EntreContos

Detox Literário.

Xadrez com o Diabo (Rangel Santos)

Fazia bastante silêncio quando Pedro entrou no bar Taberna da Glória. Os artistas e boêmios ouviam atentos ao rádio noticiando o naufrágio de mais um cargueiro brasileiro atacado pelas forças do Eixo. Falava-se em cerca de cinquenta mortos e o radialista pedia um posicionamento firme das autoridades. Tão logo a notícia foi encerrada, um dos garçons desligou o aparelho e deu sinal para que os músicos voltassem a tocar. Alguns intelectuais até desejavam discutir o assunto, mas os malandros e as dançarinas já haviam trazido de volta a alegria e sufocado a preocupação.

Pedro escolheu uma mesa isolada no canto. Aquele lugar não lhe despertava o menor interesse. Não fosse pela tempestade repentina, jamais se abrigaria naquele ambiente de depravação. A bem da verdade, não havia entrado ali para evitar se molhar, mas para proteger um raro exemplar de O Paraíso Perdido e um tabuleiro de xadrez do século XIX, deixados como presente para ele por um reverendo anglicano antes de retornar a Londres. Apesar de católico, o jovem brasileiro havia caído nas graças do religioso europeu, por sua maneira cortês, seu interesse em literatura clássica e, sobretudo, por se mostrar um poderoso enxadrista, que não faria feio mesmo se colocado frente a frente com Alekhine ou com Capablanca.

Os trovões em constante disputa com os pandeiros e tamborins anunciavam que a chuva demoraria a passar. Pedro, então, refugiou-se na leitura de Milton e na contemplação das ilustrações detalhadas de Doré. O jovem mantinha o livro bem próximo a si, pois temia que algum bêbado desgraçado derramasse cerveja ou cachaça nas páginas de seu exemplar. Após quinze minutos, estava tão absorto que não percebeu quando um sujeito de mais de dois metros, terno preto alinhado e com um Fedora na cabeça, atravessou o salão, parando de pé bem próximo a ele.

— Um conhaque — pediu o homem ao primeiro garçom que passou.

O funcionário do Taberna retornou cinco minutos depois com a bebida equilibrada em uma bandeja e a entregou ao cliente, deixando-o em seguida sem ao menos perguntar se desejava alguma outra coisa.

— Posso me sentar com você? — perguntou o sujeito, enquanto punha o chapéu sobre a mesa de Pedro.

O rapaz pensou em negar e indicar um lugar mais distante, no entanto, bastou tirar a cara do livro para perceber que todo o bar estava lotado. Não bastasse isso, ele era o único sem pedido algum, se de fato mantivesse sua recusa, era provável a ser ele o convidado a se retirar. Então, com olhar vencido, consentiu com um gesto discreto de cabeça, arrastando para o canto o tabuleiro de xadrez, cedendo ao estranho o centro da mesa. O jovem retomou sua leitura quando o sujeito à sua frente soltou:

Better to reign in Hell than serve in Heaven!

Aquele indivíduo conquistara a atenção de Pedro.

— O senhor conhece O Paraíso Perdido?

— Muitíssimo bem, meu caro! — respondeu o outro, trocando o copo e o tabuleiro de lugar, sem aguardar autorização do interlocutor.

— Por acaso é professor de Literatura, bibliotecário?…

— Não, apenas curioso — disse o homem, enquanto posicionava dama, rei, bispo, torre, cavaleiro e peões em suas respectivas casas.

Havia naquele desconhecido um certo mistério que encantava Pedro, mas não se construíra ainda entre eles intimidade suficiente para que o intruso mexesse em seu jogo sem autorização.

— Desculpe-me, trata-se de um conjunto de peças indianas. Um presente que não posso deixar exposto.

Pedro levou a mão para recolher seu tabuleiro, quando o sujeito lhe segurou o pulso.

— Escute, rapaz. A chuva ainda vai demorar. Joguemos uma breve partida, enquanto lhe falo sobre meu conhecido do Paraíso Perdido. Podemos fazer uma aposta, se acaso me ganhar, prometo lhe dar qualquer coisa que pedir. Dinheiro e influência não me faltam.

— E se eu perder?

— Então, me dará sua alma… — e o homem deu uma forte gargalhada, interrompida por um raio que parecia ter caído há uma quadra dali. — Brincadeira. Se você perder, me paga outra bebida.

O homem estendeu a mão e Pedro retribuiu o gesto, selando o acordo. O estranho fez o movimento de abertura: peão branco d4; preto, d5. Peão C4; peão e6. Cavalo c3; cavalo f6. Bispo branco g5 ameaçando o cavalo. Pedro parou um instante, precisava de cautela antes de realizar seu próximo lance.

— Neste instante, você tem um total de vinte e nove movimentos possíveis. Antes de começarmos e até o final existiam mais possibilidades de lances do que átomos em todo o universo.

Pedro ignorou a informação e levou seu cavaleiro negro de b8 para d7. O desafiante responde com peão branco e3. Segue peão preto c6. Cavalo branco f3. Uma pequena pausa e o sujeito retomou o seu argumento em forma de pergunta:

— Alguma vez já se questionou em quantas possibilidades ele tinha antes de começar tudo?

— Quem?           

— Deus! De todas as possibilidades de mundo, por qual motivo ele optou justamente por essa.

Dama preta a5. Cavalo salta de f3 para d2. Bispo segue em procissão para b4. Dama desce para c2.

— Imagino que em sua perfeição, Deus tenha criado o melhor dos mundos possíveis — Pedro capturou o peão branco em c4 com seu peão d5.

O adversário soltou um risinho antes de tomar com o bispo o cavaleiro f6.

— Temos neste momento uma guerra do outro lado do Atlântico. Temos jovens aqui que morrerão sem ao menos entender a natureza deste conflito. No cais, não distante daqui, há crianças com frio e sofrendo com a fome. Jovem, você crê de fato que Deus fez a melhor das escolhas?

— Creio. O mal nos veio por meio da primeira mentira. — Cavalo toma bispo f6.

— Mentira?! De quem? — Cavalo branco toma peão de c4.

Pedro passou meia dúzia de páginas e apontou com o indicador para a ilustração de Satanás contemplando a Serpente do Éden. O homem apanhou o livro e o folheou até o Canto IX.

— Ah, mas se aqui houve mentira, não foi por parte da víbora injustiçada. Preste atenção ao que saiu da boca do réptil: Vocês não morrerão… No dia em que comerem do fruto, seus olhos se abrirão e, então, serão como deuses, conhecedores do bem e do mal.

— E não foi daí que todos as infelicidades vieram?

Dama preta c7. O opositor ataca o bispo com o peão em a3.

— Ora, mas a primeira mentira não foi proferida por Satanás. Foi o próprio Criador quem afirmou: No dia em que comerdes do fruto certamente morrereis. Pense em quão misericordioso ele teria sido se tivesse cumprido com sua palavra. Quantas almas não teriam sido privadas das chamas do inferno se os primeiros pais tivessem padecido no exato dia da infeliz desobediência.

— Havia nesse gesto uma grande misericórdia. Um plano de resgate, um pagamento por suas dívidas.

Bispo preto se refugia em e7. Bispo branco avança para e2.

— Resgate de quem? Dívida a qual credor? Ah, refere-se ao pagamento de um débito que ele mesmo inventara enquanto os moldava. Não percebe que tudo isso não passa de um conto, um remedo de história fabricada para mantê-los no cabresto. Humanos não passam de autômatos nas mãos de um programador.

Roque curto das pretas. Mesmo movimento das brancas. Bispo e7. Peão e4. Peão e6. O estranho sorveu o conhaque antes de fazer próximo movimento: bispo f6. A torre medrosa sai de a8 e se refugia nas costas da dama negra. A torre inimiga mantém-se no corredor saindo da inativa coluna f para a d. Pedro permaneceu em reflexão. O outro seguiu:

—  Eu vou lhe contar o que acho que aconteceu. No princípio… Não houve princípio. Existia somente o caos eterno, sem forma e vazio. O caos plasmou os céus e a terra. Em seguida criou deus. Por simples força geradora, sem rumo e sem nenhuma intencionalidade…

A segunda torre preta se descola do rei e vai para d8. A primeira torre branca sai de a1 e se põe de guarda atrás da sua rainha.

