EntreContos

Detox Literário.

Brincando de Xadrez (Thales Soares)

Vovó tinha o costume de ler histórias pra mim e pro meu primo, o Bruno. Como meus pais trabalhavam o dia todo, eu acabava passando mais tempo na casa dela do que na minha, e isso fez com que eu ouvisse muitas histórias. Com o Bruno era igual. Eram tantas que a gente até perdeu a conta. Histórias de aventura, de bichos falantes, de reis e rainhas… Algumas faziam a gente sonhar acordado, imaginando que tava lá dentro, vivendo uma vida cheia de perigos e emoções.

Mas nesse dia a vovó tava ocupada, colocando a fofoca em dia com a Sônia, pelo telefone. Pra minha sorte, em algum lugar da casa tinha um livro bem maneiro guardado: o livro de ciências da vovó. Ele tinha figuras incríveis de animais, plantas e até do corpo humano por dentro. Eu adorava folhear e ver tudo aquilo. Decidi que era exatamente isso que eu queria fazer naquele momento: ler.

Levantei do sofá e comecei a vasculhar a estante da sala. Nada. Fui até o guarda-roupa do quarto do tio Beto, mas o máximo que encontrei foram umas fotos estranhas de mulheres em poses mais estranhas ainda. Não era o que eu queria. Voltei pra sala e olhei embaixo da mesinha de centro. Só achei um palito de dente e um botão de camiseta. Peguei os dois, vai que servem pra alguma coisa depois. Continuei a busca: puxei um banquinho e olhei em cima da geladeira. Onde é que esse livro se meteu?

Eu já tava quase desistindo quando abri o armário grande da área de serviço, aquele cheio de tralha que a vovó guarda sabe-se lá por quê. Entre toalhas de mesa bordadas e enfeites de Natal empoeirados, encontrei algo diferente: um tabuleiro de xadrez.

Não era o que eu procurava, mas era bonito demais pra ignorar. Todo quadriculado em preto e branco, com peças que tinham um peso gostoso na mão. Meu pai adorava jogar xadrez, até participava de campeonatos em outras cidades, e foi ele quem me ensinou todas as regras. Peguei o tabuleiro, assoprei a poeira e levei até a mesinha da sala.

Pensei em chamar o Bruno pra jogar comigo, mas ele era tonto e nunca ia conseguir aprender a mexer as peças. Então fiquei ali, sentado no tapete, com o tabuleiro montado na minha frente e ninguém pra jogar. Foi aí que comecei a reparar melhor naquelas peças. Elas pareciam personagens de uma história: rei, rainha, cavalos, torres, bispos e até peões, todos prontos pra uma guerra. Mas então me veio a pergunta: por que o Reino da Luz tava em guerra com o Reino das Sombras?

***

Tudo começou quando o príncipe do Reino da Luz nasceu. Como era tradição, todo recém-nascido da realeza era levado ao velho Bispo, um daqueles caras que dizem ver o futuro e falam tudo em um monte de palavras difíceis. Mas aí veio o problema: o Bispo anunciou que aquela criança estava amaldiçoada e que um dia acabaria com todas as regras do mundo!

Aquilo foi um choque. Os dois reinos levavam regras e tradições tão a sério que nem sabiam o que seria de um mundo sem elas.

O Reino das Sombras ficou sabendo da profecia. Seus cavalos espiões não deixavam escapar nenhuma informação e levavam tudo direto aos ouvidos do Rei. Temendo o caos que aquela criança poderia trazer, o Rei das Sombras exigiu que o Reino da Luz entregasse o bebê. O pedido foi recusado. Então, começaram os ataques.

O exército das Sombras atravessou todas as defesas e colocou o Rei da Luz em xeque. Como último recurso, a Rainha pegou o pequeno príncipe, colocou-o dentro de um cesto e o deixou seguir sozinho pela correnteza do rio. A partir dali. Quando o exército das Sombras descobriu o que ela tinha feito, ficou furioso. Tanto que, tomado pela raiva, comeram a Rainha.

O príncipe da Luz foi rebaixado a um simples peão e passou a viver escondido entre os plebeus. Foi criado de forma humilde pela Torre Anciã que, no dia do seu décimo oitavo aniversário, lhe disse:

“Escute bem, meu jovem. Agora você pode ser só um peão, mas isso não precisa durar pra sempre. Se você atravessar todo o tabuleiro, enfrentando o exército inteiro do Reino das Sombras e superando cada desafio, um antigo feitiço será despertado dentro de você. E, então, a verdade oculta virá à tona.”

Sem perder tempo, o sonhador Peão partiu em sua longa jornada. O caminho não era nada fácil, mas ele era corajoso e seguiu em frente. No começo, todo empolgado, avançou duas casas de uma vez no tabuleiro! Depois, percebeu que era melhor ir com calma e passou a seguir apenas uma por vez.

Até que, de repente, ouviu um barulho estranho vindo de cima. Parecia som de cascos. Olhou para o alto e viu uma coisa absurda: um Cavalo em cima do telhado de uma casa! Lá estava ele, todo pimpão, com a crina balançando ao vento, olhos arregalados, rabo torto e um jeito completamente maluco. Mas usava o brasão do Reino da Luz, então era um aliado.

Foi quando ele pulou. E não foi um pulo normal. Foi um pulo esquisitíssimo: primeiro para o lado… depois para a frente… desenhando um L no ar! Ele aterrissou bem na frente do Peão, levantando uma nuvem de poeira.

“Olá, pequenino!”, disse ele. “Pra onde pensa que vai, hein?!”

“E-eu…”, gaguejou o príncipe. “Vou atravessar o tabuleiro. Preciso chegar do outro lado!”

