EntreContos

Detox Literário.

Lascas (Mariana Carolo)

A goiva rasgava a madeira com precisão. Herculano trabalhava para que, daquele pedaço de árvore morta, saísse um cavalo para o jogo. O sol já tinha desaparecido, mas ele continuava ali e só respirou de novo quando terminou a primeira ponta da cavalaria negra. 

E, ao parar e olhar para o que tinha em mãos, observou a figura animalesca que esculpira quase hipnoticamente. Sobre duas patas, o cavalo era concluído por uma careta humanoide, a bocarra contorcida de inadequação. O marceneiro sorriu, a criatura daria um toque de fineza exótica para o conjunto que compunha. Orgulhoso, premiou-se com a cerveja que aguardava na geladeira. 

Uma semana antes, Herculano acordava apenas para chegar no final de cada dia. Ambição não era a sua marca, trabalhava para viver e não sabia direito para que vivia. Não se pode acusá-lo de não gostar do seu cotidiano, a marcenaria lhe dava dinheiro e cansaço o suficiente para abafar os barulhos do seu coração. 

Atravessava outra tarde de suor com calma, até o carro parar em sua porta e dele descer o homem de terno. À primeira vista, a figura parecia menor do que devia. No entanto, a sua voz era alta e grave, como se houvesse um alto-falante desregulado dentro daquele corpo:

— Boa tarde, gostaria de falar com o gerente? Ah, é você mesmo. Olá, me chamo Emanuel. O meu  patrão deseja um serviço e a sua marcenaria foi recomendada. Espero que saiba que será muito bem recompensado… Não, ele não quer ser identificado, vamos chamá-lo de senhor Xeque durante nossas transações, pode ser?

Antes de Herculano articular a educação que tinha e o convidar para entrar, o homem já tinha tomado a frente e invadido o espaço. 

O tabuleiro de xadrez. Base em mogno, o dobro das medidas oficiais e as casas alternando ébano e tauari. Herculano seria livre para gravar os detalhes que quisesse nas peças, desde que todas elas tivessem rostos distintos. Até as torres deveriam ter seres humanos talhados e, indispensável,  um anjo ocuparia a parte debaixo do tabuleiro. O arremate seria uma maleta para guardar os itens do jogo, também de madeira nobre e forrada de veludo azul. 

Herculano, incapaz de emitir qualquer opinião sobre o pedido, só tentava listar e compreender as ordens que recebia. Emanuel, como se a reunião já tivesse levado mais tempo do que gostaria, entregou a sua pasta ao homem, sem disfarçar o cuidado para não encostar no avental sujo do marceneiro. Este, ao abrir a bolsa, deparou-se com maços de notas suficientes para a fabricação de várias outras extravagâncias.

— Dinheiro em espécie facilita as transações… Bem, posso explicar depois. É óbvio que o que sobrar é seu, além de uma gratificação, caso o serviço seja apreciado. 

Tudo soava estranho e, por um instante, Herculano pensou em recusar. Porém, o canto do seu cérebro que desejava a adiada viagem para Montevidéu, fez com que sua cabeça rascunhasse um sim. 

Soube da existência do xadrez na escola. Gumercindo, professor do primário, levou um tabuleiro para a sala algumas vezes. Chamava apenas os melhores da classe para ensinar, Herculano e os outros ficavam só olhando. Quem diria, agora escolhido para fabricar um jogo digno de rei. Ficou ali, o dinheiro aninhado nos braços como um filho recém-adotado. 

Tinha comprado um celular do sobrinho, para conseguir falar com os clientes e mexer na internet. Então descobriu que a palavra xadrez termina com z, leu que este é considerado um esporte e achou graça de uma atividade física que se faz sentado. Assistiu aos vídeos de homens inteligentes concentrados, encurvados como o professor Gumercindo. Pensou que, se fosse esperto desse jeito, tinha virado doutor ou político. Quando os olhos doeram, decidiu dar um tempo e foi até o bar do Adair, jogar uma sinuca. Sondou se os companheiros entendiam de xadrez, mas eles só sabiam do pano verde e carteado. Ivo até jogava damas, mas era só. Voltou para casa na alta madrugada, os pés zonzos de álcool e sono. 

Sonhou com Lisalva. A moça dançava na sua frente, vestido de cetim e uma coroa de margaridas no cabelo. Ao lado dela, um pião de madeira girava. Não conseguia ver, mas tinha a sensação de que a sua falecida mãe observava os dois e, por isso, sentiu vergonha de estar com a antiga namorada. No final, Lisalva entregava o brinquedo para Herculano e o chamava de “meu benzinho”. Ele tentou sair correndo, porém, o sonho o prendeu no mesmo lugar. 

O movimento de abertura é o mais difícil. Sendo assim, começou pelo que exigiria maior atenção e tempo. Não era sempre que tinha ébano em suas mãos, correndo denso e forte entre seus dedos. Falava com a madeira; íntimo:

— Hora do trabalho, docinho. Cheirosa! 

Herculano matutou e decidiu que os peões usariam bibicos de soldados, iguais aos que fazia de jornal na meninice. A forma do primeiro não demorou a surgir. Embalado pela nostalgia, Herculano gravou a si mesmo quando criança: bochechas redondas e olhos grandes. Repetiu o processo com as marcas dos amigos de infância e seus dois irmãos. O exército da Vila Rolante, terror das campainhas da região, eternizados como decoração para uma sala de rico. Tirou uma foto e mandou para os irmãos, que visualizaram e não responderam. 

