Gemini – Conto (Bia Machado)
Descobriram-se almas gêmeas, mas não souberam muito bem como agir. Ele já namorava alguém e ela estava casada há quase dez anos.
“E então? Que faremos?”
“Não sei…”, a voz dela era apenas um sussurro, como se os pensamentos estivessem distantes dali.
Difícil esconder o incômodo. A naturalidade de uma amizade de infância se perdeu entre expectativas de algo singular, que acontece para poucos. E tudo porque ela resolveu dar a ele de presente de aniversário uma consulta com um famoso sensitivo, que fora categórico em afirmar: “É com a sua amiga que você tem passado séculos e mais séculos, existência após existência, nem adianta se casar com outra.”
Depois de tantas opiniões alheias e de conversas tímidas entre os dois, acharam melhor adiar aquela experiência por tempo e vida indeterminados.
“Já temos amigos, afetos, trabalho, planos… Complicado mudar alguma coisa agora.”
“Você tem razão.”
Como consolação, fizeram uma promessa: na próxima, dariam um jeito de se encontrar mais cedo. Um abraço selando o compromisso e cada um foi cuidar de sua vida atual. Também continuaram a trocar cartões de boas festas todos os anos.
17 comentários em “Gemini – Conto (Bia Machado)”
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Comentários
 | leandrobarreiros em Sob o céu cor-de-rosa –… |
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 | Pedro Paulo em Sob o céu cor-de-rosa –… |
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 | Priscila Pereira em Priscila Pereira |
EntreContos 
Muito legal a história, Bia. Gosto de como você perverte a noção de “destino”, nos dando um final diferente. A força “inevitável” do destino acabou por ser evitada, né? Muito interessante a abordagem. Parabéns!
Bia, sua história tem uma delicadeza que me agradou, especialmente no desfecho melancólico mas sereno. A troca de cartões de Natal parece simples, mas carrega um afeto silencioso. Só acho que a reviravolta envolvendo o sensitivo poderia ter sido mais explorada, ficou meio jogada, quase como desculpa para o distanciamento final. Talvez um conflito mais forte entre o desejo e a razão desse par aumentasse a tensão da narrativa. Ainda assim, gostei da ideia de almas gêmeas que se reconhecem tarde demais. A vida tem dessas coisas. Parabéns, Bia, e seguimos aprendendo, pois aqui a verdade prevalece, não é espaço pra elogio automático como acontece no Recanto das Letras.
Olá, tudo bem? Quero agradecer por sua leitura e seu comentário. Sobre a reviravolta, compreendo perfeitamente, só lembro de que se trata de um miniconto, então ele era para ser assim mesmo, mais curto. E antes de postar aqui ele era menor ainda! =D. Ou seja, um dia posso escrever uma versão maior, então essa observação me será muito útil. Aguarde a versão extendida. 😉
Aliás, estendida. Agora que vi o X. 🤔🫢😤
Sou um mero aprendiz de feiticeiro. Assim sendo, se puder ler e comentar meu conto Onírica, destacando algum ponto forte, se tiver, e principalmente os pontos falhos, eu ficaria grato. Estou aqui para aprender com vocês. Saudações.
Esse conto me pegou pq, mesmo sendo curtinho, e sem querer entrar em muitos detalhes, bateu muito proximo de casa…
Gostei dele por que, apesar da brevidade, voce consegue passar exatamente o sentimento que quer passar. Essa angustia, essa ideia do “caminho sem volta”, do “tarde demais”.
Objetivo cumprido. Meu coracao ta apertado, aqui. Parabens! hahaha!
Oi, Marco, obrigada! E imagine que ele era mais curto ainda… Acrescentei um pouco mais de texto para enviar para cá, como um exercício.
Olá! Li este seu conto! Sou leitor de romances, mas, em matéria de contos, minha preferência tem recaído na leitura dos textos curtos. Parabéns pelo exercício de concisão e sentido!
Olá, Anderson! Aprendi a gostar dos textos curtos também. Eles têm muitas possibilidades imaginativas. Obrigada pelo comentário.
Dentre as inúmeras interpretações possíveis, fico com uma que me parece um tanto amarga, todavia bastante plausível, que é o adiamento da felicidade em nome de uma suposta garantia de que no futuro — no caso, numa vida futura — tudo haverá de se resolver.
Interessante como o ser humano cultiva essa ideia de que posso-estar-me-ferrando-aqui-mas-depois-bem-depois-vou-atingir-o-nirvana. Vale para amores impossíveis, vale para condições sociais inelutáveis, vale para dilemas religiosos.
E aqui vemos isso aplicado com maestria. Em vez de me compadecer dos personagens, fiquei um tanto frustrado com eles justamente pela falta de coragem em viver o que era óbvio, adiando para uma eternidade que quiçá existirá o momento de completude. Bem, talvez eu seja por demais racional.
Excelente texto, Bia. Como é costume.
Olá, Gustavo, obrigada pelo comentário. Você disse ser racional, mas cobrava coragem deles para viver o que pareceu ser mais sentido pelos amigos do que a confirmação do sensitivo. Eu concordo com você. Sou do time do “Vamos viver o que há pra viver, vamos nos permitir”, claro, se houver uma indicação muito forte de que é o mais certo a fazer, bem lá no fundo da alma rss… Uma pena que muitos não tenham essa coragem…
Oi, Bia!
Ótimo conto, tem muito subtexto! Leva a pensar em tanta coisa… Gostei bastante! 🥰💜
Oi, Priscila! Obrigada pela leitura, que bom que gostou. 🙂
Quando a eternidade é atropelada pelo cotidiano. São almas gêmeas pela eternidade, mas e o dia-a-dia, os compromissos, o trabalho? Melhor deixar pra depois. Seriam mais felizes juntos? Talvez. Mas o agora tbem não está mau.
Um conto curtinho que faz pensar em tanta coisa.
Muito bom!
Oi, Kelly, obrigada pelo comentário. Os questionamentos são exatamente esses… 😉
Olá, Bia! Tudo bem?
Creio que, em poucas palavras, você conseguiu nos estampar a irresignação e a desconfiança de duas almas gêmeas. Com uma escrita simples, você me deixou aqui refletindo sobre o que não foi retratado, mas com certeza vivido por esse casal. Os caminhos tomados e suas nuances… Cada pedrinha de “e se…” que formam os outros caminhos, com todo o potencial por trás.
Parabéns pelo conto!
Oi, Givago! Obrigada pela leitura. Esse é daqueles continhos que ficam um tempinho vindo, vindo, eu imagino toda a história e sai assim, de primeira e curtinho. Escrevi só para ter o gostinho de ver que eu o escrevi. E uma parte dele é “baseada em fatos”. =D