EntreContos

Detox Literário.

Sem Reparo (Claudia Roberta Angst)

— Pode pelo menos me ouvir?

Posso. Estou ouvindo, mas não devia. Meus ouvidos, braços, pernas deveriam permanecer trancados, meu corpo [selado] para sempre.

Eu…

[Você]. Acho esquisito o sacudir de ombros em desalento. Não sei reagir a essa sua prostração. O que quer que eu diga? [Será que tenho algo a dizer?]

— Talvez se a gente tentar de verdade…

As palavras te encurralam, posso perceber. Enquanto as ideias me escapam, apavoradas e sem rumo. Assim como elas, eu não queria estar aqui, [nem você], sei que não.  

— Um recomeço! É isso, é disso que precisamos. Prometo que, dessa vez, não crio problemas. Juro!

Por que você está falando tanto? Por que não cala essa sua boca e me deixa em paz? Estou tão cansada dessa ladainha.

Um [recomeço]?! Nem em um milhão de anos, meu bem. [Recomeçar?] Pois, sim… digo, pois: não!

— Um novo capítulo, nada de … Uma nova história, renovada!

Romeu e Julieta teriam como [recomeçar]? Anna Karenina contaria com [outra chance] se tivesse dado um passo para trás? Bentinho seria menos estúpido se olhasse [mais uma vez] para os olhos de ressaca de Capitu?

— Não vamos jogar fora tudo o que conquistamos. Dez anos! Não, acho que foram mais…  

Treze, este é o número que procura. [Azar].

Quem disse que [recomeços] são sempre bons? Uma guerra também pode [recomeçar]. A humanidade pode fingir aceitar um [novo começo] e alcançar uma eternidade em desespero. Nem tudo pede [volta]. Nem tudo merece [reprise].

Tanta gente já conseguiu…

Mas nós, meu caro, não. Perdemos o trem, o momento de evitar o veneno, a chance de guardar a adaga. Perdemos um ao outro, na ressaca de olhos desenganados. [Perda total].

— Por que não tentar? Eu posso mudar… por que não?

Por que meus olhos parecem despedaçar quando formam sua imagem na retina? Um espectro, um fantasma que baila entre pensamentos e emoções. Isso é o que queria dizer, mas não digo. Calo.

[Por que me calo?]

— Todo mundo merece uma segunda chance…

E uma terceira. Uma quarta. [Uma quinta?] Quantas chances eu te dei, enquanto tentava silenciar o bom senso que me restava? Perdi a conta, perdi a noção do intolerável. Não guardo mais esperanças, meus bolsos estão vazios de expectativas.

— Sei que podemos superar tudo isso…

Eu não. Pensei que soubesse, mas não sei. Aliás, [não sei de mais nada], e isso, de uma certa forma, é libertador.

— Lute, lute por nós.

Luto. É só o que faço desde que te conheci. Contra todos, contra o mundo, contra mim mesma. O preto sempre caiu melhor em você do que em mim. [Pálida, sempre pálida]. Você que vista o luto. [Por nós].

Por favor, meu amor, por favor… Por favor…

Você de joelhos, tão patético. Em oração, [confissão?]. Sinto suas mãos afagando meu cabelo, tão docemente…Quase acredito em sua mudança. Quero acreditar, mas algo me diz que é [tarde demais].

— Você é tão linda, linda demais! Não quero te perder… faço qualquer coisa, qualquer coisa, qualquer coisa.

Esperava uma argumentação mais inteligente, algo impactante, sabe? Mas aí vem você com esse sentimentalismo barato. Essa sua postura está realmente… Ei, espere! Tem algo errado nesse quadro.

 O quê?

Minha cabeça, suas mãos, o chão, os joelhos.  

Vejo tudo como uma cena de cinema. [Ou será tudo um teatro?] As mãos molhadas, as lágrimas, o sangue.

[Sangue?]

— Nunca mais faço isso, juro. Acredite em mim, nunca mais.

