EntreContos

Detox Literário.

A Escolhida do Rei (Amanda Gomez)

O rei, em meio a guerras infinitas e conflitos que corroíam as fronteiras do reino como ferrugem sobre ferro antigo, buscava agora sua quinta esposa. O povo, antes devoto, agora murmurava maldições, e as espadas se cruzavam com mais frequência do que as mãos.
Foi lançado o chamado real: qualquer jovem solteira, de qualquer origem, poderia disputar o coração do rei — e a coroa.

***

Havia um novo aroma no ar.


Familiar, pungente. Analice inalou com cautela aquele cheiro que fazia seu estômago revirar: soldados. Já podia ouvir o estalo seco dos cascos contra a estrada poeirenta.
Os odiava, e ainda assim estava ali, com o coração em suspenso, à espera de sua chegada.

Fechou os olhos. Um instante só, e logo as batidas vieram, firmes e impositivas, estourando contra a madeira. Como se esperasse por aquele momento desde o dia em que nascera, caminhou até a porta e, com um suspiro, destrancou-a.

Do outro lado, uma cacofonia a aguardava: homens a cavalo, estandartes em vermelho e ouro tremulando ao vento. À frente da comitiva, um homem de meia-idade desceu do cavalo com um floreio ensaiado.

Ele sacou um pergaminho e leu com voz clara, treinada:


— Em nome de Sua Majestade, o rei Edmundo, soberano dos Sete Vales e guardião da paz entre os reinos, declaro, perante o povo de Tardel, que Analice está convocada a comparecer à capital, onde disputará a honra de tornar-se rainha.

O nome de Analice ecoou como trovão. Num instante, a praça explodiu em murmúrios, gritos e aplausos. Havia encanto nos olhos de uns, inveja nos de outros e uma incredulidade espalhada como poeira no ar.

***

Os sinos repicavam. Nas ruas, multidões se espremiam para conseguir a melhor visão.
O coche de Analice avançava devagar pela avenida central, agora tomada de flores, bandeirolas e gritos. Ela mantinha a postura ereta, as mãos leves sobre o colo, o olhar treinado. Acenava.


Nos olhos do povo, via algo que a surpreendia: fascínio. Não o tipo que nasce do amor, mas o que brota da fome por algo novo, estranho, belo. Como se, por um instante que fosse, estivessem dispostos a esquecer suas misérias para se distrair com o espetáculo.


O burburinho aumentou de verdade quando a segunda carruagem chegou. Dela surgia a imagem perfeita de um anjo: cachos dourados que cintilavam ao vento, olhos de um azul glacial, pele clara de porcelana. A multidão explodiu, gritando seu nome, já aclamando-a rainha. Ela sorria, ciente disso.


As duas foram conduzidas lado a lado pela escadaria de mármore que levava à sacada real.


Do alto, o rei as esperava.


Edmundo era dono de uma beleza que inquietava. Alto, de ombros firmes, barba escura meticulosamente aparada, olhos de âmbar que pareciam pesar intenções. Tinha o charme de um predador e o sorriso de quem sabe disso.


Recebeu Samira primeiro. Tomou-lhe a mão, beijou-lhe os dedos com um sorriso polido. Disse algo que fez a multidão rir.


Então, chegou a vez de Analice.


Ela estendeu a mão com firmeza, o coração martelando no peito. O rei segurou seus dedos com suavidade, mas o toque era frio, quase clínico. Inclinou-se e beijou-lhe a pele, saboreando o gesto com a lentidão de quem aprecia um vinho raro.


O rei ergueu uma das mãos, pedindo silêncio. A multidão se calou.


— Muitas damas se apresentaram ao chamado real — disse ele, a voz firme. — Vários rostos, nomes, histórias, belezas… E agora, diante de mim, estas duas.


Virou-se, encarando primeiro uma, depois a outra.


— Duas damas tão diferentes quanto o dia e a noite, mas igualmente raras como joias. E não há rei que não se encante diante de um tesouro. Estou ansioso para descobrir qual delas brilhará ao meu lado como minha rainha.


A praça explodiu em aplausos. Analice permaneceu imóvel. o rosto sereno e o coração em chamas.

***

Edmundo regozijava-se com o retorno de sua popularidade. Mergulhara num entusiasmo quase juvenil. O bom humor do rei parecia contagiar toda a corte. Abrira os portões do castelo para os festejos, oferecendo banquetes diários, música, vinho e danças que varavam a madrugada. O povo se surpreendera — afinal, Edmundo era um homem inacessível, paranoico e raramente dava um passo sem que outros tantos o acompanhassem em guarda.


Sentada ao seu lado esquerdo, Analice observava o salão. Era o primeiro baile de que participava e, como sempre, preferia a cautela, o exato oposto de sua oponente. Samira movia-se perfeitamente à vontade. Apesar de serem estimuladas a competir e a se odiarem desde as seletivas, Analice sentia certa admiração por ela.

Naquela noite, Analice estava sentada à beira da cama, o olhar perdido na penumbra do quarto. Ele viria, sabia que precisava esperar. Logo o silêncio foi quebrado por um suave toque na porta.

— Espero não estar sendo inoportuno — disse Edmundo, com voz baixa, assim que ela abriu a porta. — Mas queria muito vê-la antes de dormir.


— De forma alguma, Majestade.

O rei entrou com tranquilidade, seguido por dois soldados.

— Não se incomode — disse, percebendo o desconforto dela. — São discretos.

