EntreContos

Detox Literário.

À Centésima Vigésima Potência (Pedro Paulo)

Não tinha vocação para beber. Sebastião disfarçava a náusea por performar um desalento alcóolico, a testa apoiada em uma das mãos, a outra mais sustentada pelo copo de whisky do que segurando. O gelo já havia derretido. Ele olhava para pontos remotos do salão do hotel, tomado por vislumbres do fiasco da sua apresentação na Conferência Nacional de Matemática. Entre rememorar o vexame e olhar o nada, eventualmente a viu. Mas não reconheceu. A princípio, distinguiu uma senhora curvada sobre um tabuleiro de xadrez na mesinha ao lado. Repousava o queixo sobre uma mão e se abraçava com o outro braço. Sebastião analisou a disposição das peças e calculou uma partida em seus três primeiros lances. Negras jogam. Então atentou ao rosto da mulher.

Valéria Popova seria a palestrante de uma das mesas mais célebres da conferência em apenas alguns dias. Era uma autoridade na matemática, o nome que crescia o evento. Bem ali, sentada ao lado analisando uma partida de xadrez.  Tão mal como fazia com o seu enjoo, Sebastião dissimulou a sua análise da partida. Especulou algumas jogadas, mas logo se ensimesmou, perdido em sua própria amargura. Estremeceu em pensar em ser reconhecido como aquele rapaz tremendo na mesa de abertura do evento. Encolheu-se, cobrindo o rosto com as mãos. Mas na manhã seguinte ela estava lá. Roupas diferentes, mesma mesinha, mesmo jeito de se sentar, mesma posição das peças de xadrez.

A conferência seguiria até o fim daquela semana, mas Sebastião já tinha decidido por não comparecer. Até havia imaginado perambular pela cidade que ainda não conhecia, só que tinha coragem. Já se deslumbrava o suficiente com a vastidão do salão central do hotel. Não ligavam as luzes naquele horário e a luz matutina apenas vazava pelos vitrais do teto abobadado, imergindo os frequentadores do café da manhã em uma penumbra.  A grandeza e a obscuridade intimidavam como também fascinavam. Sua admiração havia começado desde que pisara ali pela primeira vez, levado por uma sensação de que todo aquele luxo pavimentava o caminho para o seu sucesso.

Agora um dia passava e toda aquela beleza lhe doía, pois estava certo de que jamais retornaria. Não conseguia pensar em encontrar nada mais bonito lá fora. Pior. Tinha medo do que poderia encontrar. Sentia que a imensidão daquela arquitetura lhe bastava. E ao menos podia observar o desenrolar daquela partida de xadrez.

Na mesinha ao lado da sua, Valéria Popova pairou a mão sobre o tabuleiro, os dedos prontos a pinçar uma das peças. Deteve-se. Não se virou, mas Sebastião não teve dúvidas que ela lhe dirigia a palavra.

— Vai ficar só olhando?

Saber que ela falava consigo não adiantou para que ele se movesse mais rápido. Ela virou o torso. Seus olhos eram verdes acinzelados e Sebastião os sentiu pousarem em si com dureza. Quis negar, desculpar-se por se intrometer e ir embora. Mas, ao se levantar, caminhou até a mesa dela e tomou o lugar do outro lado, sentado de frente para a senhora e diante do tabuleiro. Ela o acompanhou em seu breve trajeto e continuou a olhá-lo quando se sentou. Ele pensou que seria o momento que o identificaria e tudo estaria perdido. Valéria Popova lançou as mãos sobre as peças e em um instante peões negros e brancos voltaram a compor suas fileiras à frente das cortes de seus respectivos exércitos.

— Joga?

Sebastião nunca imaginou conseguir conversar com alguém famosa. Estranhou a própria voz ao respondê-la.

— Sim.

— Bem, que tal uma partida? Posso acionar o relógio aqui no meu celular… quanto tempo?

Ele levantou um pouco os ombros.

— Três.

Ela soltou o celular sobre a mesa.

— Meu Deus. Três? Mas não dá para nada, garoto, por que tão rápida?

— Não sei… eu não tenho muito tempo para jogar, sabe? Jogo quando tô comendo ou aguardando Uber, sei lá.

Ela balançou a cabeça. Mas ao menos sorria.

— E o que é que você faz tanto que não tem tempo pra uma partidinha decente?

Leio artigos. Dissertações. Teses. Resolvo questões. Dou aula… fracasso.

— Trabalho.

— Bem, estamos aqui neste hotel ma-ra-vi-lho-so, vi o senhor espiando meu jogo ontem à noite e você está aqui tem umas duas horas, o bufê já até acabou e agora está sentado com esta velha para jogar uma partida… então vou assumir que nesta viagem não está trabalhando?

Ele apenas balançou a cabeça. Percebeu que das poucas viagens que fizera, todas foram motivadas por demandas universitárias. Seus roteiros eram sempre: da rodoviária ao hotel, do hotel ao evento e vice-versa até acabar de volta à rodoviária e deixar a cidade.

— Então só falta me responder… o que acha de uma partida? Faremos três minutos. Como preferir.

De novo, respondeu com a cabeça. Paralelo ao tabuleiro, o celular dela mostrava três minutos para cada jogador. Ela lhe estendeu a mão de unhas bem tratadas, aliança no dedo. Pegou sua mão sem jeito, receoso de que ela reparasse no suor. Sua adversária deixou sair uma risada curta e continuou sorrindo sem quebrar o contato visual. A mão dela baixou até pairar a alguns centímetros sobre a tela. O dedo indicador baixou suave sobre a minutagem, iniciando a contagem do tempo de Sebastião. Ele jogava com as brancas, então iniciaria a partida. Empurrou o peão do rei por duas casas e acionou o relógio, iniciando o tempo dela. Valéria Popova já não o olhava mais. Havia retornado à mesma posição em que a encontrara na noite anterior e no começo daquela manhã. Abraçava-se e apoiava o queixo sobre a outra mão, o verde de seus olhos obscurecido nas feições enrugadas pela atenção. Sebastião se embaraçava, pensando em como ela poderia se dedicar tanto à primeira jogada. Ela respondeu, enfim. Defesa siciliana. Ele devolveu de imediato. Padrão: cavalo em c3. Ela se sobressaltou com uma risada.

