EntreContos

Detox Literário.

Sem Esperança (Leandro Barreiros)

O estranho sentou em sua mesa.

Gabriel ficou confuso e ameaçou falar alguma coisa. O homem sorriu. Destoava do restante do bar, tanto em elegância quanto em excentricidade. Vestia-se com um terno branco de gravata vermelha. O rosto delicadamente esculpido realçava o cavanhaque perfeitamente desenhado em sintonia com o longo bigode. As mãos seguravam um tabuleiro de xadrez.

– Você conhece a história do rei Iadava?

– O que?

– O rei havia perdido um filho na guerra e, por isso, ficou em depressão. Um homem triste, meu senhor, é um infortúnio. Um rei triste, uma tragédia. A tristeza do rei alcançou o povo, que passou a sofrer com ele.

– Eu acho que você errou de mesa.

– O luto do rei durou meses. A fome se espalhou no reino, tal como as doenças e os castigos. Ah, os castigos. Caíram sobre homens, mulheres e crianças. Qualquer pessoa que fosse vista sorrindo ou que parecesse feliz. Da alegria dessas pessoas viria a tristeza, porque foi o que aconteceu com o rei.

– Amigo, eu não tô interessado.

– Eis que um homem decide acabar com a tirania. Não tinha exército, ou ouro, ou influência. Mas ele tinha uma caixa, como essa, e isso foi tudo o que precisou.

O estranho botou o tabuleiro de xadrez na mesa.

– Ao seu tempo, o homem finalmente conseguiu uma reunião com o rei e disse a ele sobre o jogo que inventou e que ele mesmo era imbatível. O homem sabia que a tristeza do rei só era obscurecida por sua soberba. Assim, o rei desafiou o homem. Se perdesse, daria a ele o que quisesse e, se ganhasse, tomaria a sua vida.

– Mais uma cerveja – Gabriel pediu ao garçom que passava pela mesa.

– Isso pode parecer estranho e estúpido. Por que o rei proporia uma aposta dessas em um jogo inventado pelo seu adversário? Ora, naquela época, os reis acreditavam que eram seres divinos. E, aqui vai um segredo, eles eram mesmo. Mas isso não impediu que nosso herói derrotasse o grande Iadava. E pelo feito ele pediu…

– Um grão de arroz na primeira casa do tabuleiro. E que o arroz fosse dobrado na próxima. E de novo, e de novo, até completar o tabuleiro – disse, bebendo da nova cerveja.

– Precisamente.

– Você sabe que a sua história está toda errada, não é? O rei não atacou o povo. Eles ficaram tristes porque o rei estava triste. E o herói só compartilhou o jogo que tinha criado com o rei para afastar sua tristeza.

O homem riu.

– As histórias se ressignificam com o tempo. O povo estava triste porque o rei fez com que ficassem tristes. Não foi nada além disso.

Ele então colocou a caixa sobre a mesa.

– A questão toda é que, diferente do rei, posso mesmo dar o que você quiser.

Estava a ponto de se levantar quando percebeu que, em toda aquela conversa, nem uma única vez a consciência lhe perturbou. Não era para isso que decidiu beber naquela noite e em todas as outras que a antecederam? Se aquela era a distração que o destino lhe dera, que assim fosse.

– Pode começar pagando a minha conta.

– Um pedido simples. E para mostrar minha boa vontade, não vou pedir nada de você caso perca. Não na primeira partida, pelo menos.

– Não estou preocupado – Gabriel respondeu.

Coube a ele jogar com as brancas e, em pouco tempo, seu peão estava em e4. Seu adversário respondeu prontamente com e5.

– Um começo típico! Que excitante.

Mas Gabriel ignorou-o, movimentando sua rainha rapidamente para h5. O homem trouxe o cavalo para proteger seu peão em C6 e Gabriel prontamente preparou seu bispo em c4. A resposta foi mais um movimento com o cavalo, agora em f6. E tudo estava acabado. Gabriel moveu a rainha para f7.

– Xeque-mate – anunciou.

O estranho deixou escapar um lamento enquanto reposicionava as peças.

– Não se pode ganhar todas – disse o sujeito.

Com um gesto chamou o garçom e anunciou que estaria pagando a conta. Gabriel, por sua vez, anunciou que gostaria da cerveja mais sofisticada, bem como dos petiscos mais caros.

O homem sorriu.

– Assim eu vou a falência hoje. Mas aposta é coisa séria, não é?

– Acho que sim.

– Então, para a próxima partida, agora que vejo que é um jogador experiente, sinto que devo pedir um prêmio caso eu seja vitorioso.

Gabriel tomou um gole da cerveja cara.

– Mais uma vez você pode ter o que pedir, caso ganhe, é claro. E em retorno, caso perca, você só concorda em falar que aceita transferir uma coisa que muita gente nem acredita ser real. Se você perder, você…

– Eu te dou a minha alma? – Se antecipou Gabriel.

O sujeito na cadeira pareceu surpreso.

– Como você…

– Você é o diabo, não é?

– É claro que não! – respondeu o diabo.

– Está tudo bem – Gabriel disse.

Um momento de silêncio inundou a mesa enquanto Gabriel bebia mais um pouco.

– Eu topo.

– Você topa? – o diabo perguntou, inclinando-se sobre a mesa? – Não que eu seja o diabo – disse, recobrando a compostura.

– Eu acho que mereço ir para o inferno, de todo jeito. Então não seria bem uma derrota.

– Então se eu vencer, você dirá que concorda em ter sua alma levada para o inferno. E o que você gostaria, caso vença?

Gabriel baixou o olhar, pensativo.

– Você provavelmente vai deturpar o que eu pedir, não é? Se eu quiser cem milhões, provavelmente vai me dar cem milhos grandes, certo?