— E como a matéria viria do nada? — indagou Pedro, recuando ainda mais o seu bispo para a casa e8.

— Nunca houve o nada, pois no instante em que ele houvesse, teria existência e não seria o nada. O existir pressupõe substância. Mas naquele princípio, nem mesmo deus ainda se encontrava formado. Se lá estivesse não inventaria tantos absurdos como relatou a Moisés.

G3. Cavaleiro preto d5. Cavalo branco b2. Dama a8. Cavalo d3. Bispo g5. Torre b1. Dama b7. Peão e4. Cavaleiro negro captura o branco e dama retoma.

— Absurdos? Quais?

— Que Ele criou tudo com a força de seu verbo, mas seu espírito pairava sobre as águas antes que sua boca proferisse a primeira palavra. Que fez as plantas e a própria luz antes da estrelar solar. Que estabeleceu um firmamento sólido para separar as águas do céu das águas na terra. E depois abriu as comportas celestes para punir os que não obedeciam a seus caprichos de menino melindroso. E em seguida, alegou arrepender-se, como se já não tivesse a tudo antevisto. Outra feita, medroso, temeu que os humanos alcançassem a suposta redoma celeste e covardemente confundiu-lhe as línguas, isolando-os nos confins do mundo. Foi também o responsável pelos assassinatos das crianças egípcias, e ainda é dele a seguinte ordem: Cada um ponha a sua espada sobre a sua coxa; e passai e tornai pelo arraial de porta em porta, e mate cada um a seu irmão, e cada um a seu amigo, e cada um a seu próximo. Todas essas coisas por puro capricho de divindade exclusiva. Para ser o único.

Nessa hora, a chuva havia se intensificado e soprava um forte vendaval. Os garçons fecharam as portas e os clientes ficaram ainda mais espremidos. Apesar disso, ninguém se aproximava da mesa do xadrez, como se ali estivesse o Santo dos Santos, um local reservado aos dois únicos Sumos Sacerdotes.

— Há certa amargura e rancor por detrás de sua fala — dama e7.

— Não, Pedro, não esconda os crimes e mentiras dele atrás desse tipo de psicologia. Nós somos inteligentes demais para recorrermos a sentimentalismos. Nós sabemos o aquele deus é tomado de ira, ciúmes e inveja… Inveja dos ídolos fabricados por meninos criados sem pai.

Peão h4. Bispo h6. Cavalo e5. Peão g6. Cavalo g5. Mais uma vez o bispo preto se esconde, agora em g7. Peão e5. Finalmente as pretas revidam o ataque: peão h5.

— Creio que o rival não previa que Ele guardasse a graça de um Redentor tão sublime. Uma paixão tão grande, capaz de entregar o próprio filho ao escárnio e ao opróbrio.

O cavalo recua para e3. O peão preto avança para c5. Pedro continuou:

— Que deus cruel renunciaria a sua divindade, abraçando a condição de simples mortal?

Peão branco b4 toma peão c5.

— Se a condição de mortal é assim tão infeliz e tão baixa, por que a impor aos homens?

— O casal foi criado em um paraíso e o perdeu — Peão b6 vence peão C5.

— E como ele o perdeu? — peão d5.

— Exercendo mal o bom livre-arbítrio que Deus lhe concedeu — peão preto toma em d5.

— Exercendo mal? Ora, como isso seria possível se sem o fruto do Éden, eles não o certo do errado e a justiça da injustiça?

Cavalo branco toma d5 e ameaça a dama, que escapa para e6 deixando o cavaleiro duplamente ameaçado. O cavalo foge e se espreme em f6 entre a dama e o bispo inimigos. Bispo toma cavalo. Peão branco captura bispo.

— O mal não estava no homem ou na mulher, mas no monstro cobiçoso que escapara do Tártaro para tentá-lo.

Torre preta d1.

— Xeque!

— É uma fábula engraçada, pois a culpa nunca recai sobre aquele que planejou o que planejou. Você alega que ele se humanizou. Mas como se ele nunca se apaixonou? Se jamais teve dúvida em seu coração. Por sua condição, não experimentou o pavor de não saber se haverá ou não um depois. Nem mesmo a nobreza da fé e da esperança sua onisciência lhe permitiu sentir. Era um homem privilegiado, isento da mancha do pecado, aquilo que faz do humano, humano. Não, ele não passava de um simples deus encarnado, brincando de resgatar as suas criaturas quando poderia simplesmente as ter perdoado.

Torre branca d1. Bispo preto C6. Torre e1. Dama preta escapa em f5. Torre branca e3. Peão c4. Peão a4. Peão a5. Bispo g2. Bispo preto destrona bispo branco. E rei toma em g2.

— Um Deus que brinca entre as suas criaturas. É um Deus que se aproxima. Que se revela. Que toca e é tocado. Que sofre junto. Que morre com os seus. Esse é certamente o único Deus que merece adoração.

Pedro conduz sua dama para d5.

— Xeque.

Rei foge para h2. Dama f5. Torre f3. Dama c5. Torre f4. Rei preto h7. Torre d4. Dama c6. Dama a5. Peão c3. Dama a7. Rei g8. Dama e7. Dama b6. Dama b7. Torre e4.

— Para as almas nascidas para a submissão, esse parece um excelente consolo.

— E o que consola as almas insubmissas?

Dama preta f2.

— Xeque.

Rei escapa em h3. A dama insiste no Xeque em f1. H2. Xeque f2.

— As almas insubmissas se consolam com a liberdade.

Rei retorna em h3. Torre f8. Dama branca c6. Dama f1.

— Xeque.

O antagonista se levanta. Está irritado com enclausuramento. O rei branco arrasta a si próprio para h2. Pedro não se impressiona. Há muito já sabe a quem está enfrentando. Volta a dama para f2.

— Xeque.

A enxurrada começa a levar água para dentro do estabelecimento. Dama f3.

— Xeque.

O homem está distante no bar, pedindo outra dose de conhaque. Seu rei foge sozinho mais uma vez para h2. Pedro conduz seu o rei para h7. A dama branca se oferece em troca em c4. A preta recusa e volta o Xeque. Rei h3. Dama g1. Torre e2. Dama preta impõe Xeque f3. Rei f2. Dama preta conquista o peão em f6. As brancas estão cercadas, em completa desvantagem. Peão a5. Torre d8. Peão a6. Dama preta f1. Dama branca e4. Torre preta se oferece em sacrifício d2. Torre branca aceita. Peão negro recupera d2.

O estranho volta e conduz com sua mão pálida o peão branco a7. Uma única casa o separa da casa final, a mais elevada de todas. A peça mais simples a um passo de se converter na mais poderosa. Mas o peão de Pedro chega à casa mais baixa primeiro. O peão branco também se promove na última casa. Quatro damas caçando dois reis. Dama preta g2.

— Xeque.

O sujeito leva o rei para h3 mais uma vez. A dama promovida vai para f1.

— Xeque.

A dama em e4 se coloca em g2 protegendo o rei ameaçado. Pedro traz a primeira dama para h1.

— Xeque-mate!

Enquanto Pedro guarda as peças. O homem vira o copo de bebida. Depois aproxima-se do ouvido dele e sussurra.

— Peça, garoto. Diga aquilo que você mais deseja no oculto do seu coração. Dinheiro, fama, mulheres ou todo o conhecimento que guardo dos séculos.

O rapaz, então, vira-se para o estranho e responde:

— Quero um guarda-chuva.

Pedro segue até a porta com o livro e o tabuleiro sob o braço. Um guarda-chuva preto o espera, como se sempre estivera pendurado ali. Pede licença aos boêmios, e espera o garçom lhe abrir a porta. Em seguida, apanha o guarda-chuva, abre-o e parte para casa.

