EntreContos

Detox Literário.

Em Veludo Carmim (Martim Butcher)

Nunca fui muito de jogos. Na infância, passei ao largo do rouba monte, do porco e do detetive. Se um dia peguei num joystick, foi antes pela satisfação de tocar um objeto que nunca deu as caras lá em casa do que por qualquer inclinação às luzes no televisor. Foi assim até eu conhecer o Antônio. Foi ele que, entre outros prazeres, introduziu-me ao gozo da jogatina. Por isso é curioso que tenha sido eu a responsável pelo xadrez ter passado por sua vida. Sim, foi graças a mim que o xadrez cruzou, como um avião no céu límpido de maio, a existência juvenil do meu primeiro namorado.

Nos conhecemos numa festinha do centro acadêmico. Ele era de outra universidade. Uma cerveja, um amigo em comum e uma frase de Deleuze ou Bachelard foram o bastante. Mas a verdade é que, nesses casos, o bastante nunca basta. Justamente nos apaixonamos por aquilo que nos excede um pouco, ou que nos faz, inconsequentes, cometer excessos contra nossa pessoa. E do Antônio logo me maravilhei pelo tamanho dos braços, dos olhos, da inteligência. Arrebatei-me também por mim mesma, pelas longas distâncias que me vi disposta a percorrer nos sábados até a cidade onde ele morava. Eram uns vinte reais e duas horas de viagem, entre filosofias e devaneios pelas janelas dos ônibus, até que eu desembarcava na casa que os pais alugaram para ele em Barão Geraldo e sentia, enquanto nos despíamos, a medida vasta e sempre inexata de um primeiro amor.

Preciso ser justa: é verdade que ele fazia questão de dividir essa passagem comigo. Mais de uma vez, se me lembro bem, restituiu-me o valor integral, com o pretexto de que a viagem era cansativa para mim. De início resisti. Depois, constatando o desfalque que a paixão deixava na minha conta, cedi. E ao longo dos meses fui admitindo outros presentes de sua parte. Não que ele se extremasse em galanterias. Não fazia seu tipo essa espécie de cavalheirismo. Nem ele, creio, pretendia cercear um pouco mais, com brindes e mimos, aquilo que já estava conquistado de outra maneira. Meramente, no comum, uns objetos lhe sobravam da fartura familiar. Tinha dois exemplares da História da sexualidade: deu-me o mais surrado. Meu celular, um Nokia quadradão, herdei-o da minha então futura sogra, que tinha adquirido um mais moderno. Nessa toada passava o tempo. E não é mentira que passasse também, vez ou outra, um pensamento: de que no nosso vaivém entre cidades, beijos e presentes houvesse uma troca, implícita ou incompleta, que em algum momento viria à tona, como uma jogada longamente meditada no decorrer da partida.

Que não se imagine o Antônio frio e calculista. Ele me adorava. Adorava as pintas nos meus ombros, um certo jeito meu de pronunciar os erres e os comentários que eu fazia sobre tal ou qual pensador, segundo ele “muito originais”. E adorava, sobretudo, informar-me dessa adoração. Mas eu não podia deixar de pensar que surgira em sua vida como um complemento, uma cereja do bolo na fase excelente que ele vivia. Cereja sagaz, linda e tesuda, com certeza, mas cereja no fim das contas. Seus estudos iam de vento em popa, já no último ano da graduação, e ele ventilava um mestrado na França. Sua família me recebia com o carinho que se dedica a um parente distante e passageiro. E eu, vagamente caloura e atendente numa lanchonete, me esforçava para viver e inventar naquele rapaz uma lacuna além da saciedade que a vida lhe ofertava. Uma lacuna nova, exatamente do meu tamanho, a ser preenchida por uma peça miúda que ele, até então, não sabia que faltava. 

Naqueles fins de semana a gente com frequência terminava na casa de algum amigo para, como o Antônio dizia, “jogar um negocinho”. Truco, war, buraco, master, scrabble, yatzy, até mesmo pôquer joguei. E valendo. Em questão de meses, por influência do Antônio e seus amigos, tornei-me uma jogadora de mão cheia. A piada era que a sorte de principiante era proporcional ao tempo em que passara, por assim dizer, abstêmia. Mas talvez eu simplesmente fosse boa no assunto, sei lá. O fato é que eu ganhava sempre. Sempre. Não sei explicar muito bem. Sei que gostava de apostar naquilo que os jogos têm de invisível, na existência latente das cartas e dos lances. Apreciação teórica demais, é claro. Às vezes eu tentava ensinar ao Antônio o meu segredo. Algumas dicas pareciam valiosas, mas depois ele era derrotado e argumentava que tinha feito exatamente o que eu indicara. Sim, ele tinha feito, mas também vacilava e deixava de fazer outras coisas. Algo restava incompleto, e, quando ele já tinha perdido, ficava empoleirado atrás de mim para ver minha mão, entender minha lógica. Nessas horas a sorte comparecia. De novo eu ganhava, e ele não entendia.

A sorte era uma questão. Ele dizia que eu era muito talentosa. Mas, não sei bem porque, isso não parecia um mérito. Na verdade, embora entre nossa turma imperasse um clima de diversão, o Antônio se irritava a valer com as derrotas. Aplicava-se seriamente à jogatina, e com isso sempre obtinha um bom desempenho. Só que isso não garantia nada. Quando perdia, parecia que o esforço tinha sido em vão. E talvez fosse em vão mesmo, ora. O que eu podia fazer? A sorte, talvez porque eu não tivesse problema em flertar com ela, se enrabichava comigo também. Só achava um pouco engraçado (embora não lhe dissesse) que o Antônio se queixasse de azar no jogo sendo em todos os aspectos da vida, bem mais do que eu, um grande de um sortudo.          