— Caramba! Não pensa não?

O rosto dele avermelhou. Valéria balançou a cabeça e voltou a jogar. Sebastião pusera dois segundos em suas duas primeiras jogadas enquanto ela consumiu um minuto para responder as duas. Trinta vezes o tempo dele. Um terço do tempo que ela tinha. O padrão de respostas rápidas e intervalos longos se sucedeu até que Sebastião se viu obrigado a se deter antes do seu próximo lance. Jogou e se apoiou na cadeira com as mãos coladas às coxas, agitado. Tinha a impressão de que sua adversária não havia alterado a postura em nenhum momento ou sequer olhara para ele. Voltou-se para ela, depois mirou o salão vazio, perdeu-se na luz fosca que pintava os padrões curvos dos vitrais. O lance dela veio mais rápido do que as outras vezes, Sebastião deu um pulinho na cadeira. Não soube responder, olhou de relance para o relógio. Apontou. Falou se escondendo entre os próprios ombros.

— Senhora, desculpe… acho que seu tempo acabou.

— Oi? Ah, é verdade! E por favor, acho que nem falei meu nome, eu que peço desculpas. O cabelo é branco, mas pode chamar de Valéria. E como se chama?

Respirou fundo. É agora que vai me reconhecer.

— Sebastião.

— E aí, Sebastião? Pelo tempo me venceu, mas e pelo jogo?

Os olhos dele resvalaram dela ao tabuleiro e depois no sentido contrário. O vislumbre rápido havia bastado para mostrar que a sua vitória só poderia ser pelo tempo. O sorriso de Valéria era brincalhão. Ela também sabia. Ele jogou os ombros para trás e concordou. Eles seguiram com a partida. Sebastião apoiou os cotovelos sobre a mesa e alinhou os olhos com as peças. Agora eram os dois debruçados sobre o tabuleiro. Não havia tempo a contar, as análises de cada lado passavam os minutos. Passaram a hora. Mas qualquer bom enxadrista determina a vitória a lances do xeque-mate. Foi com um sorriso triunfante que Valéria Popova jogou seus últimos lances. Relaxada no assento da cadeira, os olhos brilhando sobre Sebastião, a quem a percepção da derrota só chegou alguns movimentos depois.

Os dois reis estavam acompanhados apenas pelo mesmo número de peões. Mas os dele não podiam andar, retidos por suas contrapartes. E ela tinha um avançado, a uma casa do rei inimigo, mas em uma passada que o coroado não acompanhava. Sebastião apertou a perseguição, mas era inútil. O peão se dez dama e a peça mais poderosa do jogo encerrou a partida. Valéria Popova ria diante de seu adversário esmorecido na cadeira à sua frente. Ela estendeu a mão, que ele apertou com desânimo.

— Não fique assim, ô Sebastião. Jogando como você começou não tinha como ser diferente!

— Como assim como eu comecei?

— Ah, praticamente batendo no tabuleiro — ela segurou uma peça para imitá-lo, como se socasse a mesa — jogando rápido sem necessidade.

— Mas você também pensou demais e perdeu por tempo, não foi não?

Ela piscou.

— É que eu só aceitei por educação. Sabia que te ganharia num jogo de verdade. Aliás, pra quê essa pressa toda, hein? Três minutos? — Não bastasse a exasperação em sua voz, ela estendeu três dedos entre eles.

— É o que dá no dia entre uma coisa e outra. Correria.

— Joga quantas por dia?

— Umas cinco partidas. No transporte, no almoço… depende.

Ela balançou a cabeça. Calculava.

— Poxa, mas aí você não cresce no jogo. Pode não ser seu objetivo, mas se quiser… pense bem. Cinco partidas de três. Não dá nem pra curtir. Não faz melhor uma partida de quinze? Vá desculpando o sermão, é que eu sou professora!

Ele inclinou a cabeça para um lado e depois para o outro como faria uma balança.

— É. Talvez você esteja certa. — Ajeitou-se na cadeira, tragado por um ânimo repentino. — Aceita outra? Vamos a de quinze que você disse.

Ela sorriu sem responder. Arrumava o tabuleiro e o invertia, tomando o lado das brancas. Relógio reiniciado. Mesma postura analítica, os olhos uma linha reta às peças e a nada mais. Aperto de mãos. O peão da dama avançado duas casas. Seu adversário não respondeu de imediato, mas não se deteve muito. O peão negro defrontou sua contraparte. Sebastião deu um saltinho na cadeira ao escutá-la.

— Mas você joga direitinho. Onde aprendeu?

— Na internet. E… a senhora?

Ela não desviava o olhar e nem parava de jogar, mas ele só conseguia falar se virando para ela e assim não sabia se olhava o tabuleiro ou Valéria.

— Meu pai me ensinou. O esporte era grande no país natal dele. De ser jogado em todo lugar, dos campeonatos serem transmitidos na rádio e todo mundo ouvir sabendo dispor o tabuleiro mesmo sem ter na mão. Ensinou-me a jogar assim. Sem tabuleiro, sem peças, apenas a notação para imaginar as peças na minha mente. Nunca aprendeu o português direito, por isso gostava de matemática. Dizia que é a linguagem universal!

— A senhora é professora de matemática?

Ela levantou os olhos pela primeira vez naquela partida, detendo os seus nos dele. Seu sorriso era maroto. Ao invés de responder, perguntou:

— E por que você começou a jogar?

Ele se deteve. Pegou um bispo branco que havia capturado. Rodou a peça entre os dedos, passou a ponta do dedo pela ranhura comum à peça da diagonal.

