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Detox Literário.

Travessia – Quando o Peão vira Dama (Cyro Fernandes)

Conheceram-se na faculdade “dos ricos”. Ela, bolsista por nota; ele, classe média remediado. Foi uma paixão imediata, ardente como a chama da juventude.

Na mesma turma, sofreram com as provas e as noites em claro. Comemoraram juntos as etapas vencidas. Desfrutaram dos poucos momentos de folga com luxúria, sem luxo. O dinheiro era escasso e os sonhos infinitos.

As matérias perdidas, os primeiros porres e as brigas bobas foram experiências conjuntas. Os ciúmes e as primeiras férias juntos eram movimentos de passo a passo, como se o destino os movesse.

O casal vinte, como eles eram conhecidos na faculdade, tinha presença certa na cerimônia de reconhecimento dos melhores do ano. Numa ocasião, o padre reitor perguntou o que eles esperavam do futuro:

— Quero obter um emprego com mais estabilidade, evitando os percalços que meu pai teve — disse prontamente Álvaro.

— Meu sonho é ir além do que é possível — pensou mais ambiciosamente Lídia.


No último ano, os estágios começaram a afastá-los.  À medida que entrava algum dinheiro, faltava tempo. A paixão esmoreceu. O foco passou a ser a carreira.

Bons alunos, dispunham das mesmas armas, mas, de alguma maneira, mesmo sem querer, competiam pelos melhores empregos. Ambos preparados, contudo, ela era mais pragmática e ambiciosa, enquanto ele, mais inseguro e indeciso.

Paulatinamente, a paixão foi se arrefecendo ainda mais. A rotina das entrevistas e dos concursos gerava grande desgaste. Quase não se ajudavam mais, preponderava certo egoísmo. O carinho foi se esgarçando continuamente.

A formatura, mais do que um rito de passagem, foi o fim de um tempo. A leveza dos sonhos deu lugar ao peso dos currículos. A paixão cedeu espaço à necessidade de provar valor. O sofrimento da separação, contudo, foi atenuado pela euforia das novas oportunidades.

Ambos foram contratados como trainees de empresas rivais. Cidades diferentes, vidas novas e metas parecidas. A promessa era de aprendizado e crescimento. No campo de batalha, a concorrência interna era gigantesca. Eles sabiam que, no fundo, eram apenas mais um, lutando para sobreviver e, quem sabe, passar pelo funil seletivo e virar “alguém”.

Com o tempo, quase não se falavam. O amor, agora lembrança, perdia força diante das metas trimestrais.

Quando se reencontravam em eventos do setor, o ar se enchia de uma rivalidade muda, reflexo das empresas que os separavam mais do que a distância. Nunca imaginaram que um relacionamento tão puro e vigoroso não pudesse resistir às regras do jogo.

As primeiras festas de final de ano das empresas foram muito parecidas. Mudava-se apenas o local e as pessoas, mas parecia que eram as mesmas peças. O clima formal do início, cheio de falsidade e bajulações, era pouco a pouco substituído pelos flertes e exageros.

Álvaro lidou muito mal, misturando as bolhinhas francesas com o malte escocês. Em casa, não se lembrava como havia chegado.  Passou o fim de semana preocupado com o que poderia ter ocorrido. Por sorte, não era nada demais, apenas mais um dos bêbados inconvenientes.

Lídia cuidou-se na festança. Evitou os excessos e driblou habilmente os assédios dos superiores. Aproveitou para observar o cerimonial do jogo do poder. Viu como as líderes se vestiam, se portavam, com que falavam, que horas saíam. Foi um bom aprendizado para quem tinha origem mais simples.

Por coincidência, experimentaram a primeira viagem ao exterior no mesmo período. Ela, Londres e Paris. Ele, Flórida.

Na noite da Torre Eiffel, Lídia lembrou da camiseta barata que havia ganho de aniversário. Era o primeiro presente dado por Álvaro, com a logomarca batida dentro de um coração vermelho: Paris, Je T’aime. Ela sentiu saudades, sem saber explicar o motivo.

Num dia de sol no parque em Orlando, a coxa de peru serviu de almoço. Tornou-se um gatilho para lembrar do primeiro Natal que Álvaro passou com a família de Lídia. Surpreso, quis que ela estivesse com ele naquele momento. Era estranho comemorar uma conquista e, ao mesmo tempo, sentir como se tivesse perdido algo mais precioso.

Lídia virou gerente. Álvaro, estagnado, viu as promoções passarem como trens que não paravam em sua estação.

Ambos sabiam que o jogo era mortal, apesar das mesmas regras, restrições e ilusões. Sonhavam em chegar ao topo, virar peça nobre.