O Cavalo deu uma risada alta, relinchante.

“Atravessar o tabuleiro? Desse jeito? Andando em linha reta, feito um bobão? Ah, meu jovem… você não vai chegar muito longe assim!

“E o que você sugere?”

“Que tal eu te ensinar minha técnica secreta?”, disse, abaixando a voz como se fosse revelar o maior segredo do universo. “Uma técnica passada de geração em geração entre todos os Cavalos. Meu pai me ensinou, o pai dele ensinou pra ele, e o pai do pai do pai…”

“Tá bom, já entendi! Que técnica é essa? Eu quero aprender!”

“O Pulo em L! Com ele, você pode se mover de um jeito que ninguém espera. Vai pro lado… depois pra frente! Ou pra frente… depois pro lado! Você confunde todo mundo, passa por cima de qualquer obstáculo e ainda sai parecendo um artista!”

O pequeno Peão observou, hipnotizado, enquanto o Cavalo demonstrava o movimento. Era incrível! Nada de andar só pra frente feito um zé-mané. Com o Pulo em L, ele poderia se mover de um jeito que ninguém nem sonharia em prever!

“Você… você realmente vai me ensinar isso?”

“Claro!”, respondeu o Cavalo, piscando o olho. “Sem isso, você ia morrer assim que encontrasse a primeira peça do oponente.”

E ali mesmo, naquela casinha do tabuleiro, o príncipe-peão adquiriu a técnica secreta do Pulo em L, o movimento secreto dos Cavalos.

***

Eu tava tão entretido com a história que nem ouvi os passos se aproximando. Só percebi quando uma sombra caiu em cima do tabuleiro. Era o Bruno, parado do meu lado, olhando as peças com aquela cara de imbecil.

— Pedrinho, o que você tá fazendo? — perguntou, com a barriga gorda apoiada na mesa.

— Nada. Só brincando.

— Posso brincar também?

Fiquei na dúvida. Tinha certeza de que ele ia estragar tudo. Mas, antes que eu pudesse responder, ele já começou a pegar as peças pretas.

— Eu vou ser esse aqui! — anunciou, levantando um bispo. — Ele parece importante.

Tentei protestar, mas não adiantou. Bruno colocou o bispo preto bem no meio do tabuleiro, direto no caminho do meu peão.

***

O príncipe se aproximou com cuidado. A figura à sua frente usava um manto negro e segurava um cajado comprido. Tinha um ar de sabedoria… mas também algo misterioso.

“Com licença”, disse o Peão, fazendo uma referência. “Este caminho… ele leva ao seu reino?”

O Bispo virou a cabeça bem devagar. Quando falou, sua voz saiu fina, trêmula, parecendo a de uma velha coroca:

“Talvez sim… talvez não…”

O príncipe franziu a testa.

“Como assim? Fala direito!”

O Bispo soltou uma risadinha seca e levantou o cajado, apontando para duas direções diferentes.

“Você precisa fazer uma escolha. Uma escolha que vai mostrar quem você realmente é. À esquerda, seguindo pela diagonal, há uma vila em chamas. As casas estão pegando fogo, bicho (Bruno imitou a voz do Faustão neste trecho), e as pessoas gritam por socorro. À direita, também pela diagonal, há outra vila. Mas essa tá sendo saqueada por um guerreiro do meu reino. É um Cavalo cuspidor de fogo! Os moradores correm apavorados enquanto ele rouba e destrói tudo que encontra pela frente. E aí, qual será sua escolha?”

O príncipe olhou pra um lado. Depois pro outro. Sem saber qual decisão tomar, perguntou:

“Esse Cavalo cuspidor de fogo… ele é muito poderoso?”

O Bispo balançou a cabeça devagar e respondeu daquele jeito irritante de sempre:

“Talvez sim… talvez não…”

“Dane-se! Então eu vou pra vila em chamas!”, declarou, seguindo pela diagonal esquerda.

***

Bruno soltou uma risadinha.

— Pedrinho, você é muito cagão! Tá com medo de enfrentar meu cavalo, né?

Ignorei o comentário e continuei movendo o peão pela diagonal esquerda. O príncipe não era cagão coisa nenhuma! Ele só… tava sendo estratégico!

***

Ele atravessou várias casas até chegar à vila em chamas. As labaredas subiam alto, a fumaça preta ardia nos olhos e o calor era insuportável. Então, em meio à névoa de fuligem, parado bem no centro da vila, surgiu uma figura: armadura negra reluzente, lança comprida nas mãos, postura ameaçadora.

Era ele.

O Cavalo das Sombras?!

***

— O quê?! — exclamei, olhando feio pro Bruno. — Você não disse que o cavalo tava na outra vila?

— Esse aqui é o irmão gêmeo dele.

— Irmão gêmeo?!

— É! Tem dois Cavalos das Sombras. Todo mundo que joga xadrez sabe disso, e se você não sabe é porque você é burro!

— Você não conhece regra nenhuma de xadrez, imbecil! Eu que sei jogar, porque meu pai me ensinou!

***

O príncipe olhou pro Cavalo da Sombras à sua frente, depois olhou pra trás, pensando em fugir. Mas era tarde demais.

“Ora essa…”, disse o Cavalo, forçando uma voz grave, mas soando mais como um bobão tentando parecer ameaçador. “O que temos aqui? Um peãozinho fedido?”

O príncipe engoliu em seco.

“E-eu… eu só quero atravessar o tabuleiro!”

O Cavalo soltou uma gargalhada que ecoou por todo o tabuleiro.

“Prepare-se para ser esmagado, vagabundo!”

***

— Ei, o que você tá fazendo? — perguntou Bruno.

