EntreContos

Detox Literário.

Não Há um Céu Para os Animais, Apenas Moscas Sobre a Carne (Mariana Carolo)

24/06/1812

Alcest: 

O Niémen não se perturbou com a longa procissão. Manteve-se gelado e Kovno, um lugar cinza e feio. Quadro que pouco nos afeta: a coluna francesa é imensa e, à frente de todos, lidera Napoleão Bonaparte.  

Estou aqui por amar a França e, também, por amar Antoine. Sinto-me feliz por acompanhá-lo; garbosamente ele marcha ao meu lado, ansioso pelas medalhas que irão enfeitar o seu peito no futuro. Não recordo como era viver sem sua companhia. O garoto com o qual experimentei minhas primeiras aventuras, o homem mais confiável que conheço.

Alguém puxa o coro de La Victoire est à Nous. Queria cantar também, mas nunca aprendi a fazer isso.

Antoine: 

Viajei para a Rússia com o intuito de garantir que a nossa família não caia ainda mais no abismo da desgraça. Agora estou aqui, caminhando para um canto que jamais conheceria por vontade própria. 

Enfim, a carreira de oficial é respeitada, veja, um deles até se tornou o imperador… Tenho de manter as boas relações, o uniforme ajeitado e o meu pescoço no lugar. Também conservar Alcest vivo, um dos poucos bens que o meu querido pai não apostou nas cartas ou afogou em garrafas de licor. Creio que o velho Saint-Camus iria adorar os russos, beberiam juntos até chafurdarem na lama. 

28/06/1812

Alcest:

As casas aqui são tão pequenas… Os russos deixaram em Vilna apenas mulheres desamparadas e um deserto de fome. As pontes foram quebradas, os armazéns incendiados, arrancaram as plantas e o pasto. Os que ficaram comemoram a nossa chegada e imploram por pão, um pedaço que seja. 

Por mais que procure, não vejo nativos da minha espécie.  Montamos acampamento em um vale. O silêncio imperou; só se escutavam assobios de canções de caserna. 

Também fico quieto e descanso perto de Antoine, que me alimenta e espanta os insetos ao nosso redor. Começamos a sussurrar, tal qual confidentes, e ele diz que devo me acalmar. Mas me sinto tranquilo, é Antoine que carrega uma sombra excitada no olhar.

Fala sobre canhões, o sangue que derramará, histórias que me deixam confuso. Diz que voltará vestindo uma pele de urso, para calar aqueles que o chamaram de covarde. Como posso lhe explicar que as nossas lembranças são diferentes? Não recordo dos dizeres dos outros, apenas dos nossos passeios e do quanto ele gostava de correr comigo pelos campos. 

Antoine:

Fui precavido e trouxe fumo de boa qualidade.

Admito que a destruição e a fuga dos cossacos, em certa medida, foram perturbadoras. Chegamos para lutar e ir embora rapidamente, mas como vencer sem a presença de um oponente? Assim, o meu cotidiano tem sido tratar de Alcest, lembrança do meu passado e garantia do futuro. Quando me tornar general, terei um haras repleto de garanhões.

08/07/1812

Alcest:

Ontem, Antoine passou o seu tempo livre reunido com os companheiros de farda. Fiquei à parte, repartindo com os meus uma pequena porção de centeio. Contudo, não deixei de cuidá-lo de longe, foi assim que acabei escutando que vamos para a Fortaleza de Drissa. Todos gritavam contra o tal Primeiro Exército do Oeste.

Durante o momento de entusiasmo, o tal Jean-Claude começou a dançar e cantar sozinho, tolices sobre as anáguas de uma prostituta. Não entendo o apreço que meu Antoine demonstra por tamanho imbecil… 

Na manhã de hoje, quando se levantou acampamento, a esperança era a de que Vilna fosse uma exceção. Porém, a paisagem segue arrasada. Para piorar, a comida e a água que temos nos manterão por pouco tempo. Sim, enchemos os cantis no Niémen, mas os riachos daqui são lamacentos, como se nossos inimigos tivessem feito questão de acabarem até com as águas. 

Neste instante enfrentamos o início do pôr do sol e Antoine ainda ri das piadas dos seus  novos camaradas.  Às vezes sinto falta de casa, como estarão as coisas por lá…

Antoine: 

Aproximei-me de rapazes com um bom círculo social. Principalmente de Jean Claude Von Liése, cuja família é dona de várias propriedades. Foi fácil conquistar a sua atenção, pois é um bufão que adora ser bajulado. Por ora, a minha pequena aventura está saindo melhor que o esperado. O mundo realmente é de quem pensa, mãe. E eu vou lhe devolver ele. 

18/07/1812

Alcest:

Eu nunca pensei no futuro, dizem que esse hábito é só dos humanos. Sempre trabalhei olhando para baixo do meu nariz e deu. Mas esse lugar é muito grande, coisas demais que te obrigam a levantar a vista e prestar atenção ao redor. E o que se vê não é bom…  

A tal Drissa fedia a fogo e a vazio. Nem a guerra encontramos lá dentro. Só sei que tenho medo. Quero viver bastante, para brincar com os filhos que Antoine terá um dia… Essas coisas que surgem na minha cabeça, por causa delas, tropeço em mim. 

A tropa está frustrada, o que parece ter piorado  com a notícia de que Minsk foi tomada pelo marechal Davout.  Aqui, Napoleão ainda não brandiu o seu sabre da vitória. 

Tento ser gentil, até porque Antoine me conseguiu um pouco de água limpa e de comida. Gosto desses momentos, quando ele senta ao meu lado para fumar.  A fumaça do cigarro dele é engraçada, como se fosse teias de aranha que desaparecem no ar. O entardecer me traz imagens estranhas, de que cor será o sangue russo? Lembro de ouvir sobre sangue francês correndo pelas ruas, vermelho e quente como vinho.

Antoine:

Maldito tédio, que fez eu queimar todo o meu tabaco! É só o que tenho para fazer, caminhar e fumar… Dias marchando para o nada, é como se os russos fossem feitos de neblina.

Como queria agora uma bela dama francesa, versada nas artes do amor. As mulheres daqui são bonitas, contudo, parecem que foram talhadas por um machado. E os rapazes, tirando Jean-Claude, pouco têm a me oferecer… 

A verdade é que queria cavalgar com Alcest sem rumo, mas preciso poupar o alimento dele. Os comboios de suprimentos desapareceram e não sei quando ocorrerá um novo abastecimento, nesta terra sem estradas. 

