EntreContos

Detox Literário.

After (Pedro Paulo)

Cada dia do mês de março passava deixando para trás tudo o que é bom. Esvaíam-se os últimos fôlegos da folia carnavalesca e a força do sol já não era tão certa como em todos os outros dias do verão, todos os outros dias de praia, de calor, suor, corpos à vista, desnudos em busca de qualquer brisa, mas também em busca do fervor encontrado uns nos outros. Conforme a normalidade se assomava com o passar de cada dia, o ano brasileiro parecia finalmente iniciar. Mas não para os persistentes. Não para aqueles que acreditavam que para o final de cada festa havia uma outra começando em algum lugar.

Na noite em que se conheceram, Weverton Delano gostou de como não fizeram perguntas um ao outro. Disse a Pedro Pão que os mais próximos chamavam Wendy e sim, sim, ele podia chamar também. Para não dizer que a interrogação não esteve presente na conversa dos dois, foi Wendy quem fez a primeira e última pergunta, a única necessária.

— Depois daqui é onde?

O famigerado after. Vinha sendo de after em after que Weverton Delano fazia seus dias – ou, melhor, mais noites do que dias – desde a virada de ano. Quando encontrou Pedro Pão, suas companhias eram os bebinhos da praça central, com quem conversara, bebera e dormira naqueles últimos dias. Wendy tinha uma mochila com umas roupas e produtos, uma barraca e um celular descarregado desde a noite do réveillon. Estava a oitocentos e vinte e três quilômetros de casa e sua trilha até ali havia sido de ressacas e recomeços de noitadas que emendaram com a folia de toda hora do carnaval. Na sua subida pelo litoral até ali, sentia que era mesmo o último dos foliões, o último sobrevivente à arbitrariedade do normal. Mas essa solidão havia acabado.

Conheceu Pedro Pão quando conversava mais seus novos parceiros de birita em frente a um botequinho com um pitu gravado na frente, um dos dois da cidade e o único com karaokê às sextas. Pão cantava desafinado entre amigos, Wendy se ofereceu de dueto e dali foram para a casa em que ele estava. Nas manhãs seguintes, Pão contou que, como a universidade estava em greve, escapara para a casa de praia da família de onde fazia as atividades de sua bolsa estudantil e, sem sinal da greve acabar e agora que dividia os dias com Weverton Delano, ele também não sentia sinal de querer voltar. Wendy disse que também não pensava em voltar. Pão indagou “pra onde”, mas apenas recebeu um sorriso e um beijo de resposta.

Em abril, os dois não questionaram se um romance de verão cabia em um outono. Wendy revelava toda a sua criatividade com o que o pouco dinheiro da bolsa permitia e, para a surpresa de ambos, dos amigos de Pão aos fiéis da igreja e os amigos de praça de Wendy, todos visitaram a casa em que a festa nunca morria e no qual um código de ética da renovação se reproduzira em todas as noites. Todos entravam, todos limpavam e deixavam algo, o casal os abraçava e outras noites começavam e não se falava em repetir se toda noite conseguia ser, de alguma forma, a mesma de antes e uma experiência totalmente diferente.

E talvez eles dois pudessem ter vivido assim para sempre se o celular não tivesse ligado. Era um aparelho já antiquado, descascado, tela rachada e botões ausentes. Wendy tinha dito que o carregador se perder durante a viagem, mas que não fazia questão de ligar o celular. Foi como um presente e uma surpresa que Pedro Pão o atraiu para a sala naquele dia, para ver o display iluminado e o aparelho reiniciado com um carregador que arranjara. Não podia imaginar como Wendy ficaria chateado, surpreendeu-se ao vê-lo sufocar um grito e mandar num tapa só o celular para a parede, onde se espatifou mandando bateria para o lado, capa para o outro e o próprio Weverton Delano em direção à porta.

Uma força-tarefa de bêbados, crentes e outros amigos do casal o localizaram num extremo da praia, mas Pedro Pão preferiu que conversassem a sós e assim o convenceu a retornar e explicar. Foi só com muita insistência que Weverton Delano contou, afinal, de onde vinha e, sobretudo, por que vinha. Quando a mãe adoecera, ela quis que estivesse perto, como sempre tivera seu caçula, seu bebê, à sua mercê, à sua modelagem, para ser o que ela quisesse, inclusive sua enfermeira. Os irmãos mais velhos visitavam apenas para reparar no que faltava e não era no trabalho que encontrava qualquer simpatia com a sua situação. Quando arrumou a sua mochila para pular suas ondas na noite da virada, reconhecera ter posto mais roupa do que o normal e o dinheiro que tinha separado em muito superava o que imaginava poder gastar numa noite de festa… mas depois do dinheiro acabar a sua viagem o apresentou às moedas que circulam pelas noites e assim havia chegado até onde estava.

Mais calmo, o celular restaurado, a tela ligada, centenas de barras de notificação sinalizavam o quanto o procuravam, o quanto o acusavam. Amigos questionavam do seu paradeiro, seus irmãos o xingavam e tinha certeza de que, em algum lugar, alguém diria que sua mãe estava morta, que ele a matara e que deveria retornar para enfrentar as consequências. Estava tão certo disso como estava de que Pedro Pão lhe diria o mesmo, para que deixasse a sua casa e voltasse para a própria. E poderia até recusar e reiniciar sua marcha ao indefinido, a custo do que se escondia do dia para viver à noite… mas saberia que não teria força para isso, que o sossego que havia encontrado ali o havia tirado da inércia dionisíaca que o levara até lá e agora seria obrigado a voltar para casa.

