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Detox Literário.

A Promessa e o Xeque-mate em Três Atos (Mauro Dillmann)

Vou escrever essa história em três jogadas. Na primeira, o homem, um professor de matemática na Escola Santo Onofre, faz uma promessa quase em forma de cantiga iniciando o primeiro movimento do jogo.

Me socorre, Santo Onofre, estou cansado desse jeito desumano dos peões ao gritarem e brigarem no portão do colégio por uma mensagem de whatsapp mal entendida, dessas poses de rainhas das mães que quase me agridem, desses encastelamentos nas torres das supervisoras, dessas falsas jogadas de alguns colegas cavalos que querem me ferrar. Eu não estou preparado, não posso mais. É entrar no mercado e ser seguido, é entrar no ônibus e, depois de sentar, ser acusado de sujar a roupa alva da madame. Cansei desse tabuleiro, sou peça preta do xadrez e às vezes um doce vagabundo. E não sou apenas eu. Vejo muita gente infeliz, a reclamação virou regra como a álgebra. Tantas pessoas feias de espírito e eu também me sinto ridículo ao ter que dar explicações, ao ter que calar ou aceitar fingindo indiferença. Não consigo não me emocionar nem quando escuto Marisa Monte pela milésima vez. Perdi o interesse pelo meu sexo quando me vejo no espelho. Na verdade, eu gosto de me deprimir um pouco, mergulhar no mar de probleminhas, observar as estrelas e entrar numa sideral.

Será que esse homem não tem nada melhor pra fazer do que andar emocionado? Vê-se que não tem, anda roto e com tênis All Star sujo, uma bolsinha a tiracolo e uma mochila de lona, buscando aborrecimentos.

Santo Onofre, eu quero sair desse desalento, quero rir sem motivo, quero enxergar rostos não sofridos, quero andar como quem não aceita nada, quero vencer na vida, trabalhar menos e ter tempo para comer pipoca com leite condensado no sofá, não apenas no vazio do domingo, nossa ruína.

E ele segue assim, nesse clamor, talvez falte fé ou adoração eficaz ao santo, na imagem que fica no interior da escola, algo para justificar a promessa e a busca pela proteção do santo que não sai da sua boca. Vive gritando: Meu Santo Onofre! Ele se sente merecedor. Ou talvez tenha fé suficiente e queira mesmo apenas ter acesso a algo que deixou pra trás, ou, acredita, lhe tenha sido tirado, uma partida perdida. Ele quer reconstruir o que não mais existe, transformar a impossibilidade numa forma capaz de reconstrução, ainda que falsa ou impossível.

Só pode ser uma prova espiritual que estão fazendo comigo há trinta anos. E já com algum indício de calvície. É muita coisa. Tudo é um empréstimo, se eu fechar os olhos um minuto estarei com sessenta anos. Tento esquecer o acelerar do tempo e também o dia em que a aluna do oitavo ano me mandou uma mensagem contando que se masturbou depois da aula sonhando comigo.

Pensando assim, o professor parece mais um cosme emburrado e reclamão em sessão de umbanda. Se bem que todos os dias sai atrasado, correndo para não perder o ônibus e, quando embarca, sua respiração faz hah hah hah, com palpitação de quem não volta mais.

É muito difícil encarar acusação, hipocrisia, pai doente, esse meu rei que deixo sozinho todos os dias pela manhã, exposto já na primeira jogada; encarar falta de dinheiro para comer um sushi, essa ausência de amor e de beijo, esses alunos carentes, retardados e desnutridos. Meu Santo Onofre, me dá força para não chorar e dinheiro para não deprimir e daí eu prometo vencer essa partida.

A segunda jogada apresenta elementos inesperados, porém simples e resolvidos em um movimento de peça e algumas cenas que funcionam no sentido de trazer um clima e encaminhar um resultado.