20/07/1812

Alcest:

Estou com fome.

Jean-Claude conseguiu, sabe-se lá como, uma garrafa de uma bebida daqui. Ele a está dividindo com Antoine, os dois só andam juntos agora. 

Tento alertar o meu amigo, viemos para cá para vencer e não para perder tempo com porres. Só que Antoine grita comigo, me ameaça. Por um momento, a raiva faz os meus olhos sangrarem. Sinto vontade de sair correndo, pisotear quem atravessar o meu caminho. Bufo e tento arrebentar as cordas que me prendem. Ingrato! A minha vontade é escapar para longe. 

Antoine: 

Usava calças curtas na primeira vez que vi o meu pai embriagado. Lembro que ele tomou copos e copos daquela garrafa, a qual me proibira de chegar perto. Tão laranja, aquela maçã boiando dentro…  Depois, quando os seus olhos ficaram pequenos e a sua língua começou a enrolar, ele achou justo estapear a mamãe até deixá-la desmaiada no chão. Justificou a brutalidade com a afirmação de que sua família lhe dava má sorte. 

Talvez seja verdade, eu carregue o azar por onde vá. Estamos aqui e nada aconteceu, quer derrota maior? Viu, Saint-Camus? Seu velhote desgraçado, posso ser um mau presságio, mas tenho carreira, não sou o que o senhor vivia me acusando. Olha o meu uniforme, tecido de qualidade. 

Merda, creio que estou bêbado. É o que eu sou, uma mistura de azar com o sangue ruim do meu pai? Cala a boca, cavalo! Bicho irritante, quer defender o velho também é? Te dou umas chicotadas para aprender…  Ai, melhor não vomitar nas minhas calças…

25/07/1812

Alcest: 

Vários animais estão morrendo. Não aguentam mais e os olhos mínguam, as pernas tremem e o corpo para. No fim, nem um buraco ganham, ficam onde caem, esquecidos na beira do caminho… Se fosse comigo, Antoine cavaria uma cova, até rezaria como faz em ocasiões importantes. Não deixaria as moscas me cobrirem… 

Hoje, dois nativos vieram pedir para se juntarem a nós. Possuíam barbas compridas e vestiam preto, vão ser tradutores de russo e “iliche”, não lembro direito da palavra… Admito que me decepcionei, pois, além de estranhos, pareciam fracos e evitarem briga à qualquer custo. Soldados não deveriam ser valentes?

Eles contaram sobre a atual posição dos russos, para nossa sorte, em uma cidade bem próxima. Finalmente ocorrerá uma batalha! Contra gente viva, ao invés de tocos queimados.

Antoine: 

Acredito que terei de alimentar Alcest com centeio verde cedo ou tarde. Está cada vez mais difícil conseguir qualquer coisa e Jean Claude anda afastado. 

Preocupo-me, não quero que nada aconteça com o cavalo. Quem vai carregar as minhas coisas? Como provarei que tenho posses? E, enfim… Por vezes, tenho a sensação de que este bicho é o único ser no mundo que ainda guarda um pouco de afeto por mim. 

27/07/1812:

Antoine:

Eu sou corajoso, eu sou corajoso, eu sou corajoso, eu sou corajoso, eu sou corajoso… Pai nosso, que estais no céu, santificado seja o vosso nome, venha nós o vosso reino, assim na terra como nos céus, o pão nosso de cada dia nos dai hoje, perdoai as nossas ofensas, assim como perdoamos a quem nos têm ofendido, e não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal. Amém…

Merda, eu sou corajoso, eu sou corajoso, eu sou corajoso… Tenho que tomar vergonha na cara, vou ser general, não sou o menininho da mamãe… Eu sou corajoso…

A urina escorre pelas pernas de Antoine e molha Alcest.  

28/07/1812    

Alcest:

Finalmente ficamos cara a cara com os russos e, quando me dei conta, não sabia para onde correr. Nada prepara para o barulho de um canhão, som que explode sem avisar. Tonteei, Antoine que me guiou para as direções certas.

O mais estranho foi que, assim como tudo era ruído, houve um silêncio repentino. Os soldados deram as costas, já que Napoleão mandou aguardar: a luta continuaria de manhã. Ao contrário de mim, o sol pareceu não se surpreender com essa pausa. 

Naquela noite, Antoine não acendeu o seu cigarro, nem percebeu que eu estava ali. Ficou sentado do lado de sua barraca, olhando para o nada. Acho que tremia. O seu humor piorou de verdade quando amanheceu. 

Os cossacos tinham fugido, deixando para trás só algumas cinzas de fogueiras. Tantas mortes em uma batalha sem final… Aqueles adultos choraram como meninos pelo coronel Liédot. Queria ter me importado, mas ele não pranteou pelos meus amigos. Por que deveria lamentar a morte de alguém que só sabia gritar e chicotear animais?

10/08/1812

Alcest:

Jean Claude faleceu por disenteria e foi enterrado com os outros soldados em um grande buraco sem nome.

As lágrimas se recusam a cair dos olhos de Antoine, o outro não tinha virado o seu grande amigo? É difícil se importar, com o cansaço que não abandona o corpo. Quando passa-se a comer pouco, a fome atucana como sarna. Não para de coçar nunca… 

O que acontece quando morremos, existe um céu para imbecis? Tomara que exista um céu para imbecis e outro para os cavalos. 

Antoine:

Eu talvez tenha me impressionado com a nossa primeira batalha, mas já recuperei o meu juízo. Sou homem, foi o primeiro dos conflitos. Smolensk me dará uma medalha por bravura… 

Jean Claude morreu. Triste, porém, foi uma consequência da empreitada que aceitamos. Quando voltar para a França darei os pêsames para seus pais. Quem sabe, ganhar uma função, administrar algumas posses dos Liéses…  

Tenho que lembrar de agradar Pierre por um saco de trigo. Alcest vale mais do que vários por aqui.

19/08/1812

Alcest:

É o primeiro amanhecer depois de nossa entrada em Smolensk. Ando por ruas queimadas, repletas de tijolos que um dia serviram para algo. Evito passar por cima dos cadáveres, é uma tarefa difícil por serem muitos. Meus ouvidos ainda zumbem, por causa do barulho dos muros caindo. 

