EntreContos

Detox Literário.

Uma História de Vingança (Davi Mayer)

I

Três pistoleiros em seus cavalos cruzavam o deserto Mojave. Dois iam à frente e o terceiro na retaguarda, a uns dez metros de distancia. O sol do meio dia castigava aquela terra e o vento seco fustigava suas vestes.

Os dois primeiros conversavam tranquilamente. Um mascando tabaco e o outro fumando um cigarro de palha, meio apagado meio aceso, pendendo dos lábios rachados.

– Não acredito que o prefeito e o novo xerife também contrataram essezinho ai atrás. – falou o que mascava tabaco apontando com o polegar para o que cavalgava mais afastado.

– Jonny Bravo é o melhor atirador das montanhas Whipple. Nada mais justo. – ponderou o outro.

– Eles desperdiçaram dinheiro, isso sim. – cuspiu um pedaço de tabaco amarelo entre os dentes. – com que intenção contratar três pistoleiros bons de mira para pegar apenas um? Mesmo que esse seja Wyatt Earp! Não tem sentindo nisso Masterson. Eu assegurei ao prefeito que uma bala atravessaria os miolos do cão. Mas ele me ouviu? Claro que não.

– Wyatt Earp já foi xerife. E dos bons. Não é qualquer um que pode contra ele. E segurança nunca é demais Clanton.

Clanton cerra as espessas sobrancelhas sobre os olhos cintilantes de raiva, não satisfeito. Ajeita o Colt na cintura e endireita o chapéu, se concentrando nos cascos do cavalo abaixo de si.

Masterson olhou sobre os ombros para o companheiro que seguia mais atrás. O silencio e uma mortal solenidade envolvia aquele homem vestido de negro, com duas colt’s na cintura a reluzir diante da luz do sol.

II

– Vamos acampar! – gritou de forma descontente Clanton, e sem esperar resposta desceu do cavalo e esticou as pernas.

– Estamos perto. – falou Masterson com voz embargada de marasmo. – podemos encontrá-lo ainda hoje e terminar nossa caçada.

– Não quero pegá-lo na escuridão. Quero duelar com ele. Quero que o cão possa me ver enquanto estouro seus miolos.

– Tem tanto desejo assim de enfrentá-lo, Clanton? – riu o companheiro descendo do cavalo. – não achei que guardasse qualquer magoa de Wyatt.

– Não tem nada haver com aquele maldito jogo de poker que eu perdi para aquele cão. – se afastou sem qualquer outra palavra.

Jonny Bravo se aproximou de forma sorrateira. Suas roupas se misturando com a noite. Amarrou o cavalo num galho de arbusto e sentou numa pedra, observando Masterson juntar alguns gravetos para fazer uma fogueira.

Depois de algum tempo, Masterson sentiu os olhos do misterioso homem sobre si e resmungou.

– Seria bom se você me ajudasse aqui na fogueira. – se dirigiu ao homem de cabeça baixa, com o chapéu preto a cobrir-lhe o rosto.

Quando Masterson voltou para pegar mais um galho, escutou o disparo e o calor do projétil perto da perna. Levou um susto e caiu de bunda no chão.

Viu a fogueira acesa no lugar onde juntara as madeiras, e Jonny Bravo guardando sua arma no coldre.

– Está ai sua ajuda. – ele sussurrou sem levantar a cabeça.

– Que desgraça é essa. – correu Clanton de arma em punho, sem chapéu e com o rosto pálido. Ele apontou o colt para Jonny, que permaneceu impassível. – o que você fez seu merdinha?

– Apenas ajudei na fogueira. – Riu Jonny se levantando e alisando as armas com os dedos brancos. – algum problema?

– Ora, seu desgraçado, claro que tem problema. Estamos numa caçada, lembra? Com esse tiro você alertou Wyatt de nossa presença.

– Não importa, Clanton. Ele já sabe que estamos aqui.

Masterson e Clanton ficaram mudos por um momento e se entreolharam incrédulos. Observaram o deserto ao redor sem nada encontrar.

– Como você sabe? – gaguejou Clanton.

– Vi o brilho de sua arma ao longe.

– Como isso é possível? Você é um louco por acaso? Não estou aqui para brincadeira Bravo. – apontou o cano da arma para o homem vestido de negro.

Ele sorriu.

– Não se preocupe. Ele não virá agora. O conheço bem. No raiar do dia ele aparecerá como um homem, e não como um cão, que é o que você pensa dele.

– Como pode ter tanta certeza?

– Somos parecidos. –Jonny sentou numa tora de madeira de frente ao fogo e mergulhou na quietude.

Clanton encarou Masterson com ar de interrogação. Este levantou os ombros e as mãos também sem entender.