Todo mundo sabe o que se espera depois de uma promessa a Santo Onofre, porque a crença popular anuncia com um aviso quando o pedido será atendido. Na verdade, quase todo mundo deveria saber, porque sempre tem aqueles que ignoram as coisas da fé ou tem religião diversa à do professor de matemática. É melhor explicar logo que o aviso do santo é uma moeda de maior valor existente que a pessoa recebe dada por alguém, e não é válido pedir. Impressionante foi a angústia do professor na espera de uma moeda, ele olhando para as pessoas com cara de “me dá um real”. Até para os motoristas que saíam de carro do estacionamento do supermercado ele sorriu e fez sinal como quem diz “tá bem cuidado”. Mas, para desespero dele, recebeu apenas duas moedas de vinte e cinco centavos. Não haveria de ser tão difícil porque ele acredita que pode facilmente fazer uma cara de quem quer ganhar um real. Como o dinheiro não vem, ele pensa:

Minha Nossa Senhora Desatadora dos Nós, ninguém percebe meu desejo por uma moeda, nem o desejo que me anima de combater pelo fim da guerra. Ninguém me olha, exceto um cachorro. Todos os dias o cachorro me olha com obstinação. Nem bem cheguei na escola e tem um cachorro me olhando. Já me disseram ter muita consideração por mim, mas se eu estivesse precisando de consideração avisaria com antecedência. Sei que não sou flor que se cheira. Preciso apenas de um real como quem precisa da ajuda dos outros para ser alguém na vida. Olho pro chão na esperança de encontrar uma moeda, mas achado não vale. Nunca fui surpreendido por dinheiro na rua. Continuo olhando, só encontro baratas. Sou um peão capturado em f5, que na verdade quer dizer fodido na quinta potência.

Pelo mesmo motivo que o levou à promessa, ele não tem raiva pelo fato de não ganhar um real de ninguém, principalmente dessas pessoas que o confundem com segurança de mercado, com porteiro de prédio, com cuidador de veículos, com vigia noturno, com desempregado. Todos trabalhos dignos, mas vistos com desdém. Também não tem raiva daqueles que chegam a prender a respiração com um som suave, com o susto diante de um possível batedor de carteira. E ele formula uma equação: tantas pessoas recebem moedas na sinaleira sem ao menos o esforço de comercializar um amendoim e se pergunta: e eu? porque o santo, ah, o santo não admite pedir.

Será que não viram minha cara? Viram sim. A mulher grávida, mais sensível, olha pra mim, pede licença e diz: na volta te dou um troco. E ela não voltou. Mais sensível uma ova. Devia ter a minha idade e disse: Licença, senhor. Assim mesmo: senhor. Sinceramente, até pensei em registrar essas proezas, escrever uma autobiografia. Não entendo de escrita, seria algo incompleto e interrompido. A menos que escrever seja tentar saber o que escreveria se viesse a escrever. Hoje, eu diria apenas: quero ganhar um real.

Mas o professor lembrou dos alunos, dos peões. Qualquer peão vivo é melhor que qualquer peão morto, mas nenhum peão vivo ou morto é muito melhor que qualquer outro peão vivo ou morto. E se deu conta que, enquanto professor do ensino básico, também era um peão. Um peão com pressa, que avança duas casas num único lance.

Tudo pronto e armado para o ataque final, o xeque-mate, o desfecho, que deve acontecer logo, mas depois da introdução de duas personagens com ritmos diversos. Primeiro é o diretor da escola, um trabalhador sem vontade própria que se movimenta sem total controle da sua consciência, com camisa semiaberta para mostrar o olho tatuado no peito. Ele age no impulso da resolução quase mecânica de prestações de contas e elaboração de atas e cobranças pelo registro da frequência. Já o menino, que vai levar a moeda ao professor, esse sim, tem alguma motivação e um impulso de interesse. Começa com o professor no grande hall de entrada da escola admirando aquilo que mais parece uma peça de teatro ao nível do melhor grupo de arte dramática do Brasil. Talvez seja relevante descrever esse prédio, uma das construções típicas dos anos 1980, com três blocos de concreto interligados por um pátio interno amplo, onde ficava a gruta de Santo Onofre. No principal bloco estavam as salas de aula e o refeitório; no segundo, a grande quadra esportiva, e, no terceiro, a biblioteca, a sala de atendimento odontológico e o gabinete do diretor. Era pelo hall que mais circulavam as monitoras, o diretor e os responsáveis nos momentos de entrada e de saída. Antes das trezes horas as crianças passando ao lado do muro. Era cada sombra correndo pelos muros, assustavam mais que os arrotos do almoço ainda nem digerido. Havia chovido no dia anterior e as crianças chafurdavam na lama, acreditando serem a Peppa Pig. Nesse espaço, no interior da escola, o professor olhava as crianças, ainda soltas antes da fila de entrada, quando viu aquele magrelo que corria feito um avestruz.