Sou um dos poucos que sobraram de pé, bichos e homens demais foram executados. Ainda acredito que Antoine me protegerá, estou aqui é por seus cuidados. Tenho medo dos outros casacos azuis, me olham como se eu fosse comida. Mais do que dos russos, até porque eles fugiram de novo. Conheci poucos cossacos e, os que encontrei, pareciam mais inofensivos do que nós. Veja o que fizemos aqui…  

Antoine:

Confesso que tive medo de não aguentar a tomada da cidade. Entretanto, assim que foi transmitida a ordem de agir, a minha alma se descolou do meu corpo. Eu era apenas uma casca, obedecendo comandos e matando gente. 

Os russos bateram em retirada, algo que nem me importo mais. A questão é que há cadáveres no meio do fogo e o cheiro, deus me perdoe, me dá fome. A minha barriga ronca em pecado. Talvez eu esteja virando selvagem também. 

28/08/1812

Alcest: 

Andamos em direção à tal Moscou. Falam que é tão bela quanto Paris, o que acho difícil. Eu fui somente uma vez lá e nunca me esqueci da quantidade de gente e das luzes. Não sei o que tem nesse lugar, para ser tão importante. Moscou, Moscou, Moscou… Estou cansado, minhas patas não aguentam mais o meu peso e nem carregar Antoine. 

Chagas crescem nas minhas costas e a sela machuca cada vez mais. Mesmo que Antoine espante os bichos que voam ao redor, estar machucado é horrível. Há lama por todos os lados, é difícil não afundar nela. A terra é gelada, alivia as feridas. Talvez eu não vá, fique por aqui. Antoine, me perdoe, não quero conhecer Moscou. 

Antoine: 

Resolvi manter uma adaga no bolso. O primeiro que tentar atacar Alcest, não importa de onde seja, a última coisa que vai ver é o próprio sangue escorrendo pelo pescoço. 

Eu sou um idiota. Mamãe ainda possui acesso aos bailes, os meus dotes em valsa fisgariam alguém…  Viver em Paris, tomando chás e enterrado no colo cálido de uma mulher que me amaria. E na posse de um belo dote, obviamente. 

Contudo, eu precisava provar para o fantasma do meu pai que conseguia ser homem, tão viril quanto ele foi. Acabei aqui, neste inferno com demônios fantasmas de língua incompreensível. Será que, quando retornar, eu ainda vou valer alguma coisa?

O mais insultante é que, no final, a glória toda cairá para esse baixote imperador. Meu nome é que deveria ser gravado na história. Antoine Saint-Camus, que limpa um cavalo velho. Saint-Camus, o falido. O assassino, o interesseiro, ocasional praticante de pederastia… Sim, eu seria um excelente imperador. Agora, o imperador aqui terá de se curvar e resgatar da lama a última coisa que lhe resta. 

08/09/1812

Alcest:

Tudo dói, eu sou só um cavalo que viu coisas demais. Não dá mais, Antoine. Vamos correr pelo campo mais uma vez?

Alcest caí e não tenta levantar. Treme algumas vezes as orelhas e fecha os olhos.

Antoine: 

Estou no inferno e o sexto círculo é Borodino. Ontem, sem hesitar, degolei uma criança. O menino era tão magro, parecia feito de gravetos. Foi rápido o instante que ele deixou de existir diante dos meus olhos.  

Alcest deitou, o preguiçoso parou para descansar. Sim,  tenho a consciência de que estou me enganando. Mas só mais uma vez, vou dizer que ele está descansando. Alcest e o menino não existem mais. Eu sou um homem sem posses. 

A fome pesa na garganta e agora o meu cavalo é só um amontoado de carne. Não posso deixar ele aqui, largado. Me carregou e agora vai me saciar, ele iria querer isso.

Antoine pega a sua adaga, ainda suja. Limpa ela no casaco e crava acima de uma pata do finado Alcest. Tira um naco de carne e leva até a boca, mastigando o mesmo cru. Moscas começam a pousar sobre a carne aberta do animal.

De fome não vou morrer, obrigado Alcest.

Sobre Fabio Baptista

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20 comentários em “Não Há um Céu Para os Animais, Apenas Moscas Sobre a Carne (Mariana Carolo)

  1. André Lima
    13 de setembro de 2025
    Avatar de André Lima

    Cara, que conto bom! Extremamente original. Eu gostei muito.

    A perspectiva dupla e inovadora é, sem dúvidas, a grande força do conto. Será que você se inspirou na brincadeira “qual a cor do cavalo branco de Napoleão?” para ter essa ideia?

    A perspectiva do cavalo é particularmente genial e tocante. Alcest oferece um olhar ingênuo, sensorial e, por vezes, profundamente filosófico sobre a guerra e a natureza humana. Suas observações sobre a fome, o cansaço dos animais, a brutalidade dos homens e sua própria mortalidade são elementos que dão profundidade e uma dose de humanidade paradoxal a um animal. Achei muito bom mesmo!

    Antoine, por outro lado, revela a deterioração psicológica e moral que a guerra impõe. Sua jornada de um jovem ambicioso e preocupado com a reputação de sua família a um homem desiludido, embriagado, que mata uma criança sem hesitar e, finalmente, canibaliza seu próprio cavalo, é um arco de personagem brutalmente realista e impactante. Seus monólogos internos sobre o pai, a mãe, a ambição e o fracasso mostram a complexidade de sua mente. Me lembrou bastante os monólogos de Dostoiévski.

    A escrita é direta demais (Queria algo menos direto assim) e lembra um pouco o estilo de Hemingway. Embora direta, é eficaz. As construções imagéticas são ótimas, criativas…

    Em alguns momentos, especialmente durante as longas marchas e o tédio que Antoine menciona, a narrativa pode ter uma ligeira desaceleração. Proposital para sentirmos o tédio? Talvez. A ambientação hsitórica é bem feita, mas não é o foco da história. E que bom. A descrição da Campanha da Rússia em 1812 é vívida e opressora. A narrativa constrói uma atmosfera de desolação, fome e desespero. As paisagens arrasadas, as vilas vazias… Tudo isso é mais importante.

    Bom, tenho pouco a falar porque realmente gostei do conto. É o meu favorito desse certame.

    Parabéns pelo trabalho e pela nota máxima!

