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Detox Literário.

Onírica – Conto (Elias Santos)

Onírica beija-o com lábios de uma fome atávica. Sente-se envolvida por um turbilhão de emoções que revoluteiam em sua cabeça, fazendo despertar instintos primários. Os olhos amantes são verdes e ardorosos, mas reverentes, como Onírica espera que sejam. Uma língua candente, sábia, invade a boca que se faz mulher. Em seguida, os olhos gentis-homens transmudam-se em azuis. Os cabelos castanhos são agora negros como a noite que protege e oculta Onírica e seu amor de Pandora. Onírica é criteriosa, detalhista, exige amores que preencham as lacunas emocionais, dores existenciais, medos e frustrações de outrora. Desanimadoramente reais.

A delicada trama que dá forma ao seu desejo torna-se tão tensa que Onírica sente o corpo esvair-se, exceto um fragmento misterioso, que é caloroso, receptivo, incandescente. Seu amor sabe então à luxúria.

Ora velozes, ora lentos,

muitos amores percorrem a geografia do corpo

o arfar é êxtase

a pele incandesce

Onírica respira em chamas

O Paraíso explode silente

Onírica está em paz. Sente-se plena em seu abandono. Seus amores são dúcteis, acalentadores, perfeitos. Onírica fecha-se em seu castelo. Morfeu está nela.

***

O barulho insistente penetra os ouvidos e o cérebro de Onírica como insetos inoportunos, fantasmagóricos. Não é dia nem noite, apenas um vago despertar.

– Alô?

– Oi, filha. Tudo bem com você? Demorou tanto para atender ao telefone.

A voz do outro lado da linha parece queixosa e desapontada.

– Ah… oi, mãe. Tá tudo bem. Só estava dormindo um pouco.

– Até essa hora?! Você precisa ser mais ativa, menina. Se divertir, fazer ginástica, sair mais. Vive sempre tão trancada nesse apartamento. Parece um vegetal.

Onírica olha para o abajur róseo, depois para a garrafa de vinho quase vazia e para os dois copos, um dos quais ainda cheio. Quer desligar a mãe. Desligar a mediocridade regada a champanhe importada e casamentos convenientes, da qual escapara com medo de enlouquecer lentamente. Responde, a voz cansada.

– Puxa, mãe! Eu já disse que tô bem. Não acho que ficar correndo numa esteira vá me tornar um genérico da Mulher Maravilha.

Silêncio. Breve incompreensão. A mesma incompreensão que Onírica tentou superar em tantas ocasiões, mas sempre esbarrava em um muro de preceitos, preconceitos e absoluta falta de empatia.

– Você sabe do que estou falando, querida. Só quero que aproveite mais a vida. Você é uma moça tão bonita, mas, não sei, parece que brigou com o mundo. Seu pai está preocupado com você.

“Pai? O adúltero descarado que silencia suas críticas dando a você um cartão de crédito sem limite? O homem que faz negócios escusos, que não hesita em massacrar quem se coloca em seu caminho de ambição? Um cara tão egocêntrico e narcisista preocupado comigo? Vai ver minha cotação na bolsa de valores está elevada.”. Mas Onírica nada diz. Emite um muxoxo incrédulo.

– Humm.

A voz, impiedosa, continua.

-A propósito, estou te ligando pra contar uma ótima. Sabe o sobrinho da Amanda Marins, aquele que chegou da Inglaterra, lembra? Está lou-qui-nho pra te conhecer. É um partidão. Falei muito de você e ele ficou doido para conhecê-la. Também pudera! Mostrei aquele seu book lindo de 15 anos. Agora, adivinhe o melhor: marquei uma reunião intima hoje à noite, aqui em casa, pra vocês se conhecerem. Não é o máximo?

Onírica se vê diante, mais uma vez, daquela pressão angustiante, desapiedada e egoísta que sempre estivera presente na sua vida. Tenta se mostrar bem humorada.

– Que ótimo! Vou poder conhecer mais um daqueles cavalheiros encantadores que podem ser usados como remédio contra a insônia.

A risadinha no fone soa estridente, quase agressiva. Uma coisa grande e grossa se forma no estômago de Onírica e ameaça subir-lhe pela garganta. A voz da mãe, agora, já não é mais tão empolgada.

– Quando você quis morar sozinha, eu entendi. É normal na sua idade querer ter mais liberdade, fazer suas próprias escolhas, mas você simplesmente parece não querer mais qualquer forma de interação social. O que está acontecendo?