Sobre Fabio Baptista

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26 comentários em “Xadrez com o Diabo (Rangel Santos)

  1. Thiago
    14 de junho de 2025
    Avatar de Thiago

    Aqui temos mais um conto bem escrito e que ganharia com alguns cortes. Vou dar um exemplo: “Apesar de católico, o jovem brasileiro havia caído nas graças do religioso europeu, por sua maneira cortês, seu interesse em literatura clássica e, sobretudo, por se mostrar um poderoso enxadrista, que não faria feio mesmo se colocado frente a frente com Alekhine ou com Capablanca”. Gosto de xadrez e acho que nem o Magnus atinge os dois enxadristas citados (brincadeira, mas é verdade rsrsrsr). Essa passagem ganharia com supressão de informações: “Apesar de católico, o jovem havia caído nas graças do religioso, pela maneira cortês, pelo interesse em literatura clássica e, sobretudo, por se mostrar um poderoso enxadrista”. 

    Creio que o autor escreve de maneira elegante, indo para decisões mais seguras, menos ousadas, e fez bem a lição, acumulando a tensão para ganhar mais na frente, como um gambito da dama recusado. Só acho que pode ter gastado um pouco de munição, pois, afinal, teremos um desafio para xadrez. Ou o autor tem outras jogadas?

    • Rangel
      15 de junho de 2025
      Avatar de Rangel

      Thiago, você está certo, mas citei os dois enxadristas, pois a partida do conto é uma réplica de uma disputa entre os dois.

  2. Thiago
    14 de junho de 2025
    Avatar de Thiago

    Tchekov ensinava em uma carta para seu editor que, para termos um bom conto, devemos cortar o começo e o final. É justamente a fórmula para tornar esse conto um conto realmente bom. Jogar fora o primeiro e os dois últimos parágrafos. Por isso, vou ignorá-los para dizer ao autor que classifico esse conto como o de melhor técnica. 

  3. leandrobarreiros
    14 de junho de 2025
    Avatar de leandrobarreiros

    Pedi ajuda no grupo para entender a que obra esta fanfic se referia e me apontaram para um texto de mil páginas do século XVII, dividido em 10 cantos…

    Pois bem, não li o texto todo, mas li o resumo de cada canto e acho que dá para considerar o texto como fanfic, sim.

    O maior mérito do texto, na minha opinião, está no controle da narrativa do autor, que dita o ritmo da leitura através dos movimentos das peças. Não consigo acompanhar o que cada movimento quer dizer, mas os vejo como um recurso para as pausas, os argumentos e os contra-argumentos que se desenvolvem na história. Isso é muito valioso, porque impulsiona a leitura.

    O verdadeiro jogo, o verdadeiro embate, claro, não é o xadrez, mas sim o debate entre homem e demônio. Os movimentos apenas refletem a posição de cada um na conversa.

    Eu acho que talvez haja detalhes em excesso na primeira parte que poderiam ser suprimidos pelo autor.

    Algumas das respostas do Pedro também não me pareceram muito convincentes, nem do ponto de vista teológico e, para ser completamente sincero, acho que o Diabo apresentou argumentos melhores na conversa.

    Contudo, o importante aqui é a história e, como narrativa, achei-a bastante envolvente.

  4. Thales Soares
    14 de junho de 2025
    Avatar de Thales Soares

    Avaliação geral
    Este conto é genial! Une com maestria xadrez, filosofia e narrativa com ritmo envolvente. A partida funciona como fio condutor, enquanto o diálogo sobre religião e existência amplia a profundidade. A quebra final é um toque de genialidade: a aposta, clara e inesperada, conduz ao guarda-chuva, simples e profundamente simbólico. Mesmo não sendo infantojuvenil, fofo ou fanfic, é uma obra independente de tema que chama atenção pela execução impecável.

    Pedradas

    A partida contém elementos plausíveis, mas há momentos curiosos (seis damas e reis fugitivos) que podem parecer forçados para leitores familiarizados com xadrez. Eu não verifiquei lance por lance, por falta de tempo, então não consigo avaliar esse aspecto.

    A discussão sobre teodiceia e discurso bíblico é interessante, mas pode soar densa para leitores ocasionais (eu não entendo nada de religião… então fiquei um pouco boiando). Mesmo assim, achei bacana a discussão, e foi muito legal ver o protagonista sendo um contraponto ao diabo.

    Por ser ambientado em contexto adulto e histórico, pode desorientar quem procura narrativas infantojuvenis ou fanfics. Na verdade, eu achei o ambiente e a época de guerra em que o conto se passa totalmente incrível! Mas não tem nada a ver com o desafio atual. Fico imaginando que talvez, sem querer, o autor deste conto tenha enviado o arquivo errado para os moderadores do EC, e sem querer queimou um conto que batalharia com força pelo pódio no último desafio do ano.

    Considerações finais
    Esse é um conto de impacto memorável. Brinca com ideias sérias, mas mantém o humor e o invento literário. A narrativa tem ritmo, tensão e motivo… uma partida de xadrez que é, simultaneamente, reflexão e desafio. Uma lástima que não se encaixou no tema deste desafio.

  5. Gustavo Araujo
    13 de junho de 2025
    Avatar de Gustavo Araujo

    Achei o conto muito bem escrito, uma fanfic de Paraíso Perdido — ou ao menos uma homenagem ao livro. A ambientação é excelente, tanto no que se refere à taberna em si como o contexto de 2ª Guerra Mundial, que serve como pano de fundo para uma partida de xadrez com ares sobrenaturais. A escolha das palavras, as descrições e sobretudo os diálogos prendem a atenção porque sabemos, como leitores, que Pedro está num embate com o Anjo Caído, ou como diria meu amigo Fabio Baptista, com a Estrala da Manhã. Daí as provocações, as respostas ácidas, o jogo de gato e rato que se reflete na partida de xadrez, com direito a reviravoltas e contragolpes.

    Imagino que seja possível ler o texto tendo ao lado um tabuleiro para fazer as jogadas, mas confesso que fiquei com preguiça de fazer isso kk Mesmo porque o jogo é só uma escusa para uma conversa profundamente filosófica sobre o destino da humanidade, pontuada por alusões bíblicas. Poderia ser um jogo de damas, de ludo, de trilha ou banco imobiliário, nada mudaria porque a força do conto está na guerra de palavras e de argumentos.

    Na realidade, as indicações das jogadas terminaram atrapalhando um pouco, quebrando a narração, com aquela profusão de letras e números que indicam as casas do tabuleiro. Admito que pulei os trechos que continham essas descrições, já que, na realidade, não interessavam muito para o desenrolar da trama.

    Em linhas gerais, no entanto, o conto se destaca pela ótima técnica. Arrisco a dizer que será um dos mais lembrados nesse quesito. Parabéns e boa sorte no desafio.

  6. Andre Brizola
    13 de junho de 2025
    Avatar de Andre Brizola

    Olá, Ele!

    Em primeiro lugar, quero ressaltar que seu conto tem uma premissa extremamente interessante. Acho que a ideia que impulsiona o enredo é algo digno de nota e, é tendo isso em mente, que tecerei meus comentários. Neste desafio, entretanto, optei por estruturar as análises de forma mais organizada, não só para me ajustar melhor, mas para ser mais justo com os participantes.

    Técnica – O texto está bem escrito, mas eu entendo que há revisão a ser feita. O conto se debruça, sobretudo, no embate dialógico entre Pedro e o adversário, que é transcrito em ações no jogo de xadrez. Acredito que o principal problema é que o diálogo entre os dois personagens sofre um pouco com o problema entre as divergências entre “Deus” e “deus”. Me pareceu claro que Pedro sempre utilizaria a grafia “Deus”, e o adversário me pareceu que deveria utilizar sempre “deus”. Mas isso acaba variando dentro do texto, dando uma confundida no que, me parece, ser um ponto chave do enredo. Isso ocorre para os termos relacionados, como “Dele” e “dele”, por exemplo. Outro aspecto que devo ressaltar é que, para quem não joga xadrez, a única forma de se relacionar corretamente com as descrições das jogadas é conseguir vê-las ocorrendo. De outra forma, é apenas texto sem significado, sobretudo quando são ações que não representam grandes desenvolvimentos, como xeques, ou tomadas de peças mais significativas. Alguns parágrafos, admito, cheguei a pular, pois não havia sentido em ler sem saber o que representavam de fato.