— Peraí, tô colocando a espada e o escudo do meu personagem — disse eu, pegando do bolso o botão e o palito de dente que eu havia achado mais cedo.

— Pronto. Bora!

***

Então a batalha começou de verdade. O Cavalo começou a voar e soltou uma baforada de fogo em direção ao Peão. Mas o príncipe se defendeu com seu escudo improvisado.

O Cavalo relinchou no ar e mergulhou de novo, desta vez avançando com a lança apontada direto pro peito do Peão. O escudo não aguentaria aquele impacto… mas o príncipe era mais esperto do que parecia.

Ele se esquivou dando um salto maluco em forma de L.

***

— Ei! — gritou Bruno. — Peões não se movem assim!

— O seu cavalo tá voando e cuspindo fogo, e você vem reclamar do meu movimento?

— O pai do meu cavalo é um dragão, e a mãe, uma égua! Por isso ele herdou essas habilidades. Então finge que pode, tá?

— Quê?! Como assim “finge que pode”?! Isso nem faz sentido, Bruno! Eu li no livro de ciências como essas coisas funcionam. É impossível um dragão se acasalar com uma égua!

— Se você entende tanto de acasalamento, então aposto que leu os livros de sacanagem do tio Beto.

— Cala a boca, cabaço!

— Sabe de uma coisa? Cansei. Não quero mais brincar! Você é muito mandão!

Bruno saiu da mesa e foi pro quarto. Eu queria que ele ficasse lá pelo resto da vida, mas não. Logo voltou pra encher o saco. Agora tava com um livro na mão e deitou no sofá pra ler. Olhei por cima do ombro dele pra ver o que aquele idiota tava folheando… e era o meu livro de ciências!

— Este livro é muito chato — disse ele. — Nem fala de dragões!

— Devolve isso!

— Eu que achei, então é meu.

Levantei da mesa com um punhado de peões na mão e gritei:

— Devolve agora, gordo lazarento!

Comecei a arremessar os peões na cara dele, tentando acertar o olho. Mas o desgraçado se defendeu usando a capa do meu livro como escudo. Em segundos, a sala virou um verdadeiro campo de batalha. Peças de xadrez voavam pra todo lado. Eu atacava com as brancas, ele contra-atacava com as pretas.

Foi então que ouvimos a voz da vovó, lá da cozinha, ainda no telefone:

— Só um instante, Sônia. As crianças tão de arranca-rabo, preciso acudir.

A porta da cozinha se abriu e lá estava ela, a vovó, com o telefone sem fio em uma mão e o chinelo na outra. Ela tava parada, olhando toda aquela bagunça com uma cara de espanto. O tabuleiro de xadrez tava todo torto no chão, com metade das peças espalhadas pela sala.

— Crianças, não briguem!

— Vovó! — gritou Bruno, fingindo desespero. — O Pedrinho peidou!

Dei um passo à frente e acertei um soco bem no estômago dele.

— Cheque-mate! — gritei.

Bruno se dobrou, segurando a barriga, e começou a chorar, daquele jeito exagerado de ator de novela.

— Vovóóó! Ele me bateeeu! — berrou, entre soluços falsos.

Nesse exato momento, a campainha tocou.

— Deve ser sua mãe, Pedrinho — disse vovó, olhando pro relógio. — Vamos, arrume suas coisas.

Peguei minha mochila às pressas, ainda de cara amarrada. Bruno continuava se fingindo de coitado no sofá, gemendo de propósito. Mas, quando a vovó virou de costas, ele me mostrou a língua.

Me despedi e entrei no carro. No caminho inteiro de volta pra casa, fiquei pensando na história de xadrez. Será que o príncipe conseguiria atravessar o tabuleiro? Será que descobriria a verdade secreta? E a tal profecia… como aquilo ia acabar?

Quando cheguei em casa, já era quase hora do jantar. Fui direto pro meu quarto e joguei a mochila no chão.

Foi então que o telefone tocou lá embaixo.

— Pedrinho! — gritou minha mãe. — É pra você! É o Bruno!

Desci correndo e atendi.

— Alô?!

— Oi… — disse ele, com uma voz meio sem jeito.

— Oi — respondi, também sem saber muito bem o que falar.

Ficamos em silêncio por alguns segundos. Então ele disse:

— Sabe quando você me deu aquele soco na barriga?

— Sei.

— Depois que você foi embora… eu vomitei salsicha.

— Sério?!

— Sério.

A gente começou a rir sem parar.

Ficamos conversando sobre a brincadeira, rindo das partes idiotas, discutindo sobre como a história poderia ter continuado. Foi então que me veio uma ideia.

— Quando eu for aí de novo… — comecei, hesitante. — A gente podia continuar com a brincadeira de xadrez. O que acha?

Do outro lado da linha, Bruno fez uma pausa dramática. Então, com aquela voz esganiçada de velha coroca, respondeu:

— Talvez sim… talvez não…

Nós dois caímos na gargalhada. Rimos tanto que minha barriga começou a doer e eu comecei a peidar. Do outro lado da linha, dava pra ouvir o Bruno rindo feito maluco também.

Então minha mãe gritou que o jantar tava pronto, e eu tive que desligar.

Depois de comer, fui pro quarto me deitar e fiquei olhando pro teto, pra constelação de estrelinhas fosforescentes que minha mãe tinha colado ali. Continuei pensando na história do xadrez… e logo peguei no sono.

***

Depois de vencer a batalha contra o Cavalo das Sombras, o Peão seguiu em frente em sua missão de atravessar o tabuleiro inteiro. Casa por casa, enfrentou perigos, fez escolhas difíceis e aprendeu com cada criatura que encontrou pelo caminho.

