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Detox Literário.

Último Suspiro (Leda Spenassato)

Em são Miguel do Oeste, naquele dia nublado, era fevereiro de dois mil e vinte e quatro, as nuvens andavam devagar como anda a mãe de cabeça baixa ao deixar o cemitério, Corpos e Almas, após enterrar seu único filho.

Acacilda havia perdido seu companheiro, pai do Luciano, para a Covid-19, em dois mil e vinte dois, quando ele ainda ensaiava seus primeiros passinhos.

O Cemitério estava lotado de gente morta. Os únicos vivos ali eram o coveiro, ela e uma senhorinha, menina há bastante tempo, que rezava e chorava ao pé de um túmulo, luxuoso, não era uma casinha, mas tinha um crucifixo de granito enorme, desses que devem custar mais do que um barraco inteiro.

Seu menino, era a sua única companhia no casebre em que moravam e que em nada se comparava as casinhas do almocávar que têm paredes de alvenarias, janelas de vidro, telhados de telhas, não eram capins.  Luciano foi engavetado, discriminado até mesmo em sua última morada. Aprisionaram os seus sonhos, os seus objetivos, mas não sua alma de criança que sonhava ser enfermeiro para cuidar das outras criancinhas.  

Eles não haviam tomado as vacinas e não deixaram vacinar Luciano, que pedia com as mãozinhas postas, queria ser imunizado, não queria morrer de meningite, queria frequentar a escola, não iria ficar o dia todo na rua debaixo de sol quente ou chuva fria, empurrando ou puxando uma carrocinha.

Quando a diretora da creche ligou, Acacilda que havia tomado para si o trabalho do falecido marido, ex-ginete, se encontrava longe da escola, com a carrocinha vazia, o que fazia ela pesar mais do que cheia.  A fome não tem peso tem desnutrição. Luciano na escola comia bem. Não estava mais desbotado.

“Alô! Seu filho está com febre, precisamos que venha imediatamente aqui”.

SAMU, bombeiros, paramédicos, convulsão, confusão!

Luciano não a reconheceu, roubado de seus braços foi amarrado na maca e seguiu para o Hospital Terezinha Gaio Basso. Acacilda, com sua carrocinha, perdeu de vista a ambulância. No hospital avisaram, precisava acompanhar o filho que seria transferido, imediatamente, para outro hospital em Chapecó, onde Luciano faleceu no dia seguinte. No obituário o diagnostico meningite bacteriana.

Recolhendo papelão das ruas, Acacilda juntou papel de todos os tipos, cagados, enrolados em ratos mortos, raposas, filhotes de gatinhos e muitas outras ‘porquiçes’, mas nenhum lhe causou tanto sofrimento quanto a folha que o médico lhe entregou.

Causa mortis, meningite bacteriana, criança não imunizada   

Era verdade, estava escrito ali naquele maldito papel. O papel que nunca queria ter recebido.     

Havia vacina e era de graça, Acacilda transtornada, gritou, urrou como um animal, amaldiçoou todos aqueles que desacreditam na ciência.

Por ideologia política, ela e o marido, que antes ginete, havia deixado a lavoura para trás para exercer a atividade do cavalo puxando a carrocinha, recolhendo material reciclável, haviam brigado com suas famílias, não aceitavam que eles pensassem diferente, preferiram acreditar que as vacinas eram para matar, nunca para salvar. Em suas ignorâncias eram detentores da sabedoria. Diziam que os cientistas queriam saber mais do que Deus e que as epidemias eram coisas previstas na bíblia. Mas certamente, a não ser em suas entrelinhas, a Bíblia da Acacilda e do Andin não menciona aos que nela creem, que os vírus iriam descartá-los ou aos seus rebentos por conta das suas crenças. 

Acacilda descia pela Rua Marcilio Dias, andava devaneando, sem rumo, sem amigos, sem família, sem dinheiro, com dívidas e muitas dúvidas. Tudo aquilo que antes parecia a ela verdades absolutas, agora são falácias malignas. Ela  não era uma moça leiga havia concluído o ensino médio, mas desde que  se deixou levar pelos outros, acreditando que determinada crença salvaria sua família da miséria, só se deu mal. Caminhou de encontro ao retrocesso, ao abismo que descambou em sua derradeira trajetória.   

As lágrimas gotejavam, sujas, amargas e salobras sobre as suas havaianas meia sola. Os pensamentos desencontrados iam e vinham entrecortados pela crença e a descrença, travavam, nesse interim de revolta, uma guerra onde quem morre são sempre os soldados da linha da frente, enquanto os mandantes permanecem protegidos em seus palácios com mesa farta.

Bíblia, dúvidas, Deus, credo, ignorância, descrença… tudo devaneando em sua cabeça, uma coisa querendo mais espaço do que a outra, a outra se agarrando e persistindo para não ser expulsa, a seguinte se escondendo entre os neurônios para não ser riscada ou apagada e a última, um doce bêbado, um José Maria com um coração enorme, mas com neurônios inclusivos.  Cada qual mais soberba do que a outra disputando espaço entre a descrença que se alavancava na batalha que a morte produzia e desencadeava no cérebro da pobre mulher. Sem que ela atinasse para este ou para aquele pensamento, a não ser o da revolta e da indignação que sozinha era obrigada a engolir.   