[O choro]. Pode ficar quieto? Preciso pensar, mas quero dormir. Tenho tanto sono, como se o tempo escorresse por dentro do meu corpo e desaguasse em um oceano de sonhos… Eu quero ir, preciso ir. [Mas para onde?]

— Meu Deus, não vê o quanto eu amo esta mulher?

Piegas. [Não era ateu?] Tom apelativo demais para um escritor tão [como você diz?] aclamado por todas as mídias. Mas quem sou eu para criticar suas falas?

Não quero recomeçar [a mesma] briga. Não quero requentar [outra] discussão. Não quero nada que seja [“outra vez”]. Não quero…

— Me perdoa. Acorda, por favor…

Meus olhos estão abertos, não vê? [Eu vejo]. Mas como posso…? Não é reflexo de um espelho, é imagem inteira, em infinitas dimensões. Eu vejo, enxergo mais do que nunca. [Íris castanhas, paralisadas].

Vá embora. Posso [recomeçar] sozinha, sei que sim. Só preciso me levantar e seguir.

Não me abandone assim… Ai, pelo amor de Deus, fique comigo!

Está esperando o quê? Um outro desfecho? Se manda daqui! [Grito?] Se é por falta de adeus, recolha todos os “não me toque/vá embora/nunca mais” que espalhei por essas paredes, por este chão, pela minha pele, pelos meus olhos… Liberte a casa da sua presença.

Vê? Não há como recomeçar.

Lave as mãos. Entregue os pontos.

Me deixe.

Sobre Fabio Baptista

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16 comentários em “Sem Reparo (Claudia Roberta Angst)

  1. Rangel Santos
    10 de março de 2024
    Avatar de Rangel Santos

    Um texto lindamente triste! Esse marido exigindo um recomeço, cheio de culpa e frases prontas, que já não dizem mais nada.

    Há uma escrita feminina, política, cheia de denúncia. Ao não explicitar exatamente a situação, deixa tudo mais universal, bem próximo, como se fosse alguma das milhões de mulheres que passam por isso em todo lugar.

    Deixando isso de lado, vou para o ponto que me fez escrever o comentário. Estamos cada vez mais reféns de escritas que deixem tudo muito evidente. Qualquer ambiguidade ou subtexto acaba sendo alvo de críticas como “isso precisaria ser melhor explorado”, “não fica claro o que ocorreu” etc. Não sou fã de finais abertos ou narrativas complexas só para transparecer erudição, mas não é o caso desse texto.

    No caso desse texto, não estamos jogados em um relato para nos contar uma história ou evento. Estamos acompanhando um trecho da história, um recorte, como que vivenciando a situação pela perspectiva da personagem-narradora.

    O diálogo dela é com o marido e dele com ela. Talvez possam ser entendido como dois monólogos, de qualquer modo, um direcionado ao outro. Não tem como nos levar aos pormoneres, a não ser de modo artificial, unicamente para deixar mais desenhado ao leitor, o que não precisa ser desenhado.

    Não é uma narrativa sobre como, ou se, ela morreu. Isso me parece fruto de leitores presos nessas sagas e volumes sem fim que brotam por aí, em que se é preciso saber detalhadamente o desfecho de cada personagem. E depois das personagens no entorno dessas personagens. Dos filhos dessas persoagens, num universo sem fim.

    Aceitemos que há coisas que podem permanecer escondidas, sugeridos, que só saibamos que estão lá por inferência. É assim a nossa vida toda, nossas crenças, nossas certezas são só um amontoado de fantasias, fabricadas por mentes antes da nossa.

  2. danielreis1973
    6 de março de 2024
    Avatar de danielreis1973

    Sem Reparo (Silenciosa)

    Comentário:

    O que aparentemente seria um casal discutindo a relação, sendo que ela está sem expressar suas palavras, se desvenda como uma situação em que ela está inerte/catatônica, apesar de demonstrar estar insatisfeita e disposta a um “recomeço” diante das súplicas do seu par. Foi um texto que me obrigou a uma segunda leitura, principalmente para admirar sua construção, apesar de já ter antecipado na primeira vez a situação criada. Admirável as construções do diálogo inexistente/impossível, as referências literárias e a poesia amarga de trechos como “Mas nós, meu caro, não. Perdemos o trem, o momento de evitar o veneno, a chance de guardar a adaga. Perdemos um ao outro, na ressaca de olhos desenganados. [Perda total].”