E então, finalmente, depois de tanta luta, tanto esforço e tantos passos cautelosos, o príncipe chegou ao fim do tabuleiro. Do outro lado. No coração do Reino das Sombras.

Ali, na última casa, o Feitiço da Promoção despertou dentro dele, exatamente como a Torre Anciã havia prometido. O peãozinho capenga e abandonado podia escolher se transformar em qualquer coisa que quisesse.

Mas então veio o plot twist.

Quando a luz mágica o envolveu, ele revelou a verdade que esteve escondida durante todo esse tempo.

Ele não era um príncipe.

Nunca foi.

Era uma princesa.

Uma garota que teve que se disfarçar desde que nasceu. Que viveu escondida, fingindo ser alguém que não era, só pra sobreviver num mundo cheio de regras rígidas, tradições velhas e profecias assustadoras.

Mas agora, no fim do tabuleiro, livre para escolher quem queria ser, ela se transformou na peça mais poderosa de todas, e se tornou a nova Rainha da Luz.

E ali, naquele reino hostil, ela conheceu o príncipe das Sombras, um garoto que também tava cansado das guerras bobas entre os dois reinos. Eles se apaixonaram. E dessa vez, nada de profecias, maldições ou batalhas.

Começaram, enfim, os preparativos pro casamento.

Quando a união entre Luz e Sombra se confirmasse, tudo mudaria. Não haveria mais peças brancas contra peças pretas. Não haveria mais lados opostos no tabuleiro. As regras antigas, aquelas que decidiam quem podia ou não podia fazer certas coisas, que obrigavam cada peça a seguir sempre o mesmo caminho, que dividiam o mundo em casas quadriculadas, todas essas tradições seriam extintas.

Os dogmas dariam lugar à liberdade. A guerra daria lugar à paz. E então, o tabuleiro inteiro se tornaria uma única casa, e o branco e o preto desapareceriam, misturados, contagiados, transformados por muitas cores.

Só que algo estranho ocorreu.

No altar, bem na hora do casamento, quando o Bispo estava prestes a consagrar o matrimônio, ele perguntou:

“Príncipe das Sombras, você aceita a Rainha da Luz como sua legítima esposa?”

O príncipe, com a voz esganiçada, parecendo um idiota, respondeu:

“Talvez sim, talvez não!”

Ele ficou com a cara do Bruno, e eu havia virado a noiva!

***

Acordei suando e percebi que tudo não passava de um pesadelo. Respirei fundo, me virei na cama e voltei a dormir.

Sobre Fabio Baptista

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20 comentários em “Brincando de Xadrez (Thales Soares)

  1. Andre Brizola
    13 de dezembro de 2025
    Avatar de Andre Brizola

    Olá, Cavalão!

    Seu conto enveredo por um caminho que flerta com o humor, mas que esconde algo mais dentro de informações pequenas e sugestões que o leitor pode, ou não, utilizar para um entendimento mais amplo. É uma forma interessante de dar mais de um caminho para o enredo, como foi feito para o xadrez no conto.

    Técnica – Há bastante habilidade no que diz respeito à maneira como a forma coloquial é traduzida para o texto. Os diálogos me parecem bastante naturais e é fácil comprar a ideia de que garotos endiabrados e entediados falariam e diriam tudo aquilo. O enlace com a história narrada com o ”jogo” de xadrez ficou interessante, embora tenha ficado bastante conservadora. No geral, a técnica é toda bastante certinha, mas não vai além disso.

    Enredo – Como disse antes, é possível ver além da narração de uma briga entre dois primos, e encontrar um conteúdo mais ousado, em que Pedro começa a descobrir uma sexualidade diferente daquela que provavelmente é levado a crer que é a única correta. Essa me parece a interpretação mais correta e a mais interessante. E o final nos faz rever algumas frases do começo do texto, “não era isso que eu queria”, por exemplo. Interessante, mas ainda bastante conservador dentro da proposta.

    Impacto – Neste tópico gosto de analisar o quanto o conto ocupou de espaço na minha cabeça desde que o li pela primeira vez. Lembrei dele no dia seguinte, ou no outro? Se lembrei, foi de algo bom ou ruim? Ser lembrado, de qualquer maneira, já seria uma forma de impacto. Mas a verdade é que Brincando de Xadrez não conseguiu conquistar esse espaço, e praticamente não lembrava dele após ter lido. O impacto foi bem pequeno.

    Conclusão – Acho que há uma proposta de muito potencial nesse conto, mas que acabou sendo aproveitada de forma muito contida, tímida. Faltou provocação, acho. O resultado final, pra mim, é a de um conto que tenta ser divertido primeiro, e relevante depois, e o saldo é um impacto pequeno. Pelo menos pra mim.

    É isso. Boa sorte no desafio!

  2. Rodrigo Ortiz Vinholo
    13 de dezembro de 2025
    Avatar de Rodrigo Ortiz Vinholo

    Enquanto proposta de conto juvenil ou infanto-juvenil, acho até interessante, mas é realmente o tipo de leitura que não possui tanta área de manobra para outros públicos. Os personagens são verossímeis e divertidos, e a narração de ponto de vista infantil funciona e é crível. A imaginação infantil trabalhada como elemento narrativo funciona, mas ao mesmo tempo limita um tanto a narração não apenas em estilo e vocabulário, mas também em possibilidades: o enredo (tanto o dos meninos quanto da história por eles imaginada) anda por caminhos seguros e óbvios, e as motivações também. Um bom texto, mas uma proposta mais arriscada na hora de conquistar públicos diferentes. Funciona? Talvez sim… talvez não.

  3. leandrobarreiros
    13 de dezembro de 2025
    Avatar de leandrobarreiros

    Eu gostei desse conto em tantas camadas diferentes.

