EntreContos

Detox Literário.

Sobre Merecer um Beijo (Mariana Carolo)

William acordou com cinco rostos enrugados o observando. Um deles era o seu pai, os outros quatro eram os avaliadores de Harvard: um psicólogo, um neurologista, um linguista e um historiador. Aqueles homens o encaravam como se estivessem diante de um alienígena, algum animal extinto cuja presença fosse impensável no alvorecer do século XX. Boris, o pai, rompeu o silêncio:

— Filho, estes senhores estão aqui para conhecê-lo. Levante-se, arrume-se e nos encontramos na sala.

— B-om, b-om dia…

O menino ainda não tinha tamanho ou coragem para o desacato. Por isso, ajeitou o seu melhor macacão de veludo para iniciar a apresentação.

Tentando esconder o tremor das mãos, foi decidido a dar o melhor de si. Orgulharia a todos:

— Olá, meu nome é William James Sidis, tenho seis anos de idade e o meu poeta favorito é Lord Byron.

Repetiu a mesma frase em francês, alemão, russo e armênio. Em seguida, recitou de cabeça “Darkness” nas respectivas línguas. Dissertou sobre os corpos quadridimensionais, Darwin e as suas ideias sobre a polêmica psicanálise freudiana. Também mostrou a fórmula que inventou para especificar o dia da semana em que ocorreu qualquer evento histórico:

— Luís XIV e Maria Teresa da Espanha casaram-se no dia nove de junho de 1660 o que, pelos meus cálculos, foi em uma quarta-feira.

Durante os tópicos anteriores, os acadêmicos apenas anotavam silenciosamente em suas cadernetas. Entretanto, quando Manfred, o historiador, confirmou a informação, o grupo deixou escapar um resmungo coletivo de aprovação. O pai, parado em frente ao espelho da sala, projetava-se como um gigante duplo e o seu sorriso foi um alívio para o pequeno. Quando considerou o suficiente, mandou que o rapazinho voltasse para o quarto e descansasse. Ele era a prova viva de que a sua pedagogia funcionava.

O garoto obedeceu e, ao se ver sozinho, respirou. Sentou em sua cama e lembrou do que mais gostava no mundo: trens. Admirava o aço dos veículos, queria ser feito dele. Mas a sua matéria era carne e sangue, que apodrecem quando morrem. Então, só lhe restava calcular quantas rodas e assentos havia em cada um daqueles titãs. Rememorou a cor da fumaça que as máquinas soltavam e as rotas que elas seguiam. Sua mente finalmente esvaziava, mas a sombra da mãe materializou-se na porta do seu quarto. Três da tarde, hora da leitura.

E ele virou uma página e completou nove anos. Foi aceito em Harvard, mas devia esperar até os onze para se matricular. Seria o membro mais novo da instituição desde 1674 e o mínimo para um aluno de nível superior era ter uma idade de dois dígitos. Para comemorar a admissão, os seus pais o levaram para uma viagem ferroviária de sua escolha. Sarah, a mãe, parecia particularmente orgulhosa das cabeças que se contorciam para admirar o primogênito no trajeto até a estação:

— Me dedicar a você foi a melhor escolha da minha vida, William.

A massa o reconhecia dos jornais, que noticiavam cada novidade do prodígio da América. A mulher e o marido se olhavam e sorriam. Cúmplices, pareciam inflar diante da multidão e seus murmúrios. Já a criança não. Cruzava os braços e encolhia os ombros, em uma tentativa infantil de ficar invisível para os curiosos. Aqueles olhos pareciam atravessá-lo, sentia-se invadido. Com as bochechas ardendo pelas lágrimas que caíam de vergonha, William começou a calcular quanto faltava para chegar até a área de embarque. 12352 passos, 12351, 12350…

O tempo passa da mesma maneira para os moribundos e os pequeninos. Quando o garoto percebeu, o momento da universidade estava próximo. Junto com a entrada na educação superior, a puberdade começava a se insinuar em seu corpo. Sidis viu espinhas aparecerem em sua testa e sentia como se tivesse cada vez menos controle sobre os seus membros, que pareciam crescer de maneira desparelha e o faziam desajeitado. Compreendia os processos fisiológicos do amadurecimento, mas atravessá-los era um desafio diferente.

No início do semestre, acreditou que tinha feito amizade com o rapaz que designaram como o seu guia. Abriu a sua intimidade, contando as suas expectativas e segredos. Ficou entusiasmado, assim era ter um amigo? O deslize de ter lhe confidenciado que nunca havia beijado uma garota fez com que passasse a receber piadas em formas de cartas de amor constantemente. O colega nunca mais falou com William, que passou a aceitar cada papel como uma bofetada de vergonha. Não cometeria mais o erro de confiar no restante do bando de estudantes.

O que não impediu que as suas relações em Harvard fossem difíceis. Ali escutou, pela primeira vez, que era uma aberração. O prodígio vacilou o passo desengonçado quando o xingaram, deixando cair a pasta que carregava no chão. Os papéis de dentro dela voaram, como se quisessem se afastar naquele momento. O seu rosto corou, baixou a cabeça e juntou as folhas que conseguiu. Não passaria pelo ridículo de correr, nem podia devolver a ofensa. Era realmente uma falha na composição da normalidade e isso irritava os outros, por mais que tentasse ser amigável. Consciente de quem era, seguiu para a palestra de física avançada com toda a dignidade que conseguiu reunir dentro de si.

Aberração foi só o começo. O termo foi seguido de esquisito, horroroso, puxa-saco, filhinho de papai, cabeçudo, anormal, maricas, fedorento, presença desagradável, que o seu lugar era no zoológico… Eram o que gritavam para ele todos os dias, gente que não conhecia e os seus companheiros de classe também. Isso quando não o cercavam para assustá-lo, com a promessa de uma surra que viria. Para escapar, memorizou todos os atalhos e passagens do campus. Caminhava por essas rotas alternativas com os punhos fechados, lágrimas nos olhos e pensamentos que tinha vergonha de verbalizar.

