EntreContos

Detox Literário.

O Desafio do Rei (Thales Soares)

O castelo não era apenas grande. Era imenso, desproporcional e, em muitos aspectos, flagrantemente desnecessário. Suas torres atravessavam as nuvens como lanças de pedra, desaparecendo no céu. O chão, de mármore branco polido, refletia tudo como um espelho. Os corredores, amplos e frios, exibiam vasos ornamentais que pareciam nunca ter abrigado flores, e tapeçarias bordadas com cenas que ninguém mais sabia ao certo o que representavam.

Na sala do trono, uma cúpula gigantesca de cristal colorido filtrava a luz do sol e a projetava com exatidão no centro do salão. Ali, um único feixe dourado formava a imagem perfeita de uma coroa sobre o chão, como se a arquitetura inteira existisse apenas para esse efeito. O trono, posicionado milimetricamente dentro dessa luz, era o único ponto realmente iluminado. Todo o restante permanecia mergulhado em sombras.

Naquela manhã, um pobre agricultor se ajoelhava ali, trêmulo. Segurava o chapéu contra o peito com tanta força que parecia temer que até ele fosse levado embora.

— Majestade — começou ele, com a voz baixa e trêmula —, as chuvas vieram antes da hora e carregaram a terra, a semente, tudo o que tínhamos. Nos conceda mais tempo para pagar os impostos, eu imploro. Se entregarmos o pouco que restou, não sobrará nada… e vamos morrer de fome.

Maximus III recostou-se no trono, soltou um suspiro demorado e lançou um olhar entediado à rainha.

— Está ouvindo, querida? O sujeito teve a audácia de dizer que, por causa de uma chuvinha qualquer, não vai pagar o terço. Ora, que absurdo! É cada desculpa estapafúrdia que ouço desses canalhas…

A rainha apenas assentiu com obediência silenciosa. Estava sentada a poucos passos do trono, imóvel como sempre, com as mãos repousadas no colo e os olhos fixos em algum ponto indefinido do nada. Vestia-se com perfeição, como se tivesse saído direto de uma pintura. Seu rosto era liso, inexpressivo, e tão cuidadosamente maquiado que parecia feito de porcelana. Não sorria, não franzia a testa, não piscava demais. Era, em essência, uma peça de decoração de luxo, colocada ali para compor a simetria do salão. Às vezes, alguém jurava ter ouvido sua voz, mas a maioria acreditava que ela era apenas parte da mobília real.

— Mas majestade, é verdade… precisamos de sua ajuda — insistiu o agricultor, com a voz ligeiramente firme.

O rei arqueou uma sobrancelha com desdém.

— A única ajuda que você vai receber, meu caro, é um pé na bunda, cortesia dos meus guardas. Agora desapareça do meu salão antes que eu mande te enforcar só para passar o tempo!

O homem deixou o salão de cabeça baixa, tentando manter a dignidade que ainda lhe restava. Antes de cruzar a porta, um dos guardas cumpriu a ordem com precisão e lhe aplicou um chute firme. Não de raiva, mas de rotina. O rei, cheio de si, gargalhou alto até as paredes ecoarem sua voz. Afinal, o que era um rei, senão alguém cujo eco soava mais alto que a voz do povo?

Então, as portas monumentais do salão se abriram com um estrondo que fez as tapeçarias tremerem. Um grupo de guardas entrou em marcha apressada, arrastando uma arca de bronze reluzente, tão polida que refletia as colunas ao redor como espelhos distorcidos. Carregavam-na com esforço cerimonial, como se transportassem uma relíquia sagrada.

Com uma reverência quase exagerada, pararam diante do trono.

— Majestade! — anunciou o capitão, com os olhos arregalados de euforia — Encontramos o artefato que Vossa Alteza tanto buscou ao longo dos últimos anos!

— Ora, até que enfim! — disse o rei, levantando-se com entusiasmo infantil. — Tragam-no até mim. Agora!

Com algum esforço e bastante cerimônia, os guardas destravaram a arca. No mesmo instante, uma luz intensa escapou de dentro dela. Era como se o próprio sol tivesse sido engarrafado ali dentro, à espera de um momento dramático. Quando o clarão começou a se dissipar, uma figura surgiu no centro da luz. Alta, extravagante e impossível de ignorar. Vestia roupas cintilantes em cores vivas e escandalosas, um turbante tão grande que desafiava a gravidade, e joias que tilintavam como sinos a cada movimento. Exibia um sorriso largo e debochado.

— Olááááááááááá, majestade! Eu sou o fabuloso, magnífico e absolutamente inigualável Rá-Kadabra! Eterno realizador de desejos, mestre supremo do impossível, campeão interestelar de magia cósmica e…

— Quero meu desejo, criatura! — cortou o rei, com voz seca e impaciente. — Sou Maximus III, soberano absoluto deste mundo e de todos os mundos que ousam existir além dele! Eu tenho três desejos, certo? Então, o primeiro será…

Rá-Kadabra riu alto, fazendo sua voz ecoar ainda mais do que a do rei.

— Três desejos… que clássico, né? Mas veja bem, majestade… a coisa deu uma desandada nos últimos séculos. A inflação subiu, os contratos ficaram mais apertados, e cá entre nós, conceder três desejos por cliente começou a sair caro demais. Não tava mais compensando. Então agora é um só! — disse, levantando um dedo cintilante no ar. — O que, convenhamos, já é um baita negócio.

— Ótimo. Então desejo ter três desejos!

No mesmo instante, Rá-Kadabra se contorceu e, girando como um peão descontrolado, transformou-se num juiz de tribunal mágico, com peruca branca, martelinho na mão e uma expressão reprovadora.

— Que sujeito espertinho! Muito danado você, majestade! Mas, infelizmente, isso não vai colar. A minha mesa já está entupida de processos contra gente que tenta burlar cláusulas de contrato mágico, e… sinceramente? Não quero ter que julgar vossa senhoria também. Vamos manter as coisas simples, pode ser?

Ele ergueu o martelinho e começou a ditar como se estivesse lendo uma cartilha de regras:

— Nada de pedir mais desejos. Nada de tentar ser mais esperto que o regulamento. Nada de loops infinitos. Nada de virar entidade mágica também. E não pode tentar reviver os mortos… — parou por um segundo, pensou, e deu de ombros. — Hmm… pensando bem, isso pode, sim. Seria até engraçado! Imagine só: uma verdadeira invasão de zumbis!