    Primeiro, pela narrativa leve que carrega durante a leitura.

    Segundo, pela criatividade com o tema do desafio.

    Terceiro, por lembrar da minha infância em que eu fazia exatamente coisas desse tipo. Tudo era um boneco em um shonen meio estranho, inclusive canetas e lapiseiras viravam “bonecos”.

    Quarto, pela mistura que a criança fez entre as regras do xadrez e a sua própria narrativa.

    Quinto, pela construção de um final forte, mas sem muito apelo, que toca um pouco na questão da sexualidade/descoberta infantil associada a um dos elementos do xadrez, que é a transformação do peão em uma peça da escolha do jogador.

    É um dos meus favoritos até aqui e não tenho nenhuma sugestãozinha ao escritor.

  4. Kelly Hatanaka
    12 de dezembro de 2025
    Avatar de Kelly Hatanaka

    Considerações

    Um divertido infanto juvenil que só quem teve primos com que implicar vai saber apreciar devidamente. Este conto traz uma forte nostalgia dos dias despreocupados da infância, das brigas que duravam só até apertar a vontade de brincar.

    Gostoso demais acompanhar a imaginação vívida dos primos, subvertendo o jogo de xadrez e criando sua própria brincadeira, muito mais divertida.

    Trata-se de um conto criativo e divertido. Entretivo e ok? Sim, mas não só. É um conto com muita personalidade. A autoria tá na cara. Só faltou o filhote da galinha dessa vez.

    Gostei ou não gostei

     Gostei! Uma leitura leve e divertida até o final que, se não surpreendeu, também não decepcionou. Adorei o “talvez sim, talvez não”.

    Pitacos não solicitados

     É um conto muito bom, divertido e despretensioso. Senti, porém, uma certa forçada. Nos “peidos”, por exemplo. Precisava? Não sei. Pra mim, sobrou. E este seria meu pitaco para este conto. Um pouco mais de técnica e “sutileza” para conduzir bem esta criatividade fervilhante e preciosa.

  5. Pedro Paulo
    10 de dezembro de 2025
    Avatar de Pedro Paulo

    Mais um lindo conto bem-sucedido em nos coloca na perspectiva de criança. Como comentei noutro texto, ressoa muito comigo, que comecei a jogar garoto e também inventava contextos para as peças. Pedro e Bruno são uma dupla e tanto e suas travessuras e implicâncias parecem um retrato fiel da infância brincada entre primos, sempre caótica, mas nunca sem afeto. É um sucesso de técnica sobre um enredo simples com execução fantástica. Parabéns!

  6. Fabio D'Oliveira
    10 de dezembro de 2025
    Avatar de Fabio D'Oliveira

    Buenas!

    Cara, eu gosto muito de contos assim. Divertidos e leves. Um reflexo da infância. Primos que vivem brigando, mas não se desgrudam. Esse conto trouxe uma temática que mexe um pouco comigo. Quando criança, conheci meu irmão de criação. Por algum motivo, nossa conexão foi e ainda é maior do que todos os meus irmãos de sangue. A gente levantava escondido de madrugada, ajeitávamos os bonecos e eu inventava histórias, como se fosse um filme, e meu irmão ficava sentado no chão, assistindo como se fosse televisão. Ler este conto foi como ser teletransportado para a minha infância.

    É engraçado como alguns textos tocam diretamente no coração do leitor, né? E tudo depende da relação do leitor com a vida e a literatura. Tem espaço para todo tipo de obra literária.

    Não consigo evitar a comparação deste conto com “Nuvens”, de Luis Guilherme Banzi. A temática é muito parecida, mas a abordagem é muito diferente. Enquanto este texto aposta na leveza e na diversão, o outro aposta no drama. Levantei essa questão por mero capricho, rs. A abordagem muda tudo.

    Não tenho reclamações com o conto. Ele está redondinho, bem escrito e cumpre com a proposta com perfeição. A relação de Pedrinho e Bruno é muito realista. Eu tenho dois primos que são assim, que também são primos entre eles (a família é grande por parte do pai, rs). Brigam por tudo, mas são inseparáveis.

    Parabéns, Cavalão (que pseudônimo, hein, HAHAHAHAHAHA).

    Boa sorte no desafio!

  7. toniluismc
    6 de dezembro de 2025
    Avatar de toniluismc

    E aí, Cavalão! kkkk (que nome hein lol)

    Se o objetivo era entreter, missão cumprida com louvor. Eu realmente ri um bocado com esse conto. Todavia, contudo, entretanto…estamos em um desafio de escrita, então a minha chatice não poderá poupá-lo de algumas observações. A seguir:

    1. Técnica

    Pontos fortes

    • Leitura gostosa e clara – Frases simples, diretas, fáceis de acompanhar.
    • Boa condução de cena – A busca pelo livro, a descoberta do tabuleiro, a briga com o Bruno, a vovó chegando de chinelo na mão… tudo isso é visual, fácil de imaginar.
    • Diálogo entre crianças muito natural – “gordo lazarento”, “cabaço”, “você é muito cagão”, “peidou” — funciona bem pro registro da idade e reforça o humor.

    Agora, o que pesa contra:

    a) Narração às vezes “reta demais” e pouco trabalhada

    O narrador é infantil, ok, mas mesmo dentro de uma voz simples dá pra ser menos repetitivo:

    “Como meus pais trabalhavam o dia todo, eu acabava passando mais tempo na casa dela do que na minha, e isso fez com que eu ouvisse muitas histórias. Com o Bruno era igual. Eram tantas que a gente até perdeu a conta.”

    Aqui você repete ideia (“ouvir muitas histórias”) sem acrescentar muito. Poderia ser mais enxuto e ter um detalhe marcante (um cheiro, um ritual, uma mania da vó).