Mas, para isso, dependiam da sorte dos superiores: gerentes, diretores, vice-presidentes.
Cada avanço custava um sacrifício; cada vitória exigia um corpo no caminho. Quem não podia recuar, acabava eliminado. Cada ação era acompanhada de uma reação.

Acabaram por formar famílias e seguir disciplinadamente as regras corporativas. Não era incomum os casais dentro das empresas. Era uma camada a mais de conflitos.

Álvaro casou-se com a gerente da controladoria, sempre direta e sem passar por cima das regras. Tinha um pouco mais de força e mobilidade do que ele. Formavam um casal regrado, vivendo felizes dentro de suas limitações.

Lídia conquistou o diretor comercial, astuto e capaz de passar por cima dos outros, em movimentos únicos. Eram ambiciosos e arrojados.

O tempo fez com que adquirissem novos hábitos e se acostumassem com os sacrifícios demandados e os luxos oferecidos pelos bons salários. Era a sensação de estarem no jogo.

Trabalhavam em torres imponentes no centro das grandes cidades. Lídia já ocupava andar mais alto, conforme avançava algumas casas no tabuleiro. Já havia recebido o carro da companhia, mais um símbolo do poder, com muitos cavalos de potência. Álvaro seguia com seu carro próprio, sendo às vezes o último a chegar, como a “mulher do bispo”, diga-se, do padre.

Lídia seguia focada, aprendendo com o passado, mas olhando sempre para frente. As dificuldades não serviram para torná-la uma vítima do acaso. Álvaro sentia falta da proteção da família, principalmente do seu avô. Lembrou-se das partidas de xadrez que sempre perdia para os parentes. O carinhoso avô logo puxava um jogo de damas para relaxar. Definitivamente, a pressão não era para ele.

Veio a primeira grande crise econômica e com ela a obsessão por redução de custos. Logo chegaram as listas de demissões. À Lídia coube demitir quatro pessoas. Ela tentou não se envolver emocionalmente com a situação. Sabia que nada poderia ser alterado. Encarou com tristeza, mas profissionalmente.

Álvaro achava que seria demitido. Muito intranquilo, não dormia, nem se alimentava direito. Por fim, foi incumbido de desligar um jovem auxiliar. Não suportou o momento e chorou durante o comunicado. Apesar de surpreso por manter-se empregado, a experiência não lhe trouxe qualquer alívio.

Em determinado momento, Lídia transcendeu e alcançou a vice-presidência.

Álvaro queria acreditar que o destino havia propiciado a promoção de Lídia. Não era apenas uma questão de esforço e competência. Ela aproveitou todo o preparo que teve para usufruir da força conquistada, tornando-se peça fundamental para a empresa.

Com firmeza, a nova estratégia comercial de Lídia teve muito êxito. O aumento das vendas trouxe ganho significativo na participação de mercado. Não tardou até o conselho derrubar o líder do concorrente. Ela havia vencido.

Terra arrasada, Álvaro sofreu a dor da derrota encenada como fracasso profissional. Melancólico, não sabia como recomeçar. Os primeiros fios de cabelo branco alastraram-se rapidamente. A baixa autoestima o tornava cada vez menos interessante.

No tabuleiro do mundo, ambos haviam começado como peões. Só ela chegou ao outro lado para tornar-se rainha.

Os dois sabiam que, no fundo, era apenas mais uma partida. No tabuleiro real, as regras podiam mudar após cada lance. A complexidade estava mais para o Jogo das Contas de Vidro, onde a busca pela vitória tinha uma amplitude enorme, entre o preto e o branco havia infinitos matizes de cinza.

Após a demissão de Álvaro, Lídia o procurou para um almoço. Queria vê-lo. Pensava em ajudá-lo a se recolocar no mercado. A ascensão profissional trazia uma solidão e as lembranças de momentos felizes a reconfortavam. Era um saudosismo que ela queria evitar.

Ansioso, mas inseguro, Álvaro acabou declinando do convite. Não teria muito a perder, mas teve receio. Era o medo de sair da sua casa, da zona de conforto. A rainha, resignada, seguiu em frente alguns quadrados. Enquanto houvesse vida, as peças se movimentariam guiadas pelos desejos e ambições.

A justa vitória ocasionou uma derrota previsível, mas ainda não era a partida final.

Jogo sendo jogado, Lídia colocou lembrete na agenda para fazer ao menos uma chamada de vídeo por semana com seu filho. Orgulhosa por ele estar começando tão bem na Califórnia, esperava que ele fosse muito feliz e tivesse sucesso na área de tecnologia.

Álvaro seguiu com a depressão e as pílulas. Uma gotinha de esperança surgiu quando sua caçula arrumou uma oportunidade como trainee, na empresa que Lídia liderava. Apesar do déjà-vu, certamente era um novo lance. Quisera que trouxesse um xeque, ou ao menos um gardé, como costumava falar o seu querido avô.