O olhar dele percorreu o quarto até deter-se sobre um tabuleiro na mesinha de centro.


— Era isso que fazia a essa hora? Xadrez?


— Sim — respondeu ela.


— Considera-se uma boa estrategista? — perguntou ele, divertido.

 — Aceita um desafio?

Por um instante, o rei hesitou, talvez esperasse outro tipo de convite para aquela noite. Mas logo sorriu.


— Ninguém melhor que um rei para entender de estratégias.


— No xadrez, um dos reis sempre cai.


— Veremos.

Sentaram-se frente a frente. O jogo se desenrolou em silêncio. As peças batiam levemente contra o tabuleiro, o som seco pontuando as trocas de olhares.

— Você é feroz, Analice — disse Edmundo, ao capturar um de seus cavalos. — Não é apegada a nenhuma peça?


— No fim, todos são… descartáveis.

Ele sorriu de canto.


— Assim como suas concorrentes?


— É o que acontece com os peões, Majestade — falou ela, retomando o movimento. — Eles nunca podem recuar.

As jogadas entre os dois tornaram-se mais rápidas, intensas, quase descuidadas.


— Um peão sem cobertura é uma presa fácil.  — comentou o rei, tomando a dama dela.


— Essa é a beleza do jogo, Majestade — respondeu ela, sem perder o tom calmo. — Quando não se tem muito a perder, arriscar se torna irresistível. Há uma beleza especial em ver um simples peão alcançar o rei.


— Um peão nunca alcança o rei — murmurou Edmundo, movendo uma torre.


— Verdade. Para isso, ele precisa se transformar em algo maior — disse ela, avançando o peão.

O rei estreitou o olhar, analisando o tabuleiro.

— Só há uma maneira desse peão vencer essa disputa, majestade.


— Promovendo-o à rainha — Edmundo murmurou.

Ela fez o movimento com precisão e ergueu o olhar, sustentando o dele.


— Xeque-mate.

O rei a observou, descrente, depois deixou escapar uma risada curta.


— Diga-me, Analice… em que posição acha que está agora, no tabuleiro?


— Muito próxima do rei.


— E se o alcançar, o que fará?

Ela sorriu.


— Serei a melhor rainha que este reino já viu.

***

Os dias se sucederam numa rotina exaustiva de compromissos reais: visitas a condados, discursos intermináveis e a escolha cuidadosa do traje para o grande dia.
À noite, o rei voltava a visitá-la, sempre acompanhado da escolta, empolgado com novas estratégias para derrotá-la. Analice sabia que ele passava antes pelos aposentos de Samira; sabia pelo rastro do perfume doce e persistente que, por vezes, ainda pairava no ar ao redor dele.

Preparava-se para dormir quando alguém bateu à porta. Seu coração disparou. O rei acabara de sair havia pouco tempo, derrotado em outra partida de xadrez. Se voltara, pensou, seria por outra razão. Ao abrir, deparou-se com Samira, que entrou sem cerimonias.

— Meu quarto é maior — comentou, por fim. — Mas a sua vista é melhor.

Analice permaneceu imóvel, cautelosa.

— Sabe, às vezes tenho saudades daqueles dias em que dividíamos um dormitório com várias meninas — falou Samira, num tom quase nostálgico. — O começo foi a parte mais excitante, não concorda?


— É mais fácil aproveitar o processo quando se sabe que a final já está garantida.

Samira sorriu com leve embaraço, mas logo o semblante se tornou sério.


— Você o ama?


— Não creio ser possível amar um homem como o rei — respondeu Analice,

surpreendendo-se com a própria franqueza.


— Ainda assim…


— Ainda assim farei tudo para ser sua rainha.

Samira afastou-se até a mesinha, onde o tabuleiro de xadrez aguardava silencioso. Cruzou os braços, observando as peças. Duas rainhas se encaravam no centro do jogo, à espera da próxima jogada.

— É isso que vocês fazem durante as visitas dele?
— Sim.

Samira virou-se de repente, os olhos tomados por uma sombra de tristeza.


— Eu serei escolhida amanhã. Isso é tão certo quanto o nascer de um novo dia. E você… será apenas a concubina.


— Devo me curvar agora, Vossa Majestade?

A rival se aproximou. Sua voz, antes altiva, tornou-se quase um lamento.


— Ele a ama. — A pausa que se seguiu pareceu pesar no ar. — Ele a quer tanto que diz que não vai dividi-la com ninguém. Muito menos com o povo. Quando me toca, sussurra o seu nome.

Samira inspirou fundo e, num gesto lento, deixou o tecido que a cobria deslizar um pouco, revelando hematomas e mordidas recentes na pele.

Analice deu um passo para atrás, horrorizada.


— Quando ele faz isso comigo, é você quem domina seus pensamentos e instintos. Ele só está te preservando, Analice… como uma criança que guarda o brinquedo novo apenas para quebrá-lo na primeira brincadeira. Como fez com tantas outras.

Ela então, cobriu-se novamente.

— Quando a coroa estiver sobre minha cabeça e ele se cansar de você, se ainda restar algo de você, eu mesma te destruirei.

Analice a observou em silêncio e, pela primeira vez, imaginou um reino governado por alguém como ela. A visão dos dois tiranos reinando juntos a deixou verdadeiramente triste. Ao mesmo tempo, sentia pena dela.


— Eu sinto muito pelo que ele fez… — murmurou.


