EntreContos

Detox Literário.

DPNHASGRY!*¨%#%6J2L9)4$NSAL (Alexandre Moraes)

O chalé de Otávio Albuquerque ficava escondido na parte mais isolada de um condomínio rural, no interior de Minas. De longe, parecia um refúgio pacato, mas por dentro era um caos meticulosamente tramado. A mobília, antiga e empoeirada, mal combinava com a obsessão por controle que dominava sua mente. Otávio herdou a fortuna dos pais, mortos num acidente de carro, que caiu de uma ribanceira após perder os freios. Filho único e avesso ao convívio social, mudou-se para essa cidade onde ninguém o conhecia, fugindo de qualquer contato humano. Trocou o número do telefone e deletou as redes sociais, para que nenhum parente ou amigo de infância ousasse xeretar sua nova vida.

Dentro do chalé, cada coisa tinha seu lugar exato, mesmo que aparentasse certa desordem. Otávio sabia exatamente onde cada objeto estava jogado. Do lado de fora, o mato alto tomou conta do lote, camuflando a rotina de Otávio do vizinho mais próximo, há uns 500 metros abaixo, que vinha com a família de vez em quando nos fins de semana. Nas raras vezes que se trombaram, Otávio tentava se esgueirar e fingia uma pressa que nunca houve para encurtar ao máximo o contato com aquele cidadão gentil.

Às 9h43, sempre preparava um café forte e lia o jornal Estado de Minas, entregue em pilhas com os exemplares da semana anterior. Às 15h15, religiosamente, ouvia Beethoven folheando um livro que comprara pela internet, alvo de sua crítica literária para a coluna mensal no Caderno de Cultura. Os correios entregavam as encomendas toda segunda na portaria do condomínio. Alimentava-se apenas de misto-quente, não importava se era almoço, jantar ou lanche da tarde. Mantinha presunto, mussarela e pão de forma Seven Boys congelados e estocados em quantidades absurdas, assim como os pacotes de Café 3 Corações e manteiga da roça. Era um prisioneiro de suas próprias manias. Disso não abria mão.

No entanto, a verdadeira obsessão de Otávio Albuquerque ficava escondida dentro de um dos armários, com acesso por trás de uma parede grossa e com fundo falso: uma biblioteca clandestina, abarrotada de livros que ninguém jamais leu. Todos seus. Cada exemplar escrito, revisado e diagramado por ele mesmo, escondido como um tesouro que o mundo não merecia encontrar. Escrevera doze livros até aquele dia, cada um com um testemunho peculiar e perturbador. Histórias minuciosas sobre crimes e terror psicológico. Descrições detalhadas, às vezes até demais. Como se o autor não estivesse apenas imaginando, mas colecionando personagens macabros. Seus enredos eram repletos de existencialismo sufocante, mortes bizarras e desfechos angustiantes, refletindo sua própria psiquê. Publicava sob pseudônimos diversos e comprava as tiragens inteiras, empilhando os livros dentro dos plásticos, ainda intactos, como troféus em sua biblioteca secreta.

Aos olhos do público, aquele escritor não existia. Mas sua outra identidade sim: era o crítico literário mais impiedoso do Jornal da Cidade. Suas palavras estraçalhavam escritores iniciantes, especialmente mulheres e jovens talentos. Como todo escritor narcisista, sentia um prazer perverso em destruir carreiras com adjetivos ácidos, cravejar palavras duras e sentenças esmagadoras. O dono do jornal adorava, pois sabia que “polêmicas vendem bem”, embora o editor-chefe sempre tentasse evitar abusos, marcar reuniões de feedback com Otávio, que dava boas desculpas para fugir da conversa. Albuquerque era um dissimulado compulsivo. Enviava suas críticas por e-mail, sempre às 23h59, deadline para edição do caderno literário. Escrevia sempre na máquina de escrever verde, herança de seu falecido avô Quequé, de quem também herdou a mania de rasgar a folha caso um mínimo erro de datilografia escapasse. A lixeira ficava repleta de papéis embolados e textos inacabados. Otávio só tocava no computador para digitalizar sua crítica literária mensal, pagar as contas de energia, telefone e internet, além de enviar a lista de mantimentos para o mercadinho local. Abria exceção apenas para diagramar seus livros, o que fazia às terças à noite. Fora isso, tornou-se completamente avesso ao mundo digital.