Onírica sente dificuldades em explicar para sua mãe que é justamente o pequeno mundo de futilidades, compras inacabáveis, vazios sem respostas e uma rotina massacrante que a fez querer fugir. Mas tenta, quase em tom de súplica. Uma vez mais.

– Mãe, será que é tão difícil entender que me sinto cansada de falar mais do mesmo com as mesmas pessoas, ir aos mesmos lugares, ser abordada por homens que não se dão ao trabalho nem de mudar o discurso? Não aguento mais relacionamentos superficiais. Até as mentiras são padronizadas. Só quero um tempo para mim, meus interesses, para me encontrar, talvez.

Não, sua mãe não entende. Para ela a vida é feita de interações banais ou comerciais, de dinheiro, de conforto material e daquela segurança emocional que somente quem não questiona sente. O tom com que fala já é conhecido. Reprime.

– Escute bem, menina. Você precisa parar com essa ideia de que seus pretendentes são todos idiotas ou traidores incorrigíveis. Desse jeito, vai acabar sem qualquer opção.

As contrações do estômago de Onírica a obrigam a contemporizar, a fazer sua boa ação do dia, justamente para a mulher que é traída há tanto tempo e vive em um simulacro de casamento. “Por que eu sempre tenho que fugir?”.

– Vou ver o que posso fazer mãezinha. Posso voltar a dormir agora?

– Mas já são 11 horas!

– Mãe, por favor.

– Está bem. Está bem. Mas não se esqueça de hoje à noite. Use algo bem sensual. Um beijo.

Onírica quer explodir em luzes no céu escuro

Ser vista, mas não tocada pelas mãos da plebe

Quer voar sobre altiplanos

Repousar em penas de ganso

Onírica quer olhar o mundo despovoado do alto de uma montanha

***

Noite. Onírica olha e suspira. Prende a respiração, estremece. Seus olhos encadeiam-se com o homem de led. Seu coração acelera. Pensamentos volteiam e revolteiam em sua cabeça toda feita de espectros, de quereres alucinados.

O telefone toca. Insistente. Violador. Mas Onírica o suprime com um gesto impaciente. Onírica está em si apenas. Deita-se sobre o sofá. Devaneia. E é então que o príncipe retorna. Fogoso, exigente, de olhos negros e ardentes. Onírica se entrega. É amada. Se ama.

Onírica voa sobre nuvens diáfanas

Onírica desce à lascívia de si mesma

Onírica está realizada em si

Seus sonhos sabem a ouro

Sua boca está untada de rosa brilhante

Seu corpo ama em um vórtice supressor

***

Onírica imerge em seu sono cheio de sonhos. Docemente. Sabe que os sonhos ainda estarão lá quando despertar. E, ao acordar, sente-se abraçada por sua solidão carinhosa, por seus amores sensoriais. Já não se indaga mais sobre a natureza do seu próprio microcosmos, de suas próprias emoções. Apenas aceita o mundo no qual estará sempre protegida.

16 comentários em “Onírica – Conto (Elias Santos)

  1. Pedro Paulo
    7 de julho de 2025
    Avatar de Pedro Paulo

    Às vezes, a escolha do título ou de um nome de personagem não importam tanto, mas aqui a opção se demonstra certeira na introdução, escrita com a psicodelia abstrata em que um sonho pode se apresentar. Confunde quanto ao que está acontecendo, mas se fosse totalmente compreensível estaria errado. Mais importante, deleita. Sente-se o quanto a personagem se preenche de amor, criando um contraste perfeito com a conversa por telefonema que lemos em seguida, caracterizando a família e a origem da protagonista de uma forma que o trecho inicial, sonhado, fica ainda mais coerente e destacado quanto a crueza fria e superficial de uma realidade enfadonha. O final é o arremate perfeito, nos retornando ao sonho para em um parágrafo nos assegurar que, apesar da perdição na vida real, a personagem ainda terá os seus sonhos nos quais se abrigar.

    Ótima leitura!

    • Elias dos Santos
      9 de julho de 2025
      Avatar de Elias dos Santos

      Pedro Paulo, muito obrigado pelo comentário generoso. Fico feliz demais que você tenha captado essa dualidade entre sonho e realidade que tentei construir. Saber que o texto conseguiu “deleitar”, como você escreveu, me dá fôlego pra continuar escrevendo e experimentando. Estou no EntreContos justamente pra isso: aprender com quem lê e também com quem escreve por aqui, porque sei que esse espaço tem gente muito talentosa. Ainda estou tateando muita coisa, então comentários assim me ajudam a enxergar o que funciona e o que pode ser melhorado. Valeu mesmo pela leitura atenta e pelo retorno cuidadoso. Grande abraço, mano.

