EntreContos

Detox Literário.

As Tintas do Jardim (Thiago Lopes)

O pintor está quase pronto para pintar a paisagem do jardim E o dia está tão ensolarado!

O cavalete está montado. A paleta, a tinta e os pincéis estão a postos.

Agora é só pintar…

Mas ele não sabe por onde começar nem sabe o que desenhar…

Qual cor escolher e que forma dar? Rabiscar a carvão ou a lápis? Pintar qual parte da paisagem?

É então que aos seus ouvidos chegam solicitações, pedidos, rogos. E o pintor passa a ouvir pelo vento as vozes da natureza… 

Uma florzinha metida, balançando ramos e arabescos, abre os olhos e se espreguiça dizendo:

Senhor pintor, quiçá poeta, pinte-me as pétalas em sua tela. Pinte pétala por pétala, pele por pele, em pigmentos pastel. Sou flor de delicada beleza, à qual não resiste o mais cascudo inseto. Veja minhas raízes cavando a terra, veja como minha cor admira e aterra, veja como em minha pele ou pétala uma gota de orvalho treme em luz, tremeluz quando em queda. Pinte-me, pintor, quiçá poeta, não durarei muito e quero eternizar-me bela. Dou-lhe o prazer de só te dizer bem-te-quer.

Então, com seu casaquinho, toda pomposa, a dona joaninha com a voz fininha solenemente se impõe:

Tens tinta branca, preta e vermelha? Ah, que isso já basta, vejo inclusive que trouxeste compasso para desenhar a minha linda carapaça. Dá uns toques de preto, uns detalhes brancos e isso já agrada. Cansei de ser esquecida, ainda mais quando pouso em alguma margarida, pois olham só para ela e sua beleza perfeita, sem perceberem a pontinha vermelha que a enfeita. Vermelho, preto e branco, que cores de acalanto! Quer um conselho? Pinta com preto, branco e vermelho! Para embelezar, completo: pinta com vermelho, branco e preto. Pinta-me, senhor pintor, se tens sentimento e se existe alguém que te ama. Hei de estar nessa pintura, ou não me chamo Joana.

Foi então que o pintor ouviu a voz das águas. Era o largo Lago Iago, cuja voz profunda soou:

Eu sei que sou parado, não corro nem escorro. Sou feito de água e cada parte minha é um todo. Sei que dentro de mim há peixes dormindo e a escuridão da minha líquida pele não os mostra. Ah, se soubesse, amigo pintor, que riqueza de mundo há aqui no meu estômago! Se soubesse a minha profundidade! Mas repare: sou espelho. Em mim se reflete tanta coisa: árvores, folhas, caniços, cascas, garças, mariposas, barcaças, carpas, capivaras, roseiras, girassóis, bambuzais, anzóis, vários casais abraçados naquela ponte que me atravessa. Estou sempre representado nas principais obras de arte, com os meus nenúfares. É que minha beleza consiste em tomar de empréstimo a beleza dos outros, que em mim se refletem e em mim se afundam desde Narciso. Acabo sendo os outros em mim mesmo. Pinte-me, pintor, por favor, e sua pintura ganhará uma paisagem de vidas, sua tela será espelho também.

Farfalham folhas. Galhos vergam-se. Muitas vozes chocalham-se ao ventonevoeiro. Chiam, chiam vozes que chegam:

Sabe quem somos, famoso artista? Somos árvores, no plural mesmo, e somos ao mesmo tempo uma só. Com nossa sabedoria e gestos lerdos, balançamos lentamente ao vento e bebemos da água barrenta da terra. A joaninha se refugia em nossas cascas, a flor viceja em nossos galhos, o lago se reveste das folhas que de nós caem. As nossas raízes se alimentam dos nutrientes do solo; alimentam com nutrientes o solo. Então pinte-nos, pegue seu mais escuro verde, misture com tons de amarelo – ou de vermelho, se quiser representar a timidez da tarde. Pinte-nos a todas como uma grande e generosa árvore emoldurando o horizonte, abrindo braços-galhos-dedos-folhas como mãe provedora, dando sombra azul e paz aos campos, alimentos aos bichos; pinte-nos em movimento para que a tela pareça murmurar folhas e galhos.

