EntreContos

Detox Literário.

Beijar à Lona (Pedro Paulo)

I

Suas mãos se tocaram ao soar do sino e os dois se olharam, lendo um ao outro. São os mesmos dois indivíduos, mas os momentos são distintos. Lá no conforto cálido das saudades, os dois rapazes ouviram os badalos dos sinos da igreja avisando que a missa já ia começar. Entretanto, suas mãos, de um toque acidental, demoraram uma sobre a outra enquanto reconheciam no olhar cruzado a reciprocidade de algo para o que ainda não tinham encontrado entendimento. Aqui, na realidade fria do agora, os dois homens encostaram suas mãos enluvadas, sem sentir as peles um do outro, cobertas pelas luvas profissionais de boxe. O gongo havia acabado de soar e esse breve toque foi um cumprimento protocolar. Cada um se movimentava pelo ringue sem perder o outro de vista. Os adversários observavam as musculaturas tensionadas, mas não como nos tempos de juventude, por desejo. Buscavam a denúncia de qualquer projeção de um golpe, preparando a própria recíproca violenta.

II

O comum em um cartaz promocional de combate é o enfileiramento dos adversários pareados na vertical, os dois da luta principal em evidência. Henrique Abreu não lembrava de nenhuma propaganda em que o árbitro aparecesse junto dos lutadores, mas lá estava ele, em destaque no topo do painel compondo um trio com os combatentes da última luta prevista. Uma frase encimava o cartaz: “agora é pra valer”. Virou-se para a imprensa.

Achou o primeiro jornalista parecido com um rato, na fisionomia e no trejeito.

— Caio Santos e Fernando Silva foram alunos na sua academia antes de começarem carreira. É verdade que existe uma rixa entre eles?

Não respondeu de pronto. Recordava. Os dois guris magricelas, inseparáveis. Moravam avizinhados, estudavam na mesma escola, frequentavam a mesma igreja. Chegavam e saíam da academia juntos, também dividiam o deslumbramento no olhar, aquele brilho de estarem ali, o que, ainda não sabiam, mas o professor já havia notado, não era pelo treino e sim por estarem juntos. Foi um dos seus alunos mais velhos o primeiro a insinuar, malicioso. Naquela altura eles apenas prometiam os lutadores que seriam, não tinham crescido ainda. Um a um contra esse aluno, nenhum dos dois podia. Então avançaram sobre ele juntos com todo o proibido: soco na nuca, chutes e mordidas. Achava que teriam matado o garoto. Ficara impressionado: eles matariam juntos. Suspendeu os três. No retorno, Caio Santos e Fernando Silva olhavam diferente para Henrique Abreu. Cumplicidade.

— Treinei os dois, acompanhei nas primeiras lutas antes de pegarem patrocínio. Ótimos lutadores, mas da vida pessoal não sei de nada.

Apontou para outra jornalista. Era bonita. Ele se ajeitou na cadeira, apoiando-se sobre a mesa.

— Os dois lutadores já se enfrentaram antes. Uma boa parte do argumento em torno da revanche foi o final por nocaute técnico, o…

— Olha, isso aí eu não gosto nem de comentar. Todo respeito ao profissional, seguia regras, compreendo, mas sempre fui contra isso de nocaute técnico. Desculpe o palavreado, madame, mas porra! Se for pro juiz decidir a luta, que ponha luva e lute. Os lutadores decidem. Um cai, outro fica.

A menina até ia falar algo, mas sinalizou um agradecimento e apontou para outro. Esse terceiro tinha mais presença que o primeiro, mas o cabelo em rabo de cavalo, a barba trançada, a calça apertada e, sobretudo, o jeito de ficar de pé denunciou logo. Tudo bem ser viado, mas precisa amunhecar?

­— Então sem nocaute técnico?

Henrique Abreu estava presente na última vez em que eles se viram.  Impediu a briga, explicou que os havia ensinado a lutar, não a brigar. Permitiu apenas as bandagens, oito rounds. Despidos de suas luvas, aprenderam o que é socar no pelo. Dosar a força para não quebrar as mãos. Lavados em sangue mútuo, foram embora sem se despedir.

— É simples, meu amigo. Estarei lá para dar seguimento. O que encerra é gongo ou lona.

III

O desafiante entra depois. Assim, Caio Santos já aguardava em sua esquina quando as luzes se apagaram e anunciaram o oponente. O primeiro verso da música saiu antes de Fernando Silva aparecer na ponta do corredor.

“Para que meus inimigos tenham mãos e não me toquem.”

Usava um robe em cores brancas e douradas.

“Para que meus inimigos tenham pés e não me alcancem.”

Caminhava com a cabeça baixa e coberta pelo capuz, mas o rosto levantado o bastante para que avistassem o rosário cujas contas passava entre os dedos.

“Para que meus inimigos tenham olhos e não me vejam.”

Despiu o robe. Santas, salmos e cruzes o tatuavam.

“E nem mesmo pensamento eles possam ter para me fazerem mal.”

Fernando Silva assumiu a sua posição na esquina oposta. Na outra luta, Fernando já acumulava algumas polêmicas, então ter avançado sobre o seu adversário após encerrado o combate e ainda ter surrado o juiz lhe rendeu o banimento. Mas sua carreira se redesenhava sob a égide do seu retorno à religião. Aquela revanche era também a sua volta aos ringues.

Caio sorriu. Divisou na fileira mais próxima da plateia a sua esposa e o filhinho. O guri retribuiu, mas quando seus olhos se encontraram com os dela, ela desviou o olhar. O sorriso e os gritos de apoio não cessaram, entretanto. Performance. Por ela, aquela luta jamais aconteceria. Era quem geria a sua carreira. Contratos de propaganda, conversa de se candidatarem… E estava certa quanto à luta. Oito rounds em uma liga inferior, um campeão mundial contra um lutador banido. Do ponto de vista empresarial era incoerente.