  2. Bia Machado
    13 de setembro de 2025
    Avatar de Bia Machado

    Me pegou desde o início? Não. O comecinho para mim foi bem truncado. E também pelo que o pessoal falou no grupo e afinal, não é que deixei para o final? Agora é secar as lágrimas pra comentar… “I’m devastated”… =,(

    Desenvolveu bem o enredo? Sim, em formato de diário, misturado com narrador observador… depois dê uma olhada em alguns acentos que sobraram e lá no final, substitua aquele “o mesmo” que vem antes de “cru”.

    O desfecho foi adequado? Infelizmente, sim. Mas torci até o fim, por mais que o título indicasse o contrário e por tudo que o pessoal falou no WhatsApp… 

    E o conjunto da obra? Conto maravilhoso. Faltam palavras e sobram lágrimas… 

    Deu match? Sim… Para sempre Alcest no coração… 😭

  3. Alexandre Costa Moraes
    13 de setembro de 2025
    Avatar de Alexandre Costa Moraes

    Olá, Entrecontista.

    Antes de tudo, adorei “Não há um céu para os animais, apenas moscas sobre a carne”. Apontei como “melhor conto” na ficha de votação (e foi o único que dei nota máxima). Parabéns, Alcest me conquistou!

    Sobre a avaliação, a história parte da esperança e cai na ruína, vista pelos olhos leais de um cavalo (essa escolha narrativa foi genial). A tensão sobe a cada trecho, do orgulho de marcha ao frio, à fome, ao desespero… A guerra aparece sem discurso, só em imagem, cheiro, dor e silêncio. A leitura aperta o peito.

    Na técnica, o texto mostra em vez de explicar. A cena acontece na pele, no ouvido, no estômago… O subtexto está no contraste entre lealdade e brutalidade, entre afeto e sobrevivência.

    No impacto, é implacável. As imagens ficam gravadas e o fim ressoa por muito tempo. Brutal, visceral e necessário. Altíssima literatura (tudo muito bem amarrado e narrado)!

    Parabéns, pra mim esse foi o melhor conto do desafio, incluindo as duas séries.

    Boa sorte, estou torcendo por você.

  4. Thales Soares
    13 de setembro de 2025
    Avatar de Thales Soares

    Esse conto está muitíssimo bem escrito, e com toda certeza ficará no pódio da série B. Achei bem inventivo a forma como a história se desenrola, alternando a narração dos capítulos entre o soldado e o cavalo. Mas a história em si, não me atraiu muito.

    Tudo começa em junho de 1812, quando Napoleão invade a Rússia. Alcest é o cavalo e Antoine é o dono dele, e eles são os protagonistas. O cavalo adora seu dono, e o soldado quer restaurar a honra e a fortuna de sua familia arruinada pelo pai pinguço. Eles marcham e encontram terras devastadas, com os russos queimando tudo antes de recuar.

    A marcha continua, e eles não encontrar exército para combater. A estratégia de foder a terra e deixar os exércitos de Napoleão sem nada começa a surtir efeito, pois logo vem a fome, a sede, e doenças. O soldado que no começo estava confiante, vai broxando pouco a pouco, desesperado e tendo um choque de realidade. O cavalo, por sua vez, relata com tristeza a morte dos outros animais, a fome e a mudança no comportamento de seu dono, que começa a beber e maltratá-lo.

    A guerra real vem em Smolensk e Borodino, e isso destroi os últimos resquícios de humanidade do protagonista. Ele participa dos saques e massacres, e até mata criança! O cavalo começa a ficar exausto, e com feridas abertas. Ele não consegue mais continuar, então cai no chão e morre. O solado, completamente desumanizado pela fome e experiência da guerra, encara o corpo do valo, que era o único amigo que lhe restava. Então ele decide comê-lo.

    Com isso, o título do conto se concretiza, com moscas que começam a pousar sobre a carne abandonada do cavalo, enquanto o soldado, agora um homem sem posses, se alimenta dele para não morrer de fome.

    A construção do enredo foi brilhante! Mas achei um pouco cansativo, e a história, como eu disse antes, não me chamou a atenção, por uma mera questão de gosto pessoal mesmo. Mas achei muito criativo a forma como foi apresentada. Boa sorte no desafio!

  5. Jorge Santos
    11 de setembro de 2025
    Avatar de Jorge Santos

    Olá. Li este seu relato duro de uma reconstituição histórica de um período ainda mais duro. Gostei da organização por data e da separação dos diversos narradores, em especial do cavalo. A ligação ao tema da Alta Literatura está bem patente, se bem que de uma forma discreta. Mesmo assim, gostei da ideia e da forma crua como a narrativa evolui, que permite uma forte ligação aos personagens. O desfecho trágico aumenta o realismo. Qualquer outro desfecho, num cenário de luta pela vida, prejudicaria o texto.

  6. toniluismc
    10 de setembro de 2025
    Avatar de toniluismc

    A autora ou autor demonstra ambição formal, o que já o distingue da maioria dos textos desta rodada. A alternância entre dois narradores é bem executada — ainda que um deles seja um cavalo — e há uma tentativa legítima de recriar um cenário histórico, com vocabulário arcaico e termos militares apropriados ao contexto napoleônico.

    No entanto:

    • Há erros básicos de ortografia e gramática. A oração do Pai-Nosso truncada, a regência mal resolvida (“evitarem briga à qualquer custo”) e deslizes pontuais (“cai” no lugar de “caiu”, “Alcest caí”) comprometem a ilusão literária que o texto tenta construir.
    • O esforço de rebuscamento resulta, em muitos momentos, em trechos confusos, redundantes ou pretensiosos — como se o autor estivesse mais interessado em parecer erudito do que em comunicar de fato.
    • Os tempos verbais são, por vezes, usados com insegurança (especialmente nas entradas de diário), e há uma oscilação entre um tom elevado e registros contemporâneos (“Merda, creio que estou bêbado”; “Cala a boca, cavalo!”), que fragiliza a coerência estilística.
    • A revisão tipográfica é claramente inexistente. Há repetições, espaçamentos errados, palavras soltas e trechos que parecem colados com pressa.

    A criatividade é o ponto forte: a revelação de que Alcest é um cavalo funciona muito bem e oferece uma camada interpretativa interessante. A forma como isso é sutilmente construído ao longo do texto — com pequenos indícios em meio à linguagem sentimental e quase humana — mostra um domínio criativo de ponto de vista. Não é apenas um truque barato; é um dispositivo narrativo bem usado para gerar surpresa e desconforto.