— Não ouse ter pena de mim! — vociferou Samira. — Tenha de você. Eu venci, fiz tudo o que precisava pra vencer! — Ela tocou a própria barriga. — Carrego em meu ventre o herdeiro que nenhuma outra conseguiu dar a ele.

O olhar de Analice caiu sobre a barriga, já levemente saliente. Por um momento, sua visão turvou-se. Respirou fundo tentando assimilar o peso da revelação. Lágrimas brotaram, silenciosas. A voz de Samira seguiu, mas ela já não a ouvia. Apenas um zumbido distante tomava conta do quarto.

Quando voltou a focar, viu os olhos dela: brilhantes, débeis e triunfantes.


— Amanhã todos saberão — disse Samira, sorrindo.

Analice enxugou as lágrimas com um gesto sereno e curvou-se teatralmente diante dela. Depois que ela saiu, Analice aproximou-se do tabuleiro e, com um toque delicado, derrubou uma das rainhas.


O que Samira não sabia era que o rei era tão infértil quanto as terras áridas que devastara desde que ascendera ao trono. Ele, assim como todo o conselho, sabia disso.

***

O salão, amplo e iluminado pelos candelabros de cristal, vibrava com o som abafado de tecidos sendo esticados, fitas puxadas, fivelas encaixadas. Analice permanecia imóvel no centro, como uma peça sendo montada para exibição. Quando as criadas se afastaram, orgulhosas, ela pôde ver seu reflexo no espelho diante de si. A mulher refletida era bela, imponente e perfeitamente moldada para o papel que lhe fora destinado.

Ela foi então conduzida ao grande salão real. Samira já a esperava, em pleno esplendor. Seus olhares se cruzaram, mas não havia emoção alguma nos olhos da rival, antes tão expressivos.

Edmundo surgiu trajando suas vestes mais exuberantes. Caminhou com passos firmes até parar diante das duas. O olhar percorreu cada centímetro de ambas, avaliando, pesando, decidindo. Por um instante, o salão inteiro prendeu a respiração.

E então o destino moveu sua peça.


Ele estendeu a mão, e a escolhida foi ao seu chamado.

A multidão se comprimia na praça principal, um mar de rostos ansiosos. De repente, o portão do palácio se abriu com um estalo metálico, e o alvoroço cessou como um sopro. As cortinas vermelhas da sacada foram afastadas, e o rei surgiu, majestoso.

Um rugido coletivo se ergueu: gritos, aplausos, lágrimas. E então, atrás dele, uma figura feminina apareceu.

O véu branco tremulava levemente no vento, revelando o olhar firme e a expressão serena de conquista. Um silêncio reverente tomou o ar por alguns instantes, antes que as salvas e aclamações explodissem novamente. Ela avançou um passo. Seus olhos percorreram a multidão reconhecendo o próprio destino diante de si. Eles agora eram o seu povo.

Sob aplausos ensurdecedores e o brilho inclemente do sol, ela ergueu o véu deixando o olhar se acender em triunfo.

E o povo gritava seu nome.

Viva a rainha Analice!

***

O murmúrio excitado da corte dissolveu-se quando o rei atravessou o salão em direção à Analice.

— Minha rainha — disse ele, num tom que mesclava formalidade e desejo contido.

Ela inclinou-se levemente a cabeça e pousou a mão sobre a dele. Foram conduzidos ao centro do salão, onde a orquestra suavizou o compasso.

— Você é a imagem da perfeição — murmurou o rei, os lábios quase roçando o ouvido dela.

— Posso lhe fazer uma pergunta, Majestade?


— Quantas quiser.


— Por que eu?

Ele riu.


— Foi você desde o primeiro momento em que a vi. Você traz uma doce nostalgia de algo que me era caro e que perdi há muito tempo. Às vezes penso estar enxergando uma miragem.

O coração de Analice batia em descompasso.

— Samira…


— Terá o destino que escolheu.

Analice assentiu.

— A ideia de tê-la em meus braços a sós me deixa verdadeiramente ansioso.

Analice ergueu o olhar, cravando-o no dele.


— Também não vejo a hora — respondeu em tom baixo, com um sorriso que oscilava entre a promessa e o desafio. — De estarmos… só eu e você.

O rei sorriu, satisfeito, enquanto girava com ela pelo salão. Quando a música cessou, estendeu o braço; ela o aceitou, e juntos seguiram em direção aos aposentos reais.

As portas altas, entalhadas em madeira escura, aguardavam abertas, revelando um aposento amplo, de cortinas rubras, velas acesas e uma cama monumental coberta por lençóis de seda branca. Analice entrou. O som das risadas e das taças no salão ia se tornando abafado. Atrás dela, uma fileira de nobres e criados assistia em silêncio, como manda a tradição: deviam vê-los entrar antes que a porta fosse fechada.

O rei se voltou para os presentes e, com um leve aceno, ordenou que a porta fosse fechada.

O ranger suave das dobradiças ecoou.

A rainha virou-se e permaneceu imóvel diante da madeira maciça, observando a fenda de luz diminuir lentamente. Seu rosto refletia calma, mas seu corpo borbulhava em um misto de medo e incerteza.

Atrás dela, Edmundo começava a despir-se, o ruído das fivelas quebrando o silêncio. Ela não se virou. Apenas respirou fundo — e, quando a última fresta de luz desapareceu, o salão voltou a vibrar lá fora com música e aplausos, celebrando o que ninguém veria.

A porta se fechou completamente.

***

Havia um novo aroma no ar. Aço, cinzas e sangue.