Alguma coisa eu podia fazer, na verdade. O aniversário dele chegava, e comecei a ventilar um presente. Mas o que oferecer a alguém que tinha todas as carências preenchidas? Tudo o que era útil o Antônio parecia já possuir. Não cabia ao meu salário disputar qualidade no âmbito da serventia. Restava, ao revés, investir numa prenda desnecessária, cujo valor residisse na singularidade e no simples gesto da dedicatória, da busca afetuosa.

Pensei, repensei, enfim atinei: bom leitor e jogador dedicado, o Antônio parecia aguardar um tabuleiro de xadrez. Sim, claro, xadrez – jogo que, para mais, bania de sua jurisdição tudo o que fosse relativo à sorte. No xadrez, eu pensava, o Antônio estaria frente a frente com sua própria inteligência, que não era pequena.

O preço dos tabuleiros novos repeliu-me das lojas de shopping. Fui assim em direção aos antiquários. Um xadrez assim curtido em partidas passadas envolvia, em meu pensamento, o presente de uma camada a mais de intimidade, como um papel de seda que adoraria vê-lo rasgar com cuidado e amor. Por fim, numa escapada durante o intervalo do trabalho, achei o que procurava. Era uma preciosidade. Não pelo preço, é claro, mas pelo capricho, pela sutil demão de ruína que o tempo tinha depositado na superfície das peças, e pelo tamanho, diminuto e elegante. O tabuleiro dobrava-se sobre si em forma de estojo onde as figuras de pedra repousavam, num veludo carmim, das batalhas sanguinárias e cerebrais. Sim, uma preciosidade.

O dono do antiquário, que era um velhinho semi-folclórico, ainda comentou: xadrez é jogo bom de jogar de um. Jogar sozinho, ele queria dizer, jogar contra si mesmo. Achei engraçado, e saí dali com um sorrisinho de satisfação no rosto e a sacola com o presente balançando pra lá e pra cá.

No dia seguinte, tomei o ônibus com a caixinha envolta num tecido cheio de arabescos, peça que somei à quantia gasta no antiquário a fim de dar ares de relíquia à coisa. De vez em quando lançava um olhar falsamente distraído ao volume retangular. Sabê-lo oculto sob o pano ornamentado me trazia um sobressalto irracional, como se, ao conferir, o tabuleiro pudesse ter desaparecido. Eu não conferia. Olhava pela janela e pretendia esquecer do presente, abstraindo-me no fluxo ritmado de postes, carros, montes. Dali a pouco o mundo foi desacelerando e bati à porta do meu namorado.

Antônio recebeu o tabuleiro de xadrez com enorme gosto. Lembro das quinas da caixinha revelando-se sob seus gestos cautelosos, à medida que desembrulhava, como se ele intuísse alguma coisa de muito frágil na minha oferenda. Depois alisou o piso quadriculado com o dorso da mão, abriu o fecho metálico, dispôs bispos, torres, reis, cada qual em seu mínimo recinto. Depois me beijou longamente, dedicadamente. E jogamos.

Jogamos três ou quatro partidas. Eu ganhei. Bom, não ganhei todas. A última empatou, se me lembro bem, depois que capturei sua rainha, exposta a um perigo desnecessário. Essas circunstâncias não o deixaram de mau-humor, pelo contrário. Depois da última partida, arrumou o tabuleiro sobre uma cômoda, lugar privilegiado na casa, me levou ao quarto e me comeu durante a tarde inteira, com entusiasmo e qualidade. É assim que você gosta, ele dizia, eu vou te mostrar, vou te mostrar como é que você gosta.

Nas semanas seguintes a sequência se repetiu. A gente jogava xadrez, eu ganhava, ele me fazia gozar a tarde inteira. Não que houvesse uma causalidade estrita por aí. No jogo e no amor nem tudo é, como se diz, preto no branco. Tanto é que a gente trepava gostoso antes e depois que o xadrez aparecesse. De fato, após algumas semanas, houve um dia em que a gente pulou a partida e foi direto para a cama. Antes disso eu tinha acomodado o tabuleiro com esmero na mesinha da jogatina, mas ele foi se enroscando no meu pescoço argumentando que o xadrez podia esperar. Depois, mais à noitinha, saímos. Na volta, cansada, espiei os peões todos alinhados, como que à nossa espera.

É difícil precisar em que momento ele se desinteressou. Ou melhor, é difícil afirmar que ele tenha mesmo se desinteressado. Talvez eu esperasse da parte dele uma assiduidade maior com o assunto. O fato é que foi se tornando uma atividade rarefeita. Eu sugeria que a gente jogasse, ele se animava com o convite, eu preparava o terreno da batalha. Em seguida, algo se interpunha entre nós. Um telefonema, um bar, uma dor de cabeça, os estudos de francês, qualquer coisa. O negócio se dispersava. Poxa, nossa partida de xadrez, ele ainda tinha o cuidado de dizer. Mas tampouco se esforçava para reagendar a disputa. Pensando bem, não consigo lembrar de ele jamais ter tomado a iniciativa para que a gente jogasse. Insisti ainda duas ou três vezes, com resultados semelhantes ou partidas interrompidas por amigos que chegavam. A partir de um momento meu orgulho falou mais alto. Bom, ele, se quisesse jogar, que me convidasse. Parei de sugerir a brincadeira. Mais adiante, vendo que ele não trazia o xadrez à roda nunca, me arrependi. Mas era tarde, eu já tinha feito minha jogada, não podia voltar atrás. Apenas, de vez em quando, para me certificar do seu abandono, eu passava o dedo no tabuleiro, cada dia mais empoeirado.

Uma noite, daquelas de bebida e jogos entre a turma, lá pelas tantas alguém sugeriu o xadrez. Ele tinha ido à cozinha pegar uma cerveja. Ah, não, xadrez não, xadrez é um saco, ouvi que ele gritava. Um saco nada, alguém provocou, você que é meio burro pra jogar xadrez.