Toda quarta-feira, impreterivelmente, ia à gráfica na cidade vizinha buscar os próprios livros que mandava imprimir e reimprimir com obsessiva insistência. O dono da gráfica, um sujeito miúdo, de olhos agitados e perspicazes, começou a desconfiar daquele homem de pouquíssimas palavras. Como pode um leitor tão ávido ser tão avesso a conversas? Isso era algo bastante incomum, ainda mais em Minas, onde todos costumam falar de tudo com intimidade, na maioria das vezes, até além da conta. E pior: ninguém ali nunca ouvira falar daqueles livros, nem os encontrava em nenhuma das poucas livrarias da região. Havia algo naquele cliente que ultrapassava a simples excentricidade. Como bom mineiro, cravou: “aí, tem!”.

Um dia, movido pela curiosidade insistente, o dono da gráfica decidiu investigar mais a fundo. Começou a cruzar informações sutilmente, até que um detalhe específico, presente em todos os originais e também na coluna de jornal, acendeu a suspeita. A meticulosa divisão dos capítulos, o uso particular dos travessões nos diálogos, e acima de tudo, a ausência absoluta de erros nos originais – nem um deslize, nem uma única correção – eram características que pouquíssimos escritores poderiam ostentar. Aquela perfeição quase maníaca denunciava seu autor. As peças do quebra-cabeça se encaixaram numa revelação inquietante: o crítico impiedoso e o escritor fantasma eram a mesma pessoa. Intrigado com a descoberta, enviou uma mensagem de WhatsApp para o editor-chefe do Jornal da Cidade. Marcaram um encontro em uma cafeteria afastada. Ali, entre xícaras de café e teorias conspiratórias, as horas se desdobraram em uma trama de suspeitas e informações colhidas de fontes diversas: ligaram para o gerente do supermercado, para o vizinho gentil, para a portaria do condomínio, para o carteiro, para todos que tinham contato com aquele cidadão de pouca conversa.

No dia seguinte, o editor-chefe ligou para Otávio, o que lhe chamou a atenção, pois isso nunca ocorrera antes. Sua voz carregava um tom estranho, um tanto quanto suspeito. Insistiu em agendar uma “reunião presencial importante e urgente”. Enquanto Otávio já preparava mentalmente suas evasivas habituais, o plano se cumpria. Foi precisamente nesse instante que um Fiat Uno vermelho estacionou em frente ao chalé. Era o dono da gráfica. Como teria descoberto o endereço? O homem saltou do carro com passos decididos e pressionou a campainha insistentemente. Bateu palmas, golpeou a porta com os nós dos dedos e, por fim, gritou firme chamando pelo nome falso que Otávio deu a ele: “Seu Júlio! Seu Júlioooo…”. Antes de forçar a entrada, decidiu vasculhar uma última vez o chalé.

Do lado de dentro, o coração de Otávio palpitava com tal violência que o tecido do seu pullover chegou a estufar. Suas mãos começaram a formigar, dominadas por uma paralisia angustiante. Uma espécie de calor gélido subiu forte pelo pescoço e enrubesceu sua testa. Sua garganta, contraída pelo pânico, impedia-o de falar qualquer coisa. O dono da gráfica, percebendo o silêncio, aproximou-se da janela lateral e, pela estreita fresta da cortina, flagrou Otávio paralisado atrás da porta. Modulando a voz para um tom falsamente cordial, falou: “– Que bom que você está aí, Seu Júlio. O dono da livraria nova está ansioso para conhecê-lo.” Com movimentos mecânicos e descompassados, Otávio destrancou a porta, apontou para a poltrona empoeirada ao visitante e cambaleou hesitante e desconfiado até a cozinha. Retornou com uma xícara de café frio e começou a responder de forma monossilábica e com onomatopeias as inúmeras suposições que o dono da gráfica fazia sem parar. Olhou ao redor, mas não avistou nenhum objeto pontiagudo próximo a eles. Já sabia disso. Porém, o pequeno homem estava próximo à máquina de escrever. Duas pizzas de suor se formaram no seu pullover, bem na junção dos braços com o tórax. Por três eternos segundos, o coração de Otávio parou de bater completamente. Até que se recobrou:

– Você já viu uma relíquia dessas? – despistou rápido, mudando bruscamente de assunto. – Uma Olivetti Lettera 82, original, em perfeito estado de funcionamento…

– Que coisa mais linda, Seu Júlio. É nela que você escreve?

