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Detox Literário.

Meus Dias de Tabuleiro (Suzy Lee)

Minha vida estava dentro dos padrões de normalidade, a minha e a de todo mundo. Eu tinha um amor, uma carreira, desafios diários, conquistas para me orgulhar, decepções para lamentar e vitórias. Se comparado a uma peça do jogo de xadrez ouso dizer que eu me sentia um rei. Jovem bem sucedido, saudável, com ótimo relacionamento familiar e um amor. O que mais um rei contemporâneo poderia desejar?

Infelizmente a pandemia veio e abalou meu reino, o meu e o de todo mundo! E mesmo sendo rei da minha vida eu não podia mais me mover em qualquer direção. Fui limitado a estar dentro de casa, trabalhando em home office, sem o contato necessário com a família e amigos. Todos os medos e tantas restrições começaram a interferir no meu controle emocional rapidamente.

O mundo enfrentou um terror inimaginável, a princípio tudo estava sob controle, até o dia que deixou de estar. O ano era 2020, acredito que nunca alguém imaginou tal situação, nem as mentes mais criativas acostumadas a criar histórias futuristas de ficção teria imaginado algo tão inesperado.

O planeta dividia as mesmas emoções e medos em tempo real, uma situação surreal, um vírus parou países, freou a economia, isolou seres humanos em suas casas e conteve o planeta do seu giro mecânico. Durante a pandemia, vivemos um estresse emocional diário e os prejuízos físicos apareceram simultaneamente com o aumento de crises de ansiedade e pânico. Planos foram interrompidos, projetos adiados, vidas destruídas. Não tinha como negar que precisávamos ser fortes e otimistas para suportar a inédita situação. Medo e incerteza castigava o mundo, não tinha como fugir do problema, não adiantava ter ou não dinheiro, nem ser ou não influente, estar com a saúde em ótimo estado também não representava segurança.

Era como se estivéssemos num tabuleiro numa difícil partida de xadrez, a cada dia o vírus dava inúmeros xeque-mate mundo a fora, e nenhum rei estava seguro em suas casas ou reino.  A pandemia nivelou a humanidade que estava crescida e cheia de si. E lembrou a todos a igualdade enquanto seres humanos, não importava se éramos peões, dama, reis ou bispo, a finitude chegou para muitos.

A sensação era estar num roteiro de filme de ficção, que a qualquer momento chegaria ao final. Então assistiríamos um bom desfecho, as luzes se acenderiam, levantaríamos numa sala de cinema carregando o balde vazio de pipocas.

Foi durante a pandemia que aprendi a jogar xadrez, para driblar tantos picos de ansiedade eu me cercava de atividades que me distraíam para suportar o isolamento social. A princípio custei entender os movimentos e as estratégias de cada peça. O xadrez é um jogo complexo, com muitas regras e muito envolvente depois que entendemos o papel de cada peça.

Enquanto muitos brasileiros enfrentaram o isolamento obrigatório com irresponsabilidade, saindo sem precisão, se aglomerando em praias e parques como se estivessem todos em férias, eu aperfeiçoava minhas jogadas no jogo de xadrez.

Aos poucos a gravidade da situação foi modificando o comportamento geral. Houve polêmica quanto a fechar ou não o comércio e os serviços, o que seria viável manter funcionando e o que definitivamente ficaria fechado e lógico, havia discordância em tudo. Estar em casa por meses, começou a causar um estresse coletivo.

Parte da população mais afortunada podia oferecer mais opções de lazer e melhor qualidade na vida confinada. Os menos favorecidos obviamente enfrentaram outras inúmeras dificuldades estando em lares minúsculos, sem infraestrutura básica, sem recursos financeiros e sem assistência adequada a situação. O problema não era apenas de saúde pública, era toda a economia que estava sendo afetada. Em razão da instabilidade financeira, o emocional acabou afetando a muitas pessoas. 

Por mais que o otimismo nos levasse adiante houve dias que prevaleceu o pessimismo, sim porque somos humanos e não estar bem todos os dias é absolutamente normal. Parei de assistir televisão em canais abertos, a repetição sobre a COVID 19 era tóxico emocionalmente e trazia uma energia mórbida que sugava minhas forças.