Também não teve a dignidade de se levantar e ir embora, ficou sentado esperando que Pão o expulsasse. A vergonha apertava o seu peito e não conseguia dizer mais nada.

— Fique.

Não o respondeu, sentindo que qualquer palavra precisaria esgarçar sua garganta para sair.

— Você não deve nada a ninguém. Você deve a mim. Eu não vim pra cá apenas para rever amigos e estar na praia… eu vim pra cá para não estar lá e, porra, talvez eu já tivesse voltado. Talvez eu devesse voltar. Mas o que eu sinto com você, o que nós fazemos de todas as noites me diz que devemos estar aqui e agora. E amanhã? Ah, caralho, amanhã nós estaremos aqui e agora novamente.

Num cruzar de dedos pela tela, Pão reabilitou o som das notificações. Fazia três meses, Wendy saltou no sofá ao ouvir os toques das mensagens que não deixavam de chegar mesmo agora. Virou o rosto para não encarar a tela, mas lia as mensagens diante de seus olhos, flutuantes e acusatórias, a tragá-lo de volta para o que quer que fosse. Para colocá-lo diante das consequências. Pedro Pão ficou de pé, atravessou a sala até a caixa de som e num novo dedilhar a ligou a um volume três vezes acima das notificações, o que assustou Wendy num novo salto. Pão gritou para se fazer ouvir na barulheira.

— Tá resolvida as notificações! Se você quiser, eu desligo o som agora. Se você quiser, eu leio todas as mensagens, faço todas as chamadas contigo. Porra, eu dou um jeito e te ponho num ônibus pra casa! — Abriu os braços. — Mas se você quiser, Wendy, o som tá ligado, a cerveja tá na geladeira e a galera tá a um salve, e a gente bota pra gerar.

Weverton Delano, Wendy, uma mochila de roupas e produtos e um celular ligado com mais de três mil notificações. Weverton Delano, a oitocentos e vinte e três quilômetros de casa, mas, principalmente, aqui e agora, como ontem, como, se quisesse, amanhã. Olhou Pedro Pão nos olhos, sorriu, levantou, dançou. O celular estava tocando, mas ele poderia dançar mais um ano. Ninguém o encontraria, não precisava dormir, não precisava se importar, estava onde deveria estar.

Sobre Fabio Baptista

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43 comentários em “After (Pedro Paulo)

  1. Pedro Paulo
    11 de março de 2024
    Avatar de Pedro Paulo

    Oi, Rafael!

    Fico feliz que tenha captado o implícito. Muito obrigado pelo comentário!

  2. fabiodoliveirato
    9 de março de 2024
    Avatar de Fabio D'Oliveira

    Buenas!
    Irei usar dois critérios para avaliar os textos deste desafio: técnica e criatividade. A parte técnica abrange toda a estrutura do conto, desde o básico até o estilo do autor. E a parte criativa abrange o enredo, personagens e tudo que envolve a imaginação do autor.
    Vamos lá!
    TÉCNICA
    A escrita é boa. Por vezes, algumas decisões deixaram a leitura um pouco truncada, como repetir demais os nomes dos protagonistas e reforçar algumas ideias por demais. Repetir demais algumas coisas apenas empobrece o texto, tirando sua fluidez e encaminhando o leitor para a desatenção.
    CRIATIVIDADE
    A história é interessante e realmente se trata de um recomeço. Wendy está fugindo, assim como Pedro Pão, de certa forma. E ambos encontram, um no outro, o conforto e a cumplicidade que tanto buscavam. Gostei da história e, principalmente, do final. A ideia não é original, mas achei a execução interessante.
    CONSIDERAÇÕES FINAIS
    O conto é bom e, surpreendentemente, para mim, gostei da história. Estou surpreso por se tratar de algo comum, simples, uma história do cotidiano, o que dificilmente me cativa. Talvez precise de um recomeço como Wendy.

    • Pedro Paulo
      11 de março de 2024
      Avatar de Pedro Paulo

      Oi, Fábio.

      Muito obrigado pelos apontamentos em seu comentário. Fico feliz em ter chamado a sua atenção mesmo se tratando de um enredo fora do que geralmente te cativa.

      Abraços.

  3. Jowilton Amaral da Costa
    5 de março de 2024
    Avatar de Jowilton Amaral da Costa

    O conto narra a história de dois homens que se conhecem no fim do carnaval, iniciam um relacionamento, e continuam a folia carnavalesca todas as noites por um grande período de tempo, até que os familiares de um deles começam a procurá-lo. Achei a narrativa cambaleante, só fui ter certeza que Weverton era Wendy no fim do conto. Durante a leitura, em alguns momentos, pareceu que Wendy fosse outra pessoa, confundindo a leitura. Em algumas frases faltaram umas vírgulas, que também atrapalhou na leitura e no entendimento, obrigando-me a ler certos trechos mais de uma vez. Achei o enredo simplório e meio caótico. O impacto foi bem pequeno. Boa sorte no desafio.

    • Pedro Paulo
      11 de março de 2024
      Avatar de Pedro Paulo

      Oi, Jowilton. Obrigado pelo comentário!

  4. Fernanda Caleffi Barbetta
    4 de março de 2024
    Avatar de Fernanda Caleffi Barbetta

    Olá, Pablo

    O conto é bom. Gostei de como usou a questão do celular, das mensagens, para mostrar a história de Wendy, justificar a sua fuga para aquele lugar.

    Os diálogos são pouquíssimos. Não que sejam obrigatórios, mas quando o autor coloca alguns, eu fico tentando entender porque não fez um melhor uso deles se optou por usá-los. .