Depois repreendia a si mesmo, não podia se dar ao luxo de se importar com essas infantilidades. Ser um gênio era ter muito trabalho a fazer e pouco tempo para desperdiçar com bobagens. Por isso, desfilava a excelência de um discente silencioso, de modos exemplares e aplicado no projeto de melhorar a Teoria da Relatividade. Certa noite, imaginou-se jogando bola de gude, pisando em poças de lama, fingindo jogos de guerras inexistentes com outros da sua idade. O quanto aquilo pareceu inacessível fez crescer uma bola de angústia em sua garganta. Queria se acalmar, começou a calcular quantos bilhetes de trens eram emitidos por dia no estado.

Se alguém lhe perguntasse o que realmente desejava, Sidis responderia que aspirava por tranquilidade. Todavia, além da perseguição dos outros universitários, a fama era um tormento em sua vida, não importava o quanto ele fugisse dela. No ano seguinte de sua admissão, foi escolhido como a mais jovem atração de um evento do Harvard Mathematical Club. Boris e Sarah acionaram os seus contatos para que todos soubessem e fossem prestigiar o primogênito de que tanto se orgulhavam. Quando subiu ao palco, William enjoou diante de tanta gente. O salão estava abarrotado de repórteres, representantes da Ivy League e, claro, os seus algozes cotidianos. O tropeço em seus próprios pés foi imperceptível diante da sua fala de horas sobre a quarta dimensão.

Escolheu o tema por considerar inspirador e fixou o seu olhar em um ponto cego na parede, o que ajudou um pouco com a timidez. Contudo, quando terminou, os aplausos o deixaram tonto. Tinha certeza que o público estava rindo, mesmo que, no tablado, não conseguisse distinguir os rostos. O Dr. Comstock, um dos chefes do MIT, ficou eufórico com a explanação. Gritou para a imprensa que William James Sidis seria o futuro da matemática, o que fez o vômito subir para a boca do homenageado. Enquanto golfava ali mesmo, em suas calças ainda curtas, sabia que essa seria a hora que os fotógrafos gastariam as suas placas. Uma parte sua lamentava que a cena ficaria registrada para sempre.

Certa manhã, William cedeu ao enorme peso invisível em seus ombros e caiu, não levantando no horário habitual. Aos berros, permaneceu deitado e reclamando que não aguentava mais o barulho do próprio cérebro. Boris deparou-se com o adolescente se debatendo, o olhar vidrado para o nada. Para conter o filho, o abraçou e começou a cantar canções de ninar da sua saudosa Ucrânia. Naquele dia o adolescente pôde faltar à aula. No lugar, o psiquiatra tratou de procurar o conselho de Harvard para que a vida acadêmica do seu rebento não fosse prejudicada. Quando obteve a confirmação de que as “férias” não seriam um problema, o internou no sanatório em que trabalhava e ele mesmo usou todos os métodos disponíveis para cuidar do seu rapazinho. Repetia para si que os eletrochoques doíam ainda mais nele. Era também a sua carne na maca, os sonhos da sua criança eram os seus sonhos.

O tratamento funcionou, William se graduou com distinção aos dezesseis. Enquanto os outros formandos foram comemorar em bailes, o jovem teve de enfrentar uma horda de jornalistas que o aguardava após a colação de grau:

— Sidis, uma declaração, por favor.

— Eu não entendo o que vocês tanto querem comigo. É tão difícil me deixar sozinho, vivendo uma vida tranquila? Eu odeio multidões e…

Sarah pigarreou e o puxou gentilmente pelo braço, para que fosse até o seu pai e um grupo de pesquisadores da área do comportamento infantil que lhe aguardavam. E ela mesma passou a falar com a imprensa, sobre como estava realizada com as conquistas da sua criação.

O que fazer se qualquer alternativa diferente da perfeição equivale ao fracasso? A matriarca era uma mulher enérgica, que não devia nada ao marido em matéria de intelecto, diplomou-se médica na época que muitas damas não ousavam aprender a ler. Quando se viu grávida, no entanto, temeu. Passou por sua cabeça interromper a gestação, mas junto com o seu “Boria” decidiu manter o bebê. Como se tivessem tido uma revelação, os dois desenvolveram a crença de que aquele feto escreveria o sobrenome Sidis no mural da eternidade científica. E agora, que a sua pequena semente era um educado cavalheiro de olhos claros e vasta cultura, não iria deixar que nada a tirasse dos trilhos.

O filho pediu para trabalhar com a matemática, área que lhe fazia feliz. O que foi permitido, desde que ele aceitasse a oferta para ensinar trigonometria no Instituto Rice. Seria a primeira vez que o rapaz não dormiria em seu quarto, mas ele não estava com medo de abandonar a sua cama. No instante em que William olhou a paisagem em movimento pela janela do trem, animou-se com a fantasia de que se dirigia para uma nova e excitante vida. Todavia, ao desembarcar em Houston, o chefe do seu novo emprego o esperava com um fotógrafo da Time do lado. James ficou consternado ao entender que queriam que ele seguisse usando a máscara de prodígio. Um rosto cada vez menor, que não lhe servia mais. O incomodava.

Além disso, sentia-se diminuído por ser mais novo e franzino que seus alunos. Também não possuía a firmeza necessária para comandar uma classe com autoridade. Como gritar por silêncio, se a sua voz insistia em fugir quando precisava? Tinha medo de gaguejar e acabava não conseguindo dizer nenhuma palavra. Uma tarde antes de completar cinco meses de docência, chegou em sua sala e encontrou a lousa suja de tomates e um bilhete pregado na parede: “melhor que todos aprovem, esquisitinho”. Mas o pior de tudo foi perceber que rasgaram todos os seus papéis pessoais. Anos de trabalho colocados no lixo por imbecis que não conseguiam sequer realizar operações básicas. Quis gritar, socar alguém, só não fez. No lugar, saiu sem pedir demissão.