Sobre Fabio Baptista

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37 comentários em “Travessia – Quando o Peão vira Dama (Cyro Fernandes)

  1. Sarah S Nascimento
    14 de dezembro de 2025
    Avatar de Sarah S Nascimento

    Olá! Seu conto está muito bem escrito, bastante interessante ver a ascensão de ambos. O comparativo entre o comportamento dos dois. Como cada um reage diante dos problemas, desafios e oportunidades.
    A moça sendo mais estratégica e o rapaz inseguro. Vendo o panorama geral parece realmente que foram destinados a estar nos lugares que estão. Eu senti uma vibe meio de dorama sabe? Espero que isso não te incomode. risos.
    Um ponto que me incomodou na sua escrita é não ter cenas, tudo é descrito sempre, não tem diálogos e isso deixou o conto muito denso na minha opinião. Do jeito que foi escrito eu não me sinto conectada aos personagens, não consigo nem sentir as dores dessa vencedora, me distanciou demais das vidas deles. Mas gostei de certas partes, ele ter uns simbolismos e estilo até poético. Uma boa história remetendo a rainha que conquista tudo no final, foi uma representação perfeita da jogada do xadrez. Muito bom!

  2. Thales Soares
    13 de dezembro de 2025
    Avatar de Thales Soares

    Este conto é um pouco estranho… ela narra as coisas mantendo umas distância muito grande dos personagens. É quase como se fosse o resumo de algo maior. E isso faz com que o leitor não sinta nada, infelizmente, pois a leitura parece que estamos lendo em um blog o que aconteceu nesta semana nos episódios de uma novela.

    A história conta sobre Lidia e Alvaro, que iniciam a vida como peões no mesmo tabuleiro. Eles se conhecem na faculdade. Ela é bolsista e esperta. Ele é só um cara modesto. Então eles começam a namorar e tem uma paixão intensa.

    Juntos eles compartilham os momentos de festas, brigas bobas, coisas de faculdade de expectativas de futuro. Mas logo começa a rolar o periodo de estágio, ai entra na jogada a ambição, dinheiro, etc. Eles vão ficando cada vez mais competitivos, e o amor vai aos poucos sumindo. No fim da faculdade, eles praticamente não tem mais vinculo.

    Aí cada um entra numa empresa diferente, que são concorrentes. Lidia evolui bem rápido, enquanto Alvaro é mais devagar e inseguro. Cada um forma uma família. Ele casa com alguem contida, e ela casa com um diretor ambicioso.

    O tempo passa, e talz… e vamos acompanhando a trajetória dos dois… mas sem nenhum climax acontecer, nenhuma reviravolta, nada que dê uma fisgada no leitor. No final, Lidia tenta ajudar o Alvaro, mas ele recusa. O jogo segue. E é isso…

    Achei a história um pouco morna. E outra coisa que atrapalhou bastante foi que o autor ficou com medo de não se adequar ao tema… mas as coisas estavam fazendo um paralelo legal com o xadrez… então, de forma desnecessária, rola um flashback com o Alvaro jogando uma partida de xadrez com o avô. Isso em nada contribuiu com o desenvolvimento narrativo, e a ainda quebrou a fluidez.

    • cyro eduardo fernandes
      15 de dezembro de 2025
      Avatar de cyro eduardo fernandes

      Obrigado, Thales.

  3. Mauro Dillmann
    13 de dezembro de 2025
    Avatar de Mauro Dillmann

    Dois jovens universitários, com sonhos e apaixonados. E pouco a pouco a paixão enfraquece.

    Vai desenvolvendo com o crescimento profissional dela e o declínio dele. Mas só. O final não tem tanto impacto.

    Foi narrado em terceira pessoa. Certo. Mas poderia ter momentos de inserção de diálogos, de discurso indireto livre. A narrativa ficou basicamente estagnada.

    ‘Os primeiros fios de cabelo branco’ [rever, plural].

    Texto com alguns clichês, mas tudo bem.

    Bem realista, com o xadrez sutil de fundo.

    Parabéns!

    • cyro eduardo fernandes
      15 de dezembro de 2025
      Avatar de cyro eduardo fernandes

      Obrigado, Mauro.

      Quanto ao plural:

      “Os primeiros fios” → sujeito no plural masculino.

      “de cabelo branco” → complemento que funciona como especificador da qualidade do cabelo. Aqui, “cabelo” está no singular porque se refere ao tipo de fio (fio de cabelo), e “branco” concorda com “cabelo”, não com “fios”.

  4. Fabio Baptista
    13 de dezembro de 2025
    Avatar de Fabio Baptista

    Dois namorados da época da faculdade seguem rumos distintos na carreira e na vida.

