EntreContos

Detox Literário.

Quem quer? (Vanessa Honorato)

O sol brilhava forte no interior amazonense. A camisa de Jandir estava molhada nas costas e axilas, sinal de um longo dia de trabalho capinando entre as becas da pequena lavoura de mandioca, de onde tirava o sustento de sua família.

Jandir pegou o cantil pendurado na lateral de seu corpo e sorveu um gole d’água, na tentativa de aliviar um pouco o calor e recuperar as forças. Expirou observando o sol. “Deve passar do meio-dia”. Seu estômago roncou de fome, confirmando seu pensamento e ele pegou o caminho de casa.

Janaína esperava-o com o almoço pronto, as panelas de barro sobre o fogão a lenha.

— O vovô comeu hoje? — Jandir perguntou à esposa, preocupado com seu velho avô que vivia com eles há vários anos.

— Comeu nada, Jandir. Está com a mesma ladainha de ontem. Acho que não tem jeito, seu avô está mesmo caducando.

— Não diga bobagem, mulher! Vovô está velho, por isso fica com essas histórias, mas ele só quer chamar a atenção. — Jandir tirou o chapéu de palha, jogando-o no chão e revelando um cabelo já passado o corte, suado e colado ao crânio. —Traz meu prato que eu tô de broca!

Ubiratan estava deitado em sua costumeira rede, balançando levemente, enquanto, entre brincadeiras com a bisneta, tirava um cochilo.

— Papai, papai!

— Oi, menina. Já comeu?

— Até empanturrar! — A garota saiu da rede e correu para o pai. — Vovô falou que a velha vem hoje de novo. — Tainá olhava para o chão, com as mãos entrelaçadas, balançando de um lado para outro.

— Seu bisavô tá é atentando. Já expliquei que isso não existe. Me deixa comer sossegado. — Jandir balançou a mão no ar, num gesto de impaciência. — Vai ajudar sua mãe arear as panelas.

Tainá, que sabia não possuir idade suficiente para lavar louças, foi para o quintal brincar. Jandir voltou a comer, embora seu apetite tivesse diminuído com as lembranças da última noite.

Em menos de uma hora, Jandir voltou para a lida no campo. Sua sobrevivência dependia daquelas mandiocas, não poderia deixá-las morrer no mato.

Ao cair da tarde Jandir retornou para a casa, levando um jerimum debaixo do braço.

— Mulher! Olha o que eu encontrei no meio das macaxeiras! — Jandir sorria, erguendo a abóbora como um troféu.

Janaína foi ao encontro dele, não retribuindo o sorriso.

— Vai lá dar jeito no seu avô. Ele tá enchendo a cabeça da nossa menina com aquelas histórias.

Jandir encolheu os ombros, visivelmente cansado.

— Vou me assear, mais tarde falo com ele.

Depois de tomar banho e jantar, Jandir sentou-se próximo à rede do avô.

— Bença, vô.

— Bençoi, filho.

— O que anda falando para a Tainá, vovô?

O velho tinha uma aparência encarquilhada, seus olhos já não tinham o mesmo brilho da juventude.

— Eu apenas contei as mesmas histórias que ouvi quando era pequeno. As crianças de hoje precisam saber das coisas, filho. Não podem crescer abestalhadas.

— Sabe que essas coisas não são verdades, são apenas lendas.

— Não deboche, Jandir! Sei que cresceu na cidade, mas eu já te ensinei a respeitar as coisas antigas.

— Desculpe, vovô, mas não pode ficar passando medo na menina, vai fazer ela crescer molenga.

Antes que pudessem continuar a conversa, Tainá chegou, pulando para o colo do pai.

***

Quando a escuridão ia alta e todos estavam mergulhados no mais profundo sono, o canto que ecoou na noite anterior, recomeçou.

