EntreContos

Detox Literário.

The Knight’s Fork (Thais Henriques)

O tilintar da louça colocada sobre a mesa trouxe Blanche de volta à realidade. O café da manhã estava servido, e os olhares preocupados dos funcionários da propriedade, praticamente sua segunda família, pairavam sobre ela.

— Coma algo, minha menina. Saco vazio não para em pé.

A voz carinhosa de Amélia, a governanta, parecia abraçá-la confortavelmente, do modo que fazia quando ela era uma criança serelepe.

— Não sei se consigo, Amelinha. Meu rosto ainda dói…

Blanche levou as mãos à bochecha inchada, que ainda queimava. O relacionamento com Nero tornara-se insustentável. Aquela agressão fora a gota d’água para que ela tomasse, finalmente, a decisão de acabar tudo.

Amélia limpou a única lágrima que descera por seu rosto. Ver sua pequena Blanche, a quem amou e criou como sua, ali naquela fazenda, sofrer nas mãos de um forasteiro era muito triste. Thomas, seu filho mais velho e responsável pelo estábulo, tentava conter a fúria em respeito à mãe.

— Blanche, não podemos mais ver tudo o que ele faz contigo e ficar em silêncio! Alguém precisa dar um corretivo nesse homem, arrancar o reizinho da barriga dele!

— Fazê-lo cair do cavalo? — Amélia riu, envergonhando-se e se desculpando logo depois.

— Talvez chumbinho na comida? — Thomas não se conteve.

Blanche levantou-se, visivelmente incomodada. Queria se ver livre de Nero, mas não dar fim a ele.

— Chega disso, por favor. Não me ajudam em nada assim. Vou puni-lo onde mais dói: no bolso. Ele não tem direito a nada do haras. Tudo isso era de papai, e eu sou a única herdeira.

Amélia e Thomas se entreolharam brevemente e desculparam-se com a jovem Blanche. O breve silêncio daquele momento foi quebrado com os passos firmes e altos de Nero. Devidamente trajado, o cavaleiro adentrou a bela sala de jantar, deixando o ar denso e os presentes apreensivos. Ele era alto, imponente e um homem muito bonito, de pele dourada. Entretanto, sua beleza era exclusivamente externa.

— Peãozinho, vá selar Atlas! Precisamos nos preparar para o Regional — gritou para Thomas. — E você, peoa-mãe — disse, com a voz ameaçadora —, pare com essa mania irritante de se achar dona de algo aqui. Vá para a cozinha, que é o seu lugar. Blanche é crescidinha, não precisa de babá.

Nero, agora segurando seu capacete, deu a volta na mesa e aproximou-se da esposa. Blanche sentiu o coração disparar e o corpo gelar à medida que ele sussurrou:

— Comporte-se. Seria uma pena quebrar seus lindos dentinhos.

O cavaleiro retirou-se dali, rindo. Nero se divertia com a sensação de ser o homem da casa e ter o respeito de todos. Contudo, o que ele via como respeito era, de fato, medo.

Nem sempre havia sido assim. Blanche sentia o haras como sua segunda pele. Cada cavalo, cada pedacinho do estábulo, o aroma de feno seco e terra úmida faziam parte dela. Quando conheceu Nero, que compartilhava tudo isso com ela, apaixonou-se imediatamente. O pai dela, Roi, aprovava o casamento — e presenteou o cavaleiro com o puro-sangue Atlas. No início, ela se sentia amada, valorizada. Agradecia a Deus por ter encontrado Nero.

Tiveram bons momentos juntos, mas tudo mudou quando Roi faleceu e o casal foi viver no casarão do haras. Aquele santuário tornara-se uma prisão silenciosa. O casamento com o cavaleiro perfeito aos olhos de todos revelou-se uma armadilha: ele não a amava, apenas cobiçava o haras e, principalmente, Atlas, a joia da propriedade. Todos ali percebiam o sofrimento dela e, discretamente, a encorajavam a se separar. Blanche, por sua vez, mesmo temendo o marido, sentia-se protegida por aqueles que conheciam sua história desde a infância.

O sol mal surgira no horizonte quando Blanche decidiu montar Athena, irmã mais nova do belo Atlas. Sua terapia favorita era passar tempo com a égua. Elas se comunicavam pelo olhar, e foi a cavaleira quem ajudou a trazer Athena ao mundo. Eram melhores amigas.

A esposa de Nero desceu a escada de pedras cinzentas do casarão rumo ao estábulo. Tinha as luvas brancas nas mãos. Blanche observava o picadeiro, mas Nero e Atlas não estavam ali. Ao aproximar-se da casa dos cavalos, ela o viu.

Nero escovava a pelagem dourada do cavalo. Suas mãos deslizavam sem dificuldade sobre o casaco macio do puro-sangue e acariciavam a crina clara. O animal movia a cauda de um lado a outro, em aprovação. Blanche, escondida, observava a interação entre eles como uma mãe observa o pai brincando na grama com seu filho. Chegou a questionar-se se Nero era mesmo aquele que a havia agredido e proferido tantos xingamentos. Talvez houvesse algo incompreendido nele, e ela o estivesse julgando muito cedo. Não poderia ter errado tanto ao escolhê-lo como marido.