– Senhor, isso é um absurdo – disse, ofendido. Ele na verdade daria milhos muito, muito grandes.

Mas Gabriel ignorou a consternação do senhor das trevas. Pensava no que queria. O álcool lhe preparou para aceitar o absurdo, mas não ajudava a organizar os pensamentos. Desejava poder? Queria esquecer de vez? Talvez, quisesse mudar. Pensou por minutos. Enfim, ergueu a cabeça.

– Eu sei o que quero.

– Estou ouvindo.

– Se eu ganhar, quero que me responda uma pergunta. E quero que seja honesto.

O diabo sorriu.

– Foi a primeira vez que ouvi essa. Obrigado por isso.

Ele pegou uma das batatas que vieram com o petisco. Mordeu-a e, logo em seguida, usou um guardanapo.

– Mesmo se eu vencer, vou responder sua pergunta antes que cumpra sua promessa.

Apertaram as mãos para selar o acordo.

– Devo lhe dizer que, desta vez, estarei jogando sério.

– Quão bom você é de verdade? – Gabriel perguntou.

– Eu sei como mover o cavalo – o diabo gracejou.

Gabriel teve novamente as brancas.

Moveu seu peão em e4. Respondeu com seu próprio peão em e5, como antes.

Gabriel seguiu com o mesmo plano e posicionou sua rainha em h5.

O diabo sorriu.

– Não pense que não aprendi a lição – e, dizendo isso, moveu seu peão para ameaçar a rainha e expulsá-la de posição tão perigosa. Gabriel moveu-a para o meio do tabuleiro.

– Xeque – Anunciou.

– Caralho – praguejou o diabo.

Ele ficou olhando o tabuleiro por um tempo, buscando a melhor jogada possível.

– Eu achei que você fosse melhor nesse jogo – comentou Gabriel.

– Somos dois – respondeu o diabo.

Seguiram-se mais alguns movimentos. Mas àquela altura o vencedor já estava claro. O diabo já havia perdido peões, sua torre e cavalo, enquanto Gabriel mantinha todas as suas peças.

– É a primeira vez que desafia alguém que está aqui?

Ele fez que sim com a cabeça.

– Geralmente jogo damas por aqui. Ou truco, sou muito bom no truco – vangloriou-se.

– Xeque-mate – anunciou Gabriel.

O Senhor dos Abismos suspirou.

– Faça sua pergunta.

Gabriel reclinou-se para trás e deu um gole longo na cerveja.

– Meu pai está no inferno?

Lúcifer inclinou-se do mesmo modo e fitou Gabriel nos olhos. Então, balançou a cabeça.

– Está. Sim, ele está.

– Ótimo.

O diabo fez que sim com a cabeça.

– Quer outra partida?

– Não acho que desejo mais nada.

– Pode decidir seu prêmio enquanto joga.

Gabriel concordou e prepararam as peças. Ele utilizou a mesma abertura.

– Às vezes eu queria que meu Pai também pudesse ser castigado – disse o diabo, introspectivo.

Gabriel seguiu com a mesma estratégia. Sua rainha ocupava h5 e seu bispo, em breve, estaria em c4.

– Não é por isso que você faz isso?

Lúcifer ergueu a cabeça em estalo, quase como se tivesse esquecido que Gabriel estava ali.

– Eu faço o que?

– Tenta as pessoas para que pequem. Tirar elas de Deus para que ele fique triste.

O diabo estava prestes a tocar seu cavalo, mas Gabriel pigarreou.

– Use o outro cavalo. Sua prioridade aqui é proteger seu peão no meio.

O diabo olhou para o tabuleiro de novo e pensou por um tempo. Enfim, seguiu o conselho de Gabriel.

– Eu costumava fazer isso.

– O que?

– Tentava levar a alma das pessoas para o inferno. Mas há muito tempo parei com isso, também.

Gabriel tentou mais um movimento agressivo com a rainha. Mas o diabo, após pensar um pouco, conseguiu repelir o ataque.

– Não é isso que você está tentando fazer agora?

– O que?

– Levar a minha alma?

O diabo ergueu os olhos do tabuleiro e encarou Gabriel, um pouco surpreso. Então, fitou mais uma vez o jogo, sem dizer nada.

Peões e cavalos caíram enquanto torres avançavam. Por um bom tempo, ambos jogadores ficaram em silêncio, até Gabriel rompê-lo.

– Acho que sei a minha próxima pergunta.

– Bom, eu ainda não perdi. E tenho um plano.

– Xeque-mate – anunciou Gabriel.

O diabo precisou de algum tempo para confirmar que de fato havia perdido.

– Cacete. Tudo bem. Qual é a sua pergunta?

Mais uma vez Gabriel tomou um gole da cerveja.

– Você disse que faz tempo que não busca almas para o inferno. Mas também disse que se eu perdesse eu deveria concordar em perder a minha. Não que eu perderia a minha alma, mas que eu diria que concordo.

O diabo fez que sim com a cabeça. Parecia triste.

– Eu já estou condenado ao inferno?

Lúcifer desviou o olhar. Começou a arrumar novamente as peças no tabuleiro.

– Sinto muito – disse, por fim.

Começaram outra partida. Gabriel percebeu que achar que merecia um castigo e saber que o receberia eram coisas completamente diferentes. Precisou enxugar os olhos algumas vezes, entre os movimentos.

– Foi pelo que fiz ao meu filho? – perguntou, enquanto movia seu bispo. Assim que concluiu a jogada, percebeu que deixara um cavalo desprotegido.

O diabo analisava o tabuleiro.

– Eu não sei – respondeu. Movimentou sua rainha em direção ao meio do tabuleiro, sem atacar o cavalo.

– Como não sabe? – perguntou, posicionando o cavalo em um lugar seguro.

O diabo estalou a língua percebendo que perdeu a oportunidade de capturar aquela peça.