— Não apareceu mais no Adair, Herculano véio!

— Qualquer hora eu dou um chego lá, Ivo!

Buscou satisfazer o amigo que passava na frente da marcenaria, mas sem permitir que ele e sua bicicleta invadissem o espaço. Herculano, tomado pela inquietude, não andava com vontade de conversar com aquele bando de “orelhas secas”. Entrou, fechou as cortinas e, ao parar diante do espelho da sala, não segurou a careta. Talvez se comprasse uma camisa, umas calças bonitas… Imaginou-se homem estudado, falando como um ator de filmes. Na sua cabeça, ele impressionava a todos com as suas habilidades de enxadrista, ganhava todas as partidas e troféus do esporte. O prazo a cumprir encerrou os seus devaneios. Terminou o café que requentara e foi para a oficina continuar a labuta. 

Um coque para a rainha negra. Na diminuta face, rugas e os olhos baixos de mulher religiosa. Um crucifixo em seu peito, gostou dona Sueli? Era habilidoso esculpindo; acreditava que, da nuvem no céu em que estivesse, sua mãe se emocionaria com a homenagem. Mas não resistiu e, a dama branca, fez com o rosto jovem, a pequena boca carnuda e os olhos puxados. Tiara de minúsculas margaridas no cabelo, ah Lisalva, por onde você anda… Sentiu um fisgão que não ocorria há muito tempo no corpo. Virou a peça preta para trás e, ali mesmo, se aliviou.  Depois foi tomar um banho, cheirava a suor e saudades.  

Igualdade em todos os lados, a primeira exigência de um tabuleiro de xadrez. Dentro desta simetria, deverão haver sessenta e quatro casas idênticas, oito linhas e oito colunas com alternância de cores. Apesar de nunca ter mostrado brilhantismo para cálculos, Herculano tinha sensibilidade para respeitar os mistérios da geometria. Trabalhava tendo como plateia as tábulas já prontas. Conversava com elas, talvez consigo, dizendo que agora faltava pouco para o Uruguai, os alfajores, que aproveitaria cada centavo do pagamento. Enquanto isso, freneticamente, costurava pedaços de ébano e tauari na placa de mogno. 

Verniz e cola fumegavam como incensos. O que pensaria um qualquer que se deparasse com o anjo repousando em sua nuvem, árbitro silencioso de guerras de raciocínio. Cabeças ali se digladiam e o equilíbrio do combate na mão pequerrucha da criatura, forjada na dureza dos cortes de formão. 

Era tarde, mas pouco importava. A conclusão da tarefa fez Herculano se sentir um deus. Gargalhando sozinho, rumou até o bar do Adair, que a vizinhança inteira acordasse! Embebedar a si e a quem lá estivesse. Podia fazer qualquer coisa, até jogar xadrez. 

Acordou com a ponta de um sapato de couro o chutando. Estirado na porta de casa, os resquícios de vômito na boca davam pistas sobre o que foi sua comemoração. Quando Herculano conseguiu distinguir Emanuel, este parecia mais limpo e rico do que nunca:

— Ontem o senhor me telefonou insistentemente, fora do meu horário de trabalho. Não entendi os seus recados, mas, estou aqui, como combinado, para pegar a encomenda. Espero não estar atrapalhando, o patrão quer o que pagou…

Herculano levantou, tentou limpar as roupas com as mãos e articular que concordava com o que estava sendo dito. A cabeça girava, mas não quis demonstrar fraqueza. Era homem o suficiente para engolir a ressaca. 

A oficina estava inundada pela luz que emanava da maleta do tabuleiro. O marceneiro sorriu quando viu o conjunto. Era verdade, tinha mesmo feito aquilo:

— Veja só, seu Emanuel, que beleza de obra, os detalhes são…

— Certo, entrarei em contato quando, e se houver, novas ordens. Pode me alcançar a maleta? Peço licença, tenho outras reuniões agora pela manhã.

A amargura de entregar a  coisa mais bonita que já havia feito para aquela ratazana o atordoou mais que os efeitos da bebida. Emanuel saiu sem olhar para trás. Sem saber o que fazer com o depois, o marceneiro tamborilou os dedos no vazio da mesa. 

O sossego vai embora com a chegada da ambição, que pode crescer em um coração como erva daninha. Desde a sua venda mais cara, Herculano, não conseguia segurar o que se alastrava em seu peito. O bar perdera a graça e fazer cadeiras e estantes parecia entediante, dando a sensação de que seus ombros diminuíam. Uma manhã resolveu ir até a biblioteca municipal e cadastrou uma ficha, mas não soube o que escolher.

Insone, adquiriu o hábito de assistir vídeos de partidas de xadrez. Achava mágico, o silêncio tenso, os olhares, as mãos mexendo misteriosamente nas peças e trocando-as de lugar. Vencer soava como uma fruta deliciosa. 

Emanuel entrou em contato, para pedir a conta bancária da marcenaria. O senhor Xeque queria pagar um extra ao marceneiro. Herculano, em um impulso, pergunta se o patrão faria a boa ação de lhe ensinar a jogar xadrez. Que limparia os pés ao entrar e que sempre lavaria as mãos antes de tocar no tabuleiro. 