    A ambientação também merece elogios:

    • Há contextualização histórica, com menções a locais, estratégias e personagens reais da campanha napoleônica na Rússia.
    • A inclusão de detalhes culturais e ambientais reforça a atmosfera de desolação e desespero.

    Por outro lado, há problemas:

    • Alcest é, em essência, um cavalo humanizado, mas seu nível de consciência é por vezes incoerente — ele filosofa sobre o futuro, comenta hierarquias militares e reflete sobre sangue e morte com uma linguagem que ultrapassa o que seria verossímil mesmo dentro da alegoria. Isso quebra o pacto ficcional.
    • A dualidade entre narrador homem e narrador animal abre espaço para profundidade simbólica, mas o texto raramente explora isso além do sentimentalismo. Antoine é um personagem interessante, mas permanece raso — uma espécie de Hamlet vaidoso e bêbado, mas sem o dilema existencial trabalhado.

    O final tem força, sem dúvida. A revelação do cavalo morto sendo devorado pelo próprio dono, após toda a construção emocional entre os dois, gera desconforto, repulsa e — para alguns leitores — compaixão. Mas o impacto é minado por:

    • Excesso de entradas narrativas. O texto é longo, arrastado, e muitas partes poderiam ser condensadas para preservar a tensão. O autor parece querer fazer um romance em miniatura, mas a história sofre com a extensão.
    • A repetição de situações (fome, tédio, marcha, desolação) acaba desgastando o efeito pretendido.
    • Falta profundidade filosófica ou crítica real. A guerra é retratada como um inferno, sim, mas isso já é sabido. Não há reflexão sobre estrutura de poder, política ou natureza humana além do já batido “homem vira bicho”. O conto poderia ser um tour de force sobre decadência moral e afeto obliterado pela guerra — mas se limita ao sentimentalismo.

    Está nítido que a criatividade é o seu ponto mais forte, então é só questão de você aprimorar a técnica para conseguir ganhar tudo por aqui e onde quiser, parabéns!!!

  7. danielreis1973
    7 de setembro de 2025
    Avatar de danielreis1973

    Não Há um Céu Para os Animais, Apenas Moscas Sobre a Carne (Barclay de Tolly)

    Prezado autor(a):

    Achei muito interessante a construção do seu conto como um diário de guerra em forma de cartas datadas, e principalmente, a alternância de vozes entre Antoine, o jovem oficial francês, e Alcest, seu cavalo. Essa alternância entre eles gera um efeito de humanização do animal, contrastando com a animalização do humano ao longo da guerra, conforme se vê na degradação moral e psicológica de Antoine. Como ponto a melhorar, acho somente que em alguns pontos o texto se repete na descrição da miséria da guerra (apesar da guerra ser, em si, bastante monótona e repetitiva);  e, principalmente, acho que a cena do canibalismo, apesar de ser o ponto extremo da animalidade, talvez pudesse ser mais ambígua, mais indireta, aumentando o suspense com a perspectiva do que poderia também acontecer com Alcest. Parabéns pela sua narrativa forte e bem conduzida, e especialmente pelo uso do contraponto entre o ponto de vista dos dois narradores. Sucesso neste desafio!

  8. claudiaangst
    5 de setembro de 2025
    Avatar de claudiaangst

    Como vai, autor(a)? Pleno(a) na criação literária?

    O título já traz um micro enredo e uma reflexão sobre a narrativa que será desenvolvida.

    Alta literatura, sem dúvida. Inspirada em Guerra e Paz? Imagino que sim, apesar de não ter lido essa obra clássica. Trama construída com muita habilidade, sem resvalar para uma narrativa cansativa.

    Intercalar a narrativa de Antoine e de Alcest foi uma ideia arriscada, mas muito bem executada. Unir os dois relatos trouxe diferentes perspectivas: a humana e a animal.  A humanidade é posta à prova em meio a um cenário de violência e fome.

    Linguagem clara, boas construções frasais e de imagens. Aponto apenas alguns detalhes para uma revisão posterior:

    • à qualquer custo > a qualquer custo
    • Tenho que lembrar de agradar > Tenho que me lembrar de agradar
    • Não posso deixar ele aqui > Não posso deixá-lo aqui

    O desfecho é triste, cruel, mas muito bem elaborado.

    Conto excelente, fadado a uma boa classificação.

    Parabéns pela participação e boa sorte!

  9. Gustavo Araujo
    5 de setembro de 2025
    Avatar de Gustavo Araujo

    Gosto de contos que exploram fatos históricos e mais ainda dos que buscam inspiração em obras literárias consagradas. A princípio é o que temos aqui, com a invasão napoleônica da Rússia sob a luz de Guerra e Paz do Tolstói. Pelos olhos de Antoine e seu cavalo Alcest acompanhamos os momentos que dariam azo à máxima do imperador francês, de que “os exércitos marcham sobre seus estômagos”. O tédio de uma campanha sem combate é logo substituído pelo desespero da falta de comida. Luta-se não contra soldados, mas contra o inverno, contra a fome. Isso é o que permeia as intervenções dos narradores.

    Achei ousada a inserção de um cavalo como protagonista, aliás. Fugiu do lugar comum e da saída fácil do depoimento de outro militar. Também achei bem escrito o conto no geral, com ótimo emprego de palavras e metáforas bem inspiradas, como a comparação entre a neblina e os exércitos inimigos.

    Percebi que a intenção do autor foi contar a guerra e suas agruras por pontos de vista diferentes, no que tem sucesso, já que é possível perceber o lamaçal em que o exército francês se enfia parágrafo após parágrafo – e olha que o conto nem fala do cerco à capital da Rússia.

    Contudo, o texto me pareceu um tanto arrastado na maior parte do tempo e as batalhas, mesmo as de natureza mental, um tanto distantes, assemelhando-se a relatos. Do mesmo modo, o pingue-pongue entre Ancest e Antoine, por previsível, acabou tornando a leitura meio burocrática.

    Ainda assim, consegui manter o interesse, claro, até por ser entusiasta do tema, mas não consegui me afeiçoar a nenhum dos protagonistas. Talvez porque os fatos que ambos narram não tenham profundidade e se sucedam rapidamente.

    Bem, Tolstói levou duas mil páginas para contar essa história, que acabou se tornando sua obra máxima. Seria esperar demais que em três mil palavras, você, corajoso(a) autor(a) conseguisse efeito semelhante, ainda que guardadas as proporções.