Num piscar de olhos, girou sobre si mesmo como um pequeno tornado colorido e reapareceu em forma de morto-vivo, com olhos esbugalhados, pele esverdeada e baba escorrendo pelo canto da boca. Começou a andar pelo salão arrastando os pés, soltando grunhidos e estalos.

— Uuuuughhh… cééérebros… cééérebros reais com imposto embutiiiiiido…

O rei revirou os olhos, impaciente.

— Basta! — cortou, com a voz firme. — Um único desejo?! Que barbárie ridícula! Mas enfim… um desejo será mais que suficiente para eu governar eternamente este planeta… e todos os outros. Então, meu desejo vai ser…

Antes que o rei pudesse concluir o pedido, Rá-Kadabra deu uma sonora batida de palmas e, num estalo mágico, voltou à sua forma original, com turbante, joias e tudo.

— Opa, opa, opa! Alto lá, majestade! — disse, cruzando os braços com teatralidade. — Antes de qualquer desejo, precisamos seguir o protocolo. E, veja bem, eu preciso ter certeza absoluta de que você é digno de fazer um pedido. Para isso, será necessário passar por uma provaçãozinha… coisa boba, mínima, quase simbólica. Só para constar no contrato — piscou, com brilho nos olhos.

— Mas que absurdo! Eu sou Maximus III, o Grandioso! Não existe provação neste ou em qualquer outro reino que esteja à altura da minha bravura e dos meus talentos absolutamente inigualáveis. Francamente, acredito que podemos muito bem pular essas formalidades insignificantes.

A entidade mágica ergueu uma das sobrancelhas cintilantes (sim, cintilante mesmo, porque até as sobrancelhas daquela criatura brilhavam em dourado) e puxou de dentro da manga um pergaminho que se desenrolou sozinho, serpenteando pelo ar até quase alcançar a metade do salão.

— Cláusula número doze, parágrafo nove — anunciou, com voz solene, como se recitasse uma profecia antiga. — “Para que um mortal se prove digno de realizar um desejo, ele deve enfrentar um oponente e vencê-lo em um desafio proposto pela entidade concedente. O oponente será escolhido pelo próprio solicitante, entre os cidadãos de seu reino, desde que o escolhido esteja vivo, consciente e não tenha sido subornado, enfeitiçado ou ameaçado com mais de dois gritos consecutivos. Também não poderá ser amigo íntimo, membro do mesmo clã ou ter qualquer tipo de vínculo com o solicitante.”

— Ora, que regra mais sem propósito! — resmungou o rei, bufando como se estivessem desperdiçando seu tempo precioso. — Está bem, então diga logo qual é o tipo de desafio. Luta? Duelos? Caça ao tesouro? Debate político? — completou a frase com um riso de desprezo, achando graça da própria ironia.

— Nada disso! — respondeu Rá-Kadabra, saltando no ar com leveza e pousando, sem o menor aviso, sobre o encosto do trono da rainha. Ela, por sua vez, se levantou com um sobressalto, tentando manter o equilíbrio enquanto, sabe-se lá como, viu-se montada num monociclo e empunhando um guarda-chuva florido que claramente não estava ali antes. — Você não precisará fazer nada tão esplêndido quanto sua rainha está fazendo agora. Basta provar que é superior ao seu oponente.

O rei gargalhou tanto que precisou se apoiar no trono para não perder o equilíbrio. Mas não pela situação desastrosa de sua rainha, mas sim porque mostrar-se superior era, afinal, seu passatempo favorito.

— Vejo que essa explosão de felicidade significa que o senhor aceitou o desafio — disse a entidade mágica, cruzando os braços com ar satisfeito. — Então vá em frente: escolha seu oponente. Pode ser qualquer súdito do reino, desde que esteja dentro das regras. Escolha com sabedoria… ou não.

Maximus III olhou em volta. Levantou-se do trono com exagero, desceu os degraus arrastando a capa e proclamou:

— Guardas! Tragam imediatamente… ahm… escolham por mim um desafiante bem fracote. Pode ser um vagabundo qualquer. Alguém que eu possa esmagar sem muito esforço. Vencer este desafio é muito importante, então não posso correr nenhum risco!

— Que tal a vovó Clotilde, majestade? — sugeriu um dos guardas, coçando o capacete com a ponta da lança. — Vi ela ontem na praça. Tossia feito um cabrito, parecia até que os pulmões iam pular para fora.

— Excelente sugestão! — disse o rei, entusiasmado. — Pequena, caquética, frágil… tragam essa velha vagabunda para cá o quanto antes!

— Espera aí, senhor todo-poderoso da autoconfiança lá embaixo — cantarolou Rá-Kadabra, girando no ar como uma bailarina. — Eu tenho poderes praticamente infinitos, lembra? Não custa nada eu assumir o papel de facilitador de roteiro — completou, lançando uma piscadela cúmplice diretamente ao leitor.

Assim, estalou os dedos com estardalhaço mágico e, no mesmo instante, uma ventania invadiu o salão, levantando tapetes, sacudindo capas e até arrancando a peruca da rainha. Como se tivesse atravessado tempo, espaço e a lógica narrativa, Vovó Clotilde surgiu ali, sentada em sua cadeira de balanço, tricotando calmamente com lã vermelha, como se estivesse na varanda de casa.

Levantou os olhos com calma e sorriu gentilmente, dizendo:

— Me desculpe a pergunta, mas… eu morri e fui parar no céu? Porque com um chão limpinho desses, a gente até pensa duas vezes antes de pisar.

O rei se aproximou devagar, com a postura de quem flutua em vez de andar, e com o cuidado de não sujar a própria sombra no percurso.

— Você está no meu salão real, velha insolente. E foi escolhida… ou melhor, premiada… para enfrentar a mais nobre e honrosa das provações: me desafiar. Sim, eu mesmo, Maximus III! O invicto, o incomparável, o absolutamente magnífico! Vou provar, diante de todos, que sou superior a você.

Vovó Clotilde interrompeu o tricô no meio de um ponto e o observou com atenção.

— Ah… entendi. O senhor quer provar que é melhor que uma velhinha?

— Exatamente! — bradou o rei, inchado de convicção.

Ela assentiu, com a tranquilidade.

— Tá certo, então. Se é isso que o senhor quer… a gente vê no que dá.