Burrice tem tamanho, tem sofrimento, tem arrependimento e frustação. Era essa frustração que desfortunava a mãe desacreditada que se tonara, Acacilda. Desde que Andin morrera praticamente asfixiado, sem conseguir pronunciar o nome do seu próprio filho, ela se perguntava o que ele queria dizer quando na sua hora derradeira, deitado sobre os trapos de sua cama, pois o médico o mandou para casa para morrer. Ele suando frio como sua uma pessoa que enfarta, apertava a sua mão tentando pronunciar alguma coisa que ela não entendeu: “ vá, vá, vá, vá ele” .

Como se o tempo tivesse parado no último vá que Andin pronunciou, Acacilda se deixa acocorar, na calçada da esquina das Ruas Marcilio Dias e Getulio Vargas, bem em frente a uma loja de colchões, sua vontade era se estirar sobre um deles. Sabia, seria expulsa. Ali chorou compulsivamente, chorou a ignorância de seu marido e a sua. Excomungou a bíblia e a todos os que fizeram com que ela e o marido desacreditassem das vacinas.

“Vá, vá, vá, vacina nosso filho?”, seu moribundo marido, pedia.

Ao botar o pé nessa esquina,  Acacilda, como uma morta-viva foi acometida por  um choque neurogênico grave, mas que durou só o tempo de despertar para a culpa, a culpa que caminhará com ela, todas as vezes que lembrar da morte dos seus dois meninos. Antes da morte do esposo teve a sua conivência para o ato pecaminoso, privar o direito que tinha o filho de tomar as vacinas. Após a morte de Andin, a burrice aliada a sua ignorância não permitiram a Acacilda a compreensão do seu último pedido.    

Seu choro compulsivo, nenhum transeunte que cruzava por ali seria capaz de entender, por mais que a dor alheia cause empatia em uma boa porcentagem do povo migueloestino, teve os que a julgavam, os que fingiam não a ver e os que tentavam entendê-la. Compreendê-la seria impossível. Perder o marido foi dolorido, muito dolorido. Neste dia perdeu um pedaço do seu chão, mas nada se compara a dor de perder um menino de quatro anos, ainda mais quando esse gurizinho é seu único filho. E, saber que inconscientemente ou ‘conscientemente’  foi culpada pela sua morte

“Vá, vá, vá, vacina nosso filho?”

Dizem que o tempo ameniza as dores. Sim, ameniza, mas não apaga, é como pedir desculpas por um erro. As desculpas não redimem o crime. 

Acacilda sabe que irá carregar a culpa por quanto viver e que o arrependimento será seu fiel e derradeiro companheiro. Não poderá jamais mudar o passado, mas poderá comprar Havaianas novas se quiser.   

De um só gole toma o copo de água que uma criança lhe oferece engolindo seu próprio choro, levanta, esfrega seus olhos vermelhos espalhando a dor pelo corpo inteiro. O dia, antes, claro vai desmaiando, a criança do copo de água lembra-lhe Luciano

Queria poder rasgar a raiva que a ignorância fê-la culpada. Pegaria os querubins, pelos braços e apararia suas asas, para que não voassem por aí causando sofrimento. Se é que sofrimento tem nome.   

Haviam lhe dito que os ricos precisam dos pobres para continuarem ricos, mas preferiu acreditar no oposto, na ladainha de que são os pobres que precisam dos ricos para sobreviverem. “Santa ignorância, santa exploração”.

 “ A todos só interessava o meu voto, bem que a minha família avisou”.

Após um mês chorando seu luto e mal dizendo a si e a todos os que, de alguma maneira ou outra, tinham induzido Andim e ela a escuridão do pensar, Acacilda tomou a decisão mais acertada de todas em sua vida.

Chorou trinta dias consecutivos, comeu e dormiu muito mal, definhava quando um raio de sol, muito atrevido, cruzou os capins do seu casebre e chamou-a à razão. Só tinha dois caminhos para percorrer; ficar definhando até a morte, com pena de si mesma, ou recomeçar para a vida. Sabia que o caminho não seria fácil, mas como era ainda bastante jovem, com determinação e persistência haveria de conseguir. Enfrentar o preconceito e a discriminação não seria uma batalha fácil, mas nada em sua vida tinha sido fácil. O primeiro passo seria se aproximar da sua mãe e do seu pai. A mãe lhe perdoaria de prontidão, tinha certeza, já seu pai teria que cativar, demonstrar com atitudes e carinho que se deixou enganar, mas que estava disposta a reparar seus erros. Voltaria a estudar como ele sempre quis, tornaria seu sonho uma realidade.  Presenciar a filha recebendo o diploma de professora. A parte mais difícil seria administrar a culpa, a imensa culpa, que lhe acompanhará até o último suspiro.