A resposta de Emanuel foi a de que, infelizmente, o seu chefe era um homem muito ocupado e que não tinha interesse em qualquer contato com Herculano que não fosse a prestação de serviços do mesmo. O aviso de que,  pessoas como eles, deveriam saber o lugar e as atividades que lhe cabiam foi o que mais o machucou. Murcho, concordou que iniciar no mundo do xadrez seria somente para jovens com futuro. 

Dionathan estranhou o chamado do tio. Herculano o convidou para almoçar em sua casa. Chegando lá, um frango de padaria, maionese e refrigerante gelado na mesa:

— Xadrez, tio?

— É, tava pensando que você poderia aprender. Te pagaria umas aulas, o que acha? Só tem que encontrar um professor, Dionathan. 

— Não entendi, de verdade.

— Quer ou não quer? Aprender um curso, coisa nova. O tio se preocupa contigo.

— Tá bom…

O jovem usou o dinheiro da primeira mensalidade para quitar algumas dívidas. Depois, até quis agradar, ser honesto. Só que não era a dele essa de pensar demais e, com dó do tio, lhe avisou que não seguiria com aquilo. 

Herculano desligou o celular e ficou olhando para um rasgo no sofá. Sentou e ficou cavoucando o buraco, murmurando xingamentos contra o sobrinho. Deitou, se pudesse dormir para sempre. Quando conseguiu cochilar, sonhou que ele e Emanuel eram amigos. Que este ia até sua casa e lhe devolvia o tabuleiro e seus habitantes. Sorrindo, dizia que era merecido. Herculano que fez, era dele.    

Arrumava a pasta de documentos quando se deparou com o intocado cadastro da biblioteca. Herculano estava com a agenda livre e foi até lá, quem sabe começar a ler livros. Quando chegou, pediu para que a moça da biblioteca lhe ajudasse. Ela, sem levantar o olhar, apontou a prateleira dos últimos itens adquiridos. Curioso, o marceneiro decidiu pelo de capa azul, com um dragão na frente. Voltando, avançava uma casa por vez em meio ao lixo das calçadas. 

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19 comentários em “Lascas (Mariana Carolo)

  1. Andre Brizola
    13 de dezembro de 2025
    Avatar de Andre Brizola

    Olá, Gene!

    Achei que esse é um conto bastante difícil de definir. Em uma primeira leitura tive uma sensação de incompletude, com um personagem jogado de um lado a outro em um enredo que não sai do lugar. Numa segunda tentativa, é possível encontrar alguma profundidade se ignorarmos a existência de um enredo para focar em Herculano. Talvez resida aí a qualidade do conto. Vou ver se consigo explicar isso.

    Técnica – Tenho duas formas de comentar aqui. A primeira, elogiosa, é a de ver que o texto foi trabalhado para apresentar um elenco de palavras bonito e elegante, tentando sair do comum, buscando requinte. Por outro lado, esse tipo de vocabulário exige um cuidado extra na formação de frases, pois termos incomuns tendem a gerar frases incomuns. Tomo uma como exemplo: antes de Herculano articular a educação que tinha e o convidar para entrar. “Articular a educação que tinha” pode parecer uma forma elegante de dizer que o personagem estava tentando saber o que dizer, ou fazer, mas que pesou negativamente nessa oração. E, em uma crítica que já fiz a outros contos desse desafio, há falta de equilíbrio nesse aspecto. Acrescento aí também que faltou uma revisão mais apurada, pois alguns detalhezinhos que normalmente não atrapalhariam a leitura acabaram se empilhando e vieram à tona, gerando algum ruído (“Herculano, não conseguia segurar”, aqui não teria essa vírgula; “ah Lisalva”, aqui teria a vírgula).

    Enredo – Gira em torno de Herculano, a quem foi dado o trabalho (e aí há a boa sacada do nome do personagem) de esculpir um tabuleiro de xadrez bastante específico, embora com bastante liberdade. Durante o processo, o marceneiro desperta algumas ilusões de “ser mais”, como se o que é não fosse o suficiente. O xadrez, o esporte que se joga sentado, é como uma ponte para um mundo que não o pertence e para o qual ele não teria acesso, para o qual deve ser convidado. Emanuel (outra boa sacada com nome), é o elo entre o peão e o Xeque. Há bastante simbolismo dentro do conto, mas a sensação de incompletude ainda permanece.

    Impacto – Eu sempre leio o conto e o deixo marinar. Só vou escrever o comentário dias depois, para entender qual foi o impacto que ele exerceu em mim. E qualquer impacto, se bom ou ruim, é um impacto, o importante aqui é não ser esquecido. Lascas conseguiu isso, sobretudo porque eu realmente fiquei incomodado com essa questão do roteiro que não termina. Acho que esse conto tem algo ainda que preciso descobrir e, talvez, seja necessária uma nova leitura daqui a alguns dias.

