão principal e agora se afastava do grupo para vomitar. Scott, a atarracado agente escocês, arriscou abrir um pouco mais da porta. Arregalou os olhos.

“Jesus Maria José…”

George foi em seu encalço. Com um empurrão, escancarou uma das bandas da porta de entrada. O hall de entrada da mansão estava pintado com sangue e vísceras.

Era um imenso salão aberto, e tudo o que o adornava – o carpete, os tapetes caríssimos, a mobília vitoriana, as cortinas, os pilares gregos e os corredores laterais – estava enfeitado com morte. Havia um pandemônio de corpos em decomposição, dispostos em um padrão lôbrego, o desespero estampado nos rostos voltados para a porta. Era óbvio que haviam morrido tentando fugir de alguma coisa. Havia cadeiras luxuosas que, apesar de agora jogadas ao chão pela fuga infrutífera da multidão, formavam um semi-círculo voltado na direção de uma parte vazia do saguão, onde o chão de mármore exibia longas manchas de sangue.

“O que aconteceu?”, falou Samantha no rádio.

O time demorou para responder. Anton ainda vomitava, afastado da porta principal, apoiado em um dos carros de luxo. Finnegan evitava tocar no sangue seco. Todos observavam a cena em silêncio, como se tivessem esquecido as palavras que descreveriam o que viam. Até mesmo as paredes e o teto abobadado, seis metros acima, não haviam escapado dos sinais da carnificina. Um braço desprendido do corpo jazia pendurado em um dos ganchos do lustre dourado ao centro, o sangue já seco não pingava mais.

“Houve um massacre aqui”, falou George.

“Massacre?”

“Há dezenas deles…”

Finnegan avançou para dentro da cena, devagar. Os corpos inchados vestiam roupas de gala e alguns dos rostos ainda inteiros exibiam máscaras variadas. Uma parte dos cadáveres exibia claros sinais de alvejamento, porém outros haviam sofrido golpes concussivos, e ainda outros foram retalhados por espadas espalhadas pelo chão, antes meros objetos de decoração, agora tingidas de escarlate.

“Finn, volte. Vamos deixar isso para a perícia”

“Vamos investigar primeiro”

“Isso é…”

“Eu sei o que é, mas você sabe o que vai acontecer quando a perícia chegar”

Os agentes fingiam não ouvir a conversa. Sabiam o que aconteceria: tempo perdido. Havia ao menos uma figura proeminente morta, e dezenas de outros corpos a serem investigados. Eles trabalhavam no Departamento de Assuntos Fora do Comum. Apesar de terem uma rede própria de processos dentro do sistema, levariam meses – talvez anos – até terem acesso ao que foi encontrado naquela mansão. Até lá, já teriam perdido o rastro dos Filhos do Ancestral. Ninguém gostava da lentidão da justiça, mas Finnegan, acima de todos os outros ali, não tinha tempo a perder. Já investigava o desaparecimento dos pais há dois anos, e não queria que mais um se passasse sem respostas.

“Você vai”, falou George. “Eu e os outros vamos estabelecer um perímetro”

Era a escolha certa, afinal, Finnegan não era um agente do MI6. O pior caso seria ele ser enviado de volta ao exército irlandês sob acusações de obstrução da justiça. A tentativa valia a pena.

 

XII

Era inevitável sujar as botas com o sangue daquelas pessoas, e por vezes ele teve que erguer os pés para evitar pisar sobre os corpos mutilados. Notou que segurava o cabo da pistola com força desnecessária. Respirou fundo. Só naquele instante notou o esforço que desprendia para manter a calma. Havia tomado a decisão no calor do momento, considerava-se forte o suficiente para aquilo, mas agora, vendo-se cercado por um mar sangue e moscas, vacilava. O cheiro de morte era intenso demais para que seus sentidos se acostumassem. Parecia atravessar as narinas e penetrar a pele, e ele estava convencido de que nenhum banho o tiraria do seu corpo. Já havia passado por sua cota de batalhas no Afeganistão, onde a visão de corpos soterrados por escombros ou empilhados em valas comuns não era rara, mas ali a atmosfera assumia um tom surreal: era uma mansão transformada em mausoléu. Uma festa interrompida pelo desespero. As memórias vieram tão pungentes, que ele sentiu o peso do fuzil nas mãos, a pressão do capacete contra o crânio, e ouviu o tilintar do equipamento de guerra. Teve de redobrar os esforços para voltar à realidade. Forçou a diminuição do ritmo respiratório, e afrouxou o punho que segurava a arma.