Então um dia se sentaram juntos e ele contou o que nunca havia dito a mais ninguém. Que Fernando havia sido a primeira pessoa em quem adormecera pensando. Que descobriram os próprios corpos juntos, cada um em si e depois um no outro. Que havia confiado nele como em mais ninguém e que das coisas mais importantes que sabia, inclusive lutar, devia ao amigo. Que o último encontro dos dois foi doloroso. Mas ela o interrompeu, disse que não queria ouvir aquela besteira, que procurasse um psicólogo e não falasse aquilo pra mais ninguém.

No dia seguinte, Caio publicou o aceite da luta.

IV

O juiz os chamou para o centro do ringue para passar as instruções da luta. A última vez em que estiveram tão próximos foi na pesagem. Aquela foi a primeira vez desde o banimento que Fernando havia ganhado a oportunidade de estar em uma coletiva de imprensa, podia sentir a expectativa dos repórteres e convidados para a sua participação na mesa. Ansiavam por ameaças e insultos… não lhes deu nada disso. Para a última pergunta antes da balança, citou:

— Tendo nascido novamente, não de semente corruptível, mas da incorruptível, pela palavra de Deus, que vive e permanece para sempre.

Após a pesagem os dois lutadores foram postos frente a frente para a famosa “encarada”. O organizador do evento atravessava o braço entre eles, como se pudesse pará-los caso avançassem. Estavam a um dedo de distância. Rápido e suave como lhe era característico, Caio se inclinou para frente e o beijou nos lábios.

Na última vez, eram meninos e não sabiam que demoraria tanto a se repetir e muito menos em que circunstâncias. Foi nisso que Fernando pensou. Levou as mãos aos lábios como se assim pudesse reter o gesto. Ao seu redor, sua comitiva o segurava pelos braços, pelo peito. Impediam um avanço inexistente. Burburinho no salão e então um repentino silêncio. Outros lutadores já tinham feito provocações daquele tipo e por isso todos aguardaram um confronto antecipado. Mas nenhum dos dois se moveu. Só se olhavam, Fernando com a mão ainda na boca. Dispersaram.

Na entrevista de saída, perguntaram. Fernando relevou.

— Foi uma baixaria pra me desestabilizar. Ali tentou cutucar o velho eu, mas eu quero que vocês me conheçam de verdade. — Apontou para cima. — Quem há de ir por nós? Eis-me aqui, envia-me a mim!

Agora estavam próximos de novo. Em seus lábios, Fernando sentia a reminiscência calorosa do beijo que havia recebido e no qual pensava desde então. O beijo em que havia pensado durante toda a vida. Olharam para o juiz, o antigo professor. Ele os pegou pelos pulsos, conectando suas luvas. Ditou o protocolo: golpes daqui até aqui, acertem e não sejam acertados, protejam-se. Mas os segurou quando iam se afastar.

— Gongo ou lona.

Um instante depois, o sino iniciava o primeiro round.

V

Sentiram um ao outro. O virtual do olhar de soslaio, da hesitação de avanços e recuos, foi sendo substituído pelo físico do toque, da voracidade, do encurtar a distância. Assim foi com os dois rapazes, assim era agora com os dois adultos. Padrão de primeiros beijos. Padrão de primeiro round. Dessa dança, os dois rapazes de décadas atrás foram para as suas camas confusos, na encruzilhada do moralismo e da vontade. Hoje, os dois lutadores encerraram o primeiro embate e se sentaram em suas esquinas. Hidratação, pomadas, instruções ignoradas. Encaravam-se, cada um de seu canto, mas ligados pela mesma interrogação.

Já criticaram Caio por suas lutas serem mornas. Boxeador de distância e movimento, seus golpes eram ferroadas. O oponente se aproximava só o bastante para arriscar um soco, uma combinação, mas se o adversário chegava, Caio saía. E, preciso e potente, deixava um golpe no meio da evasão. Fernando Silva lutava justamente pelo contrário. Avanço, pressão, luta curta. Seu adversário de hoje avantajava dez centímetros a mais de altura. Adentrar a guarda era uma boa estratégia, mas o Fernando que arriscava seus golpes na contramão da porrada do oponente, esse boxeador que já trazia consigo uma prometida demência de pugilista em seu futuro… esse Fernando não estava ali. Ia comedido. Não atacava o bastante para Caio aplicar contragolpes e, assim, finalizaram um primeiro round sem clara dominância de um lado ou do outro.

Após o segundo sino, Caio Santos encurtou a distância para aplicar uma combinação recebida na guarda por Fernando. Caio retrocedeu, andou em paralelo e disparou novos ataques, primeiro em cima e depois na linha de cintura, animando um alvoroço na plateia. Atiçava e media com uma mão, esmurrava com a outra. Ele golpeava, saltitava, rodava. Fernando contra-atacava um oponente que já não estava lá. O sino encerrou uma rodada decididamente dominada pelo lutador desafiado. Entre os dois adolescentes, Caio também surpreendeu Fernando com a iniciativa. Uma mão que deslizou, desabotoou e tateou.

Uma inversão na terceira rodada só comprovou que Caio era mais rápido, com Fernando passando a persegui-lo no quadrado do ringue. O desafiante o empurrava contra as cordas, mas mesmo ali o oponente abaixava, inclinava-se e acotovelava para desviar ou repelir os golpes que vinham. Saltou e recuperou a ofensiva. Fernando tentou avançar para dentro dos ataques do seu oponente, mas os braços se cruzaram e os dois lutadores se abraçaram, entravados. Henrique Abreu os separou. Pouco depois o gongo encerrou o confronto.