    Critérios de avaliação:

    Premissa: o texto é construído justamente por um diálogo inexistente, intuído em pensamentos da narradora catatônica. Essa impossibilidade, a meu ver, é a maior sacada do autor, e o que realmente me agradou de início.

    Construção: destaque para a construção dialógica e poética entre os dois amantes, sendo que acompanhamos o desespero dele (não pela separação, mas pela impossibilidade do encontro) e a frieza dela (pela vontade de recomeçar, mas não como o outro gostaria, em seu arrependimento pelas violências praticadas).

    Efeito: muito bom, sem dúvida o meu conto preferido neste desafio. Parabéns!

  3. fabiodoliveirato
    2 de março de 2024
    Avatar de Fabio D'Oliveira

    Buenas!

    Irei usar dois critérios para avaliar os textos deste desafio: técnica e criatividade. A parte técnica abrange toda a estrutura do conto, desde o básico até o estilo do autor. E a parte criativa abrange o enredo, personagens e tudo que envolve a imaginação do autor.

    Vamos lá!

    TÉCNICA

    Muito bem escrito, executado com inteligência (sem entregar todos os pontos de uma vez), não tenho nada a reclamar. A voz silenciosa, representada pelo itálico, é mais forte do conto, enquanto o dialogador tem uma postura pedante, como se tivesse acabado de cometer um erro e busca, em vão, remediar a situação.

    CRIATIVIDADE

    Admito: não sei se o conto é fechado numa única história ou aberta para várias interpretações. De qualquer forma, enxerguei um relacionamento abusivo que chegou até o feminicídio. Toda a postura dele, pedante e chorosa, além de alguns comentários da voz silenciosa, deixou-me com essa impressão.

    Não é algo novo, mas o formato e execução é. Gostei bastante deste quesito. Fora isso, não tem mais nada que impressione. Até porque o conto se propõe apenas a isso.

    CONSIDERAÇÕES FINAIS

    O conto é bom. Não posso falar que gostei do conto em todas suas linhas, mas tem umas sacadas bem legais e uma técnicas interessantes.

  4. Marco Aurélio Saraiva
    1 de março de 2024
    Avatar de Marco Aurélio Saraiva

    Gostei. Acho que tive exatamente a experiência que o autor queria que eu tivesse: no início achei que estava apenas acompanhando uma mulher silenciosa e entediada (ou contendo a própria ira), ouvindo os pedidos de desculpas do marido. Então, aos poucos descobri que ela na verdade estava morta, ou morrendo. Isso explica, inclusive, as frases do marido entrecortadas pelos pensamentos dela. A consciência se esvaindo. Os estranhamentos e a mistura com a própria realidade. E, no final, até mesmo a presença da voz de deus!

    Excelente conto! Muito bem executado!

    O que não gostei: acho que a única coisa que não entendi muito bem foram os colchetes, eles acabaram tirando um pouco a minha atenção, porque fiquei tentando dar significado para eles. Mas no final acabei atribuindo a um estilismo. Nada de mais!

  5. Givago Thimoti
    1 de março de 2024
    Avatar de Givago Thimoti

    Sem reparo (Silenciosa)

    Primeiramente, gostaria de parabenizar o autor (ou a autora) por ter participado do Desafio Recomeço – 2024! É sempre necessária muita coragem e disposição expor nosso trabalho ao crivo de outras pessoas, em especial, de outros autores, que tem a tendência de serem bem mais rigorosos do que leitores “comuns”. Dito isso, peço desculpas antecipadamente caso minha crítica não lhe pareça construtiva. Creio que o objetivo seja sempre contribuir com o desenvolvimento dos participantes enquanto escritores e é pensando nisso que escrevo meu comentário.