Conforme recebia o carinho, Atlas encostou a cabeça no ombro de seu montador. Blanche sorriu ao ver a cena. Athena fazia o mesmo com ela, e era uma sensação deliciosa interagir assim com sua melhor amiga. Nero abraçou o cavalo, envolvendo os braços ao redor do enorme pescoço do animal. Blanche emocionou-se.

— Preciso vencer, cara. E você está longe de ser bom pra mim — disse ele, agora em frente ao cavalo, fitando-o diretamente. — Eu sou o melhor cavaleiro do país. Independentemente de quem seja meu cavalo. Não basta ser bonito, Atlas. Tem que ser o melhor!

O montador jogou a escova no chão e, num súbito movimento, desferiu um tapa no nariz do animal. Atlas relinchou, talvez demonstrando surpresa com o ato. Nero puxou-o pelas rédeas e voltou a agredir o cavalo com o objetivo de contê-lo.

— Thomas! Seu peãozinho insolente, venha cá lidar com esse cavalo velho!

Blanche arregalou os olhos, sentindo um nó crescer em sua garganta, tamanho o desdém de Nero com Atlas. Se ele tinha coragem para bater no cavalo sem motivo, seria capaz de fazer algo pior para benefício próprio? Ele conhecia Atlas desde potro, montou-o desde cedo, domou-o. Roi o confiara a Nero!

Blanche sentiu o sangue ferver conforme a indignação se espalhava por seu corpo. Fizesse algo contra ela, jamais contra os cavalos. Estava prestes a perder o controle — e assim o fez.

— Nero, você ficou maluco?! — Blanche invadiu o estábulo, ao mesmo tempo que Thomas chegou correndo. — Você não vai maltratar meus cavalos assim!

Antes que pudesse retrucar à esposa, Nero foi atingido por tapas e arranhões. Blanche atirou-se contra ele num estado absurdo de fúria. Poderia bem matá-lo com as próprias mãos, ali, na frente de Atlas.

— Sua maluca, me solte! — Nero se debatia, tentando afastar a esposa raivosa. — Thomas, tire-a de cima de mim!

O cavalo batia as patas fortemente no chão e relinchava, incomodado com o barulho e a agitação. Blanche gritava “idiota”, “doente”, “se machucar meus cavalos de novo, eu te mato!” enquanto agredia o esposo. O selador ficou apenas a observar por alguns instantes; sentia que ela precisava descarregar. Além disso, estava se divertindo com a cena.

Thomas se aproximou e, segurando-a pela cintura, afastou a moça do cavaleiro.

— Blanche, por favor. Não faça nada mais. Está tudo bem — tentou acalmá-la.

Blanche estava em cólera, sentia o rosto queimar, sua respiração era ofegante. As roupas estavam amassadas e a voz alterada saía como um urro. Thomas ainda a continha.

— Você terá seu fim, Nero — falou com a mandíbula cerrada. — Voltará para o nada de onde veio. Eu quero o divórcio! Você tem até o Regional para arrumar suas coisas e sair daqui. Atlas fica comigo. O torneio será sua despedida dele. De mim. Do haras.


A manhã do torneio regional começou agitada no haras. Thomas ajustava os arreios de Atlas com uma precisão quase obsessiva. Amélia tinha as mãos trêmulas ao mexer nas louças da mesa. Nero observava toda a movimentação com uma atenção quase possessiva. Algo estava no ar — e Blanche sabia disso. Aquele dia marcaria o início do fim de seu sofrimento.

Sentaram-se à mesa e tomaram o desjejum. O silêncio era cruel, e ninguém se atrevia a quebrá-lo. Blanche sentia o olhar constante de Amélia. A governanta parecia querer se comunicar por meio de olhares, mas não conseguiam se entender. Após alguns minutos, Nero levantou-se e, sem proferir uma única palavra, ditou as tarefas do dia. Em seguida, partiram para o torneio.

O caminho até o local da competição foi igualmente silencioso e tenso. Nero estava ansioso. Ao chegarem, desembarcaram Atlas na área reservada aos animais, e logo um veterinário se aproximou para avaliá-lo. Blanche, como responsável pelo haras e, consequentemente, pelo animal, acompanhou o exame.

— Belíssimo, Atlas! Um verdadeiro colosso! — elogiou o doutor, afastando o estetoscópio do peito forte do cavalo.

Anotou algo na prancheta e sorriu.

— Não há nada de errado com ele, doutor? — perguntou Blanche, apreensiva. — Ele é a nossa joia… e já está com certa idade.

O veterinário percebeu a inquietação da moça e, atribuindo-a à ansiedade, respondeu com serenidade:

— Forte e saudável, senhora. Nada errado com o campeão. Atlas pode competir normalmente. Torço por ele — e por Nero.

Despediram-se, e o doutor partiu para avaliar outros animais. Nero aproximou-se e iniciou, junto de Thomas, os preparativos para a prova. Blanche desejou boa sorte a Atlas e foi se acomodar na arquibancada.

A abertura do torneio foi belíssima e emocionante. Blanche lembrou-se do pai e da última vez que competira com Athena. Logo, o anúncio ecoou pelos alto-falantes:

— O primeiro competidor da prova de saltos é Nero Keisari, montando o puro-sangue Atlas II de Blanche Rani!

