EntreContos

Detox Literário.

Luiz Caramujo (Alexandre Moraes)

Um chuvisco teimoso lambia os muros da zona noroeste de Belo Horizonte. A cidade acordava lenta, em tons tristes, como se até o concreto resistisse à rotina. No velho casarão de Dona Norma, um homem de óculos redondos e camiseta manchada andava em círculos pelo jardim. Era Luiz Araujo. Mas já não se reconhecia. Curvado, olhos baixos, sentia-se aderido a si mesmo, como quem carrega uma casa que não escolheu. Era como se estivesse se tornando um caramujo.

Tragava o segundo cigarro com raiva contida, sabia que o fim de semana traria visita — o vendaval chamado Dona Norma.

Dona Norma era a sogra, a matriarca, a regente da decadente orquestra familiar de Deise. Desde que Jairo, seu falecido marido, deixara uma pensão gorda ao morrer de infarto aos 50 anos, tornara-se uma viúva abastada. Não rica, mas com dinheiro suficiente para manter o cabelo feito, a despensa cheia e a filha debaixo da asa.

Deise, que já fora casada, viu em Luiz um recomeço com mais glamour e charme. Bonito, criativo, sagaz, o conhecera numa turma de amigos da UFMG, quando ele ainda falava em Cannes como destino de suas ideias. Sonhava ser redator de grandes campanhas. Era o cabeça da dupla com Fred, diretor de arte radicado em São Paulo.

Por um tempo, Luiz viveu o sonho dourado. Ganhou prêmios em festivais de publicidade, foi disputado por grandes agências. Suas campanhas para uma marca de cerveja renderam dois Leões em Cannes. Mas tudo isso foi ficando no passado.

Hoje, Luiz era freelancer. Um rascunho do gênio valorizado que fora.

Trabalhava em casa, com fone barato e banda larga instável, escrevendo para empresas que pagavam mal e atrasado. A única proposta real viera meses antes, quando Fred o chamou para um job nos EUA. A BBDO queria os dois. Mas Deise surtou. E Norma encenou: “Minha secretária vai me abandonar também?”

Norma chamava a filha de secretária. Não por acaso.

Deise levava a mãe ao supermercado, agendava médicos, pagava boletos online. Norma dizia que ela era “esperta, ao contrário do marido”. Dava bijuterias e mimos em troca de fidelidade: “Filha boa é filha por perto.”

Deise adorava. Tinha um carro financiado pela mãe e vivia mandando fotos de cruzeiros pra Luiz.

Luiz, que não tirava férias nem da própria cabeça, só respondia com emojis e frases secas.

Fred insistia: “Mano, sai daí. Bora fazer coisa grande. Os EUA querem a gente!” Mas Deise não suportava Fred. Dizia que ele queria “roubar” Luiz. “Presta concurso, amor. Fred é solteiro. Você não é mais boyzinho.”

Mas Luiz não queria ser concursado. Queria ser ele. Só não sabia mais onde esse “ele” tinha se perdido. A casa era da sogra. Um casarão antigo, cheio de infiltrações e rangidos. Luiz dizia que era como viver dentro de um corpo velho que não era o seu. A umidade encharcava os olhos. O mofo subia pela alma.

No jardim, Luiz cuidava das plantas como quem tenta manter viva uma parte de si.

Dentro da casa, tudo se arrastava. Deise ocupava-se de listas de compras e sonhos de viagem. Luiz, de boletos e ideias que não saíam do papel. Dona Norma, embora morasse no centro, surgia como uma tempestade: trovejando gritos, críticas, comparações. “Germano sim, é homem de verdade!”

Chefe de seção por apadrinhamento, Germano era arrogante, autoritário — e idolatrado por Norma. “Germano tem estabilidade. Tem status. E você, Luiz? Um notebook velho e desculpas mulambentas…”

Nos almoços, monopolizava a conversa. Xingava o presidente, esbravejava sobre economia, debochava dos freelas do cunhado: “Vai fazer textinho de shampoo agora, Luizito? Isso é profissão?”

Deise ria, fingindo constrangimento. Luiz calava.

Dentro dele, algo se remexia. Um calor estranho. Vontade de sumir. De cascar fora, até de si mesmo. A ideia de se recolher numa concha era, paradoxalmente, acolhedora. Talvez fosse isso: virar caramujo. Levar a própria casa nas costas. Viver no seu ritmo… em paz.

Naquela semana, Fred mandou um áudio: “Consegui fechar. NY é nossa, man! Let’s go?”

Luiz não respondeu.

Apagou o cigarro na mureta. O céu prometia chuva. No peito, uma tempestade se armava.

————————————————————

Dona Norma chegou no sábado, antes do almoço.

O portão ainda rangia quando sua voz atravessou a casa, junto ao cheiro de perfume enjoativo:

— Essas infiltrações ainda estão aqui? Tá fazendo aniversário…

Luiz engoliu o comentário como café frio. A presença da sogra mudava o ar. Ela trazia sacolas, empinava o queixo, fiscalizava tudo. Quando sentou, largou os pacotes como quem marca território.

— Não admito que deixem minha casa cair aos pedaços. — Olhou Luiz da cabeça aos pés. — Que cara de doente é essa?

Luiz não respondeu. Suava. Mesmo com o tempo ameno, sentia um calor estranho nas costas. A camisa grudava. O corpo doía.

Desde a noite anterior, febre e formigamentos. Coçava a pele, que repuxava. Sentia nojo. E medo.

Na cozinha, Deise passava o rodinho com força. Passara a manhã limpando, acendendo incensos, organizando tudo.

Queria agradar a mãe. Evitar críticas. Não por amor, mas porque sabia: agradar rendia depois. Uma bijuteria, um mimo, um fim de semana “all inclusive”. Norma adorava presentear quando era obedecida.

Deise parou, olhando o jardim onde Luiz seguia sentado. O que acontecera com eles?

Na UFMG, apaixonara-se por aquele redator brilhante, cheio de planos. Ela mesma sonhara ser jornalista.

Mas o casamento fracassado e a morte do pai a puxaram de volta para uma vida sem graça.

Houve um tempo em que se orgulhava de ser “a mulher de Luiz Araujo”. Mas, depois que a mãe ficou sozinha, algo mudou.

Sem perceber, trocou seus sonhos por promessas, pacotes que jamais faria, e bijuterias que imitavam joias.

Às vezes, via Luiz olhando o celular com expressão distante. Sabia que era Fred, chamando para correr atrás dos sonhos perdidos.

Uma parte dela queria que ele aceitasse. Mas a outra, moldada por Dona Norma, temia a mudança.

— Minha secretária não é mais a mesma — cutucou a mãe.

— Nem me leva mais no shopping. Ô Luiz, passa logo num concurso, chega dessa pobreza!

Deise riu forçado. Sabia que havia verdade ali. Levava a mãe pra todo lado. Comprava, dirigia, pagava boletos. Norma dizia que ela era “esperta pra essas coisas modernas”.

Nos raros momentos de solidão, Deise se perguntava se ainda havia espaço pros próprios sonhos. Guardava, numa gaveta do banheiro, um caderno com um romance inacabado.

Às vezes, procurava o nome de Luiz nas premiações. Já não estava lá. Sabia que o sufocava. Mas deixá-lo brilhar de novo seria encarar o quanto ela própria se apagara.

Na sala de jantar, Germano chegou querendo palco. Camisa apertada, cabelo com gel, voz embriagada de si.

— Fui resolver uns B.O’s, anunciou, sem que ninguém perguntasse. — A seção lá tá um caos. Sem mim, nada anda.

Norma sorriu como fã orgulhosa. Luiz ficou calado.

Desde que o cunhado arrumou um cargo via Q.I. na mineradora, se comportava como CEO. Na prática, era só chefe de seção. Mas falava como se fosse o Steve Jobs.

— E você, Luiz? Tá escrevendo textinho de margarina? Ou agora é de absorvente? Que fase, hein?

Ninguém riu. Nem Deise. Luiz fingiu olhar o celular, sem notar as notificações de Fred. Eles não se falariam mais.

— O Fred ainda tenta te levar pra São Paulo? — perguntou Deise.

Havia um tremor em sua voz. Uma parte dela queria ouvir “sim”. A outra, moldada por Dona Norma, temia mais do que tudo.

— Não… é só um projeto — respondeu, sem encará-la.

Norma fez um barulho estranho com a garganta.

— Projeto? O projeto que você devia encarar é um concurso, Luiz. Igual ao Germano. Carteira assinada, salário bom. Chega dessas “aventuras”. Você já tá velho!

Germano inflou-se.

— Concurso é o que há, Luiz. Criatividade é pra filhinho de papai. E você é um… fudido!

Luiz quis se levantar. Esmurrar aquele folgado. Mas o corpo pesava. Uma dormência se espalhava. O prato esfriava. O cheiro do macarrão embrulhou seu estômago. Deixou pra lá.

Deise olhava o marido, dividida. Reconhecia aquela expressão, a mesma que ele tinha ao receber um briefing impossível, quando precisava criar algo brilhante com prazo pra ontem.

Aquele Luiz ainda existia, enterrado sob camadas de derrotas cotidianas. Uma parte dela quis estender a mão, dizer que ainda acreditava. Mas o irmão era o famoso fimose. E as palavras morreram antes de chegar aos lábios.

Ela já não sabia qual versão de si era real — a mulher que sonhou ao lado de um criativo, ou a filha obediente, satisfeita com subornos disfarçados de presentes.

Naquela noite, a febre voltou. E, com ela, os delírios.

No espelho do banheiro, ele viu algo pulsando sob a pele das costas. Como placas enrijecidas, fragmentos pujantes sob a epiderme. A pele amarelada, escamosa, úmida, como se derretesse. Encostou os dedos: sentiu calor e repugnância. Quis chorar, mas o choro não saía. Estava preso, como ele.

Deise apareceu na porta:

— Luiz? Você tá bem? Que cara é essa?

Havia preocupação em sua voz. Por um momento, era a Deise de antes — a jovem estudante que o olhava com admiração quando ele falava de ideias e conceitos criativos. Aquela Deise ainda existia, soterrada sob anos de dominação daquela família tóxica.

Ele sorriu com esforço, sem graça, sentindo dores.