Lembrava um canto de pássaro, só que bem mais fino e estridente, como um grito alucinado que penetrava no cérebro. O som agudo acordou a família. Tainá correu para os braços da mãe, tapando os ouvidos com força, enquanto Jandir tentava acalmá-la. “É só um pássaro agourento, filha. Logo vai embora”. Apenas Ubiratan não esboçou nenhuma reação, porque ele já estava acordado, ele já estava esperando.

Janaína chorava, não de desespero ou medo, mas de dor. Seus ouvidos estavam feridos.

— Eu avisei, eu avisei… — Ubiratan sussurrou.

— Vou dar um jeito nesse bicho maldito! — Jandir pegou sua espingarda e saiu.

Tainá se escondeu debaixo da mesa e começou a gritar.

A cada tiro que Jandir disparava em direção ao canto, este mudava de lugar, sem cessar o som um só momento, dando a impressão de pular pelo telhado da casa sem que ninguém o visse.

Ubiratan caminhou para a escuridão indo atrás do neto.

— Não faça isso, Jandir! — O ancião andava com dificuldades. — Pare, filho, pare!

Jandir gritou com o avô, mandando-o voltar para dentro de casa. Sua mira estava cada vez mais atrapalhada. Seus braços tremiam, seus tímpanos vibravam.

Foi então que viram uma sombra passar por eles, parando no topo de uma árvore próxima. Jandir não soube precisar o tamanho nem a forma da criatura, e o canto não cessou. Ele caiu de joelhos, forçando a arma para cima, tentando mirar na árvore, mas suas mãos não tinham mais forças para apertar o gatilho. A arma tombou, caindo para o lado, e ele desabou sobre o próprio corpo como um boneco de pano, desacordado.

Ubiratan, vendo a agonia do neto, gritou o máximo que conseguiu com seu pouco fôlego:

— Matinta, passa aqui amanhã que te dou o tabaco!

No mesmo instante, o assovio parou. O silêncio voltou a reinar e Janaína correu ao encontro do marido, sacudindo-o. Jandir abriu os olhos, já acelerado, procurando pela espingarda.

— Calma, homem! Já acabou. Ela foi embora.

— Ela quem? — Jandir desvencilhou-se das mãos da mulher, arredio, sem acreditar no que ouvia. Levantou-se tentando enxergar sob a parca luz das estrelas, colocando o dedo indicador nos lábios, pedindo silêncio. Ao constatar que realmente o estridente canto havia acabado, respirou aliviado.

Todos voltaram para o interior da casa, mas ninguém conseguiu dormir.

— Amanhã Matinta vem buscar o fumo dela. — Ubiratan falou baixinho, como se temesse que, ao pronunciar aquele nome, o assovio voltasse.

— Não diga lorota, vovô. — Jandir disse.

— Nem depois de ter visto tudo o senhor não acredita, papai? — Tainá falou, mesmo em sua tenra idade, soube a gravidade da situação.

— Vá dormir, guria. — Jandir ralhou, desligando a única luz que precariamente iluminava a casa.

***

Na manhã seguinte, antes mesmo do dia clarear, Ubiratan já estava sentado à mesa da cozinha, quando Janaína chegou para preparar o café.

— Separe o tabaco e também uma xícara de café bem forte. — Ele disse, assustando Janaína que não o havia notado.

— Oh, vovô, eu não tenho fumo aqui.

— Não diga lorota! Sempre tem fumo aqui. — O velho estava irritado, suas mãos tremiam ainda mais que o normal.

Janaína espiou por cima dos ombros e cochichou no ouvido do avô:

— Eu sei onde tem, mas o Jandir me proibiu de pegar. — Ela retirou de dentro da blusa uma boa porção de tabaco enrolado em formato cilíndrico e colocou nas mãos do velho. — Por isso eu não peguei nada.

Janaína piscou para Ubiratan e se pôs a fazer o café.

O velho saiu desconfiado, parando na pequena varanda da casa, deixou a encomenda e voltou para a mesa.

Logo Jandir apareceu, carrancudo e com grandes olheiras.

— Dia. — Disse, com uma voz rouca e sem nenhum humor.

