EntreContos

Detox Literário.

Pele Velha – Giselle Fiorini Bohn – Resenha (Gustavo Araujo)

Bem vindos à tormenta. À tragédia que se abate sobre nós quando certo alguém, que parecia tão distante, desparece da existência e, ao partir, nos fulmina a alma com uma profusão de sentimentos verdadeiros, pungentes e desconcertantes. Sensações que arrebentam a crisálida que nos envolve, convidando-nos à liberdade, mas que, paradoxalmente, nos fazem olhar para dentro de nós mesmos, tornando-nos dependentes dessa pele velha que terminamos por arrastar, condenados.

É nesse universo contraditório que a obra de Giselle Fiorini Bohn busca inspiração, ao retratar sem meias palavras o acerto de contas entre duas mulheres. Não de forma presencial, mas pelo contato da protagonista-narradora, alguém que vive uma existência monocórdica e estável, com sua própria mãe, ou melhor, com os textos escritos por ela ao longo da vida conturbada que tivera.

É como testemunhar uma confissão. Não apenas de uma delas, mas de ambas. Culpa, frustração, arrependimento e, por vezes, compreensão se sucedem não necessariamente nessa ordem. O quanto conhecemos de nossos pais? Sabemos nós de seus pecados, de suas mentiras, de seus atos discretos de heroísmo e amor?

Não, não espere um texto de redenção, muito menos de autoajuda. A narrativa é crua, direta e amarga até certo ponto. Mas é sobretudo honesta, algo que, num universo literário tomado por obras fúteis, rasas e desérticas, surge como um ponto azul pulsando de vida. Fluxos de pensamento, poesia e prosa compõem a trama dessa história que, não se assuste, pode soar estranhamente familiar, ou como diria Nietzsche, demasiadamente humana.

Quanto a edição em si, há que se atentar para a capa. Sim, essa imagem pixelizada, que pode causar estranhamento de início. Mas ao nos afastarmos dela percebemos o rosto de uma mulher. Está ali o tempo todo, sem que nos demos conta, algo que representa de forma genial esse jogo de proximidade e distância entre mãe e filha.

Um comentário em “Pele Velha – Giselle Fiorini Bohn – Resenha (Gustavo Araujo)

  1. Juliana Calafange
    15 de novembro de 2023
    Avatar de Juliana Calafange

    O texto da Giselle é muito forte. Esse tema é forte. A Gi é uma potência! Sou fã.

E Então? O que achou?

Informação

Publicado às 15 de novembro de 2023 por em Resenhas e marcado , , .