Pedro Paulo

Nasci em Aracaju-SE, em 1997. Tive contato com a leitura desde cedo e ter crescido com dois amiguinhos que implicavam sobre pegar o papel principal nos nossos faz-de-conta me inspirou a imaginar que os secundários poderiam ter a mesma importância e suas próprias histórias, extrapolando suas posições de alívio cômico e apoio moral. Assim, fui o último a deixar de brincar de bonecos, insistindo em inventar para cada um sagas tão complexas quanto minha cabecinha podia imaginar naquela idade.

Certamente, essa mania de enredo afastou alguns colegas. Decidi colocar no papel e de criança esbocei que gostaria de ser escritor, o que não animou nem amigos e nem familiares. Terminando o meu Ensino Médio, em uma escola mais ou menos prestigiada da capital sergipana, escolhi o a licenciatura de História guiado pelo senso juvenil de que estudando esse campo do conhecimento eu teria a história do mundo inteiro para inventar as minhas.

Em 2015, há exatos dez anos ao tempo em que escrevo esta trajetória, ingressei na Universidade Federal de Sergipe. Uma década também foi o tempo levado para o meu reingresso, agora na condição de mestrando em ensino de História. Ensinar me cativa tanto quanto escrever, embora sejam operações distintas.

Até hoje me choco com ter acertado a escolha do meu curso guiado por uma noção tão ingênua. Talvez tenha acertado por ter seguido o meu coração, por mais clichê que seja assumir isso. Até hoje, todas as escolhas que fiz com esse ímpeto se provaram corretas, o que me levou a trabalhar e morar em outro estado, deixando-me num constante vai-e-vem entre Alagoas e Sergipe, para cá e para lá do São Francisco.

Estudar História é muito do que sou. Aprofundou o meu presente com o passado e a experiência humana abastece os meus textos até hoje, como é o caso do conto que me consagrou entre os ilustres do EntreContos. “A Procissão” empresta do nosso folclore e de elementos do fenômeno histórico do cangaço, que tornaram o conto tanto mais rico quanto mais divertido de escrever! É claro que a literatura também é no que me amparo e no que busco aprender mais. O primeiro conselho para absolutamente qualquer escritor é que leia. Nesses quase 28 anos de vida, 8 são participando do EntreContos, que me disciplina a continuar escrevendo sempre em posição de desafio, instigando-me a experimentar com diferentes temas. Então a comunidade é o meu espaço de escrita e sou um grande entusiasta da nossa dinâmica.

Há alguns anos tenho tentado dar mais espaço a autores de nacionalidades, etnias e gêneros diferentes, com uma atenção especial aos contemporâneos do nosso Brasil. Escrevendo isto longe das minhas estantes empoeiradas em Alagoas, é difícil rememorar autorias ou obras fazendo à justiça às várias leituras que me marcaram, mas tomando exemplos recentes, fiquei tão tocado por “O Parque das Irmãs Magníficas”, de Camila Sosa Villada, como pelo romance que li em seguida, “A palavra que resta”, Stênio Gardel, ambos me remetendo aos sentimentos que tive ao ler “Menos que um”, de Patrícia Melo, e até a coletânea “Voladoras”, de Mónica Ojeda. Na seara dos contos, Lygia Fagundes Telles se ergue como uma das melhores contistas que já li até hoje, uma mestra do manejo do insólito. A leitura de seus contos me faz encarar o inquietante com mais curiosidade do que temor.

Enfim, biografar pode sim ser feito com alguém que ainda está vivo e, mesmo se tratando de alguém morto, um texto dedicado à vida de alguém não pode induzir ao engano de retratar toda a pessoa. Entretanto, no meu caso existe uma novidade que redefine a minha vida e dá a impressão do fim de um modo de existir neste mundo para um recomeço em que também se vive fora de mim. Neste mesmo dia em que escrevo sobre a minha trajetória, descobri o sexo do bebê que Yanca, minha noiva, gesta há quase quatro meses. E assim descobri o nome daquele a quem pertenço. Caetano Caim faz de mim e dos meus rumos algo o inquietante que Telles me incentiva a apreciar. Trilharei, sobretudo, com amor.

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Pedro Paulo foi o vencedor da 1ª Rodada da Liga Entre Contos de 2025, com o conto “A Procissão“. Clique aqui para conhecer outros textos do autor.