– Não sou eu quem julga as pessoas. É meu Pai.

– Mas se é seu Pai quem julga, e eu ainda estou vivo, como pode ter certeza que eu vou para o inferno?

O diabo encarou-o por um instante e Gabriel viu que ele pesava se deveria continuar a conversa ou não. No fim, o diabo baixou os olhos para o tabuleiro e fez seu movimento, agora tomando uma postura mais defensiva.

Gabriel reposicionou sua torre, ameaçando um eventual xeque-mate em três rodadas.

– Eu fui injusto com meu filho. Mas não como meu pai foi comigo. Não. Nem perto daquilo.

O diabo concordou.

– É engraçado como as coisas são.

– Do que está falando?

– Somos muito parecidos, apesar de diferentes. Enfrentamos problemas similares com os nossos pais, por exemplo.

– Similares?

– Sim. O meu Pai me fez a criatura mais bela e perfeita da criação. Cantou para mim sobre como eu era maravilhoso. Mas, no fim, disse que amava a sua nova criação, vocês, tanto quanto a mim. E o seu pai, por sua vez, te violentou analmente por dois anos.

Dito isso, moveu seu rei para fora de perigo.

– Eu não acho que essa comparação é tão boa quanto você pensa.

Gabriel manteve a pressão sobre o ataque.

– Não é assim tão diferente – respondeu o diabo, tentando mais uma vez escapar com o seu rei.

– É sim. Xeque.

O diabo encarou o tabuleiro. Levou a mão ao queixo enquanto tentava calcular a melhor saída.

– De todo modo, não merecíamos o que aconteceu conosco. E, no fim, estamos todos condenados do mesmo jeito.

O diabo moveu seu rei para a casa ao lado.

Gabriel estava prestes a avançar com a rainha. Mas hesitou.

– Não estamos todos condenados. Meu filho não está condenado. É uma criança. Ainda há tempo pra ele.

O diabo não ergueu o rosto.

– Não é?

Silêncio.

Gabriel avançou com a rainha. O diabo bloqueou-a com a torre. Ele trouxe sua própria. O diabo moveu o rei.

– Xeque-mate – anunciou o homem. E o diabo bufou. – Meu filho. Ele não está condenado, certo? Há esperança para ele, não é?

O diabo reclinou-se e lançou um olhar pelo salão.

– Não existe esperança, Gabriel.

Ele sorveu a informação afundando-se na cadeira. Não fazia sentido. Nada fazia sentido.

– Está ficando tarde. Queria de verdade que nosso encontro tivesse sido divertido. Sinto muito por isso.

– Eu não entendo.

– Eu sei.

O diabo começou a guardar as peças, mas Gabriel alcançou suas mãos. Eram quentes.

– Me explique, então.

E ele viu o cansaço nos olhos do anjo caído. Éons de solidão, tristeza e amargura.

– Mais um jogo – pediu.

O diabo fez que não.

– Está tarde.

– Mais um jogo. Você me deve isso – insistiu.

Contrariado, o Príncipe das Trevas começou a recolocar as peças no tabuleiro.

– Vai pedir que eu te explique se vencer?

Gabriel não respondeu. Estava concentrado. Moveu mais uma vez seu peão em direção ao centro. 

– Você não sente que falta algo? – O diabo perguntou.

– Onde?

– No mundo.

Em ambos os lados, as peças estavam desenvolvidas. Gabriel movia os bispos atrás de suas linhas, esperando que seu adversário cometesse um erro grave por sua impaciência.

– Sempre que as pessoas reclamam do mundo elas falam do que existe, entende? Falam da fome, das doenças,das guerras. Falam do que há e não do que se esvai.

O diabo, dessa vez, parecia mais cauteloso. Explorava pequenas aberturas. Jogadas tímidas que não lhe comprometessem.

– O que falta, então?

O diabo avançou com seu bispo. De repente, Gabriel percebeu que perderia seu cavalo em três rodadas.

– Amor. É engraçado como vocês não percebem. O amor deixou o seu mundo.

Resolveu aceitar a perda do cavalo. Poderia, ao menos, tomar dois peões. 

– Isso não é verdade – disse, enquanto avançava na diagonal direita do tabuleiro.

O diabo não parecia impressionado.

– Você ama seu filho?

A resposta demorou mais do que deveria. Ele queria dizer que sim, mas então percebeu que não sabia exatamente o que era amar.

– Há lembranças, ainda. Brasas de uma fogueira que um dia ardeu infinitamente. Mas só brasas. O amor se esvai e vocês não percebem. E querem salvação.

O diabo reposicionou sua rainha. 

– Então é isso. Não nos amamos o bastante e por isso não merecemos salvação. Você ainda odeia a gente, não é?

Gabriel tomou o segundo peão. Seu adversário, contudo, ignorou o cavalo, flanqueando um ataque na esquerda e ameaçando sua torre. Ele não previra isso.

– Não. Você não entendeu. 

Ele tentou proteger a torre. Dessa vez, o diabo tomou seu cavalo.

– Tenho dó de vocês.

Então, percebeu que sua torre continuava ameaçada. E precisaria sacrificá-la para prolongar o jogo. Se não o fizesse, o diabo poderia lhe dar xeque-mate em duas rodadas. Deixou a torre exposta. O diabo a tomou.

– Não quero sua pena. Quero respostas. Por que meu filho está condenado?

Estava irritado. Tentou reorganizar os pensamentos. A partida seguia um padrão muito claro. Naquele ritmo, perderia. Decidiu, então, tentar algo novo. Tirou o rei da segurança. Avançaria com ele e seus peões.

O diabo, pela primeira vez naquela partida, precisou de tempo para pensar seu próximo movimento. Levou a rainha para o flanco esquerdo.

– Porque o amor deixou seu mundo.

Gabriel respondeu movendo sua torre restante pela direita.