— Eu acho as peças bonitas. A textura, as cores… até o quadriculado. Foi o que me atraiu. Mas é engraçado, eu joguei muito pouco em tabuleiros físicos… sempre foi mais online. Nem tenho um tabuleiro mesmo…

— Tem sim. —A incompreensão dele transpareceu. — Este. Pode levar!

— Não, que é isso… é seu tabuleiro, não precisa…

— Eu quero que fique com ele, Sebastião. Não posso mais mantê-lo. Foi o meu ex-marido que me deu.

— Ah… bem… sendo assim, posso aceitar, eu acho…

Por alguns instantes, as peças falaram. Valéria Popova contabilizava os lances possíveis para escolher o melhor quando teve a vez de ser surpreendida por uma pergunta do seu adversário.

— Que jogo era aquele que a senhora estava jogando?

— Desculpe?

A estrela da matemática e o acadêmico arruinado se entreolharam. Sebastião experimentava ser destemido pela primeira vez.

— Ontem de noite e hoje mais cedo… vi a senhora com o mesmo jogo armado… até pareceu que ia tocar uma peça, mas aí desistia.

Ela jogou. A peça encontrou sua nova casa com um baque seco que estremeceu as peças ao lado. Sebastião baixou os olhos para o jogo, entendendo que aquela era a sua resposta. Além disso, escapava de olhar para ela e agora percebia que as peças dela sufocavam as suas e que logo, logo teria que assumir a defensiva. Mas ela também o respondeu com palavras. Imitando-a, ele manteve os olhos no jogo.

— Sabe o que é um googol?

— Dez elevado à cem. O número um seguido de cem zeros.

Ela assentiu como faria uma professora orgulhosa de um aluno.

— Bem, teve um matemático que calculou que uma partida de xadrez tem mais possibilidades do que um googol, sabia?

— Claude… alguma coisa.

— Shannon. Dez elevado a cento e vinte. Mais do que o número de átomos no universo observável! Eu era apenas uma graduanda em matemática quando conheci esse número. Um veterano do curso me contou depois que me viu jogando xadrez. Ele era péssimo no jogo, mas ótimo de papo.

— Seu marido.

— O próprio. Ele me disse isso na terceira derrota para mim. Disse “olha, Shannon disse que tem um decacilhão de combinações. Não é possível que em alguma eu não ganhe de você”. E ele praticou, melhorou e ganhou, eventualmente. Mas aí já estávamos juntos. No tabuleiro demorou, mas na lábia ele me ganhou rapidinho. Só que mesmo assim continuou jogando e aí eu soube que era pra valer. Jogávamos todos os dias. Ele me disse uma vez que “se cada jogo tem tantos lances possíveis, quero jogar todos com você.”

— Que bonito!

— Não é? — Ela tocou uma das peças que havia capturado, passando os dedos entre os detalhes da crina do cavalo — Concordo com você, Sebastião. As peças são muito bonitas — riu — acredita que eu nunca pensei nisso? Sempre olhei mais pelo esporte, pela estratégia. O jogo. Mas poxa, é um jogo lindo! Até o quadriculado — afagou as casas — todo dia se aprende algo novo.

— É.

— Mas bem, como eu dizia… eu e meu marido jogávamos todos os dias. Mas às vezes jogávamos a mesma partida por dias. A que você me viu olhando é… é a última que iniciamos e nunca concluímos. Eu descobri que ele tinha um caso… ou tem, vai saber, não tenho notícias. Era uma guria mais nova, orientanda dele, eu acho. Mas daí, tem aquele escarcéu todo, aquela mudança de vida, ele que tá sempre ali não tá mais… e sobrou o tabuleiro. As peças como estavam… eu ficava pensando naquilo que ele dizia. Que Shannon disse: dez à centésima vigésima potência. Eu pensava que ainda tínhamos esse tanto para jogar… para ficarmos juntos. Então você me viu olhando aquela posição… acho que estou pensando como aquela partida poderia ter sido. Como teria sido se nada disso tivesse acontecido.

Depois disso, apenas jogaram. Horas. Ele perdeu. Não falaram nada. Então ele propôs.

— Eu posso finalizar aquele jogo

— Oi?

— Desculpa a proposta, já é evidente que a senhora lava o chão comigo, mas você mesma disse: eu jogo certinho, não é? E bem, essa foi menos ruim do que a outra, não foi?

O sorriso brincalhão havia voltado ao rosto dela.

— Foi sim, senhor.

— E o que faltou?

Ela colocou o indicador sobre os lábios, tocou as costas no assento da cadeira.

— Hum… olha, no jogo: nada. Procurou dominar o centro, desenvolveu as peças, rocou, procurou abrir colunas… mas sabe o que é? Desatenção! Jogou uma boa partida de quinze minutos, mas não a melhor que podia. E sabe por quê? Ansiedade! Jogava e me esperava jogar para começar a pensar. O certo é pensar durante a vez do seu oponente, Sebastião! Ter malícia. Todo tempo é tempo nesse jogo. Mover a peça é um décimo da brincadeira. Não sei o que te acontece, sua cabeça vai pra longe…

— Ansiedade… olha, a senhora tá certa, hein? Então deixemos combinado. Eu vou focar e, sei lá, vai que eu venço.

— Olha lá! Já não é para tanto.

Ele riu.

— Vale a tentativa.

— Você bebe?

Ele comprimiu os lábios, encolheu os ombros. E então ela revelou.

— Eu não te vi bebendo ontem, menino? Parecia meio mal, na verdade.

— Eu não sou muito de beber, sabe? Pedi whisky porque achei que… era o certo.

— Para afogar as mágoas da sua palestra?

Ele titubeou, sentindo esquentar pela vermelhidão que tomava o seu rosto. Valéria Popova sorriu. O gesto era acolhimento. A noite havia chegado e as mesinhas que outrora foram para o café da manhã, agora tinham os cardápios do jantar. Ela sinalizou para um dos garçons que passava e pediu duas caipirinhas de limão. Caprichadas.