Foi então que, em um ninho, não se sabe se bem-te-ti-mal-te-vi, pica-pau, tico-tico, urutau ou estorninho, cantou um passante passarinho em meio ao passaredo:

Animamos as árvores, cultivamos as flores, cantamos nos telhados, comemos os insetos e os peixes do lago. Sobre nós só há nuvens, e tudo diante de nós se apequena quando voamos. Quer pintar a liberdade? Toma então as nossas asas. Quer pintar a paz? Pega emprestado a pomba alva. A astúcia está nos olhos do gavião, a força está nas garras da gaivota, a sabedoria corusca no olho da coruja. No trinado do rouxinol mana mistério. Em nossos olhos guardamos os segredos da terra, da água e do céu. E somos também um pouco como os homens quando sonham – e vocês homens sempre sonham com a cera de Ícaro. Pinte-nos, nobre pintor, que cantaremos de alegria e orgulho, enriquecendo sua tela com uma diversidade de cores e corais.

Até a casinha branca o pintor ouviu, toda meiga e acolhedora. Ela começou chamando por meio da chaminé:

– Caro pintor, conheço bem os homens, pois moram em mim. Vejo você, e logo sei que você gosta de ler uma boa poesia, ouça então esta de um grande poeta:

A pequena casa sob as árvores na beira do lago.

Da chaminé sai fumaça.

Se a fumaça faltasse,

Quão desolados então estariam

casa, árvores, lago.

Se não fosse a minha chaminé, caro amigo, nada aqui teria vida, como uma vela sem chama. Sou eu (com os homens protegidos em minha concha) que fornece à paisagem um fogo que a atiça. Sem meu espirararalar de fumaça, quão desolados estariam nossos amigos árvore, lago e passarinho! Sou uma simples casinha, mas em meu seio dá-se o milagre do humano. Se você não quiser que a sua pintura também fique desolada, pintor amigo, já sabe: pinte uma casinha branca com uma chaminé.

Assim que a casa falou, o céu se abriu e eram só nuvens. Branquinhas e dispersas, elas ora sussurravam ora vociferavam:

Sim mm  m mmmmm, o pássaro tem razão: nós as nuvens estamos sobre ele, aliás sobre tudo. E no que diz respeito às cores, não somos apenas brancas e delicadas, somos também tempestade, somos também nuança de cinza, sanguíneas no poente, roxas na madrugada, e quando o Sol nos rompe e seca-nos as lágrimas de chuva (essas nossas espadas líquidas), tangemos nossa harpa de arco-íris (ou seria arco-lira?). Não temos forma definitiva e parecemos paradas quando na verdade estamos sempre nos movendo. Nós abrigamos o pássaro, nós damos de beber às árvores, ensombramos e iluminamos as casas, preenchemos de algodão o vazio do lago escuro. Sem nossas lágrimas tudo se seca. Então, pinte-nos nesse dia de Sol e faça do nosso arco-íris um arco-riso, para que sua pintura possa alegrar pela alegria. Para nos pintar, aliás, basta deixar o pincel correr livre e leve pelo céu como nós, as nuvensss s ss ss.

Uma voz subitamente surgiu, mas o pintor nada viu. Psiu. Alguém chamou. Aqui embaixo, ei. O pintor teve de prestar bastante atenção:

O senhor não me vê? Pois aqui estou, sobre a pedra camuflado. Pareço um largado lagarto, mas sou na verdade um camaleão. E não é à toa que botaram leão no meu nome, pois sou também rei da floresta. Tudo eu vejo com meus olhos e poucos conseguem me enxergar, nessas minhas viagens entre o Sol e a sombra. Mas dou, sim, para uma boa pintura, com minha pata heroicamente imóvel no ar, minhas pequenas garras, toda essa minha luzente armadura, minha cauda-espada desembainhada e minha língua desdobrável como tapete vermelho. Meus olhos giram como planetas, e o mundo só gira por causa deles. Pareço-me um dragão de armadura e dura arma. E que cor usar, senhor pintor? Melhor dizer cores, porque me transformo nas cores que me circundam, até o ponto de ficar invisível. Não há cor que eu não conheça e qualquer uma das suas tintas, senhor pintor, me serviriam de pele. Então, pensando bem, pinte-me de invisível, afinal, ninguém vai saber que estou aí pintado.

Nesse momento, um grupo pesado de vacas passou pastando, pregando pegadas na lama. Sob mugidos e blém-blém de sinos, elas deixavam o recado:

Muuuuuito prazer, senhor pintor! Sua voz é múúúúsica para os nossos ouvidos. Enquanto mastigamos, pedimos que nos inclua para muuuuudar os rumos da sua arte. Sabemos que somos muuuuuitas, mas com um pouco de tinta e um pouquinho de tempo, muuuuuito terá a ganhar pintando-nos, e sua pintura correrá o muuuuundo. Enquanto isso, rimamos e ruminamos pausadas-pesadas, lavrando-livrando o campo-capim, até que não sobre sequer uma muuuuuuuda.