Rá-Kadabra patinou no ar, soltando faíscas coloridas, e anunciou com entusiasmo contagiante:

— Que comece o espetáculo! Este duelo será transmitido ao vivo e em alta definição para a mente de cada habitante deste reino! Pode iniciar quando quiserem!

O rei estava visivelmente aborrecido com tanta fanfarra, e se aproximou da senhorinha com um sorriso de superioridade mal disfarçada.

— Você é tão insignificante, sabia? Eu, por outro lado, sou uma coroa de rubis que brilha até na mais profunda escuridão!

A velhinha voltou calmamente ao seu tricô, sem nem levantar os olhos, e respondeu com a serenidade de quem já ouviu muitas bravatas na vida:

— E eu sou o riso de uma criança que brilha até quando falta comida.

— Uuuuhhh! — exclamou Rá-Kadabra, voando em círculos galopando em um cavalo de madeira. — Que golpe lindo! Foi direto no estômago, Maximus! Vai deixar marca emocional!

O rei soltou uma risada escandalosa, alta o bastante para fazer os vitrais tremerem.

— Que coisa mais patética! Pois ouça bem: eu sou o trovão que despedaça montanhas com um único estrondo!

Vovó Clotilde sorriu, sem pressa, e respondeu com suavidade:

— E eu sou o cobertor que impede o medo de entrar.

A plateia permanecia assistindo vidrada. Um dos guardas coçou a barba, visivelmente intrigado. A rainha chegou a arregalar um olho (o máximo de emoção que demonstrara em anos) antes de retornar à sua habitual imobilidade decorativa.

Rá-Kadabra surgiu flutuando no ar, empunhando uma placa cintilante: “2×0 para a velhinha”, e desapareceu logo em seguida com um salto carpado e uma chuva de confete invisível.

Maximus III tossiu, desconcertado.

— Muito bem, velhinha! Você gosta de pegar pesado, não é? Pois saiba que sou a ponte que liga o mundo dos deuses ao mundo dos mortais!

— E eu sou o abraço que une dois corações partidos.

Outra placa de Rá-Kadabra, agora com “3×0”.

— Eu sou a história, registrada eternamente nos livros dourados!

— E eu sou a lembrança que vive no coração de quem amou de verdade.

O rei vacilou por um instante, mas tentou recuperar o fôlego.

— Eu sou o tesouro escondido na cidade perdida de Eldorado, cobiçado por reis, cantado por bardos, desejado até pelos deuses!

— E eu sou a moeda capaz de comprar um pão para quem tem fome.

A essa altura, até os guardas estavam com os olhos marejados. Um deles enxugava discretamente uma lágrima com a luva, fingindo coçar o capacete.

Maximus III então deu sua última cartada:

— Eu sou a eternidade!

Vovó Clotilde sorriu com doçura, e respondeu com a voz calma de quem já entendeu o mundo:

— E eu sou o instante… aquele que transforma o tempo em memória,
em escolha, em amor. Sem mim, a eternidade seria vazia.

O salão inteiro prendeu a respiração. Até o mármore do chão pareceu suspirar. O rei, ofegante, deu um passo para trás.

— Você escolhe ser coisas tão pequenas… tão simples… como pode vencer de minha grandiosidade?

Vovó Clotilde abaixou os óculos, olhou diretamente em seus olhos, e, com a ternura de quem dá um conselho ao próprio neto, respondeu:

— Porque tudo o que você é… depende de tudo o que eu sou. Mas nada do que eu sou depende de você.

Rá-Kadabra explodiu em fogos de artifício mágicos, enquanto gritava:

— Está decidido, senhoras e senhores! Vitória para a dona da chaleira mais sábia do reino!

O rei permaneceu imóvel, encarando a velhinha com os olhos semicerrados.

— Então… é isso? — murmurou. — Eu perdi para uma velha enrugada?

— Não foram as rugas que me fizeram vencer, majestade — disse ela, voltando sua atenção novamente para o tricô. — Foi o tempo que vivi dentro delas.

Maximus engoliu em seco. O trono, lá no fundo do salão, parecia mais distante do que nunca. Pela primeira vez, ele não tinha o que dizer. Nem uma bravata. Nem uma ordem. Nem sequer uma piada sarcástica para disfarçar suas incertezas.

Rá-Kadabra desceu flutuando com elegância, como uma pluma encantada, e pousou entre os dois.

— Minha senhora — anunciou, com voz de apresentador de espetáculo — conforme as regras milenares do Sindicato das Entidades Místicas e Afins, você agora tem direito a um desejo! Qualquer coisa! Um castelo, uma fonte da juventude, explodir o universo inteiro! É só pedir!

Vovó Clotilde pousou o novelo no colo. Olhou para o rei. Depois para a rainha, imóvel como uma múmia. Então, pela porta escancarada, avistou no corredor o agricultor de antes, com a mão nas costas, tentando disfarçar a dor na bunda. Tinha assistido a tudo, quieto, como quem presencia um milagre.

— Eu já tenho tudo de que preciso, meu filho. Mas ele… — apontou com a agulha de tricô para o rei — ele ainda não tem o que mais importa.

— Do que está falando? — questionou Maximus, franzindo a testa. — Eu tenho tudo! Riquezas, poder, coroas, títulos… até tapetes persas com meu rosto bordado!

Vovó Clotilde sorriu. Não era ironia, nem desafio. Era só ternura.

— Então meu desejo é simples — disse ela. — Desejo que o rei Maximus III seja, pela primeira vez na vida… verdadeiramente grandioso.

Rá-Kadabra deu um largo sorriso e estalou os dedos com um som que parecia uma risada engarrafada sendo solta no ar.

Um brilho suave envolveu o rei. Por fora, nada mudou. Nenhuma joia nova, nenhuma coroa extra. Mas por dentro… algo parecia estar bem diferente. Levou a mão ao peito e sentiu um aperto. Não era dor. Era… calor? Uma pontada doce, estranha, quase como arrependimento.

Seus olhos se voltaram para o agricultor, que ainda assistia ao espetáculo de fora da sala do trono.

Caminhou até ele e, pela primeira vez, curvou-se um pouco.

— Você disse que precisava de ajuda?

O agricultor arregalou os olhos, sem saber se podia acreditar no que ouvia.

— Sim, senhor… quer dizer, majestade… quer dizer… o quê?!

— Então terá a ajuda. E sua vila também. E todas as outras. Farei questão de visitar cada uma. Pessoalmente.

Um murmúrio percorreu o salão. Rá-Kadabra bateu palmas que soaram como sinos de festa, e começou a desaparecer devagar, flutuando como fumaça de chá quente.