    Conclusão – É um conto de difícil definição. Numa primeira leitura havia decidido que não havia gostado. Mas ele cresceu, tomou espaço na minha memória, e eu refleti sobre ele. Ainda acho que é um texto que, tecnicamente, precisa ser revisto, pois além da revisão, pode crescer muito com uma técnica um pouco mais cuidadosa, removendo alguns excessos estilísticos que não são realmente necessários. Mas a conclusão final é a de que é um bom conto. Não sei ainda o quão bom dentro do desafio, mas acho que dentro das minhas avaliações ficará na metade de cima.

    Bom, é isso. Boa sorte no desafio!

  2. Rodrigo Ortiz Vinholo
    13 de dezembro de 2025
    Avatar de Rodrigo Ortiz Vinholo

    Sonhos, ambições, projetos e expectativas… Este é aquele conto que aperta o coração e nos deixa pensativos, questionando sobre as coisas que fizemos, deixamos de fazer, e o quanto abandonamos de nossos sonhos. Os sentimentos de Herculano nos invadem enquanto lemos e sofremos com ele, nos frustramos e xingamos o mundo e o destino. Muito bom, parabéns!

  3. leandrobarreiros
    13 de dezembro de 2025
    Avatar de leandrobarreiros

    Uma história competente e bem construída, explorando, acho, a alienação de um peão do seu próprio trabalho e trazendo críticas ao mundo em que vivemos no meio do caminho. Não é um texto genérico de crítica ao capitalismo porque investe e desenvolve bem a figura do Herculano.

    Me perdi um pouco nas referências religiosas, contudo. Imagino que Herculano venha de Hércules, mas não consegui conectar o dragão e o anjo.

    O único ponto da história que não curti muito foi o final. Não vou dizer que está solto, mas não consegui conectar com o todo da narrativa e aqui pode ser mais um problema do meu “eu leitor” mesmo.

    Um trabalho muito bom do ponto de vista da construção de personagem e da camada de crítica, imo.

  4. Kelly Hatanaka
    12 de dezembro de 2025
    Avatar de Kelly Hatanaka

    Considerações

    Herculano recebe uma encomenda misteriosa e, enquanto trabalhava nela, desenvolve uma ligação com sua obra que o incita a desejar mais para si.

    Achei interessante como a encomenda funciona como um convite para um mundo ao qual Herculano sente não pertencer. O conto diz que é ambição. Sim, é isso, mas é mais. Parece ser também uma espécie de consciência de si mesmo e do mundo, que desperta e chama para novas possibilidades.

    Ao trabalhar nas peças e no tabuleiro, Herculano sente-se orgulhoso de seu trabalho. Mostra-o aos amigos, homenageados nas peças, mas ninguém parece dar valor. Uma bela obra de arte, que ninguém compreende e ama como ele. Ao fim, entrega um trabalho primoroso e recebe seu pagamento, que não traz a alegria esperada. Queria mais. Queria pertencer. Quando se produz arte, quando se ama o que faz, nem sempre o dinheiro pode pagar.

    Afinal, Herculano resolve tentar aprender por si próprio, ainda avança como um peão, andando uma casa por vez, mas já fez sua primeira jogada.

    Gostei ou não gostei

     Amei.

    Um conto muito rico, com muito sendo dito, e de forma cativante. Herculano é um personagem muito humano, real. Parece com tanta gente que conheço, que se acha menos, que se sente constrangido em não pertencer. Achei tão significativo o ato de Herculano pedir ao sobrinho para aprender xadrez, como se isso fosse um alento, ao menos alguém próximo a ele saberia e poderia, quem sabe, ensiná-lo um dia.

    Pitacos não solicitados

     Um conto belíssimo, que dá a impressão de revelar mais a cada leitura.  Parabéns! Um dos meus favoritos do certame.

  5. Fabio D'Oliveira
    11 de dezembro de 2025
    Avatar de Fabio D'Oliveira

    Buenas!

    É um bom conto. Bem escrito, bem organizado. A divisão em atos não nomeados facilita a vida de todo mundo, principalmente do leitor (vai direto ao ponto, gosto disso). Por um momento, criei uma expectativa. Pensei que poderia ser um conto de terror. O início é bem misterioso, com Herculano fazendo peças únicas e recebendo a visita de um desconhecido que representa um homem rico (fórmula perfeita para estranhezas!). Mas não é um terror. E tudo bem, rs. Foi apenas uma expectativa minha.

    A história é comum, apesar do começo misterioso. Herculano é um homem simples. Matuto. Ele está satisfeito com o ofício dele. Marcenaria. Porém, com o trabalho de criar um tabuleiro de xadrez completamente original, ele começa a querer mais. Sai da zona de conforto. Ele enxerga o xadrez como um agente transformador. Ele pode ser mais do que sempre imaginou. O final é interessante. Apesar de frustrado, ele continua adiante. Começa a ler. O que ele escolheu na biblioteca? Não importa. O ato de fazer algo novo representa a continuação de sua vida. Herculano decidiu ser mais do que era.

    Como disse no começo, é um bom conto. Gostei.

    Boa sorte no desafio!