Diante de tantos pedidos, o pintor suspende o carvão e o pincel.

A quem escolher? Todos têm boas razões para figurar na tela. Todos são belos e bem-vindos para uma pintura.

Ele olhou, pensou, mediu. Mas qual?

Há um problema sem solução:

Flor, lago, árvore, pássaro,

Casa, nuvem, camaleão,

vacas que mugem e passam…

O que pintar com tinta e carvão?

Foi então que ele resolveu da melhor maneira: pintar todos juntos em uma só tela.

E ele pintou um jardim cheio de árvores, com uma casinha de chaminé, vacas pastando e ruminando entre as cercas, um escuro lago servindo de espelho. No primeiro plano, um camaleão se esquenta ao sol, ao lado de uma bela planta, sobre cujas pétalas uma joaninha prepara o voo.

Pairando por toda a paisagem, um aberto céu da tarde, cheio de nuvens dançarinas e pássaros tagarelas.

Ah, e o pintor incluiu também o Sol, que não havia pedido para entrar, mas ficou muito feliz em ver-se tão belamente representado, entre tão queridas companhias.

Sobre Fabio Baptista

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23 comentários em “As Tintas do Jardim (Thiago Lopes)

  1. Bia Machado
    14 de junho de 2025
    Avatar de Bia Machado

    Olá, autor ou autora, sua escrita é muito segura, sem erros de revisão perceptíveis a meu ver, mas infelizmente não funcionou pra mim. É infantojuvenil? Não sei, a estrutura não faz parecer um conto feito para crianças ou adolescentes. Dá para ver que trabalhou no seu texto antes de enviar, cuidando dos detalhes, uma pena que para mim não funcionou, nos meus itens avaliativos de “personagens” e “fluidez” perdeu alguns pontos comigo, fazendo também a pontuação da emoção (meu gosto pessoal) ser menor. Boa sorte no desafio!

  2. André Lima
    14 de junho de 2025
    Avatar de André Lima

    Este conto foi complicado para mim… Me dividiu. É um show de técnica e criatividade. Belíssimo. As construções imagéticas são potentes, a poética salta aos olhos, tudo é belo, mas… Faltou algo que me prendesse, que me satisfizesse enquanto leitor. Por vezes, o discurso poético do conto se torna prolixo e o ritmo fica atravancado.

    Parece-me um conto feito para escritores, para poetas, para quem vai admirar todo o trabalho de construção que aqui foi feito. É notável que houve um esforço e um capricho. Tudo rimadinho, fazendo sentido, com metáforas criativas e originais. Mas enquanto HISTÓRIA, dentro de uma estrutura narrativa, o conto peca.

    Por fim, fica a impressão de um show de pirotecnia que deixa de lado a beleza narrativa. Isso perde a força da história enquanto conto, mas não é um defeito por si só. Entende a diferença sutil? É uma estratégia arriscada, mas a abordagem é válida. Não acredito que, tampouco, este conto tem a capacidade de fisgar uma criança ou um adolescente. Provavelmente, a imensa maioria abandonaria pela metade, meu filho mesmo assim o fez, mas os poucos que resistirem terão um bom deslumbre do que é uma ótima técnica.

    Fiz esta comparação com um amigo: este conto me parece uma música do Dream Theater, do Yamandu Costa ou parece aqueles filmes cult que só um apaixonado por cinema pode admirar. Quem não está dentro da festa, dançando a mesma música, vai se descolar da obra.

    O que é um ponto fraco para captar uma multidão acaba por dar a força da originalidade da obra. Por fim, será, provavelmente, o conto que colocarei na categoria “Mais criativo” ou “melhor técnica”. Talvez nas 2.

  3. Alexandre Costa Moraes
    13 de junho de 2025
    Avatar de Alexandre Costa Moraes

    Entrecontista,

    “As Tintas do Jardim” tem a leveza e o encanto de um espetáculo infantil. Cada personagem aparece como se rompesse uma cortina, se insinuando pra fazer parte da tela, com falas poéticas que vão convencendo o pintor (e o leitor) de sua presença.

    A leitura é fluida e lembra uma encenação visual. As frases servem de coreografia verbal, e o pintor, diante desses personagens-cena, vai dando voz a cada um. Os personagens vão tentando convencer o pintor, que decide pintá-los todos juntos em uma só tela, e isso faz girar todo o enredo. No final, o sol surge na tela sem pedir, um pequeno plot twist doce, que reforça essa harmonia coletiva.