Como é mesmo o nome dele?

O professor percebeu que o menino tinha algo na mão, chegou a pensar bobagem, deu calafrio, alguma vertigem, mas dali entendeu ser uma moeda. A adrenalina logo fez o sangue circular mais rápido.

Como é mesmo o nome dele? Aquele que sempre espera a resposta no quadro. Incomoda, mas tem um jeitinho impossível de não gostar. Como é mesmo o nome dele? Aquele que sempre olha pro céu porque acabou de passar um disco voador e quer que todos olhem também.

Foi um alívio quando a mente acionou Miguel. Com aquela moeda, Miguel talvez buscasse um suborno, um agrado meloso, uma forcinha para a aprovação no conselho de classe. Mas o professor não queria entrar nesse mérito. Não por enquanto. Queria aproveitar a expectativa de ganhar um real e a atenção de Santo Onofre. Observava o comportamento de Miguelzinho com a moeda em mãos, enquanto aguardava o toque do sinal. Embora agitado, nada fora dos padrões da idade, parecia um bom menino, com uma expressão responsável, qualidade que trouxe maior condescendência ao ânimo do professor. 

Não sei se vale mensurar possível corrupção, parece apenas uma faísca de pensamento. Por ora, entender que o professor viu qualidades em Miguel quando o sinal tocou e todos correram para a fila, quando tudo para em silêncio. O diretor chegou dizendo buenas tardes, garboso, todo dente, mas não sorridente e com considerações. O professor, inquieto, sentia alguma irritação com o diretor e olhava fulminante para Miguel com a moeda. Percebia o menino aborrecido, certo que ia dançar na prova, a menos que um milagre acontecesse a ponto de recuperar três meses de estudo, pensava ele, já indignado com o diretor que se alongava. Tem pessoas que são prolixas, falam sem parar e repetem três vezes a mesma coisa. O diretor passava da proibição do uso do celular ao comportamento e do uniforme à organização do material, enquanto o professor só desejava a maldita moeda, enquanto armava o xeque-mate, a vitória, o argumento sutil para ganhar aquela moeda. Mesmo que no outro dia tivesse que trazer uma coca para aquele magricelo. Miguelzinho parecia alheio à fala do diretor e, agora com um tom ambicioso, como um padre com desejo de se tornar bispo, manipulava aquela moeda e, num movimento rápido, deixou a moeda cair, rolando pelo chão até cair no ralo.

Meu Santo Onofre!

A vice-diretora percebe o alvoroço e, inicialmente, titubeando num vai-não-vai, resolve ir. E pior: vai como uma rainha branca que se desloca com fúria a h5, vai ao encontro de Miguelzinho e grita: Te peguei. Xeque-mate.

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20 comentários em “A Promessa e o Xeque-mate em Três Atos (Mauro Dillmann)

  1. Andre Brizola
    13 de dezembro de 2025
    Avatar de Andre Brizola

    Olá, Rei Preto!

    Seu conto me dá a impressão de ter sido escrito da mesma forma como deve ser lido: de uma vez, direto, sem pausa parta descanso. O fluxo de texto é intenso e, de certa maneira, poderia até ser caracterizado como crônica, caso estivesse contando um caso real (o que até poderia ser).

    Técnica – A forma como optou-se por contar a história é um tanto quanto caótica, com essa alternância entre primeira e terceira pessoa sem distinção visual (parágrafo, aspas, itálico, etc). O texto é muito intenso, e a quantidade de informações inseridas em cada parágrafo é feita de forma quase displicente, o que causa uma certa dificuldade para compor o cenário. Não encontrei problemas gramaticais, mas acho que toda a estrutura da forma dificulta o acesso algumas das informações mais importantes do conto.

    Enredo – O professor de matemática espera ansiosamente pela confirmação de que Santo Onofre cumprirá seu pedido e, graças a isso, se sujeita a uma série de situações. Como falei antes, acho que o enredo acabou sendo escondido pela forma como o texto foi criado, então muito do que está lá perde força pela dificuldade que encontrei durante a leitura. Mas trata-se de um enredo fora do normal, com influência de tradições regionais (“todo mundo sabe o que se espera”, não, eu mesmo não sei, por isso digo que é algo regional). E, acredito, que o tom deveria ser algo cômico. Mas não funcionou comigo.