    Mesma coisa em vários trechos:
    – “Decidi que era exatamente isso que eu queria fazer naquele momento: ler.”
    – “Não era o que eu queria.”

    Você às vezes explica o óbvio que a cena já mostra. b) Clichês de linguagem e estrutura

    Na parte da fantasia, aparecem vários clichês de conto “épico”:

    • Profecia de criança amaldiçoada que vai mudar o mundo.
    • Bebê colocado no cesto e mandado pelo rio.
    • Reinos em guerra, príncipe condenado, criado humilde entre plebeus.
    • “Regras antigas serão extintas, dogmas darão lugar à liberdade, guerra dará lugar à paz…”

    Isoladamente, nada disso é “proibido”. Mas tudo junto, sem um twist forte de estilo, soa já muito visto.

    E o texto, nessa parte, descola do tom engraçado das crianças e vira quase um mini-manifesto didático sobre tradição x liberdade. A simplicidade da voz infantil briga com o tom “solene” dessas frases. c) Exposição longa demais na parte final

    Quando a princesa chega ao fim do tabuleiro:

    “Os dogmas dariam lugar à liberdade. A guerra daria lugar à paz. E então, o tabuleiro inteiro se tornaria uma única casa, e o branco e o preto desapareceriam, misturados, contagiados, transformados por muitas cores.”

    Isso é mais explicação de tese do que narrativa. Você está dizendo ao leitor exatamente o que pensar, em vez de mostrar isso em cenas ou imagens.

    Essa parte podia ser muito mais forte se fosse:

    • Mais visual
    • Menos “manifesto”
    • Mais ancorada no olhar da princesa (o que ela sente, vê, teme, deseja).

    2. Criatividade e uso do tema Xadrez

    O que é criativo e funciona

    • Ideia de criança criando uma história a partir do tabuleiro – Perfeito com o tema. Ele vê as peças como personagens e inventa um “Reino da Luz” x “Reino das Sombras”.
    • O jogo entre imaginação e realidade – A narrativa vai alternando:
      • História de fantasia
      • Intervenções do Bruno estragando a lógica
      • O narrador ajustando a história pra acomodar as interferências.

    Isso é muito bom: faz o xadrez virar, literalmente, uma ferramenta de narrativa.

    • Uso de regras do xadrez dentro da história
      • Peão andando duas casas e depois uma.
      • Promoção no fim do tabuleiro.
      • Cavalo com pulo em L (que o peão “aprende”) — ainda que isso quebre a regra, funciona como metáfora de criatividade.

    Onde o uso do tema derrapa

    • Inconsistência deliberada sem payoff dramático
      A graça da imaginação infantil é poder quebrar as regras. Mas, se o peão aprende o “pulo em L” — algo proibido no xadrez — isso poderia:
      • Virar um conflito real (tipo “se você fizer isso, não é xadrez”, discussão mais profunda entre os dois),
      • Ou ter efeito simbólico (ele romper as regras impostas a ele como peça/classe/gênero).

    No entanto, isso vira só uma piadinha de “ah, deixa, finge que pode”. Você tem uma oportunidade ótima de amarrar criatividade, quebra de normas e tema xadrez, mas ela passa meio batida.

    • Promoção da princesa é ótima ideia, mas vem tarde demais e é muito explicada
      A revelação de que o peão era uma princesa disfarçada é um twist legal, tem potência:
      • identidade escondida
      • crítica de gênero
      • peça mais fraca virando a mais poderosa.

    Mas isso é despejado quase tudo em modo “resumo” no final:

    “Uma garota que teve que se disfarçar desde que nasceu. Que viveu escondida, fingindo ser alguém que não era…”

    De novo, contado em vez de mostrado. Seria mais impactante se essa questão estivesse plantada antes (algum estranhamento, alguma fala sobre ela “não se sentir bem” como príncipe etc.).

    3. Impacto e personagem

    Onde o impacto é mais forte

    • Na relação Pedrinho–Bruno
      É aqui que o texto brilha:
      • Eles se xingam, brigam, se agridem, roubam o livro, jogam peça na cara um do outro.
      • E depois ligam, riem da salsicha vomitada, lembram da brincadeira, imitam o bispo no telefone.
        Isso é extremamente crível e afetivo.
    • Humor físico e escatológico bem dosado pro público infantil
      Peido, vômito de salsicha, chinelo da vó, drama exagerado — tudo conversa com leitor jovem e mantém a leveza.

    Onde o impacto cai

    • “Era tudo um pesadelo” mata o peso do final

    Você constrói uma sequência bonita com:

    • a promoção do peão-princesa,
    • transformação em rainha,
    • casamento como símbolo de união dos reinos,
    • superação de regras rígidas…

    E, em vez de deixar o leitor com essa imagem forte, você arremata com:

    “Acordei suando e percebi que tudo não passava de um pesadelo. Respirei fundo, me virei na cama e voltei a dormir.”

    Esse é um dos finais mais batidos que existem na ficção (“era só um sonho”), e tem dois problemas aqui:

    1. Apaga a força da metáfora – tudo aquilo que poderia significar algo sobre identidade, liberdade e quebra de regras vira “só um sonho bobo”.
    2. Não se conecta com o arco emocional do Pedrinho – não muda nada na vida dele, nem nas relações. É só um “fechar de cortina” sem consequência.

    Tem uma boa piada (ele virar a noiva, o Bruno como príncipe das Sombras), mas depois disso bastaria parar na risada desconfortável, ou usar o sonho pra revelar algo do Pedrinho (vergonha, curiosidade, confusão, etc.). O “acordei suando, era só pesadelo” é que enfraquece.