A menina tropeçava entre os escombros, os pés descalços feridos, a boneca de pano nos braços. Gritava por eles, enquanto chamas crepitavam nas ruínas das casas, tingindo de vermelho o céu já tomado pela fumaça.

Então ela os viu.

Duas estacas erguidas diante da antiga praça. Em cada uma, uma cabeça. O vento balançava os cabelos chamuscados. Rostos que antes sorriam para ela agora estavam imóveis. A boneca caiu de suas mãos. Correu entre os destroços, o coração batendo como um tambor, até deter-se atrás de um muro rachado. Dali, viu um homem de armadura dourada e capa vermelha arrastando-se pela lama. A irmã estava sob ele, caída, o vestido rasgado, o olhar fixo na menina escondida entre as pedras.

Um olhar suplicante, um pedido mudo. Fuja.

A menina recuou, tremendo e envergonhada de sua própria covardia. Nunca esqueceria aquele olhar. Reconheceu-o tempos depois, estampado em moedas e vitrais. Era a mesma imagem do homem que agora se estendia ao seu lado na cama.

A irmã viveu cativa sob o jugo dele até o fim que ela mesma escolheu. Antes, escreveu-lhe uma carta que, por ordem do destino, chegou às suas mãos.

Nela foram descritos os horrores, os segredos e o perdão.

Após ler aquela carta, Analice começou sua marcha pelo tabuleiro.

***

O torpor sumiu quando ouviu as batidas na porta.

Analice sentou-se lentamente na cama. Observou as mãos, entranhando o tom delas. As batidas se tornaram insistentes.

— Entrem — ordenou, a voz rouca.

Uma a uma, as criadas atravessaram a porta. Os sorrisos que exibiam morreram no mesmo segundo, e os gritos que se seguiram dali em diante ecoaram por todo o reino.

A história correu como poeira levada pelo vento. Cada aldeia, cada taverna, cada esquina tinha sua versão. Alguns juravam que a rainha havia esquartejado o rei em tantos pedaços que não havia como contar. Outros diziam que apenas a cabeça dele fora fincada na própria espada. Havia quem afirmasse que ela rira ao fazê-lo — e quem dissesse que chorara.

A nova regência logo foi assumida por um jovem primo da linhagem real. Um homem de fala doce, sorriso fácil e promessas populares. O povo, sedento por estabilidade, o acolheu como um salvador.

Enquanto isso, a rainha assassina apodrecia nas masmorras.

No dia da execução, o sol nasceu pálido. A praça fervilhava de miseráveis ávidos por mais uma distração.

Analice foi conduzida até o cadafalso. Caminhava descalça, a pele translúcida, os tornozelos marcados pelos grilhões. A guilhotina erguia-se diante dela como um altar.

Após o discurso que inflamou a plateia, o carrasco perguntou:


— Vossa Majestade gostaria de dizer suas últimas palavras ao povo que traiu?

Ela ergueu o olhar, e o silêncio se espalhou. A multidão que um dia a aclamara agora esperava, com fervor, o som da lâmina.

Analice sorriu, um sorriso sereno, de quem enfim se permite descansar. Por dentro, o coração aquietava-se, feito lago depois da tempestade.

—  Não precisam agradecer… foi um prazer.

Quando a lâmina desceu, o som seco do aço contra a carne reverberou. A cabeça da rainha rolou sob um silêncio profundo.

Por muito tempo, o povo sussurraria seu nome: alguns com rancor, outros com gratidão.

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19 comentários em “A Escolhida do Rei (Amanda Gomez)

  1. Andre Brizola
    13 de dezembro de 2025
    Avatar de Andre Brizola

    Olá, The Queen!

    Uma história de vingança, arquitetada friamente, mas com um final um tanto quanto decepcionante. Como num jogo de xadrez em que um dos jogadores é muito mais hábil que o outro e, sabendo disso, ao invés de encerrar a partida, prefere ficar caminhando pelo tabuleiro, eliminando peças extras, do que dar o xeque mate.

    Técnica – Aqui vemos que há um domínio muito grande sobre a forma de se contar uma história. A divisão por capítulos é muito bem feita, e a ordem em que as informações foram fornecidas ao leitor foi muito bem escolhida. E o texto é muito bem escrito e revisado. Um enredo como esse, com uma passagem de tempo dessa natureza, pedia mesmo essa formatação, e algo diferente disso, muito provavelmente, teria deixado o texto muito denso e cansativo. Acho que tecnicamente, aqui, foi tudo muito acertado.

    Enredo – Eu entendo o roteiro, aceito, mas questiono o final, pois acho que faltou algo no arremate do plano de Analice. Todo o tempo temos a consciência que ela e Samira disputavam a coroa de rainha, e que algo no passado fazia as intenções da protagonista irem além. O óbvio, talvez, fosse tomar o trono e mudar a direção das decisões, talvez. Mas, ao nos depararmos com um simples assassinato, levando à sua execução, sem consequência nenhuma para o povo além de uma leve sugestão de que alguns aplaudiram o feito, nos faz questionar: porque o assassinato não ocorreu assim que ambos ficaram à sós na primeira oportunidade? Ou na segunda? Se ela ia morrer de qualquer maneira, se era somente a morde de Edmundo o que ela buscava… Não encontrei no enredo algo que me explicasse isso. Não importava quando a morte ocorresse, desde que ocorresse. Não houve um diálogo final, não houve um choque. Como em um filme do Tarantino, todo o cenário e toda a “trilha sonora” só serviu de fundo para vingança. O final, pra mim, foi a carta desequilibrada que fez o castelo balançar.