Sobre Fabio Baptista

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20 comentários em “Último Suspiro (Leda Spenassato)

  1. danielreis1973
    6 de março de 2024
    Avatar de danielreis1973

    Último Suspiro (GAJÔ, 2024)

    Comentário: história de uma mãe, catadora de reciclados, que perde o marido e o filho pequeno em sequência – ambos para a ignorância sobre vacinas e ciência, e pela visão política – que permeia o texto, como contexto da história (pandemia e negacionismo). O autor demonstra ter conhecimento direto ou ter feito uma boa pesquisa para a ambientação da história em São Miguel do Oeste (inclusive citando hospital e ruas da cidade), o que dá veracidade à narrativa. O fato do marido dela ter morrido de Covid, pela recusa em aceitar a eficácia das vacinas, e do filho morrer de meningite por não estar vacinado, cria o pano de fundo para o drama pessoa dela – que é o recomeço, estabelecido como tema do desafio.

    Critérios de avaliação:

    Premissa: o autor(a) parte de uma narrativa quase jornalística, tal sua proximidade com o que aconteceu e acontece ainda em alguns lugares do país, um aspecto macro inserido no drama particular, onde finalmente a protagonista sofre pelas decisões e consequências e se redime num recomeço, mudança de vida e atitude.

    Construção: o texto é linear e utiliza a voz narrativa para fornecer ao leitor informações prévias da história individual e pensamentos das personagens. Às vezes, essa voz “interrompe” demais o fluxo narrativo, para contextualizar a realidade vivida pelos personagens, a meu ver. Mas reitero o cuidado com a pesquisa/ambientação e construção das personagens, tudo muito crível, ainda que não extraordinário.

    Efeito: o efeito final é razoável, foi um texto que não conseguiu me conectar muito, pelo tom às vezes enfático na questão do pensamento antivax e suas consequências físicas e morais. Também me pareceu um pouco estranho uma família tão simples estar tão “fechada” com esse pensamento, o que vimos acontecer principalmente com pessoas de maior “instrução”, que adotaram essa filosofia como muleta ideológica para seus conceitos político-eleitorais.

  2. Antonio Stegues Batista
    3 de março de 2024
    Avatar de Antonio Stegues Batista

    Os pais do menino Luciano, por não acreditar na eficácia das vacinas, não o levam para vacinar. A vacina tríplice viral, previne o sarampo, a caxumba e a rubéola. A vacina Meningocócica C. protege contra doenças da meninge. Os pais do menino não deixam que ele tome a vacina, ele contrai meningite e morre. Acacilda, a mãe, se arrepende mas é tarde demais, agora ela tem que viver com a culpa pela morte da criança. Mas ela decide recomeçar a sua vida, mesmo sendo difícil esquecer a decisão errada. O conto está bem escrito, tem uma narrativa diferenciada, com frases elaboradas evitando os clichês. Embora alguns trechos repetem o mesmo assunto, gostei da obra, mesmo que o tema parece ter sido espremido dentro do  enredo.

    ……………………………………….

  3. fabiodoliveirato
    2 de março de 2024
    Avatar de Fabio D'Oliveira

    Buenas!

    Irei usar dois critérios para avaliar os textos deste desafio: técnica e criatividade. A parte técnica abrange toda a estrutura do conto, desde o básico até o estilo do autor. E a parte criativa abrange o enredo, personagens e tudo que envolve a imaginação do autor.

    Vamos lá!

    TÉCNICA

    O conto está bem escrito, em linhas gerais. É uma narrativa morna, sem floreios, um pouco forçada, que cumpre bem seu papel. Algumas técnicas interessantes foram aplicadas, para fazer o leitor se compadecer com a situação de Acacilda. Pra mim, não funcionou muito, pois faltou um pouco de naturalidade na narrativa.

    CRIATIVIDADE

    Aí está o grande problema do conto: sua história é pedante.

    Não tem nenhum problema repassar alguma mensagem no conto, não mesmo, o ideal é que tenha uma mensagem. O problema está na forma como ela é passada. O tom do conto é completamente panfletário. É como se o autor fosse um militante na praça contando uma história triste e forçada para mexer com o coração das pessoas.

    Existem inúmeras formas de executar essa mesma história, passar a mesma mensagem e não recorrer ao pedantismo ou panfletarismo.

    CONSIDERAÇÕES FINAL

    O autor não escreve bem. Não está mal escrito. O problema é que os leitores não gostam que ideias sejam forçadas neles. Ele aceita quando é sutil, reflete e aceita ou não. Há uma grande diferença nisso.

    • rsollberg
      10 de março de 2024
      Avatar de rsollberg

      Esse comentário é muito curioso:

      “O conto está bem escrito, em linhas gerais.”

      “O autor não escreve bem”. (em um desafio com a premissa do anonimato, esse comentário beira ao ridículo)

      Há certo pedantismo nesse comentário. Particularmente evito bastante falar em nome dos leitores.

