EntreContos

Detox Literário.

Bananas em Columbine (Rafael Sollberg)

“Dentro de mim há dois cachorros: um deles é cruel e mau; o outro é muito bom. Os dois estão sempre brigando. O que ganha a briga é aquele que eu alimento mais frequentemente…”

Provérbio Apache

… Ele já sabia qual alimentar, por isso trouxe bananas!

 

– Homem morto entrando – gritaram em uníssono os beberrões, as putas e até o barman do pequeno Saloon, quando o Apache vestido de homem branco adentrou no local.

O sujeito de pele vermelha cruzou todo o salão sem olhar para ninguém. Durante sua vida inteira aprendera a ignorar toda a sorte de coisas. Dessa vez, não seria diferente. Optara por não levar em conta o fato de que estava no local errado, na hora errada e cercado pelos errantes mais desgraçados de todo o condado. Ele não se importava, pois seu motivo era certo. A escória de chapéus ridículos e esporas sinistras nunca havia exercido qualquer temor em sua mente. Para ele, os demônios brancos não passavam de fantasmas pálidos. No entanto, dizer que sua mente sempre esteve protegida, não significa dizer que seu corpo tenha saído ileso durante toda a jornada. Não, de modo algum. Em dias frios ainda podia sentir as múltiplas fraturas espalhadas pelo corpo. A pele das costas queimada por tochas intolerantes ainda se eriçava todas as vezes em que ele vestia a camisa de linho preta. O olho, que não estava mais lá, por incrível que pareça ainda coçava bastante. Por um momento pensou se o globo ocular ainda estaria espetado na faca do pai. Provavelmente não, o velho havia deixado bem claro que não queria nada em sua casa que o fizesse lembrar do maldito bastardo.

O Índio escolheu a mesa mais isolada da espelunca e sentou-se sozinho sem nunca perder a vista do horizonte. Seus olhos nunca haviam conhecido o chão e isso dizia muito sobre a ausência de um deles. Ele pediu um trago para o barman com um aceno discreto. Quando recebeu apenas uma dose de impropérios, retirou um cantil do bolso do casaco e virou o líquido amarelo em sua garganta seca. Tossiu de forma contida e alguns grãos de areia ainda presos em sua face quicaram na mesa de madeira escura. Um pequeno filete de sangue seco também se desprendeu do seu supercilio e tombou como uma lágrima dura cor escarlate.

Uma mulher sem perna pulou até sua mesa, curvou-se, acentuando os seios diminutos, e sibilou em seu ouvido:

Que tal uma última chupada antes de morrer, índio miserável?

– Não, obrigado senhorita – ele respondeu sem demonstrar qualquer indignação.

– Para um saco ambulante de ração para vermes até que você é bastante elegante.

– Obrigado, a senhorita também é muito graciosa.

“Caolho miserável” balbuciou a prostituta, tentando se equilibrar enquanto “corria” para uma mesa do outro lado do salão. O Apache apalpou suas próprias coxas e sorriu de boca fechada praticamente sem alterar o semblante soturno. Para sua tranquilidade, tudo estava no lugar.

De repente, algumas notas muito mal tocadas vazaram do piano velho que escondia uma velha morbidamente obesa. Os dedos gordos e desastrados começaram uma música alegre, que dizia resumidamente como Deus odiava todos os nativos. Quando o refrão bizarro chegava, a turba gritava ao mesmo tempo o lema hostil em direção ao intruso corajoso. O Índio compenetrado recebia a homenagem sem qualquer traço de abalo. Sua carranca marcada pelo sol e pela vida era inexpugnável, uma máscara unicolor de lapidação cruel. O sujeito não podia ser lido e isso também sempre despertara a ira de seus algozes.

Quando os homens da lei adentraram na taverna, a canção cessou de modo abrupto e o silêncio passou a acompanhar cada movimento realizado. O Xerife, que capitaneava o séquito, trajava um uniforme impecável do belo Estado do Colorado. A estrela dourada brilhava como um ponto de navegação naquele antro de perdição. Acompanhando seus calcanhares, vinham os três idiotas que ele nomeara assistentes legais. O mais velho andava no meio, ladeado por dois rapazes gêmeos de sorriso amarelo. Eram o tridente da “justiça do local” e o Índio ainda lembrava-se das estocadas recentes.