    O conto resvala no tema, mas as citações e metáforas com o jogo são suficiente (com um pouco de boa vontade) para enquadrar.
    O problema aqui foi o jeito escolhido para contar a história. Esse narrador onisciente distanciou demais o leitor dos personagens. Os eventos vão só se sobrepondo igual a Lídia demitiu os funcionários, sem qualquer envolvimento emocional. Há apenas um diálogo no texto e ele é totalmente robótico. Diálogos ajudam a definir as personalidades e gerar empatia com os personagens, o que infelizmente passou bem longe aqui.

    MÉDIO

    • cyro eduardo fernandes
      15 de dezembro de 2025
      Avatar de cyro eduardo fernandes

      Obrigado, Fabio.

  5. Thaís Henriques
    13 de dezembro de 2025
    Avatar de Thaís Henriques

    Eu apenas não gostei.

    • cyro eduardo fernandes
      15 de dezembro de 2025
      Avatar de cyro eduardo fernandes

      Grato, apesar de extremamente suscinto. Apenas não ajuda no desenvolvimento.

  6. Bia Machado
    12 de dezembro de 2025
    Avatar de Bia Machado

    Olá, Henriqueta, tudo bem? Seguem alguns comentários sobre a minha leitura do seu texto.

    Desenvolvimento (0,8/1,0): Narrativa com arco bem definido, talvez seja isso que não tenha me animado muito. É uma narrativa bem linear, como se tudo já estivesse dentro dos conformes, tudo organizadinho, bem encaixadinho… Sobre o Jogo das Contas de Vidro, fiquei triste por ainda não ter lido esse livro, deu a sensação de que talvez tenha deixado passar algo só por não tê-lo lido ainda.

    Pontos fortes (0,8/1,0): Talvez pra mim o ponto forte seja a questão do empoderamento da personagem, mas acho que poderia ter feito os personagens falarem mais, se expressarem mais.

    Adequação ao tema (0,5/0,5): O xadrez é símbolo de superação. O caminho do peão até se tornar uma dama. Ok, tudo bem, aceitável.

    Gramática (0,5/0,5): Correta. Nada parecendo fora do lugar, ou destoando.

    Emoção (1,2/2,0): Eu não me senti cativada por seu conto, peço desculpas. Sou uma leitora que precisa ser cativada pelos personagens, torcer por eles, detestá-los, viver com eles as alegrias e os dilemas, chegar ao final do conto e parecer que a história deles de alguma forma mexeu comigo. Não me apaixonei nem por Lídia, nem por Álvaro, mil desculpas… E boa sorte no desafio.

    • cyro eduardo fernandes
      15 de dezembro de 2025
      Avatar de cyro eduardo fernandes

      Obrigado, Bia.

  7. danielreis1973
    10 de dezembro de 2025
    Avatar de danielreis1973

    Travessia – Quando o Peão vira Dama (Henriqueta Costa Mecking)

    A história de um romance intenso, e de amantes que seguem caminhos profissionais paralelos e/ou tornam-se rivais, tem vários exemplos no cinema e até nas novelas (lembro de cara de Guerra dos Sexos). O conto aqui faz mais uma narrativa da vida corporativa, até o reencontro no fim da narrativa, sendo que que ele recusa o convite dela e cada um segue sua vida: ela no topo, tentando manter vínculos; ele lutando contra a depressão. Esse final, que foi o que mais gostei, me lembrou do filme New York, New York, e se justifica plenamente (eu teria odiado se fosse um happy ending aqui…).

    PONTOS POSITIVOS

    O uso do xadrez (e brevemente das damas) como estrutura simbólica da vida corporativa funciona bem: progressão, hierarquias, sacrifícios, perdas, promoções. A narrativa se sustenta sobre esse eixo de forma coerente e compreensível.

    Bom retrato do universo corporativo: processos de trainee, metas, rivalidade silenciosa, festas, assédios, demissões e crises são retratados como são na vida real. O texto captura bem a lógica impiedosa do ambiente de alta competitividade.

    Contraste entre os protagonistas:Lídia e Álvaro funcionam como espelhos invertidos,mesma origem acadêmica, mesma largada, mas habilidades e temperamentos opostos. Isso cria oposição e drama, muito interessante.

    Momentos sensíveis de memória afetiva: as lembranças cruzadas (Paris/Orlando, camiseta barata, primeiro Natal juntos) introduzem nuance emocional e dão profundidade aos personagens

    Final melancólico, adequado ao tom: como comentei, foi o que mais gostei. No geral, o texto transmite bem a mensagem — mas poderia deixar o leitor sentir mais e entender menos.