Fernando Silva venceu, enfim, o quarto embate. Não deixou o adversário escapar por um segundo, sempre à frente, adentrando a sua guarda, socando na linha de cintura e no abdômen, tragando-o para uma luta curta da qual não podia escapar. Caio deslizava para um lado, mas Fernando já o encontrava ali. Era a matemática do combate. O investimento de energia, o tempo preciso de agir… e também havia teatro, fingir saúde quando se tem dor, projetar movimentos quando se pretende outros. Uma vez, havia muito tempo, Caio dissimulara que os dois poderiam ser. E Fernando acreditou. Da decepção colhera tino e, disso, distinguiu quando um de seus golpes, bem encaixado na zona hepática, fez seu oponente sofrer. Não era fingimento. O ataque seguinte, de uma combinação um-dois, encerrou no queixo. Caio Santos caiu.

A plateia rugiu. Fernando Silva já estava em sua esquina antes que o juiz o mandasse pra lá, braços cruzados, olhar duro sobre o homem que titubeava para se colocar de joelhos. Henrique Abreu lhe direcionou um sorriso brando de aprovação. Devolveu. Caio recobrou a consciência no quinto segundo. Levantou-se no oitavo. O gongo o salvou quinze segundos depois, quando o oponente o comprimia contra as cordas.

O quinto embate foi vergonhoso para o lutador desafiado. Grogue desse primeiro nocaute, não desviava, encolhia-se sob a própria guarda, recorreu a abraços, forçando o juiz a várias intervenções ao ponto que foi puxado de lado.

— Você veio aqui acertar as contas ou passar vergonha?

Sentado em sua quina entre mais uma rodada perdida e a seguinte, olhou para o filho. A esposa o evitava, claramente, mas o menino torcia, agitado, feliz em ter sobre si o olhar paterno. Não ouviu nada que o treinador disse. Sabia tudo o que precisava fazer, era o rosto de seu menino e as palavras de Henrique Abreu que tinha em mente quando entrou no sexto round. Como Caio esperava, Fernando o acercou. Deixou que viesse, abriu a distância, golpeou reto. Abriu, golpeou de cima abaixo. Em sua última defensiva, entretanto, pendulou. Enquanto o cruzado do seu oponente passava por cima de suas costas, ombreou para frente e subiu o punho direito em um gancho no queixo do adversário. Fernando cambaleou sobre pernas débeis. Caio fintou para o seu abdômen, onde os cotovelos já fechavam, o rosto vulnerável. Um, dois, ­— jab, direto —, três, quatro — cruzado, cruzado. Chão.

Urros de exaltação da plateia. Dentro dos dez segundos que lhe cabiam, Fernando Silva levantou dois minutos antes do necessário. Não tinha o ímpeto de avançar e nem a agilidade de se defender. Estava de pé por causa das cordas ao soar do sino. Cambaleou para a sua esquina. Sentia-se feliz. Caio o atacava com o melhor que tinha, podia sentir. Sangue vertia sobre o seu olho esquerdo, via tudo embaçado. A vaselina coibia o sangramento, mas o inchaço oprimia a sua vista. Na primeira metade do round seguinte Caio explorou os pontos cegos que esse olho fechado abria, levando-o ao chão pela segunda vez. Sangue voltara a fluir. Estava nele, estava em Caio, estava no chão, em toda parte. Fernando se levantou devagar, quase caindo.

Caio poderia atacá-lo, mas confrontava o juiz. Henrique Abreu não respondia, apenas sinalizava: luta continua. Fernando avançou. Compensou o olho fechado em postura canhota. Sua base invertida e a preocupação atrapalharam o seu oponente, que recuou tropeçando. Fernando saltou. Um braço esticado para frente, uma perna esticada para trás, golpe aéreo e certeiro, um urro que foi ouvido na última fileira da plateia, por todos nos sofás de casa. Caíram os dois.

A força que reuniu para pular não estava com Fernando quando ele aterrissou, rolando para um lado enquanto Caio despencava inconsciente para o outro. Mas Fernando ainda reivindicou o golpe e se levantou, meio apoiado nas cordas, resfolegando, ensopado de suor e sangue. Caio se levantou nos últimos segundos da contagem, mas pelo restante da rodada nenhum dos dois avançou exceto por golpes lançados no vazio. O gongo salvou os dois.

VI

Henrique Abreu estava exultante. Os dois estavam de pé para aquela última rodada, a derrocada de qualquer um significava a derrota. Estavam castigados. Entregavam o melhor jogo. Desafogavam suas mágoas juvenis lutando como os ensinara. Como homens devem fazer.

Os dois lutadores em seu último minuto de repouso pensavam como aquela era não só a melhor luta de suas vidas, mas um dos melhores momentos de suas existências. Sentiam-se completamente presentes. O peso do passado interrompido e a promessa do futuro possível os encontravam. O único outro homem que sabia o que se passava estava ali, juiz, como estivera lá, professor. Uma tríade temporal, uma tríade de homens. Porque aqueles dois, como todos nós, muitas vezes se perguntaram como poderia ter sido.

Os dois estavam de pé. O sino iniciou a última rodada. Fernando avançou na base canhota, sem equilíbrio para calcular bem o alcance dos seus golpes, o olho esquerdo fechado diminuindo seu panorama. Caio deslizava para onde ele não enxergava e o acertava com golpes cruzados que o empurravam tropeçando para a direita esmurrando o nada. Caio avançava, encaixava uns golpes, circundava, sapateava para segredar o sentido do movimento e golpeava novamente. Fernando passou um braço por cima da corda, meio pendurado.