Tudo bravatas e brincadeiras. Não acho que fosse burro. Mas não descarto que houvesse um pedaço de sua inteligência que não brilhasse tanto como outras. Ele tinha terminado a graduação, se é que isso significava alguma coisa. E antes da metade do ano, se tudo desse certo, ia mesmo embora para a França, fazer o mestrado em filosofia. Sei que depois disso o tabuleiro desapareceu da cômoda onde ficava. Ou talvez só então eu tenha percebido o desaparecimento. Não procurei saber o que tinha acontecido. Era só um jogo, afinal.

O que quer que faltasse para sua viagem foi logo se completando. Durante os dias anteriores ao embarque fiquei com ele, ajudando a arrumar a mala. Ia entregar a casa em Barão Geraldo. Levei uma mochila grande porque ele pretendia se desfazer de várias coisas e disse que eu podia levar algumas. No chão jaziam caixas, livros, roupas, tralhas, tudo misturado à nostalgia de um lar que se encerrava. O Antônio estava na sala e eu no quarto, cada um empacotando um setor do passado recente, e nos falávamos às cegas, em voz alta.

E esses cabides?, eu perguntava. Doação, ele dizia. E o ukulelê? Vai pra minha mãe. E o canivete? Vou levar. E a raposinha? Fica pra você. E os DVDs? Minha mãe. E a Barsa? Doação. E o Pikachu? Você. E o tabuleiro? Que tabuleiro? De xadrez. Tabuleiro de xadrez.

Eu tinha topado com o meu presente num canto do armário embutido. Não era um espaço dos mais remotos, mas tampouco se pode dizer que estava a fácil alcance. O tecido com arabescos tinha ido parar na parte de dentro, junto às peças, conforme verifiquei ao abrir o fecho metálico levemente oxidado. Da parte do Antônio, na sala, silêncio. Um silêncio comprido, que de repente se estendia sobre aqueles quase dois anos de um amor sincero e um tanto confuso. Achei-me ingênua por ter apostado as fichas numa coisa que, no fim, eu sabia que ia parar num canto do armário ou do outro lado do oceano. Mas eu podia culpar o Antônio? Aquilo, no fundo, era um negócio meu. As minhas angústias, quero dizer. Os meus anseios. E o xadrez, bom, era razoável que ele não quisesse levar consigo um fardo que nunca foi muito do seu agrado. Pensando bem, pode ser que eu, sem premeditação e sem pureza, tivesse comprado o tabuleiro um pouco mais para mim do que para ele.

Cadê essa porra?, ouvi que ele falava. Ca-dê es-sa mer-da, rosnava, acentuando as sílabas num bate-bate de gavetas e utensílios. Sua frustração logo escalou para um notório piti. Entrou no quarto fazendo uma grande cena. Minha primeira reação foi esconder o tabuleiro, com receio de que sobrasse ao xadrez um pontapé sem direção. Ele bufou, remexeu papeladas, se descabelou, até restar parado no meio do cômodo de mãos na cintura e boca entreaberta.

O que é que você perdeu?, perguntei. Ele ainda performou mais um silêncio dramático, talvez com receio de que o nome do objeto perdido restaurasse o seu chilique. Passaporte, disse enfim. Tinha sumido o passaporte.

Onde você viu pela última vez?, eu quis saber. Ele só me fuzilou com o olhar. Sei lá, disse, e saiu pela casa para retomar a busca.

Eu me somei à vistoria meio de corpo mole. Um pouco porque seu espetáculo me irritava, claro. Mas, sobretudo, porque deixei, bem de leve, levar-me por uma mescla de amor com egoísmo que foi abrindo passo na minha fantasia. Era simples: assim, sem passaporte, não tinha como ele viajar. Adieu Paris, adieu Sorbonne e o caralho à quatre – o Antônio ficava comigo, juntinho.

É claro que era puro faz-de-conta. No fundo predominava o desejo de que ele fosse embora. Isto é, que fosse feliz. E, mais do que isso, assomava a percepção de que nossa história, com todo o apreço que tínhamos por ela, estava mesmo acabando. Eu já tinha tomado o trabalho de me pensar sem ele, de me despedir aos poucos, como se as imagens do nosso encontro fossem, uma a uma, se retirando do cenário. Agora é que a coisa começava a tomar forma real: a forma de um corpo que, em algum momento, desaparece.

Achei, caralho!, ele berrou. E veio correndo em minha direção balançando a caderneta azulada como um bilhete premiado. Sua felicidade me comoveu. Enquanto a gente se abraçava e se beijava, fui sentindo a ficha cair. Ele sorria, eu sorria, aos poucos as lágrimas foram vindo. Eu deixei. Chorei um choro miúdo e contínuo, que foi se alimentando da comoção mútua do meu namorado, até desaguar numa sequência sincopada de soluços nos seus braços. Fizemos juras de amor, sei lá. E descansamos no chão, em meio à bagunça, catarrentos e de olhos inchados. No fim do dia, eu peguei a mochila com a parte que me cabia daquela mudança e fui embora.

A gente ainda se viu dois dias depois, no aeroporto. Lembro de ele indo na frente, com os pais, levando a mala de rodinhas pelo piso quadriculado do saguão de embarque. Lembro de olhar os aviões de perto e não compreender muito bem o seu tamanho. Lembro, ainda, que ele chorou bastante nos meus braços, ao contrário de mim, que parecia já ter gastado tudo o que houvesse de lágrimas.

Por fim ele partiu. Na volta, no banco de trás do carro, espiei o céu límpido de maio, de um azul puríssimo, sem sequer uma nuvem. Apenas riscava o espaço um rastro muito fino, muito alto, branco. Segui o rastro com os olhos e vi, no fim, a minúscula aeronave que o produzia. Achei graça na ideia absurda de que o Antônio estava naquele exato avião.

Cheguei em casa sem entender muito de nada. Mas talvez eu soubesse um pouco mais da vida, dali em diante. Fui logo procurar a mochila que tinha trazido da casa do Antônio. De dentro dela retirei com cuidado o fruto do meu arroubo. Abri o fecho metálico, tirei as peças do veludo carmim, desdobrei o tabuleiro e fui arranjando os peões, as rainhas, os bispos. Faltava um cavalo.