    Impacto – Eu sempre leio o conto e o deixo descansar. Só vou escrever o comentário dias depois, para entender qual foi o impacto que ele exerceu em mim. E qualquer impacto, se bom ou ruim, é um impacto, o importante aqui é não ser esquecido. Mas foi o caso aqui, seu conto não marcou seu espaço, então julgo que o impacto foi pequeno. Precisei relê-lo completamente para relembrar tudo.

    Conclusão – A Promessa e o Xeque-mate em Três Atos é o único conto que li que tenta ser mais brasileiro em sua forma de integrar o xadrez. Por outro lado, o xadrez também ficou muito mal encaixado no enredo, e suas menções parecem que foram colocadas somente para “cumprir tabela; o xadrez não é essencial ao conto. Não posso dizer que não gostei do conto, porque tudo o que envolveu o trato com Santo Onofre foi gostoso de ler. Mas o texto precisaria priorizar isso de uma forma mais cuidadosa, no meu entender.

    É isso, boa sorte no desafio.

  2. Rodrigo Ortiz Vinholo
    13 de dezembro de 2025
    Avatar de Rodrigo Ortiz Vinholo

    Esta não funcionou tão bem para mim. Achei as motivações dos personagens confusas, suas ações ainda mais, e a metáfora de xadrez parece derrapar consideravelmente, muitas vezes sem conexões claras com o que está acontecendo, ao ponto de me parecer descartável para a maior parte dos casos. O narrador também fala de três jogadas, mas dá impressão que cada uma das partes se refere a um grupo muito maior de ações, e personagens como o diretor chegam de maneira bagunçada e pouco claras na trama. Gosto de alguns pontos de estilo e do desenvolvimento do professor, mas para mim faltou amarrar melhor muitas coisas.

  3. leandrobarreiros
    13 de dezembro de 2025
    Avatar de leandrobarreiros

    Acho que o maior mérito do conto é ter um plot super criativo e conseguir elaborar uma narrativa competente que o sustente. Sério, de onde vocês arrumam essas ideias?

    O personagem do professor é sólido e as partes com fluxo de pensamento meio confuso, frustrado, reclamão e quase depressivo são, de certa forma, uma boa maneira de criar um laço de identidade com o leitor. Pelo menos com esse aqui.

    Ao mesmo tempo em que seguimos o fluxo de pensamento, temos uma narrativa sólida e bem estruturada em três atos, como anunciado pelo próprio narrador. Eu geralmente não gosto desses fluxos de pensamento, mas aqui consegui curtir — justamente, acho, pela ordem garantida pela estrutura narrativa.

    Viajei, contudo, um pouco no final. Não entendi o alvoroço da moeda no ralo. A princípio, achei que o professor tinha finalmente perdido a linha com esse último fio de esperança rompido, mas como a vice-diretora mirou no Miguelzinho, acabei meio perdido.

    Enfim, um conto bem diferente, criativo, que deixou um bom impacto em mim.

  4. Kelly Hatanaka
    12 de dezembro de 2025
    Avatar de Kelly Hatanaka

    Considerações

    Um fluxo de pensamento de um professor estressado (o que é quase um pleonasmo). Ele está exaurido e faz uma promessa para Santo Onofre. Que o santo lhe conceda força e dinheiro e ele vence o jogo. O sinal de que o sinal vai conceder a graça é ter uma moeda de maior valor oferecida por um estranho. E o professor fica ansioso, se colocando em situações em que alguém lhe jogue uma moeda. Sua esperança é Miguelzinho, que vem em sua direção com uma moeda na mão. Mas o diretor e a vice-diretora atrapalham tudo.

    O conto é construído de forma muito hábil e o uso do xadrez não soa forçado. As escolhas de palavras e de expressões pouco comuns tornam a leitura ainda mais interessante.

    Gostei ou não gostei

     Gostei bastante. É fácil se identificar com o professor, com seu desgosto pela luta cotidiana, seu cansaço e desespero. A ansiedade por receber uma moeda é mostrada de forma crescente, vamos nos angustiando junto com o professor, vamos nos irritando com o diretor inconveniente. Até o xeque-mate.

    Gostei também da forma, meio poética, meio truncada, como convém aos pensamentos de alguém estressado, vai mostrando quem é esse personagem e qual o mundo que o rodeia, através do que é dito e do que não é dito.