— Só um pouco de febre. Acho que a pressão caiu… Tomei remédio.

— Você tem que se cuidar, viu? Não quero que a mamãe fique preocupada… você tá sem Unimed. — disse, num tom ambíguo.

Ali estava a outra Deise. A que via tudo pelas lentes da mãe. A que transformava até preocupação em fala escrota à la Dona Norma.

— E amanhã vou ver aquele pacote da CVC com a mamãe. Vamos passar no shopping depois do almoço, tá?

Ele concordou, quase automático.

Deise hesitou na porta, como quem quer dizer algo mais. Por um instante, parecia prestes a quebrar o padrão, a perguntar sobre Fred, sobre possibilidades, sobre o Luiz premiado de anos atrás.

Mas o ímpeto passou. Apenas ajeitou o cabelo, um toque nervoso que tinha desde os tempos da faculdade, e saiu. Voltou para a cama e ficou folheando uma revista de viagens, imaginando lugares que nunca visitaria, enquanto a mãe ligava para confirmar se ela podia levar Germano ao médico na terça à tarde.

Luiz entrou no quarto e deitou de lado. A cabeça doía. As costas latejavam. Sentia a pele se retraindo, como se o corpo inteiro fugisse dali em meio ao silêncio, um silêncio denso, de quem há muito já desistiu de ser ouvido.

No domingo, a casa estava cheia. Germano falava alto no quintal, explicando à mãe como “ia subir na hierarquia” e “propor uma cava nova e a invasão de uma comunidade quilombola próxima à mineradora”.

Deise fazia pudim com a cunhada, falando de uma pousada charmosa em Tiradentes. Seus gestos eram mecânicos enquanto separava as gemas. Norma começou a falar sem parar, e ela respondia com acenos de cabeça. Mas seus olhos iam e vinham para a varanda, onde Luiz estava sentado, sozinho, tomando sua Heineken.

Algo nele a assustava — a postura encurvada, a respiração difícil, o misto de alívio e desleixo.

Lembrou-se de quando se conheceram: ele ereto, vibrante, apresentando o portfólio para a turma, falando da campanha recém-premiada. Agora mal reconhecia aquele homem corcunda na varanda.

Luiz estava esquisito. Quieto. A camisa colada de suor.

E ali, entre o cheiro de mofo e o riso da sogra, sentiu a primeira contração real. Uma dor aguda percorreu a espinha, forçando-o a se encolher. Tentou gritar, mas a voz falhou. A Heineken espatifou no chão.

Algo nas suas costas, algo que já não era mais dele, começava a endurecer.

Uma casca surgia.

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A madrugada chegou fria.

Luiz não pregou os olhos. O travesseiro encharcado de suor, o corpo parecia derreter. As placas amarronzadas nas costas se expandiam em arcos, como um telhado que se forma de dentro pra fora. O pescoço retorceu. Os braços encolhiam. As pernas se alargavam, planas, como se abraçassem o chão.

Não sentia fome. Só um silêncio cortante, profundo. E um certo alívio.

Na manhã seguinte, Deise entrou no quarto e o viu encolhido no chão, entre a parede e o guarda-roupas. Tentou não gritar.

— Luiz… o que é isso? — gritou, assustada.

Sua voz era puro pânico, mas havia algo mais: um reconhecimento, como se parte dela já esperasse por aquilo. Como se soubesse que o homem por quem se apaixonara — o redator brilhante — não poderia simplesmente desaparecer. Teria que se transformar em outra coisa.

Ele apenas olhou por sobre os óculos. Os olhos ainda eram dele. O resto, nem tanto.

Dona Norma entrou em seguida. Empalideceu por um segundo, mas logo se recompôs.

— Ai, que nojo… credo! Luiz virou um… caramujo? Que coisa horrível! Tira isso daqui! Germanooo! Vem cá, Germanooo! Anda!

Germano apareceu correndo. Viu o bicho no chão, fez cara de nojo, foi até a área de serviço e voltou com uma bacia, pá e vassoura.

— A sauna lá atrás tá desativada, né? Vou jogar ele lá, perto das plantas. Pode ser?

Deise ficou paralisada, dividida entre o horror e uma estranha compreensão. Era como se aquela transformação tornasse visível o que já acontecia há anos — Luiz se encolhendo, se retraindo, construindo uma armadura contra o mundo que o diminuía dia após dia. Contra ela. Contra a família.

Quis protestar, dizer que aquele era seu marido, o homem por quem se apaixonara, cheio de sonhos e ideias brilhantes. Mas as palavras não vieram. Como não vinham há anos, quando deveria ter defendido os sonhos dele, deveria ter dito: “Vá para Nova Iorque, eu vou com você.” Agora era tarde demais.

Luiz foi varrido por Germano pra fora. Jogado num canto do jardim, perto das plantas. Desovado junto com a bacia de plástico e a pá.

A sauna era úmida, com azulejos mofados e uma porta empenada. Um cubículo apertado — mas silencioso. Ali, Luiz respirou. E, pela primeira vez em muito tempo, não sentiu vergonha. Nem cobranças. Nada.

Passou os dias esquecido, enquanto a metamorfose seguia. A vida chata que conhecia terminava ali.

A carapaça se completou. O corpo encolheu, devagar. Adaptou-se à penumbra. Deixou de sentir frio ou calor. Luiz não ouvia mais gritos. Nem ordens. Nem conselhos absurdos. Estava, enfim, em paz.

————————————————————

A primeira a visitá-lo foi a esposa do Germano. Mulher do interior, submissa e calada. Trouxe um pedaço de goiaba e deixou perto da porta da sauna velha.

— Eu… trouxe comida — disse, quase pedindo desculpas.

Luiz não respondeu. Mas se arrastou devagar e comeu. Era doce. Era bom.

Ela voltou dias depois com água e cascas de maçã. Sentou-se por dois minutos. Depois se foi.

Deise apareceu certa manhã com um regador.

Molhou o canteiro onde Luiz antes plantava manjericão e cebolinha. As mãos tremiam. Os olhos também. Regava com cuidado. Às vezes chorava pra dentro, baixinho.

Começou a sonhar com Luiz todas as noites — não o caramujo, mas o Luiz da faculdade, o homem de ideias brilhantes e energia cativante. Acordava com um vazio no peito que nem todos os presentes de Dona Norma conseguiam preencher. Passou a evitar as ligações da mãe, a inventar compromissos.

Pegou o velho caderno de escrita, abandonado anos atrás. Escreveu alguns parágrafos, mas as palavras pareciam vazias. Como criar histórias, se deixara a própria virar aquilo?

Mexeu no celular de Luiz. Viu as mensagens de Fred. As propostas. As oportunidades perdidas. Chorou, reconhecendo sua parte naquele processo.

Não foi só Dona Norma que o sufocou — ela também ajudou, com cada sonho reprimido, cada “não” disfarçado de cuidado. Cada gesto que o aprisionava.

Depois, ia embora sem dizer nada.

Luiz observava pela fresta das plantas. Sentia saudade, mas também gratidão. Por estar longe.

Pensou: Pelo menos agora tenho sossego. Tenho minha própria casa. Sou dono do meu destino. Estou bem.

E depois refletiu em silêncio: Quando você desiste de jogar o game, de disputar quem tem mais Poder, dinheiro, status… eles param de te perseguir.

Fred continuava mandando mensagens. Muitas.

“Mano, tá vivo?”

“Temos proposta de New York na mesa, man! Fugiu de casa?”

“Responde, carai!”

Mas o celular estava desligado. Ao lado do caderno com as ideias antigas. Luiz já não tinha mãos para tocá-lo. Nem vontade.

Um dia, Germano voltou com dois homens uniformizados.

— Vai ter dedetização. Mamãe quer o quintal limpo.

— E aquilo ali no canteiro? — perguntou um deles.

— É só um bicho nojento. Pode dedetizar.

Deise ouviu a conversa da cozinha e correu para o quintal. Mas era tarde demais. Luiz sentiu o jato frio nas costas. Depois veio a queimação. Por um instante, achou que era o fim. O mundo ficou embaçado.

Dias depois, a grama foi aparada. O canteiro, revirado. A sauna, trancada com cadeado.

Dona Norma passou os olhos pelo quintal e sorriu:

— Agora sim. Livre de pragas!

Mas ele não morreu.

Deise molhava as plantas em silêncio. Havia algo diferente nela — uma dureza nos olhos, uma determinação que nem a mãe reconhecia.

Uma noite, escreveu uma carta para Luiz e deixou na sauna: “Me perdoe por não ter sido corajosa o suficiente, meu amor. Um dia, talvez eu também me transforme… como você.”

Germano, após um lay-off na mineradora, mudou o perfil para “open to work”. Sua esposa fugiu com o pastor.

Dona Norma agora sofria do coração. Estava entre a vida e a morte.

E a vida seguiu.

Meses depois, quando o sol escorria pelos muros, um caramujo apareceu lentamente no canto do jardim. Arrastava-se tranquilo deixando um rastro luminoso por onde passava. Como quem conhece o bom caminho.

Luiz estava ali, rugoso e sujo de terra. Mas livre. Feliz por estar longe daquela casa fria. Daquela gente asquerosa.

Agora ele era sua própria casa. E nela, a paz reinava… absoluta!

………………………………..

Texto atualizado em 19/06/2025

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44 comentários em “Luiz Caramujo (Alexandre Moraes)

  1. André Lima
    27 de junho de 2025
    Avatar de André Lima

    O início do conto é muito bom. Gosto de algumas construções imagéticas, em especial do primeiro parágrafo, embora eu ache que houve uma exposição que poderia ser evitada.

    “Um chuvisco teimoso lambia os muros da zona noroeste de Belo Horizonte. A cidade acordava lenta, em tons tristes, como se até o concreto resistisse à rotina.”

    É um início potente. Dá o tom de uma narrativa com descrições mais profundas.

    “Curvado, olhos baixos, sentia-se aderido a si mesmo, como quem carrega uma casa que não escolheu. Era como se estivesse se tornando um caramujo.”

    Aqui, nessa sequência, sinto que a explicação da última frase é uma exposição que pode tirar um pouco da potência descritiva do texto. Ora, as imagens vão se formando a medida em que a narração avança. Como experiência, acho mais atrativo quando a imagem se forma de maneira natural ou guiada de um jeito em que a exposição se camufle.