Os outros nada disseram, além de esboçar um leve menear de cabeça. Mal tomou o café, Jandir levantou-se.

— Vou terminar a capina das macaxeiras.

Pouco depois que ele saiu, alguém bateu à porta. Janaína sentiu um calafrio percorrer seu corpo e viu o mesmo acontecer com o avô.

Tainá abriu a porta e viu a figura de uma senhora idosa, corcunda, usando um vestido longo e preto, com um casaco também negro e um capuz grande, tapando parte de seu rosto. Tainá sentiu seu corpo vibrar, todos os músculos se contraíram, ela ficou imóvel, incapaz de esboçar qualquer reação, sem conseguir soltar o grito que parara em sua garganta.

Janaína adiantou-se.

— Pois não? — Disse.

— Pode me dar um pouco de tabaco? — A velha pediu, erguendo as duas mãos abertas, juntas, a altura do peito, esperando pela oferta prometida.

Ubiratan foi até ela, irritado.

— Eu já deixei sua oferenda! — O velho saiu porta afora, sem se importar em passar rente à velha encarquilhada. Olhou o local onde colocara o tabaco e nada havia ali. — Você está mentindo! Você já pegou seu fumo e está querendo mais! — Ubiratan gritava, sentindo um fervor subir-lhe pelo pescoço, seu rosto foi ficando vermelho, e ele já não se importava com o forte odor que exalava da criatura à sua frente.

— Você prometeu! Quero meu tabaco! Matinta Pereira nunca mente, mas também nunca perdoa enganação! — A velha retirou o capuz, expondo um rosto esquelético, com poucos tufos de cabelos brancos espalhados pelo crânio pálido e purulento. Ela escancarou a boca em um ângulo sobre-humano, e de dentro saiu um pássaro negro, assoviando.

Tainá finalmente conseguiu soltar o grito que trazia entalado na garganta. Ubiratan deu um passo para trás, levando as mãos ao peito, apertando, se contorcendo em uma dor que subia por seu braço, até cair no chão com os olhos vidrados. A última imagem que viu, foi a do pássaro negro estufando o peito de tanto cantar, até estourar, espalhando sangue, entranhas e penas pelo ar.

A velha virou-se para Tainá, que continuava gritando, ao lado da mãe estática. 

— Não grite agora, minha pequena ave. — A mão esquelética e mal cheirosa tocou-lhe a face infantil. Tainá amontoou-se no chão.

Com a mão ainda erguida, a velha sustentou o olhar de Janaína, perguntando-lhe:

— Você quer?

Janaína arregalou os olhos involuntariamente, gritando “não” por dento, embora de sua boca não saísse um só ruído.

— Você quer? — Repetiu a velha, dessa vez com a voz elevada, arrancando Janaína de seu torpor.

— Sim! — Sua voz saiu estridente, embora não fosse essa a resposta que queria dar.

A velha afastou-se, abrindo os braços e olhando para o céu. Escancarou a boca e arregalou os olhos. Girou várias vezes, levantando consigo uma grande nuvem de poeira. Quando o redemoinho cessou, apenas suas roupas caíram no chão, murchando e se amontoando. A velha havia sumido, como se tivesse se misturado à poeira.

Janaína sentiu fortes vibrações em seu corpo, sentindo-o formigar. Ergueu as mãos na altura dos olhos a tempo de vê-las tremeluzir e a pele tornar-se ressecada e enrugada. Sua coluna estralou, curvando-a para frente e seus cabelos caíram. Tocou o rosto e sentiu todas as rugas e feridas ali presentes. Sentiu um forte ardor na boca e ouviu o som de dentes sendo arrancados, caindo todos no chão. Caminhou em direção as roupas negras e as vestiu. Olhou uma última vez para o corpo do avô, sem mais reconhecer aquela figura, e voltou para a menina caída. 

— Desabroche, minha adorada ave.

Tainá abriu os olhos, sacudiu as penas e balançou as asas. A nova velha escancarou a boca e o pássaro negro voou para dentro dela.