III

– Wyatt já era um famoso xerife quando conheceu Black Bird, uma espécie de xaman indígena da tribo Siox. – disse Masterson de frente à fogueira. – Ele rondava a região e quando pisava o pé numa cidade, crianças desapareciam misteriosamente. Os mais velhos diziam que só em ver sua presença o tempo esfriava como uma noite de inverno. O velho índio não era de brincadeira. Diziam que ele praticava magia com as crianças que capturava. Ninguém nunca provou nada.

Masterson parou de falar ao escutar o rastejar de uma serpente. Jonny Bravo sorriu jocoso para o companheiro.

– Não se preocupe. Essas serpentes tem medo do fogo.

Masterson se encabulou, mas logo retomou a narrativa.

– Black Bird se envolvia com homens de alto escalão. Como o prefeito da cidade e outros. Com que intenção? Ninguém sabia. Mas todos sabiam da influencia e da aura de maldade que o velho índio trazia para onde quer que seus pés o levassem.

“E um dia ele mexeu com a pessoa errada. Os filhos de Wyatt desapareceram sem deixar vestígios. Ele ficou louco. Em seu interior sabia que tinha sido o velho Black Bird. Por esses tempos o índio se instalara na fazenda de um homem poderoso. Armado apenas com sua Colt 45 Wyatt invadiu a propriedade do tal fazendeiro e assassinou todos os capangas dele, inclusive o seu filho. O maldito Siox conseguiu escapar, mas antes deixou uma mensagem.

Os filhos de Wyatt com as gargantas cortadas em um ritual espírita inacabado.

Desde então Wyatt vive seu dilema. Vive seu pesadelo. Abandonou a mulher, que voltou para a cidade grande, e partiu em caça do índio.”

– E é por isso que estamos aqui. – falou Jonny se deitando com o antebraço na nuca e olhando as estrelas.

– Devo dizer que ele sofreu um bocado, hein? – cacarejou Clanton. – bem que o cão merece.

– Você fala isso por que perdeu uma grande quantia de dinheiro para ele.

– Claro que não. Mas gosto de saber que amanha vou me encontrar com o desgraçado e provar de uma vez por todas quem é o gatilho mais rápido do oeste.

– Boa sorte. – retrucou Masterson puxando o cobertor para si.

IV

Masterson sentiu frio e logo o desespero o fez despertar. Prendeu o cinto com as duas armas e pôs o chapéu. O vento frio trazia uma tênue poeira, e galhos entrelaçados se embolavam no chão árido do deserto.

Clanton já estava desperto, as mãos nas duas armas. Inquieto, olhava o horizonte. Jonny estava a alguns passos de distancia, com as mãos nas costas, exibindo as duas colt’s prateadas. Os dois olhavam para a mesma direção. Masterson seguiu o olhar deles e viu um homem montado a cavalo se aproximando.

Estancou no mesmo momento e instintivamente pôs a mão na sua arma, quente e segura ao seu lado.

O homem desceu do cavalo e o deixou pastando livre. Caminhou até eles com passos decididos. Um sobretudo velho cobria seu corpo, e um chapéu de couro ocultava-lhe os olhos. Aproximou-se o suficiente para ser ouvido. Levantou os olhos castanhos para os três pistoleiros. Era um homem na casa dos trinta e cinco anos, bigode longo e sujo, roupa simples de viajante. Desabotoou os botões do sobretudo e mostrou as duas colt’s ladeadas na cintura.

Clanton tomou a frente. Serio e com olhos gélidos.

– Por um acaso é o senhor Wyatt Earp? – perguntou, cuspindo um pedaço de tabaco.

O homem retribuiu o olhar gélido e observou que todos eles estavam armados.

– Sim. Quem gostaria de saber?

– Eu sou Clanton, e estes são Masterson e Jonny Bravo.

Wyatt demonstrou que não os reconhecia. Respirou profundamente, resignado, as mãos na lateral das armas.

– E o que querem, senhores? – perguntou Wyatt calmamente.

Ninguém respondeu. Clanton deixou que a pergunta se perdesse no uivo do vento e no frio daquela manhã. Olhou fixamente para os olhos da sua caça, sem desviar, sem piscar.

Wyatt sacou sua arma.

Dois disparos, depois três. Quatro. O silencio fora quebrado repentinamente. Wyatt se jogou atrás de uma grande pedra. Clanton jazia morto com um tiro na testa, sua arma nem tinha sido disparada. Masterson estava ferido no ombro, caído no chão. Sua arma a dois passos dele.

– Wyatt. – gritou Jonny. – venha me enfrentar como homem.

Wyatt ofegava. Do ferimento do braço escorria sangue que molhava seus dedos e a arma que empunhava. Como homem ele se levantou. Fechou os dentes com força, para aguentar a dor que adormecia lentamente a sua mão e ficou de frente para Jonny, que o aguardava com um sorriso.