    PONTOS A MELHORAR

    O texto tende ao didatismo: muitas passagens explicam em vez de dramatizar. A metáfora do xadrez é repetida explicitamente, quando poderia ser mais sutil — há momentos em que ela é “ensinada” ao leitor, enfraquecendo a narrativa.

    Faltam cenas vivas e diálogos diretos: a narrativa é majoritariamente expositiva. Acho que funcionaria melhor com cenas concretas — trechos mostrados em vez de contados.

    Álvaro às vezes fica caricato – sua trajetória é fortemente marcada por fragilidade, azar, insegurança — mas sem contrapesos. Ele se torna mais um tipo simbólico (o peão que não ascende) do que uma pessoa plena, de verdade.

     O romance inicial é rápido demais: a parte mais emocional da história — o início da relação — passa rápido. Reforçar dois ou três momentos marcantes poderia criar mais preparação para a separação futura.

    Parabéns e sucesso no desafio.

    • cyro eduardo fernandes
      15 de dezembro de 2025
      Avatar de cyro eduardo fernandes

      Obrigado, Daniel.

  8. Fabiano Dexter
    9 de dezembro de 2025
    Avatar de Fabiano Dexter

    História

    O conto narra a vida de Álvaro, um jovem com grande potencial, mas tímido e medroso, e Lídia, inteligente e ambiciosa. Segue a vida dos dois desde o romance na faculdade até o futuro separados. Ela bem-sucedida, ele depressivo, fracassado.

    Tema

    O Xadrez aqui foi colocado de forma abstrata. Uma aposta interessante por parte do autor e que, a meu ver, deu certo.

    Construção

    Achei a história até interessante, mas o texto muito truncado, cheio de vírgulas e pontos.

    O conto é linear e sem sobressaltos, citando um fato atrás do outro. Faltou para mim algum desenvolvimento, mais sentimento.

    Impacto

    Gostei da história, mas ficou uma sensação de que podia mais. Ainda que a história dos personagens tenha seguido muito bem, faltou profundidade a eles e seus relacionamentos de modo que pudéssemos nos ligar mais a eles.

    • cyro eduardo fernandes
      15 de dezembro de 2025
      Avatar de cyro eduardo fernandes

      Obrigado, Fabiano.

  9. Jorge Santos
    8 de dezembro de 2025
    Avatar de Jorge Santos

    Olá. O seu conto sobre a vida de dois namorados de universidade que a vida separa trouxe-me algumas recordações. É um relato realista. A vida consegue separar as pessoas, especialmente quando não se tem as prioridade bem definidas. Quando a carreira toma conta dessa mesma vida, as pessoas mostram-se como na realidade são. A adequação ao tema é praticamente inexistente. A personificação das peças surge no final, como se, finalmente, o autor ou autora se tenha lembrado do tema. No desfecho vemos a diferença entre os dois: a rainha, toda poderosa, e o rei, agora um peão, contrastando com o título do texto e deixando-me verdadeiramente confundido.

    • cyro eduardo fernandes
      15 de dezembro de 2025
      Avatar de cyro eduardo fernandes

      Obrigado, Jorge.

      O objetivo era abordar a trainee, cargo inicial na empresa, tornando-se a rainha. O outro trainee, seguiu como peão. Um abraço

  10. Pedro Paulo
    7 de dezembro de 2025
    Avatar de Pedro Paulo

    É um caso em que forma e conteúdo não me agradaram. Existe um excesso de adjetivos para caracterizar os personagens que sufoca a leitura, deixando o rumo da narrativa óbvio demais para interessar. Desde o início, fica claro que as personalidades distintas de cada um os colocarão em caminhos opostos e, depois, conflitantes. E não bastando afirmar uma vez, repete-se ao longo do texto, deixando artificial e desconfiando de que o leitor pudesse se conectar com os personagens e, portanto, seria necessário repetir constantemente de que ela é firme e ele, não. É uma característica que impregna até o título do conto ao dotá-lo de um subtítulo que já o associa ao tema do desafio ali. O que leva a outro aspecto. Se a obviedade do antagonismo entre os protagonistas subtrai da força do conto, outro ponto negativo é a maneira como a história incorpora o xadrez como uma metáfora, remetendo às peças de formas simbólicas que na maioria das abordagens não fazem muito sentido e parecem deslocadas. É uma maneira legítima de atravessar o tema, mas aqui fica como uma metáfora acidentada. A artificialidade desse recurso acaba poluindo o conto como os adjetivos e não o conforma à temática, fazendo parecer uma tentativa forçada de abordar o tema sem querer de fato fazê-lo, como se tentasse aproveitar uma história já existente para atender a esta temática. Desses excessos de adjetivo e metáfora, pareceu não sobrar espaço para uma conclusão devida, sendo um desses casos em que se sabe que a história acabou porque não há mais linhas abaixo, uma vez que início, meio e fim da narrativa já apareciam evidentes nos primeiros parágrafos e não havia muito o que esperar e nem um caminho cativante por que seguir. Acredito que este conto, desobrigado do xadrez e retrabalhado para deixar sua construção mais fluida, caberia melhor em outro desafio ou na área OFF.