O público levantou-se, aplaudindo a dupla. Nero e Atlas eram lendas locais, imbatíveis. No início da prova, tudo parecia normal. O cavaleiro conduzia o animal com maestria — o dourado e forte corpo de Atlas brilhava sob o sol quente. Um tiro de festim anunciou a largada.

Nero segurava firme as rédeas, e Atlas saltava os obstáculos com elegância. O público aplaudia a cada salto. Movimentavam-se em perfeita harmonia. Pareciam voar.

Mas, à medida que o percurso avançava, Nero o pressionava mais e mais. Queria velocidade, altura, espetáculo. O último show. O animal mostrava sinais de cansaço, mas seguia o comando. Blanche, inquieta, inclinou-se na arquibancada.

— O que ele está fazendo? — murmurou.

Atlas sacudia a cabeça, incomodado. Blanche voltou-se para Thomas, que se aproximava.

— Thomas, ele está usando esporas?

O selador estreitou os olhos. Nero forçava o cavalo com brutalidade. Blanche percebeu algo nas botas dele.

— Tem… algo ali. – Apontou – Onde ele conseguiu esporas?

O selador não podia crer no que via: o montador trapaceou, e bem debaixo de seu nariz!

— Senhor! Ele está machucando Atlas! — Blanche gritou, entrando em desespero. — Nero, pare! PARE!      

Thomas também começou a gesticular, tentando chamar a atenção do cavaleiro. Outras pessoas se levantaram, percebendo o sofrimento do animal. Mas Nero ignorava todos. Mesmo com o anúncio do fim da prova, ele não deixou o picadeiro.

— NERO! SAIA DAÍ! SOLTE-O! — Blanche gritava, a voz embargada de desespero.

Nero continuava pressionando ainda mais o cavalo. O espetáculo transformara-se em horror. O público agora vaiava, implorando para que parasse.

Dois cavaleiros adentraram o picadeiro para conter a situação. Com a invasão, Nero se distraiu e puxou as rédeas de Atlas de forma abrupta. O cavalo assustou-se e empinou violentamente, quase ficando sobre as patas traseiras. A fivela da sela se desprendeu, e Nero foi lançado ao chão com força brutal.

O som seco do impacto ecoou pelo silêncio repentino. A cabeça do cavaleiro bateu no solo. Antes que alguém pudesse reagir, Atlas, em desespero, desceu as patas dianteiras e pisoteou o corpo de Nero repetidas vezes — como se a natureza cobrasse justiça por si mesma.

— Contenham-no! — gritou uma senhora, horrorizada.

A multidão explodiu em gritos. Crianças choravam, alguns espectadores desmaiavam. Blanche, imóvel, olhava para o picadeiro com lágrimas silenciosas. Thomas correu em direção ao cavalo, enquanto a equipe médica cercava o corpo no chão.

— Está morto? O cavalo o matou? Meu Deus… — ouviam-se murmúrios em volta.

Os paramédicos ajoelharam-se ao lado de Nero. Ele estava pálido, inerte, o sangue escorrendo da cabeça. A face já não era reconhecível. As tentativas de reanimar o cavaleiro continuavam.

— Senhoras e senhores, o torneio está suspenso por razões de força maior — anunciou a voz do narrador, trêmula.

O local virou um caos. Cavaleiros corriam para os estábulos, espectadores se empurravam para sair, pessoas eram carregadas até o setor médico. Blanche, porém, continuava imóvel, como se o tempo tivesse parado.

Atlas foi conduzido ao estábulo. Thomas voltou até ela.

— Ele está morto, Blanche. Acabou.

A palavra ecoou dentro dela: Acabou. Deveria sentir-se livre, mas não conseguia. Como assimilar tudo aquilo?

Thomas tentou abraçá-la, mas Blanche se afastou. Lá embaixo, o corpo de Nero era coberto por um lençol metálico, e a ambulância se posicionava para levá-lo.

— Busque Atlas — pediu ela, num tom baixo e firme. — Não deixe que façam nada com ele. Ele só reagiu… à agressão de Nero.

As lágrimas escorriam discretas, e sua voz saía calma, quase ausente. As mãos apertavam o guarda-corpo. Ela observava, fixamente, enquanto os paramédicos removiam o corpo. Queria ter certeza de que aquilo não era um pesadelo. Não tinha que ser assim.

Thomas assentiu.

— Eu cuido de tudo. Atlas está bem. Vamos levá-lo para casa.

Blanche respirou fundo e, sem tirar os olhos do picadeiro, murmurou:

— Vamos embora, Thomas. Vamos para casa.

E, assim, com o coração anestesiado e a alma em silêncio, deixou o local.
O cavalo dera xeque-mate no Rei Nero. Acabou.

Sobre Fabio Baptista

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20 comentários em “The Knight’s Fork (Thais Henriques)

  1. Andre Brizola
    13 de dezembro de 2025
    Avatar de Andre Brizola

    Olá, Anya!

    Seu conto narra uma fatia de um relacionamento abusivo. Um marido, interesseiro, casado por interesse, que agride fisicamente a esposa, os cavalos, e verbalmente os funcionários do haras, seu objeto de desejo. Uma grande cena de novela, em que tudo só se relaciona com o tema porque no texto temos algumas menções a “reizinho”, “peãozinho”, peoa-mãe” e a frase final, “o cavalo dera xeque-mate no rei Nero”. Achei pouco, mas vamos por partes.