    Pitacos não solicitados

     Gostei muito deste conto, achei tecnicamente incrível e, ao mesmo tempo, com muito coração. Mas o final me confundiu um pouco. Não entendi de onde saiu essa vice-diretora e nem o porquê de gritar com Miguelzinho. Ele só deixou cair uma moeda no bueiro, qual foi a infração cometida pelo aluno?

  5. Pedro Paulo
    11 de dezembro de 2025
    Avatar de Pedro Paulo

    Achei esta uma leitura aborrecida. A narração do protagonista tem um infeliz tom de resmungo que torna a leitura enfadonha, além do relato em si me passar confuso com a maneira com a qual passamos de um evento a outro da história, como quando se decide por descrever a escola sem nenhuma contribuição que eu pude reconhecer para a narrativa geral. É enfadonho. A abordagem do xadrez? Nula, perdida na narrativa confusa.

    Mas eu não estou pontuando esta série. Menos mal.

  6. Fabio D'Oliveira
    9 de dezembro de 2025
    Avatar de Fabio D'Oliveira

    Buenas!

    Não é o tipo de conto que gosto, infelizmente. A narrativa é focada na forma, tendo uma natureza cíclica, mais para preencher espaço do que para entregar conteúdo. Os monólogos seguem a mesma lógica, quase intermináveis. Muita técnica, pouca criatividade.

    Como a trama é simples, entendo que o foco na forma é o diferencial que o conto precisa entregar. A escrita está redondinha, também. O conto tem seus méritos e com certeza vai agradar muitos leitores. Apenas não faço parte do seu público-alvo.

    Ah, uma coisinha, admito que fiquei confuso sobre o tema, rs. A narrativa densa me perdeu em alguns momentos, então algo pode ter me escapado, mas fiquei com essa sensação de que o conto não explora a temática do desafio.

    Enfim, é isso.

    Boa sorte no desafio!

  7. Sarah S Nascimento
    27 de novembro de 2025
    Avatar de Sarah S Nascimento

    Olá! Seu conto tá muito bem escrito, flui bem, em um toque de ironia, com um ar meio melancólico e triste, mas de um jeito divertido até.Gostei de alguns trechos como “pipoca com leite condensado num domingo”, ou quando descreve um pouquinho da personalidade do garotinho chamado Miguel. Achei interessante principalmente a parte que diz que ele gostava de olhar para o céu falando que viu algum objeto voador e tal. risos.Toda a descrição da vida do professor de matemática nos faz mergulhar na vida cansativa, chata e ingrata dele. Ficamos ali, torcendo para algo bom surpreender o cara, mas sabendo que a vida real não tem muito dessas coisas, então, estamos esperando em vão, junto com ele.As analogias com movimentos do xadrez foram inteligentes, gostei principalmente quando diz algo como “um peão em f5, fodido a quinta potência”, risos. Tem umas sacadas ótimas. Entretanto, não gostei do conto. No meio dele me peguei pensando em outras coisas, me perdi um pouco sabe? E sinto que não entendi qual foi a história que você quis contar. Qual emoção queria passar, o que eu deveria sentir lendo o conto sabe?Por favor, não me leve a mau, está bem? Mas realmente achei o conto confuso, não entendi o sentido da história e alguns dos acontecimentos.Uma coisa que achei interessante, foi a questão do santo Onofre, pois eu nem conhecia esse santo! Fui dar uma pesquisada sobre ele aqui e é legal quando aprendemos algo diferente né? Gostei disso.

  8. claudiaangst
    23 de novembro de 2025
    Avatar de claudiaangst

    Olá, autor(a), tudo bem?

    O conto é dividido em três partes: “Vou escrever essa história em três jogadas.” Seriam três movimentos em uma partida de xadrez? Assim, o tema proposto pelo desafio foi abordado.

    O narrador apresenta o protagonista da trama: um professor de matemática desencantado com a profissão. Ele faz uma promessa a Santo Onofre – “Meu Santo Onofre, me dá força para não chorar e dinheiro para não deprimir e daí eu prometo vencer essa partida.” Santo Onofre é o padroeiro da fortuna e intercessor para o combate ao vício do alcoolismo.

    Elementos do xadrez aparecem como metáfora da vida do professor: peões (alunos), rainhas (as mães dos alunos), torres (supervisoras), cavalos (colegas).