    • cyro eduardo fernandes
      15 de dezembro de 2025
      Avatar de cyro eduardo fernandes

      Grato pela completa avaliação.

  11. Amanda Gomez
    7 de dezembro de 2025
    Avatar de Amanda Gomez

    Oi, bem?

    Gostei do seu conto. Ele é ágil e apresenta personagens interessantes. Mesmo sendo vistos de longe, nessa escalada, consegui me identificar com eles, e isso é muito importante: quando o leitor se importa com os personagens, a história ganha força.

    O conto é vertical; acompanhamos o percurso de cada um seguindo o fluxo, a vida como ela é. Ela alçando voos mais altos, ele permanecendo na média. É interessante a ideia de fracasso das pessoas e a ânsia por sempre buscar mais. As construções são boas e as referências ao xadrez foram até sutis, mas não tenho certeza se foram suficientes para encaixar plenamente no tema.

    No mais, é um ótimo conto.

    Parabéns e boa sorte no desafio!

    • cyro eduardo fernandes
      15 de dezembro de 2025
      Avatar de cyro eduardo fernandes

      Obrigado.

  12. Priscila Pereira
    25 de novembro de 2025
    Avatar de Priscila Pereira

    Olá, Henriqueta! Tudo bem?

    Seu conto é bem interessante, mostra um período longo da vida de um casal que toma rumos diferentes, um se acomodando e deixando a vida o levar e a outra não se conformando e fazendo ela mesma sua sorte. É um conto bem legal, que usa o tema do xadrez como metáfora de vida.

    Se me permite umas dicas, o conto, por ser um gênero textual curto, pede uma história mais reduzida, ou seja, se você tivesse narrado um pedaço dessa história que desse a entender o todo, mostrando ao invés de contar, o conto seria bem melhor, não que esteja ruim, longe disso, mas está vago, não consegui me apegar aos personagens porque quase nada de realmente pessoal foi dito sobre eles, entende? Ficou muito genérico. Bem isso é só minha opinião, desconsidere se quiser! 😁

    Sua escrita está muito boa, correta e fluida. Parabéns pelo conto!

    Boa sorte no desafio!

    Até mais!

    • cyro eduardo fernandes
      15 de dezembro de 2025
      Avatar de cyro eduardo fernandes

      Muito obrigado, Priscila.

  13. Gustavo Araujo
    17 de novembro de 2025
    Avatar de Gustavo Araujo

    Olha, me desculpa a sinceridade, mas não gostei muito do conto. Está bem escrito, tem um enredo inteligente, mas a mim pareceu um tanto raso. A história de Lídia e Álvaro tinha tudo para ser interessante, daquelas que a gente não consegue largar, especialmente por conta dos primeiros parágrafos, que estabelecem as diferenças de temperamento e de ambição entre eles. Só que daí por diante o que se vê é uma espécie de relatório, com parágrafos curtos condensando inúmeras informações. Conta muito e não mostra muita coisa… É uma técnica válida para um resumo ou para um esboço, mas ao menos para mim se mostra insuficiente para gerar empatia. Isso torna Lídia e Álvaro um tanto unidimensionais, personagens com quem não dá para o leitor se identificar, por quem não para torcer. Também achei que o xadrez ficou muito diluído na trama, refletido apenas de modo metafórico, pouco abordado portanto. De qualquer forma, não quero desencorajar o(a) autor(a) com este comentário. Como disse lá no início, há ótimo potencial na história. Se for mais desenvolvida, aprofundando as tramas e subtramas, pode se tornar muito boa. É algo a se pensar, creio, já que temos aqui alguém que sabe escrever e que sabe aonde quer chegar.

    • cyro eduardo fernandes
      15 de dezembro de 2025
      Avatar de cyro eduardo fernandes

      Obrigado, Gustavo.