Por precaução, passei a ser seletivo sobre os noticiários. A situação ficou insuportável, sentia saudade dos amigos e familiares, da rotina fora de casa, saudade de não sentir medo a todo tempo, saudade da vida que acreditava ser normal.

Sim, havia uma normalidade nas nossas vidas mesmo nas mais difíceis. De modo geral, respeitadas as diferenças culturais e sociais, todos estavam acostumados com suas vidas e a rotina previsível. Ouso dizer, que o mundo estava quase confortável com o rumo do planeta, as diferenças sociais, o aquecimento global, as matanças descabidas, os ataques com bombas em lugares públicos, a insaciedade no consumismo, a guerra em algum lugar do mundo. Tudo isso já era em algum grau conhecido por todos, a verdade é que o mundo perdeu o leme e o controle em muitos aspectos

A situação foi ficando insustentável, crescia o medo de morrer, medo do desemprego, da crise mundial e um colapso mental inundou até as mentes otimistas.

A minha dúvida era se depois da pandemia, ao menos seríamos pessoas melhores, quiçá nos tornamos mais evoluídos e a relação do “ter não sobreponha ao ser”. A vida ganhou ainda mais valor, pois fomos alertados que o acúmulo de bens materiais, estatus e posição social desvaloriza quando a vida está por um fio.

Comecei a sentir crises de ansiedade e logo se tornou crise de pânico. O convívio diário num apartamento desgastou meu relacionamento amoroso e o que parecia ser sólido feito uma torre num castelo, desmoronou em poucos meses.

Sem minha dama, meu amor e meu colo fui ficando depressivo e a vida ficou difícil demais. Trabalhar em casa, sem meus amigos peões para conversar sobre meus projetos de engenharia, tudo perdeu o sentido e perdi o entusiasmo profissional. Meu reino foi abalado. Perdi prazos na entrega de grandes projetos, e aos poucos fui perdendo a credibilidade profissional recém conquistada. Em muitos momentos minha vontade era montar a cavalo e sair cavalgando livremente, sem medo de corona vírus, sem máscara.

Passamos pela espera por alguma vacina contra o coronavírus, tudo gerava ansiedade. Eu tinha ciência que adoecia mentalmente um pouco mais a cada dia.

Busco equilíbrio na psicoterapia e medicamentos, consegui controlar meus medos e aos poucos estou recuperando a confiança. Em momentos de crise eu foco na respiração diafragmática que ajuda acalmar o corpo. Para acalmar a mente me concentro nos cinco sentidos e reconecto com o momento presente.

O jogo de xadrez é um dos muitos recursos que me ocupo intelectualmente. Quando estou numa disputa no xadrez, eu estimulo o raciocínio lógico e resolvo problemas imediatos. Me concentro para defender meu rei e alcançar a vitória na partida.

Passei a ver a vida como um tabuleiro de xadrez, pois preciso planejar com antecedência, pensar nas consequências de uma decisão precipitada, tomar decisões sob pressão e tomar atitudes corajosas. Eu entendi que não importa se participo de torneios de xadrez, se ganho muitas ou poucas partidas, nem qual peça do xadrez eu represento na vida. O que eu sei, é que depois de uma partida de xadrez, todas as peças retornam para a mesma caixa de madeira.

Sobre Fabio Baptista

Avatar de Desconhecido

21 comentários em “Meus Dias de Tabuleiro (Suzy Lee)

  1. Sarah S Nascimento
    13 de dezembro de 2025
    Avatar de Sarah S Nascimento

    Olá! O que você escreveu é um retrato exato do que foi a época da pandemia. O medo, o estresse, as incertezas, o perigo, a humanidade passando por um problema colossal e realmente, não distinguindo ricos de pobres. Entendemos a necessidade do rapaz de ocupar a mente. Seu texto tem várias reflexões bastante inteligentes e verdadeiras. Gostei das pequenas analogias, por exemplo quando ele diz que queria subir num cavalo e sair por aí sem máscara; ou ele vendo a si mesmo como o rei de seu próprio reino ali. Não entendi com quem ele jogava xadrez. Era online? Gostei também quando ele disse que não importava se nos víamos como representações do xadrez porque no fim ia tudo para a mesma caixa.
    Um ponto que eu queria citar é que sinto seu texto bem poético sabe? E eu sinto que ele não tem a estrutura de um conto.
    Eu gostaria de ter visto um pouco mais da importância do xadrez no texto. Ainda assim, achei sua escrita ótima, fluida e fácil de compreender.
    Gostei bastante do seu título! Faz muito sentido com o tema!