  6. Pedro Paulo
    9 de dezembro de 2025
    Avatar de Pedro Paulo

    Conto fantástico! Herculano é um protagonista maravilhoso. Para um conto tão curto, muitas são as camadas que se revelam: seus vícios, suas ambições, suas frustrações… nada que é expresso palavra por palavra, mas sentido em suas ações, em seus planos e em suas rememorações. Dele temos um retrato honesto e, por isso mesmo, verossímil, parecendo mais uma pessoa real do que um personagem, o que na literatura penso ser quase sempre algo positivo. O enredo é, numa primeira camada, bem simples: um marceneiro é desafiado a produzir um elaborado tabuleiro de xadrez. Mas, como citei, há muitos níveis de leitura: em primeira instância, o contratante não valoriza o artista que, por sinal, nem se sabe artista, nunca pensou em si mesmo dessa maneira, mas nas esculturas que talha nas madeiras, traduz para o xadrez com a precisão magistral as influências e expressões de sua trajetória. O xadrez entra aí não só como um desafio ao artesão. É também uma chamada à reflexão sobre os percursos que fez até ali. Herculano comete o mesmo equívoco de muitos, vendo o esporte de tabuleiro num pedestal que somente os “importantes” poderiam acessar. Ao longo do trabalho, o tabuleiro o seduz. Quer estudá-lo, quer entendê-lo. Tanto pelo prazer do jogo, como para que se sinta como um daqueles homens finos. O final é tragédia. Ninguém o corresponde em sua arte e em seus intentos de crescimento pessoal. Tudo de bom nele ou é efêmero ou é saudades. O seu contratante o trata pela frieza de um intermediário impessoalíssimo; seu sobrinho não dá vazão à sua conclusão de que apenas a juventude conseguiria lidar com o desafio do xadrez. Herculano está sozinho. Mas ele tenta. Entende que xadrez é coisa de quem estuda e quem estuda lê. Vai à biblioteca, pega um livro. Eragon! É um começo, uma casa. Um movimento.

    O xadrez tem bem mais movimentos possíveis do que a vida. Mas esses que temos terão que nos bastar. Encerramos a leitura torcendo para que bastem a Herculano.

  7. Suzy D. B. Pianucci
    9 de dezembro de 2025
    Avatar de Suzy D. B. Pianucci

    Achei o texto refinado, gostei de como o autor descreveu Herculano e suas habilidades em poucas linhas, há simplicidade e talento no personagem. Ele julga que xadrez seja só para elite, mas é interessante como no fim ele se rende ao desafio. Há uma bela vertente poética no conto que me agradou, foi criativo ele se inspirar em pessoas que ama para entalhar as peças.

  8. claudiaangst
    8 de dezembro de 2025
    Avatar de claudiaangst

    Olá, autor(a), tudo bem?

    O tema proposto pelo atual desafio foi abordado com sucesso. A narrativa gira em torno de Herculano, um marceneiro que vê sua vida mudada quando recebe a encomenda de um tabuleiro de xadrez diferenciado.

    A trama se torna cada vez mais interesse devido ao clima de suspense e mistério criado. Quem é o misterioso senhor que faz a encomenda? E qual o seu propósito?

    O título me remete a migalhas, pois da obra esplêndida confeccionada por Herculano restaram apenas lascas. E talvez seja por perseguir a trilha deixada por essas lascas que o protagonista se transforme, ambicionando um mundo ao qual não pertence.

    Há forte carga simbólica no texto, na forma como as peças de xadrez são feitas, representando figuras importantes na vida de Herculano. E o que simboliza o anjo sob o tabuleiro? Proteção? Redenção?

    Interessante o nome Dionathan, sem dúvida, apresenta a grafia de quem escutou Jonathan e abrasileirou, tal como acontece com o nome Daiane. Emanuel significa Deus está conosco (seria o patrão misterioso considerado um deus?)

    O desfecho traz a mensagem de que Herculano não passa de um simples peão, só podendo caminhar “uma casa por vez”.

    Enfim, um ótimo conto, bem escrito, sem entraves prejudiciais à leitura.

    Parabéns pela sua participação nesta última rodada. Boa sorte!

  9. toniluismc
    6 de dezembro de 2025
    Avatar de toniluismc

    Olá, Gene!

    Entendi que o pseudônimo quer dizer “gente arrogante”. Não sei se era isso mesmo, mas achei uma das melhores escolhas desta rodada.

    Gostei demais do seu texto, foi um dos que mais me deu trabalho pra apontar pontos de melhoria (que no fim das contas são mais dicas pra futuros desafios aqui, pois pra mim o texto funcionou do jeitinho que está!). Abaixo, as minhas observações:

    1. Técnica

    Pontos fortes

    • Prosa consistente e fluida
      O texto é bem escrito, com frases claras, ritmo agradável e boa alternância entre ação, reflexão e descrição. Não tropeça em vícios de linguagem nem em clichês fáceis.
    • Imagens muito boas
      – “A goiva rasgava a madeira com precisão.”
      – “Verniz e cola fumegavam como incensos.”
      – “O sossego vai embora com a chegada da ambição, que pode crescer em um coração como erva daninha.”
      Essas imagens constroem bem tanto a marcenaria quanto o mundo interior de Herculano.
    • Boa condução de personagem
      A forma como você mostra o cansaço, a mediocridade meio conformada, a ambição crescendo sem que ele saiba o que fazer com ela, tudo isso é muito bem trabalhado. Herculano é um personagem crível e empático.
    • Estrutura em blocos
      Os cortes com travessões funcionam como “lances” ou “movimentos” na vida dele, o que dialoga bem com o tema Xadrez, mesmo sem ser explicado.