    “— Tá resolvida as notificações!” – ele usa a gramática errada só aqui, pq? E não colocar o “tá resolvida” no plural e usar “notificações”, pareceu sem sentido. Ainda falando no bom uso dos diálogos, aqui seria um momento de diferenciar as duas vozes. Reforçar esse pouco cuidado com a língua portuguesa em um deles. Mas precisam ser consistentes.

    Como você cita duas vezes a forma como se encontraram, achei que ficou um pouco confuso – “Quando encontrou Pedro Pão, suas companhias eram os bebinhos da praça central, com quem conversara, bebera e dormira naqueles últimos dias”, depois retoma esse primeiro encontro e a cena que se forma na minha cabeça é diferente da que imaginei antes: “Conheceu Pedro Pão quando conversava mais seus novos parceiros de birita em frente a um botequinho”. Sugiro que entre no assunto uma vez só e o mostre claramente.

    Nesta frase “Quando encontrou Pedro Pão, suas companhias eram os bebinhos” tb há uma confusão sobre a quem se refere o “suas”, pode ser a Wendy ou a Pedro.

    “Em abril, os dois não questionaram se um romance de verão cabia em um outono” – gostei

    Primeiro parágrafo para mim é desnecessário.

    “Disse a Pedro Pão que os mais próximos chamavam Wendy” – o chamavam ou chamavam-no

    “o carregador se perder (perdeu) durante a viagem”

    “mas depois do (de o) dinheiro acabar”

    • Pedro Paulo
      11 de março de 2024
      Avatar de Pedro Paulo

      Oi, Fernanda.

      Obrigado por todas as correções. Discordo apenas em parte do que comentou sobre os diálogos ao questionar a opção por não utilizar a norma culta. Acredito que a maioria das pessoas incorre em burlar o gramatical ao falarem no cotidiano e que isso não necessariamente é uma marca de personalidade, ainda que pudesse mesmo ser utilizado para diferenciar os personagens. É um uso que arrisca o pitoresco, por sinal, e não meditei sobre isso ao escrever dessa maneira.

  5. Leda Spenassatto
    2 de março de 2024
    Avatar de Leda Spenassatto

    AFTER

    Olá Pablo!
    Tudo bem com você?
    Então li e reli seu conto, pois me perdi no meio do caminho. Creio que não consegui captar muito bem sua mensagem.
    Não vou questionar a gramática, só essa fala : “Conheceu Pedro Pão quando conversava mais seus novos parceiros…” Para mim essa é uma linguagem muito informal. Pode ser usada, normalmente, mas entre aspas. Será?

    Weverton Delano e Pedro Pão moravam há 823 km e se encontram no carnaval. A mãe de Wendy morreu e ele não estava nem aí.
    Só orgia, e mais orgia .
    Seu texto não me surpreendeu e, não me emocionou, não há suspense nem expectativa.
    Achei o final muito morno.
    Perdoe a minha franqueza, pois não sou nenhum experto em literatura.
    Só dei minha opinião sincera.

    Espero de verdade, que a minha crítica não seja motivo de desistência, mas de motivação.
    Você é muito capaz, talvez a escolha do enredo não foi muito acertada.

    Te desejo muita sorte! 🙏

    • Pedro Paulo
      11 de março de 2024
      Avatar de Pedro Paulo

      Oi, Leda.

      Leu e releu o meu conto, mas encontrou orgias que não escrevi?

      Obrigado pelas impressões.

  6. Givago Thimoti
    2 de março de 2024
    Avatar de Givago Thimoti

    After (Pablo)

    Primeiramente, gostaria de parabenizar o autor (ou a autora) por ter participado do Desafio Recomeço – 2024! É sempre necessária muita coragem e disposição expor nosso trabalho ao crivo de outras pessoas, em especial, de outros autores, que tem a tendência de serem bem mais rigorosos do que leitores “comuns”. Dito isso, peço desculpas antecipadamente caso minha crítica não lhe pareça construtiva. Creio que o objetivo seja sempre contribuir com o desenvolvimento dos participantes enquanto escritores e é pensando nisso que escrevo meu comentário.

    Como eu já avaliei todos os 12 contos mínimos, chegou o momento de comentar “no amor”. Não terá nota, tampouco vou comentar sobre questões gramaticais. Irei escrever apenas sobre minhas impressões e o que tocou ou não o leitor nesse conto.

    Impressões iniciais

    + Romancezinho clichê, com gostinho doce de filme da sessão da tarde… Não é uma crítica, inclusive, gosto. 

    + Ainda assim, é um conto com um fundo não clichê: Wendy e Pedro Pão mergulham num amor de verão, ao som de festas de virada de ano e carnaval. Uma vida bem estoica. 

    – Conto meio iceberg.

    Alma

    É um conto simples, sem nenhum grande mistério ou inovação. Wendy e Pedro optam por viver seu amor de verão até o outono, escapando (ou seria evitando?) um retorno para suas vidas reais? Talvez seria interessante mostrar um pouco mais dos motivos deles terem esse pendão de fugirem da vida deles.

    Ao ler o conto, não consegui desassociar a imagem do casal Wendy e Pedro e o estilo praiano bon vivant, de receber amigos para festas, eles poderem morar ali por um tempo com a filosofia e o estilo de vida do grego Estoico. Achei interessante essa abordagem e, antecipando minha crítica, creio que poderia ter sido melhor abordada pelo autor/pela autora.