O Apache observou o Xerife caminhar lentamente em sua direção – os passos confiantes e os olhos semicerrados abaixo da longa aba do chapéu vistoso. O bigode prateado descendo até a metade do pescoço. Os pelos “silverados” cintilando na penumbra do local. Os dois revólveres, presos à anca, subindo e descendo na intensidade do gingado. Viu também o cuspe embolotado voar pelo ar e aterrissar no bico de sua bota desgastada. O velho homem da lei tinha boa mira, o Índio precisava reconhecer.

– Vejo que meus rapazes não souberam dar o recado direito, não é mesmo? – o Xerife perguntou, reclinado seu corpo e encarando o nativo de perto.

– Ao contrário, eles foram bastante eloquentes – o Apache respondeu, percebendo o desconforto no rosto de cada um dos bobalhões.

– Na segunda vez a coisa não é tão bonita.

– Eu não pretendo me demorar.

– Pra essa cidade, você já ficou tempo demais.

– Só quero ter uma palavrinha com o meu pai.

– Eu lá sei quem é o seu pai? – o Xerife riu nervosamente, antes de falar desconcertado. Cada fibra do seu corpo gritava: mentiroso!

– Vamos logo acabar com isso, vá chamar de uma vez o seu maldito chefe – o Índio disse, um pouco mais alto do que o habitual, para a surpresa de todos. Os presentes não ficaram boquiabertos graças à revelação fajuta, ou pelo tom de voz usado, mas sim pela audácia do filho bastardo do Prefeito.

– Não sei do que você está falando, porém, posso afirmar que essa é uma ordem direta do Prefeito.

– Sei disso, ele quase sempre deixou todo o trabalho sujo para você. No entanto, se você não quer limpar mais uma vez o meu sangue em cada centímetro quadrado desse lugar e talvez um pouquinho do seu – ele falou, descendo a mão até a cintura – sugiro chamá-lo agora.

O Xerife levantou o tronco, fuzilou com as pupilas alertas o desgraçado vermelho impertinente e sorriu sem graça para a enorme velha ao piano.

– Por Deus, toque alguma coisa sua imprestável. – Virou-se para os capangas e ciciou de modo quase inaudível – Tragam logo o homem aqui.

A música recomeçou, só que dessa vez todos permaneceram em silêncio. Estavam diante de um espetáculo terrível e inebriante, esperando pelo desfecho certo e avassalador.

A eternidade de alguns minutos se passou e o Apache continuou impávido. A prostituta perneta pensou em voltar à mesa onde havia sido rejeitada, mas desistiu no meio do caminho. A meretriz se fez de mediatriz e ficou entre o “forasteiro” e o homem máximo da lei, que havia recuado alguns passos. Afinal, viviam em tempos de violência, onde qualquer descuido era fatal. E o Xerife estava próximo de sua aposentadoria e não deixaria que um nativo estúpido findasse seus planos de sossego.

O Prefeito irrompeu de maneira furiosa na velha taberna. A porta vai-e-vem se debateu freneticamente, tamanha força com que foi empurrada, e acertou o trio desajustado que nunca havia tomado uma dianteira em toda a sua existência. O homem elegante contava com um imenso nariz de rapina e portava em sua ponta um delicado pincenê.  Seu rosto, esculpido em pedras portuguesas, expelia maldade por cada poro exagerado. Uma corrente dourada escapava lepidamente do bolso esquerdo do seu terno. O Apache lembrava-se muito bem daquele relógio, pois seu sumiço momentâneo havia lhe custado 50 por cento da visão. Recordava-se igualmente da faca notável e notória que o sujeito carregava no coldre. O tempo nunca apagaria essas memórias de família.  O sujeito parou ao lado do Xerife, que fez uma mesura discreta com o chapéu, e seguiu até o homem que exigira sua presença.

– Posso me sentar?

– Não faça isso, sabe muito bem que pedidos não combinam com a sua pessoa.