— Bora! Ainda tenho que achar meu tabaco.

***

Ao invés de ir à capina das mandiocas, Jandir foi à cidade comprar mais munição para sua espingarda. Queria estar preparado para quando aquela criatura estranha voltasse.

_______________

Conto inspirado na Lenda da Matinta Pereira, originária da Amazônia.

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13 comentários em “Quem quer? (Vanessa Honorato)

  1. marcoaureliothom
    27 de junho de 2020

    Olá autor(a)!

    Antes de expor minha opinião acerca da sua obra gostaria de esclarecer qual critério utilizo, que vale para todos.

    Os contos começam com 5 (nota máxima) e de acordo com os critérios abaixo vão perdendo 1 ponto:

    1) Implicarei com a gramática se houver erros gritantes, não vou implicar com vírgulas ou mínimos erros de digitação.

    2) Após uma primeira leitura procuro ver se o conto faz sentido. Se for exageradamente onírico ou surrealista, sem pé nem cabeça, lamento, mas este ponto você não vai levar.

    3) Em seguida me pergunto se o conto foi capaz de despertar alguma emoção, qualquer que seja ela. Mesmo os “reprovados” no critério anterior podem faturar 1 ponto aqui, por ter causado alguma emoção.

    4) Na sequência analisarei o conjunto da obra nos quesitos criatividade, fluidez narrativa, pontos positivos e negativos, etc.

    5) Finalmente o ponto da excepcionalidade, que só darei para aqueles que realmente me surpreenderem.

    Dito isso vamos ao comentário:

    RESUMO: É uma releitura da lenda da Matinta Pereira, descrita na Wikipédia como “uma bruxa velha que à noite se transforma em um pássaro agourento que pousa sobre os muros e telhados das casas e se põe a assobiar, e só para quando o morador, já muito enfurecido pelo estridente assobio, promete a ela algo para que pare (geralmente tabaco, mas também pode ser café, cachaça ou peixe). Assim, a Matinta para e voa, e no dia seguinte vai até a casa do morador perturbado para cobrar o combinado. Caso o prometido seja negado, uma desgraça acontece na casa do que fez a promessa não cumprida.”

    CONSIDERAÇÕES:
    Trata-se de uma releitura feita com maestria que, apesar de se inspirar, não pode ser considerada apenas uma cópia da original.
    Os elementos novos, a construção dos personagens, a interação entre eles e o desfecho, foram muito bem amarrados tornando este, em minha opinião, um dos melhores contos da série que me propus a ler. Parabéns!
    Independentemente da avaliação, aproveito para parabenizar-lhe pela obra e desejo sucesso na classificação final.

    Boa Sorte!

  2. Daniel Reis
    27 de junho de 2020

    4. Quem quer? (Matinta)
    Resumo: Uma família vive na Amazônia, e o pai faz pouco caso da tradição de crenças do avô, que tem ligação de proteção com a neta. Principalmente, com a ameaça da Matinta, uma espécie de “bruxa”, que volta em busca de oferenda (fumo) e acaba transfigurando a mãe e dominando a menina como a nova entidade (ave).
    Comentário: analisando a PREMISSA, uma espécie de conto de terror sobrenatural, constatamos que a Amazônia ocupa um lugar central e que portanto o autor foi bem sucedido em atingir o tema do certame. Quanto à TÉCNICA, os diálogos seguem a naturalidade de um filme de terror, sendo que algumas vezes o que se diz não necessariamente ajuda a entender o personagem – ponto que poderia ser aperfeiçoado, a meu ver. Apenas ao final, com o enfrentamento do sobrenatural, me pareceu um pouco confuso do que aconteceu e por que do ocorrido, não ficando muito claro se era só vingança ou destino. Ao final, o EFEITO NO LEITOR foi positivo, ainda que não tenha superado o nível de assombro ou provocado medo. Boa sorte no desafio.