    Enredo – É interessante. O embate, em duas frentes, representando um raciocínio lógico, e moral, dentro de um ambiente mundano, será sempre interessante. Pedro é o grande destaque, construído de forma inteligente, mantendo regularidade, desde a decisão de não beber, até o pedido pela guarda-chuva. Mas, ressalto aí que, na minha percepção, se o jogo de xadrez era um presente que não poderia deixar exposto, por que estava exposto? Acredito ser a única falha de “caráter” do personagem. Se ele tinha como guarda-lo, então ele estaria guardado desde o início. Seria interessante dar outro sentido para a presença do tabuleiro em cima da mesa, uma que não fosse de encontro ao que o personagem representa.

    Tema – Neste aspecto, desta vez, decidi ser bastante rígido no que diz respeito ao respeito ao que foi proposto. Entendo que os temas são um tanto quanto estranhos, mas essa foi a proposta do EntreContos e acho que nós, autores, deveríamos honrá-la com textos que a atendessem da melhor forma possível. Neste conto não temos absolutamente nada de chubesco, ou que fosse infanto-juvenil, então só poderia ser fanfic. Mas, do que? O Paraíso Perdido? Milton não é exatamente popular, então não estaria dentro da proposta. Sandman, e a história Men of Good Fortune, talvez, que recentemente foi adaptada para uma série da Netflix? Improvável. De forma mais remota, quem sabe, O Retrato de Dorian Grey? Acho que não. Sinceramente, acho que a proposta do desafio não foi atendida aqui.

    Impacto – Escrevo esse item do meu comentário alguns dias após ter lido o conto, para medir a forma como reagi ao texto e como ele me afetou. Acho que se a experiência foi boa, se o enredo me provocou, me fez pensar sobre o assunto, ou se há algo extremamente particular, mesmo que ruim, o conto reaparece em minha cabeça e penso sobre ele depois. Considero isso um aspecto positivo, e devo levar isso em consideração. Mas a verdade é que Xadrez com o Diabo não conseguiu isso. Não foi uma memória marcante, embora tivesse algum potencial para tal.

    No geral, tenho a tendência em achar que o conto é não obtém o equilíbrio necessário. Tem muito potencial, de fato, e talvez encontre seu público em uma exposição mais selecionada, com leitores dentro de um nicho. Acho que aqui, para quem espera juvenil, infanto-juvenil, Batman e Star Wars, ele não se adequa.

    Bom, é isso. Boa sorte no desafio!

  7. Amanda Gomez
    13 de junho de 2025
    Avatar de Amanda Gomez

    Oi, bem?

    Seu conto é muito instigante. Fui investigar qual seria a fanfic utilizada. A princípio imaginei uma roupagem moderna de Pedro, o apóstolo mais fiel e convicto sendo tentado pelo diabo, pois essa é a trama principal do texto. Minha dúvida era se se tratava de uma fanfic bíblica ou de outra obra. Acabei descobrindo nas conversas que era inspirada em O Paraíso Perdido, livro que nunca li e pouco conheço. Resumidamente, seu conto é tão bom que essa informação acaba sendo secundária.

    Gostei muito da forma como você o construiu, de toda a atmosfera de chuva e ambiente que criou, da conversa afiada e da partida que se desenrola. Você soube montar uma estrutura inteligente com dois personagens extremamente carismáticos. Pedro aparece como uma rocha inabalável cuja fé o torna imune às tentações do diabo, que por sua vez exerce com maestria o dom da persuasão.

    O final, com o pedido do guarda-chuva, representa a vitória silenciosa de um homem convicto. Muito bom mesmo.

    Por que você não apostou no desafio Xadrez? Seu texto certamente ficaria bem colocado e você não correria o risco de perder pontos pelo desconhecimento da obra original.

    Parabéns pelo trabalho, boa sorte no desafio!

  8. Pedro Paulo
    11 de junho de 2025
    Avatar de Pedro Paulo

    Olá! Tentando simplificar, estarei separando meus comentários em “forma” e “conteúdo”, podendo adicionar um terceiro tópico para eventuais observações que eu não enquadre em um ou outro.

    FORMA: Desde criança eu jogo xadrez. Na verdade, tive aulas de xadrez por anos e sempre foi tão divertido como instigante treinar e competir, embora nunca tenha me desenvolvido o tanto quanto poderia, imaturo que era. Tenho uma relação afetiva com o esporte. O xadrez não é um esporte ausente na ficção. Principalmente em filmes é comum ver o tabuleiro ser instrumentalizado para implicar tensão entre personagens, às vezes sugerindo intelectualidade a essas figuras. Em filmes e séries, sempre olho para o tabuleiro tentando lê-lo, mas geralmente a sua aparição é em cortes rápidos que fornecem apenas vislumbres do tabuleiro e não duvido que em muitos casos não tenha havido a preocupação da equipe de produção em preencher o tabuleiro com um jogo de fato. Na literatura não me lembro de ter encontrado um caso de inserção do jogo em si. O seu conto foi a primeira ocasião. 

    Decidi inserir essa prévia no tópico da “forma”, pois já tinha visto os comentários acerca desse texto, mas fui pego de surpresa pelas anotações dos movimentos, de modo que decidi me imergir na leitura por acompanhá-la com um tabuleiro. Principalmente, do ponto de vista da literatura fiquei animado com essa abordagem que equilibra diálogo e jogo, cadenciando ambos com as catarses de debate, tabuleiro e conto. Com o gambito da dama, tenho a impressão de que foi um jogo preexistente aproveitado para esse conto, o que é completamente compreensível. Mas houve um lance que percebi ser repetido seguido de outros movimentos ora improváveis, ora impossíveis. Após outras leituras, tirarei um instante para reler o jogo e reproduzi-lo para confirmar se acabou se perdendo.

    Quanto ao uso literário dessa abordagem ousada, acredito que na maior parte do tempo a narração é fluida e muito bem equilibrada entre diálogos e movimentos, não se apoiando apenas nas anotações para descrever o jogo, mas lançando de outras construções criativas, como com a adjetivação das torres para diferenciá-las ou uma variedade de verbos para identificar e caracterizar o movimento de cada peça. Isso foi muito bem feito. Como abandonei o tabuleiro no final da abertura, sinto que parte do impacto deve ter se perdido, pois o clímax do xeque-mate não pôde ser sentido como o arremate do debate, das peças se movimentando sozinhas enquanto o enxadrista joga sem pânico e com atenção, indiferente à natureza maléfica do seu oponente (prenunciado no título, o que acho que poderia ter sido omitido com uma titulação mais sutil). Outra construção genial foi a dos peões, diferenciados entre o que ascende e que o descende, chamando à metáfora da descida de Pedro ao inferno do seu adversário enquanto o diabo mais uma vez não consegue ascender ao reino dos céus sem promover o peão e subsequentemente sendo derrotado na partida. Esse parágrafo me marcou e deverei guardá-lo comigo, a ser lembrado a cada partida que eu jogar. Uma pena que não consegui reproduzir o jogo até ali. Depois tentarei e, se não tiver sido erro meu e não houver como reproduzir, espero que compartilhe conosco o jogo original quando finalizado o prazo de leitura. Enfim, houve uns dois errinhos de revisão, com palavras engolidas ou sobrando, nada que distraísse da qualidade da narração e do diálogo.

    CONTEÚDO: Sendo a minha primeira leitura e comentário, estou apenas testando este formato de dividir minhas impressões em dois tópicos, então não sei se funcionou tão bem ter separado entre forma e conteúdo, pois sinto que acima acabei abordando um pouco o conteúdo. Mas bem, aqui serei mais crítico. Entendo mais de xadrez do que da bíblia. Lamentavelmente, sou um historiador que ainda não encontrou a chance de ler essa fonte histórica na íntegra, mas, mesmo assim, sou familiarizado com muitos dos mitos bíblicos como a queda de Lúcifer, Adão e Eva, a Torre de Babel, Moisés e o assassinato das crianças egípcias… então consegui assimilar e compreender os argumentos do diabo em seu debate com Pedro… mas, principalmente, consegui acompanhar porque tive a impressão de já ter visto esse debate e os mesmos argumentos em outras iterações. A conversa é muito bem construída e crível, com as personalidades e trejeitos dos personagens se tornando visíveis nas palavras que trocam e na postura ao longo da conversa. Então o texto é muito bem-sucedido tanto em dialogar como em caracterizar seus personagens… só perde por não ser lá tão criativo. Entretanto, de modo algum um conto ruim, é na verdade excelente, com seu peso metafórico e ambientação consistente, bem construída. 