— Contrato encerrado, desejo concedido, lição aprendida. Próximo cliente: um ferreiro do deserto que quer virar dragão. Lá vamos nós!

E puft! sumiu.

Vovó Clotilde levantou-se com esforço e caminhou em direção à saída, sem alarde.

O rei correu até ela.

— Espere! — disse, ofegante. — Eu… gostaria de te visitar também. Conversar. Aprender. Talvez… tomar chá?

Ela o observou com aquele olhar que só as avós têm, aquele que vê tudo, até o que a gente ainda não entendeu que sente.

— Traga os biscoitos, e o açúcar mascavo. E esteja pronto para me contar boas histórias a respeito do seu novo reinado.

Sobre Fabio Baptista

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25 comentários em “O Desafio do Rei (Thales Soares)

  1. leandrobarreiros
    22 de junho de 2025
    Avatar de leandrobarreiros

    Curti.

    Senti que o texto é um fluxo meio caótico de coisas perfeitamente equilibradas. E isso é um elogio.

    É comum conseguirmos mais ou menos antever onde a história está nos levando. Aqui, é praticamente impossível, pelo menos até um pouco antes do desafio ser proposto.

    As imagens e cenas pintadas antes do conflito principal são limpas e bem envolventes. Aliás, gostei muito da abertura. Eu geralmente não curto essas ambientações pré cena, mas aqui funciona muito bem, não só porque nos diz um pouco sobre quem é o rei, mas porque consegue ser interessante.

    A figura do gênio me lembrou bastante o gênio do Robbin Williams, de um jeito muito bom. Um personagem assim é difícil de fazer, ao contrário do que pode parecer em uma primeira impressão. Tem perigo de ficar cansativo, ou até bobo demais. Não foi o caso aqui.

    O conflito final me lembrou a cena do Lucifer vs o Sandman, dos quadrinhos, imagino que ela tenha sido a referência.

    E o final acabou me surpreendendo. A opção por pedir grandeza ao rei foi bastante inesperada. Parte de mim quis que o gênio desse mais meio metro de altura ao rei, mas gostei mais do final sério e bonito. Nem tudo precisa ser uma piada, afinal.

    No mais, trabalho fortíssimo, Thales. Seu poder de ambientação ta muito bem lapidado. Eu li poucos da A, mas no desafio como um todo, achei a sua abertura a mais forte do certame.

  2. Rodrigo Ortiz Vinholo
    14 de junho de 2025
    Avatar de Rodrigo Ortiz Vinholo

    Achei fofinho e envolvente! Uma história divertida, bem escrita, e que deixa com o coração quentinho. Adorei o jogo dos dois e a sabedoria de Clotilde! Excelente!

  3. Felipe Lomar
    14 de junho de 2025
    Avatar de Felipe Lomar

    o texto é bonito, bem escrito, habilidoso, sublime… mas não é chubesco. Não tem a fofura que essa descrição requer. É infantil, inegavelmente, mas existem vários gêneros infantis. Talvez seja fanfic de algo que não peguei. Enfim, o tema era difícil, quase uma pegadinha, e está dando uma rasteira em vários ótimos escritores.

  4. André Lima
    14 de junho de 2025
    Avatar de André Lima

    As descrições iniciais desse conto são muito boas. Os primeiros parágrafos dão um ritmo interessante, além de nos ambientar perfeitamente.
    Destaco o trecho “Naquela manhã, um pobre agricultor se ajoelhava ali, trêmulo. Segurava o chapéu contra o peito com tanta força que parecia temer que até ele fosse levado embora.”. A construção imagética aqui foi perfeita!

    O diálogo que se segue, ou seja, o que supostamente estabeleceria a premissa do conto, me lembrou de Vida de Inseto. É exatamente a mesma premissa da relação entre os gafanhotos e as formigas. E torci o nariz quando li. Mas, por sorte, foi apenas uma introdução (A princípio parecendo descartável, mas que fecha as pontas logo no fim) e a verdadeira premissa veio logo após.

    Só um destaque antes de avançar, a frase “Era, em essência, uma peça de decoração de luxo, colocada ali para compor a simetria do salão” soou estranha. Como assim compor a “simetria” do salão? Havia outra rainha do lado oposto dela? Ou essa simetria se tratava do Rei? Aí, portanto, não seria uma falsa-simetria?

    Bom, o que se segue é um diálogo muito divertido entre o rei e o gênio. Há uma quebra da quarta parede que poderia ser evitada (Nada contribui e quebra a imersão), mas, no geral, tudo é construído com maestria.

    O rei é uma caricatura do típico clichê de monarca que vemos nos filmes e livros. E o final é arrebatador, sem didatismo, sem ser piegas, conseguiu passar a mensagem e emocionar de maneira precisa. Eu gostei muito, tanto que tenho muito pouco a falar sobre.

    É um conto original e criativo. Não há nada mais importante na arte do que instaurar um fato novo. A novidade é o que se busca, é o que rompe, o que dá marca, o que torna tudo original. E esse conto aqui é uma novidade bem contada.

    Parabéns!

    • universodecontos
      15 de junho de 2025
      Avatar de universodecontos

      Oi André.

      Valeu pelo comentário, fico feliz que tenha gostado do meu conto! Vou responder dois pontos de seu comentário:

      1- A simetria que eu quis me referir na descrição da rainha foi inspirada na imagem de capa do conto, onde de um lado fica a rainha, do outro um vaso, e no centro o rei. Tudo meticulosamente posicionado.

      2- Sobre a quebra de quarta parede, não foi para tirar a sua imersão, mas sim para apresentar o personagem do gênio, mostrando sua personalidade brincalhona e também seu poder absoluto. Ele é tão poderoso que está consciente que faz parte de uma história. E essa passagem também corrobora com o tom bem humorado e inusitado que permeia todo o conto.

      Ah, e obrigado pela nota tão generosa!

    • universodecontos
      15 de junho de 2025
      Avatar de universodecontos

      Oi André.

      Valeu pelo comentário, fico feliz que tenha gostado do meu conto! Vou responder dois pontos de seu comentário:

      1- A simetria que eu quis me referir na descrição da rainha foi inspirada na imagem de capa do conto, onde de um lado fica a rainha, do outro um vaso, e no centro o rei. Tudo meticulosamente posicionado.