Olhou para trás: o resto do time o acompanhava com os olhos, em silêncio fúnebre. Finnegan avançou até o centro do salão, onde os corpos rareavam e de onde todos pareciam fugir. Era como se ali fosse o palco de uma peça teatral, a qual todos assistiam antes que o espetáculo se tornasse uma hecatombe.

Encontrou no chão – nas mãos rígidas de uma mulher – um cartão com uma lista de nomes, dispostos em duplas.

“Era um ringue de lutas ilegais…”

“O que disse?”

A voz de George veio de longe. Finnengan notou que sussurrava para si mesmo. Repetiu a dedução no rádio.

“Era um ringue de lutas ilegais. Achei o card. Não reconheço todos os nomes, mas alguns eu sei que são lutadores antigos de MMA. Lembra de Chael Sonnen?”

“O que foi banido por doping?”

“Esse mesmo”

Finnegan voltou os olhos novamente para a carnificina. Imaginou que o lutador estava ali em algum lugar, mas encontrá-lo envolveria tempo que não tinham no momento. Mal conseguiu manter os olhos nos mortos por muito tempo.

“George… Cory Walker estava aqui”

Foi Samantha quem respondeu no rádio:

“O namorado da Skye Levy?”

“Ele mesmo”

“Vou puxar a ficha dele”

Skye era uma cantora de alguma relevância no Reino Unido, e que havia desaparecido há poucos meses. Cory, seu namorado, era um lutador de MMA que caíra em desgraça quando foi banido do esporte por ter matado o seu oponente, no que foi obviamente uso de violência desnecessária. A mídia e o povo culparam-no pelos dois crimes, mas a justiça o havia absolvido. Não havia nada que o ligasse ao desaparecimento da namorada. O povo, por outro lado, ainda o odiava, e a equipe de George ainda o mantinha na sua lista de nomes relevantes para a investigação que conduziam.

Finnegan suspirou, frustrado. Há algum tempo suspeitavam que Skye fosse uma das vítimas dos Filhos do Ancestral – será que o seu corpo mutilado estaria ali, entre as cadeiras e as vísceras?

Será que os corpos dos seus pais estariam ali, também?

Tomado por uma urgência repentina, caminhou a passos largos até um dos corredores laterais.

“Vou entrar”

“Algo em mente?”, falou a voz estática de George, no rádio.

“Quero entender que merda aconteceu aqui”

Procurou por um lugar específico. Abriu porta atrás de porta. Lá fora, os pássaros cantavam uma melodia de fundo para a cena, que nada tinha que ver com o que ele presenciava. Viu quartos luxuosos, alguns com malas de viagem abertas sobre a cama. Viu salas de estar, salas de leitura e de jantar, alguns com sinais da morte que havia irradiado do salão. Corpos sobre o carpete, manchas de sangue nas paredes. Encontrou a cozinha, de onde poderia acessar os fundos da mansão. Até que, ao seguir o som das moscas, finalmente encontrou o que buscava.