    É FANFIC? Vi debaterem no grupo. Não conhecia “Paraíso Perdido”, mas me parece que o poema narra a queda de Lúcifer e, para mim, o que fez foi pegar esse personagem e colocá-lo na taverna a jogar xadrez e defender seu lado. Ou seja, sim, é fanfic. E uma ótima contribuição ao certame, meus parabéns! Quando possível, joguemos.

  9. Leo Jardim
    9 de junho de 2025
    Avatar de Leo Jardim

    📜 TRAMA (⭐⭐⭐▫▫)

    Pontos Fortes:

    • Metáfora do Xadrez – O jogo espelha o debate teológico, com lances estratégicos e “xeques” verbais.
    • Tensão Crescente – A chuva e o bar lotado criam claustrofobia, concentrando a atenção no duelo.
    • Diálogo Filosófico – O embate sobre o livre-arbítrio e a natureza do mal é bem articulado.

    Pontos de Melhoria:

    • Xadrez Inacessível – Movimentos descritos em notação algébrica não funcionam para leitores leigos, como eu (ex.: “Peão branco d4; preto, d5”).
    • Final Previsível – A vitória de Pedro e o pedido do guarda-chuva seguem um clichê do gênero (o “truque esperto contra o Diabo”).
    • Diálogo Monocromático – Falta contraposição de vozes; o Diabo domina a cena enquanto Pedro reage de forma linear.

    📝 TÉCNICA (⭐⭐⭐⭐▫)

    Excelência Narrativa:

    • Ritmo Preciso – A partida de xadrez e a chuva criam um timing cinematográfico.
    • Ambientação Rica – O bar nos anos 1940 (música, notícias de guerra) é vívido sem ser prolixo.
    • Efeitos Sonoros – Trovões e pandeiros reforçam o clima de dualidade (sagrado/profano).

    Sugestões:

    • Corrigir Erros“Nós sabemos o aquele deus é tomado de ira” → “Nós sabemos que aquele deus é tomado de ira”.
    • “Ora, como isso seria possível se sem o fruto do Éden, eles não * o certo do errado e a justiça da injustiça?” (faltou um “saberiam” ou algo parecido aqui)
    • Mostrar o Diabo – Em vez de dizer “Havia naquele desconhecido um certo mistério”, descrever gestos inquietantes (ex.: sombra que não acompanha seus movimentos).

    🎯 TEMA (⭐▫)

    • Fanfic? – A referência a O Paraíso Perdido é superficial; é mais uma referência que uma obra alternativa.
    • Tópicos Tratados:
      • Livre-arbítrio vs. Determinismo divino.
      • Por que um Deus bom permite o mal?

    💡 CRIATIVIDADE (⭐⭐▫)

    Destaques:

    • Xadrez como Guerra Espiritual – Cada lance corresponde a um ataque/defesa no debate (ex.: o “xeque-mate” final como vitória moral).
    • Objetos Simbólicos – O guarda-chuva preto (proteção inesperada) e o tabuleiro antigo (tradição vs. caos).

    Falta Originalidade:

    • Os argumentos do Diabo são os mesmos de obras como O Mestre e Margarida ou Fausto.

    🎭 IMPACTO (⭐⭐⭐▫▫)

    Por Que Não Arrebatou?

    • Excesso de Didatismo – O Diabo discursa como um professor de ateísmo, reduzindo a complexidade do tema.
    • Pedro Sem Profundidade – Sua fé é ingênua; faltou um momento de dúvida ou crescimento.

    O Que Funcionou:

    • Clímax Bem Construído – A chuva invadindo o bar e o xeque-mate simultâneo são imagens potentes.
    • Ironia Final – O pedido do guarda-chuva subverte expectativas, ainda que seja um tropo conhecido.
  10. cyro eduardo fernandes
    6 de junho de 2025
    Avatar de cyro eduardo fernandes

    Excelente conto! Quase peguei o tabuleiro para verificar se as jogadas procediam. Ótima técnica !

  11. danielreis1973
    5 de junho de 2025
    Avatar de danielreis1973

    Xadrez com o Diabo (Ele)

    Segue a minha análise, conforme método próprio e definido para este desafio:

    CONCEITO: um conto erudito e metafísico, que não explicita de onde vem sua inspiração de fanfic. Para mim, lembrou imediatamente O Sétimo Selo, filme de Bergman, onde a morte e o protagonista jogam xadrez. A conferir.  

    DESENVOLVIMENTO: o conto é ambientado nos anos 40, num bar, especificamente num enfrentamento enxadrístico cheio de descrições de movimentos das peças. Eu já joguei bastante xadrez por uma encarnação, então não tive paciência de ficar movimentando as peças enquanto lia. Mas tenho certeza que alguém fez isso… No quesito estranhamento, só me chamou atenção ao longo do diálogo quando fala: “Humanos não passam de autômatos nas mãos de um programador.” – acho que nos anos 40, programador não seria um termo usual, talvez “inventor”…

    RESULTADO: o conto traz reflexões filosóficas e teológicas profundas, extremamente cerebrais, porém não me senti tocado pelas emoções. Acho que o destaque ficou para o final, com uma conclusão muito simples e simbólica, ao mesmo tempo, pela escolha do guarda-chuva.

  12. Priscila Pereira
    5 de junho de 2025
    Avatar de Priscila Pereira

    Olá, Ele! Tudo bem?

    Não conheço Paraíso perdido então não sei se é uma boa fanfic ou não e não entendo nadinha de xadrez, então não prestei muita atenção aos movimentos narrados no conto.

    Como cristã, imaginei que não iria gostar do conto, e pode imaginar que quis refutar todas as falas do diabo, mas gostei bastante do conto. O final é impecável! O prota derrotar o diabo no jogo e ainda mangar com a cara dele pedindo apenas um guarda-chuva, foi muito satisfatório!

    O conto está muito bem escrito e articulado, notei apenas uma falha na revisão: “Exercendo mal? Ora, como isso seria possível se sem o fruto do Éden, eles não o certo do errado e a justiça da injustiça?” Está faltando uma palavra aí…

    Corajoso da sua parte fazer uma fanfic sobre uma obra tão difícil e antiga, que provavelmente ninguém do grupo conheça, e sobre esse tema, que a maioria não costuma abordar.

    Parabéns pelo conto e boa sorte no desafio!

    Até mais!

  13. Nipar
    4 de junho de 2025
    Avatar de Nipar

    Conto fantástico, muito bem desenvolvido. Colocou as questões filosóficas muito bem nos diálogos que também foram bastante críveis. O final foi a cereja do bolo. Ótimo. Fiquei um pouquinho triste quando li esse conto, está anos-luz acima dos meus escritos. Tenho apenas um ponto a observar. Conheço e gosto muito de xadrez, mas imagino que muitos leitores não terão esse conhecimento e me pergunto se haveria outra maneira de desenvolver a história sem a evolução tão crua do jogo. É uma questão para o autor analisar, não tenho a resposta para essa questão. Parabéns, esse é um conto que eu gostaria de ter escrito.

  14. Kelly Hatanaka
    22 de maio de 2025
    Avatar de Kelly Hatanaka

    Bom, não é fofo nem infantil, então é fanfic. Pensei, de início que fosse uma fanfic do Sétimo Selo, mas o oponente é o diabo e não a morte. Então, presumo que seja uma fanfic de Paraíso Perdido, que não li. Espero, então, fazer uma avaliação justa, mesmo desconhecendo a obra original.

    O conto é um embate entre Pedro, que é um fiel, e o diabo. Pensei se eu deveria pegar o tabuleiro e simular os movimentos, mas, sinceramente, fiquei com preguiça. E, ainda bem que não o fiz. Pô, um jogo que acaba com quatro rainhas me parece um jogo ruim. Fico imaginando o tabuleiro vazio e os reis desviando das rainhas. Ok, divago. Nem sou enxadrista para dizer algo assim com um mínimo de segurança.

    Pedro e o diabo discutem sobre a existência e a natureza de Deus durante uma partida de xadrez. No final, Pedro vence e pede um guarda-chuva para o capiroto.