– Claro, você acha que a inspiração vem de onde? Dessa máquina do Bill Gates?

– É com a Olivetti que o senhor datilografa as críticas da coluna Otávio Albuquerque também?

Pronto. Aquele era o ponto final. O enxerido quebrou a quarta parede. Otávio não respondeu. Recolheu a xícara de café, passou por trás daquele homenzinho insolente sentado diante da máquina de escrever e, numa sequência ritmada de golpes, afundou sua face com força, dezenas, centenas de vezes, com uma fúria crescente e implacável. As teclas da máquina grudavam uma a uma na face do dono da gráfica, que terminou com a cabeça afundada sobre o buraco que se abriu no teclado. A folha que estava a postos na Olivetti Lettera registrou uma sequência peculiar de caracteres:

DPNHASGRY!¨%#%6J2L9)4$NSAL 8B JDH AKSBCBAS67D67() UYGB@@HB HVDX@#()JNJNJ NKLKNLCSZE WZW EERBI KOKMGVY BHMP MJ<>><JNCFZZEEZG JNNBB NKLMKLJN%¨¨)(989873422hJJNKDJIDROP

Otávio então colocou o vinil de Beethoven pra tocar, mesmo fora do horário, e iniciou o ritual com uma precisão quase cirúrgica. Examinou o cadáver com cuidado. A dentadura do homem chamou sua atenção. “É isso!”, pensou. Com um solavanco, retirou-a da boca ainda morna e molhada. Guardou-a no bolso, junto com as chaves do carro. Ela seria seu álibi. Depois, arrastou o corpo do infeliz pelo mato alto até o Uno vermelho. Como o porta-malas era pequeno, sentou-o no banco da frente mesmo. Algumas teclas da máquina ainda cravejadas na sua cara, cheias de sangue coagulado. Deitou o banco do morto e abriu o porta-luvas procurando uma flanela, mas achou foi a caixinha de guardar a dentadura, que enfiou no bolso e meteu o pé no acelerador rumo à ribanceira mais próxima.

Depois de estacionar no alto do mirante, transferiu o corpo para o banco do motorista, procurou uma pedra grande nas proximidades, engatou a primeira marcha, soltou o freio de mão e direcionou o volante do Uno vermelho rumo ao inferno.

Voltou a pé para o chalé, o que tomou-lhe mais de 1 hora e meia e o deixou mal-humorado. Ao chegar, chutou pra longe algumas teclas ensanguentadas que haviam ficado pelo chão e fez um misto-quente com 3 fatias de presunto e apenas 1 de mussarela. Enquanto passava o café, sentiu que estava chegando ao fim do seu derradeiro livro. Precisava pensar rápido sobre o final. A essa altura, o editor-chefe já devia saber de tudo, a verdade agora o encurralava. Não suportaria a exposição pública, a fama trazida pelas manchetes nos jornais, sua foto na página policial. Teve uma ideia. Tirou a dentadura do dono da gráfica do bolso e a colocou estrategicamente sobre a mesinha de cabeceira. Deixou também objetos pessoais espalhados pelo quarto e guardou a caixinha da dentadura em um dos seus carros. A peça final estava posicionada.

Naquela noite de quarta-feira, o chalé anoiteceu em chamas. O fogo alto consumiu a estrutura, crepitando entre vigas e mobílias antigas, chamuscando cada vestígio físico de Otávio – exceto a dentadura e sua biblioteca secreta que, ironicamente, demorou a pegar fogo e foi salva pela rápida ação dos bombeiros, acionados pelo vizinho gentil que, por um capricho do acaso, decidira buscar alguns pertences em sua propriedade justamente naquela fatídica noite.

Ao receber a notícia, assim, de bate-pronto, o editor-chefe sofreu um AVC hemorrágico, com sequelas gravíssimas. A equipe médica, após minuciosa análise da tomografia, emitiu um prognóstico sombrio: a possibilidade de recuperar a fala ou a capacidade de escrita era extremamente remota. “O processo de recuperação dependerá da resposta individual do paciente e do tempo de reabilitação”, declararam oficialmente em comunicado à imprensa.