             Como eu já avaliei todos os 12 contos mínimos, chegou o momento de comentar “no amor”. Não terá nota, tampouco vou comentar sobre questões gramaticais. Irei escrever apenas sobre minhas impressões e o que tocou ou não o leitor nesse conto.

    Impressões iniciais 

    – Táaaaaaaa, achei muito estranho esse tanto de colchetes, parágrafos em itálicos.

    – Uma história extremamente estranha, com uma pegada experimental evidente e que não funcionou.

    Alma

    Esse conto tem uma pitada de conto experimental, sabe? A sensação que tive era de estar lendo um texto em formato de peça de teatro. Pude até imaginar uma espécie de monólogo entre os dois personagens, o que é interessante. Contudo, não funcionou comigo.

    Com pouca papa na língua, (mas com muito respeito), eu senti falta de uma história, um enredo aqui. Ao terminar a leitura, eu percebi que tinha em mãos um conto que falava sobre um feminicídio, um assassino arrependido diante do corpo inerte e o espírito da esposa falecida falando para as paredes, sem entender também muito bem o que aconteceu. E, por mais que você escritor/escritora tenha de fato exposto por meio de nuances o que se tratava a história, eu achei um tanto negativa a forma como foi escrita a história.

    Primeiramente, essa mistura de falas desconexas no início me causou muita confusão. Não há uma ambientação para me encaixar e me conectar com a história. Eu começo a releitura e imagino, sem certeza, que foi que aconteceu. Por exemplo, partindo do pressuposto que ela já não está se comunicando porque foi agredida fatalmente, por que ele demorou tanto tempo para reagir, se desesperar e pedir pelo amor de Deus para ela não morrer. Mas, se era uma discussão que evoluiu para uma agressão, o que impedia ela de falar antes? E as respostas se limitaram a ser seus pensamentos?

    Se ela já estava morta antes, por que demorou tanto para perceber sua morte? Se não estava, como não reagiu diante do ataque? Logo, o foco nesse não diálogo entre o casal acabou dilapidando a história excessivamente.

    Inclusive, esse foco do conto nas falas/pensamentos, nessa (des)comunicação desconexa do que estava acontecendo também me incomodou bastante. Há muita confusão nesse conto. 

    A conclusão que cheguei ao final sobre esse conto é que faltou trabalhar de uma maneira melhor com o enredo, ao invés de focar excessivamente nesse jogo teatral de não-comunicação entre eles; introduzir o leitor, desenvolver a situação-problema, trabalhar com o clímax… 

  6. Antonio Stegues Batista
    1 de março de 2024
    Avatar de Antonio Stegues Batista

    Colchetes é usado para indicar uma informação, para esclarecer o significado. No conto não consigo compreender o significado do colchete em certas palavras de algumas frases, ou mesmo nas palavras soltas. As palavras por si só se explicam, não vejo outro sentido para ser explicado quando o sentido é lógico e óbvio. Na narrativa só um personagem fala, o marido, parece que ele agrediu a esposa. Ela caiu e está agonizante? O diálogo é só do marido, ele fala e ela está muda. Ele está ajoelhado diante dela, ela ouve e não consegue falar. Ele promete que vai mudar, pede para ela abrir os olhos, acordar. ela fala em sangue e suponho que esteja ferida mortalmente, semi-inconsciente. Algumas palavras apenas sugerem o significado, não vai direto ao ponto, é meio nublado, mas essa é a arte da estrutura. Acho uma opção válida de estilo  que se destaca do comum, porém dá espaço para várias interpretações, o que não é bom. Se uma narrativa é confusa, não é compreendida, perde pontos. É com os erros que aprendemos. Bola pra frente.

  7. Fernanda Caleffi Barbetta
    29 de fevereiro de 2024
    Avatar de Fernanda Caleffi Barbetta

    Olá Silenciosa

    Um texto enigmático, interessante, surpreendente em alguns pontos.

    O formato de diálogo deu agilidade ao texto.