– Você me conhece garoto, realmente sou um homem de ordens. – o Prefeito disse enquanto sentava-se em uma cadeira carcomida. – Mas não tive nada a ver com a morte de sua mãe.

O Apache segurou as coxas espremidas na calça apinhada, contraiu os lábios e franziu o cenho. Suspirou profundamente, sem deixar o ar escapar com força, e fez sinal para que seu pai continuasse.

– Sua mãe sempre foi uma boa empregada. Uma mulher trabalhadora, honesta e discreta. Seu único erro foi justamente você! – o homem com nariz de rapina exclamou, abrindo um sorriso sinistro. Por dentro, o arrependimento de não ter acompanhado de perto o aborto ainda martelava sua mente.

– Pode me emprestar um isqueiro? – ele perguntou para a vagabunda perneta, que em seguida recebeu um aceno de confirmação do Prefeito e pulou até a mesa.

– Não sabia que pessoas do seu tipo fumavam.

– Você não sabe muita coisa sobre pessoas do meu tipo, mas realmente nós não fumamos.

O filho bastardo puxou duas bananas de dinamite de dentro da sua calça e olhou desafiadoramente para o pai desalmado. Os expectadores do local reagiram prontamente sacando cada cano escondido sob a roupa. Até a piranha de uma perna só, tentou sacar um pequeno revolver preso no seu espartilho. No entanto, em razão da maldita gravidade e do pé sorrateiro do Índio, tombou como uma árvore em cima das pernas do Xerife.

– Ninguém vai atirar – gritou o Prefeito sem tirar os olhos de sua semente bastarda. – Vocês escutaram seus imbecis, abaixem as armas.

– Apesar de tudo, você sempre foi um cara sensato, Pai.

– Essas duas dinamites não me deixam escolhas, filho. – o homem falou baixinho trincando os dentes. – Eu gosto desse Saloon, ele é muito rentável, não quero que qualquer faísca faceira acabe com isso.

– Não é só com o Saloon que devia se preocupar, mas sim com toda sua maldita cidade – o Índio falou arrancando os botões da blusa e revelando um cinturão de bastões de dinamite que circundavam o seu corpo.

Todos os miseráveis da taverna arfaram de medo e instintivamente empunharam novamente suas armas. Os gêmeos começaram a tremer, enquanto o terceiro membro da trupe deixava escorrer sem pudor um líquido amarelado e mal cheiroso por suas pernas. A piranha desprovida de equilíbrio se apoiava em um Xerife em estado catatônico. O barman rezava atrás do balcão, enquanto a pianista monstruosa soluçava sem parar. O terrorista apenas encarava o seu desgraçado pai.

– O que você quer? – o homem prático perguntou, sem nenhum traço de medo na voz.

– O que eu quero? – o Apache devolveu, gargalhando pela primeira vez desde que entrara ali. – Eu quero minha infância, a integridade do meu corpo, uma nova pele para minhas costas… Quero meu olho de volta, quero a minha pobre mãe. Quero tantas coisas, porém, no momento eu só quero essa sua faca.

– Que tipo de jogo é esse? – o indivíduo de nariz adunco perguntou, entregando sua preciosa faca a contra gosto.

– Um jogo de reparação, pai. – ele sibilou pegando o objeto, colocando uma banana de dinamite entre os dentes e oferecendo a outra mão para o sujeito.

O prefeito titubeou, tentando perceber o que estava por vir, todavia, enfim, cedeu à pressão do momento e agarrou a mão de seu filho ilegítimo. Em um ato contínuo e estonteantemente veloz, o Índio jogou uma das dinamites na direção do Xerife, que mesmo atônito conseguiu agarrá-la. Olhou firmemente para o rosto do pai e cravou a faca em ambas as mãos que se cumprimentavam com asco. Unidos pelo aço, o Prefeito urrou com a dor lancinante, enquanto o Apache acostumado com as chagas apenas sorriu.