  3. Amanda Gomez
    24 de junho de 2020

    Resumo 📝 Uma família do interior do amazonas recebe a visita de Matinta, uma figura folclórica. Jandir, o responsável pela família é descrente e nã acredita nessas lendas, ignorando os avisos do avo. Não da a oferenda e sua família cai em desgraça. A mulher vira a nova matinta, a filha o pássaro agourento e o avô morre. Ele ainda não sabe, está ocupando comprando mais munição para matar o pássaro.

    Gostei 😁👍 A escrita é muito agradável, li sem entraves, gostei dos diálogos da introdução de cada personagem, da forma com a lenda foi contada e mais adiante toda a parte da ação. Eu esperava algo mais tranquilo, mas tivemos aqui um final surpreendente no sentido de não estar esperando mesmo. Uma tragédia, uma história de terror. E o final só dar mais gás a isso, porque o homem descrente agora vai mirar contra a sua família. Eu gostei bastante disso.

    Não gostei🙄👎 Acho que já comentaram, foi a quebra de expectativas, eu como conheço bem essa lenda só fui surpreendida pelo tragédia final, todo o conto desde a lenda, o pássaro e tudo mais eu já esperava como se tivesse lido um roteiro. É uma ótima ambientação, mas acho que o autor entregou spoilers demais. Não bastante o título ainda tem o pseudônimo. Mas, nada que desabone a qualidade do texto em si. E são muitas.

    Destaque📌 “Tainá abriu os olhos, sacudiu as penas e balançou as asas. A nova velha escancarou a boca e o pássaro negro voou para dentro dela.”

    Conclusão = :O Um texto muito bem escrito, uma releitura de uma lenda bastante conhecida feita com um tempero a mais de terror que me agradou bastante.

    Parabéns, boa sorte.

  4. Regina Ruth Rincon Caires
    24 de junho de 2020

    Quem quer? (Matinta)

    Resumo:

    A história de Jandir, Janaína (esposa), Tainá (filha) e Ubiratan (avô). A lenda de Matinta Perera é recontada dentro da vida de uma família. Para ler o conto, primeiro fui conhecer a lenda de Matinta.

    Comentário:

    Um texto que prende a atenção do início ao fim. A história amazônica de Matinta Perera é linda, e a adaptação para o conto ficou perfeita. A escrita é perfeita, fluente, corretíssima. O autor entende do riscado.

    Fui procurar a lenda de Matinta, e aprendi. Os desafios do grupo trazem esse prêmio, sempre estamos aprendendo. Na lenda, quando Matinta está para morrer, pergunta:” Quem quer? Quem quer?” Se alguém responder “eu quero”, pensando em se tratar de alguma herança de dinheiro ou joias, recebe na verdade a sina de “virar” Matinta Perera. E isso, ao final do conto, aconteceu com Janaína.

    Agora, nem a agourenta Matinta imaginava que um dia, em pleno século XXI, seria o nome dado a uma operação da Polícia Federal, deflagrada justamente para apurar desvios de dinheiro da área da Amazônia, lá no Rio Grande do Sul. Brasil de ponta a ponta… Matinta é nossa, brasileira.

    O título configura a fala última de Matinta, quando ela aparece. O pseudônimo é óbvio, cristalino.

    Parabéns pelo trabalho, Matinta!

    Boa sorte no desafio!

    Abraços…

  5. Gustavo Araujo
    23 de junho de 2020

    Resumo: num núcleo rural – pai, mãe, filha e bisavô – surge a figura de uma ave e depois de uma velha mulher que deseja fumo. Ante à inexistência, ela ataca o velho homem, a mulher e a menina, sendo que as últimas unem-se para substituí-la.