Decidiu que se manteria longe de todos. A distância o salvaria da maldade das pessoas e das expectativas que o sugavam. Isso sem mencionar as perguntas tolas que não queria responder, as fotos constrangedoras que não queria tirar… Para acalmar a sua família, disse que voltaria a Harvard para estudar advocacia e que residiria nas acomodações do campus. Apenas a parte do novo curso era verdade. Ao invés dos confortáveis dormitórios da instituição, ele procurou uma modesta pensão no centro da cidade.

A barba começava a sombrear o rosto de William. Estava se tornando adulto e, mesmo não lutando, a guerra em curso tomava os seus pensamentos. Nunca havia ocorrido algo tão cruel antes, o que o assustava. Sonhava com frequência que caminhava entre as trincheiras e via soldados agonizando. Tentava ajudá-los, mas não conseguia. Quando chegava perto, por mais que tentasse resgatá-los, a lama que os cobria prendia os corpos deles na terra. Olhava para os lados e via um aterrador campo de recrutas mortos. Acordava coberto de suor, uma vez chegou a urinar na cama.

Logo, o envolvimento com o movimento pacifista foi, antes de tudo, uma reação aos seus pesadelos. Passou a devorar a teoria de diversos cientistas políticos, mas queria mais. Agir, pela primeira vez. Começou a pensar na organização de uma grande passeata. Chamaria os socialistas e os anarquistas. Apreciava a ideia das bandeiras vermelhas tremulando, representando o sangue comum da humanidade. Iria redigir folhetos de conscientização e criar palavras de ordem contra o conflito. Quando conversou com as lideranças do seu grupo de ação, descobriu que podia ser assertivo e até mesmo sedutor. O evento se tornaria realidade em uma semana e Sidis ficou eufórico.

No dia da passeata, o céu gritava azul. Na frente, as lideranças do grupo e o gênio de Harvard escondido na terceira fileira. Não por medo, sim por conforto. O seu passo não vacilou em momento nenhum durante o ato, nem a sua voz falhou nas palavras de ordem. O que ele não esperava é que seu coração fosse roubado, quando se deparou com a mulher mais bonita do mundo na rua. Ela estava parada em uma esquina, segurava duas malas e aparentava confusão com a multidão da cidade. Porém, quando os olhos dela se encontraram com os de Sidis, ambos sorriram. William sentiu como se tivesse visitado mil universos naquele mesmo segundo.

A moça exalava decisão e, inesperadamente, ela foi em direção ao protesto e passou a seguir ao lado de William. Tentou conversar, mas o seu rosto anguloso de olhos rasgados e cabelos negros eram a moldura de uma língua desconhecida para ele. Achou graça de não entender o que ela estava dizendo e ambos começaram a rir, não precisavam de palavras. A eletricidade dava conta de tudo. Mãos são estruturas complexas, feitas de ossos, músculos, nervos, tendões, vasos sanguíneos, ligamentos e pele. Porém, quando aquela pequena mão feminina agarrou a sua, com uma força ardente, Sidis não pensou. Não existia mais astronomia, matemática, direito, anatomia. Só ela, então, ali mesmo, devolveu o gesto com um beijo. O primeiro da sua existência, na rua, com uma desconhecida que seria aquela que amaria para sempre. O seu sangue pulsava felicidade.

Porém, o corpo de guardas da polícia de Nova York estava disposto a utilizar de quanta força fosse necessário para dissipar o protesto contra a guerra. Surgiram na direção contrária do grupo como uma tempestade. O casal foi separado por eles, não por serem importantes, aconteceu com todo mundo ali. William foi cercado por cavalos e cassetetes e a sua companheira foi carregada por dois homens uniformizados enquanto ele ainda tentava se levantar. O último registro de sua retina foi ela sendo arrastada, a sua mão no ar o chamando. Sidis passou dias percorrendo espaços de imigrantes e delegacias, onde riam dele quando afirmava não saber o nome dela. Voltou para pensão, queria desaparecer também. Deitou e, sem ao menos tirar os sapatos, começou a pensar.

Esse período foi a preparação para o grande projeto de sua existência, como repetia para si mesmo. Primeiro de tudo, livrou-se do peso milenar de Harvard. Depois, tornou-se chapeiro no Carmy’s Burguer e passou a ignorar os seus pais. Adorava trabalhar na lanchonete, pois passava o tempo olhando para a paisagem onde conheceu a fada que iluminou o seu caminho. Passava as longas madrugadas sem precisar dormir. Escrevia sobre trens e o que mais quisesse e tentava não esquecer dos traços da sua amada. Um dia ela voltaria e, enquanto ele a esperava, vivia como queria. Estava em paz.



Quem foi William Sidis? https://aventurasnahistoria.com.br/noticias/reportagem/reclusao-voto-de-castidade-e-ateismo-william-james-sidis-considerado-pessoa-mais-inteligente-da-historia.phtml

Sobre Fabio Baptista

Avatar de Desconhecido

25 comentários em “Sobre Merecer um Beijo (Mariana Carolo)

  1. Rodrigo Ortiz Vinholo
    14 de junho de 2025
    Avatar de Rodrigo Ortiz Vinholo

    Muito interessante! A escolha do personagem foi inesperada, e seus dilemas e problemas foram descritos de forma envolvente. Boa escrita, bom andamento e caracterização. Parabéns!

  2. Felipe Lomar
    14 de junho de 2025
    Avatar de Felipe Lomar

    olá,

    bem, existem fanfics da vida real? Ou seria uma dramatização? De qualquer forma, o texto é bom. Relata bem o sofrimento do rapaz e gera empatia. Mas não é muito excepcional. Cumpre bem o seu papel, e nada mais, quase como uma matéria jornalística.

    boa sorte

  3. Rangel
    14 de junho de 2025
    Avatar de Rangel

    Vim complementar meu comentário, pois não posso responder a ele: Voltei aqui pensando que contos biográficos são contos, então mudei a nota e a reflexão, pois dizem ter um romance biográfico dessa personagem.