      Cara, autora, sou um leitor, fato inegável, esse comentarista não tem minha procuração e, obviamente, não fala por mim.

      • fabiodoliveirato
        11 de março de 2024
        Avatar de Fabio D'Oliveira

        Obviamente isso foi um erro e não me atentei a isso.

      • fabiodoliveirato
        11 de março de 2024
        Avatar de Fabio D'Oliveira

        Obviamente isso foi um erro e não me atentei a isso.

      • fabiodoliveirato
        11 de março de 2024
        Avatar de Fabio D'Oliveira

        Mas valeu por apontá-lo, assim me atento melhor nos comentários e não cometo mais esse tipo de erro doido, hehe. Honestamente, não sei como deixei isso passar.

  4. Givago Thimoti
    1 de março de 2024
    Avatar de Givago Thimoti

    Último suspiro (GAJÔ, 2024)

    Primeiramente, gostaria de parabenizar o autor (ou a autora) por ter participado do Desafio Recomeço – 2024! É sempre necessária muita coragem e disposição expor nosso trabalho ao crivo de outras pessoas, em especial, de outros autores, que tem a tendência de serem bem mais rigorosos do que leitores “comuns”. Dito isso, peço desculpas antecipadamente caso minha crítica não lhe pareça construtiva. Creio que o objetivo seja sempre contribuir com o desenvolvimento dos participantes enquanto escritores e é pensando nisso que escrevo meu comentário.

             Como eu já avaliei todos os 12 contos mínimos, chegou o momento de comentar “no amor”. Não terá nota, tampouco vou comentar sobre questões gramaticais. Irei escrever apenas sobre minhas impressões e o que tocou ou não o leitor nesse conto.

    Primeiras impressões

    – Conto que esbarra, bem de levinho no tema

    +/- Interessante falar sobre anti-vacina. Acho que poderia ter sido melhor abordado, talvez.

    – Alguns erros gramaticais, faltou uma boa revisão para corrigir eles.

    Alma 

    Esse conto me trouxe um questionamento. Quando escrevemos, claramente temos a intenção de passar uma mensagem, além de contar uma história. Por exemplo, quando Machado de Assis escreveu Memórias Póstumas de Brás Cubas, ele não objetivava tão somente retratar a aristocracia carioca da época; tinha um tom de ironia machadiana. A crítica ao Brás Cubas estava ali, em meio ao amor de Marcela por uns meses e uns contos de réis, uma vida dedicada à politica pelo único objetivo de status…

    Uma vez eu escrevi o conto aqui para esse site pensando em criticar o racismo. Foi chamado de “conto-panfleto”. E, embora a crítica de um comentarista foi no sentido de negar inclusive o racismo, depois de alguns anos, eu compreendi a crítica dos demais comentaristas: quando você foca demais na mensagem, na causa que você quer defender (e aqui, eu digo, repito e afirmo pois já estive no mesmo lugar — enquanto escritor, você tem total direito em defender algo que você acredita)

    Meu questionamento é: até que ponto devemos moldar as histórias que escrevemos aos recados que devemos passar? Qual a melhor forma de fazer isso? Infelizmente, eu senti uma forçação de barra, sabe? Um exagero quase. A mensagem é super válida, eu simplesmente amo receber uma agulhada de vacina, contudo, senti que aqui a mensagem teve uma supremacia em relação à história que diminuiu a beleza da escrita (porque teve trechos bonitos e dignos de parabéns), transformando a história quase num panfleto com moral.

    De novo, não é uma crítica para menosprezar o trabalho do escritor/ da escritora, mas trazer um questionamento reflexivo.

    No mais, a história está bem desenvolvida, mesmo considerando os erros gramaticais. Há parágrafos bonitos e bem escritos que, infelizmente, poderiam ter sido mais utilizados pelo escritor/ pela escritora.

  5. Marco Aurélio Saraiva
    1 de março de 2024
    Avatar de Marco Aurélio Saraiva

    Faltou no final um esclarecimento: “panfleto sobre vacinação, entregue aos cidadãos em 2024 para incentivar a vacinação do povo“.

    O texto é muito bem escrito, com um uso bem poético das palavras. A leitura é boa, sofrida, passa bem a emoção desejada. Mas achei a leitura meio “boba”, descarada demais. Acacilda é uma personagem token, sem personalidade, sem apelo. Está ali para exemplificar uma situação. O conto inteiro parece realmente apenas um grande panfleto sobre os perigos da falta de vacinação. Ou seja: a leitura torna-se entediante bem rápido.

    O que não gostei: vírgulas! Enxerguei vários lugares que pediam vírgulas, e vários outros que tinham virgulas demais. Será que esta foi a forma que o autor encontrou para demonstrar as diferenças sociais do Brasil? Enquanto alguns parágrafos têm muitas vírgulas, outros passam fome de pontuação?