    Só me incomodaram os trechos entre colchetes. Não entendi. Imaginei que fossem como uma forma de mostrar o que foi apenas pensado, o que não foi dito ou fazer um contraposição ao que foi dito antes. Porém, se fosse isso, todos estes trechos e palavras poderiam ser eliminados sem prejuízo do conto, sem que a informações fosse completa. Isso acontece em alguns casos, como: “E uma terceira. Uma quarta. [Uma quinta?] Quantas chances eu te dei” / Nem em um milhão de anos, meu bem. [Recomeçar?]

    Em outros casos, se ele for retirado, perde-se a continuidade e o sentido do texto. Exemplos:

    Nem tudo pede [volta]. Nem tudo merece [reprise] / Anna Karenina contaria com [outra chance] se tivesse dado um passo para trás? / Posso [recomeçar] sozinha.

  8. Vladimir Ferrari
    29 de fevereiro de 2024
    Avatar de Vladimir Ferrari

    No início, parece ruim um texto cheio de palavras “encolchetadas”. Mas com o passar da leitura, tudo faz sentido. Após a primeira vista de olhos, reuni em uma nova leitura, apenas o que estava entre colchetes e há uma renda tão cheia de sentimento que o restante do texto parece supérfluo. Acrescentaria os colchetes na última frase: [Me deixe]. Um texto correto e preciso, sem erros e com pontuação que guia-nos pela leitura. Profissional. Deveria ser desclassificado, pois é covardia competir com algo tão belo, tão bem escrito, tão profundo. Sugiro publicar, após o desafio, um poema só com as palavras em colchetes, em linhas quebradas, espalhadas pelo papel. Desde já, minha nota é 11!

  9. Kelly Hatanaka
    22 de fevereiro de 2024
    Avatar de Kelly Hatanaka

    Estou avaliando os contos de acordo com os seguintes quesitos: adequação ao tema, valendo 1 ponto, escrita, valendo 2, enredo, valendo 3 e impacto valendo 4.

    Adequação ao tema
    Hum… complicado. O tema até está ali, na palavra “recomeçar”/”recomeço” espalhadas pelo conto. Mas não acho que atenda ao tema. Ele fala do contrário do tema: um final definitivo. Mas, a impossibilidade de um recomeço não seria um ângulo específico, do tema? Bom, vou considerar que atende parcialmente.

    Escrita
    Excelente, correta e clara. Gostei muito das palavras entre [], ressaltando ideias, contradizendo, trazendo dúvidas, pensamentos dentro de pensamentos. Também gostei muito da maneira como a história foi contada, com sutilezas.

    Enredo
    Um homem trava uma conversa desesperada com a mulher moribunda. Ela ouve as palavras, mas as respostas estão apenas em seus pensamentos. Engraçado como é insinuado que ele a matou (ao menos, foi esta minha leitura) porém, ela não o acusa. Ela simplesmente fala sobre a certeza de que ele jamais será melhor, de que não há chance de reconciliação, de que ela quer que ele parta. Isso dá uma impressão de distanciamento, como se ela já não estivesse mais viva, como se fosse já menos terrena.

    Impacto
    Gostei deste conto. O impacto maior fica por conta da sutileza da narrativa e da história que se insinua por entre os pensamentos da personagem. Talvez o enredo seja a parte mais simples. Um momento de despedida, cheia de culpa e arrependimento, de um lado, e cansaço e raiva de outro.

    Parabéns pela participação e boa sorte.
    Kelly

  10. Jowilton Amaral da Costa
    19 de fevereiro de 2024
    Avatar de Jowilton Amaral da Costa

    Achei o conto de médio para bom. Texto em diálogos que nos remete a um casal tentando a reconciliação, mas, no fim, percebemos que um das personagens foi assassinada, se por acaso eu entendi a história. O uso de colchetes deu muitas paradas bruscas na leitura, travando demais, atrapalhando a fluidez e em alguns momentos deixando a leitura chata. Por que os colchetes? só questão de estilo mesmo? Enfim, para mim dificultou, o que fez a narrativa perder pontos. O ponto alto da história foi o feminicídio, que me pegou de surpresa no final, gerando um bom impacto. Boa sorte nos desafio!