  4. André Lima
    14 de junho de 2025
    Avatar de André Lima

    A força motriz desse conto reside, inegavelmente, na poderosa e comovente construção do seu protagonista. A forma como foi apresentado, ainda criança, foi muito engenhosa. Suas capacidades mentais bem descritas o configuram logo como uma pessoa excepcional. No entanto, o que mais gostei da narrativa é que vai muito além da mera exibição de sua genialidade.
    Aqui, temos um texto multidimensional.

    O conto é muito bom em retratar o pesado fardo de ser um prodígio. William, apesar de sua mente brilhante, é um menino, depois um adolescente, buscando apenas uma vida comum. A obsessão de seus pais em moldá-lo e promovê-lo é bem explorada. Essa pressão incessante o coloca em um holofote e o conto explora bem essa “dualidade” entre ser admirado e ser sufocado.

    A experiência de William em Harvard é um dos pontos mais impactantes da narrativa. A ingenuidade do protagonista, ao confiar seu segredo de nunca ter beijado uma garota a um colega, transforma-se em um catalisador para sua profunda solidão e isolamento. A descrição de William memorizando atalhos no campus é de um realismo brutal. Camadas e camadas e camadas…

    A busca por tranquilidade torna-se um tema central. A fama, que seus pais tanto alimentavam, é o que causa os maiores problemas da trama. É algo que vemos repetidas vezes em estrelas do mundo moderno, mas embora pudesse cair no clichê, a narrativa se aprofunda de um modo original. A cena de William vomitando é um momento de clímax em sua humilhação pública.

    O ponto de virada surge com seu envolvimento no movimento pacifista. Aqui, William não apenas encontra uma causa, mas também uma inesperada faceta de si mesmo. E é nesse cenário de protesto que ocorre o momento de maior lirismo do conto: o encontro com a mulher. A descrição é poética, sem ser exagerada, na sutiliza das palavras. Gostei! Mas sinto que o autor tem mais força poética do que o apresentado aqui.

    O estilo narrativo é direto, mas carregado de emoção, utilizando metáforas e imagens fortes (como os papéis voando ou a sombra da mãe) para aprofundar a experiência. A progressão da história, embora em excertos, consegue transmitir uma jornada completa de autodescoberta e resiliência.

    Alguns vão tratar sobre adequação ao tema, vão gritar que não se trata de uma fanfic… Eu não vou entrar nessa. Sou flexível sempre com relação ao tema. E este conto merece nota máxima.

  5. Alexandre Costa Moraes
    13 de junho de 2025
    Avatar de Alexandre Costa Moraes

    Entrecontista,

    O seu conto “Sobre Merecer um Beijo” é uma pérola. Uma história que, apesar de nascer da realidade, é elevada a conto literário por meio de uma escrita precisa, sensível e esteticamente madura. O personagem, marcado por exclusão, desejo e esperança, é conduzido com humanidade e rigor narrativo. Não há pressa, nem excessos, apenas uma atenção sincera ao que importa.

    O texto tem ritmo, estilo e um olhar narrativo muito próprio. A condução da história até o ponto de inflexão final traz aquela paz silenciosa do protagonista diante de um gesto tão íntimo e simbólico. E isso é feito com afeto e técnica. Não importa se a matéria existia antes, aqui temos uma construção literária legítima, que vai além do relato e nos entrega algo profundo.

    Está entre os contos mais bem escritos do desafio. Parabéns por esse cuidado e por nos presentear com um belo recorte sobre desse personagem peculiar (e que sempre preferiu o anonimato) da história. Boa sorte no desafio.

  6. Fabiano Dexter
    11 de junho de 2025
    Avatar de Fabiano Dexter

    História
    Uma bela história sobre o homem mais inteligente do mundo e sua dificuldade de adaptação. As fases de sua vida, os desafios em casa uma delas e como um beijo o fez repensar suas prioridades.
    Tema
    A história e o texto são muito bons, mas eu acho que passou bem na fronteira do tema. Pelo menos no meu entendimento Fanfic deveria ser baseada em um universo fictício ou baseado em alguma obra.
    Ainda que tenha sido identificada a referência do texto, fiquei realmente em dúvida se seria considerado Fanfic.
    Construção
    Um texto longo, mas nada cansativo. As fases da vida do protagonista seguem a ordem cronológica e vamos seguindo a sua vida, sem saber o que acontecerá em seguida.
    Um texto fluido, muito bem escrito e desenvolvido. Agradável de ler.
    Impacto
    O texto consegue prender o leitor até o fim e não o prepara para o final. Em texto agradável de se ler e que nos deixa curioso para saber mais sobre a história do protagonista.
    Parabéns!

  7. Pedro Paulo
    11 de junho de 2025
    Avatar de Pedro Paulo

    Um conto-retrato muito bem escrito! Equilibra a trajetória dessa figura histórica real com os seus prováveis pensamentos em uma improvável experiência de vida. Instiga, mas, ao mesmo tempo, pareceu-me um equívoco em relação ao tema fanfic.

  8. Priscila Pereira
    10 de junho de 2025
    Avatar de Priscila Pereira

    Olá, Autor! Tudo bem?

    O que gostei: a história é bem interessante, e saber que é real ajudou muito. Li a matéria que você indicou e gostei bastante.

    O que não gostei: não sei… É um bom conto, talvez não combine muito bem com os temas… Ainda bem que não tenho que te avaliar!

    Boa sorte!

  9. Fabio Baptista
    9 de junho de 2025
    Avatar de Fabio Baptista

    A biografia de William Sidis, de prodígio de Harvard a chapeiro do Carmy’s Burguer, onde finalmente encontrou a paz.