— Pode não ser o seu gosto, Sebastião. Sei que o whisky tem banca de aparecer nos filmes e tudo… mas tem que ser o whisky certo. E tem que saber beber. Vai que não é a sua praia, mas talvez seja bom começar por algo mais fraco. Eu não sei se você topa. Já pedi!

Então ela o havia reconhecido. Desde quando? Talvez soubesse desde o momento que reparou nele na noite anterior. Talvez tivesse se dado conta durante as partidas… importava? Pela primeira vez, Sebastião não se atormentava pelo que poderia ser. Duas caipirinhas. Uma boa partida de xadrez. É o que tinha na sua frente. Dez elevado a cento e vinte já é muita coisa. Não preciso de mais. O resto é ansiedade. Sorrindo, arrumou as peças no posicionamento que havia a visto analisar na noite anterior.

— Valéria Popova. Está pronta para finalmente fazer o seu lance?

— Depende. Você está pronto para se deter no tabuleiro. No aqui e agora, sem perder a cabeça na lua?

Ele estendeu a mão. Ela apertou. As caipirinhas chegaram pouco depois. Da primeira golada, daquela mistura de azedo do limão e doce do açúcar temperando o álcool, concluiu que ela estava certa. Era um bom drinque para começar a beber. Valéria não demorou muito a fazer o seu lance. Nenhum dos dois se preocupou em acionar o relógio.

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21 comentários em “À Centésima Vigésima Potência (Pedro Paulo)

  1. Andre Brizola
    13 de dezembro de 2025
    Avatar de Andre Brizola

    Olá, Leandro!

    O conto é sobre a reunião de duas gerações diferentes e de duas formas diferentes de encarar o jogo e a vida. Num lado uma senhora acostumada a dispender mais tempo para tudo, a focar e aproveitar detalhes. No outro, o professor acostumado a lances de três minutos, entre refeições e transportes, na corrida rotina que temos nos acostumados. Visões diferentes trazidas para um mesmo tabuleiro, em uma mesma convenção, de um mesmo assunto.

    Técnica – A conversa entre os dois, que poderia enveredar para questões mais herméticas, acaba ficando na superfície, e exige um texto adequado, beirando o coloquial, com agilidade nas transições de parágrafos e intervenções ágeis de diálogos naturais. E você conseguiu isso. O texto tem fluidez, mesmo nos parágrafos mais longos, em que temos acesso a informações mais específicas sobre as jogadas feitas no jogo entre os personagens. Acredito que a técnica utilizada funcionou muito bem com o enredo apresentado.

    Enredo – A beleza de um enredo simples acaba residindo no bom funcionamento com a técnica bem empregada. Não podemos dizer que temos aqui algo muito profundo ou complexo, pois o conto narra uma cena específica, bem delineada dentro de um cenário pequeno, sem muitos atrativos, em que o foco é a troca de informações e o jogo entre os dois personagens. Podemos conhecer um pouco sobre Sebastião e Valeria, mas, além disso, fica apenas o que mencionei acima, sobre o choque entre gerações diferentes, com enfoques diferentes sobre determinados aspectos da vida, traduzidos no xadrez. Pode ser encarado como uma crítica, e acho que é a maneira mais interessante de olhar sobre o conteúdo.

    Impacto – Gosto de escrever essa parte do meu comentário dias depois de ler, para ver como o conto reverberou na minha cabeça. Se foi bom, ou ruim, se me causou dúvidas, o importante é que ele tenha gerado algum tipo de reação. No caso aqui devo dizer que o impacto foi pequeno, pois outros contos ocuparam a minha mente, mas esse aqui não me rendeu nenhum tipo de reflexão.

    Conclusão – Trata-se de um conto bem escrito, com boa utilização do tema e com um enredo certinho. Mas que não vai muito além disso. É aquele conto gostoso de ler, mas pouco provocante, que não te incomoda, mas também não te impacta. Parece ter sido escrito muito dentro da zona de conforto, como um time numa reta final de campeonato, quando não se quer perder pontos, mas já não se tem chances de ganhar o título, e o empate parece um bom resultado. É a minha impressão, pelo menos.

    Bom, é isso. Boa sorte no desafio!

  2. Rodrigo Ortiz Vinholo
    13 de dezembro de 2025
    Avatar de Rodrigo Ortiz Vinholo

    Excelente! Ótimo desenvolvimento de personagens, e gosto como o xadrez é explorado em diversos aspectos. Não é só jogo, tampouco só estratégia, mas é um elemento da história de cada um, um meio de comunicação, e até um elemento estético (na narrativa, na vida dos personagens e além). Boa mistura de vivência, filosofia e um tanto mais que fica entre as palavras (e entre as jogadas).

  3. leandrobarreiros
    13 de dezembro de 2025
    Avatar de leandrobarreiros

    Tenho dito que a capacidade que o pessoal tem demonstrado de construir um conto com muita densidade na história em tão poucas palavras não para de me surpreender. Esse texto é um exemplo disso.

    Com densidade não quero dizer questões filosóficas, mas sim uma profundidade em personagens ou em eventos que eu, particularmente, precisaria de muitas páginas para desenvolver.

    Ambos os personagens principais nesse conto parecem extremamente reais, com passados bem trabalhados e definidos, que refletem seus diálogos e comportamentos. O autor ainda conseguiu completar um arco de desenvolvimento do Sebastião, diminuindo sua ansiedade ao viver mais no presente, e sugere a resolução do arco da Valéria, que ainda está meio presa ao casamento pela partida inacabada.

    As angústias do Sebastião são comuns (no sentido de que é fácil se identificar com elas), ao passo que a maneira de explorar essas angústias é bastante original: uma apresentação em um congresso da vida.

    Eu, infelizmente, cada vez tenho menos a contribuir com os contos, porque a galera já está num nível elevado.