    É um conto bem escrito e, se você de fato fez os movimentos do jogo, bem trabalhoso. Talvez a ideia fosse replicar, no tabuleiro a discussão dos personagens. Mas, ajudaria se houvesse dúvida. Pedro crê e sua fé é inabalável. O diabo, bom, é o diabo. Nenhum dos dois recua ou mostra hesitação. O que resulta numa narrativa plana. Temos dois personagens que saem da história do mesmo jeito que entraram.

    Novamente, talvez eu esteja fazendo uma leitura equivocada, por não ter lido a obra original. Algo pode estar escapando. Mas, dentro do que sei, estas são minhas impressões.

    Boa sorte no certame!

    Kelly

  15. MARIANA
    21 de maio de 2025
    Avatar de MARIANA

    História: Eu ainda não li Paraíso Perdido (falha minha), então vou encarar como uma fanfic de O Sétimo Selo, trocando a morte pela figura luciferiana. Apesar de não ser inovador, é um texto interessante, utilizando do xadrez e diálogo para tratar questões existenciais e religiosas. O final é anticlimático, o texto todo possui uma sisudez, ainda não sei o que achei. No mais, a figura do Pedro e o texto se passar durante a Guerra pedem desenvolvimento, fiquei querendo conhecer melhor este universo. 1,3/2

    Técnica: Eu entendi que as várias jogadas são para mostrar o ritmo frenético, mas eu gostaria que elas tivessem sido melhor pensadas (fica para o desafio do xadrez). De resto, a escrita é madura e elegante. 1,5/2

    Impacto: Eu entendi que o pedido é para ser algo simples e tal… Mas é que eu fiquei esperando algo diferente do Pedro. Enfim… 0,8/1

  16. andersondopradosilva
    17 de maio de 2025
    Avatar de andersondopradosilva

    Olá, autor.

    Gostei do seu conto.

    Confesso que tive dúvida se se trataria de uma fanfic. Talvez o certo fosse lhe atribuir uma nota zero, ou melhor, uma nota um (a menor permitida), por fuga do tema, mas, para não prejudicar sua participação no desafio, vou abstrair a avaliação do tema, mas apenas porque você mencionou “O paraíso perdido” (e o Google encontrou uma obra chamada “Paraíso perdido”) e porque seu texto está bem escrito e discute (ainda que sem nada muito novo) filosofia da religião.

    Julguei que “aquele lugar”, no segundo parágrafo, gera uma confusão entre o bar em si e a mesa isolada no canto. Em texto literário, eu prefiro evitar “aquele” e suas variações – aquele é lugar e tempo em que tudo acontece em literatura, um verdadeiro lugar comum literário (em outro momento, você usou “naquele”).

    Faltou um “o” em “fazer [o] próximo movimento”. Faltou um “que” em “nós sabemos o [que] aquele Deus”. Faltou um “o” em “irritado com [o] enclausuramento”.

    Enfim, gostei do seu conto, mas gostaria de ter gostado mais. Por isso, nota 4.

    Abraço.

  17. Luis Guilherme Banzi Florido
    16 de maio de 2025
    Avatar de Luis Guilherme Banzi Florido

    Boa tarde! (esse conto nao faz parte das minhas leituras obrigatorias)

    Contaço! Infelizmente pra voce, acho que a falta de tema vai te atrapalhar bastante na classificação. Se esse conto fosse enviado na ultima rodada…

    Pra mim, que to lendo despretensiosamente e sem necessidade de te dar nota (ja que tambem estou na B), foi puro prazer. É um otimo conto, onde a partida de xadrez na verdade é metaforica. É uma disputa de intelecto, fé, logica. Coisas que parecem contraditorias, mas se complementam na disputa. Pra ser sincero, entendo muito pouco de xadrez e de doutrina cristã, então provavelmente nao fui capaz de apreciar ainda mais o que se desenrolava. Por exemplo, nao me interessavam muito os movimentos das peças, entao sinceramente eu so pulava os trechos. Nao conseguia montar a imagem mentalmente. Mas pra quiem curte e manja de xadrez, deve ter sido um deleite.

    O texto é muito bem escrito, os personagens sao otimos, os dialogos sao sagazes e muito inteligentes. Voce escreve demais!

    Novamente, queria ver esse conto na ultima rodada. Voce seria forte candidato em qualquer das divisoes.

    Obrigado pela deliciosa leitura. Parabens e boa sorte!

  18. Afonso Luiz Pereira
    16 de maio de 2025
    Avatar de Afonso Luiz Pereira

    Oi. Gostei deste conto por sua leitura fluida e narrativa inteligente. Dá pra perceber o domínio técnico da escrita e o conhecimento filosófico que sustenta o enredo: em embate retórico e filosófico entre dois personagens: Pedro e um misterioso homem que logo se revela como uma figura demoníaca. A ambientação no bar “Taberna da Glória”, em plena Segunda Guerra Mundial, confere uma boa imersão.

    Achei a construção do texto muito sólida: a escrita é fluida, o vocabulário é bem escolhido, os diálogos têm ritmo e profundidade. A presença de referências literárias e filosóficas dá respaldo à trama deste desafio de ideias, principalmente aos que apreciam esse tipo de proposta.

    No entanto, duas coisas me incomodaram em termos de avaliação: 1 – O uso extensivo, e excessivo, dos lances de xadrez. Embora o jogo funcione como metáfora a fim de ilustrar a tensão do embate entre as ideias do bem e do mal, achei que quebrou um pouco o ritmo da leitura. Em vez de reforçar a tensão, principalmente para quem não conhece o jogo, esses lances acabam por obscurecer o que mais importa: a conversa.

    2: Posso estar equivocado, mas, a meu ver, não há clareza quanto à obra que está sendo adaptada na condição de fanfic. A referência mais explícita é a “O Paraíso Perdido”, mas o conto não configura uma fanfic clássica dessa obra (no sentido de continuar, subverter ou explorar diretamente sua narrativa e personagens). O mesmo vale para a Bíblia ou outras fontes mitológicas que servem de pano de fundo, pois nenhuma é retomada como “universo-base” de maneira típica de fanfics. Dá até a impressão que o autor se confundiu com um tema futuro: Xadrez e derivados (o jogo em si e/ou cavalo(s), peões, bispo(s), rei(s), rainha(s), torre(s), etc.)

    Apesar disso, trata-se de um texto bem estruturado, com ideias bem desenvolvidas e um desfecho espirituoso que ironiza a grandiosidade da proposta do diabo: “Quero um guarda-chuva”. Fiquei até com a impressão que Pedro era o próprio Deus disfarçado jogando (desculpe o trocadilho) um “migué” pra cima do capeta. Boa Leitura.

  19. bdomanoski
    9 de maio de 2025
    Avatar de bdomanoski

    Gostei, bem divertido!

    Embora o jogo tenha se arrastado um pouco. Valeu a pena pelo final!

  20. Antonio Stegues Batista
    9 de maio de 2025
    Avatar de Antonio Stegues Batista

    Sinopse: Para fugir da tempestade, Pedro se refugia numa taberna. Um homem estranho propões jogar xadrez com ele, oferecendo fortuna e poder em troca da alma dele, se perder. A clássica história do emissário do inferno oferecendo algo em troca da alma do sujeito. Tudo começou com Fausto. O conto está bem escrito. Como eu não sei jogar xadrez, não entendi aquela descrição do jogo. Quem joga, entenderá muito bem, é claro. Não entendi também, qual o tema do conto, como não é infantil, só pode ser fanfic, mas não sei a que, ou qual obra, ou personagem é baseado. Não há nenhuma referência no texto. O tema xadrez é o último tema da Liga que vai ocorrer do dia 17/10 a 01/11/25. De qualquer forma, parabéns por ter participado e boa sorte.