    Mas apenas um ponto a considerar, nada que tenha prejudicado a imersão.

    Os parágrafos seguintes mostram um narrador bom, com uma linguagem descompromissada. Gosto da leveza em que tudo é dito, em contraste com o sentimento de aprisionamento e angústia do protagonista. Essa dualidade me fisgou. Gostei também da frase: “Hoje, Luiz era freelancer. Um rascunho do gênio valorizado que fora.”.

    A partir daí, há uma ligeira mudança de tom narrativo, saindo do descompromissado e entrando nos parágrafos curtos, com frases rápidas e linguagem popular. Os diálogos são verossímeis, mas a informalidade em excesso contrastou com o tom inicial da narrativa.

    Gostei da frase: “Dentro da casa, tudo se arrastava.”. Mais uma alusão ao tema central da história. Gosto dessa técnica de brincar com as palavras, dos múltiplos significados e da metalinguagem.

    “Dentro dele, algo se remexia. Um calor estranho. Vontade de sumir. De cascar fora, até de si mesmo. A ideia de se recolher numa concha era, paradoxalmente, acolhedora. Talvez fosse isso: virar caramujo. Levar a própria casa nas costas. Viver no seu ritmo… em paz.”

    Esse parágrafo é bom. Há exposição também, mas foi feita de uma maneira mais fluida. Como já houve a ideia exposta no primeiro parágrafo, aqui acabou por ser repetitivo.

    A sequência que se segue é muito boa.

    “Uma parte dela queria que ele aceitasse. Mas a outra, moldada por Dona Norma, temia a mudança.”

    Culminando com essa passagem, a sequência dá mais profundidade a personagem, mostrando os conflitos internos, e acaba por enriquecer a trama que vinha numa linearidade (O que não é um defeito, tramas lineares podem ser muito bem exploradas, pois um conto é muito mais do que uma trama).

    “Às vezes, procurava o nome de Luiz nas premiações. Já não estava lá. Sabia que o sufocava. Mas deixá-lo brilhar de novo seria encarar o quanto ela própria se apagara.”

    Essa passagem exemplifica bem como esse novo elemento deu um bom respiro à toda estrutura narrativa do conto.

    Em seguida, a história mergulha no exagero e na caricatura, o que, para mim, foi excelente. Gosto dos diálogos caricatos aqui, pois estão na medida certa, escolhidos a dedo. Todo esse comportamento exagerado da sogra (E de Germano) dão a carga dramática certa para o ponto de virada que o leitor sente que está por vir, sem cair no melodrama ou na comédia pastelão, pelo contrário, dando um ar irônico meio Nelson Rodrigues.

    “Havia preocupação em sua voz. Por um momento, era a Deise de antes — a jovem estudante que o olhava com admiração quando ele falava de ideias e conceitos criativos. Aquela Deise ainda existia, soterrada sob anos de dominação daquela família tóxica.”

    Nesse parágrafo (E nos anteriores) fica evidente o acerto de trazer o conflito também para a esposa. Assim, o conto não periga cair no monólogo e na unidimensionalidade. Decisão acertadíssima.

    “Mas o ímpeto passou. Apenas ajeitou o cabelo, um toque nervoso que tinha desde os tempos da faculdade, e saiu.” (Acho que aqui você quis dizer “tique” e teve um erro de digitação).

    “Algo nele a assustava — a postura encurvada, a respiração difícil, o misto de alívio e desleixo.

    Lembrou-se de quando se conheceram: ele ereto, vibrante, apresentando o portfólio para a turma, falando da campanha recém-premiada. Agora mal reconhecia aquele homem corcunda na varanda.

    Luiz estava esquisito. Quieto. A camisa colada de suor.

    E ali, entre o cheiro de mofo e o riso da sogra, sentiu a primeira contração real. Uma dor aguda percorreu a espinha, forçando-o a se encolher. Tentou gritar, mas a voz falhou. A Heineken espatifou no chão.

    Algo nas suas costas, algo que já não era mais dele, começava a endurecer.

    Uma casca surgia.”

    Essa passagem evidencia tudo que eu falei sobre exposição. Pois, simplesmente, aqui não há. É disso que estou falando!

    Há uma repetição de “encharcado de suor” no conto que poderia ser evitada.

    O final é bom, com um humor cínico, de boa medida.

    Bom, este conto com certeza é uma homenagem ao Kafka, embora seja completamente diferente da proposta original do autor. O conto também não se enquadra no Realismo Mágico (Vi algumas pessoas comentando no grupo sobre isso), é um conto modernista com muitos aspectos de ironia.

    No Realismo Mágico, os elementos fantásticos ou impossíveis são integrados em um ambiente realista de forma natural e sem questionamento. A magia é parte intrínseca da realidade, e os personagens geralmente aceitam os eventos extraordinários sem grande surpresa ou necessidade de explicação. Além do fantástico também contribuir como uma espécie de contraste ao Realismo, o que empresta uma linguagem poética à narrativa também.

    Este conto está mais próximo do Expressionismo Alemão de Kafka que, embora se pareça com o Realismo Mágico, possui diferenças consideráveis. Em Kafka, temos por temas a alienação, o absurdo, a burocracia opressora, a perda de identidade, a angústia existencial e as transformações grotescas que refletem um tormento psicológico e social. Este conto se aproxima bastante disso, embora o foco narrativo não seja bem a experiência individual da transformação em si, dos sentimentos do protagonista e de todo exagero expressionista, mas sim nas causas que o levaram a essa transformação.

    O conto é bom, muito bom, tem aspectos muito positivos. A crítica é cínica, irônica, caricata (No bom sentido) e muito bem executada. Por isso, o aproximo mais do modernismo, até mesmo pela linguagem executada. Ora, a narrativa é uma crítica mordaz à opressão familiar e à repressão de talentos individuais. Há uma crítica ao modelo de “sucesso” imposto pela sociedade e pela família, personificado por Germano. A maior ironia reside no fato de que a transformação de Luiz em caramujo, que é vista pela família como algo “horrível” e “nojento”, é precisamente o que lhe traz liberdade e paz. O cinismo transparece na visão de que a única forma de Luiz encontrar a paz é através da completa desumanização e isolamento.
    Tem um jeitão de crônica e um fluxo rápido.

    Como pontos a melhorar, destaco a flutuação de tom da narrativa. Cheguei a sublinhar algumas construções imagéticas muito boas, mas o tom evocativo de alguns trechos não combina com a informalidade excessiva de outros, causa um estranhamento que não foi aproveitado. É força do estilo, concordo, mas esse estilo precisa ser melhor aproveitado na LINGUAGEM para que possamos entender esse contraste muito bem. Entende onde quero chegar? Queria ver mais das evocações e queria a informalidade se misturando com elas! O que foi feito no conto foi fragmentar, como se fosse uma narração em blocos: ora de um jeito, ora de outro. Faltou bater tudo num liquidificador e construir uma identidade.

    O conto está todo amarradinho, é divertido, bem construído, na medida certa. A narrativa flui rápido, bem, a escrita é boa, envolvente, as camadas estão aí, a crítica e o cinismo estão aí. É um bom trabalho.

  2. Thiago
    14 de junho de 2025
    Avatar de Thiago

    Esse conto não é chubesco, vou acreditar que atenda aos requisitos do outro gênero – não peguei a referência da personagem ou da história, mas vou confiar que seja mesmo uma Fanfic. 

    Eu gostei da história, a transformação em caramujo foi boa ideia e boa alegoria para o tipo de pessoa descrita na história. 

    Falta apenas fazer uns cortes, melhorando os diálogos, e talvez tirar referências que deixam o texto datado, como a referência a CVC, Heineken, lay-off – entendo, porém, que são termos para dar familiaridade e reconhecimento ao leitor – o mundinho conhecido de Luízes e Normas.

    Cumprimento pela escrita correta de Nova Iorque. Parece besteira, mas muita gente erra nisso.

    • Alexandre Costa Moraes
      15 de junho de 2025
      Avatar de Alexandre Costa Moraes

      Olá, Thiago! De fato, reconheço que não fiz uma fanfic autêntica de “A Metamorfose”, de Kafka. O texto foi tomando um rumo mais autoral e aceitei esse risco. Que bom que gostou de alguns pontos. Agradeço muito pela sua leitura, pela avaliação criteriosa e pelas sugestões valiosas. Valeu!

  3. Thales Soares
    14 de junho de 2025
    Avatar de Thales Soares

    Considerações Gerais:

    Este é um conto com ambições claras: busca transmitir metáforas existenciais e sociais por meio de uma narrativa simbólica sobre desgaste emocional, opressão familiar e apagamento da individualidade. A transformação do protagonista em caramujo é uma imagem simbólica, evocando sentimentos de retraimento e autodefesa frente a um ambiente tóxico. O texto trabalha bem com o cenário cotidiano sufocante, personagens opressores e a sensação de impotência do protagonista diante de uma rotina que o esmaga.

    O autor tem domínio de linguagem e estrutura narrativa, com uso frequente de paralelismos e repetições que refletem a estagnação do personagem. Além disso, a ambientação é bem construída: conseguimos sentir o peso daquela casa, a opressão da sogra, o cinismo do cunhado, e até mesmo as contradições internas da esposa.

    Pedradas:

    Apesar das qualidades técnicas, o conto falha no quesito mais crucial para este desafio: ele simplesmente não se encaixa em nenhum dos temas propostos. Não é infantil, nem juvenil, nem fofo, nem fanfic. E embora alguns leitores lá do grupo do EC tentem relacioná-lo a A Metamorfose, de Kafka, essa comparação me parece superficial. A obra de Kafka tem um tom absurdista e um estilo conciso que aqui dá lugar a um texto carregado de realismo social, crítica familiar e linguagem introspectiva. Eu li a Metaamorfose 3 ou 4 vezes, e até já reescrevi a história inteira, com o meu estilo, fazendo uma fanfic gigantesca sobre esse universo… e devo dizer que não encontrei aqui elemento algum que caracterize o conto dentro da Metamorfose. Não temos os mesmos personagens, não temos caixeiros viajantes, a história se passa em outro país, e nem sequer a época é a mesma. Na Metamorfose, a história já começa em seu clímax, com a transformação acontecendo logo na primeira página. Já aqui, a transformação ocorre de forma gradativa, o que o aproxima mais de Uzumaki, uma história do universo de Junji Ito, onde as pessoas vão se transformando em caramujo de forma lenta. Mas o autor parece não fazer esforço algum em mostrar que este conto é uma fanfic de Uzumaki, então eu o classificaria como totalmente fora do tema.