Rainha para o centro. Rei avança. Bispo para o flanco esquerdo. Torre protege o rei. Rainha devora bispo. Peão avança. Rainha se reposiciona. E Gabriel tem um lampejo.

– A história sobre o rei é verdade?

O diabo fez que sim.

– Ele espalhou a miséria entre o povo?

– É o que os reis fazem quando ficam irritados. Xeque – anunciou o diabo, pela primeira vez.

Gabriel pousou o queixo sobre as mãos enquanto olhava para o tabuleiro. Não pensava no jogo, contudo. Lembrava da história do rei Iadava. E então entendeu porque seu filho estava condenado. Ele moveu seu rei, avançando com ele ainda mais e deixando sua última torre exposta.

– Não sou eu ou meu filho que estão condenados. Somos nós. Todos nós.

O diabo concordou com um suspiro.

– Meu Pai deixou seu mundo. A luz que ele carregava se esvai e o brilho do que ofereceu a vocês é apenas uma memória que um dia será para sempre escuridão. Não há esperança. Não desde que vocês mataram o filho dele. Ninguém pisa no céu desde então.

– Mas… Jesus morreu pelos nossos pecados, não foi isso?

Ele fez que não.

– As histórias se ressignificam. Jesus não morreu pelos seus pecados. Morreu porque vocês são o pecado. Ou assim meu Pai entendeu. Não há retorno. Não há mais chances. Eu sou o que resta. E o inferno é para onde irão durante a eternidade. E o que resta a mim é tentar me entreter sabendo que nem mesmo posso magoar meu Pai através de vocês, porque sua danação é o que Ele espera. Não há esperanças para vocês. Ou para mim. De novo, sinto muito.

E, dizendo isso, Lúcifer tomou a última torre de Gabriel.

Gabriel alcançou a caneca, mas se interrompeu antes de beber. Ficou absorto por um tempo, pensando no que ouvira. Enfim, falou.

– Talvez não haja esperança. Mas a eternidade parece muito tempo. E se ele mudou de ideia uma vez, talvez possa mudar de novo.

O diabo ofereceu um sorriso triste.

Gabriel avançou com um peão.

– Xeque-mate – anunciou.

O diabo, agora, parecia realmente em choque. Quase não havia peças brancas restantes. Jamais imaginou que um xeque-mate com peões era algo possível.

– Fascinante – disse. – Bom, você não precisou de mim para a última pergunta. Suponho que possa fazer outro desejo.

Gabriel pensou por um instante.

– Gostaria de jogar novamente amanhã – disse.

E o diabo sorriu.

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22 comentários em “Sem Esperança (Leandro Barreiros)

  1. Sarah S Nascimento
    14 de dezembro de 2025
    Avatar de Sarah S Nascimento

    Olá! Esse negócio de ler contos aqui é sempre perigoso. Algum conto me incomoda tão profundamente, me questiona, me faz refletir, me faz chorar. Seu conto me deixou triste, me deixou triste de verdade.
    Falando do enredo, achei engraçado o diabo xingando. risos. Gabriel foi um nome legal que escolheu, remete ao anjo suponho. Essa coisa meio cíclica foi bastante original e encaixa bem no conto como um todo. Gabriel teve um pai horrível, Gabriel se distanciou do filho, o anjo caído tem as questões dele também.
    Mas eu chorei e ainda tenho lágrimas nos meus olhos porque seu conto me fez pensar numa possibilidade muito muito ruim. Se for parar pra pensar, estou igual ao Gabriel quando ele soube que iria de fato para junto do anjo caído nos domínios dele. Desculpa, eu acho que não é o lugar pra eu despejar minhas crenças.
    O que importa é a sua história e ela foi muito bem escrita. A abertura com a história do rei, o modo como o Gabriel o ignora no início. Seus diálogos são primorosos, rápidos, cheios de subtexto no conto todo sabe? Foi uma escrita excelente.

  2. Thales Soares
    13 de dezembro de 2025
    Avatar de Thales Soares

    O autor deste conto certamente é o Leandro! Isso eu posso cravar. O cara é um mestre em escrever diálogos com embates entre dois personagens. Uma funcionária com o CEO da empresa, um gênio com uma velha, um homem dono de uma caixa misteriosa com uma mulher sem escrúpulos. E agora temos um rapaz com o diabo. Sempre, em todo desafio, este autor apresenta a melhor sequência de diálogos do certame! Eles não só são divertidos e extremamente naturais, como também são inteligentes, com muitas piadas sutis.

    Este conto pega o clichê máximo deste desafio, que seria uma pessoa jogando xadrez contra uma criatura sobrenatural (quase todo mundo na B fez isso). Mas… a maneira como a linha narrativa conduz o leitor é supreendentemente divertida! Me senti fisgado durante toda a história. Gostei, inclusive, da menção do diabo à lenda da criação do xadrez, e foi bacana como esse assunto foi retomado ao final da história, para justificar porque o diabo aceitou apostar o toba numa partida de xadrez mesmo sem saber jogar direito.

    Inicialmente fiquei com medo de este conto ficar parecido demais com a história do Rangel do desafio de fanfic, Xadrez com o Diabo. Aliás… aquele conto do Rangel foi tão bom que, antes mesmo deste desafio se iniciar, ele subiu muito a régua para todos os contos que viriam a acontecer na última etapa da Liga. O Sem Esperança, porém, tomou o seu próprio caminho, e abordou este mesmo assunto, este mesmo plot, de forma surpreendentemente única e engraçada.