    Destaco que gostei bastante de algumas construções. Enquanto eu escrevia, procurava maneiras de descrever a atenção dos personagens ao jogo sem ser repetitivo e aqui encontro algo singelo e elegante como “baixar os olhos para o jogo”. Queria ter pensado nisso.

    Enfim, um excelente conto. Abriu muito bem o desafio para mim.

  4. Kelly Hatanaka
    12 de dezembro de 2025
    Avatar de Kelly Hatanaka

    Considerações

    O conto narra o diálogo entre Valéria, uma acadêmica experiente, com uma carreira consolidada, e Sebastião, um acadêmico jovem e inseguro, que acaba de ir mal em uma palestra e encara isso como o fim de sua carreira.

    A conversa se dá nesta dicotomia entre a experiência e a ansiedade. Sebastião vive preso às circunstâncias, acuado pelo tempo, sentindo-se derrotado a cada revés. Valéria, por sua vez, dedica tempo à sua perda, analisando todas as possibilidades que poderia ter seguido e vê as coisas com perspectiva, o que coloca cada elemento em seu devido tamanho.

    O que se vê é uma amizade nascendo a partir das diferenças, um aprendiz encontrando seu tutor.

    Gostei ou não gostei

     Gostei. Um diálogo interessante entre dois personagens muito diferentes.

    Pitacos não solicitados

     O relacionamento que nasce entre Valéria e Sebastião é uma amizade um tanto desigual. Fica claro o que Sebastião ganha com este relacionamento. Valéria ensina muito para ele. Mas, e Valéria? Ganha somente um companheiro de jogo? Não penso que relacionamentos sejam sempre utilitaristas, mas seria interessante que Sebastião contribuísse com alguma coisa importante na vida de Valéria. Poderia trazer a ela uma perspectiva nova. Tudo bem que ele fala sobre a beleza do jogo, das peças, coisa que ela nunca havia notado. Mas, isso é pouco. O que mais?

  5. Fabio D'Oliveira
    7 de dezembro de 2025
    Avatar de Fabio D'Oliveira

    Buenas!

    Eu sou um leitor chato. Procuro algo que me faça sentir algo diferente. Seu conto é bom. É bem escrito, no geral. Tem alguns problemas de pontuação (vírgula, em geral) e uma mania de reticência nos diálogos, mas, fora isso, está tudo perfeitinho.

    Mas…

    O conto é arrastado. Não inova em nada. Na temática, na narrativa, na forma. Em resumo, é o encontro de duas almas feridas, cada uma com suas dores, que encontram, na partida de xadrez, uma espécie de consolo. No decorrer da partida, os dois vão lidando com essas angústias. Mesmo com um final indefinido, temos um tom positivo. A trama é eficiente na hora de emocionar leitores menos exigentes, mas não deixa de ser uma abordagem clichê, pouco original. Temos inúmeras histórias com a mesma abordagem, apenas em cenários diferentes. Duas pessoas quebradas, que sofrem, que encontram conforto no outro.

    Existem fatores que compensam a trama clichê, como a ambientação, mas não é o caso neste conto. Não consegui gostar dele. Sendo sincero, ansiava pelo final na metade da leitura. Não se ofenda. É apenas meu gosto pessoal. E acho que, neste tipo de desafio, que é mais uma brincadeira entre escritores, esse tipo de avaliação é o que realmente importa.

    Repito: tecnicamente, é um conto bom. Tem trechos muitos legais, o começo engrena legal, você consegue criar uma boa distinção entre os personagens. Meu problema, como leitor, foi com a história.

    Boa sorte no desafio!

  6. Sarah S Nascimento
    28 de novembro de 2025
    Avatar de Sarah S Nascimento

    Olá! Li seu conto por último, mas já havia visto no grupo muitos elogios, e agora acho que foram bem merecidos. Uso excelente do xadrez no conto inteiro, a partida, a conversa, os paralelos ali com a vida dos personagens.
    Gostei como vamos conhecendo pouco a pouco cada um dos dois, e olha eu ia cair nessa lábia do ex marido da Valéria aí viu! kkkk. Inteligente o cara e até bem romântico o que ele disse. Pena que o cara não prestava.
    Acho que o Sebastião parece um pouco comigo, nessa parte de se distrair com pensamentos, contemplações e tudo o mais, risos. Me identifiquei.
    Achei muito bem feita a descrição do hotel ali onde eles estavam, de como foram passando os dois dias citando os cardápios do café que foram substituídos depois pelos do jantar, foi uma forma muito boa de mostrar as horas indo embora sem dizer isso de fato.
    Acho que não tenho nenhum ponto negativo pra observar no seu conto, tá tudo bem construído, interessante, intrigante até. E gostei dessa possibilidade de algo mais acontecer entre o Sebastião e a Valéria. Nem sei se isso seria possível, não sei a idade do Sebastião, vai que ele era muito novo pra ela, não sei, mas pra mim eles tinham química. Eu shipo esses dois! kkkkk. Me desculpa, não resisti. kkkk.
    Um ótimo conto, bem criativo e cheio de cálculos colocados de forma muito interessante.

  7. marco.saraiva
    21 de novembro de 2025
    Avatar de marco.saraiva

    Ih, acabou. Hahaha! Fui pego de surpresa. Estava investido na leitura, queria ver como esse jogo final terminaria… mas ai o conto terminou e eu não vi. Já adiantando a minha opinião sobre o conto: gostoso de ler, leve, me prendeu… mas realmente, o conto parece ter criado toda aquela tensão para te mostrar o jogo final, que nunca acontece.

    Por outro lado, quanto mais eu penso neste conto, mais entendo que este final tem tudo a ver com o que você queria contar.

    O embate entre Valéria e Sebastião é uma metáfora para o embate entre a sabedoria de uma vida inteira vivida e sofrida, e a pressa e ansiedade de uma vida jovem e corrida. Sebastião dramatiza um momento pessoal de derrota como se a sua vida tivesse acabado. Dedica-se tanto ao trabalho que não vive o momento. Valéria vem como um contraponto de sucesso: o segredo está em não se preocupar com o tempo, em viver o presente. Toda a narrativa gira em torno disso, com o xadrez apenas como pano de fundo.