Pela manhã, o Jornal da Cidade estampava precipitadamente na capa: “CRÍTICO LITERÁRIO MORRE EM INCÊNDIO TRÁGICO”. No topo da página policial, ao lado de uma foto grande de Otávio, o repórter fez questão de ressaltar que, por um milagre, a biblioteca foi a única coisa que resistiu ao incêndio do chalé, como se o fogo, por ironia do destino, tivesse preservado justamente as provas que revelavam a existência de um desconhecido escritor serial.

A identificação do corpo, afirmava o jornal, foi possível graças à dentadura encontrada junto aos restos mortais carbonizados – uma peça odontológica que coincidia perfeitamente com os registros que a secretária do dentista do crítico literário passou.

No mesmo dia, o caso do acidente com o dono da gráfica, encontrado em um Fiat Uno vermelho no fundo da ribanceira, foi registrado como mais uma fatalidade nas estradas perigosas da região. Ninguém deu importância, talvez pelo motorista ser banguela e morar na cidade vizinha.

Pela primeira vez, os livros de Otávio Albuquerque seriam lidos. A crítica foi feita pela bibliotecária da escola municipal, que também era escritora, e recebeu os exemplares como doação. “Não dá pra aceitar nenhum desses livros aqui, são de extremo mau gosto e seus autores são medíocres”. Como ninguém se interessou, os livros acabaram no almoxarifado da Prefeitura. Com exceção dos que a moça leu, todos permaneceram dentro dos plásticos, intactos.

Semanas depois, há centenas de quilômetros dali, na pequena gráfica de uma cidadezinha no sul do Espírito Santo, um novo livro estava prestes a sair do forno. Era quarta-feira.

Sobre Fabio Baptista

Avatar de Desconhecido

12 comentários em “DPNHASGRY!*¨%#%6J2L9)4$NSAL (Alexandre Moraes)

  1. Givago Domingues Thimoti
    29 de março de 2025
    Avatar de Givago Domingues Thimoti

    Olá, Otávio Albuquerque! Tudo bem?

    A sensação que tive foi a de ter sobrado palavras desnecessárias; a história poderia ser mais enxuta. Ainda assim, seu conto está bem escrito. 

    Particularmente, não percebi o tema. O serial killer , pelo menos para mim, por si só não configura o conto como um conto de terror e sim como um conto policial/true crime

    Enfim, o que gostei muito foram as descrições. O conto está bem rico nesse sentido de ambientação. 

    No geral, um bom trabalho!

  2. Bruno de Andrade Paula
    29 de março de 2025
    Avatar de Bruno de Andrade Paula

    Escrita: De forma geral, uma escrita limpa. Não notei muitos erros de revisão. Outros problemas, no entanto, me saltaram aos olhos. A eles:

    O texto se perde um pouco com imagens que não fazem muito sentido. Exemplo:

    Uma espécie de calor gélido subiu forte pelo pescoço e enrubesceu sua testa

    O que seria um calor gélido?

    começou a responder de forma monossilábica e com onomatopeias

    Como se responde algo com uma onomatopeia?

    O enxerido quebrou a quarta parede

    Simplesmente não consegui entender a expressão no contexto em que foi usada. Não parece fazer nenhum sentido.

    o uso particular dos travessões nos diálogos

    Como seria esse uso?

    Há também alguns exageros que tiram a credibilidade do texto. Exemplos:

    o coração de Otávio palpitava com tal violência que o tecido do seu pullover chegou a estufar

    afundou sua face com força, dezenas, centenas de vezes, com uma fúria crescente e implacável

    Há ainda o uso de algumas expressões desgastadas, como eternos segundos. Aliás, já é a segunda vez só nesse desafio que me deparo com essa expressão.

    Enredo: Bem confuso. O texto gasta muito tempo com as descrições iniciais, da vida do protagonista, e acaba acelerando no momento do crime e de seus desdobramentos, onde cabia mais detalhes.

    Alguns pontos que achei confusos:

    Publicava sob pseudônimos diversos e comprava as tiragens inteiras, empilhando os livros dentro dos plásticos, ainda intactos, como troféus em sua biblioteca secreta.