    Esse foi um conto que eu comparo um pouco a um iceberg: tem uma parte visível, pequena e simples, e uma maior, submersa e profunda. O questionamento ao escritor (ou à escritora) talvez seja: por que não revelar um pouco mais desse iceberg? Investir nesse lado submerso? O conto tinha espaço, o conto tinha enredo para sustentar um pouco mais dessa “divagação”, mas infelizmente essa parte não foi explorada.

    • Pedro Paulo
      11 de março de 2024
      Avatar de Pedro Paulo

      Oi, Givago.

      Concordo que poderia ter expandido mais, com certeza há espaço para tanto e eu nem precisaria mostrar tanto, podendo reforçar a presença do implícito. Seria uma camada sombria bem-vinda a uma história mais colorida. Infelizmente, escrevi no limite do limite do prazo, irresponsabilidade e indecisão minha, e podei os potenciais da trama.

      Obrigado pelo comentário.

      • Givago Thimoti
        11 de março de 2024
        Avatar de Givago Thimoti

        Olá, Pedro!

        Gostei do seu comentário sobre uma camada sombria… É igual quando você edita uma foto; às vezes você precisa escurecer, brincar com os constrastes para poder ressaltar as cores.

        Espero que volte a lapidar esse conto quando oportuno.

  7. Andre Brizola
    2 de março de 2024
    Avatar de Andre Brizola

    Olá, Pablo!

    Um conto sobre recomeços diários. Uma fuga que exige que, a cada dia, aconteça um recomeço, pois aquilo de que se foge, na verdade, está na cabeça do personagem, e tem que ser esquecido, afogado, deixado de lado e, para isso, a fuga, as viagens, as festas, vão se sucedendo.

    É um enredo interessante e, acho, muito bem encaixado no tema do recomeço. É preciso certa criatividade do leitor para encarar o tema dentro do que foi narrado. Mas é possível e, assim que entendido, acaba ficando bastante claro. É, na verdade, uma abordagem bastante inteligente.

    Com relação ao texto, notei que há várias arestas que poderiam ter sido aparadas antes de uma exposição. Algumas passagens fugiram da revisão, como em “quando conversava mais (com?) seus novos parceiros” e “os mais próximos (o?) chamavam Wendy”. E a constante mudança entre Wendy e Weverton Delano me gerou certo ruído. Tentei notar se há alguma razão dentro do texto para tal variação, mas não notei nenhuma lógica. Teria sido legal, inclusive, se ela existisse, ou se fosse algo mais claro. Mas a verdade é que da forma como ficou, pareceu algo aleatório.

    De forma geral é um conto agradável. Atende ao tema do desafio e propõe uma forma de trata-lo que exige algo do leitor. Mas, é o que eu disse, acho que faltou um pouco mais de trabalho na revisão e no tratamento de como o personagem Wendy era mencionado.

    É isso. Parabéns!

    • Pedro Paulo
      11 de março de 2024
      Avatar de Pedro Paulo

      Oi, André.

      Alguns anos atrás, no que me recordo ter sido o meu segundo desafio, você sugeriu que o meu texto era uma pedra bruta a ser lapidada, algo similar ao corte de arestas que recomenda aqui. Concordo com tudo e fico feliz que tenha percebido o tema. A ideia de recomeçar está em, de fato, renovar a fuga todos os dias, mas foi o que quis sugerir com o título e com uma das poucas linhas de diálogo que incluí: o “after” é sempre a festa depois da festa, como uma celebração que recomeça infinitamente, mas que expressa, na verdade, a fuga em cumplicidade entre os dois personagens.

      Obrigado pelo comentário. Aguardo os próximos.

  8. Marco Aurélio Saraiva
    1 de março de 2024
    Avatar de Marco Aurélio Saraiva

    O conto não é particularmente inovador ou interessante, mas a nota vai ser alta por causa da prosa, e de como o autor demonstra extrema habilidade com as palavras. As cenas e os momentos foram trabalhados com excelência, e a narrativa em geral foi muito bem feita. A leitura toda é leve, de tal forma que quando terminou eu nem tinha notado ter lido um conto inteiro. Queria um pouco mais.

    Destaque para as frases abaixo, que me fizeram sorrir com a inteligência do uso das palavras:

    “Os irmãos mais velhos visitavam apenas para reparar no que faltava..”

    “Mas o que eu sinto com você, o que nós fazemos de todas as noites me diz que devemos estar aqui e agora. E amanhã? Ah, caralho, amanhã nós estaremos aqui e agora novamente”

    “Conforme a normalidade se assomava com o passar de cada dia, o ano brasileiro parecia finalmente iniciar.”

    O que não gostei: como falei no inicio, por trás da escrita maravilhosa está uma história sem muito apelo. Parece o corte de algo maior, o gosto no final ficou como o gosto de algo inacabado. Prato principal, sem sobremesa. Mas ainda assim acho que valeu a leitura!

    • Pedro Paulo
      11 de março de 2024
      Avatar de Pedro Paulo

      Oi, Marcos.

      Fico feliz que a escrita tenha te cativado. Eu sou da avaliação que é um conto mal desenvolvido: tem um alicerce bom e material de qualidade – isto é, há muitos trechos com os quais fiquei bastante satisfeito em ter concebido – mas a história não é bem encaminhada.

      Obrigado pelo comentário!

  9. Priscila Pereira
    1 de março de 2024
    Avatar de Priscila Pereira

    Olá, Pablo! Tudo bem?
    Seu conto está bem escrito, bem revisado, dá pra ver que foi uma história bem pensada e bem executada. Os personagens estão bem fundamentados e profundos, tudo bem verossínil. A obsessão de Wendy por festa após festa era para amortecer o medo e a culpa por ter fugido de uma situação insuportável, e Pedro Pão (engraçado a escolha do nome) parecia querer também compensar alguma incerteza ou vazio interior e juntos, conseguiram o que sozinhos não conseguiriam. É um bom conto. O recomeço as vezes é necessário para a sanidade mental, não é?
    Boa sorte no desafio!
    Até mais!