  2. Thales Soares
    13 de dezembro de 2025
    Avatar de Thales Soares

    Acho bastante engraçado a forma como um texto conversa com cada pessoal. É algo totalmente individual, uma conversa particular, uma espécie de diálogo entre história e leitor. Vi lá no grupo que, para muitas pessoas, este conto foi uma conversa bem próxima, agradável. Alguns até se identificaram. Comigo, foi uma conversa distante, como se estivesse numa linguagem alienígena. Tive 0% de conexão com este conto, pois senti tudo exatamente o oposto do que estava escrito aqui.

    A pandemia para mim, particularmente, foi uma fase muito boa. Não perdi ninguém próximo. Eu faço isolamento social desde que nasci. E nessa época realizei um sonho que era o de trabalhar de forma remota (faço isso até nos dias atuais). Eu adorava usar máscara. Toda vez que eu ia no mercado, tava vazio e não tinha fila. E os filmes de cinema estavam lançando tudo direto no HBO.

    Mas enfim… vamos falar sobre este conto. O protagonista descreve uma vida estável e bem sucedida… até que veio a época da COVID, que fodeu com todo mundo (menos comigo). Pra lidar com o isolamento e a ansiedade, o protagonista começa a aprender xadrez, e dessa forma ele distrai um pouco a cabeça.

    Seu relacionamento amoroso tá uma merda, então ele termina com a namorada nessa época, e ele também tem uma queda no desempenho no trabalho. Ai o cara faz umas seções de terapia e começa um processo de recuperação… sei la. A história não me prendeu nem um pouco o interesse, mas me vi forçado a ler até o final.

    Mas no fim… pelo que entendi, o xadrez (que é tema do desafio) é abordado de forma meio metafórica… fazendo paralelos com planejamento, escolhas, etc. Ai no final o cara percebe que, como no jogo, todas as peças retornam à mesma caixa de madeira. O que significa isso? Sei la…. que as pessoas vão morrer?

    Enfim, é um conto que, para mim, foi bastante morno e difícil de ler. Me pareceu mais como o desabafo de alguém do que uma história de verdade.

  3. Bia Machado
    13 de dezembro de 2025
    Avatar de Bia Machado

    Olá, Pedra, tudo bem? Seguem alguns comentários sobre a minha leitura do seu texto.

    Desenvolvimento (0,5/1,0): O texto não apresenta desenvolvimento narrativo muito claro, parece mais uma crônica reflexiva sobre a pandemia, com repetições e longos parágrafos expositivos que não constroem história. Como conto, falta enredo, falta ação, falta ficção até.

    Pontos fortes (0,5/1,0): O que se destaca é a sinceridade do relato pessoal, mas isso não compensa a ausência de elementos literários. Não há imagens marcantes, não há uma preocupação de desenvolver um enredo. O texto se apoia em generalizações/recordações da pandemia.

    Adequação ao tema (0,3/0,5): É bem superficial, a meu ver, e aparece apenas como metáfora, de que “a vida é um tabuleiro”. Não há um uso muito ficcional do tema, parece até que precisou forçar para apresentar o tema na narrativa.

    Gramática (0,5/0,5): A gramática é compreensível, mas há problemas de fluidez, repetições excessivas, frases longas demais e uso pouco preciso de pontuação. Não chega a comprometer a leitura, mas também não se destaca.

    Emoção (1,0/2,0): Apesar do assunto do texto, de trazer um período emocionalmente intenso, o texto não me despertou emoção. O tom é mais de um desabafo, parece até um registro feito em um diário, há uma repetição de ideias. Faltou talvez um pouco mais de sensibilidade.

  4. Mauro Dillmann
    13 de dezembro de 2025
    Avatar de Mauro Dillmann

    Um conto bem escrito, numa linguagem fluida e leve. Por mencionar a pandemia remete a um universo conhecido, de fácil compreensão. Em algum momento, entretanto, ganha um tom de análise sociológica (veja aquele parágrafo que começa assim: “Parte da população mais afortunada…”).

    O texto é super bom de ler, mas não me leve a mal, não parece um conto. Penso que faltam estruturas básicas de um conto. Trata-se de um escrito pessoal, como um diário, uma crônica, um texto de opinião bem elaborada.