    Bom, esse conto será massacrado por conta do tema que realmente fugiu da proposta. Mesmo que fosse um personagem real da cultura pop (um Michael Jackson, por exemplo), o clima de biografia impera, não fui a fundo na verdadeira história, mas com exceção ali do beijo no meio do protesto, a impressão é que tudo aconteceu de verdade, sem margens para a parte fic.

    Independente do tema, essa tom mais biográfico deixou a narrativa fria. Sim, a história do William é muito interessante, e eu gostei da leitura por ter sido apresentado a essa história. Mas em um conto eu preferiria ter me afeiçoado mais a ele, talvez lendo um recorte mais detalhado de um ponto específico de sua vida e não um apanhado geral como foi aqui.

    Apesar desses detalhes que infelizmente pesam no desafio, esse foi o conto que mais me ficou na cabeça. Em grande parte pelo momento que vivo agora, onde todo dia me questiono se não seria mais feliz ou pelo menos se não teria um pouco de paz (o que no fundo é quase a mesma coisa) fazendo algo mais simples da vida.

  10. Mauro Dillmann
    6 de junho de 2025
    Avatar de Mauro Dillmann

    Um texto muito bem escrito, bom de ler, envolvente.

    O narrador tem foco em William, mas eventualmente se desloca para a mãe do menino.

    Narrado em terceira pessoa, conta a história de um jovem dotado de grande inteligência, louvado pelos pais e incompreendido (por variados motivos) pela sociedade.

    O texto segue um ritmo interessante até o momento em que aparece o amor idealizado. O próprio narrador constrói essa idealização com chavões do senso comum: “coração roubado”, “a mulher mais bonita do mundo”, “olhos se encontraram”, “amaria para sempre”. Aqui temos uma quebra no texto.

    O/A autor/a deixa o link para a matéria da Revista “Aventuras na História”. Logo, conclui-se que o personagem, de fato, existiu. O conto foi escrito a partir da matéria da revista, e não de outra produção literária. Logo, a criação ocorre a partir do incremento dos fatos narrados na revista. Assim, penso que não há fanfic aqui. Há criação, mas não reescrita a partir de outro texto literário.

    Um bom conto. Parabéns!

  11. Kelly Hatanaka
    2 de junho de 2025
    Avatar de Kelly Hatanaka

    Puxa, uma fanfic de personagem real. Será que vale? Bom, eu não avalio esta série e, mesmo que avaliasse, não ia mesmo descontar nota de tema, então…

    A história conta uma versão romantizada da história de William Sidis, partindo de detalhes verídicos de sua história. É bom, bem feito e interessante. Gostei, mas não amei.

  12. Bia Machado
    1 de junho de 2025
    Avatar de Bia Machado

    Olá, autor/autora. Esse foi um conto que não funcionou muito pra mim. Não me conectei com os dramas de Sidis e isso me incomoda, porque gosto de me conectar com os personagens. Também não consegui encaixá-lo como fanfic. Você, autor/autora, é fã de William Sidis? Bem ao pé do significado de “fanfic”, penso que o conto não se encaixa. Por causa do que coloquei aqui, tirei alguns pontos da fluidez, da construção dos personagens e da emoção, que diz respeito ao meu gosto pelo texto. No entanto, apesar de não ter gostado muito, parabéns por ter escrito. Boa sorte no desafio.

  13. claudiaangst
    29 de maio de 2025
    Avatar de claudiaangst

    Olá, autor(a), tudo bem?

    Temos aqui uma narrativa que se baseia na biografia de William Sidis. Vou supor que se trate de uma fanfic. Talvez seja a história que ele quisesse ter vivido, à espera da amada, com esperança de experimentar uma vida significativa: uma epifania.

    O narrador é onisciente, assim o(a) leitor(a) pode acompanhar o processo dos sentimentos mais íntimos de Sidis, seus pensamentos, desejos e conflitos. Isso cria uma aproximação natural com quem está lendo a sua história.

    Não encontrei falhas de revisão. A linguagem empregada é clara e apresenta um tom poético: “[…] o céu gritava azul.” Embora eu não considere que a narrativa revele um padrão jornalístico, concluo que o texto não está muito longe de ser uma biografia (alternativa) elaborada com ótimas construções.

    Parabéns pela participação e boa sorte!

  14. Givago Domingues Thimoti
    23 de maio de 2025
    Avatar de Givago Domingues Thimoti

    Sobre Merecer um Beijo

    Da série “fazendo a boa”, vou tentar comentar o máximo de contos da Série A possível, apresentando minhas impressões pessoais sobre o seu conto.

    Sobre merecer um beijo é um conto que resvalou no tema. Provavelmente eu daria uma nota mínima para esse aspecto na minha avaliação. Ele é mais uma biografia, um tanto imaginada, sobre William Sibis, considerado o homem mais inteligente que já viveu. Bom, minha pesquisa no Google apontou que existe um romance dinamarquês que fala sobre a vida dele. Talvez esse conto seja baseado nessa obra e, neste sentido, até poderíamos esticar bastante a corda para encaixar no tema. Ainda assim, acho que seria um esforço em vão; os detalhes biográficos que o autor/a autora talhou no conto o caracterizam muito mais como uma biografia do que o contrário.

    De positivo, eu achei a roupagem do conto interessante e que me chamou atenção; um bom título, uma boa imagem, um pseudônimo que dialoga com o conto (Barricelli também foi outro matemático que, embora inteligentíssimo, ele não avançou muito na academia). 

    Além disso, creio que o conto tem um pressuposto interessante: o jovem gênio incompreendido, com problemas de ajuste. É uma premissa que tem (tinha) potencial, mas sua execução, infelizmente, não concretizou a expectativa.