Para desespero do Xerife, o som peculiar da armação dos revólveres multiplicou-se por cada canto do salão. Prefeito e Apache ainda estavam presos na mesa. A faca trespassara a carne, os tendões, os ossos e a madeira antiga. O duelo familiar estava suspenso, ninguém perdera a vida.

– Abaixem as armas! – vociferou o Xerife, ainda segurando um bastão de dinamite. Sabia que qualquer descuido seria o fim. Não sobraria nada de seu corpo, nem um misero fóssil para ser estudado pelo homem do devir.

O ambiente assustadoramente instável não parecia exercer qualquer influência no homem destemido. Seu espírito indômito e sua bravura original encontravam-se em absoluta efervescência. Cada célula de seu corpo tilintando de alegria. Vingança era a palavra da vez, realização era o sentimento experimentado.

Lágrimas febris escorriam dos olhos do Prefeito e desciam até encontrar a boca torta de dor. Aquilo não era um jogo de pôquer e, para piorar, o bastardo não tinha o naipe de alguém que fosse blefar.  A vida se esvaia lentamente e, pela primeira vez em toda a sua vida, o homem com cara de rapina não sabia o que fazer.

Sem cerimônia, o Apache levantou-se e encarou os desgraçados do maldito lugar. Fitou um por um, viu o medo onde antes havia o ódio. Enxergou a fraqueza, o receio, o temor em pessoas que só conheciam a força, a confiança, a tal superioridade racial. Conferiu com o olho solitário as bananas que cinturavam o seu dorso. Apostou na estupidez e jogou a moeda. Gritou verdades em formas de insultos para todos os reféns. Xingou o estilo de vida cafajeste que levavam. Amaldiçoou as próximas gerações de imbecis e prometeu o fogo do inferno sem escapatórias. Debochou de todas as figuras: da covardia dos agentes da lei, da silhueta da pianista racista, da impotência do Xerife e da feiura da prostituta amarga. Jogou a isca e esperou o peixe. Olhou para o corvo ferido a sua frente e se deliciou com o desespero evidente. Cretinos não deixam de ser cretinos de uma hora para a outra…, ele refletiu quando escutou um estopim.

Antes de sentir o calor aprazível consumir sua alma imortal, sorriu de rara felicidade quando viu o primeiro projétil vindo ao seu encontro.

A vingança é um prato que se come escaldante! – o Apache gritava já montado em seu cavalo espiritual.

………………………………………..

Atualizado em 28 de maio de 2014.

30 comentários em “Bananas em Columbine (Rafael Sollberg)

  1. vitorts
    21 de maio de 2014
    Avatar de vitorts

    Muito bom! Ficou legalzão o uso desses personagens pitorescos. O enredo é simples, mas foi conduzido de maneira ótima. No mais, não tenho nada a dizer que os colegas já não tenham dito.

    Parabéns pelo texto.

  2. Marcellus
    21 de maio de 2014
    Avatar de Marcellus

    Gostei do conto. Apesar da falta de alguma revisão, da repetição de algumas palavras e expressões, foi uma boa história, com um final espetacular.

    Parabéns ao autor e boa sorte!

  3. Bia Machado
    18 de maio de 2014
    Avatar de Bia Machado

    Gostei! Imaginar tudo isso que foi descrito foi bem interessante, inusitado. Só acho que a última frase foi desnecessária, mas é só uma impressão que tive, que poderia ter terminado na frase anterior, rs. Parabéns!

  4. Leandro B.
    13 de maio de 2014
    Avatar de leandrobarreiros

    Outro ótimo conto.
    Fui carregado pela narrativa do início ao fim. Achei que o índio enfiaria a faca no olho do pai, mas isso seria bastante clichê.
    Gostei muito do final. Não tanto pela imagem do cavalo alado, mas pela forma como o apache deixou que os próprios homens decidissem seus destinos. Morreram como viveram, verdadeiros imbecis.
    A prostituta perneta foi para dar um toque de realidade ou foi para contrapor a visão apache do que é o western? Quero dizer, para os brancos era música divertida, índios malvados e burros, belas prostitutas e pistoleiros corajosos. Aqui se inverte tudo, talvez não tanto pela realidade, mas pela perspectiva de “antítese” do apache.
    Gostei bastante.