    Aqui dá a entender que ele publicava e depois comprava os livros. Mas depois fica claro que ele apenas mandava imprimir os livros e ficava com eles.

    Começou a cruzar informações sutilmente, até que um detalhe específico, presente em todos os originais e também na coluna de jornal, acendeu a suspeita. A meticulosa divisão dos capítulos, o uso particular dos travessões nos diálogos, e acima de tudo, a ausência absoluta de erros nos originais – nem um deslize, nem uma única correção – eram características que pouquíssimos escritores poderiam ostentar.

    Esses elementos parecem muito fracos pra se levar a alguma conclusão. Divisão meticulosa de capítulos, uso de travessões e um texto sem erros? Nada disso é incomum.

    Teve uma ideia. Tirou a dentadura do dono da gráfica do bolso e a colocou estrategicamente sobre a mesinha de cabeceira. Deixou também objetos pessoais espalhados pelo quarto e guardou a caixinha da dentadura em um dos seus carros. A peça final estava posicionada.

    Se foi a dentadura do dono da gráfica que ele deixou na mesinha de cabeceira, por que a polícia chegou à conclusão de que foi Otávio quem morreu no incêndio?

    Mais pra frente o texto diz:

    uma peça odontológica que coincidia perfeitamente com os registros que a secretária do dentista do crítico literário passou.

    Teria Otávio tramado com o dentista? Bom, se for, não está no texto.

    Ninguém deu importância, talvez pelo motorista ser banguela e morar na cidade vizinha.

    Isso simplesmente não faz nenhum sentido. Creio que foi uma tentativa de humor, não ficou deslocado no conto.

    A parte do AVC do editor-chefe pareceu absolutamente gratuita e algo exagerada também.

    Por fim, achei por demais estereotipada a imagem que se faz dos mineiros no texto. Não sou mineiro, talvez você seja e fale com mais conhecimento de causa, não sei. Mas, como leitor, fiquei com a sensação de uma caricatura.

    Apesar dos problemas apontados, não foi uma leitura ruim. Embarquei na história e fiquei curioso para ver qual seria o desfecho. Fiquei decepcionado com final, mas valeu o percurso.

    Não classificaria, porém, esse conto como terror. Me parece muito mais um suspense/policial. Também não abraça a comédia. Assim, o conto perde algumas posições na minha lista.

  3. Felipe Lomar
    29 de março de 2025
    Avatar de Felipe Lomar

    olá

    bem, é um texto que, para mim, beira mais o policial do que o terror propriamente dito. Talvez se enquadre na comédia pelo humor irônico, mas apenas marginalmente. Fora isso, é muito bem escrito e principalmente bem pensado, com uma construção dos fatos meticulosa e descrições muito detalhadas, como pede um bom drama policial. O final, ao invés de esclarecer, acende outras possibilidades, como a de Otávio ser um serial killer, já ter feito esse mesmo procedimento muitas vezes ou até mesmo matado os pais. E isso é muito bom. Demonstra a grande habilidade do autor.

    boa sorte!

  4. Luis Guilherme Banzi Florido
    28 de março de 2025
    Avatar de Luis Guilherme Banzi Florido

    Bom diaaaa! tudo bem por ai?

    Esse conto nao faz parte das minhas leituras obrigatorias.

    Foi uma leitura divertida e gostosa. O protagonista é carismatico de um jeito estranho ahahahha. A narrativa é muito sólida, a escrita é excelente, e a técnica é otima tambem. Senti uma cutucada em alguns membros do EC aí, ein? huahuahua

    Achei que o conto tá mais inclinado pra comedia, ainda que sutil, do que pro terror, pois mesmo tendo um assassinato e um suicidio, esses aspectos por si só nao configuram um terror. Mas o conto é bem humorado e usa a tecnica e pequenas sacadas para construir seu tom de comedia.

    O enredo é bom e solido. Eu fiquei um pouco confuso com o final, mas acho que voce quis deixar em aberto mesmo. Fiquei meio confuso com o corpo na casa, que nao parece ser do protagonista, ja que ele publica um livro depois. A nao ser que ele tenha morrido e se tornado o espirito de um escritor serial jhahahaha. Também achei que o conto deixa em aberto a questão de omnde vem as inspirações dele pros livros. Será que ele cometia outros assassinatos? Gostei dessas possibilidades em aberto.