    Impressões: achei o conto bem escrito e bem estruturado, o que revela um autor com certa bagagem literária e que sabe para onde caminhar. O problema é que desde o início se sabe que o conto será sobre Matinta Pereira, — dado o pseudônimo adotado — o que tira grande parte da força do texto. Ou seja, já nas primeiras linhas dá para perceber o roteiro, onde tudo vai desaguar e, de fato, nada diferente disso acontece. A observação no final termina por dizer o óbvio, sendo também desnecessária.O conto poderia ter maior impacto se a menção a Matinta não existisse expressamente, se esse liame tivesse ficado a cargo do leitor. Essa constatação, por parte de quem lê, teria funcionado como uma espécie de epifania, uma revelação, tornando o conto mais interessante, algo como um mistério revelado. Quando lemos queremos nos surpreender, buscamos o inesperado. Aqui a surpresa infelizmente foi entregue de bandeja, já no título. Uma pena, porque o autor claramente é um bom escritor. De todo modo, parabenizo-o pelo texto e desejo boa sorte no desafio.

  6. Tereza Cristina S. Santos
    22 de junho de 2020

    O conto fala sobre uma criatura com poder sobrenatural que ronda uma família composta pelo agricultor, sua esposa e a filha que na época ainda era criança. O avô conta uma história de pavor para a neta e foi censurado pelos pais da menina. A família mora no interior do Amazonas e a personagem descrita pelo avô é uma idosa que assusta as pessoas com sua aparência desfigurada. A idosa tem um pássaro tenebroso, que enlouquece as pessoas. O avô resolve oferecer fumo para a entidade parar de atormentar, mas quando ela chega à casa não encontra fumo. Então, como vingança, a criança se torna vítima de uma maldição, é transformada num pássaro que some e sua mãe se transfigura numa velha.
    O texto é bem estruturado, possui início, meio e fim. O texto desperta a curiosidade do leitor. O autor consegue desenvolver as idéias com coerência.

  7. Anderson Do Prado Silva
    22 de junho de 2020

    Resumo: Família que vive no interior remoto da Amazônia recebe a visita de um ser sobrenatural que exige oferenda, mas, como essas não lhe são oferecidas a contento, ele arrebata membros da família.

    Comentário: O autor possui bom domínio da língua e das técnicas de narração. O autor se revela um bom contador de história. O conto é simples em termos de linguagem e enredo. O leitor atento há de sentir um certo um horror, um certo pavor pelo ser sobrenatural que assombra a família. Por sorte, tive a felicidade de ler o conto durante o dia e com a persiana bem alta, poupando-me dos sobressaltos dos contos escuros.

  8. pedropaulosd
    13 de junho de 2020

    RESUMO: “The Witch, a New England tale”, mas “Matinta, uma estória amazonense”. Perdoe pela brincadeira, mas achei similar a ideia de uma família isolada que se confronta com uma bruxa necessitada de tabaco. No fim, a bruxa desmembra a família, tirando tudo que Jandir tinha (isso porque acredito no melhor e compreendo que ele não prezava mais pelas mandiocas do que pela família).

    COMENTÁRIO: Muito envolvente! A introdução é eficiente em nos delinear os principais personagens e os seus conflitos, colocando de lados opostos os pares: Jandir e Janaína os céticos, Ubiratan e Tainá os crentes. É interessante que nesses dois últimos a crença vem de fontes diferentes. Do avô vem da experiência antiga e da garota da ingenuidade infantil. Os outros dois, ligados a interesses práticos (plantar mandioca/cuidar da casa), não se deixam afetar pelos terrores lendários e é justamente por isso que são vitimados por eles. É a regra das estórias de terror, não é? É muito mais fácil ganhar dos protagonistas porque eles nunca estão preparados devidamente. Apesar de ser comum, essa regra cai muito bem nesse conto, justamente porque a introdução funciona muito bem em consolidar as personagens e suas vulnerabilidades na situação.

    Passada a apresentação deles, o desafio aparece na forma do primeiro ataque de Matinta, colocando em cheque o ceticismo de marido e mulher. O ponto positivo, que considero um proveito inteligente da lenda, é que o verdadeiro conflito é adiado, já envolvendo o leitor na expectativa do que virá na sequência. No encontro fatal, clímax da leitura, as expectativas são atendidas com uma vitória brutal e de execução inesperada. A ironia da derrota da família dá um tom de crueldade a mais aos planos da bruxa, fazendo dela um ser verdadeiramente temível e atendendo à expectativa preestabelecida. Ótimo conto.