    A única coisa que desgostei aqui foi o final. Até a última linha eu estava achando que o diabo estava enganando o protagonista, e que então haveria um plot twist e ele ia mostrar que fodeu totalmente com o protagonista (mas do que o próprio pai dele, quando ele era criança)! Mas… não. O diabo apenas virou amiguinho do cara. Isso para mim foi bastante decepcionante. Isso por conta do arquétipo do diabo (que foi uma discussão na época do conto do Rangel)… o diabo é uma figura marcada por suas características fortes, como o fato de ele ser astuto, maligno, embusteiro, não confiável. E aqui… ele se comporta como uma criança (pelo menos, na minha interpretação da coisa). Ele pareceu não ter nenhuma carta na manga. Mais que isso… ele pareceu não ter motivação nenhuma para estar tendo essa partida de xadrez com o protagonista, já que ele estava pouco se fodendo se ia roubar a alma do rapaz ou não.

    Porém…. mesmo com esse problema que eu citei… o conto ainda é brilhante! Eu me diverti muito lendo, e certamente está entre os meus favoritos deste desafio.

  3. Mauro Dillmann
    13 de dezembro de 2025
    Avatar de Mauro Dillmann

    Gabriel, o jogo, a figura do diabo, segundo o narrador. Uma fantasia. Um personagem “diferente” que lá pelas tantas solta um “caralho”.

    Enquanto leitor acho que o conto foi prolixo em algumas passagens, em especial nos diálogos. É super explicativo. E me cansou um pouco.

    O texto não está carregado de adjetivos e advérbios. Mas já no segundo parágrafo, e na mesma frase, aparecem ‘delicadamente’ e ‘perfeitamente’. Soou demais.

    Haveria de fazer uma revisão: “O que?” [quê]

    Um conto que tem algum humor, ou parece esperar promover o humor, o que é notável quando o narrador refere o diabo.

    Parabéns!

  4. Fabio Baptista
    13 de dezembro de 2025
    Avatar de Fabio Baptista

    Homem joga xadrez com o diabo e descobrindo a real sobre o mundo.

    Esse foi meu conto preferido do desafio, um dos poucos que li com prazer. Infelizmente perdi muito do gosto pela leitura ultimamente (bom, talvez não só pela leitura) e é bem revigorante encontrar textos que motivam a avançar nos parágrafos. Não há nada genial aqui, nenhum conceito revolucionário ou ideia que vai mudar o mundo. Mas às vezes esquecemos que tudo que se precisa fazer é contar uma boa história de um jeito que instigue o leitor a continuar. E esse diabo ruim de xadrez certamente conseguiu isso.

    ÓTIMO

  5. Thaís Henriques
    13 de dezembro de 2025
    Avatar de Thaís Henriques

    Poderia deixar um palavrão aqui, tamanha a minha admiração pela história e como foi escrita. PARABÉNS é o que posso deixar. Puxa vida, que texto, senhores!

  6. Bia Machado
    12 de dezembro de 2025
    Avatar de Bia Machado

    Olá, Diabo, tudo bem? Sim, definitivamente é o diabo! Seguem alguns comentários sobre a minha leitura do seu texto.

    Desenvolvimento (1,0/1,0): Estrutura clara, com tom sombrio. Uma leitura como se a respiração estivesse em suspenso. Muito instigante e que me fez ler de uma vez só, prendendo minha atenção.

    Pontos fortes (1,0/1,0): Atmosfera pesada e um tom de provocação. Um personagem parece complementar o outro, não sei explicar. A narrativa que não entrega tudo de uma vez, vai mantendo o suspense e onde sobra até espaço para um momento de humor.

    Adequação ao tema (0,5/0,5): O xadrez é metáfora de desespero. Totalmente adequado ao tema.

    Gramática (0,5/0,5): Boa. Só vi um ponto de interrogação que não deveria existir, em um trecho do narrador. E acho que o “analmente” foi desnecessário.

    Emoção (2,0/2,0): Gostei muito! Apesar de 19 minutos de leitura, eu leria dez vezes mais que isso para saber mais da história dos dois, inclusive.

  7. Amanda Gomez
    12 de dezembro de 2025
    Avatar de Amanda Gomez

    Oi, bem ?

    Achei o conto interessante pela proposta de usar Deus e o diabo de um jeito diferente. A ideia de colocar uma conversa num bar entre Gabriel e uma figura que se recusa a ser chamada de diabo é boa e os diálogos são fluidos.

    Mesmo com reviravoltas como a aposta da alma e as reflexões sobre culpa, amor e condenação, o texto foi se arrastando e não me prendeu emocionalmente, porque no fim a resolução parecia mais um passeio de ideias do que uma transformação do personagem.

    A conversa filosófica tem seus momentos. No geral, reconheço a intenção e alguns elementos são bons, mas faltou mais profundidade e um sentido de propósito que me faça lembrar do conto depois de fechar a página.

    No mais, um bom texto.

    Boa sorte no desafio!

  8. danielreis1973
    10 de dezembro de 2025
    Avatar de danielreis1973

    Sem Esperança (Definitivamente não o diabo)

    Esse seu conto me lembrou da história do sujeito que era tão viciado em bebida que, não tendo dinheiro, afirmou no bar que seria capaz de dar a alma por um trago. O homem bem vestido, terno branco, chapéu, se oferece para pagar e ele prontamente aceita. Quando vai sair do estabelecimento, vem a cobrança – como assim? –  ele pergunta. E homem tira o chapéu, mostrando os chifres pontudos, no que ele imediatamente ele relaxa: “porra, gaúcho, que susto que você me deu!” 

    Brincadeira à parte, neste desafio tivemos vários contos com esse pegada, justamente um desafio no desafio xadrez. E isso meio que prejudicou a todos, pois a comparação fica inevitável. O conto é bom, como narrativa, mas não se destaca em originalidade ou surpresa.

    Agora, tendo a concordar com observação de colegas no Whats – eita diabo ruim de xadrez!

    PONTOS POSITIVOS

     Diálogos afiados: apesar do conto ser longo, a alternância entre diálogos rápidos e jogadas de xadrez mantém o fluxo tenso, com humor.