Jonny jogou o seu chapéu preto para o alto e sorriu com jovialidade.

– Lembro de você… – murmurou Wyatt entre os dentes. – o filho pistoleiro do prefeito.

– Isso mesmo. Sinto muito pelos seus filhos, mas você não entenderia o propósito das mortes deles. O velho Siox ainda serve ao meu pai e o queremos com vida. Por isso você tem que morrer.

Wyatt o contemplou com ódio.

– Já ouvi falar das suas habilidades com os revolveres. – Wyatt enxugou o suor da testa com as costas da mão. – vai para casa moleque. Não quero ter a morte de mais um jovem nas mãos.

Jonny sorriu mostrando seus dentes brancos.

– Você não está me levando a serio, não é? Posso provar que sou mais rápido que vo…

Dois disparos.

Wyatt caiu de frente, com o ombro ferido. Deixou a arma cair. Gemeu de dor, mas se pôs de joelhos. Jonny estava caído de braços e pernas abertas, sem vida, com um sorriso tosco nos lábios.

O ex-xerife se levantou se dobrando em dor e se aproximou de Masterson, que permanecia caído no chão e ferido no peito. Sua pele já pálida pelo sangue que encharcava o solo.

– Wyatt… – sussurrou Masterson tossindo de dor e sangue.

Wyatt observou o ferimento e constatou que perfurou o pulmão. Questão de minutos ou horas para que o pistoleiro morresse. Ele se agachou diante dele.

– Voc… Você merece sua vingança. – com os dedos trêmulos Masterson retirou um papel do bolso interno da sua jaqueta de couro e tentou entregar-lhe, mas sua mão paralisou no ar e caiu no peito.

Wyatt pegou o papel com ar indagador e olhou para o moribundo.

– A localização exata de Black Bird. – falou ele. Sangue escorria do canto da boca em golfadas.

O ex-xerife fechou os dedos no papel com determinação e deu um sorriso consternado. Em seguida, caiu inconsciente no chão.

V

Wyatt abriu os olhos lentamente e viu uma fogueira e o céu negro com centenas de estrelas. Olhou para o ferimento no braço e ombro enfaixados e tentou se levantar, quando uma mão feminina espalmou no peito nu. Ele olhou para aquela mão e para os olhos negros e firmes da jovem índia o empurrava de volta para se deitar. Assim ele o fez.

– Quem é você?

– Meu nome é Magena. – ela riu de forma gentil e pegou uma cumbuca feita de barro com um liquido amarelo. – beba.

O homem branco bebeu lentamente e tossiu fazendo careta.

– É amargo e quente.

Magena sorriu.

– Vai fazer você ficar melhor.

– Obrigado Magena. A propósito, meu nome é Wyatt.

Ela pegou uma folha verde e passou no peito e pescoço dele.

– O seu amigo ainda está vivo.

– Meu ami…? – Wyatt olhou para o lado e viu Masterson deitado de bruços num cobertor feito de pele de búfalo.

– Com muito esforço consegui estancar a hemorragia. Agora ele está tentando superar a febre. Só depende dele agora.

Wyatt o encarou por um momento e pegou o papel que Masterson havia lhe entregado. Ainda escutava os tiros do duelo ecoando na mente. Escutou um gemido.

Masterson acordou e olhou de relance para o ex-xerife.

– Ainda vivo? – sorriu Wyatt animador.

– Sim. Os tiros atravessaram meu corpo. Vou sobreviver…

Um silencio desconfortável se abateu sobre eles.

– Obrigado pela dica, Masterson seu nome, não é?

– Sim.

Wyatt ficou em silencio e adormeceu.

No dia seguinte acordou bem mais disposto. Levantou-se e já não sentia tantas dores. Alongou os braços e o pescoço. Masterson estava de pé, encostado numa pedra.

Wyatt se aproximou com passos incertos.

Eles observavam a mulher ao longe, enquanto ela pegava algumas raízes e plantas no solo. Era de uma beleza exótica. Cabelos longos e negros amarrados em tranças, e vestia couro curtido que delineava seu corpo pardo. Ela levantou os olhos e sorriu, o que a fez parecer mais bonita naquela manhã. Ela se aproximou deles.

– Bom dia.

– Bom dia. – respondeu os dois.

– Estão se sentido melhor?

– Sim. – respondeu Wyatt. – e graças a você.

– Também estou me sentindo melhor. Achei que levaria dias para me recuperar. – falou Masterson com um sorriso encabulado.

Ela sorriu

– Minha mãe ensinou aquilo que eu sei, e ela era a melhor curandeira da tribo. É uma questão de mente e espírito, não de corpo.

– Acredito nisso. – falou Wyatt serio.

– Você precisa ir, não é? – falou ela compreensiva olhando para o ex-xerife.