    O ritmo da narrativa é arrastado. A leitura se torna cansativa não por conta da extensão, mas pela densidade repetitiva das situações e pela ausência de variação no tom emocional. A história martela o mesmo sentimento de frustração durante quase toda sua extensão, sem grandes reviravoltas ou momentos de respiro. A transformação final, embora visualmente forte, não causa o impacto emocional que poderia, pois o leitor já está anestesiado pelo peso da leitura.

    Os personagens também não se destacam: Norma é uma caricatura da sogra autoritária, Germano é o cunhado babaca padrão, e Deise oscila entre a apatia e o arrependimento sem realmente se desenvolver. Faltaram nuances.

    Conclusão:

    Este conto está claramente deslocado dentro da proposta do desafio. Seu tom denso, sua crítica social amarga e seu simbolismo existencial não se encaixaram nos temas propostos… e a tentativa de forçar esta leitura como “fanfic” é, no máximo, interpretativa. O conto tem seu mérito como obra independente, mas talvez funcionasse melhor fora do contexto de uma disputa temática. Dentro deste desafio, é como um caramujo em uma corrida de borboletas: pode até ter casca resistente, mas não tem asas para alcançar o pódio.

    • Alexandre Costa Moraes
      15 de junho de 2025
      Avatar de Alexandre Costa Moraes

      Obrigado pela leitura cuidadosa. Sinto muito por fazer você ler o pior conto da B neste desafio. Espero agradar da próxima vez.

  4. leandrobarreiros
    14 de junho de 2025
    Avatar de leandrobarreiros

    É um conto que mostra um outro lado do poético. É real, duro, cru e metafórico.

    Dos textos que li no desafio, nenhum me fez torcer tanto pelo protagonista. Tive vontade de balançar o Luiz e dizer: “Você consegue, cara!”. Se há uma coisa que admiro em histórias é a capacidade delas de envolver e fazer o leitor se importar. Nesse sentido, acho que esta foi a melhor de todo o desafio.

    Tenho, contudo, duas ressalvas sobre o conto. Primeiro, acho difícil inseri-lo no tema. É mais inspirado em A Metamorfose do que uma fanfic propriamente dita. O autor resolveria isso facilmente mencionando, em algum lugar, uma história que alguns diziam ser real, sobre um homem que virou uma barata. Pronto, isso deixaria claro que a história se passa em um universo onde nos tornamos literalmente aquilo que permitem que nos tornemos, e se enquadraria como uma fanfic, na minha opinião.

    O segundo ponto é um deslize narrativo. Acho que o autor cometeu o pecado de subestimar a inteligência dos leitores, especificamente nesta passagem:

    “Deise ficou paralisada, dividida entre o horror e uma estranha compreensão. Era como se aquela transformação tornasse visível o que já acontecia há anos — Luiz se encolhendo, se retraindo, construindo uma armadura contra o mundo que o diminuía dia após dia. Contra ela. Contra a família.”

    Sim, nós sabemos o que está acontecendo. Isso não precisa ser explicitado e, de certa forma, acaba enfraquecendo a metáfora.

    No mais, é um dos melhores textos do desafio. No que diz respeito à nota, perderá alguns pontos devido à adequação ao tema. Não muitos.

    • Alexandre Costa Moraes
      15 de junho de 2025
      Avatar de Alexandre Costa Moraes

      Agradeço demais sua leitura e avaliação generosa. Fico feliz que você torceu pelo Luiz e que, de alguma forma, a história e os personagens te cativaram. Obrigado pelas palavras.

  5. Gustavo Araujo
    13 de junho de 2025
    Avatar de Gustavo Araujo

    Gostei muito do conto. É evidentemente uma fanfic de “A Metamorfose”, que troca o inseto pelo caramujo. Tanto lá como cá o bicho reflete o estado psicológico do protagonista Gregor/Luiz. Na obra de inspiração, a transformação ocorre já no início, enquanto que aqui ela se dá no terço final. Uma diferença que não chega a incomodar já que em ambos os casos a força do texto se dá mais pela percepção das famílias do que qualquer outra coisa.

    Kafka segue insuperável, é claro, mas não dá para dizer que este conto não tem brilho próprio. Ao mostrar a frustração de Luiz com os rumos de sua própria vida e assim justificar sua mutação para caramujo, o autor fala de solidão, de como a vida ordinária pode condenar uma pessoa à pequenez e assim explicar por que ele se sente tão bem quando percebe que ninguém mais presta atenção nele, que se tornou um ser indigno de ser notado.

    Demais da metamorfose de Luiz, percebemos a transformação daqueles que o cercam, inclusive de Deise e Germano, o que leva a pensar que quando alguém se modifica acaba transmutando também quem o rodeia. Enfim, é um conto muito bom e que possui uma forte carga de filosofia de vida. É provocante sem ser agressivo. Faz pensar. Bela homenagem ao filho de Praga.

    Como sugestão, diria para você, autor, fugir da imagem que ilustra o conto. Não só por conta do spoiler, mas por ser muito ruim.

    O que vale, no entanto, é o texto. E nisso você está de parabéns.

    • Alexandre Costa Moraes
      15 de junho de 2025
      Avatar de Alexandre Costa Moraes

      Receber um comentário assim, tão generoso, sensível e inteligente, vindo de alguém com tanta experiência e apreço pela literatura, é um baita incentivo. Muito obrigado pela avaliação e pelas palavras. Pra mim valeu como um prêmio. Gratidão.

  6. Andre Brizola
    13 de junho de 2025
    Avatar de Andre Brizola

    Olá, Francisco!

    Eu sou daqueles que acha que um conto não precisa, necessariamente, ter resolução definitiva. Eis Patrícia Lima, com seu livro vencedor do Prêmio Sesc de 2024, com finais abruptos, para comprovar que finais blasés e não resolutivos são, sim, adequados e podem render soluções criativas para enredos originais. E acho que seu conto vai nessa linha, sem precisar explicar nada, sem precisar resolver nada. Gostei do conto. Dito isso, deixo claro aqui que, desta vez, optei por um método mais organizado de comentário para me ajudar a ser mais ágil, prático e justo com os participantes.

    Técnica – O conto é bem escrito. Tem uma estrutura bastante tradicional, com desenvolvimento linear e ritmo de médio para devagar, graças a uma escolha um pouco mais complexa de construções frasais, tentando escapar da normalidade que o enredo, até determinado ponto, impõe sobre o personagem principal. Nada de errado aí, acho até que é uma escolha sábia, pois o conteúdo é bastante reflexivo, e tentar prender o leitor no texto por mais tempo visa a garantir essa reflexão e embeleza o conto. Frases como “construindo uma armadura contra o mundo que o diminuía dia após dia” e “trocou seus sonhos por promessas, pacotes que jamais faria, e bijuterias que imitavam joias”, longas, com conteúdo que demandam certa “degustação” mostram bem o que quero dizer. Também gostei da alternância entre a narração mais densa e os diálogos mais coloquiais, deixando bastante claro onde um termina e outro começa.

    Enredo – Bastante denso, de certa forma bastante cruel, com um arremate um tanto fantástico no fim, dando ares da literatura latino-americana do século vinte. O desenvolvimento é bastante conservador, lento (como um caramujo, diga-se) e foi feito de forma bastante exemplar. Gostei.

    Tema – Neste aspecto, desta vez, decidi ser bastante rígido no que diz respeito ao respeito ao que foi proposto. Entendo que os temas são um tanto quanto diferentes do usual, mas essa foi a proposta do EntreContos e acho que nós, autores, deveríamos honrá-la com textos que a atendessem da melhor forma possível. E, cara, como enquadrar seu conto como chubesco? Impossível. E fanfic? Do que? Kafka? Qual personagem popular temos aqui? Ou qual cenário? Por mais que eu tenha gostado do conto, acho que ele não atende ao que foi proposto pelo desafio.

    Impacto – Escrevo esse item do meu comentário alguns dias após ter lido o conto, para medir a forma como reagi ao texto e como ele me afetou. Acho que se a experiência foi boa, se o enredo me provocou, me fez pensar sobre o assunto, ou se há algo extremamente particular, mesmo que ruim, o conto reaparece em minha cabeça e penso sobre ele depois. Sim, Luiz Caramujo causou certo impacto em mim. Gostei do conto e ele me fez refletir como o fez Dias Perfeitos, de Win Wenders, por exemplo. Não estou comparando um a outro, entenda, mas acho que a reflexão de ambos vai pelo mesmo caminho, e isso funcionou muito bem pra mim, pro estágio de vida em que estou e com aquilo que passo no momento. Foi um texto oportuno.

    No geral, é um conto muito bom. Acho até que é um dos melhores que li deste desafio. Mas que não atende ao tema. Mas algo me deixou um pouco decepcionado. Com um enredo desses eu teria tentado “inventar moda”, sabe? Você tem uma história diferente em mãos, com um final ainda mais fora do normal. Envelopá-lo num texto tradicional parece ter sido um desperdício. O resultado final ficou, sim, muito bom. Mas dá a sensação de que ele poderia encontrar muito mais significado numa simbiose com um texto que também enverede por algo que possa ir mutando no decorrer da história, ou que vá derretendo. Sei lá, não quero me intrometer mais do que já estou me intrometendo aqui. Mas acho que me fiz entender. De qualquer maneira, é apenas a minha visão, ok?

    É isso, boa sorte no desafio!

    • Alexandre Costa Moraes
      15 de junho de 2025
      Avatar de Alexandre Costa Moraes

      Oi, André! Muito obrigado pela leitura atenta e pela avaliação criteriosa. Fico grato pelos apontamentos, pelas sugestões e, sobretudo, por saber que o texto te cativou de alguma forma. Valeu demais.