    Pontos a melhorar

    • Algumas cenas laterais alongam o meio do conto
      A passagem com o sobrinho Dionathan é boa, tem função (mostrar como ele tenta transferir o sonho e é frustrado de novo), mas:
      • O diálogo é um pouco rápido demais para o peso emocional que a cena poderia ter.
      • Talvez falte um momento de confronto mais interno ou externo (raiva, humilhação, ressentimento) antes de cortar para o sonho com Emanuel amigo.

      Dá pra:

      • Ou enxugar essa parte, se quiser manter o foco no tabuleiro e no xadrez.
      • Ou aprofundar o conflito (por exemplo, mostrar Herculano quase implorando, ou engolindo o orgulho).
    • O tom de Emanuel às vezes escorrega para o caricatural
      Ele funciona bem como figura de classe, o intermediário do “senhor Xeque”, mas falas como: “pessoas como eles, deveriam saber o lugar e as atividades que lhe cabiam” soa quase didático, como se estivesse explicando o tema social em voz alta para o leitor. Poderia ser mais sutil – uma frase cortante, mas menos “teórica”, tipo: “Meu chefe não tem tempo pra… essas coisas. O senhor já faz muito bem o que tem que fazer.”

    2. Criatividade e uso do tema Xadrez

    Pontos fortes

    • Ideia central é excelente
      Um marceneiro que nunca jogou xadrez, contratado para fabricar um tabuleiro luxuoso. Ele esculpe as peças com os rostos de sua história — família, amigos, mãe, antiga namorada, ele mesmo.
      Isso já é, por si, um comentário criativo sobre:
      • classe social
      • acesso ao conhecimento
      • quem joga e quem “monta” o jogo para os outros
    • As peças com rostos são um achado
      Os peões como crianças da Vila Rolante, a mãe como rainha negra religiosa, Lisalva como dama branca… isso é riquíssimo simbolicamente.
      A cena em que ele se masturba virando a peça preta pra trás é ousada e muito humana: mistura desejo, culpa, nostalgia, madeira, corpo, tudo no mesmo gesto. Funciona.
    • Metáforas discretas de xadrez espalhadas
      • “o exército da Vila Rolante”
      • o tabuleiro perfeito, simétrico
      • o anjo árbitro das guerras de raciocínio
      • e, no final, “avançava uma casa por vez”

      O tema não é só decorativo, ele estrutura a vida dele.

    Pontos que podem ser reforçados

    • Pouco xadrez efetivo, muito xadrez simbólico
      Isso não é necessariamente um problema, MAS: como o conto gira tanto em torno do desejo dele de aprender o jogo, o leitor pode sentir falta de:
      • ao menos uma cena em que ele toca em um tabuleiro real como jogador (nem que seja num curso, numa aula teste, numa partida online mal compreendida).
        Hoje, tudo fica no “antes de aprender” — o que é uma escolha válida, só frustra um pouco a expectativa temática.
    • O livro do dragão é uma ideia ótima, mas muito sutil
      Há uma leitura muito provável aqui:
      A capa azul com dragão pode sugerir um livro sobre a Defesa Siciliana – Dragão (uma abertura famosa no xadrez). Só quem já conhece isso vai sacar.
      Se essa foi a intenção:
      • é um Easter egg genial, MAS
      • talvez sutil demais para a maioria.

      Talvez bastasse uma frase: “Leu o título: Manual da Defesa Siciliana – Dragão. Parecia coisa de outro mundo.” Assim você conecta:

      • o dragão da capa
      • o xadrez
      • o movimento final “uma casa por vez”

    3. Impacto e personagem

    O que funciona bem

    • Empatia total por Herculano
      Você constrói com muito cuidado:
      • a rotina
      • o sonho miúdo de Montevidéu
      • o ressentimento silencioso
      • a vergonha de “não ser do mundo” do xadrez
        Isso cria um impacto emocional de tristeza mansa, muito eficiente.
    • A cena da entrega da maleta é forte
      A luz, o orgulho, seguido da frieza de Emanuel e da sensação de esvaziamento: “A amargura de entregar a coisa mais bonita que já havia feito para aquela ratazana o atordoou mais que os efeitos da bebida.” É quase um “xeque” emocional contra ele.

    Onde o impacto perde força

    • A ambição dele cresce, mas não chega a um conflito maior
      Dá a sensação de que o conto prepara um “lance decisivo” que não vem:
      • Ele não enfrenta Emanuel.
      • Não tenta ver o tabuleiro em uso.
      • Não força uma entrada no mundo do xadrez.
      • Não explode com o sobrinho.

      Tudo fica contido. Isso pode ser uma escolha estética (realismo, vida como ela é), mas reduz o “pico” dramático.

    • A frustração final é muito quieta
      O movimento de ir à biblioteca é um gesto bonito, pequeno, mas importante. Porém, ele acontece quase “em silêncio”, sem uma frase que amarre o quanto isso é grande pra ele.

    Por hoje é isso.

    Acho que você confiou demais no leitor (o que é ótimo!), só que em desafios como este isso pode ser muito arriscado. Caso você não se importe com isso, só me resta lhe dar os parabéns e desejar que tenha um excelente resultado. Abraço!