Caio olhou para o juiz. Era óbvio o que pedia. Fernando não podia mais, estava acabado. Henrique Abreu balançou a cabeça. Havia ainda mais um minuto para a rodada acabar. Fernando se soltou das cordas, vacilou para frente e para trás, gritou que o atacasse e parou, dependurado pela própria cintura que, surrealmente, o segurava em pé. No seu rosto inchado e sangrento, Caio viu um sorriso. O único olho aberto de seu amigo o mirava e, naquele instante, reconciliaram-se. Caio sorriu. Henrique também sorriu. O lutador desafiado avançou.

Mas olhou para o lado por um instante. Seu filhinho o havia chamado e algo no tom o deixou preocupado. O bastante para desviar o olhar da luta, a guarda ligeiramente mais baixa… o suficiente. Fernando Silva se perguntaria para o restante da vida o que o impeliu para frente e como ainda teve energia para aquilo. Instinto de pugilista. Um passo para a frente que inverteu a sua base de volta para a destra, esse mesmo movimento jogando seu peso para a esquerda e preparando, no inverso, um cruzado no sentido direito. Caio se virou na mesma hora, os olhos dos dois se encontravam quando Fernando o acertou no queixo.

Aquela não era a disposição de ser golpeado tão forte. Caio Santos desabou, atingindo a lona com uma queda dura, a cabeça batendo por último, todo o restante do corpo servindo como alavanca. Na plateia e pelas telas de casa, o baque foi ouvido. Não se mexeu mais. Os olhos estavam abertos, mas apagados. Uma gota escura de sangue brotava no nariz. Fernando Silva estava sobre ele, queria pegar o seu rosto, mas as luvas o impediam de segurar bem. Chorava, gritava e sua angústia era escutada por todos, pois silenciavam. O juiz não sinalizou. A luta estava encerrada.

Só Henrique Abreu sabia que, também, o que havia entre aqueles dois meninos, aqueles homens, seus lutadores, chegava ao fim. Fernando Silva segurava o rosto de Caio Santos de mal jeito, mas assim mesmo o beijou nos lábios. Já estavam frios.

Sobre Fabio Baptista

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21 comentários em “Beijar à Lona (Pedro Paulo)

  1. Pedro Paulo
    13 de outubro de 2025
    Avatar de Pedro Paulo

    A princípio, reabri o conto pensando em responder a cada comentário, até porque todas as impressões foram escritas com atenção, marcando mais uma experiência de troca entre escritores leitores. Mas desisti. Sinto que, apesar de um ou outro ponto distinto nas análises, a maioria das leituras encontrou o que quis passar com o conto. Caberia sim responder um a um e encontrar essas especificidades de interpretação, mas confesso estar cansado, ainda quero escrever um texto sobre o conto no meu blog, a quem interessar. Pela recepção que tive, posso dizer que estou satisfeito. Sobretudo, senti que o conto foi bem lido, o que neste caso coincide com uma repercussão positiva do texto.

    Depois de escrevê-lo e ainda durante a fase de leitura, quando as opiniões de cada um só eram reveladas em breves discussões no grupo do whatsapp, eu já estava satisfeito com o texto. A posição do conto em relação às produções dos colegas também me parece coerente. Neste certame, como em muitos os outros, os entrecontistas investiram bastante em seus textos e o nível foi altíssimo, ainda que tenha havido algumas surpresas no resultado final.

    Como um colega observou, precisei pesquisar para escrever este texto e reconheço que culminou no que alguns criticaram como um excesso descritivo. Ao mesmo tempo, houve um maior número de leitores que foram tragados pela tensão dos rounds e golpes até aquele derradeiro. Fiquei muito feliz que para a maioria também funcionou a fluidez entre passado e futuro, investida no texto desde o primeiro parágrafo, decerto a parte mais difícil de manter consistente. Tanto que reconheço não ter distribuído tão bem quanto gostaria, no esforço de cortar o conto no limite de palavras…

    Enfim, agradeço a todos os colegas pelos comentários e à administração pelo certame. Preciso escrever para viver melhor e se não fosse este grupo, não sei o que me motivaria. Sobretudo, agradeço aos colegas que entenderam (ou toleraram) este emprego peculiar da crase já no título hahahaha

  2. Givago Domingues Thimoti
    18 de setembro de 2025
    Avatar de Givago Domingues Thimoti

    Olá, PP! Tudo bem? Beijar à lona é um bom Conto, que apresenta um tema que muito me interessa; homens e os efeitos negativos em nós da masculinidade. Bem escrito tecnicamente, eu diria que esse conto ousa em tentar escancarar as nuances tóxicas do universo masculino que se replicam, por vezes, entrelinhas escancaradas. 

    Acompanhamos o deslinde brutal da rusga entre Caio e Fernando. Um dia amantes, eles se veem compelidos a se enfrentar numa batalha, em meio à glória do ringue e do cinturão, o passado escondido e toda a indústria de entretenimento esportivo que ignora a realidade. Não refugam. Vão direto ao embate, incentivados pela figura de Henrique, ex-mestre dos dois e árbitro da luta.

    Por outro lado, não consigo deixar de pensar que o conto tem alguns golpes que vão no vazio, em termos de narrativa. Ou que não são profundos o suficiente para machucar. Talvez, isso aconteça porque o foco em descrever o boxe camufla as camadas por trás.

    Ao fim, tive a sensação que, em que pese a ambientação nos leve a imaginar esse universo másculo opressor, acho que faltou alguma construção mais eficiente ou robusta para fortalecer essa problemática do Homem. OK, temos o relacionamento dos dois (retratado superficialmente), a sanha obsessiva masculina em resolver os problemas de forma violenta, custe o que custar (aqui, representada na figura do árbitro). Ao mesmo tempo, me pareceu que tudo estava resolvido entre os dois, não sendo necessariamente uma questão. Vamos lutar o boxe como bons atletas e amigos.