– Sim.

– Entendo sua dor e sua raiva. Mas espere até amanha, por favor, pois gostaria de fazer uma prece aos espíritos pelas suas vidas.

Masterson e Wyatt se entreolharam um pouco confusos, mas aceitaram a oferta.

Quando enfim a noite chegou, a mulher jogou um pó na fogueira, que a fez cintilar como um arco-íris. As labaredas de fogo pareciam dançar. Sombras se formavam ao redor dos três, enquanto os dois homens contemplavam a mulher.

Magena soltou os cabelos lisos a cair como uma cascata negra, e cantarolou uma musica antiga na língua Siox. Os olhos de Masterson e Wyatt estavam petrificados ante a canção e a dança da mulher.

Em seguida ela segurou a mão dos dois homens, parecendo fazer uma conexão entre eles, e proferiu solenemente a sua oração, enquanto eles fechavam os olhos:

“Óh! Grande Espírito cuja voz ouço nos ventos, cujo hálito dá vida ao mundo, ouça-me.

Sou pequeno e fraco, preciso de tua força e de tua sabedoria, faça com que meus pés andem em beleza, e que minhas mãos protejam as coisas que fizestes.

Faça-me sábio para que eu possa aprender as lições que escondestes em cada folha e em cada pedra.

Faças com que eu esteja sempre pronto a te encontrar, olhando nos olhos.

Para que quando a minha vida se for, assim como o sol se põem, meu espírito não tenha vergonha de fazê-lo.”

Wyatt e Masterson abriram os olhos. Mas não pareceram ser mais os mesmos. Algo os unia muito mais que o sangue.

VI

Wyatt subia a montanha com determinação. A montanha possuía um caminho estreito e com pedregulhos. Tinha medo de perder tempo, de que Black Bird fugisse novamente de suas mãos. E isso ele não podia permitir.

Encontrou a caverna que procurava. Adentrou sem medo. Sacou a arma e se arrastou com as costas coladas na parede. Bufava. Deixou seu chapéu cair no chão. Não se importou. Chegou até um espaço amplo e oval, e um homem agachado parecia trabalhar sem se importar com a presença dele.

O homem usava um cocar de penas negras que se enfileiravam até o fim das costas. Era pequeno, mas de corpo musculoso e compacto. Pardo, suado, mexia as mãos com pericia enquanto dissecava um corpo humano que jazia inerte. Os braços e pernas largados, e ele a cortar o seu ventre com uma faca de pedra.

– Black Bird! – gritou Wyatt num esgar de ódio. – vire-se e encare sua morte! Pois eu sou a lei e isso acaba aqui.

O velho índio parou de trabalhar com as mãos, e um silencio se apoderou do recinto. Black Bird se levantou lentamente, com as costas curvadas, e se virou com um sorriso hediondo formado por dentes amarelos e pontudos. Seus olhos cinzentos e inteligentes pareciam zombar de Wyatt.

– Quem é você? – perguntou Black Bird num sotaque Siox carregado. – não sabe que é perigoso invadir o meu domínio?

– Olhe bem para mim! – vociferou o ex-xerife a plenos pulmões. – quero que saiba quem está te mandando para o outro mundo!

– O outro mundo, jovem criança? – riu o índio. – o que sabe você do outro mundo? Eu vou e volto de lá quando bem entender. Os espíritos estão do meu lado. O espírito de todos aqueles de quem matei.

Wyatt apontou a colt 45 para o índio.

– Você é um louco.

– Um louco? Sou eu por um acaso que estou escutando vozes? – ele sorriu. E seus dentes pareceram navalhas.

Pai… Você veio me salvar?

Pai. Por favor, me ajude! Ele está cortando minha garganta… Tenho tanto medo!

– Filha… Seu pai está aqui. Eu nunca vou te abandonar.

– Abandonar? – sibilou Black Bird com um sorriso malévolo. – deixou que elas morressem. Agora elas me pertencem.

Pai. Cadê mamãe?

Wyatt se distraiu e disparou.

A bala acertou a parede, Black Bird se agachou e correu por uma passagem lateral.

– Você não vai fugir maldito!

– Não vou fugir. Hoje você morre! – gritou de volta Black Bird.

Wyatt correu tropeçando nas próprias pernas. Chegou à saída do outro lado da montanha, e uma floresta de galhos secos o esperava. Ainda vislumbrou Black Bird fugir entre os galhos. Wyatt deu mais um tiro e o índio caiu no chão num baque seco.

Wyatt sorriu de triunfo e se aproximou do corpo no chão. Agachou-se e o virou de barriga para cima.

Viu sua filha sorrindo e desfigurada com vários talhos no rosto.

– Pai, o que está acontecendo?