    De modo geral, achei o enredo legal e muito charmoso. Ainda assim, como conto escrito, perde um pouco de impacto pois falta um conflito dramático e a história se sustenta mais no clima sensorial do que na tensão narrativa. Mesmo assim, entrega coesão, leveza e poesia, com linguagem acessível, bonita e lúdica.

    Gostei do seu conto. Achei poético, criativo e tocante. Parabéns e boa sorte no desafio!

  4. Pedro Paulo
    13 de junho de 2025
    Avatar de Pedro Paulo

    Eu tenho a impressão inédita de que este conto funcionaria melhor como um livrinho ilustrado. Cada figura do cenário tem uma voz narrativa reconhecível e isto enriquece o texto. Há um conflito, baseado na dúvida do que o pintor vai retratar, mas o desenvolvimento do texto é um pulo de personagem a personagem se apresentando. Como eu disse, para cada um foi capaz de imprimir uma personalidade e dar argumentos plausíveis, já aí pintando para quem lê a tela pela qual o artista decidirá no final. É um conto imagético, sua verdadeira construção é esse retrato… mas enquanto texto, foi um pouco enfadonho e repetitivo, fraco em enredo, mas forte em chubesco.

  5. Felipe Lomar
    12 de junho de 2025
    Avatar de Felipe Lomar

    bom, percebe-se um conto com vocação apra infantil. Tem um quê de Cecília Meireles ou de Ruth Rocha. Mas acho que poderia ser mis caprichado quanto à métrica e às rimas. Outra coisa, esse tipo de texto costuma ser frequentemente acompanhado por ilustração, então apenas o texto sozinho assim, com todo esse tamanho, acaba sendo enfadonho. Atente-se Para o tamanho dele também.

  6. Rodrigo Ortiz Vinholo
    12 de junho de 2025
    Avatar de Rodrigo Ortiz Vinholo

    Boa proposta, mas tenho dúvidas sobre a execução. Os monólogos de cada personagem são interessantes, mas se alongam demais, virando blocos de texto que são distrativos. A mesma proposta de cada discurso poderia funcionar com o enredo como um todo em uma versão mais abreviada. Gosto de como tudo funciona, mas ainda mais na proposta de fazer algo para a criançada… acho que elas se cansariam no meio.

  7. Fabiano Dexter
    11 de junho de 2025
    Avatar de Fabiano Dexter

    História
    A história é bem simples, o que é muito bom quando falamos de histórias voltadas para o público infantil. Uma premissa foi dada, um desafio lançado (a pintura) e a partir daí cada figura no cenário passou a buscar ser o objeto da obra de arte.
    Tema
    O texto é realmente lindo, entrando na linha do infantil pela minha visão.
    Construção
    A construção do texto ficou muito boa, com uma ideia clara de explicações do cenário para o Pintor. Algumas palavras mais difíceis apareciam durante o texto, mas que agregam ao estilo e ajudam a tornar a minha leitura agradável, ainda que eu tivesse que explicar todas elas para meu filho quando li para ele.
    Gostei das particularidades de cada solicitação, principalmente as das vacas. Muuuuito bem pensado e arrancou risadas do meu pequeno.
    Impacto
    Achei a leitura bem agradável e o texto muito bem escrito, muito bonito, mas um pouco longo. Acho que para o público infantil é interessante textos mais curtos ou, pelo menos, menos repetitivos. A cada explicação meu filho ficava na expectativa de uma conclusão que não vinha o que acabou cansando ele um pouco.

  8. Priscila Pereira
    10 de junho de 2025
    Avatar de Priscila Pereira

    Olá, Autor! Tudo bem?

    O que gostei: escrita segura, muita técnica, imagens mentais lindas e tranquilas.

    O que não gostei: infantil para adultos, talvez as crianças não iriam ter paciência para apreciar sua obra.

    Boa sorte!

  9. Mauro Dillmann
    6 de junho de 2025
    Avatar de Mauro Dillmann

    Um conto bem escrito que assume, propositalmente, um tom poético e o uso de rimas. Em algum momento me lembrou Manoel de Barros.

    Tem certa pureza no diálogo da natureza com o pintor, mas não creio que baste para o fazer infanto-juvenil. Será?

    Particularmente não gostei dessa construção: “Sim mm  m mmmmm”.

    Não tenho muito a acrescer. É um conto bacana, mas não totalmente fácil de ler.

    Parabéns!