    De negativo, por outro lado, é um texto denso, robusto e que em boa parte não cativa o leitor. Às vezes, nos trechos que mais tinham potencial de conquistar o leitor, o autor dedicou uma dúzia de palavras. Por exemplo, olha como esse trecho fica direto demais:

    “Certa noite, imaginou-se jogando bola de gude, pisando em poças de lama, fingindo jogos de guerras inexistentes com outros da sua idade. O quanto aquilo pareceu inacessível fez crescer uma bola de angústia em sua garganta. Queria se acalmar, começou a calcular quantos bilhetes de trens eram emitidos por dia no estado.”

    Além disso, abordar a história de William nesse esquema biográfico, começando aos 6 anos e ir condensando de forma linear, abordando os principais fatos que o grande público conhece, foi um jeito tradicional de contar a narrativa, mas que acabou empobrecendo o conto. São tantos aspectos interessantes que poderiam ser melhor retratados, mas só é resvalado porque era preciso seguir para o próximo fato da vida do personagem.

    Por fim, gramaticalmente, achei um texto bem escrito, com um ou outro trecho mais confuso.

  15. cyro eduardo fernandes
    22 de maio de 2025
    Avatar de cyro eduardo fernandes

    Uma ode a William James Sidis. Bem escrito, explicita bem o sofrimento do jovem gênio. Pelo link enviado pelo autor, observa-se uma fidelidade a biografia do personagem. Creio que o breve beijo e o desaparecimento da amada, e o bullying na escola,  tenham sido os principais elementos criados pelo autor.

  16. Jorge Santos
    20 de maio de 2025
    Avatar de Jorge Santos

    Olá, autor ou autora. Gostei deste seu texto, que é uma fanfic de uma biografia. Nem sei se não se devia chamar de “fanreal”, porque não é tem a ver com ficção. Adiante: achei interessante a história, que é bem complexa e demonstra muito da nossa humanidade. O que interessa o génio quando não temos maturidade suficiente para lidar com ele? A história de Sidis não é caso único. Sou apologista de que temos de dar tempo ao tempo. O corpo e o espírito têm de amadurecer para dar frutos. Sim, somos macieiras com pernas… (peço desculpa, mas não consegui deixar de colocar esta frase completamente desprovida de génio…)

    Em termos de linguagem, a mesma é fluída e não apresenta erros. A narrativa é linear mas satisfaz o leitor. No final, a transformação é completa, faltando apenas a indicação do tempo em que Sidis ficou internado no sanatório para doentes mentais que era dirigido pelo próprio pai – esta faceta é importante para caracterizar o homem.

  17. Antonio Stegues Batista
    18 de maio de 2025
    Avatar de Antonio Stegues Batista

    Resumo do conto: História de um homem com QI alto.

    O conto é uma fanfic de um personagem real, William Sidis. A história dele na matéria é resumida, no conto tem detalhes fictícios. A escrita é correta, com algumas frases elaboradas, mas acho que faltou um universo paralelo original onde a arte literária se destacasse. De qualquer forma, uma boa fanfic. Parabéns e boa sorte.

  18. Rangel
    18 de maio de 2025
    Avatar de Rangel

    Nils,

    Sua escrita é realmente boa. Você caprichou na revisão. Seu protagonista é muito interessante e fiquei curioso para ler mais sobre ele. Mas me parece muito mais uma biografia do que um conto. Além disso, mesmo sendo conto, não o vejo encaixado nos temas do desafio. Seria infantojuvenil? Ok, boa parte da história é sobre a juventude do protagonista, mas, como disse, esse momento está trabalhado mais como biografia do que como conto infanto. Então, fiquei um pouco limitado na hora de avaliar, pois biografias já renderam ótimos romances.Tudo isso me deixou num lugar difícil. Se adéqua e não se adéqua ao tema. É biografia ou conto? Claro, se você chama de conto, é conto. Mas não sei. Talvez minhas observações não ajudem muito a entender a nota que atribuí, pois é provável fruto de limitação minha, indagações próprias sem objetividade. Desejo boa sorte no desafio!

  19. paulo damin
    15 de maio de 2025
    Avatar de paulo damin

    Por alguns instantes, achei que fosse uma fanfic daquele filme do gladiador, quando ele é matemático e tem um amigo imaginário. Gostei de saber que esse cara realmente existiu, o Sidis.

    Aliás, como sofrem esses matemáticos, né? Uma maldição, a matemática.

    Não sei se vale como fanfic, porque eu tinha lido que era necessário ser um personagem que todo mundo conhece. De qualquer modo, é um texto interessante. A ideia de se solidarizar com o pobre rapaz funciona desde o início. Talvez a abordagem pudesse ser menos atrelada à vida mesma dele, que a gente consegue ler, mais resumida, na internet. Mas tudo bem, valeu por apresentar a figura aí pra nós.

  20. Leandro Vasconcelos
    14 de maio de 2025
    Avatar de Leandro Vasconcelos

    Opa! Este conto trata da história de William James Sidis, considerado um gênio no começo do Século XX. Em três mil palavras, o autor passa por toda a trajetória dessa figura, imaginando como seria a sua vida íntima e emocional.

    A narrativa se sustenta na dicotomia: suprir as expectativas dos pais e da sociedade ou viver uma existência comum? O autor consegue transmitir com sensibilidade a imensa pressão sofrida por William desde a infância. A tensão crescente se acumula até culminar no momento em que o protagonista recebe um beijo inesperado, o qual funciona como um estímulo à ruptura: basta de viver das expectativas dos outros! Agora, quero viver livre! E ele se revolta contra tudo e todos. Isola-se em trabalhos medíocres, talvez como forma de vingança, talvez como alívio à sua condição especial e estressante.

    É um bom texto, bem escrito. No entanto, tive dificuldade em entender como ele se encaixa nos temas do certame. Não me pareceu uma leitura infanto-juvenil, porque é um texto denso, introspectivo e maduro. Tampouco o vejo como fanfic, pois não se baseia em obra literária, cinematográfica ou televisiva pré-existente — trata-se de uma recriação ficcional da vida de uma pessoa real.