  11. Andre Brizola
    18 de fevereiro de 2024
    Avatar de Andre Brizola

    Olá, Silenciosa!

    Um conto de formato um tanto diferente, que disfarça a simplicidade do enredo, e deixa tudo com um charme bem convincente. Temos aí os apelos de um marido sobre o corpo da esposa que, entendo, se suicidou.

    Não é bem um diálogo, uma vez que o marido não tem acesso às respostas, mas é interessante o jogo de ida e volta das súplicas, das ofertas do marido e das respostas e justificativas da esposa para o fim do relacionamento [e da vida]. Sobretudo quando ela argumenta utilizando a literatura canônica para dar vazão às suas decisões, dando voz a uma metalinguagem muito bem colocada.

    Num desafio com o tema recomeço, a criatividade, pra mim, é o ponto principal a ser explorado, já que a margem não é muito larga e muitos [muitos mesmo] optaram pelo drama tradicional. É o caso aqui também. Mas achei que a sua opção por um ritmo mais ágil, nesse “diálogo” dinâmico e cheio de referências, foi uma decisão ótima. E, mesmo utilizando bem menos palavras do que o limite, você ainda conseguiu encaixar algumas construções muito bonitas e poéticas [sendo a minha preferida “Se é por falta de adeus, recolha todos os ‘não me toque/vá embora/nunca mais’ que espalhei por essas paredes, por este chão, pela minha pele, pelos meus olhos… Liberte a casa da sua presença”].

    Ótimo conto, muito bem escrito e bem organizado dentro do espaço utilizado. E, o que é bastante importante pra mim, bem encaixado dentro do tema. Se depender de mim estará em uma boa posição no desafio!

    Parabéns!

  12. Priscila Pereira
    15 de fevereiro de 2024
    Avatar de Priscila Pereira

    Olá, Silenciosa! Tudo bem?
    Seu conto fala de um recomeço que não poderá acontecer… Se entendi bem o cara matou a moça, não é? Talvez não tivesse a intenção de matar, (nem todos tem, né) apenas não conseguiu dosar seu amor possessivo e ciumento. Quantas mulheres passam por isso? É tão horrível pensar que muitíssimas acabam tão silenciosas quanto a sua personagem.
    O conto está maravilhosamente bem escrito, poético, não explícito, deixando muita coisa subentendida e para a imaginação do leitor! Gosto bastante desse estilo e acho que tenho uma ideia de quem seja a autora 😏.
    É um conto em que o estilo supera a história, até porque a história em si é simples e muito usada, mesmo que seja uma ótima crítica social. É um ótimo conto. Parabéns!
    Boa sorte no desafio!
    Até mais!

  13. Felipe Lomar
    14 de fevereiro de 2024
    Avatar de Felipe Lomar

    Olá,

    É até interessante a premissa. Um amante buscando um recomeço após um passado ruim. Mas a execução é confusa e truncada. É difícil entender o que o autor pretende passar. O uso de colchetes, negrito e texto colorido acaba não sendo claro para o leitor. Seriam pensamentos? Ênfase? Não deu pra entender. Sinto que, talvez, seja um escritor mais iniciante que ainda não achou uma forma mais madura de retratar o sentimentalismo em seus textos.

    boa sorte!

  14. Simone
    14 de fevereiro de 2024
    Avatar de Simone

    Um monólogo, e o interior de um dos personagens (a mulher), um enredo muito bem construído, impossível parar de ler. E quando se chega ao final se volta para a releitura, porque vamos à busca dos indícios, das pistas da morte. E como aconteceu a morte? Isso o escritor ou a escritora deixa para a imaginação do leitor. Apesar de ter gostado muito e de ter imaginado a cena final como um suicídio, não descarto o assassinato. Senti falta de mais algumas pistas nas falas daquele que lamenta a perda. É um conto curto com muito subtexto, com situação crítica, com romance, com realidade. O recomeço às avessas. É tarde para insistir em recomeços. Realmente só queria (bobagem de leitora) mais profundidade no monólogo. Parabéns pela forma brilhante como a história é contada!