    Enfim, um conto bem gostoso de ler, que usa bem os recursos para criar um bom humor na escrita. Parabéns!

  5. André Lima
    27 de março de 2025
    Avatar de André Lima

    O conto se inicia com uma escrita leve, rápida e bem conduzida. É um tipo mais direto e “cru” de narrativa, mas combina com o tom inicial do “primeiro ato”. Aqui, o conto sugere uma espécie de “transtorno obsessivo-compulsivo” do protagonista.

    “Mantinha presunto, mussarela e pão de forma Seven Boys congelados e estocados em quantidades absurdas, assim como os pacotes de Café 3 Corações e manteiga da roça. Era um prisioneiro de suas próprias manias. Disso não abria mão.”

    Aqui começo a identificar um estilo Stephen King no autor, com essa dose de realismo e citações de coisas rotineiras ou da cultura popular. A escrita é boa e envolvente.

    “Escrevera doze livros até aquele dia, cada um com um testemunho peculiar e perturbador.”

    No parágrafo seguinte, a inspiração do Mestre King praticamente se confirma, com o protagonista sendo um escritor.

    “Um dia, movido pela curiosidade insistente, o dono da gráfica decidiu investigar mais a fundo. Começou a cruzar informações sutilmente, até que um detalhe específico, presente em todos os originais e também na coluna de jornal, acendeu a suspeita. A meticulosa divisão dos capítulos, o uso particular dos travessões nos diálogos, e acima de tudo, a ausência absoluta de erros nos originais – nem um deslize, nem uma única correção – eram características que pouquíssimos escritores poderiam ostentar. Aquela perfeição quase maníaca denunciava seu autor. As peças do quebra-cabeça se encaixaram numa revelação inquietante: o crítico impiedoso e o escritor fantasma eram a mesma pessoa. Intrigado com a descoberta, enviou uma mensagem de WhatsApp para o editor-chefe do Jornal da Cidade. Marcaram um encontro em uma cafeteria afastada. Ali, entre xícaras de café e teorias conspiratórias, as horas se desdobraram em uma trama de suspeitas e informações colhidas de fontes diversas: ligaram para o gerente do supermercado, para o vizinho gentil, para a portaria do condomínio, para o carteiro, para todos que tinham contato com aquele cidadão de pouca conversa.”

    Esse parágrafo destoa da qualidade anteriormente apresentada pelo conto. Me parece uma facilitação narrativa absurda.
    O narrador diz que “um detalhe específico” chamou a atenção do dono da gráfica para descobrir a autoria dos livros, mas, logo em seguida, vários detalhes são apresentados e, convenhamos, não são convincentes.

    Por fim, a força do conto se perde, para mim, com as diversas facilitações narrativas e suspensões de descrença que evoca. Desde a morte por bater a cabeça numa máquina de escrever (Pouquíssimo crível) até o plano mirabolante de ocultação.

    É um conto que flerta com o terror, mas não mergulha nele de fato. Me parece mais uma história de crime que de terror.

    O ritmo é excelente e é o que tenho de melhor para destacar da obra, mas o impacto não me foi positivo por conta das inúmeras facilitações. Acho que faltou descrições mais cruas, mais fatais, mais chocantes, para o conto tentar sair da história de crime e ir para o terror de fato.

    De todo modo, é um conto agradável.

  6. Alexandre Parisi
    27 de março de 2025
    Avatar de Alexandre Parisi

    O conto apresenta uma narrativa envolvente e bem estruturada, explorando com precisão a psicologia de um protagonista meticuloso e perturbador. O autor constrói um personagem solitário e obsessivo, cuja vida é regida por manias e rituais inalteráveis, criando uma atmosfera sufocante que prende o leitor do início ao fim.

    A linguagem é fluida, repleta de descrições ricas que aprofundam o cenário e a personalidade do protagonista. O uso da ironia e do humor ácido torna a história ainda mais interessante, especialmente na forma como Otávio se esconde por trás de sua crítica literária impiedosa, ao mesmo tempo em que mantém sua própria escrita oculta do mundo.

    A trama evolui de forma crescente, conduzindo o leitor a uma revelação intrigante e um desfecho impactante. O desenvolvimento do mistério é feito de maneira gradual e bem dosada, culminando em uma reviravolta final que amarra a história com maestria.