  10. Sarah S Nascimento
    27 de novembro de 2025
    Avatar de Sarah S Nascimento

    Olá! Adorei o título do seu conto! Combina perfeitamente com a história que contou, a profissão do Erculano, xadrez feito de madeira, ficou demais!
    Achei seu conto muito bom, bem verdadeiro, todas as interações bem naturais, tanto os pensamentos e sentimentos do Erculano,quanto os objetivos, ou falta deles. Eu aprendi duas palavras que eu não conhecia: goiva e tauari. Adorei isso!
    Você usou o xadrez muito bem no seu conto, com o protagonista até desejando aprender a jogar e admirando quem sabia. O jeito como ele entalha rostos dele mesmo e dos amigos de infância, ou nas rainhas colocando uma representação da mãe e da namorada que ele perdeu por algum motivo, isso tudo ficou bem intrigante.
    Tá bem fluído, leve, fácil de entender. Mas eu não gostei muito do final. Parece que não teve uma conclusão sabe? Mas, isso que você fez deve ser o final aberto, eu imagino.
    Por fim, um ponto que eu fiquei pensando bastante enquanto lia era que seu conto tem muitos acontecimentos críveis, isso é ótimo porque parece a vida real, mas com uma pitadinha de algo surreal ali sabe? Bastante interessante como não temos explicação de quem fez esse pedido, e o contraste de descrição do Emmanuel e do Erculano. Um conto muito bom.

  11. LEO AUGUSTO TARILONTE JUNIOR
    24 de novembro de 2025
    Avatar de LEO AUGUSTO TARILONTE JUNIOR

    Achei seu conto interessante. A temática do xadrez foi bem apresentada. A questão das peças representarem pessoas diferentes me lembrou o exército de terracota chinês a abordagem da temática do preconceito adicionou um tempero bem marcante a narrativa. Senti falta de um pouco de interligação entre algumas cenas isso prejudicou um pouco a fluidez da história. Também houve alguns problemas gramaticais, que prejudicaram um pouco a imersão na história. Mas isso se resolve com maior atenção à revisão. Nada de drama. No geral foi um conto simples, sobre um marceneiro que decide aprender xadrez no fim da vida, utilizando o sobrinho para ensiná-lo. Espero que minhas críticas ajudem você a evoluir em sua escrita de alguma forma. Eu também agradeço por você dividir um pouco de seu universo literário comigo. Desejo-ler outros contos seus nos próximos desafios.

  12. leila patricia de sousa rodrigues
    23 de novembro de 2025
    Avatar de Leila Patrícia

    Para mim o texto funciona principalmente por causa do Herculano. Ele é estranho, mas não daquele jeito forçado; é um sujeito que parece sempre fora do eixo, e o texto acerta quando mostra isso em detalhes pequenos — como ele fala, como reage, onde trava. Dá para sentir que o autor conhece esse tipo de gente.

    A história cresce quando o conto simplesmente acompanha o personagem sem tentar explicar tudo. Nessas partes, o texto é mais honesto e mais forte. A gente entende o que dói nele e o que move ele, mesmo que nada seja dito abertamente.

    O ponto fraco é que o conto às vezes não confia nisso. O autor volta atrás em algumas emoções e conflitos, repete e explica muito , como se o texto tivesse medo de o leitor não captar. Isso deixa a leitura um pouco pesada no meio e faz algumas cenas se alongarem sem necessidade.

    Mas, no geral, é um bom conto. Tem momentos de verdade, tem personagem bem construído e um final que respeita a trajetória dele. Com alguns cortes e menos explicação, ficaria ainda mais firme — mas do jeito que está, já segura bem.

  13. marco.saraiva
    22 de novembro de 2025
    Avatar de marco.saraiva

    Esse foi difícil avaliar. A princípio o conto me parece incompleto, não vai a lugar nenhum, termina antes de acabar. Mas me parece que ele foi escrito com linhas entre as linhas, segundas e terceiras mensagens atrás da primeira leitura. Mas, mesmo em uma releitura, o conto me pareceu incompleto e, sinceramente, até um pouco confuso. Por um lado me parece que não há como interpretá-lo além do óbvio: o conto é apenas a narrativa de Herculano e do evento inusitado de um ricaço que o contrata para criar um tabuleiro de xadrez excepcional. A partir daí, acompanhamos as inesperadas consequências do trabalho na vida do marceneiro: o orgulho da obra, a dor de vê-la partir, o súbito interesse pelo xadrez. O conto toca em temas interessantes: a dinâmica das classes sociais, que o tema “xadrez” tem evocado em vários contos do desafio; o conceito do criador que, orgulhoso da criação, não quer se ver longe dela, mesmo quando ela foi encomendada por um terceiro (não é a toa que o conto fala que Herculano “sentiu-se como um deus”). Mas é isso: o conto tem esta camada óbvia, um cotidiano narrado até onde o limite das palavras permitiram, então acaba.

    Mas há vários detalhes que me parecem sugerir algo mais que não pesquei. Por que o cliente quis feições humanas em todas as peças? E o anjo no verso do tabuleiro? O fato de Herculano ter colocado nas peças os rostos das pessoas importantes da sua vida tem algum significado ou consequência?