  7. Amanda Gomez
    13 de junho de 2025
    Avatar de Amanda Gomez

    Oi, bem?

    Nossa, que conto perturbador, no bom sentido. Vou ser sincera, não faço ideia de qual obra foi tirada a ideia para essa fanfic, pelo menos penso que seja uma fanfic, já que não tem como ser outro tema.

    É um texto denso, muito bem escrito e instigante. Que personagens interessantes você apresentou aqui, cada um com suas nuances. Um drama cotidiano que ganha ares de fantasia. O que foi real aqui? Será que tudo não é uma questão de perspectivas? Me fez pensar. Se não fosse a minha ignorância quanto ao tema, diria que esse texto ganharia fácil um desafio alinhado à proposta. Mas, como há essa dúvida, fica uma nuvem pairando sobre como devo avaliá-lo.

    De modo geral, achei excelente.

    Parabéns pelo trabalho.

    Boa sorte no desafio!

    • Alexandre Costa Moraes
      15 de junho de 2025
      Avatar de Alexandre Costa Moraes

      Oi, Amanda! Esse texto era pra ser uma fanfic de “A Metamorfose”, de Franz Kafka. Mas confesso que a história foi ganhando vida própria e acabei não escrevendo uma autência fanfic. Por outro lado, fico feliz que você tenha gostado do texto e conhecido um pouco da história do Luiz Caramujo, que sofre com a opressão de uma família tóxica e prefere viver em paz sozinho, na sua casinha. hehe. Obrigado pelas palavras e pela avaliação. Gostei bastante.

  8. Pedro Paulo
    11 de junho de 2025
    Avatar de Pedro Paulo

    Olá! Tentando simplificar, estarei separando meus comentários em “forma” e “conteúdo”, podendo adicionar um terceiro tópico para eventuais observações que eu não enquadre em um ou outro.

    FORMA: Um equilíbrio fascinante, sem desperdícios de texto. Nos apresenta Luiz e conta a sua história, depois nos trazendo diretamente à perspectiva do personagem ao nos informar de seus sentimentos, pensamentos e, principalmente no caso do protagonista e de sua metamorfose, passada a quem lê com descrições certeiras da agonia de uma mudança indefinível, mas necessária. Esse mesmo balanço é visto com Deise e é por meio desses dois personagens que os outros secundários aparecem e são caracterizados, de modo que cada um tenha voz e personalidade discerníveis. A estrutura do conto é bem dividida, situando o conflito ao mesmo tempo em que apresenta as personagens, deixando claro que a natureza de cada um é a própria origem do problema.

    CONTEÚDO: O absurdo e o verossímil andam tão conjuntamente no conto que a credibilidade de toda a situação não fica nem um pouco questionada mesmo com a transformação. Propositadamente e abusando um pouco da caricatura, o quarteto de personagens é bastante real e incorpora tipos de pessoas bastante reconhecíveis em nossa sociedade: o gênio frustrado; a filha servil; o menino mimado; a matrona megera. A proximidade dessa caracterização é o que faz o conto tão envolvente, como se fosse um drama daqui da rua, não um conto de ficção. E, entretanto, o único ponto desfavorável do conto é não o texto em si, mas as circunstâncias de sua publicação. Trata-se de um desafio temático. Escrever em forma kafkiana não é escrever em Kafka, como o gênero fanfic pede e como esse conto perde. Ainda assim, uma grande adição à biblioteca entrecontista. Parabéns!

    • Alexandre Costa Moraes
      15 de junho de 2025
      Avatar de Alexandre Costa Moraes

      Fala, Pedro Paulo! Muito obrigado pela leitura tão cuidadosa e generosa. De fato, a proposta inicial era uma fanfic de “A Metamorfose”, de Kafka, mas a história foi ganhando vida própria e acabou tomando um caminho mais autoral. Assumi o risco e paguei por isso. Culpa do Francisco Castro, meu heterônimo nessa empreitada. De toda forma, fico feliz demais com seu olhar sobre o texto. Abração.

  9. Leo Jardim
    9 de junho de 2025
    Avatar de Leo Jardim

    📜 TRAMA (⭐⭐▫▫▫)

    Pontos Fortes:

    • Metáfora Visceral – A transformação em caramujo concretiza poeticamente o processo de autoanulação do protagonista.
    • Crítica Social Afiada – A dinâmica familiar tóxica (sogra dominadora, cunhado arrogante) retrata o esmagamento de sonhos pela mediocridade.
    • Detalhes Realistas – O universo da publicidade (prêmios em Cannes, freelas mal pagos) dá veracidade ao conflito profissional.

    Pontos de Melhoria:

    • Repetitividade – As mesmas ideias (sufocamento, convite de Fred, submissão de Deise) são reiteradas sem avanço narrativo.
    • Ritmo Arrastado – A primeira metade poderia ser condensada; a transformação física demora a acontecer.
    • Personagens Unidimensionais – Dona Norma e Germano são caricaturas do opressor, sem nuances.

    📝 TÉCNICA (⭐⭐⭐▫▫)

    Excelência Narrativa:

    • Vozes Distintas – Luiz tem tom introspectivo (“como quem carrega uma casa que não escolheu”), enquanto Norma fala em frases cortantes (“Chega dessas aventuras!”).
    • Cenas Símbolo – A cena da Heineken quebrada no chão antecipa a ruptura final.
    • Transição Sutil – A metamorfose é gradativa (febre, placas nas costas), não um evento abrupto.

    Sugestões:

    • Pontuação nos Diálogos – Corrigir “você tá sem Unimed. — disse” para “você tá sem Unimed (sem ponto) — disse”.
    • Mostrar, Não Contar – Em vez de “Deise estava dividida”, exibir seu conflito através de ações (ex.: esconder o caderno de viagens quando a mãe entra).
    • Cortar Redundâncias – A frase “Luiz não queria ser concursado. Queria ser ele” poderia ser apenas “Luiz queria ser ele”.

    🎯 TEMA (⭐▫)

    • Fanfic? – A conexão com A Metamorfose de Kafka é temática (transformação como metáfora de desumanização), não uma releitura.
    • Tópicos Tratados:
      • Autossabotagem e renúncia à identidade.
      • Conformismo como morte em vida.
    • Falta Originalidade – A ideia de “homem transformado em inseto por pressão social” já foi explorada exaustivamente.

    💡 CRIATIVIDADE (⭐⭐▫)

    Destaques:

    • Caramujo como Símbolo – Diferente da barata kafkiana, o caramujo representa autoproteção (a casa que ele carrega).
    • Ironia Cruel – Germano, que zombava de Luiz, acaba demitido (“open to work”).
    • Final Aberto – Deise começa a questionar seu papel, sugerindo que ela também pode “se transformar”.

    🎭 IMPACTO (⭐⭐⭐▫▫)

    Por Que Não Arrebatou?

    • Clímax Previsível – A transformação física era inevitável desde o título.
    • Vítima Passiva – Luiz não tenta resistir; sua derrota é aceita desde o início.
    • Sogra Clichê – Norma é tão caricata que reduz a complexidade do conflito.

    O Que Funcionou:

    • Cena do Pudim – Deise separando gemas mecanicamente enquanto olha para Luiz é um retrato potente do casamento falido.
    • Último Parágrafo – A imagem do caramujo “deixando um rastro luminoso” sugere redenção na solidão.
    • Alexandre Costa Moraes
      15 de junho de 2025
      Avatar de Alexandre Costa Moraes

      Oi, Leo! Agradeço muito pela leitura atenta e criteriosa do meu conto. Concordo que acabei não fazendo uma autêntica fanfic, mas fico feliz que a metáfora da metamorfose, a crítica social e os elementos simbólicos tenham te alcançado de alguma forma. Seus comentários foram extremamente valiosos. Muito obrigado! 

  10. Mariana
    9 de junho de 2025
    Avatar de Mariana

    História: Confesso que, inicialmente, brisei que essa seria uma fanfic do Câmara Cascudo, sei lá a razão. Depois, pensei que era uma fanfic da Metamorfose. Agora, pode ser algo como Kafka encontra Junji Ito. Mas não é uma história triste, mesmo com elementos de horror (body horror). Admito que, no final, deu até uma inveja da paz de espírito que o Luís encontrou 2/2

    Escrita: Uma técnica muito boa e segura, com começo e final. E, ao longo do texto, um universo denso é estabelecido. Tem uma poesia triste, meio crua. Admito que só a Deise não me conquistou completamente. Acredito que, até é proposital, mas parece que ela só ameaça e nunca vai. Deu raiva, não pena 1,8/2

    Impacto: A transformação está nojenta, digo como um elogio. Foi uma montanha russa de emoções este texto – paz, angústia, raiva. Poderia tranquilamente figurar no desafio de Alta Literatura 1/1

    • Alexandre Costa Moraes
      15 de junho de 2025
      Avatar de Alexandre Costa Moraes

      Oi, Mariana!

      Muito obrigado pela leitura tão generosa e sensível. Fico muito feliz que o texto tenha te provocado tantas sensações. De fato, a proposta inicial era uma fanfic de “A Metamorfose“, de Kafka, usando a lógica da transformação como metáfora para o esmagamento existencial. Mas, ao longo do processo, a história foi ganhando vida própria e seguiu um caminho mais autoral, talvez até flertando, como você bem disse, com algo entre Kafka e Junji Ito (gostei dessa conexão, aliás).

      Agradeço demais pelo olhar, pelos comentários tão cuidadosos e pela generosidade na avaliação. Obrigado!

  11. cyro eduardo fernandes
    7 de junho de 2025
    Avatar de cyro eduardo fernandes

    É um bom conto, com peso e pegada kafkanianos. Boa técnica e narrativa um pouquinho lenta, nem tanto quanto um caramujo. Teve o mérito de retratar bem os personagens, enfatizando suas mediocridades.

    • Alexandre Costa Moraes
      15 de junho de 2025
      Avatar de Alexandre Costa Moraes

      Oi, Cyro! Muito obrigado pela leitura e pela avaliação generosa. Sobre o ritmo mais lento, é exatamente isso. A ideia foi criar uma cadência que acompanhasse o estado emocional do protagonista, essa sensação de peso, estagnação e aprisionamento, fazendo o leitor sentir na própria experiência de leitura o que ele sente na vida. Fico feliz que isso tenha sido percebido. Valeu demais!