  2. André Lima
    1 de julho de 2025
    Avatar de André Lima

    Um conto bem legal.

    Gosto da voz poética do conto, do romantismo exagerado e da estética moderna, ao mesmo tempo. O lirismo do texto dialoga, por vezes, com o erótico e com a introspecção. É uma voz ativa que poderia mergulhar em questões mais profundas, embora o conto se contente em manter as coisas mais na superficialidade.

    O trabalho é bem feito. A dualidade quase barroca entre o mundo interno e o externo é bem explorada aqui.

    A linguagem transita bem entre o poético e o narrativo, embora algumas construções tenham me causado estranheza. Logo no início, temos “fome atávica”, que fez-me concluir que o autor pensava em algo como “primitivo”, mas a frase termina redundantemente com “fazendo despertar instintos primários”.

    A construção “penetra os ouvidos e o cérebro de Onírica como insetos inoportunos, fantasmagóricos” também gera uma estranheza. Por que os insetos são fantasmagóricos?

    Ora, não estou aqui para condenar a voz lírica do autor, pelo contrário, eu adoro a estranheza, gosto do desconforto, isso demonstra nada além do que a força do estilo do escritor. Mas o tom do conto não se mantém o mesmo e essas construções acabam por ser fatos isolados, talvez eu quisesse ver mais disso para se justificar como força estética.

    Nos trechos de devaneio, há um lirismo feroz, uma escrita incendiada. Em contraste, nas passagens do cotidiano, o autor desacelera, mostrando o quão insípido pode ser o mundo dos vivos para quem já morreu emocionalmente. Escolha muito acertada, ao meu ver, reforçando o dualismo inicial do conto.

    O final é ótimo. É delicado no que precisa ser e forte na mensagem. A prosa poética não se importa com a trama, aqui temos quase uma anulação da narrativa, o que importa é a experimentação da linguagem, das brincadeiras com as palavras, dos conceitos evocados.

    Por fim, a obra acaba por ser uma ode à subjetividade feminina, ao direito de sonhar, de negar, de construir um mundo onde o amor é alucinação, mas não menos verdadeiro por isso. É exagerada, íntima, e com passagens bonitas.

    Parabéns pelo bom trabalho!

    • Elias dos Santos
      2 de julho de 2025
      Avatar de Elias dos Santos

      Oi, André. Muito obrigado pela leitura atenta e pelo comentário tão bem fundamentado. Fico feliz que tenha percebido essa tensão entre lirismo e introspecção, entre o poético e o cotidiano, pois são contrastes que me interessam muito. Quanto aos trechos que te causaram estranheza, agradeço demais pelas observações. Estou no EntreContos exatamente para isso: aprender, testar caminhos, compreender os limites (e as forças) do que escrevo. Você pegou nuances que, confesso, nem eu havia percebido com clareza. Seguimos escrevendo, errando, acertando e tentando entender melhor esse universo da linguagem. Um grande abraço!Elias

  3. Luis Guilherme Banzi Florido
    23 de junho de 2025
    Avatar de Luis Guilherme Banzi Florido

    Olá, Elias!, tudo bem?

    se entendi bem, esse conto é sua estreia no EC, certo? E que estreia em alto nível! Parabéns! Ah, e bem vindo, aliás! Espero que tenha vindo para ficar, pois seu primeiro conto já foi um contaço!

    Onírica, nascida em berço de ouro, e se sentindo oprimida pelo ouro do berço, tenta escapar da família, sendo constantemente vítima dos anseios da mãe e dos amores insuficientes que o mundo lhe oferece, especialmente após ter testemunhado o tipo de amor que o pai ofereceu à mãe. Esses parâmetros pervertidos de amor e relacionamento acabam fazendo com que ela busque no mundo dos sonhos o amor que não acredita ser possível no mundo real. E essa idealização acaba a afastando cada vez mais de relações reais.

    É um conto com profundidade narrativa, beleza poética, e ótimo uso do “sabrinesco”, criando um excelente resultado. Fiquei até com medo de tentar um sabrinesco no próximo desafio depois de ver a qualidade do seu! Kkkkkk

    Novamente, bem vindo! E espero que participe do próximo desafio.