Havia mais um corpo no chão diante de uma das portas de um longo corredor, perfeitamente ornamentado por um carpete macio, agora maculado pela poça de sangue seco. As entranhas do homem escapavam pelo estômago e se espalhavam pelo uniforme. Fazia parte do staff. Aparentemente havia morrido tentando fugir até aquela sala, que fora convertida em um centro de vigilância, com monitores espalhados sobre mesas, cujas telas exibiam o feed das câmeras do lugar. Finnegan ergueu os pés para passar por cima do corpo, e adentrou o recinto. Em uma das telas, pôde ver George aguardando o seu retorno. O resto do time era exibido pelas câmeras externas, fazendo o reconhecimento da área e estabelecendo um perímetro seguro.

Seu objetivo era ver o que havia acontecido seis dias atrás, quando supostamente Milena foi enviada junto com outras modelos para o evento que estava para acontecer ali. Apertou enter em um teclado, e uma tela surgiu, exigindo as suas credenciais. Estalou a língua. Não conhecia muito de eletrônicos. Estava acostumado a ver salas como aquela, mas jamais conseguiria navegar pelo sistema de vigilância, tanto menos quebrar a proteção por senha. Tinha a solução para o impasse, mas ela era no mínimo ineficiente. Procurou por um cabo USB. Encontrou o celular de um dos guardas ainda conectado ao carregador. Retirou o cabo, e ligou ao seu próprio celular, então encontrou o gabinete de um dos computadores e plugou o aparelho. Acessou um aplicativo do exército irlandês, feito pelo departamento de inteligência. Executou o comando e aguardou. O sinal ali não era bom, mas o aplicativo não precisava de muita coisa. Ele varreria o computador e se o sistema de vigilância fosse conhecido e tivesse brechas, o aplicativo faria o download do máximo de informações que pudesse. O problema, para Finnegan, era que havia muita incerteza naquela equação. Aquele tipo de coisa era como magia negra para ele. Tudo o que podia fazer era confiar nos cérebros do departamento de inteligência que haviam feito o aplicativo, e aguardar.

Perambulou pelo quarto, com passos impacientes. Abriu gavetas. Em uma das câmeras, George era uma figura em preto-e-branco, pixelada e imóvel como uma estátua, aguardando o seu retorno. Scott voltava da sua ronda para relatar o que havia encontrado do lado de fora. O grupo trocava mensagens esporádicas pelo rádio.

Abriu um armário e encontrou dezenas de pastas com documentos diversos. Folheando-as, encontrou algo que não esperava achar ali. Uma pasta com o nome Isaac Dampora.

“Bingo”.

3 comentários em “O Jarro – Conto em Série – Parte IV (Marco Piscies)

  1. Kelly Hatanaka
    25 de junho de 2024

    A ambientação está cada vez melhor, bem como o suspense e o mistério, crescentes. É o tipo de história que eu gosto de ler. Algumas pistas foram expostas. Os pais de Finn podem ter um papel relevante na história. E Isaac Dampora? Este nome já apareceu antes, não é?

    Muito bom!

    • Marco Saraiva
      26 de junho de 2024

      Obrigado pela leitura Kelly! Esse eh o problema de escrever contos em serie, ne? Tem uma discrepancia entre as datas de lancamento e as pessoas tem que voltar atras pra rever os detalhes 😅

      Mas era assim que faziam no passado, quando os grandes contistas da nossa historia lancavam contos em serie em jornais e revistas “pulp”. Entao, de certa forma, estou me sentindo fazendo parte de uma midia que era considerada “morta”, escrevendo como os contistas escreviam ha decadas, hahaha.

      Enfim, quando terminar, eh claro, a ideia eh lancar todos os contos unidos em um livro ou compilado =)

      Abracao!!

      • Kelly Hatanaka
        26 de junho de 2024

        Olha, estou gostando muito da história. Realmente, é preciso voltar ao começo, pois a narrativa é bem rica em detalhes e sinto que são todos importantes (afinal, é um mistério). E minha memória é de peixe.Mais precisamente, da Dori.

        Assim que vc postar o último capítulo, vou voltar e ler tudo de uma vez. Ou comprar o livro, né?

E Então? O que achou?

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Publicado às 24 de junho de 2024 por em O Jarro e marcado .