    O tema evidentemente está ali: cada jogo é um interrogatório espiritual, cada movimento é reflexão, cada xeque expõe uma ferida. O xadrez organiza a narrativa sem ficar pedante.

    O antagonista se destaca, sendo o diabo não um o vilão caricatural, mas uma criatura exausta, irônica, ressentida, elegante, às vezes quase humana — um antagonista com profundidade e ambiguidade.

    Humor na medida certa: o “não que eu seja o diabo”, “milhos muito grandes”, são pequenos respiros que ajudam na leitura.

     PONTOS A MELHORAR

    Poderia ser mais conciso. Há momentos em que diálogos se repetem em função, especialmente nas aberturas de xadrez repetidas, e alguns trechos poderiam ser condensados.

    Achei alguns monólogos do diabo são longos e explicativos demais.

    Há trechos em que as revelações sobre o pai e o filho se encaixam de maneira muito direta no discurso metafísico, quase como peças “forçadas ali”.

     Trechos com abuso paterno e filiação exigem cuidado, pois são temas sensíveis para algumas pessoas. Não estão na história gratuitamente, mas sempre vale revisar para garantir.

    Sucesso no desafio!

  9. Fabiano Dexter
    9 de dezembro de 2025
    Avatar de Fabiano Dexter

    História

    Uma história muito interessante sobre uma relação entre um jovem, Gabriel, e o Diabo. Eles passam a jogar Xadrez com uma certa frequência e, pouco a pouco, Gabriel vai se conhecendo cada vez mais e entendendo mais sobre o mundo, ou pelo menos pela visão do Diabo sobre o mundo.

    Tema

    O Xadrez com o Diabo não é original, mas aqui foi muito bem explorado justamente pelo fato de que o foco dele não é em vencer a partida ou conquistar a alma de Gabriel pelo jogo, ele a conquista justamente perdendo as partidas e deixando que ele se exponha.

    Construção

    Diálogos fluidos e verossímeis, que são a base do conto, intercalando com as partidas de Xadrez.

    Impacto

    Conto muito bom! Algo que eu gostaria de ter escrito.

  10. cyro eduardo fernandes
    9 de dezembro de 2025
    Avatar de cyro eduardo fernandes

    Excelente conto. Ousado e bem escrito foi nos limites da pretensão. Parabéns! O viés amargo vem com um realismo crítico bem construído.

  11. Jorge Santos
    8 de dezembro de 2025
    Avatar de Jorge Santos

    Interessante com o pseudónimo define o conto. “Definitivamente não o diabo” é, no fim de contas, uma mentira, porque o Diabo aparece no conto, a jogar xadrez com um mortal, e a perder num jogo onde o mortal apenas tem peões. O que é, para quem conhecer o jogo, altamente improvável. Ou melhor, outra mentira. Parece que o Diabo desempenha aqui um papel importante, o de inspirar o autor. A conclusão é inesperada: o mortal não perde o jogo, e deseja voltar a jogar. E gostar de jogar com a morte é, no fundo, aquilo que nos define como humanos. Daí o definitivo do nome do pseudónimo.

  12. Pedro Paulo
    7 de dezembro de 2025
    Avatar de Pedro Paulo

    Esplêndido. Como verá ao serem reveladas as autorias, também escrevi um conto pautado pelo diálogo entre dois enxadristas. Como Rangel fez essa abordagem do encontro entre o humano e uma entidade metafísica neste ano, descartei a ideia de escrever uma partida de xadrez entre uma pessoa e a morte ou qualquer coisa do tipo. Imaginei que já teria a melhor abordagem nesta liga, mas cá estamos com este conto maravilhoso cujo diálogo afiado cativa a leitura e cada partida revela uma mudança da relação e das posições dos dois personagens, conforme a conversa acrescenta camadas e desvela os abismos de cada um dos interlocutores, inclusive o que todos pensam conhecer. O diálogo soa crível, orgânico, bem-humorado, mas também grave, principalmente próximo ao final, quando toma proporções mais existencialistas. Partir da origem mítica do esporte também foi um acerto, dando mais espaço para o xadrez no conto para além de usá-lo como intermédio da conversa dos dois. Excelente conto!

  13. Priscila Pereira
    25 de novembro de 2025
    Avatar de Priscila Pereira

    Olá, Não o diabo! Tudo bem? (Gostei do pseudônimo 😆)

    Seu conto me deixou triste…

    Um conto totalmente desprovido de esperança, como bem o título já diz. É uma visão muito pessimista e insuportável da vida que espero do fundo do meu coração que não reflita a visão de vida do autor. Sobre o conto em si, é muito bom, a escrita fluída, direta e simples, o diálogo extremamente ágil e natural, as ideias bem colocadas e (apesar de erradas) convincentes dentro do texto.

    Não posso dizer que gostei do conto, me desculpe. Ele vai contra minhas crenças. Se bem que levando em consideração que o diabo é o pai da mentira e tudo que ele diz é falso, então sob esse ponto de vista o conto funciona.

    Não sei o que pensar sobre a caracterização do diabo, porque se o intuito era enganar o cara pra levar a alma dele, então está boa, parecendo piedoso, empático e até meio pateta no jogo. Agora, se ele estava falando a verdade e sendo sincero, então você o retratou de uma forma muito bobinha… até brinquei no grupo que se o diabo de verdade visse como você o retratou, iria ficar furioso e iria querer levar sua alma🫢

    Então, seu conto não me conquistou. Mas não posso negar a qualidade dele.

    Parabéns pelo conto!

    Boa sorte no desafio!

    Até mais!