      2- Sobre a quebra de quarta parede, não foi para tirar a sua imersão, mas sim para apresentar o personagem do gênio, mostrando sua personalidade brincalhona e também seu poder absoluto. Ele é tão poderoso que está consciente que faz parte de uma história. E essa passagem também corrobora com o tom bem humorado e inusitado que permeia todo o conto.

      Ah, e obrigado pela nota tão generosa!

  5. Bia Machado
    14 de junho de 2025
    Avatar de Bia Machado

    Olá, autor ou autora! Começo agradecendo pela leitura, por um conto tão gostoso de acompanhar a narrativa. Fanfic de Aladim e ao mesmo tempo um infantojuvenil? Creio que seja isso, independente disso a nota foi máxima, porque encontrei a vontade de não parar de ler enquanto não chegasse ao final. As respostas da velhinha foram emocionantes. Para mim, desenvolvimento na medida certa, sem exageros, a não ser por um excesso de “-mente” no comecinho, um pouco descritivo além da conta lá no início, mas em nada atrapalhou a vontade de continuar a ler e ver no que aquilo ia dar. Eu realmente amei. Parabéns!

  6. Alexandre Costa Moraes
    13 de junho de 2025
    Avatar de Alexandre Costa Moraes

    Entrecontista,

    O que dizer da Vovó Clotilde… quanta inteligência, quanta ternura e quanta presença narrativa! Que personagem deliciosa. Ela não só desafiou o rei, essa figura patética e megalomaníaca, como também deu aula pra ele, e fez isso tricotando de boas, sem erguer a voz, apenas com sabedoria, empatia e uma elegância desarmante.

    A construção do texto é impecável. Os diálogos têm ritmo, humor e ironia na medida certa. A ambientação do salão, o rei Maximus III, sua rainha ornamental e, claro, a presença cênica de Rá-Kadabra (que é simplesmente genial) elevam o conto a outro patamar. A escolha do pedido, não para si, mas para reparar uma injustiça contra o camponês, torna a narrativa não só engraçada e crítica, mas também profundamente humana e sensível. É narrativa com propósito, com valores e com uma lição entregue de forma elegante e nada panfletária.

    Para mim, O Desafio do Rei está entre os melhores contos do desafio. É redondo, bem escrito, divertido e, ao mesmo tempo, sensível. E sim, não tenho dúvida de que é também o conto mais criativo da rodada (tá na minha lista de MAIS CRIATIVO). Uma releitura brilhante da lógica das fábulas, com um toque de conto de gênio, comédia de tribunal e farsa real.

    Parabéns. Que conto espetacular. Boa sorte no desafio.

  7. Pedro Paulo
    12 de junho de 2025
    Avatar de Pedro Paulo

    Uma linda história sobre grandiosidade que, dialogando com chubesco, tece um sutil diálogo com a célebre “Sandman”. Na forma, quero complementar que na arte existe comedimento para o exagero e aqui é uma demonstração clara, com os arquétipos dos personagens sendo abusados até a última letra a serviço de um texto que desenha imagens fascinantes para quem lê e faz tudo mais bem-humorado. Certamente um dos melhores contos deste desafio!

  8. Fabiano Dexter
    11 de junho de 2025
    Avatar de Fabiano Dexter

    História
    Uma história muito bem escrita e bonita, com um Rei egoísta recebendo o direito a um desejo, desde que vença um desafio que pode ser feito contra quem ele quiser, e ele escolhe a Vovó Clotilde.
    Por se tratar de uma história para crianças, pontos que não me agradaram como os excessos do Gênio ou a simplicidade do desafio cabem muito bem ao público-alvo, sendo assim acertos na minha avaliação.
    Tema
    Certamente infanto-juvenil, já que achei um pouco complexa para meu filho de 6 anos e, ao mesmo tempo, básica demais para um gosto adulto. Ressaltando que é uma história que poderia, trabalhada de uma forma diferente, estar focada para um público mais maduro.
    Construção
    A escrita está muito boa, o que acaba até destoando um pouco da história, mas em momento algum fica complexa demais, o que poderia dificultar o entendimento do leitor.
    Impacto
    Gostei bastante da ideia e da execução, mas achei o final um pouco simples demais, mesmo para um público infanto-juvenil. Acho que o autor poderia arriscar um pouco mais ali.

  9. Mauro Dillmann
    6 de junho de 2025
    Avatar de Mauro Dillmann

    Um conto juvenil.

    Já no primeiro parágrafo há um excesso de adjetivação, deixando o texto fechado, cansativo e com pouco espaço para o leitor.

    O mesmo vale para os advérbios. Tantas “mentes”: flagrantemente, milimetricamente, cuidadosamente, visivelmente (duas vezes), calmamente, discretamente, novamente, verdadeiramente, pessoalmente. Cansa o leitor, deixa o texto pesado, cheio de sobras.

    O clássico chavão: deu de ombros.

    Vovó Clotilde é personagem e o pseudônimo da autoria. Acho batido esse uso, porque o pseudônimo sempre pode ser qualquer outro nome ou algo complementar à estória.

    Um conto sutil. Não vi erros gramaticais.

    Mas a enredo me pareceu tão superficial, mesmo que seja com a proposta juvenil.

    Desculpa, mas essa foi a minha leitura.

  10. Givago Domingues Thimoti
    6 de junho de 2025
    Avatar de Givago Domingues Thimoti

    O Desafio do Rei

    Da série “fazendo a boa”, vou tentar comentar o máximo de contos da Série A possível, apresentando minhas impressões pessoais sobre o seu conto.

    O Desafio do Rei é um conto infanto-juvenil, com pitadas de chubesco no final, sobre o encontro entre um rei ganancioso e um gênio maroto/travesso. 

    É um conto bem escrito, que, talvez, com menos em alguns aspectos e mais em outros, teria brilhado. Por exemplo, o início do conto é um tanto megalomaníaco em termos de humor. O gênio é bem escrachado, bem sacana (o que até dá uma pista de quem escreveu), tenta muito ser engraçado (esse tipo de humor nunca funciona comigo) e acaba sendo forçado. Vovó Clotilde surge como uma tentativa de inserir o conto dentro do tema chubesco, mas, pelo menos para mim, acabou saindo mais um tiro pela culatra. Ficou tudo tão escrachado e satirizado que as lições de Dona Clotilde se perdem no meio de tantas tentativas de piadas, soando tudo meio forçado demais. 

    Além disso, lá pelo início, penso que a escrita poderia ser um pouco melhor trabalhada, está um tanto travada e repetitiva.