    De qualquer maneira, é um bom conto. Apesar das observações que fiz aqui, digo que gostei. Parabéns e boa sorte no desafio.

  10. Pedro Paulo
    31 de agosto de 2025
    Avatar de Pedro Paulo

    Recentemente eu me familiarizei com o poema “Boots”, de Rudyard Kipling. Tornou-se algo viral por ter sido incluída uma declamação desse texto no trailer do último filme de uma saga. É um texto fortíssimo, em sua constituição e entonação, acerca da insanidade sentida na guerra. Quando situei o texto na malograda campanha da Rússia empreendida por Bonaparte e seu Grande Exército, o maior da Europa, fui subitamente atingido pela direção do texto: é narrado por um cavaleiro e seu cavalo. Em uma campanha cujo fracasso ficou conhecido por uma consequência bem específica. Assim, o desfecho ficou revelado, mas é a construção genial o que alavanca esse conto. A narração dupla, constituída no reflexo dos dois personagens um no outro, e no ambiente visto por eles e neles, semeia uma tensão que cresce conforme a situação se deteriora e os dois personagens percebem a altura de suas desilusões e a profundidade da cova que estão cavando para si mesmos. O desfecho é silencioso, mas catártico. Mais um excelente conto!

    “Boots-boots-boots-boots-boots moving up and down again. There’s no discharge in the war!”

    Cordiais abraços, boa sorte neste desafio!

  11. Priscila Pereira
    26 de agosto de 2025
    Avatar de Priscila Pereira

    Olá, Barclay! Tudo bem?

    Seu conto é bem interessante, levanta umas questões filosóficas bem legais e tem uma inovação em mostrar não só o diário do soldado, mas de seu cavalo também (que foi a melhor parte). A diferença de pontos de vista fica clara, e nos leva a perceber o que sempre soubemos, que os animais são infinitamente mais puros do que nós e que eles deveriam ter também um céu que os espere. O final foi difícil de engolir, literalmente, né…

    A escrita está ótima, firme, direta, clara e mesmo assim, algumas vezes poética. É um ótimo conto! Parabéns e boa sorte no desafio!

    Até mais!

  12. Fabio Baptista
    24 de agosto de 2025
    Avatar de Fabio Baptista

    Reflexões de Alcest e Antoine sobre os eventos da guerra.

    Para mim esse é disparadamente o melhor conto do grupo e certamente um dos melhores do desafio no geral.
    Fui absorvido de imediato pelo clima de Guerra e Paz e me satisfazendo com cada nuance do conto que era desvendada pouco a pouco. A princípio parecem cartas, mas são reflexões. Também até certo ponto parece um soldado apaixonado e com ciúmes do outro, mas então percebemos que é o pobre cavalo.

    O contraste do caráter de cavalo e cavaleiro é muito bem explorado.

    Meu preferido, sem dúvidas.

  13. Amanda Gomez
    22 de agosto de 2025
    Avatar de Amanda Gomez

    Oi, bem?

    Um conto muito forte, carregado de simbolismo e de atmosfera histórica. Quem nunca pensou no destino cruel dos cavalos nas guerras de antigamente? O título já sugere o inevitável final triste do animal.

    Durante a leitura, eu mesmo fiquei apreensiva, temendo por ele e imaginando de que forma iria morrer. Mas isso não quebra o clima do texto: pelo contrário, você se senta na cadeira e acompanha tudo com bastante atenção. Dividir a narrativa em duas perspectivas foi uma escolha inteligente, de um lado, temos a visão de um companheiro de guerra fiel e afetuoso; do outro, a de um homem enviado à batalha para provar o seu valor e o de sua família.

    O clima de tensão e as cenas fragmentadas, quase como peças de um quebra-cabeça, reforçam a vulnerabilidade dos personagens e a inevitável separação que os une.

    “Apelar” para um animal indefeso sempre mexe com o leitor, e não é diferente aqui. Mas o conto acrescenta uma camada generosa por cima desse recurso, o que faz a narrativa funcionar bem do início ao fim.

    Parabéns pelo trabalho.

    Boa sorte no desafio!

  14. Léo Augusto Tarilonte Júnior
    22 de agosto de 2025
    Avatar de Léo Augusto Tarilonte Júnior

    Tema Alta literatura.Enquadrei seu conto nessa categoria porque ele fala sobre a guerra.Acho estranhas narrativas estruturadas como relatos. Mais ainda relato duplo, e complica um deles ser de um animal que apresenta pensamento e linguagem humanas. Não apareceu nenhum relincho nem resfolego.

  15. Givago Domingues Thimoti
    20 de agosto de 2025
    Avatar de Givago Domingues Thimoti

    Não Há um Céu Para os Animais, Apenas Moscas Sobre a Carne

    Olá, autor(a)! Espero que esteja bem no momento da leitura! Parabéns por participar do Desafio EntreContos! Sempre um prazer ler e comentar o trabalho dos colegas. Espero sinceramente que, ao final da leitura, você sinta que esse comentário tenha contribuído para você de alguma forma! Caso contrário, não leve para o pessoal ou crie ressentimentos. Lembre-se que escrevi com o maior cuidado que pude.

    Sobre o tema, em relação aos demais desafios, optei por mudar alguns critérios na avaliação. Diminui para 4 critérios, dando uma nota maior para adequação ao tema (está valendo 2). A lógica será: 0 para contos sem tema, 1 para contos que tangenciaram o tema e 2 para contos que o tema aparece claro e cristalino.

    Além disso, tomando as definições sugeridas pela Moderação, eu considerei sabrinesco como aquele conto que, por mais que tenha sexo nele (embora não seja obrigatório que tenha), você mostraria tranquilamente para uma pessoa da sua família que é bem careta. Já um conto de alta literatura eu interpreto como um conto mais rebuscado, que instiga o leitor tanto nas ideias (fazendo-o pesquisar sobre algum elemento do texto)  quanto na técnica empregada (podendo ser um ou outro).

    Resumo da história

    O conto “Não há um Céu para os Animais, apenas Moscas sobre a Carne” nos apresenta as histórias do cavalo Arcest e seu dono Antoine, que atravessam a Europa na campanha francesa em direção à Rússia, no ano de 1812. É um conto sobre a natureza humana e sua ganância, diante dos olhos do cavalo.