    • arcadenoisily2b5a0c5e55
      23 de junho de 2025
      Avatar de Elias dos Santos

      Olá, Luis Guilherme! Muito obrigado pelo acolhimento generoso e pela leitura tão sensível do meu conto.Fico feliz que tenha percebido os traços de conflito interior da personagem, especialmente essa ambivalência entre o “berço de ouro” e a opressão simbólica que esse mesmo ouro representa. É exatamente essa dissonância afetiva que pretendi trabalhar, e ver que ela foi captada por leitores atentos como você é algo que me anima.Sobre o “sabrinesco”, confesso que me senti desafiado a abordar o tema com certo distanciamento crítico, mas sem perder a pulsação emocional que o gênero exige. Saber que isso teve algum efeito é gratificante.Conte comigo nos próximos desafios. Estou aqui para aprender e, tendo em vista o que já li neste blog, quem está com medo sou eu. Forte abraço e boa escrita para nós.

  4. Kelly Hatanaka
    23 de junho de 2025
    Avatar de Kelly Hatanaka

    Onírica é feliz no mundo dos sonhos. Durante a vigília, só existe.

    Que chance tem a pobre realidade, comparada com os sonhos? Que chance tem um pobre rapaz comum comparado ao príncipe dos sonhos? Uma personagem interessante que faz pensar no confronto entre o idealizado e o real, num mundo em que todos ostentam e poucos são.

    • arcadenoisily2b5a0c5e55
      23 de junho de 2025
      Avatar de Elias dos Santos

      Querida Kelly, agradeço imensamente por sua leitura sensível e por captar com tanta precisão a essência de Onírica. Sua reflexão sobre o confronto entre o ideal e o real revela não apenas empatia com a personagem, mas também uma percepção aguda do mundo em que vivemos onde, como você bem disse, muitos ostentam e poucos realmente são. Fico feliz que o texto tenha provocado essa reflexão. É justamente nesse abismo entre o sonho e a vigília que habita o drama de Onírica e, talvez, o de todos nós. Seu comentário enriquece o sentido da narrativa. Muito obrigado.

  5. Gustavo Araujo
    22 de junho de 2025
    Avatar de Gustavo Araujo

    Gostei do conto. É, com o perdão do clichê da moda, uma história com muitas camadas. O que se sobressai é a resolução inegociável de Onírica em manter-se afastada da sociedade, a despeito dos esforços da mãe em colocá-la no trilho do que ela, mãe, entende por felicidade. Penso que a narração espelha em larga medida o que a geração atual sente quando se trata de relacionar-se com alguém, que é preferível buscar a segurança do isolamento ou mesmo do virtual do que aventurar-se no desconhecido. O próprio nome da protagonista indica essa opção. É uma escolha triste, real e, receio, endêmica. No futuro seremos todos oníricos, embriagados com uma realidade montada, à prova de falhas, orquestrada por algoritmos cujas funções nos escapam?

    • arcadenoisily2b5a0c5e55
      23 de junho de 2025
      Avatar de Elias dos Santos

      Caro Gustavo, sua leitura generosa e profunda me tocou. Fico grato por captar com tanta clareza a tensão central do conto: a escolha de Onírica por um refúgio interior, que parece mais suportável do que o convívio com um mundo formatado por expectativas alheias. Sua observação sobre a “realidade montada” e a crescente preferência pelo isolamento virtual é não só pertinente, mas também inquietante, pois talvez estejamos mesmo a caminho de um futuro em que todos sejamos oníricos, anestesiados por uma ilusão confortável. É triste, como você diz, mas real. A literatura, ao menos, nos permite pensar esses abismos. Muito obrigado por compartilhar sua reflexão.

  6. Priscila Pereira
    22 de junho de 2025
    Avatar de Priscila Pereira

    Olá, Elias! Tudo bem?

    Primeiro, que bom que aceitou o convite para conhecer o site! Estamos entre desafios, mas o próximo começará no meio de julho, logo sai o post com as instruções, fique de olho. Temos também um grupo no whatsapp, se quiser entrar mande um email para desafio.entrecontos@gmail.com e solicite o convite.

    Sobre o seu conto, gostei bastante. Está cheio de subtextos que dão a entender toda a história. Onírica parece embriagada de autoconhecimento, e acha que a imaginação é melhor do que a realidade, em se tratando de parceiros amorosos. O homem de led pode ser um painel, uma alusão a IA, ao namorado virtual que se molda ao seus desejos.

    A escrita está muito bem trabalhada, gostei dos poemas intercalados no texto.