    Enfim, um conto que não me conquistou, mas, como tudo no universo da Literatura, encontrará seu público.

  11. Kelly Hatanaka
    2 de junho de 2025
    Avatar de Kelly Hatanaka

    Engraçado, divertido e muito bom. O duelo me lembrou a cena de Sandman em que ele luta contra Lucifer. Achei muito bem feito. O conto todo é bem dinâmico e bem humorado, uma narrativa ágil, que prende a atenção. Um ótimo infanto juvenil.

  12. claudiaangst
    28 de maio de 2025
    Avatar de claudiaangst

    Olá, autor(a), tudo bem?

    Há um quê de fábula infantil (satírica) nesse texto, mas também um misto de referências que apontam para uma fanfic (Aladim? Gênio da Lâmpada? Os três desejos?). Enfim, vou considerar cumprida a abordagem do tema proposto.

    Os personagens representam os arquétipos clássicos — o rei tirano, o mágico excêntrico e a velhinha bondosa e sábia. O desafio é interessante e faz com que o(a) leitor(a) fique torcendo pela Vovó Clotilde.

    No geral, o conto está bem escrito. Não percebi problemas de revisão. Talvez, apenas talvez, eu tirasse a vírgula em:
    — Traga os biscoitos, e o açúcar mascavo. > Não entendi a necessidade da pausa aí.

    O(A) autor(a) apresentou um conto gostoso de ler, divertido (entretivo, Bruna?), crítico e ainda tem um quê poético. Traz uma lição de moral no final, mas sem ser chata feito um sermão.

    Parabéns por participar de mais um desafio e boa sorte ao escalar o pódio.

  13. Fabio Baptista
    27 de maio de 2025
    Avatar de Fabio Baptista

    Os súditos do Rei Maximus III encontram um grande tesouro. Um tipo de arca da aliança misturada com lâmpada mágica de onde aparece a criatura Rá-Kadabra que pode realizar um desejo. Para isso, porém, o rei terá que vencer um desafio com regras específicas. Para não arriscar, o rei escolhe a vovó Clotilde, certo de que a venceria facilmente. Mas as coisas não saem bem como esperado. No final, o rei (forçadamente pelo desejo da vovó) encontra a redenção.

    Esse foi um dos contos mais gostosos de ler aqui da Série A. Apesar de ser um plot batido (e qual não é?), o autor conseguiu dar uma dinâmica muito boa à narrativa. Eu trocaria a palavra “vagabunda”, acho meio pesada para se referir a uma senhora, mesmo considerando um público mais adolescente.

    As regras da batalha não foram apresentadas muito bem, meio que começou do nada ali a “batalha de rap”. Aqui eu me decepcionei um pouco, primeiro por lembrar da mesma dinâmica em Sandman e também porque não senti que as respostas foram tão satisfatórias, com exceção à última.

    O final foi clichê, porém… chubesco.

    Gostei!

  14. cyro eduardo fernandes
    22 de maio de 2025
    Avatar de cyro eduardo fernandes

    O conto descreve um rei frio e tirano diante de um gênio que oferece um desejo. O processo culmina numa lição de humildade que transforma o déspota. O texto é bem elaborado e rico na descrição do palácio. A Vovó Clotilde transborda bondade e sabedoria. Um bom conto com impacto mediano.

  15. Jorge Santos
    20 de maio de 2025
    Avatar de Jorge Santos

    Olá, Clotilde. Em primeiro lugar, devo pedir desculpa por ter usado o seu nome há dez anos para uma personagem de um livro. Não fui propriamente simpático, mas ela também não foi. Adiante. Gostei bastante do seu texto, que juntou os dois temas do livro: o fanfic e o infantil. A caracterização das personagens é adequada. O rei, a rainha, o génio e Clotilde, todos representam o seu papel. O conflito é evidente: o rei é excessivamente egoísta, não conseguindo ver as necessidades do povo. A transformação que ocorre no desfecho é previsível, mas é feita com a mesma elegância narrativa que pontua no resto do texto. Só a minha costela de adulto anseia por algo mais impactante, mas paciência.

  16. Rangel
    18 de maio de 2025
    Avatar de Rangel

    Vovó Clotilde,

    Queria falar bastante deste conto, mas estou no celular e isso complica um pouco. Primeiro, achei as descrições do cenário deslumbrantes. Você conseguiu imprimir em mim a imagem da grandiosidade do castelo. Quanto às personagens são todas interessantes e bem construídas. Do rei arrogante à rainha-enfeite. A revisão também está ótima. Parabéns!Vou falar um pouquinho sobre alguns pontos que gostei menos. Primeiro, o duelo entre Vovó Clotilde e o rei. Eu não entendi a dinâmica dela vencer. Qual o exato critério que dava a vitória a ela. Esses duelos, como em Sandman, vem de algum ponto lógico, a ave que vence a serpente que perde pra bactéria etc. Agora um cobertor vencer um trovão é algo arbitrário, apenas opinião. O rei na sua arrogância deveria ao menos levantar alguma objeção, discordar do juiz, mas não, aceita tudo e pronto. Outro ponto pra mim é a Vovó Clotilde. Tem algo nela desencaixado. Sei lá, ela entende a dinâmica do jogo muito rápido, e ao invés de aproveitar a simplicidade dela pra explicar a ela e ao leitor as regras, simplesmente ela já entende tudo como vai funcionar. Outro ponto é a própria dinâmica da disputa, perde muito em efeito narrativo, a senhorinha vencer todas as disputas travadas. E como eles sempre partem de um round novo sem conexão com o anterior, no final ela já tinha vencido o monarca. Por fim, não vi nada na cláusula mencionando que o pedido iria para a outra pessoa em caso de derrota. Esse sim me parece um facilitador narrativo.Enfim, a história em conjunto é muito boa. Acho que foi a que mais me diverti. Só esses detalhes me pegaram. Então parabéns e boa sorte!

  17. Antonio Stegues Batista
    16 de maio de 2025
    Avatar de Antonio Stegues Batista

    Resumo do conto: Rei malvado, faz contrato com entidade mágica que lhe concede um desejo depois de ele duelar com uma velhinha fofa.

    Achei o enredo genial, muito bem pensado e escrito. Um conto de fantasia que traz uma lição de moral para crianças e adultos. As descrições das cenas fazem um visual verossímil, colorido e engraçado, mas sem exagero. Muito bom. Parabéns e boa sorte.