Wyatt se assustou e caiu para trás.    Ele sentiu uma lamina cortar-lhe a perna. Ele se jogou para o lado e efetuou vários disparos, até sua arma descarregar.

– Sua arma acabou! – Wyatt ouviu de algum lugar da floresta.

Wyatt levou outro corte na perna, e caiu como um trapo no chão. Embolou-se e sacou a outra arma, apontando em todas as direções. Mas não o encontrava. Apenas uma mancha parda a correr rapidamente ao seu redor, e as gargalhadas sinistras. Sentiu um novo corte no braço, jogou suas costas contra uma arvore seca e lutou para permanecer de pé.

Uma machadinha foi jogada e fincou em sua coxa. Wyatt deu um grito de dor e o viu de frente, as penas negras emoldurando o rosto maligno e desejoso de sangue. Os dentes afiados numa gargalhada de morte.

– E então, homem branco. O que é ter o que mais ama tirado de você? O que me diz?

Wyatt trincou os dentes e retirou a machadinha, jogando-a no chão. Sem forças deixou-se cair, com as costas na arvore.

– Por quê? – sussurrou Wyatt. – por que matou minhas lindas filhinhas?

Black Bird relaxou a guarda. Ficou de pé. De forma espiritual, fez materializar outra machadinha na mão e a arremessou contra a mão que empunhava a arma, decepando três dedos. Wyatt urrou de dor, enquanto o índio sorria e se aproximava.

– Por que eu posso fazer. – disse Black Bird se agachando perto dele. – e pelo poder. Por que outro motivo acha que todos os homens brancos me querem vivo? Matar alguém? Dinheiro? Prazer? Eu posso dar tudo isso e muito mais. Mas tem um preço a pagar. Tem a minha sede por sangue puro a saciar. Mas não tem o porquê de perder meu tempo com um homem branco nojento como você. Chegou muito perto em me matar. Mas falhou desgraçadamente.

Black Bird materializou outra machadinha e desferiu contra a garganta de Wyatt.

Um corpo caiu no chão ao som de um disparo. Black Bird olhou para o peito e viu um buraco do qual saia um sangue escuro e molhava seu dorso.

Masterson disparou outra vez e acertou o ombro do índio, que caiu para trás com o impacto.

– Quem… Quem é você? – perguntou Black Bird com um chiado maligno saindo da garganta. – quem se atreve?

Masterson se postou diante do ferido índio e lhe apontou a arma na cabeça.

– Você não sabe com o que está se metendo. Não sabe que poderes eu escon…

BLAM! BLAM!

A ponta da arma soltou um pouco de fumaça. Masterson foi até Wyatt e o suspendeu pelos ombros. O ex-xerife sorriu para ele. Masterson o encarou serio e caminhou com ele para fora dali dizendo:

– Não quero perder um amigo.

***

No sopé da montanha, Magena estava coberta com uma espessa manta por causa do frio do entardecer. Seus cabelos soltos se debatiam livremente por causa do vento.

Ela viu os dois homens brancos descendo a montanha e sorriu, exibindo os dentes pontudos e amarelados.

– Uma moeda sempre tem dois lados. – ela sussurrou para si.

25 comentários em “Uma História de Vingança (Davi Mayer)

  1. Tom Lima
    24 de maio de 2014
    Avatar de Tom Lima

    Eles estão numa caçada, um deles fica bravo com o som do tiro, mas iam acender uma fogueira? Não faz sentido, a luz do fogo atrairia mais atenção que o som do disparo.

    Além disso a parte fantástica ficou um tanto inverossímil.

    Isso e os diálogos, os pontos que mais me incomodaram.

    Tem um bom material, a trama é interessante, mas faltou algo.

    Boa sorte!

  2. vitorts
    24 de maio de 2014
    Avatar de vitorts

    Como disseram, carece de uma revisão e uma encorpada nos diálogos. Por outro lado, achei interessante o enredo! E, sim, como uma criança dos anos 90, não teve como não imaginar o loiro topetudo Jonny Bravo no seu texto.

  3. Bia Machado
    24 de maio de 2014
    Avatar de Bia Machado

    Achei interessante, apesar de algumas passagens terem me incomodado um pouco, não me fazendo comprar a história de todo. Precisa de uma revisão também.

  4. Thata Pereira
    22 de maio de 2014
    Avatar de Thata Pereira

    Eu gostei da história, mas não da execução. Vi que já comentaram sobre os acentos, mas o que me deixou muito incomodada ao ler foi que o(a) autor(a) usa muito “se” antes de verbos (não recordo como chamamos o “se” nestes casos). Em alguns momentos ele poderia ser evitado. Comecei a reparar nisso quando li esta frase “O ex-xerife se levantou se dobrando em dor e se aproximou de Masterson, (…)”.

    Na parte que a índia aparece, estranhei muito ela ter usado o termo “hemorragia”.