  10. Kelly Hatanaka
    2 de junho de 2025
    Avatar de Kelly Hatanaka

    Um conto infantil, sem dúvida. O formato é daqueles contos infantis bem infantis mesmo, livrinhos pequeninos, cheio de figuras bonitas e manipulados pela própria criança. Só que a linguagem utilizada não combina com a forma. É muito rebuscada e cada personagem fala demais. Não consigo imaginar uma criança lendo (ou ouvindo um adulto ler) até o fim. E, para um leitor adulto, o conteúdo é muito infantil, que resulta pouco interessante. Ou seja, é um infantil que tem conteúdo “adulto” demais para uma criança e infantil demais para um adulto.

    Acho que aqui o vilão foi o limite de palavras. Penso que o autor procurou ficar próximo do limite, que é imenso para um conto infantil, e se prejudicou por isso. Tivesse mandando o limite às favas e feito um infantil bem infantil e bem curtinho, o resultado teria sido um excelente conto.

  11. Thiago Amaral
    1 de junho de 2025
    Avatar de Thiago Amaral

    Esse é um conto bem diferente dos outros no certame. Me lembrou bastante dos livrinhos infantis que eu lia quando pequeno, com flores e animais falantes. Nesse sentido, podemos considerar infantil e chubesco também. No entanto, quando consideramos infantil, concordo com os que apontaram pro vocabulário difícil em algumas passagens, o que não caberia. Mas, se formos pelo caminho do chubesco, tá valendo.

    Outra zona cinzenta é em relação a se é um conto ou não. De fato, algo está sendo contado, então é. Mas, apesar do formato, ele é bastante poesia, também. E o intuito do texto parece ser não o de contar um causo, mas de contemplar a beleza das criaturas e coisas terrenas. Mesmo assim, vou considerar apenas que os contos podem mais do que apenas contar histórias, e podem ser muito próximos da poesia, também.

    Enfim, para o que se propõe, o conto funciona. Traz diversão e beleza (e tenho um fraco por rimas e poesia). É singelo, simples, mas dá conta do que pretende. Nada que se destaque tanto, porém.

    Obrigado e boa sorte no desafio.

  12. Fabio Baptista
    28 de maio de 2025
    Avatar de Fabio Baptista

    O pintor está em dúvida sobre o que pintar e animais e elementos da natureza em geral começam a fazer propaganda de si próprios para serem retratados na tela. No final, o pintor faz a boa e pinta todo mundo.

    Acho que esse é o conto mais “bonito” da Série A (e provavelmente de todo o desafio). A linguagem poética, as palavras se conectam e rimam e dão fluidez musical às frases. Foi o único conto que me trouxe nostalgia dos livros que lia quando criança, aqueles em que o texto se perdia entre ilustrações de página inteira.

    O único pecado aqui talvez tenha sido esticar um pouco além da conta. A qualidade está igual, mas o encantamento, o tal efeito nostalgia, passou ali na casa. Talvez num livro ilustrado esse efeito fosse reduzido, mas aqui ficou algo repetitivo.

    Ótimo trabalho (e ótima imagem!).

  13. Givago Domingues Thimoti
    27 de maio de 2025
    Avatar de Givago Domingues Thimoti

    As Tintas do Jardim 

    Da série “fazendo a boa”, vou tentar comentar o máximo de contos da Série A possível, apresentando minhas impressões pessoais sobre o seu conto.

    As Tintas do Jardim é um conto infanto-juvenil, escrito belamente, sobre um pintor que, indeciso entre tantos personagens dignos de serem pintados em seu jardim, resolve retratar o jardim em todo o seu esplendor.

    Em termos de técnica de escrita, esse conto é sublime. Tem algum ou outro problema de formatação, mas é um trabalho rebuscado. Muito bem escrito e poético. Até mesmo lúdico.

    Bom, infelizmente, enquanto conto infantil, eu não sei se funciona bem. Ao final da leitura, fiquei pensando “mas é só isso?”. Claro, como falei anteriormente, o conto tem uma escrita belíssima. Entretanto, falta história. Falta desenvolvimento. Falta clímax… Ao fim, me pareceu que o foco focou somente na qualidade poética estética do conto, enquanto a singela narrativa fugiu das pinceladas do artista. Uma pena… é um dos textos mais poéticos que li no Entrecontos.

  14. claudiaangst
    24 de maio de 2025
    Avatar de claudiaangst

    Olá, autor(a), tudo bem?

    Temos aqui um conto voltado para o público infanto-juvenil? Seria quase uma fábula infantil, mas a linguagem poética talvez não seja de fácil entendimento para crianças. Ou estaria subestimando a capacidade dos infantos?

    Percebe-se o emprego da metáfora: a escolha de elementos para pintar uma paisagem. Diante de uma tela em branco, o pintor hesita não saber o que incluir na sua obra. Os personagens da própria natureza começam a tentar convencer o pintor da sua importância no cenário a ser retratado.