  15. Gustavo Castro Araujo
    12 de fevereiro de 2024
    Avatar de Gustavo Castro Araujo

    O texto nos apresenta um diálogo. Bem, não exatamente um diálogo, mas um monólogo em que a destinatária elabora considerações que não chega a proferir. A ideia passada é de alguém um tanto angustiado com a partida iminente de sua amada. Essa pessoa que “fala” realmente está à beira do desespero, pelo que me parece, porque não aceita de maneira alguma esse rompimento. De outro lado, ouvindo tudo mas sem reação visível, está essa mulher que, a despeito das digressões apaixonadas do outro, apresenta-se pouco receptiva, discordando na verdade, de tudo o que é dito. Há, nas reações dela, certa amargura e, percebi, um sarcasmo corrosivo.

    Eu poderia dizer que a cena reflete a consequência de um episódio fatal de violência doméstica, em que o autor do crime (essa pessoa que fala) que era apaixonado pela vítima mostra-se arrependido e propõe a ela (desacordada ou morta) que recomecem.

    A mulher se limita a ouvir e a discordar veementemente de tudo o que é dito por seu algoz. Não quer recomeço, não quer outra chance. Para ela, o rompimento trará a alforria.

    Definitivamente, ambos estão em polos opostos nessa relação: enquanto ele nutre uma adoração (aparentemente) doentia por ela, ela quer dele distância. Parece ter acreditado nele, no amor dele, em um momento anterior, mas agora não o suporta.

    Bem, essa é uma das interpretações possíveis. Se falei dela foi porque a mim pareceu a mais plausível, mas é óbvio que outras versões dessa relação podem surgir, mais interessantes e plausíveis do que a minha, rs

    O conto é bem escrito, cheio de imagens subliminares, traduzidas pelos colchetes que nos fazem retornar a leitura para perceber os duplos sentidos – uma estratégia bem interessante. Gostei das alusões a Bentinho e a Anna Karenina, que reforçam o aspecto deletério da relação entre ambos os protagonistas.

    Enfim, uma história competente e bem contada, mas creio que o(a) autor(a) poderia ter mergulhado um tantinho mais, falado mais dos motivos que levaram ao rompimento, falar dos porquês da violência (não que deva existir necessariamente um motivo), enfim, abordar um pouco mais da relação entre ambos. Creio que isso reforçaria o caráter doentio do homem (e da mulher, talvez).

    Parabéns e boa sorte no desafio.

  16. Jorge Santos
    11 de fevereiro de 2024
    Avatar de Jorge Santos

    Olá. Este é um conto difícil de ler. Percebo a intenção: homem que acabou de agredir a mulher, ao vê-la no chão, inconsciente, tenta pedir desculpa. Pelo que li, para além de inconsciente, ela parece estar morta, pelo que as respostas devem ser dadas pelo seu espírito. Esta indefinição deveria ter sido resolvida de outra forma no texto. O leitor não deveria ficar com a mesma dúvida com que fiquei. O sentido do texto, é percetível. A carga dramática está bem conseguida. O arrependimento do personagem é sincero, e é exatamente esta sinceridade que leva a que muitas mulheres voltem para os maridos nos casos de violência doméstica. A maioria das vezes, esta é uma má decisão, mas é difícil julgar, quando existem fatores fortes, como sejam os filhos. Por outro lado, a justiça revela-se incapaz, na maioria das vezes, de defender as vítimas. É esta a leitura que faço do seu texto.

    Posso estar a fazer a leitura errada, mas não vou fazer uma terceira leitura para tentar seguir as pistas que me poderiam levar a outro entendimento.

E Então? O que achou?

Informação

Publicado às 10 de fevereiro de 2024 por em Recomeço e marcado .