    Impacto – Adotei esse tópico no último desafio que participei, e gostei do resultado. Aqui meço o quanto o conto me impactou após ter lido. E escrevo esse item dias depois, justamente para saber se relembro o conto, se penso em alguma parte em especial, e se, quando lembro, o faço gostando ou não. Seu conto exerceu, sim, algum impacto em mim. Sobretudo porque fiquei bastante tempo pensando em como classifica-lo, dentro do “gostei” ou do “não gostei”.

    Conclusão – Acho que no final das contas, o saldo é positivo. Gostei muito da forma como você trouxe o xadrez para o conto, não só usando como elemento dentro do enredo, como essa forma de atração entre os personagens, mas como diálogo entre eles, além do cenário. Tecnicamente ele me deixou muito satisfeito. O final, entretanto, me desagrada, de fato. Não sei se outros terão esse meu entendimento, mas se fosse um conto meu, depois do desafio faria algo diferente com ele.

    Bom, é isso. Boa sorte no desafio!

  2. Rodrigo Ortiz Vinholo
    13 de dezembro de 2025
    Avatar de Rodrigo Ortiz Vinholo

    Muito bom! Gosto do trabalho da figura da rainha estratégica, as metáforas nem sempre veladas do xadrez (o peão que se torna rainha, a imagem do tabuleiro), e o desenvolvimento dos personagens foi feito de maneira interessante e envolvente. O enredo caminha por rotas previsíveis, mas ainda assim isso não é um problema, já que a execução é boa. Parabéns!

  3. leandrobarreiros
    13 de dezembro de 2025
    Avatar de leandrobarreiros

    Um conto muito competente.

    Uma das coisas que mais acho importantes em uma história é o ritmo. As pessoas, às vezes, confundem a ideia de ritmo com fazer um fluxo narrativo sem tempo para o leitor respirar e acabar o texto em cinco minutos.

    Não se trata disso.

    Trata-se de controlar o ritmo de leitura, as pausas, onde o leitor deve gastar um pouco mais de tempo, onde deve seguir rápido.

    Acho o conto muito eficiente nesse aspecto. A sinestesia do começo ajuda a transportar o leitor para o reino. A rivalidade entre as duas rainhas conduz a leitura de maneira apropriada e dinâmica. O jogo de xadrez diminui o passo e, da coroação para a frente, é um fluxo só, bem como o salto temporal.

    As descrições das cenas são boas e as trocas no diálogo, bem afiadas; quase bateu uma inveja.

    Enfim, um conto muito bom.

  4. Kelly Hatanaka
    12 de dezembro de 2025
    Avatar de Kelly Hatanaka

    Considerações

    Analice é uma das candidatas a rainha, mas o que realmente busca é vingança. Um ótimo romance de época, narrado em uma linguagem rebuscada na medida certa para combinar com a ambientação. Talvez o desfecho não tenha sido uma surpresa, mas isso não estraga em nada a leitura. A gravidez de Samira e suas implicações sim, foram uma surpresa bem sucedida e eficientemente plantadas no meio da trama.

    Achei interessante a repetição de “Havia um novo aroma no ar”, sempre no início de um parágrafo que mostrava algo decisivo na vida de Analice.

    Analice também permanece uma incógnita durante toda a leitura. Ela é misteriosa, há algo nela que deixa o leitor na dúvida, muitas pequenas pistas espalhadas de forma hábil ao longo da narrativa.

    Gostei ou não gostei

     Gostei muito. Uma boa história, bem contada em uma linguagem perfeitamente escolhida para combinar com tudo. Nada sobra, nada falta e vê-se que é um conto pensado, planejado e, finalmente, bem executado.

    Pitacos não solicitados

     A explicação da motivação de Analice e da nostalgia que a envolvia aos olhos do rei veio na forma de um flashback muito bem feito e o final, se não surpreende, com certeza não decepciona. As últimas palavras de Analice foram ótimas.

  5. Pedro Paulo
    11 de dezembro de 2025
    Avatar de Pedro Paulo

    Ótimo conto! Mais um que tira uma história do contexto de realeza do xadrez. A contextualização num cenário aristocrático funciona, mas é principalmente na caracterização de seus personagens que encontrei a força do conto, em especial Analice e Samira, cujas diferenças amarram uma tensão que acompanha toda a leitura desde o primeiro encontro entre as personagens. Por sinal, é uma rivalidade que achei não ser consumada de toda, com a súbita desaparição de uma delas mais adiante no texto. Fora isso, o conto é muito bem conduzido. Destaco um evento anterior na vida da protagonista que é inserido no momento certo do conto, em uma reviravolta que acrescenta mais uma camada à personagem e justifica o desfecho impactante e visceral para o qual a história caminha, revelando um excelente domínio de narrativa.

  6. Fabio D'Oliveira
    7 de dezembro de 2025
    Avatar de Fabio D'Oliveira

    Buenas!

    É um conto que brinca com as emoções do leitor. A narrativa vai e volta, dando a entender uma coisa num momento, mas contradizendo noutro. A conclusão não impressiona, mas a jornada é uma montanha-russa prazerosa.

    Está muito bem escrito. Mesmo. De verdade. Nada me incomodou. A leitura foi fluida, tanto que não senti o final chegando. Admiro isso. Muito, na verdade. Gosto de ler por prazer, não curto muito ficar refletindo e debatendo demais uma história. Acho cansativo. Até presunçoso. No final das contas, o que importa é o que o leitor sente no momento da leitura. É isso que torna um texto especial.