    Enfim, de qualquer caso, penso que seria melhor adentrar mais no relacionamentos dos dois para ver se o conto adere mais no leitor.  

    O desfecho me lembrou uma mistura do fim de Apolo Creed em Rocky 3 com o famigerado beijo no moribundo de Nelson Rodrigues.

    Nota: Construção narrativa muito boa, que insere o leitor dentro daquela luta. Único porém: lá para o desfecho, no trecho “(…) Grogue do primeiro nocaute…”, creio que a utilização do termo nocaute seria esportivamente falando não?. Um nocaute (KO) é quando um lutador é derrubado e não consegue se levantar e continuar a luta após a contagem do árbitro. Um nocaute técnico (TKO) ocorre quando o árbitro ou médico interrompe a luta por considerar que um lutador não tem mais condições de se defender ou continuar em segurança, mesmo sem ter caído. Já o knockdown é a queda de um lutador sem a perda da consciência imediata, sendo que este pode se levantar e continuar a luta, ativando a contagem do árbitro

  3. Priscila Pereira
    18 de setembro de 2025
    Avatar de Priscila Pereira

    Oi, PP! Não li seu conto todo… 😥 Até tentei duas vezes, mas a temática da luta deixou o conto muito arrastado e não consegui visualizar, o que fez ficar muito difícil de acompanhar, e como não era dos meus obrigatórios, desisti, desculpe!!

  4. Mauro Dillmann
    13 de setembro de 2025
    Avatar de Mauro Dillmann

    Um conto sobre as relações entre dois lutadores adultos que relembram laços afetuosos do passado. Uma pegada LGBT sutil, tão sutil que o mais relevante não é o afeto, o amor, o desejo, mas a luta em si. O texto é extenso e tem algo de repetitivo, o que torna a leitura um pouco cansativa. Enquanto leitor, não consegui me prender à estória. E o título “Beijar à lona”, achei confuso, mesmo que porventura o sentido desejado fosse  “beijar junto à lona”, “beijar na lona”, isso porque “à lona” é uma locução (portanto, seria beijar ao modo lona, o que não tem sentido algum).

    Um bom conto.

    Parabéns!

  5. leandrobarreiros
    12 de setembro de 2025
    Avatar de leandrobarreiros

    Escrever uma cena de luta é algo desafiador. 

    Raramente a cena de uma luta em um texto deve ser sobre a ação da luta em si, mas sim sobre todo o peso por  trás dela. É diferente de um filme de ação ou de um desenho. Por vezes eu vejo pessoas errando completamente a mão com isso, escrevendo mais um roteiro do que uma obra de literatura. 

    Não foi o caso aqui.

    O autor equilibrou perfeitamente bem a narrativa, a cena da luta e o significado/desdobramento da mesma. Para além disso, é um texto muito legal para quem curte boxe, porque o autor não se furtou de fazer uma cena competente e realista, embora estilizada, de uma luta nesse esporte. 

    Em alguns momentos da leitura a retomada do passado soou um pouquinho cansativa para mim. Por outro lado, a fuga de uma narrativa convencional eleva a condição do conto e eu agradeço o esforço por uma pegada mais original e refrescante. 

    Enfim, estou dividido entre 9,5 e 10. 

    De todo modo, um ótimo conto

  6. Thaís Henriques
    9 de setembro de 2025
    Avatar de Thaís Henriques

    Muito bem estruturado e escrito. O final é surpreendente e inesperado. Só me senti confusa em meio aos flashbacks espalhados.

  7. claudiaangst
    9 de setembro de 2025
    Avatar de claudiaangst

    Olá, autor(a), tudo bem?
    O título remete ao tema sabrinesco, já o texto pode ser considerado alta literatura (será?).
    Ao reler este conto, percebi que a fusão dos nomes dos personagens – Caio Santos/Fernando Silva/Henrique Abreu – resulta no nome do poeta Caio Fernando Abreu. Ou seja, é a luta com ele mesmo, a luta que travou com a doença (e que o nocateou) – AIDS.
    Pensamentos do poeta que poderiam estar relacionados ao conto:
    “E tudo que eu andava fazendo e sendo eu não queria que ele visse nem soubesse, mas depois de pensar isso me deu um desgosto porque fui percebendo (…) que talvez eu não quisesse que ele soubesse que eu era eu, e eu era.”
    “A única magia que existe é estarmos vivos e não entendermos nada disso. A única magia que existe é a nossa incompreensão.”
    Enfim, um conto que tem mais camadas do que pensamos perceber a princípio.
    Parabéns pela participação e boa sorte na sua classificação.

  8. Rodrigo Ortiz Vinholo
    9 de setembro de 2025
    Avatar de Rodrigo Ortiz Vinholo

    Muito bom! O descritivo é bem técnico e visual, claramente indicando se não uma experiência acompanhando boxe, uma ótima pesquisa. O desenvolvimento dos personagens e de suas motivações também foi ótimo. Sinto que faltaram alguns cuidados de revisão, em especial mais para o começo, mas nada que desabone demais.

  9. Fabiano Dexter
    8 de setembro de 2025
    Avatar de Fabiano Dexter

    História

    Uma história de amor entre dois amigos de infância, em uma narrativa que mistura uma luta de boxe no presente e alguns comparativos a fatos do passado não apenas dos pugilistas, mas também do juiz, antigo professor dos dois.

    A dinâmica é interessante e ao misturar as ações não fica cansativo, como ficaria caso a luta fosse toda narrada de uma vez. Ficaram alguns buracos na história, ao meu ver, como uma justificativa para que Fernando tivesse perdido a razão e atacado a todos no primeiro duelo dos dois.

    Tema

    Ainda que seja uma bela história de amor, não sei se cabe como sabrinesco pela falta de uma sedução, algo mais romântico. De qualquer forma não descontei nada pois está dentro da gigantesca zona cinzenta.