  12. danielreis1973
    5 de junho de 2025
    Avatar de danielreis1973

    Luiz Caramujo (Francisco Castro)

    Segue a minha análise, conforme método próprio e definido para este desafio:

    CONCEITO: um conto muito, muito próximo do meu universo (sou publicitário, trabalhei anos em agências e acabei concursado…), que se destacou por construir a história antes de revelar sua inspiração – A Metamorfose, de Kafka. 

    DESENVOLVIMENTO: destacam-se, mas destacam-se mesmo, a ambientação mineira, os personagens acessórios como a sogra, o cunhado, a mulher; as personalidades e as falas deles são muito naturais e conduzem a história para o final absurdo vindo da obra originária. 

    RESULTADO: só tenho um reparo – acho que o título do conto não poderia entregar de cara no que ele iria se transformar. No mais, um conto muito interessante! Parabéns!

    • Alexandre Costa Moraes
      20 de junho de 2025
      Avatar de Alexandre Costa Moraes

      Oi, Daniel! Cara, que incrível coincidência, hein? Você fez a trajetória que a família do conto sonhou para Luiz Caramujo. Fico feliz que vc tenha gostado da ambientação mineira, dos personagens, das falas e da história. Obrigado pela leitura criteriosa e sim, acho que o título poderia não entregar tanto né, soou como spoiler. Valeu pela dica! Obrigado e parabéns pelo seu conto no desafio, foi um dos que mais gostei (curti demais a porção de taenia solium kkkkkk). Abração.

  13. Priscila Pereira
    2 de junho de 2025
    Avatar de Priscila Pereira

    Olá, Francisco! Tudo bem?

    Disseram no grupo que seu conto é fanfic de A metamorfose, não sei, porque não li, então não faço ideia se é uma boa fanfic ou não. Então vou avaliar como um conto normal.

    Gostei bastante do seu conto, muito bem escrito, uma escrita leve, direta e com personalidade. Está bem interessante e manteve meu interesse até o final (o que está difícil de acontecer esses dias…)

    O enredo parece simples, mas tem uma ótima profundidade psicológica, dá pra perceber sem parecer forçado, que o conto não é literalmente sobre um cara que se transforma em um caramujo.

    Ótimo conto! Parabéns!

    Boa sorte no desafio!

    Até mais!

    • Alexandre Costa Moraes
      15 de junho de 2025
      Avatar de Alexandre Costa Moraes

      Pri, muito obrigado pela avaliação tão generosa e carinhosa. Fico muito feliz que o conto tenha te cativado de alguma forma. Ler isso, vindo de você, é um baita incentivo. Agradeço de coração. Parabéns também pela sua vitória, mais do que merecida. Agora o desafio é conseguir me camuflar do seu “radarzinho” no próximo. hehe

  14. Marco Saraiva
    24 de maio de 2025
    Avatar de Marco Saraiva

    Um texto pesado, que me fez retorcer e envergar como Luiz no conto. É uma daquelas historias sem final feliz, apenas o progresso inexorável do protagonista em direção a um fim depressivo. Nada disso eu falo como crítica negativa: é apenas o estilo da leitura. O texto está claramente bem escrito, com diversas passagens um tanto poéticas, e uma competência nítida pelo autor(a). Na verdade, o trecho que destaco abaixo é, pra mim, lindo de ler, muito bem formulado, e ainda explica perfeitamente a atmosfera do conto inteiro:

    Mas Luiz não queria ser concursado. Queria ser ele. Só não sabia mais onde esse “ele” tinha se perdido. A casa era da sogra. Um casarão antigo, cheio de infiltrações e rangidos. Luiz dizia que era como viver dentro de um corpo velho que não era o seu. A umidade encharcava os olhos. O mofo subia pela alma.
    No jardim, Luiz cuidava das plantas como quem tenta manter viva uma parte de si.

    A decadência de Luiz é algo difícil de acompanhar, mas passa exatamente o sentimento que acredito que o autor(a) queria passar. Esta falta de auto estima, ausência de protagonismo na própria vida. A narrativa, ainda por cima, oscila entre o ponto de vista de Luiz e de Deise, explorando ambos intermitentemente, elevando a atmosfera depressiva.

    Assim como a história à qual este conto faz referencia (A Metamorfose) aqui a transformação de Luiz pode ser vista de mil maneiras diferentes, além da óbvia primeira camada, onde a transformação é puramente física. Pode-se interpretar esta transformação como apenas uma fuga: Luiz retirou-se do âmago daquela família, preferiu viver sozinho, mergulhando em uma tristeza solitária. A detetização no final é uma tentativa de apagar até mesmo as memórias da sua existência na família: tentativa esta que falha, pois a memória dele ainda brilhava na mente da esposa, ao menos a sua versão mais jovem e sonhadora.

    O texto faz pouco para aliviar a atmosfera opressiva do conto, mas faz o suficiente para que a leitura não se tornasse pesada demais. Trechos aqui e ali em um tom cômico que trazem um pouco de leveza, e um epílogo apressado no final para os vilões mais desprezíveis da trama: Germano e Norma.

    E, no final, Luiz permanece sozinho, não feliz, porém satisfeito com a paz ilusória. Pesado! Mas dá o que pensar.

    NOTAS:

    • Entendi a referência à Metamorfose de Kafka (inclusive, excelente pseudônimo, rs rs) mas este conto está longe de ser uma fanfic. E como ele claramente não e infantil ou chubesco, infelizmente estou considerando que este conto está fora do tema do desafio.
    • Alexandre Costa Moraes
      15 de junho de 2025
      Avatar de Alexandre Costa Moraes

      Oi, Marco!

      Muito obrigado pela leitura atenta e pelos comentários tão precisos. Fico feliz que a proposta e a atmosfera do Luiz Caramujo tenham te alcançado (era exatamente esse o sentimento que eu queria provocar).Agradeço demais pelo olhar generoso.
      Abração

  15. Kelly Hatanaka
    22 de maio de 2025
    Avatar de Kelly Hatanaka

    Eu tinha decidido não avaliar a adequação ao tema porque tive dificuldades em compreendê-lo direito. Assim sendo, não tirarei pontos do seu conto por causa disso. Agora, preciso dizer que não enxerguei o tema aqui. Fofo, ele não é, com certeza. Então é uma fanfic. Disseram no grupo que seria uma fanfic de Gregor Samsa. É isso mesmo?

    Bom, eu tentei apreciar Metamorfose. Mas não gostei. Achei chatíssimo e arrastado e senti vontade, o tempo todo, de lascar o chinelo (ou o detefon) no Gregor e acabar logo com aquilo.

    Não é caso do seu conto. Luiz é um personagem muito mais interessante que Gregor e você conduz a história melhor do que Kafka fez com Metamorfose.

    Agora, se seu conto não for fanfic de Gregor Samsa, então acabei de desperdiçar três parágrafos falando bobagem.

    Luiz é uma pessoa que foi atropelada pela vida. Viveu um ápice que ficou para trás e se tornou uma sombra triste, sufocado pela esposa, oprimido pela sogra. Poderia dar um chega pra lá em todo mundo, mas não dá. É fácil torcer por ele e, enquanto ele sucumbe ao destino, o leitor vai sofrendo junto.

    Os demais personagens são bem definidos. A filha insegura, necessitada da mãe, a mãe dominadora e controladora, o cunhado babaca.

    Enquanto lia, pensei que seu conto retrata a depressão. A transformação em caramujo teria sido o ápice de seu sofrimento. Mas, ao se tornar um caramujo, ele está em paz e livre.  Teria sido o fim?

    Lembrei de um conto do Luis Fernando Verissimo. Acho que chamava Mulherzinha. Era sobre um casal em que o marido sempre chama a esposa de Mulherzinha, de forma paternal e condescendente. E, à medida que ele a tratava assim, ela foi de fato encolhendo, encolhendo, até sumir no meio do carpete. O conto termina com o marido andando sempre na ponta dos pés, preocupado em não pisotear sua mulherzinha.

    Uma única pequena crítica é que achei, lá pelo meio, que ele se arrastou um pouco em muitas descrições do passado e do presente. Bom, mas enfim, gostei ou não gostei? Gostei. Achei um bom conto, com mensagem interessante e que não oferece conforto ao leitor.

    Parabéns e boa sorte no certame!

    Kelly

    • Alexandre Costa Moraes
      15 de junho de 2025
      Avatar de Alexandre Costa Moraes

      Kelly, que bom ler seu comentário (me senti num podcast literário. hehe).

      A  ideia inicial era mesmo uma fanfic de “A Metamorfose”, mas confesso que a história foi ganhando vida própria e virou outra coisa, mais autoral, longe da autêntica fanfic… E paguei por isso.

      Sobre o conto do Veríssimo mencionado, muito legal isso que vc trouxe. Ele conversa bem com essa lógica do encolhimento simbólico do Luiz, do apagar, do sumir dentro da própria vida. É exatamente isso. E, sim, você tem razão, o meio do conto é mais arrastado, foi uma escolha pra criar a cadência de um caramujo, a sensação de sufocamento junto com o personagem, mas entendo que isso tem um preço pro leitor.

      De toda forma, fico muito feliz que o texto tenha te conquistado em alguns pontos.

      Muito, muito obrigado pela avaliação generosa.

  16. Givago Domingues Thimoti
    18 de maio de 2025
    Avatar de Givago Domingues Thimoti

    Luiz Caramujo:

    Bom dia, boa tarde, boa noite! Como não tem comentários abertos, desejo que tenha sido um desafio proveitoso e que, ao final, você possa tirar ensinamentos e contribuições para a sua escrita. Quanto ao método, escolhi 4 critérios, que avaliei de 1 a 5 (com casas decimais). Além disso, para facilitar a conta, também avaliei a “adequação ao tema”; se for perceptível, a nota para o critério é 5. Caso contrário, 1. A nota final será dada por média aritmética simples entre os 5. No mais, espero que a minha avaliação/ meu comentário contribua para você de alguma forma.

    Boa sorte no desafio!