Onde diabos teria ido parar? Procurei por toda parte, mexi e remexi na mochila. Nada do cavalo branco.

Ainda passei um tempo conjecturando as razões desse sumiço. Uso intenso ou descaso geral? Era duvidoso, mas não impossível, que o Antônio jogasse o tal do xadrez com uma frequência razoável, em outras companhias. Afinal, o presente era dele, nada exigia que eu fosse sua única rival. Mas isso eu já não tinha como solucionar.

O que estava feito, estava feito. Me restava procurar um objeto reserva para o meu cavalo branco. Achei um batom que cabia à perfeição. Coloquei a peça na casa reservada, ali entre o bispo e a torre. Pensei, sem muitas delongas, numa boa abertura.

E comecei a jogar.

Sobre Fabio Baptista

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21 comentários em “Em Veludo Carmim (Martim Butcher)

  1. Sarah S Nascimento
    13 de dezembro de 2025
    Avatar de Sarah S Nascimento

    Olá! Seu conto faz uma analogia maravilhosa entre o presente que é deixado de lado e o amor que é deixado de lado. Eu sinto que essa moça é exatamente como o tabuleiro de xadrez que ela deu para o namorado. Vou explicar: ela ama ele, se esforça, tem sorte em alguma coisa, mais sorte que ele e isso o assustou. Ele levou tanto as partidas quanto o amor até onde foi conveniente, até onde agradou. Só é triste ver ela se sujeitar a isso, ela se ver meio como algo que não cabia na vida dele, mas ainda assim ela aceitava esse amor incompleto, meio distante, conveniente. Acho que foi bem construída essa imagem do namorado e do relacionamento deles. Parece até meio ilusório o pensamento dela de que o namorado provavelmente jogava com outras pessoas, bem ali no finalzinho do conto. Ele provavelmente não jogava mais com ninguém e odiava perder pra ela. Talvez ele odiasse que ela fosse tão boa em algo que ele não conseguia. Foi um ótimo conto!

  2. Thales Soares
    13 de dezembro de 2025
    Avatar de Thales Soares

    A protagonista começa dizendo que nunca teve muito interessa por jogos, até conhecer seu primeiro namorado, Antonio. Ele mostrou a ela esse novo e divertido universo (e também a introduziu no universo da putaria… por isso acho que o conto deveria se chamar Sex and Chess).

    Os dois se conheceram na faculdade e viveram um relacionamento intenso, com viagens e diversão. Ele é rico, ela é estudante e trabalhadora. A protagonista começa a sentir que ela é apenas um complemento para a vida de seu namorado, que já possui tudo.

    No meio do grupo de amigos do Antoinio, a protagonista percebe que ela é fodona em jogos, vencendo várias vezes. Então, no aniversário de seu namorado, ela decide dar algo simbólico e simples… e acaba optando por um tabuleiro de xadrez (afinal, este é o tema do desafio).

    No começo o jogo aproxima o casal. Eles jogam juntos, ela sempre vence, e após a partida eles fazem um sexo alucinante. Com o tempo, Antonio perde o interesse pelo xadrez, e quer pular direto pra parte do sexo alucinante. Aí o tabuleiro passa a acumular traças, talvez simbolizando o desgaste da relação deles, que no começo era boa… mas depois foi começando a ficar meio mé…

    Antonio então começa a fazer os preparativos para a sua viagem pra França, onde ele vai fazer o mestrado. Aqui ele tá cagando completamente pra sua namorada… porque na visão dele, foda-se ela…

    A namorada o ajuda na mudança, e então ela encontra o tabuleiro de xadrez no fundo do armário. Aqui rola um breve momento de tensão, mas um pouco fraco demais para servir de climax pra história. Ai no final o Antonio vai embora, terminando o namoro ao qual ele já estava cagando e andando…

    A protagonista acompanha ele até o aeropoto, se despede, e volta sozinha pra casa. Ao abrir o tabuleiro ela percebe que tá faltando o cavalo. Sem saber o que aconteceu com a peça, ela substitui por um batom. Então ela arruma o tabuleiro e começa a jogar sozinha… e o conto acaba.

    Achei o final bem mais ou menos, fechando uma história que até então estava razoável, de uma forma um pouco sem graça. Mas está bem escrito.

  3. Bia Machado
    13 de dezembro de 2025
    Avatar de Bia Machado

    Olá, J., tudo bem? Seguem alguns comentários sobre a minha leitura do seu texto.

    Desenvolvimento (1,0): Um conto de cotidiano, digamos assim, que se desenvolve como algo corriqueiro, o relacionamento de um casal a partir de uma situação até o dia derradeiro da partida do rapaz, mas que não perde o ritmo.

    Pontos fortes (1,0): Uma boa narrativa, a ponto de levar a minha atenção até o final, mesmo sem nada de fantástico, nada de suspense, ou plot twist, nadica de nada disso. Apenas uma narrativa segura, que faz a gente querer saber como isso vai terminar, afinal.

    Adequação ao tema (0,5): O xadrez está ali, como algo que, de alguma forma, vai acabar influenciando aquele relacionamento e até mesmo modificando a protagonista, a meu ver.

    Gramática (0,5): Tudo ok, me pareceu que não há nada sobrando ou faltando.

    Emoção (2,0): A narrativa me envolveu com a segurança empregada, gostei da leitura.

  4. Mauro Dillmann
    13 de dezembro de 2025
    Avatar de Mauro Dillmann

    Uma jovem estudante e seu namorado, Antônio. Devaneios, impressões, pensamentos registrados em primeira pessoa. Jogavam com amigos, ela tinha sorte. Até que comprou um tabuleiro de xadrez. Passam do jogo à trepada num instante e o texto, nesse ponto da narrativa, parece ganhar outra conformação. Sinto como se fosse algo desnecessário, num tom inclusive machista. Mas não é o machismo que incomoda, é a mudança brusca do ritmo e da sintonia do texto.