  9. Fabio D'Oliveira
    13 de junho de 2020

    Resumo: Família se encontra rodeada por Matinta Pereira, que, com seu assobia agourento, perturba-lhes o sono. Assim que Ubiratan promete tabaco para que deixo-os embora, ela cumpre sua promessa, mas não é correspondida. A desgraça recai sobre a família.

    Olá, Matinta!

    Eu conheço essa lenda, uma amiga me contou quando era mais novo, num daqueles encontros de noite, quando você decide falar sobre histórias de terror e afins, sabe? O conto, em si, perde o brilho da descoberta para quem conhece a história, e o pseudônimo também não ajuda nessa questão. Já comecei esperando por Matinta.

    Sua escrita é ágil e fácil, a narrativa fluiu naturalmente para mim, não tenho do que reclamar. Foi uma leitura agradável. Acho que você tem potencial para algo muito melhor. Você escolheu um caminho muito fácil. É um causo baseado na lenda de Matinta Pereira. Só isso. Não há qualquer reviravolta que surpreenda, principalmente para quem conhece a história dela. Tudo bem trabalhar em cima do folclore, entretanto, seria interessante procurar uma renovação. Algo de diferente, para agradar todos, aqueles que conhecem e que não conhecem. Eu fiquei torcendo por isso. Você acabou entregando o que já esperava.

    Mas a estrutura do seu conto é muito boa. Início, meio e fim bem delineados, personagens críveis, tudo bem feito. Procure ser mais ousada da próxima vez!

    Muita felicidade para você!

  10. angst447
    12 de junho de 2020

    RESUMO:
    Família que mora no interior do Amazonas, vive de maneira bastante simples, às custas do trabalho de Jandir na lavoura. O avô de Jandir, Ubiratan, tenta repassar a cultura da sua gente para a bisnetinha, através de lendas, mas é repreendido pelo neto, que não acredita naquelas histórias. No meio da noite, todos escutam um som agudo que parece ser de um pássaro e Jandir pega sua espingarda e sai atirando , Jandir pegou sua espingarda e sai atirando, mas acaba desacordado. O velho Ubiratan promete à Matinta que lhe dará tabaco no dia seguinte. De manhã, enquanto Jandir sai para comprar mais munição para tentar matar o suposto pássaro, Janaína recebe a visita de uma velha de rosto esquelético que pede tabaco, e entre uma discussão sobre já ter pego o tabaco, Ubiratan cai duro e então Matinta pergunta se Janaína quer, e mesmo querendo negar, Janaína diz que sim, que quer. Então, se dá a transformação da mulher na velha repugnante (tornando-se a nova Matinta) e a pequena Tainá vira um pássaro e entra na boca da Matinta. .
    —————————————————————————————————————
    AVALIAÇÃO:

    * T – Título: Título instigante, sem entregar o enredo.
    * A – Adequação ao Tema: Conto aborda uma lenda amazônica, cumprindo a exigência do desafio.

    * F – Falhas de revisão: Não encontrei erros que me saltassem aos olhos. No entanto, só me incomodou a fala da menina Tainá: “Nem depois de ter visto tudo o senhor não acredita, papai?” Não me parece crível que uma menina tao pequena falasse assim. Principalmente a locução verbal “ter visto” me pareceu sofisticada demais para a garotinha.
    * O – Observações: O(a) autor(a) soube relacionar bem a lenda à narrativa, o que tornou a leitura bastante interessante. A caracterização dos personagens, sobretudo da Matinta, ficou muito boa. Conto muito bem escrito, com detalhes que valorizam a trama, sem cansar o leitor.
    * G – Gerador (ou não) de impacto: Achei o surgimento da Matinta bastante impactante, ainda mais com a transformação de mãe e filha e o desfecho que deixa no ar a previsão de uma tragédia familiar.
    * O – Outros Pontos a Considerar: A valorização do folclore da região amazônica serviu de excelente base narrativa desta cativante história.