    Construção

    Troca entre passado e presente e separação do conto em “capítulos” ficou muito boa. A narração é muito bem-feita e nos coloca dentro do ringue junto com os lutadores.

    O modo como é insinuado e discreto o relacionamento passado deles dá um toque especial, deixando claro que é amor e não apenas algo carnal.

    Nome completo dos lutadores foi uma ótima sacada, já que é algo comum no mundo das lutas. Só faltou um “Matador” ou coisa assim entre os nomes e ficava perfeito!

    Impacto

    O final foi emocionante, ainda que um pouco previsível. Só achei triste do Caio morrer na frente do filhinho dele assim.

  10. toniluismc
    6 de setembro de 2025
    Avatar de toniluismc

    Olá, Luca!

    Seguem as minhas anotações sobre o seu conto:

    A arquitetura em seis movimentos funciona muito bem: prólogo espelhado (mãos/sino x luvas/gongo), bloco de imprensa pelo olhar de Henrique Abreu (focalização eficaz), entradas/rituais (música, oração, tatuagens), os rounds coreografados (V) e o clímax trágico (VI). Há domínio de cena e vocabulário de boxe convincente: distância, guarda, linhas, contagem, canhota/destra, “um-dois”, hígado, cordas — tudo dá materialidade ao combate.

    Pontos fortes técnicos

    • Ritmo: alternância de cadência lírica (I, VI) e linguagem objetiva de ringue (V) sustenta tensão até o fim.
    • Ponto de vista: o close em Henrique no II humaniza e compõe a “tríade” (dois lutadores + árbitro-treinador) que volta no final.
    • Costura temática: fé (orações, citações bíblicas), espetáculo midiático e memória afetiva atravessam a ação sem didatismo.

    Ajustes que elevariam mais:

    Caracterização da esposa: cumpre papel funcional; com duas falas/gestos a mais ela poderia sair do arquétipo (gestora fria) e ganhar densidade.

    Verossimilhança/ética do desfecho: a recusa prática de intervenção (Henrique mantendo a luta com lutador claramente comprometido) é poderosa simbolicamente, mas, no registro quase-realista adotado, pede algum custo textual (consequência legal, reação da comissão) — nem que seja em uma linha pós-luta.

    Exposição: o bloco de coletiva (II) é bom, mas pode ser enxugado em 10–15% para não alongar perguntas-respostas que repetem função.

    O eixo “revanche como rito de passagem de um amor interdito” não é inédito, mas o texto dá um ângulo próprio: a oração como walk-in, o beijo na encarada, o mote “gongo ou lona” elevando a ética violenta do boxe a poética e a tríade masculina (alunos + mestre) fechando o arco. A coreografia do round VI (troca de base, ponto cego do olho fechado, distração pelo filho) é engenhosa e visual.

    Onde ainda pode ir além:

    • O KO motivado pelo desvio do olhar para o filho é dramático, porém um pouco mecânico como gatilho narrativo; se ancorasse melhor essa relação ao longo do conto (um microgesto anterior, um interlúdio íntimo de pai/filho) o golpe decisivo ficaria mais orgânico que conveniente.
    • As citações bíblicas funcionam, mas uma imagem autoral a mais do “novo convertido” (um pequeno contrassenso, um hábito, um lapso) daria camadas a Fernando para além do rótulo.

    O conto aperta: o espelhamento do início, o beijo na pesagem, os rounds descritos como “primeiro beijo/primeiro round”, o sangue que fecha a visão e o beijo final nos lábios já frios — tudo converge para um trágico inevitável com imagens fortes. A última página entrega catarse e luto ao mesmo tempo, com a frase silenciosa do árbitro (“a luta estava encerrada”) funcionando como sineta fúnebre.

    Se houvesse um pós-gongo de duas linhas (o silêncio do ginásio cortado por sirenes / a mão de Henrique tremendo / a esposa paralisada entre o filho e o corpo), o eco seria ainda maior — mas, mesmo assim, reverbera.

    Parabéns pela obra!

  11. Gustavo Araujo
    5 de setembro de 2025
    Avatar de Gustavo Araujo

    Achei o conto muito bem escrito. É a história de um amor um amor reprimido entre dois lutadores de boxe, desde a juventude até a hora H, em que se enfrentam no ringue, até a hora em que os sentimentos e os medos e as recordações afloram. Essa sensação de luta interna foi muito bem explorada e é possível perceber a angústia de um e de outro, assim como do próprio treinador, que conhecia o passado dos lutadores. O conto, entretanto, peca um pouco ao investir nas descrições do combate. Achei que os movimentos, os golpes, enfim, a luta física em si acabou prevalecendo em detrimento dos embates psicológicos, mais interessantes. Também senti falta de mais elementos acerca da juventude e da adolescência dos pugilistas. Mas a experiência de leitura foi muito boa no geral. É sempre bom ler um conto bem escrito. Parabéns e boa sorte no desafio.

  12. Jorge Santos
    4 de setembro de 2025
    Avatar de Jorge Santos

    Olá. Em primeiro lugar devo revelar que o boxe não é o meu desporto predileto. O que não quer dizer que nunca tenha praticado. Adiante. Estamos perante um conto que narra a história de homens que fingem uma rivalidade quando se sentem atraídos um pelo outro. A vergonha força-os a esconder o que sentem um pelo outro. O conto é narrado através de uma série de combates, no ringue e fora dele, sendo que o combate principal é o dessa atração latente. Estou tentado a indicar que a relação com o tema é o sabrinesco no masculino (talvez fosse melhor arranjar um nome melhor para o tema). O desfecho do conto lembrou-me do filme do Clint Eastwood, Million Dollar Baby. Se não assistiu, aconselho vivamente. O desfecho do seu conto é igualmente impactante.