    O mais interessante é: Valéria é imparcial. Ela também conta que essa abordagem da vida não vem sem reveses. Afinal, ela viveu o seu amor com dedicação total, sem se preocupar com o tempo, achando que ainda tinha “um googol” de jogadas para fazer com o marido, e então foi pega de surpresa quando tudo acabou muito antes do esperado. Ela também demonstra que não é perfeita: mesmo ela, que insiste em não se preocupar com o relógio, que insiste em viver o agora, não consegue parar de pensar em jogadas não-feitas, em uma partida que não terminou.

    Logo, aqui, apesar de Valéria sempre guiar a conversa como a anciã sábia, Sebastião também tem um papel a cumprir: ajudá-la a fechar um capítulo da sua vida e fazê-la olhar para frente e não para trás, como tem feito há tanto tempo. E no final, quando ela pergunta se ele está pronto para viver o momento e ele concorda, talvez este seja mesmo o melhor final para o conto: um “metafinal”. Se o leitor ficou irritado por não ter visto a partida que o conto prometeu, não entendeu a mensagem: o valor está no que foi lido, e não no que não foi lido.

    Muito legal!

  8. claudiaangst
    18 de novembro de 2025
    Avatar de claudiaangst

    Olá, autor(a), tudo bem?

    Temos aqui um conto que revela conhecimento na área da Matemática. A lógica, o cálculo, o raciocínio para resolver problemas – tudo isso combina muito bem com o jogo de xadrez. Portanto, o tema proposto pelo desafio foi abordado com sucesso.

    Algumas falhas de revisão:

    • Até havia imaginado perambular pela cidade que ainda não conhecia, só que tinha coragem. > […] só que não tinha coragem
    • […] conversar com alguém famosa > […] conversar com alguém famoso.
    • […] pra quê essa pressa toda, hein? > […] pra que essa pressa toda, hein?
    • Dez elevado à cem > Dez elevado a cem
    • acinzelados > acinzentados
    • O peão se dez dama > O peão se fez dama

    A narrativa traz o encontro entre a famosa autoridade em matemática, Valéria Popova, e um frustrado palestrante, Sebastião. Personagens bem construídos. Diálogo agiliza a leitura, o que facilita o entretenimento.

    Parabéns pela sua participação nesta última rodada. Boa sorte!

  9. cyro eduardo fernandes
    17 de novembro de 2025
    Avatar de cyro eduardo fernandes

    Ótimo começo, prendendo a atenção. Segue bem visual. Três observações sobre a revisão do texto. Primeira, ” Até havia imaginado perambular pela cidade que ainda não conhecia, só que tinha coragem.” faltou o “não ” antes de coragem? Segunda,”O lance dela veio mais rápido do que as outras vezes” , mas o tempo estourou? . Terceira: “O peão se dez dama e a peça mais poderosa do jogo encerrou a partida. ” se fez! . Gostei da narrativa. Personagens e diálogos bem desenvolvidos. Boa sorte!

  10. Alexandre Parisi
    15 de novembro de 2025
    Avatar de Alexandre Parisi

    Gostei bastante do conto — tem atmosfera, ritmo e sensibilidade. O autor sabe criar cenas vivas, especialmente nos diálogos, que são naturais e cheios de nuances. A relação entre Sebastião e Valéria cresce com sutileza, e o xadrez funciona bem como metáfora da vida, da ansiedade e da passagem do tempo. O texto também aborda a solidão e o medo do fracasso com muita humanidade.

    Mas há deslizes. O começo é um pouco arrastado, com descrições excessivas que atrasam o envolvimento. O conto melhora muito quando a conversa começa. O estilo, embora elegante, às vezes peca por exagerar nos adjetivos e nas repetições (“olhar”, “tabuleiro”, “xadrez” aparecem demais). Pequenos erros gramaticais — uso de crase e vírgulas — não comprometem, mas existem.

    O final é bonito, porém previsível. Ainda assim, deixa uma sensação boa, de calma e aceitação. No geral, é um conto maduro, bem escrito e sensível.

  11. Antonio Stegues Batista
    10 de novembro de 2025
    Avatar de Antonio Stegues Batista

    Após o fracasso na conferência de Matemática, Sebastião encontra Valéria que compartilha a dor de seu divórcio. O jogo de xadrez possibilita aos dois, o autoconhecimento. Uma história simples, sem grandes mistérios e reviravoltas impactantes. Aconselho refazer a introdução que está meio truncada. Acho que o autor teve uma ideia que foi se modificando durante a escrita, se afastou da definição da matemática como ciência filosófica também, creio eu, não sei, apenas uma ideia.

  12. Martim Butcher Cury
    7 de novembro de 2025
    Avatar de Martim Butcher Cury

    O conto é simpático, Valéria é simpática, Sebastião é simpático, mas… Fiquei sentindo falta de alguma coisa que desse errado, ou pelo menos de algo na personalidade dele que causasse alguma mudança nela. Há uma hierarquia entre eles que espelha uma outra hierarquia a que não me agrada aderir, que é entre a voz autoral e o leitor. É claro que em literatura manda quem tem a palavra, mas isso não significa que o autor ou autora tenha que ficar passando lições de vida. A própria Valéria admite essa atitude: “Desculpe, é que sou professora!”. Pede desculpas mas persiste em seu papel professoral. O perfeito alinhamento ideológico entre Valéria e a instância autoral transfere o tom professoral para fora da história. No fundo, terminei sentindo que me tratavam com condescendência. Dito isso, o conto é gostoso de ler e funciona bem dentro do esquema de diálogo.