    Aspectos positivos e negativos

    Aspectos positivos: autêntica alta literatura. Histórico, filosófico, bem escrito e sensível. Muito bem feito.
    Aspectos negativos: –

    Avaliação por critérios (pontuação total: 5,0)
    Adequação ao tema (máx. 2,0):
    O conto aborda de forma clara, criativa e relevante o(s) tema(s) proposto(s)? Há relação explícita ou simbólica (mas detectável) com o tema indicado? Nota: 2

    Alta literatura na cabeça!

    Vamos para o checklist? 

    Complexidade:✅As obras tendem a abordar temas filosóficos, psicológicos, sociológicos e históricos com profundidade.

    Originalidade:✅Busca-se uma abordagem inovadora, evitando clichês e lugares-comuns.

    Estilo:✅A linguagem é frequentemente elaborada, exigindo do leitor um vocabulário e conhecimento mais amplo.

    Reflexão:✅
    O autor não prioriza apenas o entretenimento, mas também busca provocar a reflexão e o questionamento no leitor.

    Interdisciplinaridade:✅Muitas vezes, a alta literatura requer conhecimentos em áreas além da escrita, como história, filosofia, sociologia, entre outras.

    Parabéns!
    Correção gramatical (máx. 1,0): O texto segue a norma culta da língua portuguesa? Se sim, há erros gramaticais, ortográficos ou de pontuação que prejudiquem a leitura? Se optou pelo coloquialismo ou regionalismo, deu para sentir que foi uma boa imitação? Soou forçado? Nota: 1

    Texto muito bem revisado! Não percebi qualquer erro gramatical.
    Construção narrativa (máx. 1,0): A estrutura do conto é bem organizada (início, desenvolvimento, clímax e desfecho)? Estica demais, apertou demais? Caso tenha optado por um conto não linear, deu para entender/acompanhar a história? O estilo de escrita é adequado? A técnica chama a atenção? Há fluidez, ritmo e coesão textual? Nota: 0,8

    Técnica muito boa! Texto bem escrito. Poucas repetições gramaticais.

    Apenas deduzi décimos porque eu senti que a divisão em capítulos deu uma fragmentada indesejável na leitura, especialmente num ponto em que é apenas um parágrafo referente ao pensamento de um ou outro personagem. O mesmo ocorre no final, quando Alcest e Antoine se juntam.

    Impacto pessoal (máx. 1,0): O conto provoca reflexão, emoção ou surpresa? Causa uma impressão duradoura ou significativa? Nota: 1

    Esse é um baita conto! Baita mesmo! Um autêntico conto de alta literatura, com uma leve toada de ensaio antropológico. 

    Gostei bastante dessa história! É um conto muito interessante, que junta duas visões de uma mesma história; o cavalo e o soldado que o monta, na fatídica campanha de Napoleão Bonaparte em direção à Rússia, no seu ambicioso plano de dominar a Europa. Ao passo que o cavalo tem uma visão mais positiva do mundo, o soldado Antoine se mostra como um homem ganancioso, que enxerga a guerra como uma forma de se autoafirmar perante sua família e outras pessoas. 

    É nessa toada que o conto segue; Arcest acreditando que haverá um mundo pós-guerra, onde ele e seu dono irão cortar os campos franceses, ao passo que Antoine altera entre a esperança desesperada de sair vivo da guerra (vivo, leia-se, entrar de fato no conflito, matar “cossacos” e voltar triunfante para a França) como outros que foram tombando pelo caminho,  e o temor de cair por ali.

    Bem escrito, histórico e brutal. Arcest cai, servindo de alimento para Antoine.

    Parabéns pelo conto!
    Nota final (máx. 5,0): 4,8

  16. cyro eduardo fernandes
    18 de agosto de 2025
    Avatar de cyro eduardo fernandes

    Conto dramático, criativo e de boa técnica. Boa sorte no desafio.

  17. Luis Guilherme Banzi Florido
    13 de agosto de 2025
    Avatar de Luis Guilherme Banzi Florido

    Bom dia! Tudo bem? Tô lendo os contos na ordem de postagem do site, sem ter conferido quais são minhas leituras obrigatórias. Bom, vamos lá pro seu conto.

    Um conto cru e brutal sobre o horror da guerra. Eu, que amo animais e sou vegetariano até, sofri o tempo todo imaginando aquele pobre cavalo que carregou o amado dono até a morte achando que tambem era amado, só pra no final ser comido sem nenhum pudor. Era só um objeto, não era um ser, nao era amado. Isso é bastante triste, e infelizmente é a realidade para a maioria dos animais no planeta terra atualmente, que servem aos humanos de algum modo. O titulo, portanto, é muito adequado ao traduzir de forma direta, sem rodeios (assim como é o proprio conto), a jornada que acompanharíamos do cavalo até sua morte. Por outro lado, o título tambem avisa que o cavalo morreria, o que tira um pouquinho o impacto do final, acho.

    Esse conto é muito triste. É um conto sobre o cavalo, e o homem está ali apenas para tornar o sofrimento e as esperanças do cavalo ainda mais tristes e vazias. Não há salvação para o animal aqui, pois, se internamente ele acredita que está lutando e vivendo junto ao dono, nós, testemunhando os pensamentos do homem percebemos que ele está apenas sendo usado, e isso cria uma sensação de apatia e melancolia no leitor.

    Isso tudo torna esse um conto muito bom. Denso, pesado, cru, impiedoso. Te faz torcer pelo cavalo já sabendo seu fim, te faz antipatizar por todos os humanos à volta.

    Existem alguns erros de revisão, acho que voce teve pouco tempo pra finalizar, provavelmente.

    Otimo trabalho, parabens!

  18. Kelly Hatanaka
    11 de agosto de 2025
    Avatar de Kelly Hatanaka

    Olá!

    Neste desafio, vou avaliar os contos da seguinte forma: Tema vai valer 2 pontos, Forma, 2 pontos, Enredo, 3 e Impacto também 3. Como o tema Sabrinesco parece ter sido especialmente desafiador, vou dar um ponto extra para Sabrinescos bem executados. É pessoal? É. Mas os critérios de avaliação são pessoais mesmo, então paciência.

    Tema

    Uma alta literatura clássica, com toques de Guerra e Paz e um personagem atormentado pelo seu passado e outro que é a própria pureza

    Forma

    Gostei muito da ideia de mostrar, alternadamente, o ponto de vista de Alcest e de Antoine. Esta escolha mostra como os acontecimentos afetam os personagens diferentemente e mostra visões diferentes dos horrores da guerra.