    Boa sorte!!

  5. Srgio Ferrari
    22 de maio de 2014
    Avatar de Srgio Ferrari

    Jonny Bravo, ao decidir por esse nome vc ditou um tom na minha cabeça que tornou tudo horroroso. Erro primário e bobo. Vc é livre pra colocar o nome que quiser, lógico. Mas o preço é cobrado individualmente. Por Jonny Bravo e por diálogos como: “o que você fez seu merdinha?” , eu não compro essa história. 6/10

  6. rubemcabral
    22 de maio de 2014
    Avatar de rubemcabral

    Interessante a história envolvendo feitiçaria e vingança, mas o conto precisa de uma boa revisão e os diálogos estão ruins.

    A mescla de personagens reais e fictícios, no entanto, resultou curiosa.

  7. Ricardo Gondim
    19 de maio de 2014
    Avatar de Ricardo Gondim

    Toda história que misture fato e ficção tem o meu interesse. Bem narrada, minha simpatia. Com um índio chamado Black Bird capaz de “materializar” machadinhas então, nem se fala.

  8. Felipe Moreira
    18 de maio de 2014
    Avatar de Felipe Moreira

    Muito bem escrito. A narrativa evolui delicadamente.

    Parabéns e boa sorte no desafio, Wyatt.

  9. Leandro B.
    17 de maio de 2014
    Avatar de leandrobarreiros

    Não gostei da história, embora tenha achado a narrativa bem competente. O que mais me desagradou no conto foi o excesso de coincidências convenientes que fazem a história se desenvolver…
    De um modo geral, aqui estão apontadas as partes que não gostei muito e que talvez mereçam alguma revisão (ou não):
    Masterson é o único que sobrevive ao duelo (tempo o bastante para mostrar o bilhete para Earp); por um acaso, sabe a localização do indígena (como?!); os dois sobrevivem graças a uma personagem que aparece apenas para salvá-los (ainda que ela fosse um contraponto a BlackBird)… Masterson aparece no último minuto e salva a vida de Earp que, aliás, poderia ter sido degolado a qualquer outro instante pelo blackbird.
    Uma passagem que não entendi muito bem foi o encontro de Earp com os três pistoleiros:
    “- Por um acaso é o senhor Wyatt Earp? – perguntou, cuspindo um pedaço de tabaco.
    O homem retribuiu o olhar gélido e observou que todos eles estavam armados.
    – Sim. Quem gostaria de saber?
    – Eu sou Clanton, e estes são Masterson e Jonny Bravo.”
    Estranhei não apenas que o ex-xerife não tenha reconhecido Clanton (o que seria compreensível), mas que Clanton, aparentemente marcado por uma derrota no jogo de pôquer, estivesse inseguro quanto a identidade do homem.
    Tendo destacado esses pontos, acho válido ressaltar que gostei bastante da narrativa do autor. Ainda que tenha ficado incomodado com o que apontei, não achei o ritmo narrativo nem um pouco cansativo.

  10. Leandro B.
    17 de maio de 2014
    Avatar de Leandro B.

    Não gostei da história, embora tenha achado a narrativa bem competente. O que mais me desagradou no conto foi o excesso de coincidências convenientes que fazem a história se desenvolver…

    De um modo geral, aqui estão apontadas as partes que não gostei muito e que talvez mereçam alguma revisão (ou não):

    Masterson é o único que sobrevive ao duelo (tempo o bastante para mostrar o bilhete para Earp); por um acaso, sabe a localização do indígena (como?!); os dois sobrevivem graças a uma personagem que aparece apenas para salvá-los (ainda que ela fosse um contraponto a BlackBird)… Masterson aparece no último minuto e salva a vida de Earp que, aliás, poderia ter sido degolado a qualquer outro instante pelo blackbird.

    Uma passagem que não entendi muito bem foi o encontro de Earp com os três pistoleiros:
    “- Por um acaso é o senhor Wyatt Earp? – perguntou, cuspindo um pedaço de tabaco.

    O homem retribuiu o olhar gélido e observou que todos eles estavam armados.

    – Sim. Quem gostaria de saber?

    – Eu sou Clanton, e estes são Masterson e Jonny Bravo.”

    Estranhei não apenas que o ex-xerife não tenha reconhecido Clanton (o que seria compreensível), mas que Clanton, aparentemente marcado por uma derrota no jogo de pôquer, estivesse inseguro quanto a identidade do homem.

    Tendo destacado esses pontos, acho válido ressaltar que gostei bastante da narrativa do autor. Ainda que tenha ficado incomodado com o que apontei, não achei o ritmo narrativo nem um pouco cansativo.