  21. toniluismc
    9 de maio de 2025
    Avatar de toniluismc

    Comentário Crítico do Conto “Xadrez com o Diabo” (Ele)
    Avaliação por critério: Técnica · Criatividade · Impacto

    🛠 TÉCNICA: UM COMBATE FILOSÓFICO EM ALTO ESTILO

    Este conto é uma aula de domínio técnico. De forma exemplar, equilibra:

    • Construção de clima: o bar boêmio em meio à Segunda Guerra, com trovões e pandeiros, é uma abertura cinematográfica. A ambientação é precisa, e o cenário dialoga simbolicamente com o conflito interno do protagonista.
    • Uso do xadrez como estrutura narrativa: o jogo serve de espinha dorsal para o embate dialético entre fé e ceticismo. Os lances reais intercalados com a conversa revelam sofisticação narrativa e domínio da metáfora dramática.
    • Diálogo filosófico envolvente: a escrita alterna entre fluidez e densidade com destreza. Conduz com precisão o leitor por temas complexos (teodiceia, livre-arbítrio, criação, mal, queda e redenção), sem soar artificial ou pedante.

    Há um equilíbrio cuidadoso entre ação, reflexão e linguagem — com vocabulário elevado mas funcional, e ritmo que sustenta um texto longo com tensão constante.

    🎨 CRIATIVIDADE: MILTON, DANTE E BORGES TOMANDO UM CONHAQUE

    A proposta não é nova: um embate com o Diabo por meio de um jogo ou debate é uma imagem clássica (cf. Goethe, Milton, O Sétimo Selo, até Death Note). Mas aqui, o conto renova o clichê com:

    • Elegância teológica: o Diabo (embora nunca nomeado diretamente) argumenta como um teólogo cínico, culto, com domínio da Bíblia, de Milton e da metafísica. Isso cria uma tensão literária rara, quase joyceana.
    • Pedro não é um herói caricato: ele é inteligente, firme em sua fé, mas humano e contido. E o final — o pedido inesperado de um guarda-chuva — é uma inversão irônica, sutil e genial. O Diabo oferece o mundo, e o rapaz pede apenas abrigo da chuva.
    • As múltiplas camadas: o conto é, simultaneamente, sobre fé, razão, literatura, vaidade intelectual, guerra e escolhas morais. Mas nunca perde a clareza do que está em jogo: a alma como metáfora da convicção pessoal.

    📌 IMPACTO: UM XEQUE-MATE PARA A VAIDADE HUMANA

    O conto deixa o leitor com uma impressão de reverência e espanto. É maduro, ambicioso e não entrega respostas fáceis. Ele ressoa mesmo após a leitura:

    • O xeque-mate é menos o fim do jogo do que a vitória do silêncio sobre o espetáculo. Pedro vence o Diabo não apenas no xadrez, mas na sua recusa ao desejo grandioso. Pede um guarda-chuva. Isso é de uma beleza anticlimática sutil, à la Chekhov ou Carver.
    • O diálogo denso pode afastar alguns leitores casuais, mas é um deleite para leitores experientes e amantes de filosofia, literatura clássica e simbolismo cristão.
    • A obra parece escrita por alguém que conhece profundamente o terreno que pisa — teológico, histórico, narrativo e simbólico.

    🧾 CONSIDERAÇÕES FINAIS

    “Xadrez com o Diabo” é um conto poderoso, literariamente exigente e brilhantemente executado. Um daqueles raros textos em que a forma e o conteúdo se elevam mutuamente. O autor domina a linguagem, conhece as referências que manipula, e entrega uma narrativa que homenageia o cânone sem imitá-lo.

    Um verdadeiro duelo entre luz e trevas — com Pedro vencendo não pela força ou pela esperteza, mas por manter a simplicidade diante do infinito.

  22. Raphael Polimanti
    7 de maio de 2025
    Avatar de Raphael Polimanti

    Bom conto. Como aficionado do xadrez, tive vontade sincera de ver qual jogo era esse, se é um autoral ou algum histórico refeito ou somente um ficcional, mas no fim das contas não importa.

    É uma clássica partida contra o diabo, coisa que já vimos em Fausto de Goethe e o Sétimo Selo de Ingmar Bergman. Mas com uma pitada ímpar de humor britânico, quando faz do “brincar” com o diabo uma coisa tão leve como apostar jujubas com amigos em um jogo de bolas de gude.

    Porque, talvez, quando se ganha do diabo, a vitória seja sair ileso e feliz.

  23. Thiago Amaral
    6 de maio de 2025
    Avatar de Thiago Amaral

    Bom conto. Um debate filosófico acerca da moralidade de Deus, em meio a um jogo de xadrez. E parece que o jogo realmente faz sentido kk mas confesso que não acompanhei, apesar de admirar a dedicação ao fazer isso.

    Pelo menos, posso dizer que o debate é interessante, por possuir argumentos originais e o xeque-mate por parte de Pedro realmente fazer sentido como tacada final. Além disso, parabéns por conseguir descrever o jogo sem parecer cansativo.

    Agora, o problema é caracterizar como fanfic! Porque provavelmente se intencionava fazer sobre O Sétimo Selo, mas na minha opinião apenas o elemento do jogo de xadrez foi empregado, além das questões existenciais. Pra mim, não vale como uso daquele universo. Se da Bíblia ou do Milton então, menos ainda! Mesmo assim, tudo bem, pois vou dar nota pra série B. Então pode ficar tranquilo kkk.

    concluindo, achei o conto bom mas, se fosse dar nota, tiraria pontos por estar um pouco longe do tema.

    Obrigado e boa sorte no desafio.

  24. Givago Domingues Thimoti
    5 de maio de 2025
    Avatar de Givago Domingues Thimoti

    Xadrez com o Diabo:

    Bom dia, boa tarde, boa noite! Como não tem comentários abertos, desejo que tenha sido um desafio proveitoso e que, ao final, você possa tirar ensinamentos e contribuições para a sua escrita. Quanto ao método, escolhi 4 critérios, que avaliei de 1 a 5 (com casas decimais). Além disso, para facilitar a conta, também avaliei a “adequação ao tema”; se for perceptível, a nota para o critério é 5. Caso contrário, 1. A nota final será dada por média aritmética simples entre os 5. No mais, espero que a minha avaliação/ meu comentário contribua para você de alguma forma.

    Boa sorte no desafio!

    Critérios de avaliação:

    • Resumo: 

    Xadrez com o Diabo é uma fanfic baseada na obra Paraíso Perdido, poema épico que narra a derrocada de Satanás e seus anjos caídos. Aqui, Pedro e o Mochila de Criança (o ardiloso e carismático Satanás do Paraíso Perdido) travam uma batalha por meio do xadrez, enquanto o Coisa Ruim tenta derrotar tanta a fé católica quanto a habilidade como enxadrista (é assim que fala?).

    Como o conto está adequado ao tema, ganhou 5 como adequação ao tema.

    • Pontos positivos e negativos: 

    Positivo: conto muito bem pensado e elaborado (que poderia muito bem ter ido para o desafio de xadrez). Contos que demonstram o esmero do escritor/da escritora por trás da história sempre me encantam, de alguma forma. Creio que isso apareceu nesse conto. Desde a imagem, passando pela ótima construção de ambiente e personagens até a descrição dos movimentos do xadrez… Muito bom!

    Negativo: De negativo, eu diria que por certos momentos, o foco no xadrez talvez afaste o leitor, especialmente se for um leitor que não gosta de xadrez ou tenha pouca afinidade. Só quando chegou na parte de Pedro anunciando os Xeques, que eu entendi quem estava ganhando. Ainda assim, não foi algo que levei em consideração na minha avaliação. 

    • Correção gramatical – Texto bem (mau) revisado, com poucos (muitos) erros gramaticais: 5

    Bom, pessoalmente eu não percebi quaisquer erros gramaticais. Escrita competente!

    • Estilo de escrita – Avaliação do ritmo, precisão vocabular e eficácia do estilo narrativo: 4,5

    Bom, de forma bastante sucinta, eu senti que, por vezes, o enfoque nos movimentos das peças de xadrez travou a leitura. Em que pese traga para o conto uma peculiar característica que o torna relativamente único, acho que ele carrega para um conto uma dose técnica desnecessária, que mais afasta o leitor do que ajuda.

    Comparativamente, é como se ao descrever os acordes de um refrão de uma música, eu optasse por transcrever as notas e suas variações. Para quem é da música, é o suprassumo da inserção. Para quem não é, afasta.

    Ainda bem que, dentro do conto, isso não atrapalhou muito.