    Gostei do conto, pois ele combina elementos de suspense, crítica ao mundo literário e uma construção psicológica densa do protagonista. A conclusão, irônica e bem elaborada, dá um toque especial à narrativa, deixando o leitor reflexivo sobre a vaidade, o anonimato e as consequências de uma vida guiada pelo isolamento e pela obsessão.

  7. Priscila Pereira
    27 de março de 2025
    Avatar de Priscila Pereira

    Olá, Sr Autor! Tudo bem?

    Muito legal seu conto! Gostei da história desse autor perturbado. Muito legal como a rotina dele foi retratada. Sabe que daria um romance muito bom?

    Só não entendi no final de tem era o corpo que acharam que era do crítico… Perdi alguma coisa?

    A professora reduzindo todo o trabalho dele a nada foi uma grande sacada!

    Parabéns pelo conto!

    Desejo sorte!

    Até mais!

  8. Fabio Baptista
    23 de março de 2025
    Avatar de Fabio Baptista

    O conto constrói com bastante competência a personalidade do psicopata com TOC. Desde o início, onde há um detalhe que só percebi numa releitura (o acidente dos pais, certamente causado por Otávio para ficar com a herança), passando pelas ações específicas em horários específicos, a alimentação, as folhas rasgadas, o crítico literário recluso. Toda essa parte é muito boa.
    O problema, no meu entender, começou quando a história precisou seguir em frente. Sim, ela segue. Mas para isso acontecer foi necessário uma daquelas forçadas de roteiro que quebram o clima. Tipo… o dono da gráfica virou Sherlock Holmes ali do nada, descobriu o segredo de um cara totalmente discreto e resolveu botar pra fuder com a vida de um bom cliente dele assim, de graça?
    Essa mão do autor pesando para que as coisas acontecessem me tirou do clima da história. Na primeira leitura ainda não havia entendido o lance da dentadura. Que realmente ficou confuso, mas ok, a explicação está lá (a ligação de uma secretária bastou para dar o caso como encerrado).
    O editor do jornal ter um AVC? Soou um tanto exagerado também.
    De todo modo, as qualidades narrativas e de construção de personagem tornaram a leitura agradável.

    BOM

    a biblioteca secreta estava abarrotada, mas depois fala que eram 12 livros. Mais à frente vemos que eram várias cópias dos 12 livros, mas as descrições ficaram confusas inicialmente.
    Naquela noite de quarta-feira, o chalé anoiteceu 
    Melhor evitar essa redundância
    há centenas de quilômetros
    a centenas

  9. José Leonardo
    22 de março de 2025
    Avatar de José Leonardo

    Olá, Otávio Albuquerque.

    Tendo em vista as minhas limitações técnicas para apreciar melhor o seu conto e de modo a tentar esquentar meus comentários que acho um tanto insossos, decidi convocar, por meio de um ritual de fervura de miojo de tomate com leite coalhado e digitação de Zerinho-um no MS-DOS, a FRIACA® (Falsa Ruiva Inteligente Auxiliar para Comentários e Avaliações) para me ajudar nessa bela empreitada e proporcionar a melhor avaliação possível acerca do seu texto (dentro da minha perspectiva de leitor).

    FRIACA: Do que se trata o conto?

    R.: A história de Otávio, um metódico (obsessivo) escritor serial e crítico literário, como dito, que em face da descoberta do dono da gráfica de seus livros (de que o escritor e o crítico literário eram a mesma pessoa, faziam o mesmo papel para as obras abordadas), resolve assassiná-lo e apagar todos os vestígios de si próprio.

    O título é como o espirro de uma máquina de escrever sobre o papel.

    FRIACA: Como você vê a narração, o estilo, a estrutura, a técnica?

    R.: Uma prosa limpa, agradável até, sobre um obsessivo serial (não somente no sentido da psicopatia, mas também da compulsão pela escrita literária e crítica). Se o presente desafio EC permitisse, digamos, o dobro de palavras como limite, seria interessante ler sua história, Otávio, com cenas contendo ações dos personagens (as ações que são narradas e não dispostas no enredo – o famigerado “show, don’t tell”). Imagine, por exemplo, a perspectiva do dono da gráfica desde sua desconfiança até a descoberta e o deslocamento ao chalé – tudo isso disposto em diálogos, em clima de investigação, em movimentos ágeis.