    Por hoje, é isso.

    Mais do que apontar falhas, o objetivo aqui é esclarecer o que foi considerado na avaliação. Independente disso, creio que seu texto receberá boas notas, pois é envolvente, parabéns!

    Até a próxima!

  8. Suzy D. B. Pianucci
    6 de dezembro de 2025
    Avatar de Suzy D. B. Pianucci

    Achei a descrição dos elementos muito boa, em poucos parágrafos todo o contexto foi apresentado. Senti a solidão e o autoritarismo do coronel. Gostei muito da forma como foi abordado o espectro autista, o tema atual foi passado com delicadeza.

  9. Suzy D. B. Pianucci
    6 de dezembro de 2025
    Avatar de Suzy D. B. Pianucci

    Achei os elementos do texto infantilizado, pela descrição da partida talvez a exploração do diálogo pudesse ser mais atrativo, isso para meu gosto literário. A avó fofocando, a picuinha entre os garotos, o desfecho, senti falta de poesia.

  10. Sarah S Nascimento
    25 de novembro de 2025
    Avatar de Sarah S Nascimento

    Olá, senhor Cavalo Grande! kkkkk. Culpa sua de usar pra si mesmo esse pseudônimo. kkkkk. Brincadeiras a parte, vamos ao conto.
    Que conto maravilhoso, divertido, original, risos, não consegui pensar em mais adjetivos agora. kkkk.
    Eu adorei tudo na história que você criou, a linguagem simples do Pedrinho, as interações dele com o primo, a historinha que eles criaram do reino das sombras e reino da luz, cara isso casou demais com essa temática das peças brancas e pretas, ficou perfeito.
    Eu adorei ver os dois ali criando toda a história, no início me pareceu uma pegada assim da história de Moisés da Bíblia né? Parecia bastante. O cavalo divino ali falando com o peão, que era príncipe. kkk, cara ficou tão legal.
    Para mim seu conto pode fazer alusões a coisas bíblicas, mas faz isso de um jeito leve, respeitoso, divertido, tá de parabéns.
    Eu realmente adorei tudo, o final onde o príncipe na verdade era uma princesa, as imitações ali do Bruno com o bispo, ou o cavalo de fogo que tinha um gêmeo, é sério, você fez umas sacadas tão engraçadas cara, queremos saber o final da história de brincadeira e o final da vida real deles também.
    Os primos brigam, peças são atiradas um no outro, espalhadas pelo chão, e na hora que a vó aparece, pensei que os dois meninos iam levar umas chineladas. kkkkk
    Para mim, seu conto passou aquele sentimento que eu adoro, quando eu quero viver dentro daquela história. Foi incrível, criativo, divertido e eu não consegui pensar em nada que tenha me incomodado, ou que eu possa apontar aqui como melhorias.
    Conto excelente, senhor cavalo! kkkkk. Esse seu pseudônimo me quebra. risooos.

  11. claudiaangst
    18 de novembro de 2025
    Avatar de claudiaangst

    Olá, autor(a), tudo bem?

    A partir da imagem e do pseudônimo, suponho que este seja o conto do Thales. Estará certa a minha intuição?

    O que me incomodou um pouco foi o “tavismo” que não chega a ser um “queísmo”, mas.. São muitos “tava” para alguns “estava”. O uso de “tava” para ser fiel à oralidade é aconselhável, mas aqui ele aparece durante a narração e diverge da linguagem adotada como um todo. O narrador não é uma criança ou adolescente porque o restante das palavras não traz essa informação. Faltou coerência nessa questão.

    – fazendo uma referência > fazendo uma reverência
    – Uma garota que teve que se disfarçar desde que nasceu > três que(s) em uma única frase é demais, não? Uma garota que teve de se disfarçar desde o nascimento.

    O conto está muito bem construído e dinâmico. A narrativa prende a atenção e a leitura flui com facilidade.

    Parabéns pela participação nesta última rodada. Boa sorte!

  12. cyro eduardo fernandes
    17 de novembro de 2025
    Avatar de cyro eduardo fernandes

    Conto com personagens jovens, subvertendo as regras do xadrez de maneira divertida. A descrição dos personagens é bem feita, remontado às traquinagens da infância. No final vale pelo entretenimento e a reflexão sobre as dificuldades maiores enfrentadas pelas mulheres frente à mobilidade social.

  13. Léo Augusto Tarilonte Júnior
    16 de novembro de 2025
    Avatar de Léo Augusto Tarilonte Júnior

    Achei seu conto excelente e muito divertido. Só para constar, eu ri muito. Sua história ficou extremamente criativa. Achei muito legal a ideia de colocar uma história dentro de outra. Você conseguiu utilizar a temática do xadrez como parte integrante da sua narrativa. A utilização do palito de dente e do botão, foi uma bela aplicação do princípio da arma de check-kov. A fala do personagem do Bruno foi muito marcante para mim. Acho que nunca mais vou esquecer da voz de velha coroca dizendo talvez sim talvez não. Obrigado por dividir comigo um pouco do seu universo literário. Quero muito ler outras histórias suas nos próximos desafios.

  14. Alexandre Parisi
    15 de novembro de 2025
    Avatar de Alexandre Parisi

    O conto é divertido, vivo e cheio de personalidade. A voz infantil é convincente e rende momentos realmente engraçados — especialmente nas brigas com o Bruno. A mistura entre a imaginação do narrador e a “aventura dentro do tabuleiro” funciona bem e dá ritmo; quase nunca fica arrastado. O tema do xadrez está presente de forma criativa, sem virar explicação técnica.