    Mesmo o final não impressionando, ele escapa da zona de conforto. Sim, o leitor pode perceber que, depois do encontro com Samira, Analice tomaria a mesma atitude. Mas o formato da narrativa cria dúvidas na mente do leitor.

    Foi uma boa leitura. E gostei, sim. Não diria que me impactou ou me cativou a ponto de me deixar sem ar, mas foi uma leitura prazerosa.

  7. Sarah S Nascimento
    27 de novembro de 2025
    Avatar de Sarah S Nascimento

    Olá! Começou bem, parece uma história de fantasia, adorei os nomes da cidade, da jovem.
    Adorei a descrição inicial da outra moça que ia competir com a Analice. A descrição do rei me fez não ir com a cara dele nem um pouquinho. Vamos ver se vou mudar de ideia.
    Uau, essa conversa entre a Analice e o Edmundo na primeira partida de xadrez deles é o exemplo perfeito de subtexto pra mim. Os dois falando das jogadas, mas também falando sobre a situação atual. Incrível mesmo!
    Fiquei muito surpresa com a chegada da Samira no quarto e essa revelação sobre o amor que o rei sentia pela Analice e não por ela. Pensei que o rei ia mesmo escolher a outra moça.
    A revelação sobre as atrocidades que o rei fez quando a Analice era criança, fiquei chocada! Mesmo assim eu não tava esperando por esse final, caramba foi incrível e assustador também, risos.
    Eu adorei seu conto, ele me envolveu desde o início com o surgimento da Analice e toda a trajetória dela até ficar mesmo com o rei. Acho que lendo uma segunda vez a gente compreende as reações da personagem, não como uma mulher apaixonada, mas como alguém que quer vingança. Acho que usou o xadrez muito bem no seu conto, tipo uma forma de interação dos dois, ou nas falas deles e até em certos trechos, por exemplo quando a Analice fica toda produzida lá antes do rei anunciar quem escolheu como esposa. Foi excelente. Conto muito fluído, diálogos críveis e naturais e final espetacular.
    Eu não tenho nenhum ponto específico pra apontar como negativo, ou melhorias, tá ótimo seu conto.

  8. claudiaangst
    23 de novembro de 2025
    Avatar de claudiaangst

    Olá, autor(a), tudo bem?

    Temos aqui um conto com vocação para romance, o que me leva a pensar que a autora seja Amanda Gomez. O texto apresenta fôlego para um mergulho mais profundo, mas o limite proposto não oferece possibilidade de desenvolvimento do enredo.

    Drama e suspense, uma boa combinação.

    O tema proposto pelo desafio é abordado de forma de romance histórico, com personagens que apresentam conflitos representados na metáfora do jogo de xadrez. “Duas damas tão diferentes quanto o dia e a noite” (Analice e Samira) disputam entre si para serem escolhidas pelo rei. Uma delas se tornará a rainha, o que nos faz pensar nas peças opostas no tabuleiro (uma branca, outra preta).

    Analice representa o peão que alcança a última casa no lado oposto do tabuleiro e é promovido a rainha. Só assim poderá se vingar e matar o rei. Ponto alto da narrativa metafórica.

    Linguagem clara, sem rebuscamentos desnecessários. Os diálogos eventuais agilizam a leitura, a narrativa não se torna cansativa em nenhum momento. Não há falhas perceptíveis de revisão. Só encontrei a falta de acento em “cerimonias”.

    Um ótimo texto que deve alcançar uma boa posição.

    Parabéns pela sua participação nesta última rodada. Boa sorte!

  9. marco.saraiva
    21 de novembro de 2025
    Avatar de marco.saraiva

    Uma historia de vingança, narrada nos contornos de uma fábula. Aqui os personagens tem mais valores simbólicos do que personalidade: Samira é a megera que tenta roubar o trono com enganações; Edmundo é o rei de feições belas e cortejo magistral e que guarda em si uma personalidade assassina; Analice é a inocente que carrega consigo o desejo de vingança. Apesar de eu ter notado um esforço mais focado em desenvolver o personagem de Analice, especialmente através do xadrez (demonstrando que ela derrota o rei em astúcia a cada momento), ainda assim o conto tem essa aura de fábula, mais preocupado com a história e a mensagem do que com os personagens. Note que não vejo isso como um problema, apenas uma escolha estilística.

    A leitura é fluida e o mistério me pegou. Só pouco antes de acontecer que eu notei que ela planejava a morte o rei o tempo todo: desde que ouviu os sons dos cavalos nos primeiros parágrafos do conto e pensou em como os odiava. É o tipo de coisa que dá mais valor ao conto, te faz vê-lo com outros olhos.

    A história é simples, talvez um pouco clichê, mas potente. Tem tudo o que um bom drama pede: a inocente que se mata para evitar a vida de sofrimento, a oponente que mente, a protagonista que consegue a sua vingança mas dá a vida em troca, um vilão carismático. Tudo se encaixa direitinho.

    Parabéns!

  10. cyro eduardo fernandes
    17 de novembro de 2025
    Avatar de cyro eduardo fernandes

    Excelente narrativa. Boa dose de suspense. Trama bem conduzida e final consistente. Parabéns!