    Também o conto se torna repetitivo em algumas passagens ou tendo pouco avanço. Veja esse exemplo: “É difícil precisar em que momento ele se desinteressou. Ou melhor, é difícil afirmar que ele tenha mesmo se desinteressado”. Esse “ou melhor” é desnecessário e ainda lembra texto acadêmico.

    Outra coisa. Veja essa construção: “O que quer que faltasse…”. Não está errado, mas soa estranho na leitura.

    Está bem escrito.

    Parabéns!

  5. Thaís Henriques
    13 de dezembro de 2025
    Avatar de Thaís Henriques

    Puxa, eu gostei demais do teu conto. Ele mexeu muito comigo, pois vivi coisa semelhante à trama apresentada. Não envolvia um jogo de xadrez, mas há semelhanças com o que houve na minha vida.

  6. Amanda Gomez
    12 de dezembro de 2025
    Avatar de Amanda Gomez

    Oi, bem?

    Um conto sobre chegadas e partidas, eu acho. Temos uma protagonista vivendo um relacionamento temporário e nos deparamos com todas as nuances disso. Achei interessante como tudo nessa história ia nessa direção… uma fase. É uma protagonista interessante, embora o texto fique muito longo. Eu ficava na expectativa de que coisas grandes iriam acontecer, mas era aquilo… a rotina de um casal que logo se separaria. O xadrez foi inserido na história não muito naturalmente, me parece que apenas pra preencher as lacunas do desafio. Mesmo assim, gostei, achei interessante. O ponto mesmo é que a leitura foi um pouco arrastada.

    Boa sorte no desafio!

  7. danielreis1973
    10 de dezembro de 2025
    Avatar de danielreis1973

    Em Veludo Carmim (J.S.B.)

    Esse conto me pegou de jeito – a naturalidade e simplicidade com que trata a questão do relacionamento, a perspectiva da separação iminente e sobretudo o distanciamento que vai chegando, acho que foi uma excelente escolha do Autor ou Autora (desconfio que seja este último caso). O xadrez não é o centro do conto, mas pontua justamente a perda do interesse no divertimento e o valor que vai se degradando com o tempo, num relacionamento em que uma das partes não faz as suas jogadas certas. Gostei especialmente do final agridoce, quando ela arma o tabuleiro e começa a jogar sozinha.

    PONTOS POSITIVOS

    Narrativa: a voz da narradora é reflexiva, sensível, delicada, elegante e madura; há ironia leve, dor bem administrada. O conto é um verdadeiro relato de formação sentimental.

    Excelente construção simbólica do xadrez, com o tabuleiro funcionando como metáfora para a dinâmica desigual do casal, a tentativa da narradora de “encontrar um espaço” na vida de Antônio, a percepção lenta de que certas jogadas (emocionais) não se retomam.

    O conto progride suavemente da paixão juvenil para a frustração, da expectativa para o abandono, da idealização para a lucidez. Nada é de repente — tudo se desfaz aos poucos.

    As justificativas da narradora, sua ambivalência, seus pequenos autoenganos, sua compreensão final: tudo é coerente e humano.

    A imagem do tabuleiro montado e do batom no lugar do cavalo simboliza a substitução e aceitação da perda, a partir da reinvenção.

    PONTOS A MELHORAR 

    O conto demora um pouco para chegar ao eixo central (o tabuleiro). As passagens sobre os jogos, os presentes herdados e a dinâmica “sorte vs. esforço” são ótimas, mas poderiam ser um pouco mais concisas.

    Embora seja verossímil, o homem jovem, inteligente e mimado que não lida bem com perder, poderia ser mais desenvolvido.

    Quanto ao passaporte, a crise súbita da personagem é plausível, mas ligeiramente exagerada. Mesmo assim, funciona  nos limites do melodrama juvenil — e a própria narradora reconhece isso.

    Parabéns, é o meu favorito nas leituras, até agora. Acho que será também o de muita gente.

  8. Fabio Baptista
    9 de dezembro de 2025
    Avatar de Fabio Baptista

    Casal de adolescentes joga board game… e transa. Depois transa e joga board game. Daí joga xadrez e transa. Até que o rapaz vai pra França e tudo acaba entre eles.

    Esse conto é excelente. Por trás das palavras simples e do jeito casual de narrar, há uma técnica muito apurada (só a título de curiosidade, é difícil eu dar risada enquanto leio, mas o “caralho à quatre” foi foda). Na entrelinhas do enredo com uma história água com açúcar do romance adolescente, há muitas nuances, muitas abordagens da dinâmica dos relacionamentos.

    Coincide com uma reflexão recorrente que tenho, sobre as coisas terem um espaço-tempo determinado na vida e depois não servirem mais e se dissiparem, às vezes deixando certa saudade e nostalgia, às vezes como se não tivessem sequer existido. Impossível não lembrar de amigos e amores, de velhos hábitos (me identifiquei com o board game) que foram muito divertidos em algum momento, mas hoje só de pensar em retomar já dá uma preguiça…

    ÓTIMO

  9. Fabiano Dexter
    9 de dezembro de 2025
    Avatar de Fabiano Dexter

    História

    Bonita história entre a narradora e Antônio, seu antigo namorado.

    O conto desenvolve o relacionamento dos dois de uma forma verossímil e, ao mesmo tempo, interessante de se acompanhar. As dificuldades do relacionamento, as descobertas, as dificuldades e o fim são muito bem desenhados e a história flui sem quebras ou movimentos bruscos.

    Tema

    Xadrez é um detalhe na história, mas muito bem encaixado, e que acaba representando o fim do amor junto com o desinteresse nas partidas. Dentro do tema.