    • Pedro Paulo
      11 de março de 2024
      Avatar de Pedro Paulo

      Oi, Priscila!

      Quanto ao nome, uma coisa engraçada que ocorreu foi ninguém ter mencionado a referência. A ideia era Wendy e Peter Pan, aventurados na Terra do Nunca, onde ninguém precisa crescer. Contei com a leitura de duas pessoas próximas a mim e ambas captaram logo, mas, se algum leitor do EC percebeu, não registrou.

      Obrigado pelo comentário!

      • Priscila Pereira
        11 de março de 2024
        Avatar de Priscila Pereira

        É mesmo! Nossa, não percebi! Imagina que pensei que podia ser seu e fazer referência ao seu nome, mas como podia ser muita viagem deixei quieto 🤭

  10. Jorge Santos
    27 de fevereiro de 2024
    Avatar de Jorge Santos

    Olá. O seu conto narra a história de um romance de verão. É irrelevante se é um romance homossexual ou heterossexual. Os incomodados que evoluam, bem vindos ao século XXI… Aquilo que realmente me incomodou no seu conto foram alguns erros, um ou outro extremamente graves. Agradecia uma revisão mais apurada do texto antes de enviar. Qualquer que seja o destino dos textos, temos de “caprichar”, como dizem no Brasil. E, por falar em Brasil, meteu-me uma certa inveja ler sobre um romance tórrido em Março. Aqui, Janeiro e Fevereiro foram meses de chuva intercalada com frio. Quanto à adequação ao tema, percebi a ideia. Alguém em fuga que tem receio de retomar o contacto com a sua vida passada é um conceito que me é familiar, mas não vou revelar as razões. Gostei da forma como foi passada a ideia da raiva, que provoca a alteração no personagem.

    • Pedro Paulo
      11 de março de 2024
      Avatar de Pedro Paulo

      Oi, Jorge.

      Aqui na região em que moro, é quente até no inverno, quando temos principalmente chuva e mormaço.

      Obrigado pelo comentário!

  11. mariainezsantos
    25 de fevereiro de 2024
    Avatar de mariainezsantos

    Uma história bem desenvolvida. Tem charme, traz à tona situações rotineiras e desejos ocultos de “sumir” deixar a vida levar sem compromisso, seguir sem destino, sem ser encontrado, desligado

    • Pedro Paulo
      11 de março de 2024
      Avatar de Pedro Paulo

      Olá. Muito obrigado pelo comentário!

  12. Felipe Lomar
    24 de fevereiro de 2024
    Avatar de Felipe Lomar

    olá

    eu gostei do seu conto. Sua escrita demonstra muita habilidade e flui bem. É daquelas leituras que você não vê o tempo passar, e quando acaba fica querendo mais. A história é interessante e bem sentimental. Porém, senti que não está muito bem adequada ao tema. Não percebi muito bem o “recomeço” na história. Talvez se o final fosse um pouco melhor trabalhado poderia consertar isso. Acho que a finalização foi um pouco apressada.

    boa sorte!

    • Pedro Paulo
      11 de março de 2024
      Avatar de Pedro Paulo

      Oi, Felipe.

      Tentei me explicar quanto à abordagem do tema na minha resposta ao André, que também compreendeu. Em geral, acho que a maioria entendeu como quis abordar, apesar de que tem uma referência direta que não foi tomada por ninguém (comentei outra na minha resposta a Priscila, uma referência não mencionada pelos leitores, mas me refiro a outra).

      Fico feliz que tenha gostado. Obrigado pelo comentário!

  13. claudiaangst
    23 de fevereiro de 2024
    Avatar de claudiaangst

    Pablo, tudo bem?
    Seu conto aborda o tema proposto pelo desafio e devo dizer que eu tive que recomeçar a leitura mais de uma vez para ver se entendia o enredo construído. Recomeçar entrou em looping infinito na minha mente.
    Tentei localizar a trama no tempo e espaço. “[…] últimos fôlegos da folia carnavalesca”, era, portanto, fevereiro, Carnaval: “[…] para o final de cada festa havia uma outra começando”
    Weverton Delano – Wendy. Demorei para entender que eram a mesma pessoa por causa da ausência de um O = “Disse a Pedro Pão que os mais próximos chamavam Wendy” > […] que os mais próximos O chamavam DE Wendy – Pensando bem, faltou um DE também.
    Pedro Pão (que nome sugestivo! O sujeito era um pão no sentido de bonito – gíria antiga – ou pertencia a uma família de padeiros?) e Wendy se encontraram no fim do Carnaval e o relacionamento foi se estendendo sem tempo de acabar. Abril é o mês, o que lembra a Páscoa, o que lembra renascimento, o recomeçar da vida.
    Moravam em uma casa onde as noites nunca se repetiam, tudo era sempre uma novidade. Wendy tinha um celular que não dava sinal de vida desde o réveillon. […] tinha dito que o carregador se perder > Wendy tinha dito que o carregador se perdera. E não fazia questão que o aparelho voltasse a funcionar. Por quê? Talvez porque não quisesse ler mensagens ou receber chamadas que o fizessem voltar a um passado doloroso, junto àqueles que só sabiam lhe cobrar um comportamento servil, de enfermeira, de facilitadora da vida de todos.
    Peço desculpas ao(à) autor(a) se não empreguei a forma de tratamento adequada ao personagem. Relendo, achei a história muito bonita, um recomeçar longe do preconceito, das raízes sugadoras de uma vida ainda em expansão. Relendo, entendi que há ainda muito chão para se alcançar a compreensão da natureza humana e sua diversidade.
    Parabéns pela participação e boa sorte para Wendy encontrar encanto por onde for.