    Parabéns pelo conto! Bem vindo ao site!

    Até mais!

    • Elias Santos
      22 de junho de 2025
      Avatar de Elias Santos

      Olá, Priscila. Fico imensamente grato pelo convite para conhecer o EntreContos. Sem sua indicação, talvez essa porta não se abrisse para mim. Obrigado também pelo comentário tão generoso e sensível. Fico feliz que tenha percebido os subtextos de Onírica, sobretudo esse embate entre lucidez e fuga, desejo e recusa. A imagem do homem de led realmente permite múltiplas leituras, entre elas, a do parceiro artificial, moldado ao gosto e ao medo de quem sonha. E sim, Onírica escolhe a imaginação porque o real lhe parece demasiadamente bruto. Agradeço também pelos elogios à escrita e aos poemas integrados. Vou acompanhar o site com atenção e entrarei em contato sobre o grupo, sim. Um grande abraço e parabéns pela vitória no desafio literário. Para mim não foi surpresa, tendo em vista seu talento como escritora. Abraços.

  7. Givago Domingues Thimoti
    22 de junho de 2025
    Avatar de Givago Domingues Thimoti

    Olá, Elias, tudo bem?

    Seu conto Onírica é um conto bem trabalhado, que envolve bastante simbolismo e subjetividade. De forma intencional, creio que você tentou mesclar a poesia dentro da estrutura do conto, o que funcionou bem.

    Do ponto de vista técnico, é um texto rebuscado. Prato cheio para alguns, nem tanto para outros…

    Minha impressão enquanto leitor, por outro lado, é a de uma história que falhou em me tocar. Claro, nem todo conto precisa tocar o leitor. Entretanto, me parece que um texto poético como esse tem em si essa missão inerente. Bom, de qualquer forma, penso que a causa desse afastamento foi a maneira na qual se apresentou

    • Givago Domingues Thimoti
      22 de junho de 2025
      Avatar de Givago Domingues Thimoti

      (problemas no comentário anterior, seguindo…) os conflitos principais: o problema entre Onírica e sua mãe e o idealismo de Onírica. Bom, sobre o primeiro, eu diria que foi tudo muito mastigado pelo narrador, conduzindo com muita facilidade o leitor para descobrir a raiz dos problemas entre as duas. Penso que teria funcionado um pouco mais de introspecção, explicar menos e mostrar mais, através de memórias, por exemplo.

      Sobre o idealismo de Onírica, percebi um descompasso entre os discursos e ela. Ela sonha com o príncipe encantado, com esse desejo lascivo, ao passo que vive enclausurada em seu apartamento. Até aí , tudo bem. Contudo, o discurso meio anti-consumerista, o discurso anti status, o discurso realista e seguro de si, negador do seio familiar o qual viveu me parece dissonante com Onírica e seus sonhos. Penso que é mais uma questão de retrabalhar esse ponto.

      No mais, seja bem vindo ao EC. Esse é um conto de apresentação bem interessante, que instiga o leitor. Parabéns

      • Elias Santos
        22 de junho de 2025
        Avatar de Elias Santos

        Muito obrigado pelo retorno generoso e pelas observações lúcidas, Givago. A contradição entre o discurso crítico e o desejo de Onírica foi intencional. Ela é uma personagem cindida, que escolhe conscientemente se fechar em seu mundo. Os diálogos com a mãe procuraram trazer à tona, de forma direta, a raiz de seus conflitos, sem recorrer a memórias, justamente para preservar o tom simbólico. No final, sua solidão é escolha carinhosa, onde ela pode sentir o que o mundo real lhe nega. Agradeço muito suas considerações e o acolhimento aqui no EC. Espero continuar aprendendo com vocês. Grande abraço!

    • Elias Santos
      22 de junho de 2025
      Avatar de Elias Santos

      Olá, Givago. Agradeço muito pelo seu feedback sincero e respeitoso. Fico contente que tenha notado o esforço estilístico e a proposta simbólica do texto, qual seja a tentativa de fundir poesia e prosa era mesmo uma busca intencional. Compreendo perfeitamente sua impressão quanto à distância emocional provocada pela forma e aceito isso como parte do risco assumido ao escrever algo mais hermético. Seu comentário me ajuda a refletir sobre o equilíbrio entre lirismo e empatia narrativa. Obrigado por ler e dedicar seu tempo a comentar. Um grande abraço.

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Publicado às 22 de junho de 2025 por em Contos Off-Desafio e marcado .