    Construção

    Conto muito bem escrito. A história flui muito bem e a leitura é agradável. Os personagens são bem desenvolvidos e você consegue se identificar muito bem com eles, com a situação na qual se encontram.

    Impacto

    O conto se desenvolve muito bem e, ainda que o final não seja surpreendente, é muito bem construído. O sumiço de uma peça, o cavalo branco, acaba dando algumas ideias do que poderia ser o motivo desse sumiço, como desleixo ou uma lembrança levada por Antônio. Ou até mesmo o fim do romance com o cavaleiro em seu cavalo.

  10. Jorge Santos
    8 de dezembro de 2025
    Avatar de Jorge Santos

    Olá. Li este seu conto com a impressão do conto estar deslocado. Um sabrinesco com algumas referências a xadrez que tinha ficado bem no desafio anterior. Continuemos. Esta é uma história do xeque-mate de uma relação relatada de uma forma realista, sem sentimentalismos exagerados. Amar passa muito por gostar de estar com alguém e reconhecer que um dia tudo termina. Interessa saber continuar a viver. A história não é impactante. Parece uma analogia com a própria vida, na qual os dias vão passando, mais ou menos iguais. O único ponto negativo é alguma falta de ritmo, mas está de acordo com a narrativa.

  11. Pedro Paulo
    7 de dezembro de 2025
    Avatar de Pedro Paulo

    Que leitura deliciosa, meus parabéns! A protagonista é também a narradora, primeiro acerto da autoria, conferindo um tom confessional que permite entrever sua personalidade decidida – mesmo em momentos de tantas incertezas e mudanças – e cínica, que subordina mesmo os momentos mais cálidos a uma razoabilidade fria. Há tempos e espaços no conto, entre os quais predominam alguns. O início é o tempo da infância, mas a escrita é ágil, o conto é bem pensado, logo a narradora situa esses pequenos anos em contraposição ao período de vida universitária e esses anos como decididos em sua relação com o jogo. Ao mesmo tempo, toda essa vida de autonomia, primeiros empregos, beberadas, viagens, namoros, sexo e tudo, marcam um cenário verossímil, o que fortalece o texto com a organicidade de um relato da vida real. Narrado em primeira pessoa, a voz narrativa convincente reforça um teor autobiográfico envolvente. O lugar mais presente na narrativa, entretanto, é a casa em São Geraldo na qual os dois namorados passaram tardes de prazer. É neste ponto que o xadrez, quase tarde demais, entra na história, trazendo para a sua arena quadriculada o grande ponto que apreendi da leitura: a dúvida da rememoração. A narradora recapitula seu próprio envolvimento inexplicavelmente bem-sucedido com jogos como um dos aspectos importantes de seu relacionamento, uma vez que o esforçado Antônio não conseguia superar, entender ou repetir suas estratégias. A inclusão do xadrez na narrativa revela a importância que a narradora dava ao namoro naquele momento – reforçando seu calculismo nas considerações que faz das diferenças de condições financeiras de cada um -, mas também um jogo fora do circuito de divertimento coletivo deles, agora parte da vida íntima e doméstica daquele relacionamento. Seria também uma arena a refletir uma dinâmica de poder entre eles? A narradora presume que seja o jogo mais justo a pacificar a questão de sua estranha sorte, mas segue invicta. Ele a fode a tarde inteira, a submete pelo prazer, a narradora faz questão de compartilhar a frase que ele dizia: “vou te mostrar como você gosta”, na fantasia de que ele seria capaz de levá-la ao êxtase quase como uma revelação. Uma inversão do tabuleiro? A cama sendo onde ele ganha, talvez? Quando Antônio pouco a pouco deixa o jogo de lado, a narradora se frustra, rememora seus esforços de reencontrar a prática. Nova dúvida: ele dissimulava para não ser derrotado? Ou se tratou de uma perda de interesse natural? Ou, para ela, dessa forma ele desdenhava de seu presente, daquilo que era só deles? E se ele desdenhasse mesmo e fizesse de propósito? Narra quem lembra, mas quem lembra não se faz narrador onisciente. Essa é a graça desse texto, a persistência da dúvida, a lacuna não preenchida, o tabuleiro incompleto. O conflito pelo passaporte (ou seria pelo tabuleiro) foi a catarse desse enredo tão perfeitamente sutil. Ali, não só a possibilidade de sua revolta ser mesmo com o tabuleiro do xadrez é crível, como também a narradora admite querer que seja o passaporte, que ele não encontre o documento e que assim eles possam ficar juntos. Assim o xadrez assume o seu lugar de rede simbólica e nada definitiva de emoções. Mas a realidade se impõe, como a personagem sempre pé no chão constata, e quem acaba certo é o balconista folclórico do sebo: xadrez é um bom jogo de jogar só. Será que ela se livrou da enrascada de namorar um mau perdedor? Será que perdeu o melhor rival para aquele tabuleiro?

    A gambiarra de um batom como peça substituta arrematou sem responder a nada disso, com a autoria decidindo encerrar um conto com uma imagem fiel ao mundo de peripécias da vida universitária e proletária.

  12. marco.saraiva
    7 de dezembro de 2025
    Avatar de marco.saraiva

    Um conto magistral. Achei incrível a forma como você trouxe o xadrez para a vida da narradora, e usou-o para exemplificar a dor da despedida, de se sentir algo temporário, um amor com data de expiração. É forte saber que a narradora está ciente do que está passando e ainda assim insiste em tentar. O xadrez entra aí, e de cara já vem com uma falha. Afinal, Antônio nunca gostou de perder, é um garoto um pouco mimado. Mas ela, com a mania de não dar valor à própria capacidade, achava que o derrotava nos jogos por mera sorte. Então ela compra o tabuleiro de xadrez pensando mais em Antônio do que nela mesma: afinal, era presente para ele. Com o xadrez não há sorte, e ele finalmente poderia provar o seu valor. Mas ela se descobre mesmo mais inteligente do que ele naquele campo, e o jogo apenas destaca a distância entre eles que aos poucos se alongava. O interesse dele pelo jogo foi temporário, assim como ela mesma se via uma peça temporária em sua vida. E no final, quando ela decide roubar de volta o jogo para si, jogar as próprias partidas da vida, e descobre uma peça faltando – o vazio deixado para trás por Antônio… foi incrível. Que elegância, que esmero na escrita. Até mesmo o comentário do dono da loja de antiguidades, falando que “xadrez é bom de jogar de um”, é resgatado neste final, trazendo a mensagem de amar a si mesmo e jogar seu próprio jogo na vida deveria ser a sua prioridade. Sensacional.