    • Pedro Paulo
      11 de março de 2024
      Avatar de Pedro Paulo

      Olá, Cláudia.

      Foram poucos, mas uma ou outra pessoa deram um pouco mais de atenção à sexualidade dos dois personagens, você sendo a única que aludiu à possibilidade de um tratamento específico ao tratamento, talvez por Wendy parecer um nome feminino em um personagem cujo nome de certidão é masculino. Eu escrevi ciente da possibilidade de confusão e, na minha pressa, não cuidei de organizar, dosar ou mesmo aprofundar o sentido de nome e apelido. Acabou sendo um recurso vazio, quis fazer uma referência a Wendy e Peter Pan na Terra do Nunca (daí Pedro Pão, que você questionou).

      Obrigado pelo comentário!

  14. Simone
    23 de fevereiro de 2024
    Avatar de Simone

    Gostei de ler essa história de libertação, alguém que se joga no mundo que deixa tudo para trás. Conclui por final que não deve voltar, pois não abrirá mão do que conquistou, um amor e a liberdade. O recomeço é justamente se desligar do que é desconfortável, do que traz sofrimento. A frase: Em abril, os dois não questionaram se um romance de verão cabia em um outono, eu admirei muito. O celular representava a sua ligação com a vida antiga. Ele consegue não se importar, não se culpar. São escolhas. A grande maioria das pessoas mantém-se presas e infelizes, ele não. Ele está em prioridade absoluta. Não sofre por isso. Um dia ele vai cansar dessa vida de fuga e festa, e isso dará outro ótimo conto. Achei o texto dentro do tema e muito interessante.

    • Pedro Paulo
      11 de março de 2024
      Avatar de Pedro Paulo

      Oi, Simone.

      Fico feliz que o texto tenha dialogado com você! Obrigado pelo comentário.

  15. Kelly Hatanaka
    22 de fevereiro de 2024
    Avatar de Kelly Hatanaka

    Estou avaliando os contos de acordo com os seguintes quesitos: adequação ao tema, valendo 1 ponto, escrita, valendo 2, enredo, valendo 3 e impacto valendo 4.

    Adequação ao tema
    Não encontrei o tema no texto. Para mim, a história fala mais sobre mudanças e sobre viver o hoje do que sobre recomeços.

    Escrita
    Muito boa, não encontrei erros. A narrativa é bem conduzida e os personagens estão bem definidos.

    Enredo
    Uma história de amor e acolhimento entre duas pessoas que querem viver o agora. Wendy deixa a mãe doente para ter o direito de viver sua vida e encontra Pedro, que reluta em voltar à faculdade. Vivem uma eterna festa, como um carnaval sem fim. Pedro descobre a história de Wendy e, ao contrário do que ele esperava, não o manda embora.

    Impacto
    Uma história de amor simpática. É fácil torcer pelos personagens e é muito divertida a ideia de viver um grande agora, uma eterna festa. Não é um conto que me tocou especialmente, mas é muito agradável de ler, bem escrito e com personagens interessantes. Uma leitura prazerosa.

    • Pedro Paulo
      11 de março de 2024
      Avatar de Pedro Paulo

      Oi, Kelly!

      Tomo que avaliou o meu texto positiva, exceto pela abordagem ao tema, no que julga que falhei. Faz parte. Comentei sobre nas minhas respostas ao André e ao Felipe. O primeiro compreendeu e o segundo, não. Em geral, acho que a maioria dos leitores captou minha intenção, mas, de fato, não é de todo evidente.

      Obrigado pelo comentário!

  16. Vladimir Ferrari
    21 de fevereiro de 2024
    Avatar de Vladimir Ferrari

    Começando pelo texto, não me soou legal a frase “… mas também em busca de um fervor encontrado uns nos outros.” E também estranho “… quando conversava mais seus novos parceiros de birita …” Vírgulas ou frases curtas, funcionariam melhor. O autor deveria decidir se utiliza o nome ou o apelido do protagonista, já que o apresenta (o apelido) no começo da narrativa. Pode até ser estilo narrativo, mas o teor não sugeriu esse jogo de identidade. Bonita a frase do começo do sexto parágrafo “Em abril, os dois …” Algumas repetições desnecessárias, pronomes. O queísmo aparece quando o protagonista se explica.
    Sobre a narrativa em si, achei bem composta e bastante ilustrativa, apesar das repetições. Na minha opinião, o efeito seria o mesmo, excluíndo as repetições. Algumas, as desnecessárias. O recomeço está no futuro e o protagonista está no limiar. Sucesso.

    • Pedro Paulo
      11 de março de 2024
      Avatar de Pedro Paulo

      Oi, Ferrari.

      É verdade, o texto está bem rudimentar na sua construção, não dei o devido tempo de revisão. Apesar disso, eu gostei das duas frases que estranhou. O “mais” na frase da birita incomodou muita gente, deixou-me na dúvida quanto a ser um regionalismo ou algo do tipo, vou até consultar meus amigos que lecionam português.

      Obrigado pelo comentário!

  17. Leda Spenassatto
    18 de fevereiro de 2024
    Avatar de Leda Spenassatto

    comment

    AFTER

    Olá Pablo!
    Tudo bem com você?
    Então li e reli seu conto, pois me perdi no meio do caminho. Creio que não consegui captar muito bem sua mensagem.
    Não vou questionar a gramática, só essa fala : “Conheceu Pedro Pão quando conversava mais seus novos parceiros…” Para mim essa é uma linguagem muito informal. Pode ser usada, normalmente, mas entre aspas. Será?