    Quanto aos pontos negativos, notei alguma monotonia na forma como foi escrito, sem haver, no fundo, evolução nos personagens. O conto poderia ter sido mais fluído.

  13. sarah
    31 de agosto de 2025
    Avatar de sarah

    Perfeito início, é tocante e  triste a comparação dos dois momentos, onde os dois tocam as mãos lá no passado e agora no presente. Excelente forma de abrir o conto e nos trazer pra dentro dele.

    Terminei de ler agora, cara, melhor história de luta que eu já vi! Você vai misturando informações do passado dos dois e inclui também o juiz que era professor deles.

    Na minha opinião foi uma construção ótima da história, a forma de descrever os golpes sem colocar informações de mais, dá pra ver que é uma história de amor, um amor que não aconteceu. Foi muito bonito e triste, mas com o perdão da palavra O Caio morreu por culpa desse filho da puta desse juiz! Ele podia ter terminado a luta quando o Fernando agarrou na corda, porra! Fiquei brava com o Henrique no final viu? Só deixando claro que estou xingando o personagem, e não você escritor ou escritora!

    Agora sim a pergunta é pra você: precisava matar o coitado do homem?

    Um detalhe que eu tava esquecendo de falar, me confundiu um pouco o trecho onde conta do aluno que provocou o Caio e o Fernando no passado. Precisei ler duas vezes, porque não entendi que ele era uma terceira pessoa na história sabe? Ficou um tantinho confuso esse trecho pra mim. Mas outra coisa que gostei na sua história é que foi a primeira com um “romance” entre homens.

    Outro ponto que achei interessante foi quando mostra que os dois estavam felizes lutando um contra o outro, talvez por se verem novamente, por pensarem que voltariam a se encontrar agora adultos, não sei, mas foi legal ver que os dois estavam dando tudo de si, mesmo contra alguém que amavam. Esse sentimento me parece tão complexo. Você trabalhou ele muito bem.

  14. marco.saraiva
    20 de agosto de 2025
    Avatar de marco.saraiva

    Gente… pra que esse final? Rs rs rs.

    O conto é excelente. Muitíssimo bem escrito, a técnica perfeita, a tensão é muito bem criada e mantida, os personagens trabalhados de forma coerente, um a um sendo revelados, cada um deles com a sua personalidade. Os três são excelentes como personagens, a luta foi habilmente narrada. O conto é bem estruturado: começamos com Henrique, que depois assume papel coadjuvante no conto, mas ainda assim, importantíssimo até o final. Desde o início vemos que Caio e Fernando têm história homossexual mas vemos um Fernando convertido à religião e um Caio casado e com filhos. O passado entre eles era como eletricidade estática, energia potencial, pronta para explodir.

    A luta narrada é uma luta física, mas também acontece na mente dos dois. Passados mal resolvidos. Carreiras diferentes, personalidades conflitantes. Cada golpe um entendimento, cada derrota e cada vitória, um novo capítulo.

    Acho que o conto é sobre descobertas e entendimento, sobre o famoso “e se“. Então esse final… sinceramente, achei completamente desnecessário! O conto IMPLORA para terminar com os dois em harmonia, sangue no rosto e no corpo, mas mentes sãs. O conto inicia em um estado de não-resolução, onde Fernando ainda é visto como um banido e age como um fanático religioso, e Caio tinha ido contra a vontade da esposa para lutar. E até o último parágrafo o texto avança em um crescendo lindo de ver: Fernando luta com tudo, Caio descobre algo nele que tinha esquecido existir. Um ajuda o outro a aprender, a lembrar, a sorrir.

    Daí Caio MORRE DO NADA. Maluco… não. Se eu pudesse dar nota para esse conto, por mim ele mereceria um cinco, mas eu tiraria UM PONTO e daria um 4 só por causa do final!!!

  15. Kelly Hatanaka
    19 de agosto de 2025
    Avatar de Kelly Hatanaka

    Eu não avalio esta série, então, me permito avaliar como leitora, de forma mais livre e bem pelo meu gosto pessoal. Desculpe alguma coisa.

    Tema

    Alta literatura com ótimos toques (socos?) de romance

    Considerações

    A ótima história de dois boxeadores que se amam. Gostei de como a história dos dois foi sendo contada nas entrelinhas, aos poucos. Uma história longa, que veio da infância. Não ficou claro o que causou a separação, ou talvez tenha ficado e eu que perdi, mas dá para imaginar. São muitas possibilidades de desencontro.

    Gostei do juiz. Ele foi testemunha da história dos dois e entendia muito bem o que a luta representava. Porém, acho que ele foi o “vilão” da história com essa ideia de não interromper a luta por nada.

    No grupo, reclamaram que as descrições da luta ficaram meio cansativas. Não achei. Achei o conto muito bem conduzido, de forma ágil, cenas marcantes, tudo muito bem desenhado. O foco na luta, trazendo aos poucos a história de amor.

    O final trágico foi lindo, começou mostrando o que aquela luta tinha sido para cada um, a melhor luta de suas vidas. Havia uma possibilidade de… redenção? Reencontro? Recomeço? Mas veio o golpe inexplicável, inimaginável e era o fim.