  11. Brian Oliveira Lancaster
    16 de maio de 2014
    Avatar de Victor O. de Faria

    Algo me lembrou aquele índio-punk do Killer Intinct; bons tempos de Snes. Boa habilidade em focar em um evento e expandí-lo. Não me conquistou por completo, mas é um belo enredo fantástico.

  12. Forasteiro
    16 de maio de 2014
    Avatar de Desconhecido

    Bueno, a narrativa é boa. A ideia do conto está “no caminho” – pode-se desenvolver melhor-, mas algo não fluiu. Talvez o Jonny Bravo logo de cara tenha me feito visualizar um cenário de desenho animado, um deserto como o do Coiote e Papaléguas, com um loiro topetudo no meio :/
    Boa sorte.

  13. Claudia Roberta Angst
    10 de maio de 2014
    Avatar de Desconhecido

    A tecla dos acentos não está funcionando? Minha filha gosta mais de inglês porque não tem acentos…rs.
    A ideia de mesclar personagens lendários da história do oeste americano no enredo criado foi bem interessante, mas merecia um desenvolvimento melhor. Algo se perdeu no meio do caminho e o leitor fica um tanto confuso. Os diálogos amenizam o cansaço com a longa narrativa. Revisão, precisão e atenção. No resto, vale a boa intenção. Boa sorte!

    • Thata Pereira
      22 de maio de 2014
      Avatar de Thata Pereira

      Aquele momento que você se dá conta que palavras em inglês não levam acentos o.O rsrs’

  14. Rodrigo Arcadia
    10 de maio de 2014
    Avatar de Desconhecido

    Bom, a narrativa boa e rapida leitura, a colocação de dialogos pra nao cansar a leitura. E como eu comentei, quem curte contos de vingança, com certeza irá gostar do texto.
    Abraço!

  15. Fabio Baptista
    8 de maio de 2014
    Avatar de Fabio Baptista

    Sobre a parte técnica…

    Os parágrafos curtos me incomodaram um pouco. Blocos de texto muito carregados não são bons e dispersam a leitura, mas aqui acredito que teve um exagero no sentido oposto.

    Há muitos problemas de acentuação ao longo do texto:

    – silencio (aliás… essa palavra se repete bastante)
    – magoa
    – amanha
    – distancia
    – Serio
    – revolveres
    – liquido
    – serio
    – musica
    – pericia
    – lamina
    – arvore

    E um erro bastante comum:
    – nada haver

    Dá pra entender o que o autor quis dizer aqui, mas dava pra ter criado uma imagem melhor:
    – Sua pele já pálida pelo sangue que encharcava o solo

    Alguns diálogos soaram pouco naturais. Exemplo:
    – Quem é você? Não sabe que é perigoso invadir o meu domínio?
    – Olhe bem para mim! Quero que saiba quem está te mandando para o outro mundo!

    Mas no geral, a escrita está boa.

    Sobre a história…

    Não me cativou. Achei o começo muito confuso (talvez eu não esteja num bom dia pra leitura, porque já é o segundo texto que me causa essa sensação). Depois a coisa engrena, mas não chega a empolgar. A luta final ganharia muito se tivesse uma solução mais criativa do que o amigo que chega pra salvar na última hora.

    Acredito que poderia separar um dos trechos da história pra narrar um ritual do índio, fazendo o leitor “pegar raiva” dele. Do jeito que foi colocado, não se sabe muito bem se é boato ou verdade (coincidentemente teve o caso da moça do Guarujá bem essa semana!). Daria mais dramaticidade à batalha.

    Abraço!

  16. Eduardo Selga
    7 de maio de 2014
    Avatar de Eduardo Selga

    Consertando o final do sexto parágrafo:

    pois a narrativa do texto é muito BEM feita.

  17. Swylmar Ferreira
    7 de maio de 2014
    Avatar de Swylmar Ferreira

    É um conto interessante, envolvendo personagens reais. O enredo segue o titulo e é legal, mas a narrativa na minha opinião é travada envolvendo muitas situações ao mesmo tempo. Creio que o autor tentou a mescla faroeste e terror, o que seria muito legal como aconteceu em outros contos, mas o efeito desejado talvez não tenha sido atingido.
    O conto tem um ritmo bom e está bem escrito, salvo os comentários já feitos.
    Boa Sorte!

  18. rsollberg
    7 de maio de 2014
    Avatar de rsollberg

    Realmente é uma história de vingança, o que já revela grande parte do que está por vir. Gostei dessa mistura de personagens reais. No início aconteceu uma pequena troca de tempo que me travou um pouquinho. A trama é interessante, a divisão também caiu bem. Alguns errinhos, fruto dos nossos olhos viciados. Encontrei um “nada haver”, que provavelmente passou despercebido na revisão.
    Mas o conto é bom.
    Parabéns e boa sorte no desafio.