    Weverton Delano e Pedro Pão moravam há 823 km e se encontram no carnaval. A mãe de Wendy morreu e ele não estava nem aí.
    Só orgia, e mais orgia .
    Seu texto não me surpreendeu e, não me emocionou, não há suspense nem expectativa.
    Achei o final muito morno.
    Perdoe a minha franqueza, pois não sou nenhum experto em literatura.
    Só dei minha opinião sincera.

    Espero de verdade, que a minha crítica não seja motivo de desistência, mas de motivação.
    Você é muito capaz, talvez a escolha do enredo não foi muito acertada.

    Te desejo muita sorte! 🙏

  18. Antonio Stegues Batista
    17 de fevereiro de 2024
    Avatar de Antonio Stegues Batista

    O conto é a história de dois rapazes que se conhecem num bar na praia e iniciam um relacionamento amoroso. O enredo é focado em Wewerton, que havia deixado família, amigos e saiu sem rumo certo. Encontra Pedro, também um desgarrado. Os dois estão perdidos no mundo motivados por suas mágoas, indecisão, falta de confiança no mundo que os cercam, nas convenções sociais, preconceito. Cada um encontra no outro, uma parte igual. Mas existe a incerteza de um futuro seguro, de paz e estabilidade emocional. Weverton tem dúvidas se prolonga aquele relacionamento ou não. Se volta para um ambiente de acusações e despeito, ou não, Ficar ou partir? Ser ou não ser, eis a grande questão. E ele decide ficar e enfrentar a vida como ela é. Bom conto, bem escrito. Boa sorte no desafio.

    • Pedro Paulo
      11 de março de 2024
      Avatar de Pedro Paulo

      Oi, Antônio.

      Achei o seu comentário bem interessante, é curto, mas direto e efetivo em avaliar, além de resumir e ser poético. O mais comum é que não goste dos meus contos, então me surpreendi com a sua avaliação positiva, fico bastante satisfeito.

      Obrigado pelo comentário!

  19. Emanuel Maurin
    16 de fevereiro de 2024
    Avatar de Emanuel Maurin

    Pablo, beleza?

    Resumo: Wendy é um fugitivo da sua família e da sua vida, que encontra no carnaval e na praia uma forma de escapar. Ele conhece Pão, um estudante em greve, e os dois vivem um romance intenso e festivo. Quando o celular de Wendy toca, ele se desespera e revela o seu passado. Pão o apoia e o convida a continuar com ele, ignorando as mensagens. Wendy aceita e se entrega à música.

    Gostei do conto, vc criou um contraste entre alegria do carnaval e tristeza do fim do verão, e apresentou bem os personagens. A trama tá bem situada no litoral, sem dizer qual a cidade, gosto disso. A narrativa tá bem elaborada, fluida e coerente. O final brusco e aberto me surpreendeu. Quanto as críticas negativas ou apontamentos para melhorar o conto não tenho nada a dizer. Parabéns!

    • Pedro Paulo
      11 de março de 2024
      Avatar de Pedro Paulo

      Oi, Emmanuel!

      Fico satisfeito com o elogio à ambientação, sobretudo por não ter me dedicado a descrever demais. Aliás, escrevi até de forma genérica por consolidar um litoral, mas não especificá-lo. Redigi um pouco embasado na cidade onde moro atualmente, tecnicamente situada no que se chama “litoral sul alagoano”. Apesar disso, os 823 quilômetros mencionados marcam a distância entre Aracaju, minha cidade natal, e Pipa, praia potiguar.

      Obrigado pelo comentário!

  20. Fabio Baptista
    14 de fevereiro de 2024
    Avatar de Fabio Baptista

    O primeiro parágrafo desse conto é sensacional. O clima de fim de festa e de verão, mais ou menos o que estamos passando exatamente agora, trouxe uma nostalgia boa dos grandes contos do EC.

    O autor consegue manter a boa técnica no decorrer, apesar de (na minha visão) alguns pequenos deslizes, frases que um poderiam ser trabalhadas para que a leitura fluísse melhor, por exemplo:

    “Pão cantava desafinado entre amigos, Wendy se ofereceu de dueto e dali foram para a casa em que ele estava.”

    Fica meio ambíguo, casa de quem? Quebrar a frase e mandar algo tipo “dali para a casa de Pão, foi um pulo” eliminaria esse tempinho que o leitor fica em dúvida e quebra a imersão.

    “Não podia imaginar como Wendy ficaria chateado, surpreendeu-se ao vê-lo sufocar um grito e mandar num tapa só o celular para a parede, onde se espatifou mandando bateria para o lado, capa para o outro e o próprio Weverton Delano em direção à porta.”

    Aqui me deu um “o Wendy não é o Weverton?”, mais um exemplo de frase que se beneficiaria de uma quebra.

    “(…) e não era no trabalho que encontrava qualquer simpatia com a sua situação.”

    Essa aqui me soou estranha também.

    De revisão só encontrei esse “perder” em “Wendy tinha dito que o carregador se perder durante a viagem”.

    Eu gostei bastante da ambientação desse conto, mais do que da história em si. O cenário em que Wendy está inserido fica muito forte na imaginação do leitor. Já o dilema, de voltar para cuidar da mãe ou continuar numa vida desregrada ao lado de Pedro, não teve tanto impacto pra mim. Acredito que devido a ter passado 3 meses sem ligar o celular, tipo já dava pra ver que ele ligou o foda-se mesmo e pronto. Um final corajoso (do autor), eu diria, pois certamente vai atrair a antipatia de muitos leitores em relação à decisão de Weverton.