    A segunda jogada acontece para “trazer um clima e encaminhar um resultado.” O professor espera um aviso de que o seu pedido a Santo Onofre será atendido – “uma moeda de maior valor existente que a pessoa recebe dada por alguém.” Não recebe a moeda desejada.

    O terceiro movimento do jogo dá-se com o preparo para o xeque-mate, o desfecho. Surgem dois outros personagens: o diretor e Miguel (um aluno magricela). O menino tem uma moeda na mão, mas a deixa cair no ralo. Este é o final do jogo. A vice-diretora (uma rainha branca) “vai ao encontro de Miguelzinho e grita: Te peguei. Xeque-mate.”

    O texto está bem elaborado com linguagem coloquial de fácil entendimento. O uso da simbologia das peças de xadrez foi bem empregado dando mais camadas à narrativa. Não encontrei falhas perceptíveis de revisão, somente “trezes horas” > treze horas.

    Bom ritmo de narração, leitura com fluidez agradável.

    Um desfecho tragicômico que não deixa dúvidas quanto ao destino do pobre professor, sem nome (afinal ele é apenas uma peça, não um indivíduo), sem perspectivas de um futuro melhor.

    Parabéns pela sua participação nesta última rodada. Boa sorte!

  9. toniluismc
    17 de novembro de 2025
    Avatar de toniluismc

    Olá, rei preto!

    Geralmente faço o meu comentário dividido em 3 seções para falar dos critérios da avaliação: técnica, criatividade e impacto. Entretanto, como o seu conto prometeu 3 atos e frustrou este leitor, vou dar a minha devolutiva em uma tacada só. Sirva-se bem:

    Pontos positivos

    • Prosa fluida e competente: O texto demonstra domínio da língua, repertório vocabular amplo e boa capacidade de construir imagens e ritmo.
    • Intertextualidade e metáforas estendidas: O entrelaçamento entre o cotidiano escolar e as peças de xadrez é bem sustentado — o professor como “peão”, o diretor como uma figura mecânica, a vice-diretora como “rainha”, etc.
    • Capacidade descritiva: As ambientações (hall, pátio, chuva, crianças) são vívidas e cinematográficas.

    Pontos negativos (aqui estão os mais relevantes)

    Excesso de digressões

    O texto se alonga em reflexões, lamentações e metáforas que interrompem a progressão narrativa. Há trechos que operam quase como crônicas ou ensaios pessoais dentro da ficção.

    Isso dilui a tensão dramática e enfraquece a promessa estrutural dos “três atos / três jogadas”.

    Metáforas e construções “clichês”

    Há trechos que caem no clichê ou no “ornamental”, especialmente no registro confessional (“não consigo não me emocionar nem quando escuto Marisa Monte”, “sou peça preta do xadrez e às vezes um doce vagabundo”). Em alguns momentos parece haver um acúmulo de frases de efeito que fragilizam a naturalidade do texto.

    Estrutura narrativa pouco resolvida

    O texto anuncia: “vou escrever essa história em três jogadas”. É gerado, então, um pacto com o leitor, que espera um arco dramático nítido.

    Mas:

    • A primeira jogada é fundamentalmente introspectiva.
    • A segunda é quase um episódio cômico ou tragicômico da moeda.
    • A terceira promete um xeque-mate — que ocorre, mas não como desfecho esperado para o professor.

    A estrutura funciona mais como um conceito do que como uma narrativa plenamente construída.

    Isso gera a sensação de que “parece ensaio mais do que conto”. Tecnicamente, o texto tem mais o formato de narrativa híbrida/lírico-ensaística do que um conto clássico.

    Final abrupto e pouco significativo

    O “xeque-mate” é dado pela vice-diretora sobre o menino, não sobre o professor. Ele não recebe a moeda. Nada muda para ele. Sua promessa não se resolve.

    Isso causa:

    • sensação de frustração estética,
    • quebra do arco temático,
    • e pouca coerência com a expectativa construída.

    O xeque-mate não é dele, não é contra ele, e não representa resolução simbólica clara. Não parece atingir o objetivo do protagonista, logo o impacto narrativo se dispersa.

    Apesar das minhas observações, é um texto bem escrito e que cumpre a demanda da rodada, então acredito que será bem avaliado. Parabéns e boa sorte no desafio!