    Critérios de avaliação:

    • Resumo: 5

    Luiz Caramujo é um conto fanfic ,  que nos apresenta uma história baseada na Metaformose, do Franz Kafka. Luiz Bastos (pena que não foi Araújo) se torna um caramujo, numa tentativa de sumir da vida infeliz com a família da esposa.

    • Pontos positivos e negativos: 

    Positivo: Escrita boa, correta em boa parte do seu tempo. Premissa boa também.

    Negativo: Por outro lado, faltou ousadia. Faltou trabalhar melhor as construções. Faltou ser mais direto, menos explicações.

    • Correção gramatical – Texto bem (mau) revisado, com poucos (muitos) erros gramaticais. 4

    No geral, bem escrito gramaticalmente.

    Mas o irmão era o famoso fimose. = A famosA…afinal, é um substantivo feminino.

    Brieffing, man, lay-off, open to work, New York… ITÁLICO! São palavras estrangeiras!

    • Estilo de escrita – Avaliação do ritmo, precisão vocabular e eficácia do estilo narrativo. 2,5

    A escrita está boa, mas ela vacila em alguns momentos. Talvez, assim como a narrativa em si, faltou um pouco mais de ousadia e refinamento. Trabalhar melhor as construções, avançar um pouco para além da comparação simples.

    Por exemplo:

    “Curvado, olhos baixos, sentia-se aderido a si mesmo, como quem carrega uma casa que não escolheu. Era como se estivesse se tornando um caramujo.” = Eu não entendi muito bem o que significa estar aderido a si mesmo. Assim, me parece completamente comum. Afinal,é você “colado” com você nessa vida… Enfim, uma vez eu tomei uma atenção ⚠️ com essas construções “poéticas”. Às vezes, por mais bonita que possa parecer, a construção não faz sentido.

    No espelho do banheiro, ele viu algo pulsando sob a pele das costas. Como placas enrijecidas, fragmentos pujantes sob a epiderme. A pele amarelada, escamosa, úmida, como se derretesse. Encostou os dedos: sentiu calor e repugnância. Quis chorar, mas o choro não saía. Estava preso, como ele. => de novo, muitas repetições de comparações…

    Bom, passando o momento que o Anderson baixou em mim aqui, tem alguns trechos que eles são muito explicadinhos, sabe? Em algum momento, foi ficando bem maçante a leitura. Entendemos que a sogra e o cunhado eram tóxicos. Quê Luiz não se sentia confortável ali. Destacar isso a todo o tempo torna chato. 

    Deise ficou paralisada, dividida entre o horror e uma estranha compreensão. Era como se aquela transformação tornasse visível o que já acontecia há anos — Luiz se encolhendo, se retraindo, construindo uma armadura contra o mundo que o diminuía dia após dia. Contra ela. Contra a família.

    Eu diria, então, que faltou confiar na própria história e no leitor. Uma pena…

    • Estrutura e coesão do conto – Organização do conto, fluidez entre as partes e clareza da construção narrativa. 3,5

    O conto está estruturado em partes. Início, meio e fim. Ele flui mais ou menos; a história gira bastante sobre determinados pontos, sem desenvolver muito. Na verdade , ele explica muito. Mastiga demais tudo para o leitor. Comparando com o futebol, por vezes que o conto girou e girou procurando o próximo passe, quando tudo o que a torcida desejava era um ataque mais direto.

    Pessoalmente, achei que o conto esticou demais. O ideal seria encerrar antes da parte final, com a transformação dele em caramujo finalizada e a vida dele começando no jardim. 

    • Impacto pessoal – capacidade de envolver o leitor e gerar uma experiência memorável: 2

    Eu acho que esse conto cai num certo marasmo, em que pese esteja bem escrito.

    Bom, nunca li Kafka e A Metamorfose. Claro, aqui ninguém espera que façamos nossos contos igual aos clássicos. Mas, confesso que aqui senti falta de algo a mais; a história está muito simples, focada quase que principalmente em descrever fisicamente a transformação do protagonista em um caramujo ou a justificativa porque o ambiente familiar era tóxico, para garantir que o leitor compreendeu a história.. Essa junção tornou o conto meio repetitivo por natureza.

    Nota final: 3,4

    • Alexandre Costa Moraes
      15 de junho de 2025
      Avatar de Alexandre Costa Moraes

      Givago, obrigado pela leitura e pela avaliação detalhada. Captei e registrei suas sugestões. Valeu.

  17. Luis Guilherme Banzi Florido
    15 de maio de 2025
    Avatar de Luis Guilherme Banzi Florido

    Boa tarde!

    Um conto bastante curioso e diferente. E bastante triste, pra ser sincero. Apesar do bom humor e do tom de comedia com que é contado, é carregado de melancolia e uma tristeza guardada no peito do protagonista e sua esposa. A metamorfose é simbolica. Ele ja vivia como um caramujo, e agora estava se transformando literalmente em um. Um ser rastejante, sem voz, sem opiniao. Uma triste metafora para pessoas que tem seus sonhos, desejos, vontades, voz suprimidas pela vida, e acabam rastejando ate a morte chegar. Ao mesmo tempo, existe uma possibilidade de final feliz, quando Luiz se sente em casa ao sair de casa. Como caramujo, nao precisa mais se sujeitar às humilhações diarias da familia lazarenta da esposa. Agora, ele vive ali, no seu canto, alheio a tudo. Uma metamorfose dolorosa, mas que o levou a um lugar mais seguro. O conto trabalha bem essa dualidade.

    Por outro lado, acho que a familia é um pouco escrachada demais, maligna demais. A sogra parece vilã de novela da globo, só faltou ela dar uma gargalhada maligna. Acho que isso tira um pouco do peso da situação. Alias, eu acho que esse conto ficaria ainda melhor se fosse mais pé no chao, a maldade da mãe e do cunhado fossem mais contidas, sutis, e se o conto tivesse um tom mais serio e dramatico, conforme a situação de Luiz sugere. Claro que nao estou aqui pra dizer como voce devia contar sua historia, só to dizendo o que senti como leitor.

    De todo modo, uma historia curiosa, acho que uma fanfic de metamorfose que me fez lembrar do Davenir, bastante bizarra em estetica mas triste em essencia.

    Parabens e boa sorte!

    • Alexandre Costa Moraes
      20 de junho de 2025
      Avatar de Alexandre Costa Moraes

      Oi, Luis! Muito obrigado pela leitura atenta e criteriosa de Luiz Caramujo. Você captou bem a essência do conto e as dores do protagonista. Obrigado pelos apontamentos e sugestões para melhoria dos personagens e do contexto narrativo. Tá registrado para quando eu for ajustar. Valeu, abração!

  18. andersondopradosilva
    15 de maio de 2025
    Avatar de andersondopradosilva

    Olá, autor.

    No contexto do desafio, tão somente, julguei o seu conto mediano, ou seja, nem gostei, nem desgostei, enfim vi qualidades e defeitos.

    Julguei que você empregou excessivamente o “como” na construção de comparações e outras estruturas, três delas logo no primeiro parágrafo: como se até o concreto resistisse à rotina, como quem carrega uma casa que não escolheu, como se estivesse se tornado um caramujo, como quem tenta manter viva uma parte de si, como uma tempestade, como café frio, como quem marca território, como fã orgulhosa, como placas enrijecidas, como se derretesse, como ele, como quem quer dizer algo mais, como se o corpo inteiro fugisse, como um telhado, como se abraçassem o chão, como se soubesse, como se aquela transformação tornasse visível, como não vinham há anos.

    Julguei que você utilizou muitos lugares comuns literários (palavras e construções que se repetiram muito na história da literatura a ponto de se tornarem reveladoras de baixa criatividade quando usadas na contemporaneidade, aparecendo muito, atualmente, em textos de qualidade literária duvidosa): raiva contida, silêncio denso, a madrugada chegou fria, silêncio cortante, olhou por sobre os óculos, chorava por dentro.

    O personagem Germano soou inverossímil, exagerado e estereotipado, como quando propôs a invasão de uma comunidade quilombola.

    Pela participação mediana, uma nota mediana, 3.

    Abraço.

    • Alexandre Costa Moraes
      15 de junho de 2025
      Avatar de Alexandre Costa Moraes

      Muito obrigado pela leitura criteriosa e rigorosa do meu conto. Sinto muito não ter conquistado sua apreciação. Quem sabe numa próxima ocasião eu consiga reverter sua opinião. Fica lançado o desafio. Grato pelas palavras de incentivo. Abraço

  19. toniluismc
    9 de maio de 2025
    Avatar de toniluismc

    Comentário Crítico do Conto “Luiz Caramujo (Francisco Castro)”Avaliação por critério: Impacto · Criatividade · Técnica

    📌 IMPACTO: ALTÍSSIMO

    “Luiz Caramujo” é um dos contos mais emocionantes e densos da rodada até aqui. Sua força reside na fusão desconcertante entre drama psicológico, crítica social e realismo fantástico, em um crescendo narrativo que culmina num final de profundo simbolismo e melancolia.

    O impacto do texto é duplo: emocional e ético. É impossível não sentir indignação, empatia e desespero ao acompanhar o esmagamento de Luiz por uma estrutura familiar opressiva, um sistema de mediocridade e uma cultura que premia o conformismo. A sua metamorfose, ao mesmo tempo grotesca e libertadora, funciona como catarse simbólica para leitores que já se sentiram sufocados por uma realidade parecida.

    A cena da dedetização, a frieza da sogra, a carta tardia de Deise, e o retorno final do caramujo como figura serena encerram o conto com um peso emocional que perdura muito depois da leitura. Um final que, mesmo sem grandes eventos, ecoa como uma tragédia silenciosa – e, paradoxalmente, como redenção.

    🎨 CRIATIVIDADE: EXCELENTE

    O conto parte de uma ideia surreal e ao mesmo tempo absurdamente crível: um homem transformando-se fisicamente em um caramujo. O artifício do fantástico é metáfora concreta do esmagamento emocional, e jamais soa gratuito ou excessivo. A “concha” é o peso da renúncia, o refúgio do silêncio, a armadura contra a toxicidade cotidiana.

    A construção dos personagens também é altamente criativa em seus simbolismos. Dona Norma é a tirania da tradição e do controle. Germano é a mediocridade triunfante. Deise é o conflito entre desejo e subserviência. Luiz é o artista sufocado, o homem que escolheu parar de brigar para sobreviver.