    Sinto que perdi alguma coisa. Mas, infelizmente, não vou reler o conto outra vez. Não sei se fico um pouco frustrado com o final abrupto do texto, ou com o fato de me sentir meio burro por não ter entendido algo que estava no ar (assim como me sinto quando vejo os grandes campeões jogarem xadrez).

    De qualquer forma, a escrita do conto está excelente, muito fluida e bela, com domínio muito bom da prosa. Apesar de tudo o que escrevi acima, o conto foi bom de ler, me prendeu, me deixou curioso, me levou até o final sem ver o tempo passar. Parabéns!

  14. cyro eduardo fernandes
    17 de novembro de 2025
    Avatar de cyro eduardo fernandes

    Enredo intrigante. Pequena falha de revisão: “Deitou, se pudesse dormir para sempre.” Os sentimentos de Herculano são muito bem descritos. Parabéns pelo ótimo conto.

  15. Alexandre Parisi
    15 de novembro de 2025
    Avatar de Alexandre Parisi

    Curti bastante o conto, mas ele me deixou com uma sensação agridoce. A construção é boa, o ritmo é calmo e constante — quase contemplativo — e o foco no processo artístico do Herculano é o ponto mais forte do texto. A ambientação está ótima, o vocabulário é simples mas expressivo, e a relação dele com a madeira é poética sem ser forçada.

    Por outro lado, o enredo às vezes parece dar voltas demais: algumas cenas repetem a mesma ideia (solidão, ambição tardia, frustração), e isso deixa o meio um pouco arrastado. O “senhor Xeque” funciona bem como figura misteriosa, mas Emanuel é quase uma caricatura; faltou nuance. Herculano é um bom personagem — humano, falho, melancólico — mas senti falta de um impacto mais forte no final, que termina mais como um suspiro do que como uma conclusão.

    Vi pouquíssimos deslizes gramaticais; o texto é bem cuidado.

    No geral, é um conto sensível, triste e bem escrito.

  16. Antonio Stegues Batista
    13 de novembro de 2025
    Avatar de Antonio Stegues Batista

    Não entendi muito bem o motivo do patrão de Emanuel mandar fazer o tabuleiro com as peças com rostos de pessoas. Acho que o autor imaginou um enredo e não conseguiu desenvolver a ideia.

    Talvez Emanuel mandou fazer o tabuleiro porque o “Senhor Xeque” é um homem de poder e extravagância que tem o dinheiro para transformar suas fantasias em realidade. O motivo não é funcional; é psicológico e simbólico. Ele deseja uma peça que represente seu domínio sobre as pessoas e seu status social.

    Para o leitor, a ausência de uma explicação concreta sobre os motivos do “Senhor Xeque” apenas acentua o fosso social e de compreensão entre o mundo frio e luxuoso do cliente (que não quer contato com Herculano) e o mundo simples e emocional do marceneiro (que coloca sua alma na madeira), e aí está a ideia esboçada, mas não concluida.

  17. Roberto Fernandes
    11 de novembro de 2025
    Avatar de Roberto Fernandes

    Belo conto que evidencia a diferença de classes.

    Um operário que não pode usufruir do que fabrica, e chama atenção também por se utilizar das estruturas na forma do marceneiro agir e reagir aos fatos.

    Ele aceita em silêncio, quase reverente, ser colocado em seu “lugar”. A estrutura trabalha aqui para confundir o próprio trabalhador sobre sua personalidade, se esta advém do seu trabalho, ou de suas posses.

    Parabéns.

  18. Martim Butcher Cury
    4 de novembro de 2025
    Avatar de Martim Butcher Cury

    Me parece que o conto ganharia bastante se diversas leituras psicológicas fossem omitidas. A tentação de explicar o que ocorre na cabeça dos personagens é sempre grande. Acontece que a narrativa é feita não só daquilo que se conta, mas, sobretudo, daquilo que não se conta e se confia ao poder sintético da cena. Por exemplo: “Emanuel saiu sem olhar para trás. Sem saber o que fazer com o depois, o marceneiro tamborilou os dedos no vazio da mesa.”. O simples gesto de tamborilar já não bastava para dar a entender que o marceneiro não sabia o que fazer com o depois? Outro exemplo:” Não conseguia ver, mas tinha a sensação de que a sua falecida mãe observava os dois e, por isso, sentiu vergonha de estar com a antiga namorada.”. E se “por isso” fosse omitido? A gente aprende, por força das aulas de dissertação, a sempre explicitar os vínculos entre as ideias – daí os conectivos. Isso serve para argumentação. Para ficção nem sempre é o mais proveitoso, seja porque, com conectivos, o sentido se torna unívoco (em detrimento de uma miríade de relações que a imaginação poderia criar), seja porque eles distanciam o leitor do seu jogo autônomo com a fantasia.

  19. Kauana Kempner Diogo
    4 de novembro de 2025
    Avatar de Kauana Kempner Diogo

    O conto possui uma prosa equilibrada, com descrição visual e tátil, o leitor pode imaginar as cenas e os cheiros. A mescla entre o real e as memórias, foi feito com delicadeza, o mais interessante é a alternância entre o trabalho metódico e os devaneios do protagonista. O final ficou um pouco em aberto, o que pode desagradar alguns leitores, mas acredito que se justifica.

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Publicado às 2 de novembro de 2025 por em Liga 2025 - 4A, Liga 2025 - Rodada 4 e marcado .