  6. Fernanda Caleffi Barbetta
    29 de fevereiro de 2024
    Avatar de Fernanda Caleffi Barbetta

    Oi, Gajô

    O texto começa bem, a história é boa, mas acaba se perdendo um pouco na preocupação em tratar de muitos temas de uma só vez. Cuidado para que não se torne um texto protesto, que deixe sobressair a voz do autor. Por exemplo: “Haviam lhe dito que os ricos precisam dos pobres para continuarem ricos, mas preferiu acreditar no oposto, na ladainha de que são os pobres que precisam dos ricos para sobreviverem.

    “queria ser imunizado, não queria morrer de meningite, queria frequentar a escola, não iria ficar o dia todo na rua debaixo de sol quente ou chuva fria, empurrando ou puxando uma carrocinha.” – o menino tinha apenas quatro anos, não acho que esta postura esteja de acordo com sua idade.

    Alguns trechos que deixam explícita a voz do autor podem ser suprimidos, na minha opinião. Òr exemplo: “Dizem que o tempo ameniza as dores. Sim, ameniza, mas não apaga, é como pedir desculpas por um erro. As desculpas não redimem o crime”.

    “Acacilda havia perdido seu companheiro, pai do Luciano, para a Covid-19, em dois mil e vinte dois, quando ele ainda ensaiava seus primeiros passinhos.” – aqui, ficou confuso. Dá a entender que quem ensaiava os primeiros passinhos é o pai de Luciano. Talvez trocar “ele” por “o menino”.

    “uma senhorinha, menina há bastante tempo” – achei estranho dar esta informação aqui.

    “Seu menino, era a sua única” – tirar a vírgula

    “nada se comparava as (às) casinhas”

    “não eram capins” – não entendi, ficou solto aqui.

    “Eles não haviam tomado as vacinas” – eles quem? Seria legal especificar.

    “diagnostico” – diagnóstico

    “parecia (pareciam) a ela verdades absolutas”

    O parágrafo que começa com “Bíblias, dúvidas…” está bem confuso, são muitas informações, pouca pontuação.

    “o que ele queria dizer quando na sua hora derradeira, deitado sobre os trapos de sua cama, pois o médico o mandou para casa para morrer” – parece que falta alguma coisa.

    “Acacilda se deixa acocorar” – aqui mudou para o tempo presente.

    “conivência para o ato pecaminoso, privar o direito que tinha o filho de tomar as vacinas” – pecaminoso será que é a melhor escolha? Achei estranho.

    “teve os que a julgavam (julgaram), os que fingiam (fingiram) não a ver e os que tentavam (tentaram) entendê-la.”

    “compara a (à) dor”

    “Não poderá jamais mudar o passado, mas poderá comprar Havaianas novas se quiser” – ?

    “O dia, antes, claro vai desmaiando” – não entendi

    “rasgar a raiva que a ignorância fê-la culpada” – esta frase está estranha.

    “ A todos só interessava o meu voto, bem que a minha família avisou” – por que este trecho está entre aspas?

    “ Andim e ela a (à) escuridão do pensar”

  7. Vladimir Ferrari
    29 de fevereiro de 2024
    Avatar de Vladimir Ferrari

    A primeira impressão na leitura, vê um segundo parágrafo, na minha opinião, mal construído. Perfeito em palavras, mas “fora de ordem”. Então, percebo que a substância da narrativa, acabou embromando-se em palavras. Como, por exemplo, na frase: “Os pensamentos desencontrados iam e vinham entrecortados pela crença e a descrença”. Há muitas frases inúteis ao contexto (de que serve ao tema, o nome do cemitério?). Há falhas de pontuação, frases compridas demais. Uma “digressão localizada”, ou seja, um devanear em palavras que não foge, mas também não progride no tema. Minha opinião. Sucesso.

  8. Priscila Pereira
    22 de fevereiro de 2024
    Avatar de Priscila Pereira

    Olá, Autor(a)! Tudo bem?
    Você apresenta uma história boa (que ao meu ver)foi muito mal contada. Tanto quanto o que se conta, como se conta é importantíssimo.
    Talvez não tenha sido sua intenção (ou talvez tenha) mas o conto ficou extremamente panfletário. E não precisava. A história é boa. O remorso de uma mãe por ter perdido o filho por uma doença evitável, se tivesse sido colocado de forma diferente teria sido um ótimo conto. Mas do jeito que está, pra mim, não tem nenhuma credibilidade, não inspirou nenhum “aprendizado”, só me fez desgostar do conto, o que é uma pena…
    Além da parte ideológica, o conto apresenta outros problemas, repetição de ideias iguais ou semelhantes, contar ao invés de mostrar, temos demais as “falas” e pensamentos do autor e não dos personagens, falta uma revisão mais apurada, uma lapidação melhor…
    Quero ter a chance de ler outros textos seus.
    Desejo sorte no desafio!
    Até mais!