    Parabéns!

  5. Thaís Henriques
    13 de dezembro de 2025
    Avatar de Thaís Henriques

    Perdi meu pai para a Covid19. Meu casamento começou a desmoronar ali, mesmo eu achando que era sólido como mencionado no texto. Eu AMEI essa composição. Tradução perfeita de um cenário crítico, de como tudo afetou as pessoas. Eu estou aí, no seu texto. Escrevo em meio às lágrimas agora, pois revivi tudo contigo. Não sei se agradeço, ou se desejo quebrar seu nariz kkkkkkk.

  6. danielreis1973
    10 de dezembro de 2025
    Avatar de danielreis1973

    Meus Dias de Tabuleiro (Pedra Polida)

    Um conto toca em experiências compartilhadas por grande parte da população, durante a pandemia: isolamento, ansiedade, colapso da rotina, desgaste de relacionamentos. Nos padrões do jogo, o protagonista encontra foco, lógica e metáforas para sua resiliência. E filosofa no final que, como no tabuleiro, todas as pessoas — independentemente da posição — acabam “na mesma caixa”, valorizando mais o ser do que o ter.

    PONTOS POSITIVOS
    Metáfora central clara e coerente, mostrando a relação entre pandemia e xadrez, e que se mantém do início ao fim, funcionando como eixo temático.
    Texto sincero e emocional, com a narrativa transmitindo a vulnerabilidade, sem melodrama excessivo.
    Conclusão com boa força simbólica, sendo que a imagem final — todas as peças voltando à caixa — fecha a narrativa com simplicidade e eficácia filosófica.

    PONTOS A MELHORAR
    O texto funciona mais como um relato pessoal ou crônica reflexiva do que como conto estruturado, com caráter ensaístico, pouco ficcional. Faltam cenas concretas, personagens, conflitos dramatizados. O efeito é mais discursivo do que narrativo.
    Algumas ideias aparecem várias vezes: desigualdade social, medo, impacto psicológico, rotina quebrada. Uma edição mais enxuta daria mais força às reflexões.
    O tema xadrez surge tarde no conto: o jogo é importante para a metáfora, mas só entra depois de boa parte do texto, o que cria sensação de leve descompasso com o tema do desafio.
    O texto tem trechos generalizantes e abstratos, principalmente quando comenta “a humanidade”, “o mundo”, “todos nós”. Quando o narrador fala de si, o conto melhora bastante.
    No todo, acho que faltou um momento específico de crise ou drama, o conto ficou um pouco retilíneo demais, mas de qualquer forma, desejo boa sorte no desafio a você!

  7. Fabio Baptista
    9 de dezembro de 2025
    Avatar de Fabio Baptista

    Relato sobre a pandemia.

    Eu não me recordo da autoria desse aqui, não sei se é de um novato no grupo, mas vamos lá… faltou bastante coisa nesse conto aqui. Há pouco sendo contado, nenhum conflito, enredo, nada. Apenas um relato genérico sobre um evento que todo mundo sabe como foi. O xadrez também meio que apareceu só para constar… o suficiente para enquadrar no tema, mas sem a menor relevância para a história.

    Sugestões: não existe conto sem conflito. Tenha isso em mente nos próximos.

    RUIM

  8. Fabiano Dexter
    9 de dezembro de 2025
    Avatar de Fabiano Dexter

    História

    Protagonista conta sua experiência durante o período de isolamento social por conta da epidemia de COVID.

    O texto como um todo pareceu genérico, como algo que eu leria em um Blog, mais do que um conto em si. Senti falta de uma história, um desenvolvimento mais detalhado.

    O conto ficou muito superficial, ainda que bem escrito.

    Tema

    Referências fracas ao Xadrez. Diz que aprendeu a jogar, faz algumas referências às peças e usa para concluir o texto.

    Construção

    Mais crônica que conto. Falta profundidade ao texto, parece genérico demais.

    Impacto

    Eu fiquei com a sensação de que algo estava para acontecer durante todo o conto, até que ele acabou. Não é um conto ruim, mas parece que está faltando alguma coisa.