    Isso tudo temperado com uma escrita extremamente bem executada, linda de se ler, redondinha. O conto navega questões de despedidas, paixão e perda, com pitadas de humor e sexualidade. Um conto sincero, bonito e muito bem escrito. Um dos melhores que li na série B até agora. Parabéns mesmo!

  13. cyro eduardo fernandes
    2 de dezembro de 2025
    Avatar de cyro eduardo fernandes

    O conto tem uma narrativa interessante. O relacionamento se esgarça conforme cresce o desinteresse no jogo. A peça faltante? É substituída, afinal são só símbolos. Parabéns e boa sorte no desafio.

  14. Mariana
    26 de novembro de 2025
    Avatar de Mariana

    Para a avaliação ficar bem explicada, organizei os tópicos que construíram a nota

    História: 

    Há começo, meio e final (0,75)? Há um desenvolvimento muito bem executado da história proposta, com crescimentos e conclusões agridoces 0,75

    Argumento (0,75): Um relacionamento, o xadrez como um instrumento que acompanha a história, inclusive o fim do amor e a separação. Ao mesmo tempo, é interessante a metáfora do cavalo branco, principesco, trocado por um batom. 0,75

    Construção dos personagens (0,5): Eu ainda não sei se é um conto de autoria masculina ou feminina, digo isso como um elogio. A protagonista é complexa, acompanhamos o seu processo de separação e encontro consigo mesma. Antônio é dúbio, humano. Bem bom 0,5

    Técnica:

    A capacidade da escrita de prender (0,75): Admito que não me pegou de primeira. No entanto, ao dar uma segunda chance, gostei muito da proposta. 0,6

    Gramática, ortografia etc (0,75): Correto, encarei os usos de “pras” e “numa” como recurso de naturalização dos personagens. O conto é como um fluxo de consciência, faz sentido 0,75

    Impacto (1,5): É um conto muito bom, que entrará na minha lista de favoritos. Parabéns ao auotr ou autora e boa sorte no desafio. 1,5

  15. Priscila Pereira
    24 de novembro de 2025
    Avatar de Priscila Pereira

    Olá, J.S.B! Tudo bem?

    Gostei bastante da sua escrita, muito interessante. Ágil, fluída, natural, a gente lê sem nem sentir.

    O enredo é simples, mas não simplório. Tem muitos sentimentos complexos, muito bem desenvolvidos. Vou dar minha opinião sobre o relacionamento desses dois aí, parece que ela era a única a se esforçar. Pq era sempre ela que ia até ele? Não que não existam relacionamentos assim, existem até demais, mas pra mim é muito estranho e não natural. Quase tóxico. Queria dizer isso pra demonstrar que a sua escrita conseguiu evocar esse incômodo, coisa bem difícil de fazer.

    O tema ficou em segundo plano, mas está aí. Podia ser qualquer outro jogo, qualquer outra coisa, como livro, música, artesanato, qualquer coisa que fosse um interesse dela (que sempre se rendia aos interesses dele) que ele iria ignorar. No final do conto pensei sobre o cara: já vai tarde. Se era essa a sua intenção, acertou em cheio!

    Um conto muito bem escrito e desenvolvido! Parabéns!

    Boa sorte no desafio!

    Até mais!

  16. Gustavo Araujo
    17 de novembro de 2025
    Avatar de Gustavo Araujo

    Achei o conto muito bem escrito. Temos aqui um(a) autor(a) seguro, experiente, que entende do riscado. Boas construções, boa argumentação. O estilo, em certos momentos, me trouxe à mente a sinceridade de um Bukowski, ou mesmo de um Thomas Wolfe (o antigo). De fato, a intimidade da protagonista transborda por todas as linhas, ora resignada, ora esperançosa, mas no fim o que resta é aceitação pela partida do namorado. De fato, não somos donos de nada, nem de ninguém; o mundo não é justo e somos permeados pela incoerência – quanto antes aprendermos isso, melhor. O conto, então, joga bem com essas peças, com esses temas universais, prendendo o leitor com muita competência. O revés fica por conta da adequação ao tema. A impressão que tive foi de que este conto estava pronto, ou quase, e foi adaptado para receber o xadrez. O jogo, em verdade, pouco representa na história contada. Foi xadrez, mas podia ter sido damas, gamão ou dominó – o resultado teria sido o mesmo, já que os embates psicológicos entre a narradora e o namorado Antônio não refletiram, pelo menos a meu ver, nada do que damas, bispos, cavalos, torres ou peões representam. O jogo, qualquer que fosse, seria apenas um gatilho. Em suma, um conto excelente mas que ficou aquém da adequação exigida pelo desafio.

  17. Kelly Hatanaka
    12 de novembro de 2025
    Avatar de Kelly Hatanaka

    Considerações

    Uma história de amor fadada a acabar, um amor com prazo de validade. O xadrez se mistura à história de amor, como o elemento de um relacionamento que é visto e entendido de maneiras diferentes pelos dois. Para ela, é algo importante, que deveria ser mais explorado. Para ele, é algo que começou importante, mas que foi perdendo espaço, até restar apenas uma certa irritação e falta de vontade de falar sobre.

    O velhinho que vendeu o jogo diz algo estranho: que xadrez é um jogo bom de jogar sozinho. Não parece verdade. Não estamos falando de xadrez.