    Por outro lado, às vezes a história interna (do príncipe/peão) se estende demais e perde impacto. Também há pequenas repetições e um ou outro erro (“deum”, por exemplo)

    08. Brincando de Xadrez

    . O humor é ótimo, mas em certos trechos o excesso de gritaria e insultos quebra um pouco a imersão — embora faça sentido vindo de duas crianças.

    No geral, o texto é leve, inventivo, cheio de energia e com um final que amarra bem o tom caótico.

  15. Antonio Stegues Batista
    11 de novembro de 2025
    Avatar de Antonio Stegues Batista

    “(…), mas nesse dia vovó estava ocupada”. Qual dia? O menino procura o livro pela casa toda, por que não procurou no quarto da vó, já que o livro era dela? Si o bispo tinha o dom de ver o futuro, ele era um bruxo? A história do príncipe cuja mãe o colocou no rio dentro de uma cesta, foi inspirada na história de Moisés? O cavalo parece o único com juízo perfeito, raciocina com lógica. Um conto engraçado, bem escrito meio surreal. Se eu gostei? Talvez sim, talvez não.

  16. leila patricia de sousa rodrigues
    11 de novembro de 2025
    Avatar de Leila Patrícia

    Terminei a leitura de Brincando de Xadrez com um sorriso no rosto. O texto tem alma, ritmo e um humor leve que não soa forçado. O narrador infantil é crível, o vocabulário, os gestos, a inocência travessa, tudo bem construído. A alternância entre o real e o imaginário é fluida, e a fusão entre a brincadeira e a fantasia de guerra de tabuleiro é muito bem resolvida.

    O autor domina o timing da narrativa: o diálogo entre os meninos é espirituoso e natural, e o humor surge do cotidiano, não de piadas. A inserção da “história dentro da história” é o grande acerto — funciona como espelho do jogo e do próprio aprendizado da infância sobre regras, competição e afeto.

    Talvez o conto pudesse ser ligeiramente mais enxuto em alguns trechos, sem perder a graça, e evitar pequenas redundâncias de estrutura (“foi então que”, “e aí”) que às vezes quebram o ritmo. Mas nada disso compromete o conjunto.

    É uma narrativa redonda, divertida e com sensibilidade.

  17. marco.saraiva
    8 de novembro de 2025
    Avatar de marco.saraiva

    Um conto cômico com ares de história infantil mas que, no final, traz uma mensagem de aceitação, falando do fim do preconceito contra homossexuais e mudanças de paradigma. Eu diria que a mensagem vem um pouco tarde (preconceito contra homossexuais está em queda há décadas, eu diria quase extinto), mas isto é apenas um pequeno trecho do conto e não a sua totalidade. Ao meu ver, o texto é mais uma coleção de cenas humorísticas, com uma pitada de infantilidade e cotidiano que ajudam nas risadas. Frases como “Tanto que, tomado pela raiva, comeram a Rainha” e “Rimos tanto que minha barriga começou a doer e eu comecei a peidar“, surgem de supetão e são quase um “jumpscare cômico”, completamente inesperadas.

    Infelizmente, a maior parte do humor aqui não funcionou muito comigo, mas acredito que isso seja devido às minhas preferências pessoais e não por causa da qualidade do conto. No geral, o conto é bem escrito, claramente não se leva a sério, e brinca com clichês e bobeiras, trazendo um ar leve ao desafio. Terminar o conto dizendo que tudo foi um sonho foi a chave de ouro dos clichês inaceitáveis. Legal =)

  18. Roberto Fernandes Junior
    7 de novembro de 2025
    Avatar de Roberto Fernandes Junior

    O texto é bem escrito, e gramaticalmente acurado, a história se desenvolve de forma constante e linear, contudo, o final se revela anticlimax em dois niveis, a princesa se casar com o príncipe adversário a torna nao revolucionária, mas apenas outra engrenagem do sistema, se a outra escolha fosse a transição de gênero, o desfecho que poderia ser vanguardista, se torna o mais batido clichê dos contadores de histórias. O texto sobreviveria melhor se acabasse imediatamente antes dele acordar, ou simplesmente quando ela vira a princesa(dama).

  19. Martim Butcher Cury
    3 de novembro de 2025
    Avatar de Martim Butcher Cury

    Que belezinha esse conto. Achei que ele mergulha com legitimidade no universo da molecagem, não só no que diz respeito à fantasia, mas também aos desentendimentos e à fonte inesgotável de bobeira que é a infância. Suspeitei, com tristeza, que iria terminar com uma grande redenção edificante, mas graças a Deus (ou à falta Dele…) os caminhos do deboche prevaleceram. Ainda assim, me parece que a possibilidade da “redenção edificante” poderia ter entrado em contato mais íntimo com a natureza do narrador, que é debochada. O que poderia sair do encontro (meio dialético, por assim dizer) entre a redenção e o peidorreiro? Ele simplesmente volta a dormir, no conto. Não passa por nenhuma transformação?

  20. Kauana Kempner Diogo
    3 de novembro de 2025
    Avatar de Kauana Kempner Diogo

    O conto possui uma estrutura fluida, alternando entre o cotidiano e o imaginário, trazendo o lúdico e simbólico nas descobertas do xadrez. A autenticidade da narração, personagem e vibrante, nos faz ver as cenas pelos olhos de uma criança. Sentimos um ar de afeto misturado com imaginação, todas as vivências do personagem são condizentes com aventuras da infância. Algo marcante é a metáfora do peão, que traz uma reflexão sobre identidade, liberdade e aceitação. Por conta disso tudo, o texto é sem dúvidas de uma sensibilidade e coesão raras.

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Publicado às 2 de novembro de 2025 por em Liga 2025 - 4A, Liga 2025 - Rodada 4 e marcado .