  11. Alexandre Parisi
    15 de novembro de 2025
    Avatar de Alexandre Parisi

    Gostei bastante do conto — ele tem força, ritmo e uma pegada cinematográfica. A narrativa é fluida, envolvente, e a simbologia com o xadrez funciona bem, especialmente na relação entre poder, manipulação e destino. Analice é uma personagem interessante, inteligente e fria, mas ainda humana — seu arco é convincente, e o final fecha com impacto e certa poesia sombria.

    Por outro lado, o texto às vezes exagera no tom épico e nas descrições, o que tira um pouco da sutileza e do mistério. Alguns diálogos soam ensaiados, quase teatrais. Há também repetições (“rei”, “rainha”, “majesta­de”) que poderiam ser suavizadas. Gramaticalmente, o conto está quase impecável — apenas pequenas vírgulas e travessões que poderiam ser ajustados. A leitura me deixou tenso e satisfeito; há melancolia e um senso de tragédia inevitável. É uma boa história, bem estruturada e emocionalmente eficaz.

  12. Antonio Stegues Batista
    10 de novembro de 2025
    Avatar de Antonio Stegues Batista

    Samira já estava grávida quando chegou ao castelo e usaria a gravidez para obrigar o rei a se casar com ela, só que não contava que o rei era infértil. Analice foi a escolhida, teve sorte nesse caso. Parece que o Destino a ajudou a executar a vingança. Analice não apenas vence o jogo, mas define a sua missão: transformar-se na rainha para, então, eliminar o rei. A frase final do jogo, “Serei a melhor rainha que este reino já viu,” adquire um duplo sentido terrível, sua realeza será definida não pelo governo, mas pelo seu ato final de justiça. Apesar dos clichês, é um conto bem escrito com um bom enredo.

  13. toniluismc
    8 de novembro de 2025
    Avatar de toniluismc

    Olá, the queen!

    Olha, esse texto foi tão frustrante pra mim, pois eu comecei com toda boa intenção e aceitando tudo que ele estava entregando, mesmo achando de qualidade duvidosa, mas daí o final me deixou num nível de revolta muito grande. Então, para nos poupar do meu vexame, serei objetivo nas ponderações sobre o mesmo. Segue:

    1. Técnica

    Força:
    O texto tem estrutura, coesão e imagética razoavelmente sólidas. Há domínio básico da construção de cenas e ritmo narrativo (uso de cortes, alternância de foco, pausas, descrições visuais), o que indica alguma familiaridade com narrativas longas e estética “cinematográfica”.

    O autor(a) sabe montar cenas dramáticas, e o texto tem boa cadência visual — as apresentações das personagens e a ambientação palaciana são claras. A linguagem tenta evocar uma atmosfera de realeza e tragédia histórica.

    Problemas:

    • Estilo artificial e redundante. Uso excessivo de “como”, metáforas previsíveis e construções sintáticas genéricas: há uma falta de variação de estrutura frasal e uma redundância emocional (as frases explicam o que já foi mostrado). Isso é típico de textos produzidos com IA sem lapidação humana, ou de escritores ainda buscando densidade estilística.
      Exemplo: “Ela sorriu, um sorriso sereno, de quem enfim se permite descansar.” – é redundante e explicativo demais.
    • Repetição de fórmulas narrativas: as metáforas seguem o mesmo molde (“como algo que…”, “como ferro antigo”, “como ferrugem”), sem função simbólica nova.
    • Planejamento previsível: o arco é bem linear: convite → disputa → tensão → vitória → virada trágica. Tudo é anunciado com antecedência (“o rei era infértil”, “ela lembrava alguém”, “ela o matará”). O texto antecipa o próprio clímax, esvaziando o suspense.
    • Descompasso entre tema e trama: o xadrez aparece como metáfora episódica, não como eixo simbólico da história. A cena do jogo é ótima, mas isolada. Depois disso, o conceito não volta a orientar as ações nem a estrutura (não há paralelismo entre jogadas e decisões políticas, por exemplo). Assim, o texto parece “lembrar” que o tema era xadrez, inseri-lo pontualmente e depois abandoná-lo.
    • Tom literário inconsistente: alterna entre uma voz que tenta ser épica (“sob o brilho inclemente do sol”) e outra quase melodramática. Falta modulação estilística — o narrador poderia escolher ou a ironia fria ou a solenidade trágica, mas não oscilar.

    2. Criatividade

    Força:
    A ideia de associar o xadrez ao jogo de poder e sedução é promissora e universalmente simbólica. A construção de Analice como uma “peça” que sobe no tabuleiro social até o xeque-mate é uma boa metáfora — clássica, mas sempre funcional.

    Problemas:

    • Originalidade limitada: a trama “rainha que derruba o tirano” é arquetípica. Nada de errado nisso, mas o texto não oferece reviravoltas de linguagem ou perspectiva. Tudo se desenrola exatamente como o leitor espera.
    • Uso superficial da metáfora central: o xadrez aparece como diálogo literal (“no xadrez, um dos reis sempre cai”) e não como estrutura simbólica integrada (por exemplo, as personagens poderiam agir conforme arquétipos de peças, ou as cenas refletirem táticas de jogo).
    • Ausência de ambiguidade moral: Analice é construída como vítima vingativa, Edmundo como vilão absoluto. Essa binariedade empobrece o subtexto — em histórias políticas, o fascínio está nas zonas cinzentas.

    3. Impacto

    Força:
    O conto tenta criar uma sensação de destino trágico e encerra com uma imagem potente (a execução). Há ritmo cinematográfico e um arco completo — início, meio, fim. Isso garante uma leitura contínua.