  5. Willians Marc
    9 de maio de 2014
    Avatar de Willians Marc

    Um ótimo conto, os colegas já destacaram todos os pontos negativos que eu notei tais como a verossimilhança e o modo pomposo de falar do Índio.

    Parabéns e boa sorte.

  6. Felipe Moreira
    9 de maio de 2014
    Avatar de Felipe Moreira

    Belíssimo final. Gostei principalmente dos diálogos, objetivos. Um dos melhores que li até agora.

    Parabéns pelo trabalho e boa sorte.

  7. Thata Pereira
    6 de maio de 2014
    Avatar de Thata Pereira

    Gostei do conto, principalmente do final. A única coisa que me deixou um pouco incomodada foram algumas palavras mais “rebuscadas” utilizadas para a fala do índio. Não me soou real, mas apenas isso. Adorei a prostituta! Citada! Um Cenário completamente diferente do que costumamos encontrar (quer dizer, na minha pouca experiência com o tema).

    Boa sorte!!

  8. Swylmar Ferreira
    4 de maio de 2014
    Avatar de Swylmar Ferreira

    Muito bom o conto! Parece um dos filmes de Quentin Tarantino que tanto gosto. O conto segue a sequência de inicio, meio e fim apropriados à escolha do autor com personagens marcantes, como o principal (Índio), seu sofrimento e desavenças com o pai(credo, que pai).
    Parabéns e boa sorte!
    PS – Adorei a prostituta perneta no saloon.

  9. Davi Mayer
    4 de maio de 2014
    Avatar de Davi Mayer

    Muito boa a historia. Pô, você me deixou indignado com o racismo contra o índio, que é o que mais sofreu nos continentes em que fora invadido. Se pensarmos sensatamente, o quão verdadeiro não foi a perseguição contra eles??

    Parabéns cara. Está entre os tops da minha lista. eheheh

  10. Sceadugenga
    3 de maio de 2014
    Avatar de Elodin

    Conto excelente!

    Muito bom de ler. Tem um ritmo bem interessante.

    Um dos favoritos.

    Parabéns.

  11. Isabella Andrade
    3 de maio de 2014
    Avatar de Isabella Andrade

    Bom, é notável seu cuidado para com a condução do texto, com a estrutura e bom uso da gramática, entretanto senti que a trama peca em relação a exatidão. Certamente a ideia do seu personagem não teria tanto êxito em um oeste selvagem, visto que seria facilmente abatido dentro de um ambiente assim, repleto de caubóis. Bom, ainda assim há de se ressaltar seu zelo para com o texto. Parabéns e boa sorte!

  12. Sérgio Ferrari
    3 de maio de 2014
    Avatar de Sérgio Ferrari

    Terminou onde tinha que terminar. Boa percepção. Gostei do conto. Divertido.

  13. Brian Oliveira Lancaster
    2 de maio de 2014
    Avatar de Victor O. de Faria

    O bom e velho humor! Ah, como faz falta. O texto é bem cadenciado e, com este começo de citações, quase dá para descobrir quem escreveu.

  14. mariasantino1
    30 de abril de 2014
    Avatar de mariasantino1

    Muito Bom! Um conto que você ler com gosto limpando os lábios com o dorso da mão.

    É ótimo ser conduzido para dentro do universo do personagem e sentir gana, torcer para que ele consiga o que quer. Adoro finais assim (Acho que já disse isso)

    Achei o personagem central (O Apache Bastardo), ele está bem edificado.

    Um dos melhores em minha humilde opinião. Boa sorte, inté 🙂

  15. Eduardo Selga
    30 de abril de 2014
    Avatar de Eduardo Selga

    Sem me referir a nenhum pseudônimo em particular nem a nenhuma obra aqui postada, alguns autores de contos possuem um estilo performático quanto à construção textual, chegando mesmo ao neobarroquismo neste item. Há quem aprecie esse trato com a palavra (eu, por exemplo), há quem ache cansativo.