    O realismo fantástico é incorporado com maestria. Em vez de interromper a verossimilhança, ele a amplia: a transformação corporal torna visível o que emocionalmente já estava em curso há anos. Essa metáfora viva do esgotamento é, talvez, a mais bem executada entre os contos analisados até aqui.

    🛠 TÉCNICA: MUITO ALTA A EXCELENTE

    Pontos fortes:

    A linguagem é precisa, irônica, sensorial e lírica quando necessário. O narrador domina os registros emocionais, oscilando entre o amargo, o nostálgico e o trágico com firmeza.

    A estrutura narrativa é impecável: há progressão clara, ritmo constante, alternância eficaz entre o externo (cotidiano opressivo) e o interno (transformação e delírio).

    Os diálogos são realistas e altamente reveladores de caráter. Cada fala diz muito mais do que aparenta.

    O que pode ser ajustado:

    Há pequenos momentos em que a metáfora da transformação poderia ser um pouco mais sutil, especialmente nos trechos finais. A literalidade da mutação em caramujo, embora potente, poderia ter ganhado mais ambiguidade simbólica sem perder seu efeito.

    O uso do recurso de repetir as palavras “Norma”, “Fred”, “sonho” e “mofo” é eficaz, mas talvez um pouco insistente. Alguns leitores podem sentir que certas ideias são sublinhadas mais de uma vez do que o necessário.

    🧾 CONSIDERAÇÕES FINAIS

    “Luiz Caramujo” é um conto extraordinário sobre masculinidade silenciosa, pressões sociais, abandono de si e, sobretudo, a possibilidade de se refugiar na própria recusa. É uma crítica brutal à cultura da submissão — tanto masculina quanto feminina — e ao modelo de família disfuncional que ainda aprisiona milhares de pessoas sob a fachada da “estabilidade”.

    Trata-se de um texto profundamente literário, emocionalmente maduro e simbolicamente refinado. Um dos contos mais completos da rodada em todos os aspectos, que consegue unir entretenimento, reflexão e denúncia.

    • Alexandre Costa Moraes
      15 de junho de 2025
      Avatar de Alexandre Costa Moraes

      Olá, Entrecontista!

      Muito obrigado pela análise tão precisa e cuidadosa. Fico feliz que a proposta, os simbolismos e a condução da narrativa tenham te alcançado dessa forma. Agradeço demais pelo olhar atento, pelas observações e pela generosidade nas palavras. Valeu!

  20. Afonso Luiz Pereira
    8 de maio de 2025
    Avatar de Afonso Luiz Pereira

    Oi, Francisco, como vai?

    Bem, “Luiz Caramujo” é um conto interessante, melancólico, construído dentro do realismo mágico, ou do fantástico, e que traz à tona preocupações existenciais. Muito legal. É daqueles textos em que eventos insólitos são prontamente absorvidos pelos próprios personagens, como nos contos de Murilo Rubião. Você foi ousado ao usar o insólito: a transformação corporal do protagonista em caramujo, como expressão simbólica da sua lenta dissolução social e profissional.

    A ambientação está muito bem construída, brasileira, com o casarão úmido, o jardim sufocante, o mofo que invade corpo e alma. Você criou um protagonista esmagado não apenas por uma sogra dominadora, mas por toda uma estrutura de expectativas que anula sua identidade criativa.

    Gostei bastante dos diálogos, naturais e realistas. A tensão familiar é bem construída, e os personagens secundários (Dona Norma, Germano e Deise) são verossímeis, especialmente Deise, cúmplice involuntária da decadência do marido.

    Minha única ressalva é quanto ao enquadramento do texto como fanfic. Em primeiro lugar, está claro que essa não é uma história fofa voltada ao público infantil ou infantojuvenil. Em segundo, não consegui identificar em qual livro ou série famosa o enredo se baseia.

    Fanfic, em geral, pressupõe a reutilização de personagens, universos ou tramas já conhecidas (de livros, filmes, séries, quadrinhos etc.). Aqui, pode haver uma inspiração vaga em A Metamorfose, de Kafka, mas não encontrei menções a Gregor Samsa, nem uma ambientação semelhante ou uma continuação da história. O texto é autoral e, embora brinque com a ideia da transformação kafkiana, salvo engano, não se enquadra como fanfic.

    De qualquer forma, o texto tem seu valor, e eu apreciei bastante a leitura.

    • Alexandre Costa Moraes
      15 de junho de 2025
      Avatar de Alexandre Costa Moraes

      Oi, Afonso!

      Muito obrigado pelo olhar sensível sobre o texto. Fico feliz que a proposta tenha te alcançado. De fato, a ideia inicial era construir uma fanfic de “A Metamorfose”, de Kafka, brincando com o conceito da transformação como metáfora do apagamento existencial. Mas, no processo, o conto acabou ganhando vida própria, se distanciando do original e seguindo uma linha mais autoral. Agradeço demais pelos comentários e pela leitura cuidadosa. Valeu!

  21. Antonio Stegues Batista
    7 de maio de 2025
    Avatar de Antonio Stegues Batista

    O conto é a história de um publicitário com o casamento em crise e uma família que é chata. Desanimado, sentindo-se prisioneiro daquela vida mesquinha, acaba se transformando em caramujo, literalmente falando. O enredo é uma fanfic de A Metamorfose, de Franz Kafka, cujo personagem se transforma em barata. A construção dos personagens é excelente, a família de Luís, o ambiente e os diálogos também são muito bons. Cada personagem com sua personalidade e isso é importante num conto, a personagem não descrita, mas mostrada. A construção das frases é excelente, permitindo uma leitura fluida. Gostei também do final, que o caramujo saiu ileso da dedetização. Norma também era prisioneira naquela família e poderia ter se transformado em caramujo para viver com Luís no meio das plantas., Parabéns e boa sorte.

    • Alexandre Costa Moraes
      15 de junho de 2025
      Avatar de Alexandre Costa Moraes

      Oi, Antonio!

      Obrigado pela leitura generosa e pelos comentários tão gentis. Fico muito feliz que tenha gostado da construção dos personagens e da proposta do conto. Agradeço demais pelo olhar cuidadoso e pela avaliação. Valeu!

  22. Thiago Amaral
    5 de maio de 2025
    Avatar de Thiago Amaral

    Olá!

    Esse conto não faz parte do meu grupo de comentários, mas estou afim de ler todos dessa vez. Espero conseguir!

    Seu texto está muito bem escrito. A linguagem é clara, tudo é bem explicado, consigo visualizar o ambiente os personagens e seus sentimentos e reações. Até as sensações físicas do Luiz estão bem trabalhadas.

    Em termos de significado, achei o final bastante curioso. Parecia que a transformação de Luiz era algo negativo, devido à sua inércia. Pelo menos era isso que os personagens e nossa cultura em geral tende a ver. E, pelo menos nesse caso, eu tendo a concordar: ele não estava fugindo do mundo e, no fundo, de si mesmo? Se tornar um caramujo, ao final, parece ser considerado pelo narrador como um tipo de autorrealização, mas até aquele ponto eu não via assim.

    Então o desejo maior dele era apenas viver em paz, longe de tudo e todos, numa existência simples? Não teria problema, mas nada disso foi dito antes. Então acabei me perguntando por quê, afinal, ele não ia pra NY, senão por medo de recomeçar? A sensação que tive é que sua relação com o trabalho ficou menos explorada que o restante. Por que ele optou por virar freelancer?

    A história, ao seu final, também nos faz odiar todos os outros personagens. Deise é mais explorada e se torna personagem mais rico ao longo do conto, o que pode fazer que alguns leitores passem a gostar dela. Ela até chega a admirar Luiz ao final da história! Os outros, no entanto, são apenas pessoas execráveis kkk, o que contribui com o contraste do protagonista, que só queria paz.

    Mas talvez a maior polêmica do conto seja em relação ao tema. Acredito que ainda vai gerar alguns comentários no grupo. Porque, pra mim, ele não atende nenhum dos dois. Tudo bem, ele vira um caramujo como Gregor Samsa na Metamorfose, mas pra mim não caracteriza fanfic. Podemos falar em adaptação, inspiração, temas semelhantes. Mas fanfic não é apenas pegar uma ideia ou elemento de uma história, é tomar personagens e universos pra si. Acho que aqui há um uso mais ameno dos elementos Kafkianos, então sinto que não é suficiente. Sorte nossa que não terei que dar nota pra você!

    Outro pequeno detalhe que notei, mas que não estraga muito, é a repetição de temas. Acho que a história poderia ser encurtada se não repetisse tanto certos elementos como Deise sentir-se dividida, Luiz se transformando, Germano sendo cuzão num almoço, etc. A história pareceu um pouco cíclica demais em alguns momentos, sem adicionar.

    Em geral, gostei bastante do conto. Se não fosse pra esse desafio específico, acharia ótimo. A ideia é trabalhada de maneira original. Só pensei que as intenções do personagem Luiz não estão claras, e o significado da história só é apresentado bem no finzinho. Foi como se o cenário todo me dissesse uma coisa, mas aí no final o narrador diz outra. E isso cria um efeito um pouco confuso.

    Obrigado pela contribuição, e boa sorte no desafio.

    • Alexandre Costa Moraes
      15 de junho de 2025
      Avatar de Alexandre Costa Moraes

      Oi, Thiago!

      Muito obrigado pelo comentário tão bem construído. Você trouxe pontos muito pertinentes, tanto sobre o arco do Luiz quanto sobre essa questão do significado, que realmente foi ganhando contorno só no final. E, sim, a proposta inicial era uma fanfic de “A Metamorfose”, de Kafka, mas no processo o texto foi ficando cada vez mais autoral, e eu acabei abraçando esse caminho.

      Fico muito grato pelo seu olhar atento e pelas reflexões.
      Valeu demais!

      • Thiago Amaral
        16 de junho de 2025
        Avatar de Thiago Amaral

        Fico feliz de ter ajudado, Alexandre! Até a próxima.

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Publicado às 3 de maio de 2025 por em Liga 2025 - 2B, Liga 2025 - Rodada 2 e marcado .