  18. paulo damin
    15 de maio de 2025
    Avatar de paulo damin

    Bela fábula. Não sei se é fanfic ou o outro gênero, mas tudo bem. Histórias de moral são sempre adequadas quando colocadas na idade média. As de hoje em dia que soam meio chatas, não sei por quê. Talvez porque a moral só funciona bem num universo mágico, utópico. Ou porque foi inventada na Europa, terra dos reis maldosos que nem o desse conto.

    Por ser um rei mau desde a primeira palavra, a gente já sabe o que vai acontecer. Então, achei desnecessário tanta didascália. Acredito que o conto ganharia em graça, caso se fosse direto ao ponto. Era uma vez um rei que não dava arrego pros camponeses. Eles iam lá, ele mandava decapitar. Um dia, chegou um gênio dizendo que, se o rei vencesse a velhinha da praça, ele seria todo-poderoso…

  19. Leandro Vasconcelos
    11 de maio de 2025
    Avatar de Leandro Vasconcelos

    Olá! Este é um belo texto. Remete a grandes fábulas infantis. Tem um tom moralizante, mas que não é panfletário.

    É realmente tocante a edificação do ambiente e dos personagens. Tudo tem um significado. O salão real é verdadeira extensão dos atributos do monarca, que veste o arquétipo do déspota sombrio. Mas então, confrontado pela mais indefesa das criaturas, uma vovozinha (indefesa só nas aparências!), ele se transforma. Vê que sua soberba não representa riqueza, mas sim miséria moral, afetiva e espiritual.

    Maximus III representa a arrogância, o narcisismo, a vaidade – atributos dos quais ninguém gosta. Vovó Clotilde, por outro lado, encarna a sabedoria humilde, a simplicidade e a pureza. A oposição entre eles — especialmente expressa em forma de duelo de metáforas — é o ponto alto do conto, tanto pela inventividade quanto pela carga simbólica.

    Gostei da referência ao gênio da lâmpada. Aqui ele funciona como pícaro, mensageiro ou catalisador, e quase como um antagonista do rei arrogante. Um personagem multifacetado. Como não se submete, torna-se uma outra fonte de polaridade narrativa, o que move o enredo. Muito bom!

    O autor demonstra domínio do ritmo narrativo, com alternância eficaz entre ação, diálogos e reflexões. A linguagem é acessível, mas recheada de trocadilhos inteligentes, ironias bem aplicadas e descrições imagéticas. É um texto muito agradável de ler.

    O único porém que eu coloco nesta bela obra, e o faço relutante, é que o desfecho soou forçado. Talvez um pouco mais de hesitação do rei, vendo suas certezas confrontadas, daria um pouco mais de naturalidade ao desfecho (e ao personagem). Talvez se a transformação partisse dele próprio, seria ainda mais tocante.

    Mas isso são apenas minudências. O texto está ótimo! Parabéns!

  20. Thiago Amaral
    10 de maio de 2025
    Avatar de Thiago Amaral

    Olá!

    Gostei bastante do conto. Várias coisas brilham aqui, mas o principal são os personagens. Dona Clotilde e o Gênio roubam a cena. A primeira confere um significado profundo à história, que traz toda emoção e lição que uma história do tipo requer. E soa bonito, ainda! O Gênio, por sua vez, é alívio cômico muito bem descrito, tanto sua aparência, quanto por seu comportamento. Conseguimos visualizar todas as suas peripécias, loucas como do gênio do Alladim. Imaginei uma versão cinematográfica do conto, com o Gênio dublado pelo Guilherme Briggs.

    O rei é um pouco mais clichê, mas funciona como contraponto da mensagem que está sendo passada. A rainha é o fator mais curioso do conto, já que sua inércia não é explicada. Fiquei querendo saber mais sobre ela, mas não teve muita coisa. Acho que tinha potencial pra mais.

    O desafio em si é uma variação do que vemos na HQ Sandman, que já foi reproduzido em outros lugares (Acho que até no EntreContos mesmo, se pá pelo próprio Thales, que inequivocamente escreveu esse também!). Aqui, temos apenas disputa de quem se acha com a melhor frase de efeito. Achei injusto que o rei sempre começasse as frases, o que dá tempo da Clotilde falar coisas melhores. Ao mesmo tempo, o rei que ia começando a falar sem ninguém pedir. Então é mais uma evidência da impulsividade e do narcisismo dele!

    O resultado foi muito bom, num conto que surpreende com a sabedoria nele contida. Com certeza serviria para divertir e ensinar crianças de todas as idades.

    Parabéns e boa sorte no desafio!

  21. Augusto Quenard
    9 de maio de 2025
    Avatar de Augusto Quenard

    Muito bonito. No início ele até engana um pouco, parece conto adulto. Mas à medida que avança, com a coloquialidade do rei, a caricatura da mulher (talvez esse seja o único ponto a revisar, né?), do camponês, do gênio, prepara tudo com humor e diversão pra disputa retórica que a velhinha vence com sabedoria e afeto. 

    Achei que funciona muito bem toda essa dinâmica pra crianças, pois tem uma vocabulário e uma seriedade inicial que não a subestimam, e depois parte pro humor, pro afeto, pros valores, e pra um ensinamento simples mas que funciona bem literariamente, dá um quentinho no coração. E que é reforçado, primeiro, ela ganha o embate pela simplicidade; em seguida, ele se torna grandioso pela mesma atitude. Adorei.

  22. Luis Guilherme Banzi Florido
    9 de maio de 2025
    Avatar de Luis Guilherme Banzi Florido

    Boa tarde!

    Uau, sensacional! Excelente! Amei!

    Um conto muito bom, muito bem escrito, otimos personagens, otimo enredo, otima reviravolta, otimo desfecho. Bom pra adulto, otimo pra criança. Cativa sem deixar de ter ensinamento, ensina sem ficar cafona. Sem duvida vai brigar pelo titulo da A, ta empatado nos 3 que mais gostei aqui. Vamos falar com mais detalhes.

    A principio, estava achando o rei um pouco caricato demais. Mas aos poucos fui percebendo que nao era por acaso, era proposital, fazia parte da historia e do desenvolvimento do enredo e do personagem, que sao intimamente ligados e interdependentes. Afinal, a historia é toda, no fim, sobre um homem que acha que tem tudo, mas nao tem nada, e que percebe o verdadeiro valor das coisas. Que muda. Se tem um unico ponto a ser questionado aqui é que o rei muda magicamente, e nao por um esforço proprio ou por aprender algo. A nao ser que a gente considere que o pedido concedido pelo genio seja metaforico, e que o que mudou mesmo o coração do rei foi o contato com aquela humilde senhora. Ou seja, a magica é simbolica. Assim, acho que a historia melhora muito.