    Ademais, é uma leitura árida. São vários grandes parágrafos que, apesar de demonstrarem o domínio da língua por parte do autor, passam lentamente, sobretudo porque são recheados de descrições e mais descrições sobre fatos sucessivos da vida do protagonista. Não há variação de tom, entre ação e descrição; tampouco diálogos ou interações com outros personagens, os quais seriam capazes de equilibrar um pouco a atmosfera pesada do texto. Pareceu-me, em certo ponto, uma crônica ou biografia resumida de William, adequada mais ao universo jornalístico e menos ao literário.

    De toda forma, parabéns ao autor pelo texto bem escrito e pela originalidade em trazer a estória dessa curiosa figura!

  21. Augusto Quenard
    13 de maio de 2025
    Avatar de Augusto Quenard

    O texto é muito bom, o problema que vejo é que não me parece uma fanfic. Pelo que vi no link sugerido, os fatos desta história não são tão diferentes dos da história real, isso já põe uma dúvida sobre ser ou não fanfic. Poderia ser uma biografia romanceada. Por outro lado, não é uma personagem fictícia, é uma pessoa real. E não é de conhecimento popular. Quer dizer, são pequenos detalhes que, somados, me parece que distanciam o texto de uma fanfic.

    Mas achei uma boa história e uma personagem bem interessante.

  22. Thiago Amaral
    12 de maio de 2025
    Avatar de Thiago Amaral

    Gostei do conto.

    Apesar de estar num formato biografia, me manteve preso à trama do começo ao fim. Talvez seja por causa do tema, que eu acho interessante, mas certamente também pela escrita, que está boa. Poderia ter caído na armadilha de narrar tudo como um resumo da história do protagonista, mas do jeito que está funciona bem como conto. O tempo passa pelo conto, mas não se sente que está corrido. Também conseguimos sentir o drama do protagonista.

    O problema pra mim, como em muitos outros, está no tema. Apesar de estarmos falando de um pré-adolescente, não me parece um conto particularmente infanto-juvenil. E, apesar de ser baseado numa história real, não me parece uma fanfic também. Parece ser mais uma biografia, mesmo. Por isso vou pensar um pouco e isso provavelmente irá impactar minha nota final.

    Fora isso, apenas diria que algumas vírgulas poderiam ser pontos, para adicionar pausa em alguns parágrafos.

    Em resumo, eu diria que gostei do conto. Está envolvente e intrigante. Só não se parece encaixar nesse desafio, pra mim.

  23. Luis Guilherme Banzi Florido
    9 de maio de 2025
    Avatar de Luis Guilherme Banzi Florido

    Boa tarde!

    Uma releitura da vida do matematico Silis, que pretende funcionar como fanfic. Eu fico um pouco na duvida sobre a validade de uma fanfic quando se trata de um evento ou pessoa real. Fanfic é uma reduçao para “fan fiction”, ou seja, uma ficção escrita por um fã. Bom, se voce é face do Silis, acho que vale, né? Eu nao vou ficar xaropando com isso nem tirar nota, fica tranquilo, só to deliberando sobre o assunto. Acho que ta dentro!

    Enfim, indo ao que interessa. Voce reconta a vida do genio matematico, imaginando circunstancias pessoas por tras de eventos reais de sua vida. Por exemplo, ele sofria bullying, ou é uma dedução sua? Voce utiliza essa mescla de realidade e ficção para preencher as lacunas da vida do homem, de modo a dar profundidade nao somente à pessoa, mas aos eventos de sua vida.

    A escrita é muito boa, e por mais que possua um tom um pouco documentario, ainda assim funciona como uma boa leitura, que nao se torna monotona. É facil se colocar na pele de Silis e embarcar em sua jornada, sentindo o que ele sentiu, entendendo suas motivações, frustrações, medos. Merito seu.

    Mas acho que o maior brilho do conto está no desfecho, que dá nome ao conto. Pelo que entendo, toda a parte em que ele conhece a estrangeira até ele abandonar tudo pra ser chapeiro foram criações suas, certo? Quero dizer, sabe-se que ele realmente estava naqueles protestos, e sabe-se que ele abandona tudo para viver recluso. Mas o que aconteceu nesse meio tempo me parece ter sido recheado por sua imaginação, e acho que aqui é onde o conto tem seu brilho, é a parte mais interessante.

    Gostei da curva do personagem, e de como voce humanizou alguem que, pelos registros historicos, parece muito menos vivo e multifacetado que a sua versao.

    Parabens e boa sorte!

  24. Raphael Polimanti
    7 de maio de 2025
    Avatar de Raphael Polimanti

    O melhor conto que li em algum tempo na minha vida. Não acho que seja excepcional o tempo todo, mas o carinho com as figuras e o linguajar para descrever a situação de um gênio que só serve quando bem serve a sociedade são ímpares.

    O modo como o pai em sua imagem assombreada se projeta no espelho, o modo como as multidões se pasmam na frente duma pessoa que é uma inequação intelectual, o modo em que Sidis vive quase invisível para a família e sociedade, para então viver na irrelevância de um beijo de uma pessoa qualquer… É tudo muito especial.

    O conto vem nesse tom biográfico e até heroico ainda que bastante irônico em retratar a figura do Sidis, um ser de algumas habilidades extraordinárias, que causa fascínio em todo um grupo de acadêmicos e populares.

    Então a vida dele é determinada ainda num sorrateiro despejo de sua infância. Um bando de homens de terno chegam, fazem avaliações e tomam a punho uma decisão, junto dos pais. A família e a sociedade vendo a potencialidade por um conjunto de poemas citados em algumas línguas de uma criança acham ali as soluções que o mundo adulto anseia desesperadamente. A salvação no menino prodígio.

    Então ele é recebido de braços abertos, adotado enquanto funciona. E funcionou uma boa parte da vida.

    Então, da metade para o final, Sidis deseja fazer não o que foi modelado a fazer, mas foi tentar se modelar a ser.