    Esse conto tem um quê positivo de único, e isso é sempre bem-vindo e desejável.

    • Estrutura e coesão do conto – Organização do conto, fluidez entre as partes e clareza da construção narrativa: 4,5

    O conto se desenvolve muito bem por boa parte de seu escopo, harmonizando bem a batalha lógica pela fé e o xadrez. Pessoalmente, eu senti que o conto, durante o clímax (Satanás encurralado no tabuleiro e na falta de réplicas) tem a sua leitura um pouco travada, atrapalhada pelas informações de xadrez e do que acontecia ao redor. Nesse trecho, seria interessante cuidar um pouco melhor.

    • Impacto pessoal – capacidade de envolver o leitor e gerar uma experiência memorável: 5

    Bom, eu gostei bastante do conto. Muito mais pelo que ele instiga no leitor naquele pós-conto do que por ser aquela técnica arrebatadora ou uma história intrigante/hollywoodiana. No jogo entre Pedro e Satanás, tem um subtexto nas entrelinhas do tabuleiro que me cativou bastante.

    O que motiva Satanás? A construção do personagem por meio dos diálogos demonstra bem a natureza e o propósito deste ser: “A revolta de Satanás contra o seu criador decorre da sua vontade de não se subjugar a Deus e ao seu Filho, alegando que os anjos são “auto gerados, auto criados,”[4] e, assim, negando a autoridade de Deus sobre eles, como seu criador. Satanás é profundamente arrogante, embora poderoso e carismático. O poder persuasivo de Satanás é evidente ao longo do livro; não só é astuto e enganador(…) = fonte Wikipedia. Enfim, dentro deste conto, Satanás busca não somente derrubar Pedro no xadrez, mas sim derrotar sua fé.

    Pedro, por outro lado, pode fazer referência ao primeiro Papa e um dos primeiros apóstolos de Jesus Cristo. É reconhecido por seu amor e devoção a Deus.

    Ou seja, aqui o xadrez é meramente simbólico, vemos o embate entre Satanás e um dos mais fiéis seguidores de Deus. Interessantíssimo!

    Pedro não defende ativamente seu Deus; pelo contrário, foca na partida de Xadrez, deixando o Satanás focado em ludibriá-lo com as palavras. 

    O que, de certa forma, é a representação da fé. Seguir firme em seu propósito, sem se desviar para a tentação dos pecados.

    5, por ter abordado a fé uma maneira lúdica (através de uma simbólica batalha no tabuleiro de xadrez), filosófica sem cair numa pregação!

    Nota final: 4,8

  25. Marco Saraiva
    4 de maio de 2025
    Avatar de Marco Saraiva

    O título não deixa espaço para dúvidas, e o conto deixa bem claro quem é o homem misterioso, convencido e insolente, que joga xadrez com o personagem principal. Não é a toa que o personagem se chama Pedro, a pedra fundamental da igreja católica (não coincidentemente também, Pedro neste conto é católico). Ele está sentado e isolado na taverna, não se misturando com os prazeres carnais, evitando a bebida e a devassidão, todas as pequenas nuances que jogam o leitor a vê-lo como o oposto do seu adversário no diálogo que segue.

    Curiosamente, ao invés de uma bíblia nas mãos, Pedro carrega consigo O Paraíso Perdido, o poema de Milton onde a história é contada do ponto de vista do diabo. Isso, unido com o fato de que Pedro é amigo de um reverendo da igreja Anglicana de Londres, revela um personagem aberto a conhecer outras opiniões, criticar argumentos e ideias ao invés de pessoas. Com isso acho que você estabeleceu uma boa base para o personagem engajar com o jogo de xadrez com o diabo: afinal, esta é a máxima demonstração da sua abertura a todo tipo de crítica: conversar com o próprio Inimigo, aquele a quem ele mais deveria desprezar, com a mente aberta e bons argumentos ao invés de um discurso religioso ensandecido.

    O diálogo entre os dois – a parte principal do conto – é carregado com as questões fundamentais da fé cristã. Talvez, de certo ponto de vista, seja o embate que Pedro teve consigo mesmo enquanto líder da igreja no primeiro século. Não vou comentar todo o diálogo aqui, falarei apenas duas coisas sobre ele:

    • Achei muito bem escrito, muito bem conduzido, e em geral, magistral. Ambos os personagens têm personalidade e são fortes e maduros para conduzirem um diálogo interessante ao invés de apenas uma série de falas desconexas, como acontece muitas vezes.
    • A conclusão do diálogo, para fim, foi absurdamente bem feita. Esta ideia de que Pedro admite a falta de liberdade da própria fé foi incrível! E também amarra a referência ao Paraíso Perdido. Basicamente, com uma simples frase (“As almas insubmissas se consolam com a liberdade”) ele admite que a sua fé não se trata de liberdade, mas sim de uma escravidão voluntária a um deus que ele considera justo e bondoso, e também ao fato de que, se você dá valor a liberdade mais do que a vida eterna, como o Diabo em Paraíso Perdido, então você pode tê-la! Ao custo de não viver para sempre. Gosto desta dualidade. É quase como se Pedro admitisse que a fé cristã não se trata de justiça, mas sim de submissão.

    O conto fecha muito bem com a escolha de Pedro por um guarda-chuva. Não só ele imita Jesus após as suas tentações no deserto – tendo rejeitado tudo o que o diabo oferece – mas também demonstra que, ao invés de tentar punir o seu inimigo, tenta mudá-lo pelo exemplo, pela humildade. Além disso, o guarda-chuva tem um valor simbólico (apesar de eu aqui já estar me excedendo um pouco, eu acho, hahaha): durante toda a conversa a tempestade lá fora se intensifica cada vez mais. A tempestade em muitas histórias é o símbolo das tribulações. Quando no horizonte, são o presságio de tempos ruins. Quando chegam, são o sinal de que o personagem encontra-se em maus lençóis. Aqui, a tempestade me parece demonstrar as tribulações do mundo ao redor de Pedro. A Primeira Guerra Mundial se desenrolando lá fora, e toda a fraqueza espiritual que as consequências dela podem trazer a homens de espiritualidade forte, como Pedro. Ele pede o guarda-chuva como se ele pedisse a ajuda de seu deus para proteção: proteja-o das tribulações do mundo para que mantenha o foco no que realmente importa. Não deixa de ser irônico, porém, que quem dá a ele esta proteção é o próprio diabo.

    Enfim, um conto muito bem escrito, com uma simbologia religiosa densa e bem pensada. Gostei demais.

    NOTAS

    • Não gostei das referências ao xadrez. Para mim, são apenas letras e números. Eu não conheço o jogo suficientemente bem para acompanhar as jogadas na minha cabeça como acompanharia um conhecedor do esporte, e não me dei ao trabalho de tentar simular um jogo para ter o visual mais claro. Acho que a grande maioria dos leitores deste conto farão o mesmo que eu: simplesmente pular todas as referências às jogadas e focar no diálogo.
    • Houve uma tentativa de acompanhar o bate-e-volta do diálogo com as jogadas do xadrez, mas acho que o sincronismo não funcionou muito bem. Por vezes Pedro declarava “xeque” quando o diabo era quem estava com o melhor argumento, e vice-versa.
    • Não vi o tema aqui, e isso, INFELIZMENTE (eu queria MUITO dar nota máxima para este conto), vai tirar pontos do conto. Não vi fanfic nenhuma aqui, e o conto obviamente não é chubesco. Tentei ver o conto como uma fanfic de Paraíso Perdido mas não vi nada que me convencesse. No máximo enxerguei um paralelo com “Os Sete Selos”, mas nem de longe isso aqui é uma fanfic do filme clássico. Posso estar perdendo alguma coisa… mas com as informações que me foram dadas, não consegui identificar nenhuma fanfic a nenhuma obra. Eu geralmente levo a adequação ao tema com extrema seriedade nos desafios do EC, então infelizmente este conto vai perder muitos pontos por isso, o que é uma pena. Será que você não mandou o conto errado? Não era o conto de xadrez que está planejado para o final do ano? 🤔

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Publicado às 3 de maio de 2025 por em Liga 2025 - 2B, Liga 2025 - Rodada 2 e marcado .