No tempo das’águas, no em antes, do ano passado
andei quase a virar passarinho.
Um átimo da minha vocação
de borboleta ou morcego foi que faltou.
Desvoei!
Mas meu medo de menino,
medo ancestral da queda, amoleceu-me.
Desdesenhadas minhas asas tortas
recolhi as penas e a pena.
Despoetei-me!
Arrasto-me lagarto desde então.
Encaramujei minhas vontades
e liberdades receosas. Parado no ar
caindo de pedra e chumbo,
Gravitacionei.
Olá, Francisco. Você tem uma técnica muito boa, tão boa que quase ofusca a tristeza que as palavras escondem. Alguns chamam de bloqueio criativo, você “solidificou” a questão em forma de lagarto. É muito complicado o que algumas coisas da vida fazem com a poesia que carregamos dentro de nós, mas tendo a pensar que a semente é forte e as asas dos poetas sempre crescem outra vez.
Parabéns!
gostei, os pequenos reparos a fazer já foram realizados, por isso vou ler mais uma vez. parabéns pelo ritmo apresentado
Obrigado, Vitor Leite.Amo o jeito “mineirim da roça” de falar, afinal, jamais me permitiria deixar de sê-lo. Abraços.
Versos gostosos de ler, com um ritmo não calculado, mas sutil. Gostei das metáforas e os neologismos. Poetizei.
Obrigado Claudia Roberta, poetizemos, pois. Abraços.
Bacana, Francisco!
Inspirado em Manoel de Barros? Gostei das metáforas e dos verbos e dos neologismos.
Apenas o primeiro verso, consideraria um estranho no ninho… rsrsrs
‘No tempo das’águas, no em antes, do ano passado’
o apóstrofo em “das’águas”, nunca vi usar assim, apenas assim: “d’águas”, mas acho q nem caberia… fica simples e correto: “das águas” mesmo.
“no em antes”.. tb não conheço essa expressão, inclusive não entendi.
Mas de resto, o poema está show! Parabéns.
Anorkinda, não há como negar a influência de meus ídolos (Manoel de Barros e João Guimarães Rosa). Bom, sobre o apóstrofo em questão, está grafado em mineirês puríssimo, da forma que falamos. rsrsrsr Também a expressão “no em antes” é um regionalismo, grafado um pouco mais sofisticado, o meu povo simples daqui diz no inhantes e é o que ocorreu antes do agora. Abraços.
ahh entendi… regionalismos…
dae boiei mesmo, pq nao sou de Minas, uai…rsrsrs
no ‘em antes’, entao seria melhor colocar entre aspas… poderia o leitor lembrar de ‘inhantes’ que é mais conhecida essa forma de grafar.
Obrigada pelos esclarecimentos!