  13. Léo Augusto Tarilonte Júnior
    6 de novembro de 2025
    Avatar de Léo Augusto Tarilonte Júnior

    Achei seu conto muito bom. Ficou muito bem escrito, parabéns por isso. A história ficou interessante, conseguindo prender minha atenção. Você conseguiu integrar bem o xadrez a trama. O Sebastião foi muito bem construído, parabéns por isso também. Vou copiar aqui o parágrafo que achei mais bonito da sua história. — O próprio. Ele me disse isso na terceira derrota para mim. Disse “olha, Shannon disse que tem um decacilhão de combinações. Não é possível que em alguma eu não ganhe de você”. E ele praticou, melhorou e ganhou, eventualmente. Mas aí já estávamos juntos. No tabuleiro demorou, mas na lábia ele me ganhou rapidinho. Só que mesmo assim continuou jogando e aí eu soube que era pra valer. Jogávamos todos os dias. Ele me disse uma vez que “se cada jogo tem tantos lances possíveis, quero jogar todos com você.”Percebi alguns pequenos problemas em algumas regências verbais vou copiar os trechos aqui e dar minhas sugestões para que você possa melhorar no futuro. Mas esses deslizes não tornam seu conto ruim. Então atentou ao rosto da mulher.AQui faltou o pronome se.Poderia ser: atentou-se ou se atentou. Valéria Popova seria a palestrante de uma das mesas mais célebres da conferência em apenas alguns dias. Era uma autoridade na matemática, o nome que crescia o evento. Bem ali, sentada ao lado analisando uma partida de xadrez.  Tão mal como fazia com o seu enjoo, Sebastião dissimulou a sua análise da partida. Especulou algumas jogadas, mas logo se ensimesmou, perdido em sua própria amargura. Estremeceu em pensar em ser reconhecido como aquele rapaz tremendo na mesa de abertura do evento. Encolheu-se, cobrindo o rosto com as mãos. Mas na manhã seguinte ela estava lá. Roupas diferentes, mesma mesinha, mesmo jeito de se sentar, mesma posição das peças de xadrez.Peço desculpas por ter copiado todo o parágrafo, é que não consigo separar o trecho exato. Mas o problema é que vi foi no trecho o nome que crescia o evento. Acredito que seria melhor o nome que faria o evento crescer ou algo semelhante. A construção que você usou ficou estranha para mim. Sebastião nunca imaginou conseguir conversar com alguém famosa. Estranhou a própria voz ao respondê-la. Fora de AdvertisementEmbora saibamos que a outra personagem é feminina, essa construção que você usou me causou estranheza. Aquele acredito que o pronome alguém seja de Tom mais neutro, nesse caso acredito que deveria ter usado o adjetivo famoso no lugar de famosa. Uma opção seria pessoa famosa. — Bem, estamos aqui neste hotel ma-ra-vi-lho-so, vi o senhor espiando meu jogo ontem à noite e você está aqui tem umas duas horas, o bufê já até acabou e agora está sentado com esta velha para jogar uma partida… então vou assumir que nesta viagem não está trabalhando?A questão para mim aqui foi o trecho vou assumir que o senhor não está trabalhando. Se você não tivesse usado o ponto de interrogação estaria perfeito na minha humilde opinião. Mas com o uso do ponto de interrogação acredito que seria melhor usar a expressão posso assumir acho que ficaria um pouco mais claro. O rosto dele avermelhou. Valéria balançou a cabeça e voltou a jogar. Sebastião pusera dois segundos em suas duas primeiras jogadas enquanto ela consumiu um minuto para responder as duas. Trinta vezes o tempo dele. Um terço do tempo que ela tinha. O padrão de respostas rápidas e intervalos longos se sucedeu até que Sebastião se viu obrigado a se deter antes do seu próximo lance. Jogou e se apoiou na cadeira com as mãos coladas às coxas, agitado. Tinha a impressão de que sua adversária não havia alterado a postura em nenhum momento ou sequer olhara para ele. Voltou-se para ela, depois mirou o salão vazio, perdeu-se na luz fosca que pintava os padrões curvos dos vitrais. O lance dela veio mais rápido do que as outras vezes, Sebastião deu um pulinho na cadeira. Não soube responder, olhou de relance para o relógio. Apontou. Falou se escondendo entre os próprios ombros.Aqui a questão é o rosto dele avermelhou. Na minha opinião poderia ser avermelhou-se ou se avermelhou. Ela jogou. A peça encontrou sua nova casa com um baque seco que estremeceu as peças ao lado. Sebastião baixou os olhos para o jogo, entendendo que aquela era a sua resposta. Além disso, escapava de olhar para ela e agora percebia que as peças dela sufocavam as suas e que logo, logo teria que assumir a defensiva. Mas ela também o respondeu com palavras. Imitando-a, ele manteve os olhos no jogo.Nesse trecho eu vi dois problemas. Achei que o verbo escapar não ficou muito bem empregado, talvez deixou o dia seria melhor ou algo parecido. Outra questão foi ela o respondeu, acredito que seria respondeu a ele ou respondeu-lhe. Termino aqui todos os meus comentários. Espero que minhas sugestões não tenham ofendido você. Reitero que gostei muito da sua história. Agradeço por ter dividido um pouco do seu universo literário comigo. Espero ler mas conta os seus nos próximos desafios.

  14. Mariana
    4 de novembro de 2025
    Avatar de Mariana

    Resolvi ler alguns contos da A e comecei por este. A trama é simples, uma partida de xadrez que ocorre durante uma Conferência Nacional de Matemática. Os personagens são desenvolvidos entre os lances, apesar de muita coisa ficar em subtexto. É um conto legal e que possui uma aura labiríntica e abstrata, me lembrou as ideias do Roberto Bolaño. Ah, a Popova é uma personagem que desperta muita simpatia. Parabéns pelo trabalho.

  15. okok7
    3 de novembro de 2025
    Avatar de okok7

    O conto é bem envolvente, me deixou curiosa por acompanhar até o final. Sinto que a riqueza de detalhes na descrição, tornou a obra facil de desenhar na cabeça.