  14. Mariana
    15 de novembro de 2025
    Avatar de Mariana

    Para a avaliação ficar bem explicada, organizei os tópicos que construíram a nota

    História: 

    Há começo, meio e final (0,75)? O conto acompanha uma trajetória de duas pessoas, do romance juvenil até a maturidade. Assim, atende ao requisito de começo, meio e final. 0,75

    Argumento (0,75):

    Um casal jovem e seu destino, um peão que permance subalterno e a ambiciosa “peoa” que se torna “rainha”. Entendi que é baseado no movimento dos peões ao longo do tabuleiro, mas o jogo não é relevante para a trama. Se não fosse mencionado, não faria diferença. O final do avô está jogado ali também, como para constar. 0,5

    Construção dos personagens (0,5):

    Aqui o conto brilha. Dois personagens bem delineados, Lídia é multidimensional. Álvaro é medíocre, pequeno. Os fatos e sentimentos são críveis, muito bom. 0,5

    Técnica:

    A capacidade da escrita de prender (0,75):

    Mequinha, você escreve bem. O conto tem uuma amargura e um cinismo inteligentes, muito bem colocados ao longo do texto. Além disso, repito, a sua construção de personagens é ótima. 0,75

    Gramática, ortografia etc (0,75):

    Não ocorreram erros que tenha percebido ou escolhas questionáveis de vocabulário. 0,75

    Impacto (1,5): 

    Um dos melhores contos da B até agora, mas senti falta do xadrez mais destacado no texto. 1,25

    • cyro eduardo fernandes
      15 de dezembro de 2025
      Avatar de cyro eduardo fernandes

      Obrigado, Mariana.

  15. Kelly Hatanaka
    12 de novembro de 2025
    Avatar de Kelly Hatanaka

    Considerações

    A história de um casal que partiu de condições semelhantes e foram separados, não pela vida, mas por suas escolhas e personalidades. Os percursos de Lídia e Álvaro são comparados a uma partida de xadrez, com elementos espalhados pelo texto, como torres e cavalos. Lídia e Alvaro são peões. Ela se casa com o que é descrito como um cavalo e ele com uma rainha. Alguns elementos soam forçados como “a mulher do bispo”, expressão que nem existe.

    Teoricamente, Lídia venceu, ao menos materialmente. Mas não parece ter havido um final feliz para nenhum dos dois.

    Gostei ou não gostei

     Mais ou menos.

    A narrativa bem direta distancia os personagens e dá um certo alheamento. Parece que a história se passa longe, longe demais para eu me importar com os personagens. Além de reduzir os personagens a seus estereótipos. Lídia é a mulher ambiciosa que veio de baixo. Álvaro o prudente que flerta com a covardia, que seria lido nessa sociedade competitiva como um “fraco”.

    Sabe, acho que o problema é que já logo no começo está estabelecido que o relacionamento entre Lídia e Álvaro não vai dar certo. Ele quer segurança e estabilidade. Ela quer ir para o alto e avante. Já deu pra ver que não vai rolar. E, a partir daí, o conto relata o que o leitor já imaginou, sem desvios, numa linha reta até o final.

    Pitacos não solicitados

    Talvez teria sido mais interessante dar tempo para o leitor gostar do casal e torcer por ele antes de vê-lo se desmantelar.

    O engraçado é que o que parece ter sido o momento crucial foi a festa de final de ano. Talvez não tenha sido essa a ideia, mas ficou a impressão. Eles estavam lá, cabeça a cabeça, competiam em pé de igualdade. Daí vieram as festas, Álvaro enfiou o pé na jaca e foi inconveniente, enquanto Lídia percebeu que festa de fim de ano não é festa e sim evento corporativo e se comportou de acordo. E, a partir daí Álvaro estagnou e Lídia prosseguiu.

    • cyro eduardo fernandes
      15 de dezembro de 2025
      Avatar de cyro eduardo fernandes

      Obrigado, Kelly.

  16. andersondopradosilva
    10 de novembro de 2025
    Avatar de andersondopradosilva

    Olá, autor.

    Autor, infelizmente não posso dizer que gostei do conto. Julguei que seu estilo carece de aprimoramento. Estilo e beleza são muito subjetivos e difíceis de explicar, e o que pode parecer estiloso e belo a um pode não parecer a outro, então meu julgamento pode não lhe valer de nada, mas vou tentar lhe explicar de maneira bem simples e superficial.

    Não gostei, por exemplo, do seu parágrafo introdutório. Não gostei das aspas empregadas em “dos ricos”. Havia outras maneiras de dizer que a faculdade era “dos ricos”, que ela era bolsista e que ele era pagante, tudo sem ser tão explícito. Algo como:

    “Conheceram-se na faculdade. Ela, bolsista. Ele, classe média pagante.”

    Nessa construção mais enxuta, o “dos ricos” fica implícito, pois se trata de faculdade particular, já que ele era pagante. A condição dela de bolsista “por nota” também fica implícita na sua condição de bolsista, condição que normalmente decorre de mérito mesmo. Por fim, a condição dele de “remediado” também fica implícito, pois é da própria natureza da classe média ser “remediada”.