  9. Jorge Santos
    8 de dezembro de 2025
    Avatar de Jorge Santos

    Olá. Achei interessante esta sua analogia entre os tempos de confinamento e o confinamento das peças de xadrez no tabuleiro. Segui com interesse o desenvolvimento da narrativa, o definhamento psicológico, algo bastante real. No entanto, creio que o final ficou aquém do esperado. Não percebi a intenção no desfecho. Deve ser algo do género: estou a ficar maluco, mas que se lixe, como se diz aqui em Portugal, para não dizer algo mais forte e impróprio.

  10. Pedro Paulo
    7 de dezembro de 2025
    Avatar de Pedro Paulo

    Este é um texto bastante atrapalhado. Começando pelo personagem, a sua apresentação é feita logo no primeiro parágrafo de uma modo genérica que sugere alguma falta de experiência da autoria, uma vez que uma descrição direta do personagem principal parece mais apropriado a um texto infanto-juvenil, a um resumo de uma história ou a uma partida de RPG, nenhuma dessas opções correspondendo a este texto. O protagonista poderia ser resumido a simplesmente uma pessoa bem-sucedida (gostei da denominação de rei contemporâneo!), de modo que o parágrafo seguinte introduz o conflito da narrativa sem nenhuma sutileza, possibilitando acrescentar outro trecho à versão frasal do texto: “eu era uma pessoa bem-sucedida, mas aí tudo deu errado”. O tudo em questão é a pandemia. Infelizmente, é uma repetida caracterização da pandemia, a que o uso de primeira pessoa – no plural e no singular – não diminui o aspecto de reportagem jornalística que constitui a maior parte do texto. O protagonista narra, mas nunca aparece enquanto mais do que alguém bem encaminhado que se perde nas incertezas do contexto pandêmico. Essa falta de caracterização do protagonista prejudica o texto, já que é o único personagem presente na narrativa e não se importar com ele custa o interesse pela leitura.

    No tocante a tempo e espaço, é a primeira dessas dimensões que importa mais, já que o conflito definidor é a pandemia do COVID-19, a que, na maior parte do texto, é bem caracterizada por todos os males individuais e sociais que causou (a caracterização de “algo impensado por artistas da ficção científica” foi forçar a barra, já que pandemias estão no imaginário das pessoas há milênios e aparecem nas artes há bastante tempo). Foi um acerto da autoria dispensar uma caracterização de espaço: a clausura do protagonista não é caracterizada. Não se sabe onde ele está, embora se imagine que seja uma casa ou um apartamento, mas isso não importa para a história na maneira como ela foi escrita. E tudo bem. Talvez pudesse ter sido incluído para dar mais corpo ao conto, mas isso vale para muita coisa como, por exemplo, o par amoroso do narrador que não recebe nenhuma atenção maior da trama.

    Enfim, o enredo é o mais fraco do conto, o que deve ter ficado implicado pelo restante do comentário. Existe sim um personagem atravessado por uma situação-problema: seu sucesso e sua estabilidade são prejudicadas pelas adversidades do inédito e imprevisível contexto pandêmico. Veja, aqui há algo bom: todos os seus leitores ao tempo deste certame passaram por isso e conseguem se relacionar com esse infortúnio. Mas também há algo ruim: todos os seus leitores ao tempo deste certame passaram por isso e conseguem se relacionar com esse infortúnio. Portanto, o que se sobressairia seria a particularidade dramática da experiência do narrador-personagem. Todos nós sabemos o que esperar, temos ao menos noção de todo o mal e todo o bom que pode sair da quarentena, o que vai nos apresentar?

    Tudo genérico. Os parágrafos se sucedem em uma narração inconstante, a princípio em primeira pessoa do singular, depois no plural, remetendo a uma espécie de coletivo oculto e não trazendo relevância a ninguém, nem mesmo àquele rei contemporâneo apresentado no primeiro parágrafo. Foi como ler o jornal. Toda a dor e dúvida do período foram meramente informados, não sentidos por meio da experiência de seus personagens. Talvez a literatura não possa ser só informativa.

    Assim, o texto requer mais polimento (acabei de perceber o pseudônimo!). Enquanto texto. Enquanto conto para este certame, perde ainda mais por tocar o tema da mesma forma tropeçada: primeiro parece que será metafórico: o personagem se sente como a peça de xadrez do rei. Depois é literal: ele se aproxima do esporte na pandemia. Na maior parte do tempo, é omisso e desconexo com o enredo, retomado no final no que parece uma descarada tentativa de não perder a oportunidade de atender à temática do certame… Só reitero que não é que nenhuma autoria possa optar por abordar simultaneamente o xadrez no figurado e no denotativo. Mas precisa funcionar.