  19. Eduardo Selga
    6 de maio de 2014
    Avatar de Eduardo Selga

    O(a) autor(a) fez uso de um recurso que, quando na medida certa, costuma trazer resultados muito bons: a inclusão de personagens que existiram na vida histórica, como Wyatt Earp, Masterson (Bat Masterson) e Clanton (Ike Clanton), figuras lendárias do Oeste americano. Introduziu também um personagem que possui o nome de outro, do desenho animado (Jhony Bravo). Confesso que quando li o nome do topetudo loiro imaginei que o(a) autor(a) fosse fazer uma mescla entre personagens humanos e de animação, que, suponho, deve dar um resultado ótimo no texto.

    Inclusive, é um dos personagens do conto (que existiu na vida real) quem o assina. Um recurso metalinguístico interessante.

    Mas, quanto à narrativa, os dois núcleos de ação, escolha complicadora para o bom desenvolvimento do enredo, não me parece ter funcionado bem. O personagem Clanton, por exemplo, é descartável; o mesmo se referindo ao Jhony Bravo. Causa a sensação de que foram inseridos apenas para criar logo de início um fator de tensionamento. Ambos os núcleos podem ser escritos como textos independentes.

    A indígena Magena, uma tentativa de ligar esses núcleos, só se explica se for uma entidade, pois surge do nada como “uma mão feminina” para curar os ferimentos. Sim, mas então seria um contraponto ao índio sioux, ele “do mal” e ela “do bem”? Deve ser, mas o que a move para ser esse contraponto? No final há uma informação enigmática provavelmente relativa a isso, cujo conteúdo simbólico dentro do enredo não consegui alcançar (“- Uma moeda sempre tem dois lados. – ela sussurrou para si”).

    A imagem do sioux Black Bird está estereotipada e, pior, demonizada. Isso repete o discurso usado pelo “homem branco” para trucidar os nativos norte-americanos. É certo que a religião das tribos indígenas era animista, mas satanizar esse procedimento não me parece razoável. Sim, texto ficcional é uma coisa, realidade é outra, mas e quando o discurso de um reforça o do outro? Veja-se o trecho seguinte: “[…] e o viu de frente, as penas negras emoldurando o rosto maligno e desejoso de sangue. Os dentes afiados numa gargalhada de morte”.

    Magena, contudo, quebra isso, de certa maneira. No conto, inclusive, ela pronuncia uma oração atribuída aos sioux. Temos, então, um conto que trata da velha briga bem versus mal? Parece-me que sim, mas esse maniqueísmo poderia ter sido ultrapassado, pois a narrativa do texto é muito feita.

    Algumas questões gramaticais.

    Há muitos casos de vocativo sem vírgula, como em “E segurança nunca é demais Clanton” (entre DEMAIS e CLANTON há uma vírgula).

    Pronome oblíquo usado fora de posição, como em “Ele não virá agora. O conheço bem” (CONHEÇO-O).

    POR QUE em lugar de PORQUE: “Você fala isso por que perdeu uma grande quantia de dinheiro para ele”.

  20. JC Lemos
    5 de maio de 2014
    Avatar de JC Lemos

    Gostei. A história se desenrolou suavemente, nem percebi que já tinha acabado. Os personagens ficaram muito bem definidos e achei o texto bem escrito, sem nada que me atrapalhasse durante o trajeto.
    Também não achei que o diálogo do índio e do pistoleiro ficou bom, mas estou levado em consideração o restante do texto, que teve um nível superior.

    Esse índio jogando machadinhas que se materializavam do nada me lembrou o Nighthawk do Mortal Kombat. E os três dedos do pistoleiro me remeteram a Roland Deschain. haha

    Enfim, gostei do que li, principalmente do final em aberto.
    Parabéns e boa sorte!

  21. Anorkinda Neide
    5 de maio de 2014
    Avatar de Anorkinda Neide

    Um bom conto, Ótimo enredo. Parabéns!
    O diálogo com o indio durante a luta não tá muito bom..mas é só pq todo o resto está ótimo, então a gente fica exigente.. hehehe
    Gostei muito desta magia do mal.

    Abração

    • Anorkinda Neide
      5 de maio de 2014
      Avatar de Anorkinda Neide

      Tchê, não gostei do título não… Não pressupõe a riqueza do texto. 😉

  22. mariasantino1
    4 de maio de 2014
    Avatar de mariasantino1

    Um conto misterioso com um final aberto. Tem personagens reais e várias passagens bacanas, como a reza da índia (índia. hehehe…). A ação entre o Wyatt e o Black Bird foi a que menos gostei.
    Boa sorte.

  23. Davi Mayer
    4 de maio de 2014
    Avatar de Davi Mayer

    Interessante a história. Mesmo longa, não se torna cansativa. Parabéns.

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Publicado às 4 de maio de 2014 por em Faroeste e marcado .