    Gostei muito do desafio. Apesar de curta, a disputa de palavras foi profunda. As respostas da velha, replicando o rei, são profundas e ate filosoficas. Sao tocantes. Ate me emocionaram um pouco, sendo sincero.

    As descrições e cenarios tambem sao otimos.

    Enfim, contaço, lindo, divertido, engraçado, profundo.

    Parabens e boa sorte!

  23. toniluismc
    7 de maio de 2025
    Avatar de toniluismc

    AVALIAÇÃO CRÍTICA – CONTO “O Desafio do Rei”
    ✒️ Por alguém que leu até o fim, sim, mas teve que tomar um chá de camomila depois para acalmar o estranhamento de um conto assinado pela vovó que trata a vovó como objeto narrativo. Spoiler: não é uma fanfic, nem um conto infantojuvenil propriamente dito. Mas talvez seja uma esquete mágica com crise de identidade narrativa.

    📉 PRIMEIRA IMPRESSÃO

    “O Desafio do Rei” quer ser fábula, quer ser sátira, quer ser conto inspirador. Mas não sabe exatamente quem é seu público, nem o tom que quer adotar. Tem lampejos de humor eficaz, mas também momentos desconcertantes de agressividade gratuita, frases que escorregam no exagero e uma estrutura tão inflada de floreios cômicos que o que deveria ser um conto infantil leve termina com mais trauma do que ternura.

    ✍️ TÉCNICA — Nota: 3.2

    Pontos positivos:

    • A autora (ou autor, com pseudônimo de “Vovó Clotilde”) tem domínio da estrutura cômica, com frases de efeito e reviravoltas previsíveis, mas bem encadeadas.
    • O texto tem ritmo e controle narrativo: sabe onde pôr o timing do humor, e usa a teatralidade de Rá-Kadabra com uma habilidade de palco que lembra personagens como o Gênio de Aladdin misturado com um burocrata da Receita Federal intergaláctica.

    Mas…

    • As construções de frases são simples a ponto de soarem apressadas ou infantiloides — o que não seria um problema se o público-alvo fosse realmente infantojuvenil. Só que o vocabulário e as piadas não conversam com essa faixa etária.
    • Os trechos mais sentimentais, que deveriam provocar emoção, soam forçados, artificiais ou previsíveis. O embate com a Vovó Clotilde vira um desfile de frases prontas e oposições binárias (realeza versus simplicidade) que funcionariam melhor como meme do que como clímax narrativo.

    🔎 Resumo técnico: A execução é funcional, mas não sofisticada. A sensação é de que o autor(a) escolheu fórmulas de impacto e depois preencheu os espaços com cenas que parecem profundas, mas que não constroem verdade emocional com consistência.

    🎨 CRIATIVIDADE — Nota: 3.5

    Pontos fortes:

    • O personagem mágico Rá-Kadabra é, de longe, o ponto alto da inventividade. Sua mistura de gênio, mestre de cerimônias e comentarista meta-narrativo confere ao conto um charme teatral e um frescor improvável.
    • A ideia do “duelo de grandezas” entre o rei megalomaníaco e a vovó que tricota verdades universais tem potencial simbólico interessante.

    Mas…

    • A estrutura é altamente derivativa. Lembra contos de provação moral do tipo “rei arrogante aprende lição com o mais humilde”, que funcionam muito bem… desde que sejam sutis. Aqui, tudo é explicado, gritado, martelado.
    • O humor do começo (chutes, grunhidos, “cabrito tossidor”) flerta com o escatológico e agride a delicadeza que se espera de um conto com pretensão infantojuvenil.

    🔎 Resumo criativo: A premissa tem cor e movimento, mas não sabe se quer ser fábula, paródia ou episódio de desenho animado com moral de novela das seis.

    💥 IMPACTO — Nota: 2.2

    Aqui o castelo desaba.

    • O embate final se pretende emocionante, mas é construído como um duelo de frases feitas, como se a vovó fosse uma IA treinada para vencer argumentos com sabedoria carinhosa. Falta verdade. Falta humanidade. Falta risco. Falta… vida.
    • Antes da virada moral, temos uma sucessão de cenas com humor sádico e descrições que, embora engraçadinhas para adultos, podem causar desconforto a leitores mais sensíveis — principalmente crianças. Chamar a vovó de “velha vagabunda” pode até ser usado como hipérbole cômica entre adultos, mas é grosseiro demais para a proposta emocional que se pretende no desfecho.
    • A ideia de “transformação do rei” ocorre por mágica, não por construção interna real. Ele muda porque foi derrotado num debate de aforismos — não porque houve uma evolução psicológica legítima.

    🔎 Resumo do impacto: A conclusão quer ser emocionante, mas é um teatro moral com aplauso mecânico. A gente não sente. A gente apenas entende o que deveria ter sentido.

    ⚖️ CONSIDERAÇÕES FINAIS

    “O Desafio do Rei” é um conto que soa mais como esquete de palco do que como história literária. Tem energia, tem ritmo, tem brilho… mas não tem alma. Ou, se tem, é uma alma feita de purpurina e frases motivacionais recicladas.

    O nome da “Vovó Clotilde” na autoria cria um ruído irreparável, já que a personagem é tratada em terceira pessoa com descrições e distanciamento típicos de uma narração onisciente. Isso mina completamente o jogo ficcional: não é autoficção, não é fábula pessoal, não é conto narrado por uma avó. É um pseudônimo que finge uma intimidade que o texto não sustenta.

    Resumo cruel em uma frase:

    Uma fábula travestida de fanfic cômica que troca o coração pelo espetáculo — e que parece escrita para um público que não existe.

    📌 Sugestão à autora (ou autor, ou vovó imaginária):
    Se a intenção era emocionar, contenha o humor pastelão. Se a intenção era divertir, assuma o nonsense desde o início e não tente empurrar uma lição de moral ao final. E, por favor, se assinar como “Vovó”, que seja a voz da Vovó quem conta a história.

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Informação

Publicado às 3 de maio de 2025 por em Liga 2025 - 2A, Liga 2025 - Rodada 2 e marcado .