    A fome e o medo afetam os dois da mesma maneira. Porém, enquanto Alcest observa as coisas como são, de forma realista, pensa no passado com doçura e no futuro com esperança, Antoine se ressente pelo passado e se dedica a criar relacionamentos que o beneficiem futuramente, de forma calculista e interesseira.

    O ato final, de comer o cavalo que o considerava amigo, que confiava nele, é uma representação deste calculismo de Antoine. Enquanto Alcest o considerava amigo, para Antoine ele era aquele que carregava seus pertences, ele era a prova de que ele tinha bens e, por fim, se tornou alimento. Esta visão utilitarista do outro vai se intensificando no conto à medida que as privações do campo de batalha se intensificam.

    Enredo

    Antoine vai à guerra com seu cavalo Alcest. Ele busca resgatar a família da ruina imposta por seu pai beberrão e provar seu valor. A guerra se mostra mais difícil do que imaginava e, quando seu cavalo Alcest morre, ele o come.

    Impacto

    Alto. Um ótimo conto e muitíssimo bem escrito. É um risco da alta literatura se perder em meio às questões filosóficas ou à forma e entediar o leitor. Não foi o caso aqui. Este conto é inquestionavelmente alta literatura e, ao mesmo tempo, prende a atenção do leitor desde a primeira linha.

  19. marco.saraiva
    7 de agosto de 2025
    Avatar de marco.saraiva

    A sofrida história de Antoine e o seu cavalo Alcest, marchando na louca investida de Napoleão até Moscou. O conto faz um trabalho excelente em narrar o declínio incremental do soldado na direção do desespero e de uma nova alma. Antoine entra para a guerra com o intuito de se provar homem e uma pessoa de posses, lutando para fazer as amizades certas e ganhar respeito social. Ao final dela, come a carne crua do seu amigo equino, e mata crianças sem remorso. A pergunta que ele faz no segundo ato resume o seu dilema: “Quando voltar para Paris, ainda terá algum valor?”

    A dinâmica do conto é interessante, emulando cartas escritas pelos dois personagens – apesar de, na verdade, serem mais os seus pensamentos livres em determinados momentos da marcha. O segredo de que Alcest é um animal não é muito bem guardado e nem acho que foi essa a intenção. Tenho notado que em todo desafio há um conto onde o narrador é um animal. Temos um tema interessante se formando no EC!

    O conto tem o poder de demonstrar a feiura da guerra, do abandono da individualidade em prol de um objetivo coletivo, do transformar de vidas humanas em armas de guerra. Aqui o autor mergulha na individualidade de Antoine, que luta para tentar se lembrar de quem era, dos seus sonhos, de quem ainda quer ser. Luta para deixar de ser um número, irritado que apenas o nome de Napoleão será lembrado e ecoado pela história. E, além disso, ainda mostra a realidade dos animais, mais propriedade do que vida, e traz uma reflexão interessante sobre o quão importante é a vida animal quando contrastada com a humana.

    Um conto bem escrito e pensado, profundo, e dá muito o que pensar. Parabéns!

  20. Thiago Amaral
    4 de agosto de 2025
    Avatar de Thiago Amaral

    Ótimo conto.

    A mudança de visão entre Alcest, o cavalo, e Antoine, o humano, é ótima para compará-los e receber o significado do conto, que é a indagação (clássica): quem é o selvagem, o animal, afinal de contas?

    Alcest é tanto uma personagem da mitologia grega quanto da literatura, pelo que descobri. Na primeira, é uma mulher famosa pelo sacrifício que faz pelo marido. Na literatura, é um homem com forte senso idealista em relação à verdade. Me parece que o cavalo desse conto combina as duas ideias, contrastando e muito com o humano no conto.

    Antoine é oportunista, amante dos vícios, obcecado pela reputação e por recuperar sua posição social. Mesmo assim, seu fiel cavalo (que não ficou claro se é macho ou fêmea, talvez seja irrelevante) o admira mesmo assim.

    Em algumas passagens, como ao descrever a fumaça do fumo, Alcest parece eaté uma criança, e remete à infância e inocência do homem. O cavalo, no fim, é o verdadeiro protagonista da história.

    Achei muito engraçado o trecho:

    “Preocupo-me, não quero que nada aconteça com o cavalo. Quem vai carregar as minhas coisas? Como provarei que tenho posses?”

    por enganar o leitor e mostrar o caráter de Antoine e como ambos veem um ao outro com tanta diferença.

    Pelo pouco que sei desse período, também gostei da caracterização dos oponentes na batalha. Sei que os generais encarregados da estratégia russa usaram da fuga e destruição de recursos no caminho dos franceses para enfraquecê-los e garantir a vitória. Aqui podemos ver isso claramente, inclusive na ótima descrição de que os cossacos “parecem neblina”.

    Talvez um problema do texto, no entanto, está no título. Mesmo ele soando pretensioso, eu gostei bastante. No entanto, já carrega uma pista do destino do nosso Alcest no momento em que desccobrimos que se trata de um animal. Não sei se a autoria previu isso e não se importou, mas talvez tenha retirado parte do impacto final pra mim.

    Mas mesmo com o spoiler do título, achei que a maneira com que tudo foi descrito nos últimos parágrafos também não trouxe a emoção que o conto todo prometia. Me deu sensação mais neutra que eu esperava, já que estava afeiçoado dos personagens e animado em chegar ao clímax da história. Não sei bem o que aconteceu. Talvez a maneira como foi descrito?

    Notas soltas:

    • A frase “Talvez eu esteja virando selvagem também.” me pareceu uma medida da autoria para deixar claro a mudança e reflexão quanto ao caráter de Antoine. Talvez não precisasse deixar tão óbvio.
    • Não entendi essa frase: “”Sempre trabalhei olhando para baixo do meu nariz e deu”. Faltou alguma palavra?
    • Boa introdução da adaga antes de usá-la para comer o cavalo

    Conclusão: ótimo texto, ótimos personagens, ótima atmosfera. Me senti dentro da jornada. Provavelmente terá uma boa nota ao fim do certame.

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Publicado às 2 de agosto de 2025 por em Liga 2025 - 3B, Liga 2025 - Rodada 3 e marcado .