    Sidis, o hiper-racional, tem talvez seu melhor momento quando vai ao meio de uma muvuca política tumultuada. Beija uma qualquer que de nada ele poderia saber, nem a coordenada, nem as palavras de onde vem e quem é. Ele abraça o irracional como grande paixão finalmente.

    Vai ao subemprego e desaparece desse mundo de funcionar.

    Magnífico. Escrita impecável e mensagem nocauteadora.

  25. toniluismc
    5 de maio de 2025
    Avatar de toniluismc

    🧪 ANÁLISE CRUELMENTE HONESTA DE “Sobre Merecer um Beijo” (Nils Barricelli)

    🎯 Primeira impressão

    Ah, nada como acordar com Harvard dentro do seu quarto e uma reunião de especialistas diagnosticando um menino-prodígio como se ele fosse o ET de Varginha com QI acima da média. Estamos diante de um texto que, ao que tudo indica, foi concebido na esperança de ser uma fanfic histórica poética, mas termina como um documentário melancólico disfarçado de conto com título enganador. Porque sinceramente? “Sobre Merecer um Beijo”? Eu pensei que viria um romance juvenil com ternura, talvez até um crushzinho colegial com um toque de fanfic. Em vez disso, ganhei um memorial de sofrimento com trilha sonora de Chopin. 📊 NOTAS CritérioNotaMelhor Técnica3.7Conto Mais Criativo2.2Conto Mais Impactante2.9

    Agora vamos destrinchar essas notas com gosto.

    ✍️ 1. Técnica — Nota: 3.7

    Pontos fortes:

    • Sim, o autor escreve bem. A linguagem é fluida, o vocabulário é extenso, a pontuação está ok e há domínio de tom melancólico. Parágrafos longos, mas legíveis.
    • Há trechos que beiram o lirismo funcional: “o tempo passa da mesma maneira para os moribundos e os pequeninos” ou “o rosto cada vez menor, que não lhe servia mais” mostram que o autor sabe brincar com palavras. Isso a gente reconhece, mesmo com ranço.

    Porém…

    • A história parece estar escondida debaixo de uma monografia. Não se trata de narrativa ficcional com alma, mas de uma enciclopédia emocional sobre William Sidis, com trechos tão didáticos que poderiam estar no rodapé de uma tese de doutorado em neurociência com aspirações literárias.
    • O autor parece ter descoberto o artigo da Aventuras na História, se encantado com a figura do gênio rejeitado, e pensado: “por que não transformar isso numa ‘fanfic’ dramática?” A resposta? Porque isso não é uma fanfic. É um obituário com pretensão poética.

    🔎 Resumo técnico: O texto é bem escrito, mas falta leveza. É um desfile de parágrafos com mais peso do que uma mala de concreto.

    🎨 2. Criatividade — Nota: 2.2

    Pontos positivos:

    • Colocar William Sidis como protagonista poderia ter sido ousado. A história real tem potencial. Mas… aí vem o “mas”.

    Mas…

    • A fanfic é uma oportunidade para criar a partir da imaginação, não para colar e expandir trechos de biografia com adjetivos dramáticos.
    • Não há quebra de expectativa, nem um ponto alto de invenção. A tal “moça desconhecida que beija o gênio durante um protesto” foi a tentativa desesperada de dar um pouco de “fanfic real oficial” à coisa. Mas chega tão tarde, tão deslocado, tão piegas, que parece uma tentativa forçada do autor tentando dar sentido ao título.

    Quer um termômetro de criatividade? O clímax do conto é literalmente um beijo aleatório com uma imigrante sem nome no meio de uma marcha. E a personagem feminina some como se nunca tivesse existido. Não é amor, é tropeço narrativo.

    🔎 Resumo criativo: O autor não sai da zona de conforto, e quando tenta, escorrega na própria seriedade. Criatividade exige risco. Aqui, ele preferiu jogar seguro — e perdeu.

    💥 3. Impacto — Nota: 2.9

    Pontos positivos:

    • Há emoção, sim. Doses cavalares. A jornada de Sidis é trágica e revoltante. Em alguns momentos, até sentimos algo… pena. Mas pena não é impacto.
    • O retrato da pressão dos pais e o bullying universitário causam um desconforto legítimo. Ponto por isso.

    Mas…

    • O impacto não vem da escrita, mas da história real que foi apropriada com cara de “literatura séria”.
    • O texto termina mais cansativo do que comovente. A tentativa de criar uma grande catarse com o beijo e a militância pacifista soa oportunista, como se o autor dissesse: “Agora sim, leitor, sinta algo, chore por favor!”
    • E sinceramente: o que isso tem a ver com fanfic, mesmo? Cadê o “e se”, o mundo alternativo, o coração palpitante da fanfic real? Isso é uma biografia literaturizada, no máximo um dramalhão enciclopédico.

    🔎 Resumo do impacto: O autor quer que você chore, mas você só boceja. O beijo prometido no título é mais simbólico do que efetivo. E você termina o conto se perguntando se ele realmente aconteceu ou foi alucinação de um Sidis exausto.

    🧨 CONSIDERAÇÃO FINAL

    Esse conto é como colocar uma orquestra sinfônica para tocar no vagão do metrô. Bonito, tecnicamente impressionante, mas totalmente fora de lugar e de propósito. A proposta era fanfic? Então onde está o fanfic? Onde está a recriação livre? O toque pessoal? A paixão?

    “Sobre Merecer um Beijo” merecia um título como “O Pequeno Gênio Que Nunca Teve Infância e Vomitou no Palco”, porque é isso que a gente realmente recebe.

    Resumindo: o autor quis fazer um tributo ao sofrimento de um menino superdotado esmagado pelas expectativas do mundo. Acabou entregando um dossiê melancólico com uma cena romântica plantada no meio como se dissesse: “Tá vendo? É fanfic!”

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Informação

Publicado às 3 de maio de 2025 por em Liga 2025 - 2A, Liga 2025 - Rodada 2 e marcado .