  16. Mariana
    18 de agosto de 2025
    Avatar de Mariana

    História: Dois lutadores compartilham um passado, uma paixão de juventude que foi interrompida pelo preconceito (?). Um se tornou campeão do boxe, o outro foi expulso do esporte e tenta voltar. Caio não consegue negar a luta para Fernando. O professor dos dois, testemunha do passado, é o juiz do embate. Até o final. Não é uma história romântica ou feliz, trata de tópicos como amargura, preconceito e afins. Alta literatura muito bem escrita, que faz uso de uma cena central para adicionar várias camadas ao texto 2/2

    Escrita: Luca Londres, Nelson Rodrigues mandou um alô. A história me lembrou demais o Anjo Pornográfico e não somente pelo beijo. Você soube expressar, de maneira segura, os nãos ditos da nossa sociedade, cheia de segredos e hipocrisias. A divisão do texto em atos dá um ritmo de rounds para o conto, outra escolha acertada. Gostei da narração em terceira pessoa, mas uma pequena sugestão: caso resolva expandir o texto, utilize o Henrique como narrador. Acredito que seria função dele contar a história 2/2

    Impacto: Um excelente texto, que nos lembra do quanto portas fechadas e passados escondem. E que amor é amor, não importa como e com quem 0,8/1

  17. Anderson Prado
    16 de agosto de 2025
    Avatar de Anderson Prado

    Olá, autor.

    Gostei do seu conto.

    Correto, coeso. Belo trabalho com o título, do qual não gostei inicialmente, mas que me arrebatou após a leitura do texto. Também gostei da maneira como escolheu abordar o tema.

    A ressalva fica por conta da fluidez, a qual se perdeu um pouco em meio aos avanços e recuos de uma extensa luta. Fiquei um pouco enfadado de acompanhar golpes e contragolpes, reviravoltas, mas não vejo muitos meios de se contornar esse problema.

    Parabéns.

    Nota 4.

  18. cyro eduardo fernandes
    13 de agosto de 2025
    Avatar de cyro eduardo fernandes

    Luta de box entre amigos/amantes. Fatalidade ao final do embate dá uma carga dramática ao conto. Boa técnica, contudo narrativa um pouco arrastada, sem um plot twist forte.

  19. Antonio Stegues Batista
    7 de agosto de 2025
    Avatar de Antonio Stegues Batista

    A história de dois pugilistas desde a adolescência até a fase adulta e ao embate final em cima do ringue. Parece que há um sentimento maior do que simples amizade entre os dois. Achei o enredo muito bom, uma boa ideia. O conto está bem escrito, apesar de algumas repetições que o autor achou necessário incluir para enfatizar a cena. Os termos e o linguajar do mundo do boxe enriquece a narrativa. O tema Sabrinesco é sutil, combinando com Alta Literatura, faz desse conto, com estética viril, uma boa história para os aficionados pelo boxe, um esporte que também encanta algumas mulheres.

    Beijar a lona não tem crase. No boxe, “beijar a lona” significa ser derrubado ao chão por um golpe do adversário, geralmente um nocaute. É uma expressão idiomática que descreve o momento em que um lutador é derrotado e cai no ringue. O chão do ringue é feito de material emborrachado, “lona”, para que o lutador ao cair, não se machuque. O boxeador valentão, confiando em suas habilidades ameaça o adversário- “Vou te fazer beijar a lona”, ou seja, vai nocauteá-lo durante a luta.

  20. Léo Augusto Tarilonte Júnior
    6 de agosto de 2025
    Avatar de Léo Augusto Tarilonte Júnior

    Tema alta literatura.

    Enquadrei seu conto nessa categoria porque fala sobre violência, representada pela luta de Box, também sobre desavenças entre amigos que se afastam por causa delas, reencontrando-se e resolvendo-as posteriormente, e ainda sobre um amor homossexual. A utilização de movimentação temporal ao longo do texto não prejudicou a fluidez da leitura. A escolha do título foi criativa e adequada à história.

    Já criticaram Caio por suas lutas serem mornas. Boxeador de distância e movimento, seus golpes eram ferroadas. O oponente se aproximava só o bastante para arriscar um soco, uma combinação, mas se o adversário chegava, Caio saía. E, preciso e potente, deixava um golpe no meio da evasão. Fernando Silva lutava justamente pelo contrário. Avanço, pressão, luta curta. Seu adversário de hoje avantajava dez centímetros a mais de altura. Adentrar a guarda era uma boa estratégia, mas o Fernando que arriscava seus golpes na contramão da porrada do oponente, esse boxeador que já trazia consigo uma prometida demência de pugilista em seu futuro… esse Fernando não estava ali. Ia comedido. Não atacava o bastante para Caio aplicar contragolpes e, assim, finalizaram um primeiro round sem clara dominância de um lado ou do outro.

    Nesse trecho, o vocábulo porrada quebra a tentativa de uso de linguagem erudita pelo narrador do conto.há outras inconsistências de linguagem no texto, mas essa é uma das maiores.

  21. Luis Guilherme Banzi Florido
    3 de agosto de 2025
    Avatar de Luis Guilherme Banzi Florido

    Bom dia! Tudo bem? Tô lendo os contos na ordem de postagem do site, sem ter conferido quais são minhas leituras obrigatórias.

    Gostei bastante da brincadeira no titulo! A principio, achei que fosse um erro gramatical, mas dai vi a qualidade da sua escrita e percebi que voce nao erraria algo tao basico, e daí entendi! Excelente, belo trocadilho! Parabens!

    O conto é muito bom! O dinamismo da narrativa, que intercala movimentos, golpes, pensamentos, memorias, torna a leitura muito prazerosa. Fiquei pensando que esse tipo de estrutura funciona muito bem com xadrez, tambem, como fizeram no desafio passado com aquele “xadrez com o diabo”. A dinamica dos dois contos é muito parecida, mas cada um no seu quadrado.

    As revelações, situações, confissões, memorias, tudo no conto funciona para conduzir a narrativa muito bem. O desfecho é primoroso, muito triste e profundo.

    Enfim, um conto muito bom, onde as coisas sao entregues com calma, no momento certo, o que acontece desde o titulo. Parabens e boa sorte!

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Publicado às 2 de agosto de 2025 por em Liga 2025 - 3A, Liga 2025 - Rodada 3 e marcado .