  11. marco.saraiva
    7 de dezembro de 2025
    Avatar de marco.saraiva

    Aqui o autor reflete sobre as dificuldades experienciadas durante a pandemia, derrama lembranças e reflexões sobre este momento único da nossa geração, e pondera sobre o poder terrível da morte, onde todos são iguais. A comparação final – a vida como um jogo de xadrez, onde todas as peças retornam à mesma caixa, foi muito bem pensada.

    A leitura é um pouco arrastada por que a linguagem inteira do texto soa mais como jornalística do que literária. Me senti lendo um diário ao invés de um conto, o que pode ter sido justamente o objetivo do(a) autor(a). Mas há trechos onde notei uma tentativa de poesia, trazer um pouco da prosa para o texto mais burocrático, então senti um pouco de incerteza na escrita. Não ajuda que o texto precisa de um pouco mais de revisão, com alguns plurais faltando e pontuações falhas.

    No final, o sentimento que ficou em mim foi o de reflexão. Lembrei da época da pandemia, e muitos dos problemas e medos descritos aqui foram os que passei, e provavelmente muitos leitores sentirão o mesmo. Isso traz uma intimidade na leitura, me fez me identificar com o autor e trouxe de volta memórias recentes. Mas também senti falta de uma trama, algo mais envolvente, com personagens e estética.

  12. Amanda Gomez
    4 de dezembro de 2025
    Avatar de Amanda Gomez

    Oi, bem?

    Seu conto me pareceu mais um desabafo do que uma história, um relato sobre como o personagem passou pela pandemia que poderia facilmente ser um daqueles posts de Facebook. Não me agradou; conforme a narrativa avançava, ou melhor, enrolava para que algo realmente acontecesse, fui me distanciando cada vez mais do personagem.

    Veja bem: nada do que ele diz é particularmente interessante. Parece apenas uma conversa qualquer sobre a experiência de alguém durante a pandemia. Não considero que haja um enredo com começo, meio e fim, nem os elementos que um bom conto deveria apresentar. O uso do xadrez foi ingênuo e as referências não soaram naturais; estavam ali apenas para cumprir tabela. O texto não é longo, embora pareça ser.

    Enfim, a escrita é boa, mas o enredo deixou muito a desejar.

    Boa sorte no desafio!

  13. cyro eduardo fernandes
    4 de dezembro de 2025
    Avatar de cyro eduardo fernandes

    Gostei da ideia da pandemia como pano de fundo. Em alguns momentos o conto ficou muito explicadinho. O protagonista está bem desenhado e o final é interessante. Boa sorte no desafio.

  14. Gustavo Araujo
    17 de novembro de 2025
    Avatar de Gustavo Araujo

    Achei o conto bem escrito, bem montado, mas o tema xadrez me pareceu um tanto forçado. Na verdade, fiquei com a impressão de que o texto já existia e foi adaptado, meio que às marteladas, para o tema do desafio. Não que isso seja ruim, mas é que ficou um tanto estranho. Isso porque se vê, claramente, que o texto é sobre a pandemia, seus reflexos, suas causas, suas consequências nefastas e, de repente, o tema xadrez aparece meio que do nada, em metáforas que não têm lá muito a ver com as agruras narradas em 80% do conto. Mas, ainda assim, não dá para dizer que o texto é ruim. Não é. Como disse, está muito bem escrito e, se deixarmos de lado a adequação ao tema do desafio, podemos vislumbrar um protagonista bem observador e consciente da realidade terrível criada com o coronavírus.

    De fato, é esquecendo um pouco o tema xadrez que podemos ver como a realidade concebida pelo narrador se desmonta, como ela se evapora e demonstra que, a despeito de qualquer concepção, tudo é ilusório e que, no fim, somos, todos igualados pelo destino único que nos espera. Enfim, um texto que resvala no tema mas que ainda assim deixa o seu recado com competência. Parabéns e boa sorte no desafio.