  9. Simone
    22 de fevereiro de 2024
    Avatar de Simone

    O conto trata da culpa e do arrependimento por uma escolha — a de não vacinar o filho, contra as doenças infecciosas — uma dor que ela terá de carregar por toda a vida, ter contribuído por ignorância com a morte dele. Creio que o enredo torna o conto repetitivo, mas talvez seja o efeito buscado pelo autor ou autora, para passar o arrependimento tal como ele é, um pensamento insistente. O tema recomeço aparentou um pouco forçado. Talvez a palavra, o verbo recomeçar se estivesse implícito convenceria melhor. A escrita e a clareza estão boas, o eleito de repetição não ficou agradável para mim como leitora. A narrativa chama a atenção para essas crenças de que a imunização traz mais malefícios do que prevenção ainda existe e está bem demonstrada no texto. O pedido do marido, que não foi compreendido, não evitou a desgraça. A mãe carregará a culpa e tem essa dimensão, mas, ainda assim, depois de chegar aos limites da dor, decide se forçar a recomeçar. Um bom conto, embora a escolha do desenvolvimento da história tenha dado ao texto uma característica de lentidão para ressaltar o clima de desesperança. Destaco como ponto alto do texto a cena do adoecimento, quando a mãe recebe a notícia e começa seu desespero. Imaginamos a dor dela pela perda do único filho, pouco tempo depois da viuvez.

  10. Kelly Hatanaka
    22 de fevereiro de 2024
    Avatar de Kelly Hatanaka

    Estou avaliando os contos de acordo com os seguintes quesitos: adequação ao tema, valendo 1 ponto, escrita, valendo 2, enredo, valendo 3 e impacto valendo 4.

    Adequação ao tema
    Atende ao tema. Acacilda, após perder o filho, questiona suas crenças e ações e resolve recomeçar.

    Escrita
    Meio confusa. Claramente, faltou uma revisão básica. Fica a impressão de que o autor sentou e saiu escrevendo tudo o que lhe passava na cabeça. Terminou e postou o conto. Algumas coisas causaram estranheza, mas podia ser uma escolha estilística, como por exemplo, escrever anos por extenso. Outras, simplesmente ficaram estranhas mesmo, como:
    “Acacilda havia perdido seu companheiro, pai do Luciano, para a Covid-19, em dois mil e vinte dois, quando ele ainda ensaiava seus primeiros passinhos.” – dá a impressão que o marido estava aprendendo a andar.
    “O Cemitério estava lotado de gente morta” – Ah vá!
    “(…)uma senhorinha, menina há bastante tempo(…)” – como assim?
    Também encontrei vírgulas separando o sujeito do verbo: “Seu menino, era a sua única companhia…”
    Há também um abuso do melodrama. Até um certo ponto, funciona. Mas, ultrapassando o limite, entramos no cômico. Ao se retratar a dor, ainda mais a dor suprema, funciona muito melhor a insinuação, a sutileza, do que a repetição.

    Enredo
    Acacilda perde o filho para a meningite e se culpa por não ter lhe dado vacinas.

    Impacto
    Toda leitura ensina algo. Toda história tem muito do autor. Mas me incomoda quando a leitura tem o objetivo primeiro de ensinar e quando a visão de mundo do autor domina tudo. Isso leva a um tom panfletário e didático, que empobrece a história. Ainda mais se os argumentos são superficiais.

    Kelly

  11. Andre Brizola
    21 de fevereiro de 2024
    Avatar de Andre Brizola

    Olá, Gajô!

    Ok, eu esperava encontrar um conto com o assunto covid por aqui, e tinha medo de como seria minha reação. Esse foi um período realmente ruim pro meu lado, e ainda é um tema que não consigo tratar de forma muito legal. Mas vamos lá.

    A história contada, sobre a falta da vacinação e a consequentemente morte do filho pela meningite, nos coloca frente ao declínio e a possível retomada de Acacilda. Vemos aí a forma como ela se culpa por ter sido induzida, com o marido, a uma ignorância que colocou ambos perante a morte. Uma situação real que observamos de forma muito real nos últimos anos.

    Com relação ao texto tenho alguns apontamentos que julgo serem pertinentes para um melhor desenvolvimento. Há o claro interesse do autor em desenvolver o enredo através de um tratamento mais elegante, utilizando figuras de linguagem menos comuns e construções mais poéticas. Por outro lado, senti algum ruído com alguns trechos que surtiram efeito contrário, como “o Cemitério estava lotado de gente morta” (o que me parece meio óbvio) e “juntou papel de todos os tipos, cagados, enrolados em ratos mortos, raposas, filhotes de gatinhos e muitas outras ‘porquiçes’” (não eram papeis?). Digo isso sem saber se a intenção era a ironia, sarcasmo, ou algo assim, mas da forma como ficou, achei que foi contra a beleza do texto. E o conto apresenta diversas alternâncias entre passagens realmente interessantes, com outras assim, “jogando contra”. E digo isso já pensando que existe aí a diferença entre o português do Brasil e de Portugal.

    O enredo é bastante simples, narrando a forma como Acacilda perdeu o filho e como se julga culpada por ter insistido na ignorância disfarçada de conhecimento que ela e o marido optaram por adotar no que dizia respeito à vacinação. Mesmo com a carga dramática das últimas palavras do marido, que atormentavam a protagonista, ainda gostaria de ter encarado algo um pouco mais criativo.