    Muito bom.

    NOTA: 8,5

    • Pedro Paulo
      11 de março de 2024
      Avatar de Pedro Paulo

      Oi, Fábio.

      Poxa, fiquei bastante feliz com seu elogio ao primeiro parágrafo e ao aspecto ao qual essa introdução serve: a ambientação. Uma ambientação que, como você bem reparou, remete ao agora que vivemos. Esse é um texto sobre o agora, afinal.

      Obrigado pelo comentário.

  21. Gustavo Castro Araujo
    14 de fevereiro de 2024
    Avatar de Gustavo Castro Araujo

    Neste conto, o recomeço já é. Isso porque Wendy já largou tudo às favas para mergulhar numa vida diferente, de completa negação e fuga de seu passado, decisão essa que ganha ares definitivos pelo encontro com Pedro Pão. Dá para entender (embora não para concordar) com a decisão de Wendy. Ele não quer responsabilidade de ter que cuidar da mãe, de ter que cumprir o papel que a vida reservou a ele. O escape acontece quase naturalmente, afinal, ele não deseja aquilo para si.

    Creio que essa é uma resolução legítima, ainda que discorde dela de forma veemente. Mas é algo que ocorre muito na nossa sociedade, inclusive naquelas famílias que adotam o trinômio deus-pátria-família como lema nas redes sociais.

    Nesse ponto, o autor fez uma aposta arriscada, já que tanto é possível identificar-se com Wendy como considerá-lo egoísta e irresponsável. Nesse aspecto, talvez fosse mais interessante dotá-lo de características adicionais, que nos permitissem visualizar outras de suas facetas. Quantas pessoas que conhecemos a fundo que, por um lado são capazes de gestos fantásticos mas que, ao mesmo tempo, podem cometer erros terríveis, não? Acho que foi isso que faltou ao conto. Ou Wendy é positivo ou é negativo. Não há meio termo.

    Uma personalidade mais complexa, com defeitos e qualidades outras poderia colocar o leitor em um lugar mais desconfortável, fazendo surgir a dúvida e, no fim, torcer por um ou por outro final, isto é, para que Wendy fique ou para que Wendy desça à Terra e encare o fato de que outras pessoas precisam dele.

    Seria mais ou menos como o dilema de Rimbaud: entregar-se a uma vida livre dos cordões sociais que nos conduzem até o fim ou encarar o fato de que, de um jeito ou de outro o destino sempre há de nos domar? Era esse tipo de dilema que eu queria ter visto – e sendo bem sincero, havia espaço para desenvolvê-lo.

    De todo modo, é um conto bem escrito e com uma proposta interessante. Não há como passar incólume por ele e pensar o que faríamos em situação semelhante. Isso é uma baita façanha. Parabéns ao autor e boa sorte no desafio.

    • Pedro Paulo
      11 de março de 2024
      Avatar de Pedro Paulo

      Oi, Chefe.

      O que mais me impressiona na arte é i o diálogo que ela suscita. Até comentei no grupo do whatsapp como fica imprevisível o que quem lê tira de um texto escrito por outra pessoa. Seu comentário exemplifica isso.

      Quando comecei a escrever, eu sabia que Wendy estaria fugindo e, por sinal, o personagem de Pedro Pão entrou depois e redefiniu o que imaginei para a história. Mas, quando defini o motivo por detrás da fuga de Wendy, eu visualizei sim a ambivalência da escolha, entre a autopreservação e a ética, mas não me questionei tanto quanto a isso, enquanto foi o foco da sua reflexão sobre o texto e, concordo, é um aspecto que o enriquece enquanto experiência de leitura, fazer pensar: o que faria no lugar dele?

      Obrigado pela leitura!

  22. rsollberg
    11 de fevereiro de 2024
    Avatar de rsollberg

    Fala Pablo

    Antes de tudo gostaria de deixar claro sou apenas um leitor entusiasmado e meus comentários dizem mais sobre gosto do que qualquer outra coisa.

    O conto é direto, com uma linguagem contemporânea, o que combina sobremaneira com sua singela história. Não é somente uma jornada de paixão, é também sobre autoconhecimento e ponderações da idade adulta. Há elementos não revelados, subentendidos, que em minha opinião também serviram muito bem ao propósito. Fugir, escapar, é um terreno sempre fértil ao fazer literário, especialmente ao buscar entender o próprio lugar no mundo.

    Recentemente fiz um paralelo entre o Holden do Salinger e o narrador do Valejo, em “O despenhadeiro”. A fuga e o retorno ao lar. E aqui temos Wendy, um espírito sem moradia, sem um lar propriamente dito, com apenas uma roupa na mochila.

    Na parte técnica, penso que ficou num degrau mais baixo do que o conto merecia. Faltou revisão. Há certo paralelismo verbal, repetição muito grande de palavras em um conto curto, tipo “todos, toda, tudo” 5x no parágrafo 5o. Pode parecer besteira, mas esse tipo de equivoco acaba influenciando no ritmo. Letra comida também “Wendy tinha dito que o carregador se perder durante a viagem”

    No entanto, resta claro que o autor tem talento, prova disso é essa construção: “sentindo que qualquer palavra precisaria esgarçar sua garganta para sair.”

    De todo modo, parabéns pelo conto!

E Então? O que achou?

Informação

Publicado às 10 de fevereiro de 2024 por em Recomeço e marcado .