    Enfim, seja mais enxuto, mais econômico. Adjetive e explique menos. Dê mais espaço para o leitor pensar, construir, imaginar. Citei um único exemplo, mas seu texto inteiro me desagradou por causa do didatismo.

    Nota 4.

    • cyro eduardo fernandes
      15 de dezembro de 2025
      Avatar de cyro eduardo fernandes

      Grato, Anderson.

  17. Antonio Stegues Batista
    8 de novembro de 2025
    Avatar de Antonio Stegues Batista

    A história de um casal de namorados desde a faculdade, passando pelo primeiro emprego até o alto cargo de uma empresa. Quando ela se torna presidente da empresa, destrói a empresa concorrente e o ex namorado. De namorados, amigos, colegas, tornaram-se rivais. No mundo dos negócios é cada um por si. O mundo dos mercados corporativos e das atividades comerciais é uma selva primitiva cheia de animais selvagens, onde, se você não come, será comido. A história é contada tendo como referência o jogo de xadrez. Apesar dos clichês em profusão, gostei do conto.

    • cyro eduardo fernandes
      15 de dezembro de 2025
      Avatar de cyro eduardo fernandes

      Obrigado, Antonio.

  18. claudiaangst
    6 de novembro de 2025
    Avatar de claudiaangst

    Olá, autor(a), tudo bem?

    O conto aborda o tema proposto pelo desafio como um pano de fundo para a trama apresentada. A vida de um casal de namorados, que acabam seguindo caminhos diferentes, comparada a um jogo de tabuleiro. Para mim, funcionou, não é muito original, mas a referência está ali.

    Confesso que, pelo título, cheguei a imaginar o protagonista como uma mulher trans. No entanto, a ideia era a regra do jogo mesmo: o peão chegou à última casa do campo inimigo virou dama.

    Linguagem clara, bom ritmo de narração, a leitura flui sem entraves.

    Não há falhas notáveis de revisão, apenas me incomodou um pouco (chatice minha, perdão) a repetição de algumas palavras e sons:

    • Média/remediado/imediato
    • Luxúria/luxo
    • Conjuntas/juntos
    • Conhecidos/reconhecimento
    • Excesso de “mais”

    Parabéns por aceitar mais este desafio e boa sorte na classificação.

    • cyro eduardo fernandes
      15 de dezembro de 2025
      Avatar de cyro eduardo fernandes

      Muito obrigado, Cláudia.

  19. Luis Guilherme Banzi Florido
    5 de novembro de 2025
    Avatar de Luis Guilherme Banzi Florido

    boa tarde, Henriquetta! tudo bem?

    Seu conto é ágil e amplo, abordando uma vida inteira de dois personagens simultâneos. Isso exige bastante controle de ritmo e de narrativa, o que você fez muito bem. Em nenhum momento o conto fica lento, as informações não se confundem, os personagens seguem suas linhas narrativas que se interligam, mas se mantém consistentes. Parabéns por isso, exige uma tecnica apurada.

    Quanto ao enredo, devo ser sincero e dizer que não me cativou tanto. A história é um pouco linear demais, não possui muitos pontos de emoção, de embate, de clímax. É mais um relato detalhado sobre a vida dos dois, o que acabou dificultando que eu criasse conexão com os prsonagens, me preocupasse e torcesse por eles. Acho que os personagens são lineares demais, talvez seja esse o problema. Não existe evolução, além da evolução profissional. Os dois começam com características específicas, que os contrastam, e terminam o conto com as mesmas características. Acho que isso que cria essa senação de que o conto é mais uma descrição, sabe? Não existe surpresa, não existe curva de evolução. Além disso, entendo o uso do xadrez aqui e não vou tirar ponto por isso nem nada, mas achei o uso do xadrez aqui um pouco forçado, parece que voce ja tinha uma historia e inseriu o xadrez, especialmente quando menciona o xadrez explicitamente. Eu entendo a ideia de travessa do peão através de um campo de batalha — o campo de batalha coorporativo. Mas sinto que sua historia nao precisa do xadrez pra funcionar, sabe? Ficou um pouco generico.

    Enfim, desculpe por tanta reclamação, mas quis explicar detalhadamente os pontos que me impediram de desfrutar plenamente da sua historia. Afinal, ela é muito bem escrita, possui uma otima tecnica, coisa de gente experiente. Mas achei que a linearidade excessiva da narrativa somada à inexistencia de uma curva de evolução dos personagens acabaram diminuindo bastante o impacto, o envolvimento do leitor no conto. Parabens e boa sorte!

    • cyro eduardo fernandes
      15 de dezembro de 2025
      Avatar de cyro eduardo fernandes

      Obrigado, Luís.

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Publicado às 2 de novembro de 2025 por em Liga 2025 - 4B, Liga 2025 - Rodada 4 e marcado .