    A minha opinião é a de que é um conto que poderia acertar muito no drama puro e simples, mas que acaba escorregando um pouco nas escolhas das construções textuais. E, sobre o tema recomeço, embora tenha surgido apenas no final, acredito que o arremate tenha dado sentido à trama, de modo que entendo que esteja bem adequado.

    Parabéns e boa sorte no desafio!

  12. Jowilton Amaral da Costa
    21 de fevereiro de 2024
    Avatar de Jowilton Amaral da Costa

    Achei o conto razoavelmente bom. É uma história triste, com um tema importante, mas, que para mim, foi mal contada. Uma mulher, catadora de rua, perde o marido pra covid e pouco depois o filho para uma meningite, tudo isso porque não se vacinaram. O mote é bem bom, falar sobre isso é bem importante. No entanto, a forma como foi contada não me agradou muito, ficou muito dramático, até mesmo exagerado, caricato. O início do conto tem umas construções confusas, no segundo parágrafo, ficou parecendo que quem ensaiava os primeiros passinhos era o marido dela. Do meio pro fim a narrativa melhora. O impacto não foi grande, muito por conta deste exagero narrativo. Boa sorte no desafio.

  13. Felipe Lomar
    17 de fevereiro de 2024
    Avatar de Felipe Lomar

    olá,

    o seu texto tem alguns problemas.

    primeiramente, apesar de passar uma mensagem realmente importante, ele faz de uma forma pouco sutil, de forma até panfletário, eu diria. Isso tira o impacto estético, e até mesmo tira a efetividade da mensagem. A sua escrita também tem algumas coisas. As figuras de linguagem que você escolheu não acrescentam muito ao lirismo do texto. Também tem uns problemas de pontuação que tornam a leitura bastante truncada. Esse texto merece uma boa revisão, talvez ser reescrito, para conseguir passar a mensagem que pretende. Tem um componente emotivo aí que pode ser muito poderoso, se for bem trabalhado.

    boa sorte!

  14. claudiaangst
    16 de fevereiro de 2024
    Avatar de claudiaangst

    Oi, Gajô, tudo bem?
    Sim, o seu conto aborda o tema proposto pelo desafio. Há um recomeçar, ou um desejo de recomeçar, ou ainda um recomeçar em cada parágrafo que se estende com longas frases que me tiraram a respiração (experiência mental, mas perdi o fôlego). Um apreciador de Saramago?
    Vamos aos personagens – Acacilda – interessante nome que parece mais um erro de digitação, o narrador engoliu um espaço e A Cacilda virou Acacilda. Fui até pesquisar no Google por esse nome, com essa estranha grafia, e não achei. Já considero um ponto positivo: criatividade. Mas por favor, não batize sua filhinha ou neta com esse nome tão… tão… peculiar. Se o nome é quase um erro, a vida da protagonista é mesmo uma sucessão de enganos que ela no final está disposta a apagar. Vai voltar a ser a filhinha dos pais que traçam seu futuro de professora. Mas, vem cá, cidadão, como ela faz para passar a borracha em tudo o que viveu e chegar lépida aos braços dos pais, como se nada tivesse acontecido? Você fala da imensa culpa que ela carregará até o último suspiro (imagem carregada de pieguice, mas tudo bem), no entanto, ela passa a ideia de querer recomeçar do zero (putz, agora fui no clichezão) como se fosse ainda uma mocinha cheia de sonhos e planos. Será?
    Quanto à revisão, há algumas falhas de pontuação, falta de maiúscula em “são Miguel”. Também achei confusas algumas construções frasais como: “havia perdido seu companheiro, pai do Luciano, para a Covid-19, em dois mil e vinte dois, quando ele ainda ensaiava seus primeiros passinhos” Por um momento, pensei que o companheiro era quem ensaiava seus primeiros passinhos quando morreu. Lógico que um segundo de raciocínio já desembaralhou a ideia que fiz. “o que fazia ela pesar mais” soou muito mal. O que a fazia pesar mais do que cheia – seria o correto.
    Há alguma confusão na escolha dos tempos verbais, mas nada que não se possa consertar. Como, por exemplo, na frase final: “A parte mais difícil seria administrar a culpa, a imensa culpa, que lhe acompanhará até o último suspiro.” > seria/acompanharia. Divergência entre futuro do pretérito e o futuro do presente. Uma outra opção seria: A parte mais difícil seria administrar a culpa, a imensa culpa, sua companheira até o último suspiro.
    O nome Andin apareceu no Google, mas como nome de mulher. Há também a opção de “andino” em francês. Francamente, um casal com nomes como Acacilda e Andin batizar o filho com o nome Luciano já é um sinal de esperança para a humanidade. Só não me convenceu a criancinha pedindo, implorando para ser vacinada e sabendo que não queria morrer de meningite. O garoto não era muito novinho para isso? Crianças geralmente não gostam de agulhas.
    O pai morreu porque não tomou a vacina para amenizar os efeitos da Covid. No entanto, ele se arrependeu no leito de morte (ai, lá vou eu outra vez!) e pediu à mulher que vacinasse a criança. O filho morreu porque a mãe, ignorante, não permitiu que fosse vacinado contra a meningite. Tragédia por ignorância acho que dói mais.
    O conto causa impacto, aborda um tema atual, traz algumas passagens com ótimas imagens e construções frasais interessantes. Há uma forte carga emocional que conduz toda a narrativa.
    Parabéns pela participação no desafio e boa sorte para lidar com a ignorância disseminada por aí.