  14. Thiago Amaral
    23 de novembro de 2025
    Avatar de Thiago Amaral

    Errata: Enquanto escrevia o comentário, percebi que não lembrava do nome do conto “As Sombras Crescem e Consomem”, escrevi de qualquer jeito e ia dar uma olhada depois, mas esqueci e enviei…. fica aqui o título correto

  15. Thiago Amaral
    23 de novembro de 2025
    Avatar de Thiago Amaral

    Acabei lendo esse conto aqui por recomendação do Luis Guilherme.

    Como ele já havia me dito que suspeitava ser do Leandro, me influenciou enquanto eu lia, e vi várias ligações com outros contos dele, como aquele do Gênio e Quando as Sombras. Temos aqui também um personagem “pessoa normal” que se encontra em situação de regras sobrenaturais, as quais são subvertidas de maneira divertida e para a surpresa do leitor. Mais uma vez, a personagem é mais esperta que o clichê de terror na história. E aqui funciona mais uma vez.

    Temos então uma história que traz uma perspectiva nova para mim à batida história de céu e inferno, onde Deus abandona sua criação (isso já não tão original, já existente em Preacher), resultando em todo mundo ser automaticamente condenado ao inferno. É uma ideia interessante, um terror existencial que criativo e que pode ser explorado ainda em outras histórias. Como cereja do bolo, a possibilidade de redenção da humanidade é deixada ao final, conferindo beleza filosófica e poética ao conto.

    Quanto à polêmica infeliz do diabo, não achei tão forte ou destoada assim. Como o próprio Gabriel comenta, não é uma comparação muito boa, e acho que não prejudica o conto de maneira alguma. Não sei se me saltaria aos olhos se eu tivesse lido sem saber o que viria.

    Bom trabalho, e até a próxima!!

  16. Gustavo Araujo
    17 de novembro de 2025
    Avatar de Gustavo Araujo

    Quando vi que o diabo era ruim no xadrez e que jamais conseguiria vencer uma partida de Gabriel pensei que o conto enveredaria pela comédia. O início apontava para isso: uma comédia inteligente. Mas essa expectativa não se confirmou. Sim, o texto é inteligente, mas não há comédia e isso, devo admitir, me frustrou um tanto. Os diálogos entre os personagens são interessantes e, na maior parte das vezes, são bem escritos, como se dois amigos travassem duelos sucessivos de xadrez em meio a divagações filosóficas sobre o sentido da vida, pecados e arrependimentos. Bacana, mas não envolvente, não cativante, sinto dizer, especialmente em direção à parte final, em que a remissão dos pecados por Cristo é debatida.

    O tom filosófico, a que me referi há pouco, é suplantado no quarto final da história, dando lugar a um debate religioso que, a meu ver, fugiu do tom empregado lá no início e que se mantinha até ali. Enfim, talvez seja apenas frustração deste leitor pelo rumo adotado na narração. Não se cumpriu a expectativa que criei, de uma comédia ou mesmo de um diálogo sobre o sentido de tudo. Claro, você, caro(a) autor(a) não tem culpa disso, mas no fim não consegui nem rir nem me pôr a pensar, preso que fiquei à discussão bíblica que, a mim, não interessa tanto assim.

    De todo modo, é uma aposta válida. Tenho certeza de que outros leitores poderão aproveitar melhor este conto. Parabéns e boa sorte no desafio.

  17. Kelly Hatanaka
    12 de novembro de 2025
    Avatar de Kelly Hatanaka

    Considerações

    Um diabo despreparado tenta ganhar a alma de Gabriel através de um jogo de xadrez. Ao menos é o que parece ser, afinal, esse é o plot de quase todas as histórias sobre o diabo. Só que aqui vamos aprendendo que, de acordo com o capiroto, todos já estão condenados porque o amor saiu do mundo depois que Jesus foi morto.

    Neste caso, o que ele faz ali, jogando com Gabriel?

    Este é o ponto alto deste conto: a dúvida. Afinal, se tem um personagem não confiável, esse é o diabo. Ele é a própria mentira. Neste caso, ele está mentindo? Ou a eternidade é mesmo muito solitária?

    O diabo não parece muito empenhado em vencer. Se quisesse mesmo vencer, teria escolhido um jogo em que fosse melhor. Banco Imobiliário, sei lá… Ele parece estar somente procurando companhia para jogar. Ou, será esta uma de suas artimanhas?

    O final também é dúbio. Afinal, o que pensar de “E o diabo sorriu”? Pensando em um parceiro de xadrez, é uma imagem reconfortante. Uma amizade que se estabelece, uma parceria nascendo, uma boa companhia para jogar. Mas é o diabo, então a imagem evoca outras coisas: uma manipulação que deu certo, uma mentira que venceu, uma alma a mais indo para o inferno.

    Gostei ou não gostei

     Gostei muito.

    É um conto instigante e bem escrito, com toques leves de humor e que deixa a cabeça do leitor cheia de questionamentos. Será verdade o que disse o diabo? Ora, mas veja só essa frase, se faz sentido? Claro que não é verdade. Ou será?

    Pitacos não solicitados

    Bom, antes de mais nada, o tal “violentou analmente” que causou certa celeuma no grupo do Whatsapp. Minha opinião: o “analmente” sobrou na frase e diminuiu o impacto

    E, por fim, eu ia dizer que seria bom que o diabo fosse um pouquinho melhor no xadrez, afinal, ele não foi páreo para Gabriel em nenhum momento. Mas, me ocorreu que isso seja proposital. O diabo perder tão feio num jogo que ele mesmo escolheu parece ser uma artimanha e esta parece ter funcionado, uma vez que Gabriel quis continuar jogando no dia seguinte.  E o diabo sorriu.

  18. andersondopradosilva
    10 de novembro de 2025
    Avatar de andersondopradosilva

    Olá, autor.

    Autor, eu queria ter gostado mais do seu conto. Não é que eu não tenha gostado! Porque eu gostei! Mas queria ter gostado ainda mais! Vamos aos motivos, mais ou menos na ordem em que foram surgindo no texto.