    O desfecho traz a ideia da inclusão de todos, responsáveis pela beleza da natureza como um todo.

    O conto está muito bem escrito, com rimas bem equilibradas. As imagens construídas são belíssimas, mas acredito que o alongar da narrativa prejudicou o encantamento gerado. Uma criança não teria paciência para acompanhar tantas palavras, nem um adulto.

    Enfim, a ideia foi boa, a execução bem realizada, mas talvez tenha extrapolando um pouco os limites da poesia.

    Parabéns pela participação e boa sorte na classificação.

  15. Jorge Santos
    20 de maio de 2025
    Avatar de Jorge Santos

    Olá, Emílio. Achei interessante este seu conto, que desfaz desde o início qualquer dúvida quanto ao tema. Tenho tido alguma dificuldade neste desafio com dois temas que estão a ser combinados no texto por alguns autores. No seu texto não tenho qualquer tipo de dúvida quanto à caracterização: é um conto para crianças, com todos os elementos tradicionais, desde a viagem, ao conflito interno, à pedagogia sobre as preocupações ambientais, ao desfecho que resolve tudo de forma democrática. A arte surge como veículo, a paixão artística serve de motivação num texto bonito que só defraudará as expetativas de quem esperasse um texto mais impactante, direcionado para um público mais adulto. Como ponto negativo, só tenho a apontar o excesso de simplicidade, a falta de um conflito maior. Mas talvez sejam os meus 53 anos a vir ao de cima…

  16. paulo damin
    15 de maio de 2025
    Avatar de paulo damin

    Muito bem, uma história para crianças no esquema de contos pra crianças: vários personagens se sucedendo em falas que mais ou menos se repetem, apontando para o mesmo desejo. Um certo clima de desatenção necessária, uma leveza atmosférica. Por fim, uma solução agregadora, acolhedora, como mensagem de harmonia e generosidade. 

    No começo achei que ia ser todo rimado o texto. E poderia ser, o autor parece ter talento pra isso. Seria uma boa experiência, reformular essa história em forma de versos. Inclusive, isso tornaria o texto mais curto, sobretudo na parte das falas dos personagens, que são meio prolixas.

  17. cyro eduardo fernandes
    13 de maio de 2025
    Avatar de cyro eduardo fernandes

    Emílio exercitou bem sua veia poética, num texto rebuscado e criativo. Excelente técnica. Pequena falha na pontuação do primeiro parágrafo. Um belo conto com impacto um pouco menor que a narrativa.

  18. Antonio Stegues Batista
    12 de maio de 2025
    Avatar de Antonio Stegues Batista

    Resumo do conto: Pintor se prepara para pintar uma paisagem quando os elementos dela falam com ele.

    É uma poesia, ou conto? Prosa poética? Não sei ficou meio estranho, mas acho que é válido, se bem que eu não gosto de frases rimadas em conto, já que o Desafio é de conto e não, poesia. De qualquer forma, parabéns e boa sorte.

  19. Leandro Vasconcelos
    9 de maio de 2025
    Avatar de Leandro Vasconcelos

    Olá! Este é um conto de prosa poética que dialoga muito bem com a imagem representativa. A forma empregada difere das dos outros contos do desafio e deve ser apreciada, pois muito se fala sobre grandiosos enredos, ideias fabulosas, originalidade etc.; mas pouco sobre o domínio da forma, das palavras em si.

    É tudo muito belo: cada “personagem” adquire características únicas ao conversar com o pintor, o qual vai construindo a narrativa, colocando todos em seus devidos lugares na pintura… ou seria no texto? As duas coisas se fundem, o que é um efeito muito bom. Nós ficamos a observar o resultado, como quem admira uma pintura.

    O que achei de problemático é que a leitura pode soar cansativa, sobretudo para o público infanto-juvenil, não acostumado às construções frasais rebuscadas e ao teor mais introspectivo. Mas talvez isso seja sinal de nosso tempo, em que todos querem o fácil. De toda forma, este conto remete às leituras dos clássicos infantis, e muito me cativou pela beleza.

    Não há muito o que se aperfeiçoar. A pintura está aí e nos cabe admirá-la!

  20. toniluismc
    7 de maio de 2025
    Avatar de toniluismc

    AVALIAÇÃO CRÍTICA – CONTO “As Tintas do Jardim”
    ✒️ Por um leitor ainda em busca da tal “fofura” que supostamente mora nos textos para o público infantojuvenil… mas que, neste caso, parece ter se perdido em um dicionário de sinônimos poéticos.