    Este conto possui um caráter performático, mas não quanto à superfície textual, e sim quanto à montagem das cenas. Parece haver uma preocupação com o conto ser “visual”, com cenas tão impactantes quanto se vê em cinema e vídeo. Por isso a prostituta perneta, a pianista “monstruosa”, o ajudante mijão do xerife, o tamanho do bigode do xerife, o tamanho do nariz do prefeito. É, claramente, uma seleção de elementos com vistas a produzir uma espécie de show visual. Talvez mais simplesmente: um enredo-clipe, como existem os videoclipes.

    Não estou sugerindo que essa característica seja um defeito. Não é. Mesmo porque a intenção do autor de um conto, qualquer que seja sua escola estética, é produzir encantamento. Somos ou queremos ser bruxos, Além disso, a literatura na pós-modernidade em que vivemos é profundamente performática. Seja na palavra, seja na trama.

    O problema, com o qual me debato em minhas produções, é quando a tinta está demais. Ou seja, quando, fica evidenciada a intenção de performance. Falo especificamente da cena em que as mãos do apache e do prefeito ficam unidas pela facada. O simbolismo da cena é excelente (verso e reverso unidos pela violência), entretanto o cinematográfico da cena fica comprometido a partir do momento em que o indígena parece não sentir a dor, certamente lancinante, porque “acostumado com as chagas”. Não apenas não grita: sorri. Ou seja, Hollywood.

    Outro ponto importante é o perfeito domínio do indígena dos elementos que produzem coesão textual. Seria esterótipo escrever coisas do tipo “mim querer falar prefeito”, sem dúvida. Mas o extremo oposto, a linguagem escorreita, não confere com alguém que pertence a uma cultura completamente diferente da dos “homens brancos”. Na oração “- Apesar de tudo, você sempre foi um cara sensato, Pai.”, a locução preposicional “apesar de tudo” não caberia na boca de um apache que, conforme indica o texto, é profundamente arraigado à sua gente. Também não procede, na mesma oração, a gíria “cara”. Resumidamente, o perfil linguístico deveria ser outro.

    Proposital ou não, há um elemento contemporâneo num conto ambientado no século XIX: o terrorismo como instrumento de atuação política. Para o indígena pode ser uma questão pessoal, mas para o leitor se abre a possibilidade de uma leitura mais ampla. O que está em xeque não é apenas o ressentimento contra o pai: é também o embate de duas culturas diferentes, no qual uma se julga superior à outra, o que produz atitudes bélicas contra os elementos da outra cultura, como, por exemplo, arrancar o olho.

  16. Thiago Lopes
    29 de abril de 2014
    Avatar de Thiago Lopes

    O ponto forte, para mim, foi a caracterização das personagens.

  17. Rodrigo Arcadia
    29 de abril de 2014
    Avatar de Rodrigo Arcadia

    Gostei. arrumou um clima tenso no saloon. só não entendi bem o final.

    Abraço!

  18. Weslley Reis
    29 de abril de 2014
    Avatar de Weslley Reis

    Achei realmente criativo a proposta do conto e muito bem executada. Incrível o modo como o autor(a) conseguiu me inserir dentro do saloon atento a cada detalhe do que ocorria por lá.

    Toda a construção do personagem principal também deve ser ressalta.

    Meus parabéns.

  19. Ricardo Gondim
    29 de abril de 2014
    Avatar de Ricardo Gondim

    Gostei muito do texto. A inverossimilhança está na natureza de um concurso de “contos” cujo tema é “faroeste”. Sinônimo de bang-bang. De revólveres com tambores infinitos. De índios capazes de proezas com que os ninjas jamais sonharam.

  20. Thales Soares
    29 de abril de 2014
    Avatar de Thales Soares

    Gostei… uma história mergulhada em criatividade e muito bem narrada. Um indio terrorista num saloon do velho oeste combatendo o racismo? Muito legal e ao mesmo tempo moderno, pois mesmo se passando no século XIX, podemos trazer as lições e indagações do conto para o século XXI.