  16. Kauana Kempner Diogo
    3 de novembro de 2025
    Avatar de Kauana Kempner Diogo

    O conto possui um ritmo pausado (justificado pela narrativa que foca em aprender a desacelerar), unindo uma linguagem literária refinada ao conteúdo intelectual de forma harmônica. Apresenta dois personagens de universos diferentes e em diferentes estágios da vida, prendando o leitor. As frases, apesar de longas, são bem ritmadas, o autor possui um vocabulário preciso e pleno domínio da língua portuguesa. Graças a leve ironia em algumas partes dos diálogos, os personagens ganham um lado mais “humano”.

  17. toniluismc
    3 de novembro de 2025
    Avatar de toniluismc

    Olá, Leandro!

    Seu texto foi a minha primeira leitura por causa da ordem alfabética, lamento dizer que não foi uma experiência positiva, e talvez seja o primeiro comentário que você vai receber e/ou o último que você vai ler, então independente de qual seja, espero que os demais sejam ou tenham sido mais favoráveis do que eu.

    Vou descrever tudo que não gostei em seu texto:

    1. Pacing e sensação de extensão desnecessária
      O texto repete o mesmo momento (noite / manhã / café) sem avanço significativo: vemos Valéria “ontem à noite”, “de manhã”, “no dia seguinte” — o efeito é de alongamento por alongamento. Resultado: o leitor espera uma retribuição emocional ou simbólica que não vem.
    2. Baixa/nenhuma consequência dramática
      A imagem mais rica — o número 10^120 — é tratada como curiosidade erudita, não como motor do enredo. Retirar essa referência não alteraria nada do arco. Se a peça simbólica não altera as escolhas ou o final, por que ocupar tanto espaço com ela?
    3. Personagem principal excessivamente passivo
      Sebastião é mais reação do que agente. Ele passa por transformações internas vagas (“um ânimo repentino”) mas não há ação concreta que comprove mudança. Isso frustra porque o conto promete uma virada (do fracasso à reconciliação consigo mesmo) e entrega apenas conversas gentis.
    4. Exposição e “info-dump” em diálogos
      Trechos como a explicação sobre o googol/Shannon e o casamento aparecem num tom muito didático. Em vez de parecerem parte natural da interação, soam como “explicação para o leitor”, o que baixa a verossimilhança.
    5. Desgaste do efeito cômico/irônico
      O conto pende para uma comédia de observações (um pouco Woody Allen), mas não pega o ritmo cômico — fica entre o leve e o melancólico, sem compromisso. Assim, não satisfaz nem como fábula triste nem como crônica espirituosa.
    6. Repetição de imagens e estados
      A arquitetura “imensa e dolorosa”, a posição das mãos da mulher, a postura analítica repetem-se quase palavra-por-palavra. Em vez de reforçar, dilui impacto.
    7. Final anticlimático
      O fecho — os dois voltam a jogar, ele aceita o tabuleiro, bebem e “não acionam o relógio” — é acolhedor, mas não compensa o tempo investido. Não há ganho narrativo claro: o leitor sai satisfeito, talvez, mas sem sensação de que algo essencial mudou.
    8. Tom por vezes vago / voz narrativa ambígua
      A narração oscila entre distância irônica e empatia íntima sem calibrar bem qual é o registro dominante. Isso cria incerteza sobre a intenção (satírico? melancólico? consolador?).

    E para não dizer que só vim com pedras, algumas coisas que dá para salvar aqui são:

    • Valéria é um personagem forte e imagens como as peças e o tabuleiro estão bem evocadas — há sensibilidade nos detalhes.
    • Alguns encontros de diálogo têm naturalidade e calor: as passagens sobre o tabuleiro antigo e o marido funcionam emocionalmente, quando não são demasiado explicativas.

    De todo modo, é um texto bem escrito, então meus parabéns e boa sorte no desafio!

  18. Roberto
    3 de novembro de 2025
    Avatar de Roberto

    Uma história de grande potencial emocional e simbólico, que se perde em transições abruptas e parágrafos densos. Vale a pena lapidar: suavizar a passagem do fiasco da palestra ao encontro com Valéria, e dar mais respiração entre as partidas — como quem pensa no lance do adversário. Assim, o ritmo acompanha a lição do xadrez: presença, não pressa

  19. Suzy D. Belchior Pianucci
    3 de novembro de 2025
    Avatar de Suzy D. Belchior Pianucci

    O Conto está bem escrito, um linguajar culto e bom de ler, é uma trama objetiva sem rodeios, o que prendeu minha atenção. Gostei da forma como Sebastião se aproxima de Valéria, uma mulher madura e interessante. O coração do texto foi o motivo da partida de xadrez ter sido interrompida, a traição do esposo de Valéria, como Sebastião sugere continuarem explorando as inúmeras possibilidades de jogo, o envolvimento dos personagens foi sutil e a possibilidade de surgir um relacionamento amoroso entre o casal foi a cereja do bolo. Gostei, pois prendeu minha atenção até o final.

  20. leila patricia de sousa rodrigues
    2 de novembro de 2025
    Avatar de Leila Patrícia

    Gostei da escrita — há segurança, ritmo e domínio da narrativa. A metáfora do xadrez é bonita e funciona, mas em alguns trechos senti que ela foi explicada demais, deixando pouco espaço para o leitor descobrir sozinho os significados. A personagem de Valéria é forte e cativante, enquanto Sebastião me pareceu um pouco previsível no arco. Ainda assim, o conto tem delicadeza e uma boa harmonia entre forma e conteúdo.

  21. Suzy Domingues Belchior Pianucci
    2 de novembro de 2025
    Avatar de Suzy Domingues Belchior Pianucci

    Ótimo de ler, criativo, gostei bastante.

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Publicado às 2 de novembro de 2025 por em Liga 2025 - 4A, Liga 2025 - Rodada 4 e marcado .