    Parabéns pela sua participação!

  11. Gabriela
    10 de junho de 2020

    O conto coloca a lenda amazônica “ Matinta Pereira” na vida de uma família.
    O pai, agricultor vive com a esposa, a filha e seu pai.
    Chega um dia para o almoço e fica sabendo que seu pai está novamente falando sobre uma velha que vem buscar fumo.
    Mesmo ouvindo o grito que parece ser de um pássaro e vendo algo, ele não acredita muito.
    Sai para comprar mais munição para tentar matar o suposto pássaro e algo terrível acontece em sua casa.
    Matinta é uma velha com uma roupa preta que tem dentro de si um pássaro.
    Ela aparece na casa e além do fumo, quer também as pessoas.
    Ao sumir, transforma a mãe da criança em velha ( uma nova Matinta) e a criança no pássaro que vive dentro dela.
    Não conhecia essa lenda, e gostei muito de lê-la em forma de conto.
    Tem um final surpreendente e que me faz pensar no binômio mãe-filho.
    A mãe teve opção de responder que não queria, mas não conseguiu e respondeu que sim, queria.
    Queria que sua filha voltasse para dentro de si?
    Elocubrações…
    Li com curiosidade, facilidade e me surpreendi!
    Boa sorte!!

  12. Emanuel Maurin
    9 de junho de 2020

    Oi Matinta, paz e bem pra ti.
    Resumo:
    O conto é sobre uma criatura sobrenatural que atenta uma família composta por um agricultor, esposa e filha que ainda criança, escuta de seu avô, uma história de terror sobre protesto do pai e da mãe. Eles moram no interior do Amazonas, e, lá, essa entidade retratada pelo avô, é uma velha que tem como objetivo assustar as pessoas com sua aparência desfigurada. Junto com a velha, um pássaro
    entona o canto medonho, que deixa as pessoas endoidecidas. A entidade para de atormentar em troca de fumo, oferecido pelo avô, mas ao buscar o fumo a mesma não encontra e joga uma maldição na criança a transformando num pássaro, desaparece e a mãe se transforma na velha. O pai, que já havia atirado na entidade na noite anterior, vai comprar mais munição pra tentar destruí-la outra vez. Mal sabe ele que mulher e filha se transformaram no mal.

    A narrativa flui bem, o conto tá bem amarrado e gostoso de ler. E o melhor, fui surpreendido com o final.

    Boa sorte!

  13. antoniosbatista
    9 de junho de 2020

    Resumo= Um agricultor na Amazônia, ao voltar para casa, encontra o avô contando a lenda de uma bruxa para sua filha. Ele pede para o avô não dizer aquelas coisas para a menina e o velho o reprende por não acreditar na lenda; Um pássaro começa a cantar próximo da casa e o avô coloca fumo na varanda para que a bruxa pegue e deixe de atormentar com o canto do pássaro que vive no interior dela. A bruxa ignora o presente e pergunta se a mulher de Jandir quer e ela diz que sim e recebe a maldição, se transforma na bruxa e a menina no pássaro.
    Comentário= O conto é muito bem escrito, bons personagens e diálogos. Para quem não conhece a lenda da Matinta, não entende a pergunta da bruxa, Você quer? Como eu não entendi, pesquisei na internet sobre a lenda. A maldição da Matinta é hereditária, passa de mãe para filha e se ela não tiver uma filha, se esconde numa floresta a espera que uma mulher passe por ali para perguntar se ela quer, se ela responder sim, recebe a maldição. O conto é baseado na lenda e achei perfeito, um verdadeiro conto de terror. Gostei bastante de como foi narrado. Boa sorte, Matinta.

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Publicado às 7 de junho de 2020 por em Amazônia, Amazônia - Grupo 1 e marcado .
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