  10. cyro eduardo fernandes
    17 de novembro de 2025
    Avatar de cyro eduardo fernandes

    Conto muito criativo e de boa técnica. Tangencia elegantemente o tema do desafio. Impacto moderado.

  11. Suzy D. B. Pianucci
    16 de novembro de 2025
    Avatar de Suzy D. B. Pianucci

    Pareceu um desabafo contemporâneo, comum, sem poesia, chato de ler. Não entendi o porque do querer tanto uma moeda, o personagem professor se mostrou angustiado, numa vida sem sentido, preocupado com a idade passando, eu lia e pensava nas pessoas que são chatas assim, que perdem tempo e vida só reclamando sem mudar nada. Achei a citação f5 desnecessária, somos todos peões o que muda são o tabuleiro e aceitas as jogadas da vida é o grande desafio, só vence os bons de estratégia. Não entendi a 1ª e 2ª jogada, parece que esperava algo que pediu ao santo e não alcançou, tudo seguiu linear, o aluno Miguel segurando a moeda, o professor desejando tê-la como sendo o sei xeque mate. Desculpa, mas achei vago e chato.

  12. Alexandre Parisi
    15 de novembro de 2025
    Avatar de Alexandre Parisi

    O conto tem personalidade e estilo. A voz narrativa é original — um fluxo meio caótico, irônico e cheio de autoironia, que mistura drama cotidiano com um humor amargo. A metáfora do xadrez é muito bem aplicada à rotina de um professor exausto, peão num tabuleiro social desigual. Gosto do tom confessional e da escrita viva, mas às vezes ela se perde em divagações e repetições. O excesso de pensamentos quebrados e digressões pode cansar, tirando força do enredo, que demora a se firmar. Ainda assim, o desfecho é ótimo — rápido, simbólico e com certa crueldade irônica.

    O texto é criativo, inteligente e literariamente maduro, mas falta ritmo em alguns trechos e sobram frases longas que precisariam de respiro. Nenhum erro gramatical grave, apenas pontuação pesada.

    O conto provoca melancolia e um riso triste — e isso é um mérito.

  13. Léo Augusto Tarilonte Júnior
    11 de novembro de 2025
    Avatar de Léo Augusto Tarilonte Júnior

    Achei seu conto bastante criativo. A utilização do recurso de fluxos de pensamento e o tom filosófico me lembrou Clarice Lispector.

    A forma como você estruturou sua história me deixou um pouco confuso. Houve muita quebra de ritmo na narrativa. Me pareceu que você utilizou as comparações utilizando peças de xadrez apenas para cumprir o desafio. Elas não me pareceram necessárias para o conto, elas poderiam ser trocadas por quaisquer outras comparações sem qualquer prejuízo. Além disso não entendi muito bem o final da sua história. 

    Eu espero que minhas críticas sirvam para o seu crescimento enquanto contista. Além disso quero muito ler outras histórias escritas por você nos próximos desafios. Agradeço por compartilhar um pouco de seu universo literário comigo.

  14. Antonio Stegues Batista
    10 de novembro de 2025
    Avatar de Antonio Stegues Batista

     O professor de matemática se revela uma “peça preta” do xadrez da vida, sentindo-se marginalizado, sobrecarregado pela hipocrisia e pela “desumanidade” da escola. Os elementos da vida escolar são elevados a peças do tabuleiro: as mães são “rainhas”, as supervisoras são “torres”, e os colegas invejosos são “cavalos” que buscam ferrá-lo.

    O verdadeiro xeque-mate é a vitória do sistema. O conto é uma crítica bem-humorada à vida sob o peso da rotina e da burocracia, onde a salvação (o “real”) é sempre trivial e, no final, inatingível. Bom conto.

  15. marco.saraiva
    8 de novembro de 2025
    Avatar de marco.saraiva

    O texto se apresenta como um fluxo de consciência, tanto que me senti sentado nas proximidades de uma fogueira, ouvindo algum poeta recitar uma história que conhecia. Falo poeta por que o conto também tem muito da beleza poética de quem é intimo com a escrita, com frases e construções que fazem pensar, que te levam ao momento e pintam bem as cenas.