    Concordo com o Fabio Baptista no ponto da verossimilhança por ele citado. Afinal, o índio estava rodeado por homens armados, alguns estavam nas costas dele, totalmente fora do seu campo de visão. Não haveria dificuldade alguma para alguém aproximar-se sorrateiramente, ou simplesmente puxar o gatilho com o cano perto de sua nuca, explodindo seus miolos antes que ele pudesse explodir as dinamites.

    Quanto ao final… bom, eu estava extremamente ansioso e empolgado para saber o que ia acontecer linha após linha que eu lia no texto. Estava uma situação muito tensa de impasse. Percebi que eu estava chegando já ao encerramento da obra, e a situação ainda não se resolvera. Fiquei extremamente curioso para saber como tudo ia se desenrolar! Mas então… bom… foi um final bem comum. Na verdade eu nem entendi direito, ele morreu sem explodir as bombas? Eu estava esperando por algo mais espetacular, para fechar o conto com uma chave de ouro. Claro, não deixou a desejar… mas também não surpreendeu.

  21. Pétrya Bischoff
    28 de abril de 2014
    Avatar de Pétrya Bischoff

    Gostei da estória e narrativa. Foi uma leitura que fluiu rapidamente, ansiando pela próxima palavra. Achei que as últimas frases desapontaram pela maneira que foram contadas; talvez, não tenham acompanhado o ritmo do resto do texto. Mas no geral foi muito bom, gostei dos infortúnios do protagonista e da descrição do saloon. Parabéns e boa sorte.

  22. Fabio Baptista
    28 de abril de 2014
    Avatar de Fabio Baptista

    Gostei.

    No geral o texto é muito bem construído, a história muito bem narrada.
    Muitos pontos me chamaram a atenção e me agradaram. Alguns exemplos:

    – Seus olhos nunca haviam conhecido o chão e isso dizia muito sobre a ausência de um deles (Demorei um pouco pra entender, mas é muito boa)
    – dizia resumidamente como Deus odiava todos os nativos (a música)
    – O velho homem da lei tinha boa mira, o Índio precisava reconhecer (o cuspe do Xerife)
    – A parte em que a prostituta tenta sacar a arma e caí
    – enquanto o Apache acostumado com as chagas apenas sorriu

    Porém, encontrei também algumas coisas que me soaram estranhas e pequenos deslizes que poderiam ser eliminados numa revisão mais apurada:

    – Repetição de todo/toda e velho/velha
    – cor de escarlate
    – silverados / embolatado
    – revolveres / liquido / individuo / espírito (acentos)
    – Eu lá sei que é o seu pai (quem?)
    – pincenê (ok, vi o que é no Google, mas deu uma travada na leitura)
    – escondido sobre a roupa (sob)
    – voltar a mesa / à contra gosto / cedeu a pressão (crases)
    – pelo homem do devir (porvir?)
    – calor aprazível consumir sua alma imortal (consumir a alma?)

    A história não tem muita novidade. Conforme já mencionado, lembra um pouco Kill Bill e os filmes do Tarantino em geral (que por sinal eu gosto muito! :D). Mas sem problemas quanto a isso. Na minha opinião vale muito mais uma história simples e bem contada do que uma cheia de “invenções de moda” que ninguém entende nada.

    A única questão que me desagradou mesmo foi um fato que (na minha opinião) feriu a verossimilhança.

    Meu… seria muito simples alguém dar um teco na cabeça do índio e já era. O Xerife estava perto com os seus “capangas”… sei lá. Acho que na hora que prendeu a mão com a faca o pessoal já teria fuzilado ele, agarrado… alguma coisa que não envolvesse explodir a dinamite e f* todo mundo kkkkkkk

    Sei que isso pode soar extremamente chato da minha parte, mas foi o que senti ao ler e estou dando a minha opinião sincera (com embasamento quase nulo) assim como fiz em todos os outros textos.

    No entanto, mesmo assim o conto continua brilhando.

    Abraço!