    Me causou estranhamento o Diabo escolher aquele homem naquele bar. Por que ele? Não consegui enveredar pela suspensão de descrença.

    Me causou estranhamento o Diabo não saber jogar xadrez. Ele não possui poderes sobrenaturais? Não é fodão? Então por que não ser fodão no xadrez também?

    Observei que você não grafou a palavra “que” com acento em diversos finais de frase… Isso não estaria errado?

    Julguei de extremo mau-gosto a comparação da relação do Diabo e Deus com o protagonista e o estupro paterno por dois anos. Faltou preparo prévio para a apresentação dessa informação. O texto mudou de tom.

    A releitura bíblica sobre a ausência de salvação não me agradou, pois me soou de todo carente de fundamento, mas essa é uma opinião extremamente pessoal e totalmente fundamentada na minha formação cristã (portanto, ignore).

    No mais, julguei seu texto correto, coeso, fluido e perspicaz.

    Nota 4,4.

  19. Antonio Stegues Batista
    8 de novembro de 2025
    Avatar de Antonio Stegues Batista

    Mais um conto onde o protagonista joga xadrez com entidade sobrenatural. O Tinhoso encontra Gabriel em um bar e o desafia num jogo de xadrez. Se ele perder, o diabo leva sua alma. Os dois fazem um duelo de retórica que se estende por vários parágrafos e torna a leitura monótona. Não entendi a parte onde Gabriel diz que tem um filho que está condenado, não entendi também porque o pai dele foi para o inferno. Lúcifer fala do pai, que é Deus, mas não diz que Jesus é seu irmão. Por fim, e ao final, Gabriel ganha o jogo e os dois combinam jogar no dia seguinte, ou seja, fica o dito pelo não dito…

  20. Mariana
    7 de novembro de 2025
    Avatar de Mariana

    História: 

    Há começo, meio e final (0,75)? Sim, o conto possui começo, meio e final bem definidos. A chegada do homem misterioso, a partida de xadrez e o resultado dela. 0,75

    Argumento (0,75): Uma partida de xadrez entre o Diabo e um homem. O combinado de que, se ganhasse, o diabo responderia as questões sobre a sua família, trazendo segredos obscuros. A ideia de uma partida de xadrez com o Diabo já foi trabalhada algumas vezes, mas a execução aqui é bem feita. 0,6

    Construção dos personagens (0,5): Acredito que este foi o ponto fraco do conto. O diabo possui momentos de reflexões profundas e, em outros, temos umas tiradas que destoam completamente (como a dos milhões). E eu entendi que era mesmo o objetivo, mas tenho medo do que o cara possa ter feito com o filho e não simpatizei com ele. Vamos quebrar ciclos. 0,15

    Técnica:

    A capacidade da escrita de prender (0,75): Texto muito bem escrito, principalmente quando pensa sobre questões religiosas. É um pessimismo que não deixa triste, mas leva para a reflexão. 0,75

    Gramática, ortografia etc (0,75): Um vocabulário rico, mas de fácil acesso. Sem erros aparentes. 0,75

    Impacto (1,5): A dualidade do conto me deixou pensativa, aqui o humor não combinou com o peso das ideias. Mas você escreve de forma muito profunda – “Meu pai deixou seu mundo” me arrepiou… Tomara que o que se chama de Deus mude de ideia e haja salvação para a criança 1,0

  21. claudiaangst
    6 de novembro de 2025
    Avatar de claudiaangst

    Olá, autor(a), tudo bem?

    O conto aborda o tema proposto pelo desafio, pois traz como adversários no jogo de xadrez: Gabriel e Lúcifer (eles já tinham se enfrentado outras vezes, não?)

    A construção da narrativa foi muito bem elaborada, tendo como fundamento metáforas e referências bíblicas – só que numa nova versão. Jesus não teria morrido pela humanidade, mas sim por causa dela (o que faz sentido), e o Pai, ferido pela perda do Filho, condenou todos ao inferno. 

    Gostei de vislumbrar uma virada de jogo: a esperança que nasce em Gabriel quando ele diz que a eternidade é tempo demais e que Deus poderia mudar de ideia. Isso me fez lembrar do ditado “só os idiotas não mudam de ideia”.

    O conto está muito bem escrito, não percebi falhas de revisão. A linguagem é simples, mas longe de ser medíocre. Apenas achei desnecessária a passagem: “E o seu pai, por sua vez, te violentou analmente por dois anos.” Sim, poderia falar do abuso, mas desse modo destoou do resto do texto que combina ironia, cinismo, mas sem descambar…

    O diálogo entre os adversários apresenta naturalidade e agiliza a trama. A leitura flui que é uma beleza, sem entraves.

    Não há muito o que acrescentar, apenas caminhe para o pódio, está bem? Parabéns!

  22. Luis Guilherme Banzi Florido
    5 de novembro de 2025
    Avatar de Luis Guilherme Banzi Florido

    Olá, não o diabo! tudo bem?

    Vou cortar todas as introduções e dizer que esse é um dos melhores contos que já li no EC, em todos os tempos. eu to absolutamente impressionado, to ate meio atordoado. Não esperava algo desse nivel, foi surpreendente. Esse conto é uma perola absoluta, tudo funciona. O enredo é espetacular, a filosofia por trás da historia e dos dialogos é incrivel, os dialogos sao magistrais, os personagens sao otimos. Nossa, é uma coisa impressionante isso aqui. Eu fiquei meio atordoado no fim, me deu um pouco de vontade de chorar. O ritmo tambem é perfeito. Desculpa, to meio atrapalhado, ainda nao me recuperei da leitura.

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Publicado às 2 de novembro de 2025 por em Liga 2025 - 4B, Liga 2025 - Rodada 4 e marcado .