    Técnica – O conto é muito bem escrito. Dentro da sua proposta, a evolução é extremamente ágil e progressivamente lógica, com os diálogos funcionando muito bem no desenvolvimento da narrativa, principalmente nas interações entre os dois personagens principais. E, como o enredo tem essa aura novelesca, acho que a opção por um vocabulário centrado no coloquial fez bem para que a narrativa transpirasse o gênero. Acho que abraçar a vertente e ir nessa direção foi um acerto.

    Enredo – Como citei antes, temos aí um corte de um relacionamento abusivo, focado já numa etapa bastante avançada da agressividade de Nero sobre a esposa, Blanche, herdeira do haras. Não há tempo para muita construção de personagem, de forma que todos são bastante planos e excessivamente estereotipados. Nero é vilanesco e Blanche é a donzela que encontra forças para se rebelar. Os outros personagens aparecem somente como suporte, tal como um núcleo de novela, com o casal principal e seus empregados. Achei que tudo ficou muito raso e superficial.

    Impacto – A intenção desse item é analisar o quanto do conto permaneceu na minha cabeça desde que o li dias atrás. Para o bem ou para o mal. E, aqui, tenho que dizer que seu conto não marcou muita presença, pois acabou não se destacando muito. Credito isso à falta de força do enredo.

    Conclusão – No geral, sempre tento pesar mais os pontos positivos do que os negativos. Mas aqui achei que a soma de um enredo fraco e a falta de adequação ao tema são bastante decepcionantes, e fazem o lado negativo ficar bem mais pesado. Não posso dizer que gostei, infelizmente.

    Bom, é isso. Boa sorte no desafio.

  2. Rodrigo Ortiz Vinholo
    13 de dezembro de 2025
    Avatar de Rodrigo Ortiz Vinholo

    Ótima escrita, muito envolvente, com bons personagens e o típico vilão que gostamos de odiar. Tudo está muito bem construído, bem trabalhado, e a tensão emocional transborda. Nos envolvemos com Blanche, Atlas e os outros, e ficamos na expectativa. A ligação com xadrez sugerida no desafio ficou um tanto solta, para mim… o cavalo e as figuras metafóricas de dama e rei não são tão conectadas assim, e a frase final não bastou, na minha opinião. Independentemente, continua um ótimo conto. Parabéns!

  3. Mariana
    13 de dezembro de 2025
    Avatar de Mariana

    Estou comentando a A – não são comentários tão extensos, mas igualmente cuidadosos.

    O conto tem uma aura de novelão. Blanche me lembrou a Blanche DuBois, da Um Bonde chamado Desejo. É a história de uma mulher cercada pela decadência, um casamento que dá errado (aqui, o dela mesmo), tem o cara malvado e machão e acaba em morte. O xadrez já está presente na figura do cavalo, o quer torna a frase final um tanto desnecessária. No entanto, é um texto interessante. Parabéns pelo trabalho.

  4. Fabio D'Oliveira
    13 de dezembro de 2025
    Avatar de Fabio D'Oliveira

    Buenas!

    O conto está bem escrito e a leitura tranquila. No entanto, não consegui gostar do texto. Achei a história um pouco inconsistente. Nero parece um predador no começo, mas quando é atacado por Blanche e recebe o ultimato, ele parece aceitar a situação. A reação dele é muito passiva para alguém arrogante (até narcisista) e que agredia a esposa. Manter a consistência de um personagem é muito importante. A sequência final me deixou um pouco incrédulo, também. Nero tinha ambições no mundo da equitação. E ele foi apresentado como uma pessoa que usa máscaras para alcançar seus objetivos (o que deixa subentendido que Nero é um personagem inteligente e manipulador). A atitude de usar esporas ilegais numa competição não parece coerente com a personalidade inicial dele. 

    Outra coisa… Na minha concepção, o conto está fora do tema. Sim, eu sei que existem várias referências para as peças do jogo, como os nomes: Nero é o rei, Blanche é a rainha branca, Atlas é o cavalo, Thomas é o peão, etc. E tem o título do conto, que faz referência a uma jogada de xadrez e tem relação com o incidente que matou Nero. Mas não considero que referências bastam para encaixar o conto no tema. Já fiz essa crítica para alguns contos. E tenho certeza que alguns não vão gostar, mas não posso deixar de expressar minha opinião. Tudo o que comento não é por mal. É sincero. Nada é para atacar o autor, nem a obra, é para tentar ajudar de alguma forma. Se minha opinião não cabe, tudo bem. Então leve isso em consideração, rs. É apenas a opinião de uma pessoa, um colega escritor.

    E não se preocupe, o tema não entra na avaliação. Na verdade, todos vão ganhar notas altas, rs. Pra mim, o valor do desafio está exatamente nos comentários. E não se engane sobre minhas críticas. O conto não é ruim, apesar das coisas que me incomodaram. Ele realmente está bem escrito, os diálogos movimentam a histórias e temos passagens bem legais, como a cena em que Blanche alimenta esperanças sobre Nero, de que ele poderia ser uma boa pessoa no fundo. Costumo focar em pontos que acredito que podem ser melhorados. Posso ser ranzinza, mas não tenho a língua ferina.