  15. Kelly Hatanaka
    12 de novembro de 2025
    Avatar de Kelly Hatanaka

    Considerações

    Uma crônica sobre a pandemia. Não vou entrar aqui no mérito de “crônica não é conto”. Pra mim, dá na mesma. Que não me ouçam os contistas nem os cronistas que, talvez, defendam suas modalidades com paixão.

    É um bom texto, que carrega pitadas de reflexões filosóficas.

    O narrador é gente como a gente, que viveu o que todos nós vivemos e encontrou no xadrez uma forma de escapar do medo do inédito.

    Para mim, está no tema, afinal o xadrez está aí. Mas, não consigo deixar de pensar que o xadrez só está aí para encaixar no tema.

    Gostei ou não gostei

     Gostei, mas poderia ter gostado mais.

    O conto fala, com riqueza de detalhes, sobre algo que todos nós vivenciamos. As mudanças no cotidiano, os medos, as questões financeiras, tudo isso foi vivido por, literalmente, todo mundo. Então, não consegui deixar de pensar, lá pelo meio do texto “ok, ok, mas isso eu sei, eu também estava lá”.

    Talvez haja no conto um elemento confessional real, algo que tenha de fato atravessado o autor e que ele esteja abrindo e deixando sair. E isso, sim, é muito bom. Mas, neste caso, faltou dar a este relato um tom mais pessoal, emotivo, talvez. Trazer a graça de uma experiência individual, que tenha sido vivido apenas pelo personagem narrador. E não precisa ser algo mirabolante. Pode ser, sim, algo que tenha atingido muitas outras pessoas, como as crises de ansiedade. Mas, relatar de forma mais íntima, pessoal e emocional.

    Pitacos não solicitados

    Às vezes, e não digo que seja o que aconteceu aqui, estou só elucubrando mesmo, a gente não mergulha fundo em um texto, porque o que temos a dizer é muito pessoal e dolorido. Mas, sou a favor da coragem. Muitas vezes é a coragem que faz de um texto, como brincamos no grupo de Whatsapp, “entretivo e ok”, um texto visceral, inesquecível.

    Nós, leitores, podemos não estar especialmente interessados na descrição do que ocorreu na pandemia. Mas queremos, fuxiqueiros como somos, saber o que aconteceu com o personagem narrador, de verdade, com verdade. Queremos nos emocionar, torcer, sentir raiva, nos indignar, toda a escala pantone de emoções, de preferência.

  16. Priscila Pereira
    11 de novembro de 2025
    Avatar de Priscila Pereira

    Olá, Pedra Polida! Tudo bem?

    Gostei do seu texto. Ele é mais uma crônica do que um conto, e ficaria bem melhor se fosse um conto. Mostrar tudo isso que você contou acontecendo com o personagem seria muito legal. Ver as senas se desenrolando… ver como o relacionamento dele degringolou, assistir o desespero de algum parente ou amigo não conseguindo vencer o vírus… todos passamos por isso e a sua versão ficou genérica demais… impessoal demais. Minha história com a pandemia foi diferente, e mesmo perdendo o pai pra o vírus, ter o marido em home office e a filha estudando em casa foi maravilhoso. Ficamos mais fortes como família. Mantivemos a fé, a esperança e a calma. Sei que para cada pessoa é diferente e queria ver uma versão mais pessoal, mesmo não sendo a versão vivida por você, mas a imaginada, criada por você. O final foi uma ótima sacada! Amei essa frase: O que eu sei, é que depois de uma partida de xadrez, todas as peças retornam para a mesma caixa de madeira.

    Parabéns! Boa sorte no desafio!

    Até mais!

  17. andersondopradosilva
    10 de novembro de 2025
    Avatar de andersondopradosilva

    Olá, autor.

    Autor, não posso dizer que gostei do seu texto, sobretudo enquanto conto, porque ele me pareceu, sobretudo, um relato, talvez uma crônica. É de se esperar que um conto seja uma obra ficcional, com personagens, enredo, trama, desenvolvimento, desfecho, características que o seu texto não possui. Foi interessante rememorar o período da pandemia, mas, infelizmente, não foi suficiente para trazer o seu texto para o contexto de um desafio de contos.

    Nota 4.