    Penso que o xadrez simboliza o sexo, ainda que a narradora afirme não existir causalidade. O fato é que o interesse pelo jogo vai esfriando, algo que, no início era tão bom, vai sendo deixado de lado, vira “um saco” e, por fim, acaba esquecido por completo em um canto qualquer do armário. A cena final, após a despedida insinua uma busca solitária pelo prazer. Viajei?

    Gostei ou não gostei

     Li uma vez e gostei. Mas foi na segunda leitura que a coisa ficou mesmo boa. Porque o subtexto ficou mais claro e algumas coisas, que me pareceram estranhezas normais, mostraram seu significado.

    Há símbolos e significados ocultos, há elementos estranhos, tudo o que amo. Amei minha segunda leitura, algo me diz que gostarei ainda mais da terceira. Talvez, até lá eu entenda com mais clareza o que simboliza o xadrez. Eu acho que é sexo, mas a narradora já disse que não é, então, vai saber, não é mesmo?

    Talvez, o xadrez seja o autoconhecimento. Algo que pode ser feito a dois, mas que, via de regra, parece melhor feito sozinho. Algo que entusiasma, mas também cansa, desanima e irrita e que, para alguns, talvez, seja tentador esconder num canto do armário.

    Pitacos não solicitados

    Escreva mais.

  18. andersondopradosilva
    9 de novembro de 2025
    Avatar de andersondopradosilva

    Olá, autor.

    Autor, embora eu tenha me enternecido com a leitura do seu conto, eu gostaria que ele fosse mais do que uma história de amor. Eu preferia que ele me convidasse a pensar ou a me emocionar, ou gostaria que a sua prosa me tivesse convidado mais vezes ao encantamento. O desfecho me soou enigmático, mas, se a interpretação pertence ao leitor, gostaria de acreditar que o rapaz levou consigo a peça de xadrez como recordação de um amor que, sim, existiu.

    Nota 4,2.

  19. Antonio Stegues Batista
    8 de novembro de 2025
    Avatar de Antonio Stegues Batista

    A história é sobre um casal de namorados que vivem em cidades diferentes. Por que em cidades diferentes e não em bairros distantes? Ela dá e ele um tabuleiro antigo de xadrez. Eles jogam algumas vezes e Antonio, aos poucos, vai se desinteressando pelo jogo. Ele termina a faculdade e parte para a França. Não entendi muito bem essa parte, o por que ele não a levou junto, se gostava dela. Será que foi porque ela é narcisista?

    O conto é bem escrito, com frases elaboradas, a leitura é fluida, sem entraves. Gostei da escrita, do enredo no gênero cotidiano. Achei que faltou algo mais, uma reviravolta no final, mas isso é gosto meu. De qualquer forma é um bom conto, muito bem elaborado.

  20. claudiaangst
    6 de novembro de 2025
    Avatar de claudiaangst

    Olá, autor(a), tudo bem?

    O tema proposto pelo desafio é apresentado como uma metáfora do relacionamento entre a narradora e o seu primeiro namorado. Um jogo, como disse o vendedor, que é bom de ser jogado só por um. Talvez isso já sentenciasse que a mocinha acabaria só, com o coração (partido) em uma partida consigo mesma.

    A linguagem empregada é clara, apresenta um bom vocabulário, faz a narrativa fluir sem problemas de entendimento. No entanto, a elegância geral se perde em alguns momentos em que o(a) autor(a) considerou conveniente explicitar a situação dos personagens. Creio que tal decisão prejudicou um pouco a minha leitura.

    • “me levou ao quarto e me comeu durante a tarde inteira, com entusiasmo e qualidade. É assim que você gosta, ele dizia, eu vou te mostrar, vou te mostrar como é que você gosta.”

    Achei essa passagem um tanto pesada, me fez pensar em um relacionamento extremamente tóxico, o sujeito se achando o único conhecedor e manipulador do prazer da namorada. Sei que talvez esse fosse também o ponto de vista da narradora, uma jovem ainda se descobrindo. A fala do personagem mostra, além da toxidade, a sua imaturidade, o que é coerente com a idade suposta. Tudo bem, mas não gostei.

    O que me agradou foi o(a) autor(a) trazer o xadrez para o jogo do relacionamento. O namorado não ignora a mocinha por causa do vício em jogo, mas ao contrário, tenta desviá-la da competição, talvez porque não saiba lidar com o fato de que ela é a melhor jogadora.

    Bom conto, bem escrito, sem grandes falhas de revisão. Evitaria começar frases com pronomes oblíquos – me, nos, etc. É natural na oralidade, mas ainda não é totalmente aceito pelas regras atuais.

    Parabéns pela participação e boa sorte!

  21. Luis Guilherme Banzi Florido
    5 de novembro de 2025
    Avatar de Luis Guilherme Banzi Florido

    Boa noite, JSB! Tudo bem?

    Contaço! Muito bom mesmo. Aqui, o xadrez aparece de forma literal, mas com um fundo de cena muito mais profundo, carregado de significados. O primeiro amor, intenso, movimentado, complexo. O xadrez, paixão de um lado, mas não do outro, representa as perspectivas, metas, objetivos distintos dos enamorados. Sim, eles se amam. Sim, eles gostam de estar juntos. Sim, eles se sacrificam para fazer algo que o outro gosta, mas mesmo assim a vida os levará a caminhos distintos. As jogadas são cada vez mais imprevisíveis.

    Os personagens são muito carismáticos, o romance entre eles é gostoso de acompanhar. Você escreve muito bem! As construções de frases são bonitas e poéticas, e sua técnica é apuradissima.

    O final carrega uma beleza ainda maior. O final aberto, com o sumiço da peça, deixa muito a pensar.

    Enfim, um belíssimo conto, excelente trabalho. Parabéns!

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Publicado às 2 de novembro de 2025 por em Liga 2025 - 4B, Liga 2025 - Rodada 4 e marcado .