  15. Gustavo Castro Araujo
    13 de fevereiro de 2024
    Avatar de Gustavo Castro Araujo

    Aqui está um conto com forte pegada política, social e, por que não dizer, ideológica. Só por isso a pessoa que o escreveu merece parabéns, já que é preciso coragem para expor um posicionamento – seja ele qual for – sob o risco constante de cancelamento.

    No caso temos a saga de uma mulher simples, pobre, o tipo de gente que sobrevive recolhendo lixo para reciclagem, que perde o marido e o filho para doenças infecciosas (COVID-19 e meningite) devido à falta voluntária de vacinação. Em meio à dor das perdas sequenciais, nós, leitores, a conhecemos num momento de reflexão e arrependimento, o que leva, no fim, a uma espécie de promessa auto-imposta de recomeço. Quer se tornar professora.

    Pessoalmente, acredito que o maior crime dos tempos recentes tenha sido a campanha escancarada do último governo no sentido de desacreditar vacinas. Por isso me identifico com o texto, imaginando quantas famílias passaram por dores semelhantes graças à desinformação patrocinada justamente por quem deveria incentivar a imunização.

    Por outro lado, é possível imaginar que outros leitores possam torcer o nariz para isso, considerando o texto um desserviço ou, como se diz atualmente, comunista, na medida em que apoia a política de vacinação obrigatória.

    Diante dessa dicotomia, no mais agravada pelo extremismo que tomou conta do país, o conto se posta ao lado da razão, criticando de forma veemente as vertentes de ordem religiosa que embasaram parte da campanha de descrédito.

    Talvez haja algo de panfletário na maneira como as ideias foram trazidas a lume, mas em tempos como o que vivemos, é cada vez mais importante afirmar o óbvio: vacinas salvam vidas.

    A rigor, o texto careceria de ampla revisão, já que há vários erros gramaticais. Porém, esses erros combinam perfeitamente com o modo pelo qual uma pessoa simples como a protagonista exporia suas ideias, suas frustrações e seus arrependimentos. O tom é quase de desabafo, com os argumentos se sobrepondo uns aos outros não necessariamente numa ordem lógica. Para mim, ficou excelente.

    Só não curti o final, em que toda a desgraça pela qual passou Acacilda é canalizada para seu retorno à casa dos pais e para a retomada da vida, com o objetivo de tornar-se professora. Essa parte ficou um tanto acelerada e até mesmo inverossímil – afinal, se os pais dela tinham condições de ajudar, teriam feito isso já no início da vida de casada dela. Enfim, não ficou no mesmo nível do restante da história.

    De todo modo, é um bom texto, que prende e gera desconforto. Num universo literário em que a maioria do que se produz procura apenas agradar, este tipo de conto merece destaque. Parabéns e boa sorte no desafio.

  16. Jorge Santos
    11 de fevereiro de 2024
    Avatar de Jorge Santos

    O conto Ultimo Suspiro é quase pedagógico, na medida em que evidencia a importância das vacinas. Esta é uma realidade que, para mim, é quase inconcebível: sou Português e aqui as vacinas são obrigatórias. Não podemos sequer matricular um filho na escola se este não for vacinado. Nos últimos anos temos visto um retrocesso neste processo. O mais grave é que isto tem a ver com a desacreditação da ciência em prol de ideias pré-concebidas por alguém que se acha dono da razão só porque leu num livro ou, versão atual, viu nas redes sociais. O seu conto fala disto levado ao limite: a mulher vê a sua vida destruída depois de perder o marido e o filho. É no fundo do poço que ela decide que o verdadeiro problema é o seu orgulho e decide reatar o relacionamento com a família.

    Gostei da mensagem, mas creio ter sido levada ao exagero. O conto perdeu o ritmo, o que foi ajudado por problemas de pontuação. A repetição das ideias, em vez de aumentar a carga dramática, faz com que o leitor perca o interesse. Fez-me sentir que assistia a uma novela mexicana, onde tudo o que pode acontecer de mal acontece, mas a situação é salva no último momento por algo inesperado. Neste caso, fui apanhado de surpresa pelo final feliz, que justifica a adequação ao tema, mas pareceu bastante forçado. Preferia que ela tivesse decidido ir à luta, reinventar-se.

E Então? O que achou?

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Publicado às 10 de fevereiro de 2024 por em Recomeço e marcado .