    Boa sorte no desafio!

  5. leandrobarreiros
    13 de dezembro de 2025
    Avatar de leandrobarreiros

    Achei um conto bem gostoso de ler, o que é um dos aspectos mais importantes em uma história para mim.

    Eu acho que às vezes o texto se vai em um caminho um pouco previsível/caricato. Por exemplo, quando Nero está com Atlas, eu me corrigi na cadeira e me aproximei da tela. Pensei “uau, não esperava isso. O autor(a) vai realmente dar camada pra um abusador fdp? Interessante. Onde isso vai dar?”, mas logo em seguida a gente vê que Nero também era um abusador fdp com o cavalo.

    Não digo que isso é necessariamente um problema. Mas queria pontuar pro autor que o texto está um pouco previsível nesse sentido. A gente tem um fdp sem redenção que, no fim, vai ter que pagar por tudo.

    E funciona.

    Eu quase falei aqui que alguém devia trazer Atlas de volta pra dar mais uma pisada só pra ter certeza de que Nero não voltaria.

    Tem duas passagens que achei um pouco estranhas no texto:

    “Após alguns minutos, Nero levantou-se e, sem proferir uma única palavra, ditou as tarefas do dia. Em seguida, partiram para o torneio.”

    Não consegui entender essa passagem. Ele gesticulou para as pessoas?

    E a última frase, senti que só tá ali pra deixar bem claro que o conto tá no tema. Ficou meio deslocada. Acho que, por exemplo, se fosse um desafio de tema aberto, você não optaria por ela. Acho ela desnecessária, mesmo para esse desafio, você já estava super no tema escrevendo em torno de um cavaleiro, um cavalo e uma dama.

    Ah, outra coisa que me chamou a atenção negativamente foi a quantidade de nomes no início. Algumas pessoas, como eu, são meio burrinhas, e essa quantidade de nomes afasta um pouco. Eu tentaria espaçar um pouco mais a apresentação dos personagens.

  6. Kelly Hatanaka
    12 de dezembro de 2025
    Avatar de Kelly Hatanaka

    Considerações

    Um conto que fez uso interessante do xadrez. É o embate entre Blanche e Nero, resolvido pelo xeque-mate do cavalo Atlas. Uma boa história, com um vilão bom de odiar. A ambientação foi bem construída, mas senti falta de algo mais na história.

    O problema de Blanche é fácil de resolver, é só pedir o divórcio. O que é difícil de entender é o porquê de ela dar um prazo tão grande para a permanência de Nero e permitir que ele fosse à Regional com Atlas, quando ele já mostrara do que era capaz. Houve uma agressão, a ela e ao animal. Era de se esperar que ela determinasse o afastamento imediato de Nero. Mas, enfim, o coração é complicado, apesar de que, no caso, a impressão é de que não havia mais coração nenhum envolvido.

    Havia tanto drama prometido. Nero poderia se rebelar contra a decisão de Blanche e tentar forçar sua permanência. Thomas ou Amelia poderiam tentar resolver o problema para proteger Blanche. Blanche podia perder o controle e se livrar de Nero. Mas não. Ninguém fez nada e tudo se resolveu com um cavalo ex-machina.

    Não ficou ruim, é um bom conto. Mas poderia ter sido mais intenso, dramático.

    Gostei ou não gostei

     Gostei sim, é um bom conto, que poderia ter desenvolvido uma trama mais forte.

    Pitacos não solicitados

     Acabei dando pitacos em Considerações. É isso aí. Na minha opinião, tudo se resolveu muito facilmente com Atlas e a mocinha correu riscos desnecessários, convivendo com um agressor, sem nenhum motivo aparente.

  7. Suzy D. B. Pianucci
    10 de dezembro de 2025
    Avatar de Suzy D. B. Pianucci

    Texto de fácil compreensão, o autor conseguiu despertar emoções como raiva do Nero e piedade do cavalo, o conto consegue mexer com sentimentos do leitor e isso é bom, o desfecho foi violento, mas também, trouxe a vingança que bem lá no fundo todos esperamos para os vilões. Xeque mate literalmente.

  8. claudiaangst
    9 de dezembro de 2025
    Avatar de claudiaangst

    Olá, autor(a), tudo bem?

    O tema proposto pelo desafio foi abordado de forma criativa neste conto. Há várias referências ao jogo de xadrez: o título com o lance “The Knight’s Fork”, o pseudônimo,  Nero (imperador = rei), cavalos, Blanche (que remete à peça rainha branca – aprisionada na torre?), a frase final: “O cavalo dera xeque-mate no Rei Nero.”

    A trama traz a história de um relacionamento abusivo que termina com o pisoteamento de Nero. O cavalo Atlas é o grande vingador, justiceiro, preparado (sela solta) para que o acidente fatal acontecesse.

    Texto bem escrito, não encontrei falhas significativas de revisão.

    Um bom conto, acredito que possa render uma história mais ampla, talvez um romance.

    Parabéns pela sua participação nesta última rodada. Boa sorte!