    📉 PRIMEIRA IMPRESSÃO

    “As Tintas do Jardim” quer ser uma fábula poética sobre a beleza da diversidade e da convivência harmônica na natureza, mas acaba sendo um exercício de exibicionismo linguístico. É um conto que finge falar com crianças, mas que só será compreendido – e talvez apreciado – por adultos que gostam de frases rebuscadas e jogos de palavras. É como dar um balé barroco para uma criança esperando um pulo de amarelinha.

    ✍️TÉCNICA — Nota: 3.8

    Pontos fortes:

    • O autor tem domínio da linguagem figurada, ritmo poético e cadência sonora. Há passagens que se aproximam da prosa poética com competência técnica.
    • A estrutura em episódios encadeados (cada personagem da natureza pedindo para ser pintado) tem uma lógica clara e previsível, adequada ao formato de fábula.
    • Há tentativas interessantes de variação rítmica e fonética (como na fala das vacas e das nuvens).

    Mas…

    • O excesso de vocabulário rebuscado, inversões sintáticas e construções excessivamente artísticas sufoca a simplicidade e a graça que esse tipo de conto exige.
    • Há trechos que soam como poemas herméticos disfarçados de diálogo infantil, o que rompe o pacto com o leitor mirim. Termos como “espirararalar”, “tremeluz” ou “casa que espia pela chaminé” funcionariam melhor se houvesse mais leveza e humor. Aqui, eles soam como tentativas forçadas de lirismo.

    🔎 Resumo técnico: Sim, o autor sabe escrever. Mas parece mais preocupado em mostrar que sabe escrever do que em se comunicar com sinceridade e delicadeza com o público.

    🎨 CRIATIVIDADE — Nota: 2.6

    Pontuações positivas:

    • A ideia de todos os elementos da paisagem pedirem para serem pintados é simpática. É um recurso narrativo clássico das histórias de reconciliação e inclusão, e tem potencial para gerar empatia.

    Mas…

    • Criatividade não é o mesmo que verborragia. Todos os personagens falam com o mesmo tom empolado, filosófico e autocentrado, o que tira a graça e a distinção entre eles. A joaninha fala como um florista barroco, a flor como uma erudita do século XIX, o camaleão como um cavaleiro existencialista.
    • A pluralidade da natureza não se traduz em pluralidade de vozes, o que é uma oportunidade perdida.

    🔎 Resumo criativo: Uma ideia doce afogada em ambição lírica. A história tinha tudo para ser adorável, mas termina sendo uma declamação narcisista em nome da fauna e da flora.

    💥 IMPACTO — Nota: 2.0

    O impacto é… nulo.

    • Não há verdade emocional. Tudo é elaborado demais, cerebral demais, sem a espontaneidade ou afeto que poderiam fazer um jovem leitor sorrir, se encantar ou se comover.
    • Mesmo o final, com a imagem da paisagem pintada por completo, não provoca catarse nem surpresa. É apenas o desfecho óbvio de uma proposta que não soube criar tensão nem expectativa real.

    Além disso:

    • Fofura não é sinônimo de floreio literário. Fofura pede leveza, doçura e sinceridade, três ingredientes ausentes aqui.
    • Crianças e adolescentes não se emocionam com frases como “espelho que afunda os outros desde Narciso” ou “a casa fornece à paisagem um fogo que a atiça”. Quem se emociona com isso são adultos escrevendo para si mesmos.

    🔎 Resumo do impacto: O conto tenta soar tocante, mas fala tanto e sente tão pouco que termina frio – como um pôr do sol visto de dentro de uma enciclopédia.

    🎯 CONSIDERAÇÕES FINAIS

    “As Tintas do Jardim” é uma aula de vocabulário, mas não uma história que se comunica com o coração do leitor. Tudo ali soa ensaiado, artificial, pretensamente poético e, sobretudo, inacessível para o público infantojuvenil. É o típico conto que um adulto cult lê e diz “nossa, que bonito!”, mas que uma criança de 10 anos abandona na primeira página.

    Resumo cruel em uma frase:

    Uma tentativa de arco-íris literário que termina como uma nuvem de palavras difíceis sem cor nem leveza.

    📌 Sugestão ao autor (caso queira escrever para crianças de verdade):
    Troque as metáforas excessivas por personagens com vozes distintas e autênticas. Simplifique a linguagem sem subestimar o leitor jovem. E, principalmente: escreva para encantar, não para impressionar.

  21. Rangel
    5 de maio de 2025
    Avatar de Rangel

    Olá, Emílio!