  18. Antonio Stegues Batista
    8 de novembro de 2025
    Avatar de Antonio Stegues Batista

    O conto é a história de um homem durante a pandemia da COVID 19. Sozinho e confinado na sua casa, ele joga xadrez consigo mesmo e iguala a vida a um jogo de xadrez. Fala do impacto da pandemia na vida das pessoas, na economia, no comercio e trabalho. Conta o que aconteceu naquele período. O texto me parece mais uma crônica, relato de um fato histórico e não conto, uma história desenvolvida em torno de um enredo fictício. Está bem escrito, mas mostra a realidade de um período. Me pareceu o autor contando o que aconteceu com ele durante a pandemia.

  19. claudiaangst
    6 de novembro de 2025
    Avatar de claudiaangst

    Olá, autor(a), tudo bem?

    O tema proposto pelo desafio foi abordado muito sutilmente. O tema apresentado como principal, na minha opinião, foi a pandemia e as suas consequências. Assim, o conto pareceu mais uma crônica, um relato pessoal sobre as experiências em tempos de isolamento social.

    No geral, o texto está bem elaborado e a escrita flui sem entraves. Aponto aqui alguns detalhes que escaparam à revisão:
    • Parte da população mais afortunada podia oferecer mais opções > […] podia usufruir de mais opções
    • adequada a situação > adequada à situação
    • a repetição sobre a COVID 19 era tóxico > a repetição sobre a COVID 19 era tóxica
    • estatus > status
    • crises de ansiedade e logo se tornou crise de pânico > crises de ansiedade que logo se tornaram pânico
    • recém conquistada > recém-conquistada
    • corona vírus > coronavírus
    • recursos que me ocupo > recursos com que me ocupo/com os quais me ocupo

    Devido ao assunto tratado, muitos leitores ficaram sensibilizados, pois a pandemia foi um período muito difícil para todos, deixando suas marcas.

    Parabéns pela participação e boa sorte na sua classificação.

  20. Luis Guilherme Banzi Florido
    5 de novembro de 2025
    Avatar de Luis Guilherme Banzi Florido

    Olá, Pedra! Tudo bem?

    Um conto bastante introspectivo, que trata um momento muiito difícil e turbulento, que com certeza marcou cada um de nós, cada um do seu modo. Aqui, o xadrez é o pano de fundo para tratar as mudanças, transformações, sofrimentos individuais e coletivos que vivemos durante a pandemia. Devo começar dizendo que, se por um lado não dá pra negar que o tema está aqui, acho que ele acabou ficando meio deslocado, como se tivesse sido colocado à força na história. Quero dizer, não me parece que o xadrez exerça uma função essencial no enredo. Não entenda mal, não vou descontar pontos pelo tema, mas sem dúvida a utilização do xadrez aqui é inferior aos outros contos que já li. O conto funcioaria da mesma forma com qualquer outro hobbie no lugar do xadrez, sabe? E as metáforas soaram um pouco superficiais.

    Tirando isso, acho que o conto cumpre bem o que se propõe, ao relatar os medos, anseios e esperanças que o protagonista viveu durante a pandemia e que vive agora.

    Parabéns e boa sorte!

  21. Mariana
    4 de novembro de 2025
    Avatar de Mariana

    Para a avaliação ficar bem explicada, organizei os tópicos que construíram a nota

    História: 

    Há começo, meio e final (0,75)? Não há fatos, apenas ponderações sobre a pandemia e os sentimentos do autor. Há a melhora dele, então vou considerar que ocorreu um desdobramento. 0,25

    Argumento (0,75): É uma crônica sobre a pandemia, o xadrez aqui é coadjuvante. A ação é só mencionada 0,25

    Construção dos personagens (0,5): É uma crônica de primeira pessoa, na qual o autor apresenta como passou e suas mudanças de visões, talvez o tópico melhor desenvolvido aqui 0,3

    Técnica:

    A capacidade da escrita de prender (0,75): O autor escreve bem, foi fácil de ler e o texto é curto. Porém, ficou uma sensação de que recebi algo diferente do proposto. 0,25

    Gramática, ortografia etc (0,75): Não notei erros, a escrita pareceu correta. 0,75

    Impacto (1,5): É uma ideia de crônica, que pode ser um bom texto para identificação. Não há uma história, gera um sentimento de que ficou faltando o conto. 0,75

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Publicado às 2 de novembro de 2025 por em Liga 2025 - 4B, Liga 2025 - Rodada 4 e marcado .