  9. Pedro Paulo
    9 de dezembro de 2025
    Avatar de Pedro Paulo

    Acho que o conto em si já tem um problema de caracterização superficial: malvadão se disfarça para acessar os bens de família abastada via casamento. É um ponto de partida comum que não é aprofundado para ganhar novas nuances ou se sobressair de qualquer maneira. Os personagens, os diálogos, os acontecimentos e o conflito são todos os que se espera dessa premissa e isso torna a leitura um pouco enfadonha.

    Mas o que realmente prejudica o texto é a circunstância deste certame: lê-se esperando algo de xadrez. O regulamento permite abordagens das mais abrangentes, eu sei, mas aqui o sentimento é que o aproveitamento dessa abertura foi muito tangencial. Há cavalos, fala-se em peões e no final o antagonista é referido como rei, mas exceto por se tratar de um haras, nada do esporte de tabuleiro precisa estar aqui ou realmente motiva o enredo.

    Com mais lapidação, o conto seria melhor. Mas não sei como responderia ao desafio de forma mais satisfatória.

  10. LEO AUGUSTO TARILONTE JUNIOR
    1 de dezembro de 2025
    Avatar de LEO AUGUSTO TARILONTE JUNIOR

    Seu conto ficou excelente. Suas sutis alusões ao jogo de xadrez foram muito bem empregadas e foram suficientes para atender aos requisitos do desafio. Achei muito interessante os nomes dos personagens blush e Nero, aludindo às cores dos dois exércitos do jogo. Também gostei muito da ambientação ao redor da criação de cavalos e das corridas de cavalos. Apresentação da temática da violência doméstica e da violência contra os animais trouxe bastante profundidade a narrativa. Embora a história esteja muito boa não é o meu estilo favorito de leitura. Eu agradeço por você dividir um pouco do seu universo literário comigo. Espero ler outros contos seus nos próximos desafios.

  11. Sarah S Nascimento
    25 de novembro de 2025
    Avatar de Sarah S Nascimento

    Olá! Caramba, teu conto tem um final bem trágico né? Primeiro a gente já vai odiando o filho da puta do Nero, desculpe o palavrão. risos. E a coisa só piora quando ele bate no Atlas do nada. Fiquei com medo que ele fosse matar o cavalo, mas não faria sentido, pois o Nero precisava dele pra competir né? Mas sei lá, vai saber, vingança e tals.
    Depois dele levar uns tapas da esposa ali, pensei que ele ia tirar o que ela mais gostava na fazenda, os animais. Ainda bem que não foi isso!
    Mesmo assim, o fim do cara foi realmente forte. Senti o mesmo que a esposa dele, esse sentimento de não acredito!
    Voltando ali para o meio do conto em si, me chamou a atenção o carinho da protagonista pela Atena e como a moça quase viu o Nero com bons olhos, quando ele tava ali abraçando o Atlas. Foi mesmo tão fofinho, e o momento ali causando a dúvida nela, naquele sentido de que ela podia tá exagerando no julgamento dela para com o marido. Mas aí o Nero foi lá e estragou tudo. Acho que ele agiu daquele jeito por insegurança sobre ele mesmo, nem era por achar o cavalo velho, sei lá. Senti isso.
    Achei seu conto muito bem escrito, bem construído, ele flui bem, passa direitinho as emoções de indignação, raiva e até um pouquinho dessa justiça. O cavalo sofreu na mão do cara e por uma fatalidade o cara sofreu sobre as patas do cavalo, terrivelmente poético. rs.
    Achei muito boa a última frase do conto, mas não entendi o título. Gostei por exemplo das falas: “ele tem o rei na barriga”, ou “ele vai cair do cavalo”, kkkk.
    O nome do cara sendo Nero foi uma sacada ótima, imperador desvairado, risos, muito bom.

  12. marco.saraiva
    23 de novembro de 2025
    Avatar de marco.saraiva

    Acompanhamos Blanche em sua busca por vingança contra o marido abusivo, o acaba acontecendo pelas patas de Atlas, o cavalo que ele montava. A vingança no final tem um gosto doce de perfeição, já que o cavalo apenas reagia à violência do agressor e não teria que passar por nenhum tipo de sistema judiciário para justificar o homicídio.

    Infelizmente, achei o conto um pouco caricato demais. Nero é vilão daqueles que é tão ruim que nem o diabo acredita. Dá tapa em mulher e cavalo, despreza serventes, só quer vencer a qualquer custo. Por outro lado, Blanche é o oposto também caricato demais: a mulher abusada, que ama os animais, inocente, que ama os seus serventes, etc. A falta de nuance infantiliza a narrativa, exige demais da suspensão de descrença.

    O conto também é bastante transparente. Frases explicativas como a que escrevo abaixo são desnecessárias, ao meu ver:

    “Nero se divertia com a sensação de ser o homem da casa e ter o respeito de todos. Contudo, o que ele via como respeito era, de fato, medo.

    Este tipo de explicação não dá espaço para o leitor pensar, e é quase uma afronta ao seu intelecto. De quebra, se você as remove, ainda ganha mais palavras para usar e explorar mais outros temas no conto!