    O xadrez aqui é menos tema e mais fonte de metáforas, mas vá lá, acho justo. O conto passa pelo drama do professor, desde a vida corrida numa profissão ingrata, até o racismo no dia-a-dia, narrando aquele tipo de preconceito que só percebe quem é o alvo. É aí que o conto brilha: na narrativa do cotidiano, na exploração dos pensamentos, nas reflexões e críticas. Essa fuga da realidade na direção da religião para encontrar algum consolo, na promessa a Santo Onofre e na espera quase irracional pela moeda que nunca vinha. E o fechamento, com o garoto com nome de anjo, como se ele fosse mesmo enviado do santo para dar ao professor a confirmação da oração atendida, mas que cuja esperança desce ralo abaixo, trazendo o leitor de volta para a realidade crua do conto (e da vida).

    A coesão da narrativa, por outro lado, é bem esparsa, e por vezes me vi perdido na leitura, sem entender onde eu estava, mas ao invés de retornar e tentar me achar, segui lendo, como acho que era o que escritor queria que eu fizesse.

    Um conto agradável, que me pareceu terminar um pouco abrupto demais, mas que me chamou a atenção pelos diversos parágrafos inspirados e pela escrita excelente.

  16. Mariana
    7 de novembro de 2025
    Avatar de Mariana

    O sentimento que move esse conto mostra que, de certa forma, nenhuma experiência é individual. Eu queria poder fazer um grande comentário, altas filosofias, mas não tem muito o que dizer sobre o magistério no Brasil. Você traduziu o sentimento, o cansaço, a frustração… Parabéns e boa sorte. Não no desafio, o texto está realmente bom, mas no ofício que só vai ladeira abaixo.

  17. leila patricia de sousa rodrigues
    6 de novembro de 2025
    Avatar de Leila Patrícia

    Saí desse texto com sentimentos mistos. A voz do professor é muito forte — dá pra sentir o cansaço, a frustração, a melancolia e a ironia dele. O problema é que às vezes o texto se enrola nos detalhes, se perde no próprio fluxo de pensamento, e isso acabou cansando um pouco — mas isso é mais uma questão minha como leitora, que prefiro menos detalhamento. Alguns trechos funcionam lindamente — o momento da moeda, a tensão com Miguelzinho, o xeque-mate final — enquanto outros se estendem sem necessidade, quebrando o ritmo. Ainda assim, há uma sinceridade no absurdo da narrativa e humanidade na forma como o personagem lida com o mundo ao redor.

  18. Roberto Fernandes Junior
    4 de novembro de 2025
    Avatar de Roberto Fernandes Junior

    Achei o texto muito enrolado, as metáforas do xadrez não são naturais, parecem forçadas apenas por que era o tema do desafio o texto sobrevive se elas forem eliminadas, sem perder o sentido, vale a crítica de um homem já de meia idade que entende que não tem nada, nem suporte, mas também ele se colocar como peão junto dos alunos o deslocamento de seu lugar, se a crítica e de classe ele se confunde com a dele.
    O xeque mate não fim parece abrupto e fora de lugar.
    A forma da escrita pode refletir a mente frustrada do protagonista, mas exige demais, para ter validade.

    Entretanto a primeira parte, o primeiro ato é bem escrito mas o estilo se perde em seguida.

  19. Martim Butcher Cury
    3 de novembro de 2025
    Avatar de Martim Butcher Cury

    É de um frescor muito grande ler um conto da mão de alguém que não define previamente o que diabos seria isso (escrever). Entre tantas sacadas humorísticas e de uma metalinguagem sem cerimônia, destaco esse trecho: “Não entendo de escrita, seria algo incompleto e interrompido. A menos que escrever seja tentar saber o que escreveria se viesse a escrever”. Trata-se de um conto sujeito à imperfeição e à incompletude, e por isso mesmo é mais fiel à realidade, que é incompleta e imperfeita.

  20. Kauana Kempner Diogo
    3 de novembro de 2025
    Avatar de Kauana Kempner Diogo

    A narrativa é cativante ao se organizar como uma partida de xadrez, desde a sua abertura até o xeque-mate, relacionando as etapas com as fases da vida do protagonista. Apreciei a proposta de unir o tom de lirismo com um toque de ironia, possui até mesmo uma ambiguidade. A construção da obra usando a metáfora do xadrez foi coerente até o fim, o texto se sustenta com seu realismo mágico, no contexto urbano.

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Publicado às 2 de novembro de 2025 por em Liga 2025 - 4A, Liga 2025 - Rodada 4 e marcado .