    Acho que você é um poeta cheio de inspiração. Que legal o modo como você escolhe as palavras e as aplica, dando personalidade a cada personagem. A D. Joaninha, por exemplo, mais formal. Além disso, você se preocupou em dar uma personalidade a cada personagem e nas poucas linhas conduziu os diálogos de maneira eficaz. Trazendo inclusive rimas poéticas bastante fofas. 

    É um conto para se ler em voz alta e contemplar o jogo com as palavras (bem-te-ti-mal-te-vi), a linguagem de cada personagem etc.

    E essa preocupação com a linguagem, tão bem realizada, acabou atrapalhando um pouco a parte narrativa. Mesmo para um conto infantil fofo, é importante uma certa tensão, de modo que a poesia não oculte a história. A mim, acabou ficando com essa impressão no final, uma escrita poética caprichada para um enredo e um desfecho regular, quase morno.

    No fim, valeu muito a pena ler, gosto de escritores cuidadosos, que fazem revisão em como o texto será construído palavra por palavra, tijolo por tijolo. 

    Boa sorte!

  22. Luis Guilherme Banzi Florido
    5 de maio de 2025
    Avatar de Luis Guilherme Banzi Florido

    Boa tarde!

    Um conto infantil que utiliza a beleza da vida e as rimas para encantar as crianças. Apesra da beleza lírica do texto, to um pouco dividido quanto a esse conto aqui. Vou explicar de forma curta e depois vou elaborar melhor: nao sei se ele conto prenderia uma criança na leitura, pois acaba sendo, a meu ver, complexo demais para uma criança. A linguagem é bonita, mas acaba ficando um pouco rebuscada, e não sei o quanto isso prenderia a atenção da criança na leitura. Considerando que o conto praticamente carece de enredo, tendo como objetivo tocar pela beleza e pela estetica, acho que ele tambem nao é direcionado a adultos. Entao isso me deixa com a sensação de que o conto nao atinge o publico a que se destina. Perceba, eu nao to dizendo que o conto falha na adequaçao ao tema. Ele está perfeitamente adequado ao tema infantil/chubesco. O que estou dizendo é que acho que ele nao atinge o objetivo proposto para o tema que escolheu. É tipo um conto de comedia que nao faz rir, debate constante no desafio passado.

    Por outro lado, fico pensando num pai ou mãe lendo esse conto em voz alta para a criança, com seu ritmo agradável. Essa é a parte que me deixa dividido quanto ao conto. Acho que poderia funcionar melhor assim.

    Além disso, fiquei admirado com o esmero e o capricho que voce teve para escrever, escolhendo palavras, planejando rimas. Voce trabalho muito e trabalhou bem nesse sentido.

    Por tudo isso que listei acima, esse conto me deixa com muitas duvidas sobre que notar dar. Vamos lá, vou resumir:

    1- sendo sincero, eu particularmente nao gostei da leitura, pois achei um pouco arrastada e a falta de enredo e o final com pouco impacto nao me ganharam como leitor. Por outro lado, gostei da beleza estetica e do esforço que voce colocou nisso.

    2- ok, eu nao gostei, mas esse conto nao é pra mim, é pra crianças. As crianças gostaria? É aqui que complica um pouco pra mim, pois fico imaginando meu eu criança lendo, e acho que eu me cansaria e me perderia na leitura. Maaaas, talvez lido em voz alta por um bom orador, sairia muito legal.

    Enfim, desculpe se fui um pouco duro na analise, mas afinal é para isso que estamos aqui, né? Procurei pensar ao maximo e olhar por varios angulos. No fim, acho que é um conto muito bonito e que deu muito trabalho, mas que acaba nao chegando la.

    Parabens e boa sorte!

  23. Augusto Quenard
    5 de maio de 2025
    Avatar de Augusto Quenard

    Muito legal! Adorei. Eu tenho lido histórias infantis porque tenho um pequeno em casa, então me senti à vontade para julgar, no sentido de ter muitas referências de comparação, e gostei muito.

    Acho que num formato mais editado, talvez o texto tenha que ser um pouco menor, pra diminuir as páginas da publicação e porque as crianças cansam um pouco.

    Mas isso é outra história. Acho que aqui coube perfeitamente no gênero chubesco/infantil, inclusive com a escolha de termos difíceis, porque ainda que possa parecer que as crianças não vão entender, isso é um prato cheio pra aprender e pra explicar pros novos leitores.

    Quanto ao texto em si, nada a dizer, só elogios. Gostei muito da musicalidade e das rimas, aliterações e jogos de palavras.

    Parabéns!

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Publicado às 3 de maio de 2025 por em Liga 2025 - 2A, Liga 2025 - Rodada 2 e marcado .