    A escrita é bem feita, redondinha, direta. A abordagem do tema, por outro lado, é bem tênue. A única ligação com o jogo de xadrez é que, aqui, falamos de cavalos, que por acaso é o nome de uma das peças do jogo. Seguindo por esta lógica, Senhor dos Anéis também faria parte do desafio, já que existem reis, cavalos e torres na narrativa (só não passaria no crivo do limite de palavras!).

    Apesar das anotações acima, o conto me entreteve, e, bem ou mal, abri um sorriso ao ver que Nero havia morrido no final. Vai ser tratado direitinho no inferno pelo diabo para o resto da eternidade.

  13. leila patricia de sousa rodrigues
    23 de novembro de 2025
    Avatar de Leila Patrícia

    O conto funciona melhor quando se apoia no que tem de mais concreto: Blanche, os cavalos, o cotidiano do haras. Há firmeza nessas partes, algo que faz a história se sustentar sem esforço. A cena da queda, por exemplo, tem impacto porque a autora descreve o que acontece sem atropelo , e é ali que o texto encontra um momento de verdade mais pura.

    Só que essa força aparece cercada de escolhas que enfraquecem o efeito. Há uma pressa em explicar sentimentos e intenções antes que o leitor tenha chance de perceber por si. Nero poderia ser um antagonista interessante, mas ja surge enquadrado, carimbado, sem contraste, sem gradação. O humor jogado em alguns trechos também não ajuda, porque entra em choque com o tom geral e parece vir de outro conto.

    O texto tem energia, tem movimento, mas às vezes fala mais do que precisa. Se deixasse que certas coisas se mostrassem em vez de serem anunciadas, chegaria muito mais alto.

  14. cyro eduardo fernandes
    17 de novembro de 2025
    Avatar de cyro eduardo fernandes

    Texto de boa técnica, personagens bem definidos. A baixa resistência de Nero ao divórcio soou um pouco estranha. Boa sorte no desafio.

  15. Alexandre Parisi
    15 de novembro de 2025
    Avatar de Alexandre Parisi

    Em uma palavra, um conto intenso. A narrativa prende, principalmente pela tensão crescente entre Blanche, Nero e Atlas. A ambientação no haras funciona bem, e o texto transmite sensação de opressão e perigo desde o início. O que curti: Blanche tem personalidade forte, o vínculo com os cavalos emociona, e o clímax no torneio é cinematográfico. O tema de xadrez aparece de forma metafórica — e até funciona — mas é tão sutil que quase some.

    O que não me agradou tanto: Nero é um vilão bem unidimensional, tão malvado que fica previsível. A resolução é impactante, mas acontece rápido demais, quase um estalar de dedos. Pequenos exageros melodramáticos aparecem aqui e ali. Não notei erros gramaticais graves, só algumas repetições que podem ser enxugadas. No geral, um conto forte, direto e emocionalmente eficiente.

  16. Antonio Stegues Batista
    14 de novembro de 2025
    Avatar de Antonio Stegues Batista

    O conto tem um bom enredo, está bem escrito, o final tem um suspense intenso. Só não entendi o título em inglês se o conto está escrito em português. O nome dos personagens é estrangeiro; Amélia é um nome próprio feminino. Sua forma em inglês provavelmente foi influenciada pelos nomes Amália , derivado da raiz germânica amal , com significados “vigorosa, ativa, trabalhadora”, e Emília , derivado do nome da gens romana Aemili.  Thomas é um nome masculino de origem aramaica . A grafia inglesa Thomas é uma transliteração, através do latim Thomas , da transliteração grega aproximada ( grego antigo : Θωμᾶς , romanizado : Thōmâs ), do aramaico imperial: תאמא , romanizado: Tawmɑʔ ), que significa ” gêmeo “.Nero, Uma das possíveis origens é o nome grego “Neron”, que por sua vez pode ter vindo de “Neiros”, que significa “forte” ou “poderoso”. Outra possível origem é o termo latino “nereus”, que significa “marinho” ou “pertencente ao mar”.

    Blanche é um nome próprio feminino. Significa ” branco ” em francês , derivado da palavra latina tardia “blancus”. Possivelmente se originou como um apelido ou nome descritivo para uma menina com cabelo loiro ou pele extremamente clara .

    O local onde a história se passa não é mencionado, tampouco há indícios da ambientação. Poderia ter sido em Espanha, com personagens espanhóis, naturalmente e o cavalo Andaluz. O cavalo Andaluz é uma das raças mais icônicas do mundo equino, sendo conhecido por sua elegância, resistência e temperamento nobre. Originário da região da Andaluzia, na Espanha, esse cavalo é sinônimo de tradição e história, sendo amplamente admirado por sua beleza e destreza.

  17. Roberto Fernandes
    13 de novembro de 2025
    Avatar de Roberto Fernandes

    É uma historia bem contada, melhoraria se o último parágrafo fosse eliminado.

    Acredito que sendo lapidada e talvez dando mais mistério e tempo ao desfecho, ela pôde melhorar sensivelmente.

  18. toniluismc
    8 de novembro de 2025
    Avatar de toniluismc

    Olá, Anya!