    • Bud Spencer
      28 de abril de 2014
      Avatar de Bud Spencer

      Caro Fábio, você tem toda a razão em dizer que faltou uma revisão, pois realmente faltou. Quando li publicado, fiquei muito chateado, e olha que você nem falou do “adentram” quando eu queria dizer “adentraram”. É a primeira vez que escrevo um texto fora do computador e sei que isso não é desculpa. Obviamente quis dizer embolotado, quanto ao Silverado, foi proposital e sabia que geraria problemas, foi um pretensioso neologismo. Mantenho o Devir em homenagem a Zaratustra.
      Em relação ao aspecto da verossimilhança… não sei como você consegue gostar do Tarantino,! rs
      Falando sério, obrigado sinceramente pelas correções e pela opinião. É realmente ótimo poder receber esse retorno.
      Abraço

      • Fabio Baptista
        3 de maio de 2014
        Avatar de Fabio Baptista

        Olá, Bud Spencer!

        Fiquei pensando na questão sobre gostar de Tarantino.

        Constatei que minha suspensão de realidade para o cinema é muito maior que nos contos. Lembrei de vários filmes em que inclusive cheguei a chamar meus amigos de chatos por ficarem implicando com coisas do tipo balas que não acabam, explosões que matam todo mundo exceto o herói, etc.

        Costumo falar – “ah, assiste o filme aí e para de ser chato!” kkkkkk

        Mas quando estou lendo, o chato sou eu! Minha cobrança por verossimilhança é muito maior. É esquisito.

        Mas aqui vale uma retratação. Acho que essa frase justifica um pouco a questão de ninguém ter atirado:

        “- Ninguém vai atirar – gritou o Prefeito sem tirar os olhos de sua semente bastarda. – Vocês escutaram seus imbecis, abaixem as armas.”

        Acho que eu teria forçado um pouco mais “mantenham seus dedos longe desses malditos gatilhos ou eu vou arrancá-los e misturá-los na lavagem dos porcos, seus sacos de estrume imprestáveis”, ou algo do tipo. 😀

        Mas, ok… talvez eu só deveria ler a história e parar de ser chato! kkkkk

        Abraço!

      • Bud Spencer
        3 de maio de 2014
        Avatar de Bud Spencer

        auahuhauhahuha! Perfeito Fábio! Você não é chato, suas impressões foram pertinentes. Sua frase para o Prefeito ficou muito melhor que a minha!
        Abraços

  23. Claudia Roberta Angst
    28 de abril de 2014
    Avatar de Claudia Roberta Angst

    Ai que aflição com a história do olho…rs. Narrativa muito bem construída, provocando no leitor sensações diversas. Os personagens bem distribuídos e caracterizados – a prostituta perneta, por exemplo. Tudo bem amarrado, sem pontas soltas. O final com o cavalo espiritual, achei poético. Conto para ser bem apreciado. Boa sorte!

  24. rubemcabral
    28 de abril de 2014
    Avatar de rubemcabral

    Hahahaha, um conto meio Tarantino, o mote lembrou-me Kill Bill. Boas as sacadas da prostituta perneta, da pianista obesa e tudo mais. Muito louco e divertido!

    • Thales Soares
      28 de abril de 2014
      Avatar de Thales Soares

      Nossa!! Fiquei com muuita vontade de ler o conto ao ver seu comentário! Sério, sou apaixonado por Kill Bill, e fiquei empolgado com os elementos por você citados!

      Só vou ter tempo pra ler sossegado hoje a noite, mas já estou com altas expectativas 🙂

  25. Anorkinda Neide
    27 de abril de 2014
    Avatar de Anorkinda Neide

    Escaldante! Uau!
    Queria separar algum trecho particularmente bonito, mas na realidade, todo o conto seria citado aqui… Inclusive os trechos sangrentos, que causariam náusea, foram lidos com ávido prazer por esta leitora!

    Parabens!
    o melhor até agora 😉

  26. JC Lemos
    27 de abril de 2014
    Avatar de JC Lemos

    Que final, cara!
    Sério, esse é o meu favorito! A história, a narração, tudo no conto se mesclou de forma perfeita!

    Não tenho muito o que dizer, só que foi o melhor para mim até o momento. Acho que conheço essa escrita, mas não tenho certeza.

    Parabéns pelo belo texto e boa sorte!

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Publicado às 28 de maio de 2014 por em Faroeste e marcado .