    Problemas:

    • Anticlímax emocional: a história “promete” um xeque-mate simbólico no jogo de poder — mas o final é apenas uma vingança previsível seguida de execução. O leitor espera algo mais engenhoso, talvez um xeque-mate político ou moral, não um ato de fúria.
    • O tema se dilui: a simbologia do tabuleiro é esquecida; o final é de drama histórico, não de xadrez.
    • O impacto sensorial (a execução, o sangue, o mito da rainha assassina) é estético, mas vazio — o leitor não é levado a refletir, só a reagir.

    Sei que algumas pessoas vão gostar, então o que estou aqui é apenas um convite à reflexão para produções futuras. De todo modo, parabéns pelo texto e boa sorte no desafio!

  14. Léo Augusto Tarilonte Júnior
    8 de novembro de 2025
    Avatar de Léo Augusto Tarilonte Júnior

    Gostei muito do seu conto. Ficou muito bem escrito. A história também é bastante interessante, embora não seja meu estilo favorito. Você conseguiu manter o clima de mistério durante toda a narrativa. Parabéns por isso. Você também conseguiu mesclar muito bem o xadrez e suas metáforas a trama. Sua ideia me lembrou a série A seleção. Vou copiar abaixo um trecho que me chamou a atenção na sua história. Na minha opinião ele resume bem toda a narrativa. — Essa é a beleza do jogo, Majestade — respondeu ela, sem perder o tom calmo. — Quando não se tem muito a perder, arriscar se torna irresistível. Há uma beleza especial em ver um simples peão alcançar o rei.— Um peão nunca alcança o rei — murmurou Edmundo, movendo uma torre.— Verdade. Para isso, ele precisa se transformar em algo maior — disse ela, avançando o peão.O rei estreitou o olhar, analisando o tabuleiro.— Só há uma maneira desse peão vencer essa disputa, majestade.— Promovendo-o à rainha — Edmundo murmurou.Não tenho sugestões para melhorar o seu conto. Eu só lamento não ter gostado muitíssimo dele. Mas foi um dos melhores que li. Estou ansioso para ler novas histórias suas nos próximos desafios. Obrigado por compartilhar comigo um pouco do seu universo literário.

  15. leila patricia de sousa rodrigues
    4 de novembro de 2025
    Avatar de Leila Patrícia

    O conto prende desde o início, tem força nas imagens e um domínio seguro da narrativa. A cena do jogo de xadrez é o ponto alto — “Quando não se tem muito a perder, arriscar se torna irresistível” — ali a tensão entre Analice e o rei é refinada, inteligente, cheia de subtexto. Já o final, embora visualmente marcante, se apoia mais no impacto da cena do que na densidade emocional que o texto vinha prometendo. Em alguns trechos, o excesso de descrição enfraquece o pulso da narrativa. Ainda assim, é uma história bem construída, madura e instigante.

  16. Roberto Fernandes Junior
    3 de novembro de 2025
    Avatar de Roberto Fernandes Junior

    O texto tem uma premissa poderosa de vingança e redenção, com simbolismo bem trabalhado (xadrez, aromas, portas), mas tropeça na execução. Transições abruptas, soluções convenientes (como a infertilidade do rei) e o mal aproveitamento de personagens — especialmente Samira, uma antagonista fascinante que desaparece sem desfecho — enfraquecem o impacto. O plot twist é bem-vindo, mas chega tarde e confuso. O desfecho, raso diante da preparação, deixa a desejar. Ainda assim, é um bom texto. Merece ser lapidado com paciência: com transições mais fluidas, arcos completos e um final à altura da preparação, pode se tornar memorável.

  17. Kauana Kempner Diogo
    3 de novembro de 2025
    Avatar de Kauana Kempner Diogo

    A combinação de uma trama política com vingança, deixou a narrativa impressionante. Ao usar o xadrez como uma metáfora para poder, submissão e estratégia feminina, a escrita se torna mais visual. O principal ponto que torna o texto impecável é a coesão simbólica, onde o xadrez vai ligando todas as camisas narrativas, desde os diálogos amorosos até a guerra civil. Com toda certeza se trata de uma obra madura e fluida, muito bem equilibrada. 

  18. Martim Butcher Cury
    3 de novembro de 2025
    Avatar de Martim Butcher Cury

    Uma vez começada a leitura, é quase impossível largar o texto. Esse é o maior mérito do conto, mas também seu maior defeito. A linguagem quase nunca tropeça, o que garante a fluidez total da história que está sendo contada, mas ao mesmo tempo restringe a linguagem à transmissão eficaz de um conteúdo que, de resto, talvez não seja muito mais inquietante que o de séries como Game of Thrones. Particularmente me desgosta o timing entre falas e lances, o gesto de Analice ao derrubar a rainha, a justiça poética que mata o rei, enfim, o revestimento bestsellerista da coisa toda. Dito isso, o conto está muito bem estruturado conforme o estilo que se propõe. Me pergunto se não seria melhor, talvez com a possibilidade de flertar com o incompreensível, que as razões pelas quais Analice mata o rei ficassem implícitas ou reveladas apenas parcialmente.

  19. Suzy Domingues Belchior Pianucci
    2 de novembro de 2025
    Avatar de Suzy Domingues Belchior Pianucci

    Impactante, final surpreendente, gostei muito!

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Publicado às 2 de novembro de 2025 por em Liga 2025 - 4A, Liga 2025 - Rodada 4 e marcado .