    Li poucos textos, mas o seu foi o melhor até agora, parabéns! Confesso que terei muita dificuldade na atribuição da nota por conta que o tema acabou ficando tangente aqui, mas vamos aos detalhes:

    Técnica

    O que funciona

    • Prosa fluida e envolvente. O texto tem ritmo seguro, cenas claras e transições limpas; a leitura “puxa” naturalmente para a frente.
    • Domínio de cena e diálogo. A relação Blanche–Nero–Thomas está bem montada; diálogos soam orgânicos e dão caráter às vozes (especialmente Amélia e Nero).
    • Foco emocional. A violência doméstica é tratada com seriedade; a empatia por Blanche é construída cedo e sustenta a tensão no torneio.

    O que enfraquece

    • Verossimilhança do clímax. O desfecho depende de uma sequência muito conveniente (uso de esporas não detectado, veterinário que “libera”, arbitragem inoperante) e culmina num “acidente punitivo”. Isso dá sensação de deus ex machina, reduzindo agência da protagonista justo na hora decisiva.
    • Exposição repetitiva de estados internos. Em alguns trechos, você diz e mostra a mesma emoção (“imóvel, como se o tempo tivesse parado…”, “coração anestesiado… alma em silêncio”). Cortes finos ajudariam.
    • Registro às vezes desigual. Há expressões coloquiais (“peoa-mãe”, “reizinho da barriga”) ao lado de passagens mais solenes; funciona para cor local, mas vale calibrar para manter um tom coeso.

    Criatividade

    O que funciona

    • Transposição do “jogo de poder” para o hipismo. A metáfora de domínio/controle casa com o tema dos cavalos; há uma dinâmica de “peças” (funcionários, treinador, público, árbitros) orbitando Nero.
    • Set pieces bem construídos. A cena no estábulo e o torneio têm boa visualidade e tensão progressiva.

    Onde perde força

    • Xadrez como citação, não como estrutura. As menções a “peão”, “rei” e o fechamento “xeque-mate” são ornamentos. A narrativa não opera por princípios do jogo (abertura/meio-jogo/final, táticas, trade-offs, zugzwang, gambito), então o tema fica periférico.
    • Arco de agência. Blanche toma decisões (romper, proteger Atlas), mas o “mate” vem do acaso (o pisoteio), não de uma manobra dela — o que seria o equivalente a um plano tático.

    Impacto

    O que funciona

    • Tensão moral clara. O leitor quer ver Nero responsabilizado; a catarse pública no torneio captura isso.
    • Imagens fortes. A queda e o silêncio do público, o lençol metálico, a retirada de Atlas — tudo fica na cabeça.

    Onde perde força

    • Catarse mais sensorial que ética. Como o fim é acidental, a história alivia, mas não “fecha” tematicamente o conflito (poder, violência, controle).
    • Última frase. O efeito “frase de cartaz” (“O cavalo dera xeque-mate no Rei Nero”) sublinha demais e evidencia que o xadrez não foi motor do enredo.

    Por ser um bom texto, acredito que será bem avaliado, então só me resta agradecer-lhe pela disposição e desejar boa sorte. Abraço!

  19. Martim Butcher Cury
    6 de novembro de 2025
    Avatar de Martim Butcher Cury

    Eu fiquei entusiasmado quando o conto sugeriu que Nero fosse um tirano com nuances, que o amor ao cavalo fosse sincero e a gente tivesse que conviver com esse atributo admirável em um homem horrível. Mas essa possibilidade foi desperdiçada em prol de uma caracterização mais unívoca e achatada. Que o personagem seja grosseiro não implica que o tratamento dado a ele também o seja. Ou, mesmo sendo apenas monstruoso, Nero podia ter detalhes de crueldade mais específicos (me vem à mente Jason – não o mascarado, mas o tirano de O Som e a Fúria). Me parece que essa linearidade de caráter teve consequências no desenvolvimento da trama. Dada a situação terrível, só nos resta torcer. De fato, é só o que a pobre Blanche sabe fazer: gritar e torcer para que um milagre a tire dessa condição. O milagre vem, e até vejo alguma graça no fato de que seu príncipe encantado montado num cavalo branco não é um príncipe, mas o próprio cavalo. Mas o milagre vem sem reviravolta ou contrapartida. Simplesmente acontece o que a gente deseja, e ponto. Reitero meu palpite: apenas o fato de que o amor de Nero pelo cavalo fosse sincero já tornaria as coisas mais problemáticas e interessantes, porque aí o conto teria de haver-se com a psicologia (e a ética!) do cavalo, que, sabendo-se amado por duas pessoas que se odeiam, precisa optar. E se o cavalo também correspondesse em parte a esse amor? A própria Blanche também ganharia uma camada a mais ao ter de lidar com um sentimento ambíguo: desejar a morte de Nero e saber que a consumação desse desejo causaria sofrimento a seu amado Atlas.

  20. Kauana Kempner Diogo
    4 de novembro de 2025
    Avatar de Kauana Kempner Diogo

    A obra costura a linguagem do xadrez e a emocional de forma admirável. A construção do protagonista, preso entre escolhas impossíveis, representa o movimento do cavalo, sempre oblíquo, isso foi trabalhado de uma forma sutil e natural. Além de ter conseguido alternar entre ironia e lirismo. 

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Publicado às 2 de novembro de 2025 por em Liga 2025 - 4A, Liga 2025 - Rodada 4 e marcado .