    FRIACA: E quanto à adequação ao tema, à criatividade e ao impacto?

    R.: Estou em dúvida se uma Olivetti Lettera 82 imprimiria as letras no papel em decorrência do… ato de Otávio contra o dono da gráfica (tenho uma máquina dessas em casa, bichinha ágil mas que com o tempo passou a travar conforme a velocidade dos dedos – olho para ela, que deve estar descalibrada, contudo não empoeirada), mas isso estou creditando à minha suspensão de descrença. Quanto ao quesito impacto, creio que o desfecho mais ou menos se delineava na mente do leitor quando da descoberta e da atitude de Otávio frente a ela. De qualquer modo, a criatividade reside na construção do texto, haja vista a maneira com que o(a) autor(a), habilidoso(a), tratou um tema relativamente comum. Concluindo, acredito que o texto se adequa ao tema do terror pelos elementos evocados, não somente pelo assassinato em si.

    FRIACA: Indo um pouco mais a fundo nesse particular e apesar do aspecto subjetivo do que a história pode causar no leitor, é um conto para dar risadas ou aterrorizar-se?

    R.: Levemente, sim, quanto a se aterrorizar. Não foi o meu caso, mas isso não tira o fato de que o texto dispõe aspectos que possam causar sensações inerentes ao terror/horror.

    FRIACA: Qual sua posição final sobre esse conto?

    R.: Um texto interessante de uma mão (e uma mente) habilidosa, Otávio. Se tivesse de avaliar para fins de nota e indicações, creio que estaria na metade superior da minha tabela.

    Parabéns pela estória e boa sorte neste desafio.

  10. Rangel
    21 de março de 2025
    Avatar de Rangel

    Oi, Otávio!Você nos trouxe o trhiller de um metódico escritor e crítico literário, cheio de manias estranhas, o que cria um enredo bastante intrigante, embora também artificial. Vou tentar me explicar.Começando pelo título, ele provoca curiosidade afinal o que pode significar aquele tanto de letras e caracteres embaralhados? A resposta me pareceu bem satisfatória e revela um história pensada nos detalhes, do título ao desfecho. Outro ponto que revela o cuidado com os detalhes é o modo como cada elemento colocado se encaixa primeiro para revelar a identidade do crítico escritor, depois para revelar o assassino.Mas tudo isso por uma parte traz pontos bem interessantes, pra mim tira a naturalidade. Um excesso de detalhes colocados todos apenas para gerar suspense e uma revelação que se encaixasse e que no final não consegue nos provocar um grande uau. Vou tentar dar alguns exemplos pra ilustrar meu ponto de vista. 1. É dito que o dono da gráfica passa a desconfiar de Otávio pois ele era um leitor ávido e por isso de poucas conversas. E isso indicaria uma contradição. Mas essa contradição não existe, aliás é bastante comum que pessoas reservadas se entreguem a atividades intelectuais como a leitura. Aliás é figura bastante comum do nerd com o livro em mãos e isolado do mundo.2. Outro ponto para que o dono da gráfica desconfiasse do crítico foi: a) a meticulosa divisão de capítulos; b) uso particular de travessão nos diálogos; c) ausência de erros. Mas sobre os pontos A e B, me pergunto: todo romance, ou quase, não é dividido em capítulos? O que havia de tão meticuloso nessa divisão que chamou a atenção do dono da gráfica? Isso simplesmente é omitido. A mesma lógica sobre o uso de travessão. Sei lá, 90% dos livros nacionais usam na travessão nos diálogos, o que de fato tinha nesse uso de travessão que o tornava tão especial? Além disso, por que o crítico literário usava de travessão em suas críticas para marcar diálogos? (Veja, uma crítica literária não tem capítulos nem diálogos, como então alguém suspeitou que fossem a mesma pessoa po isso?)Quanto ao ponto c, ora, um livro impresso passa por inúmeros processos de revisão, logo os erros tendem a ser pouquíssimos. Além disso, para que o dono da gráfica percebesse esse detalhe, precisaria ser um exemplar revisor, mas isso não é mencionado. Mesmo um revisor teria dificuldade de dizer que um livro não tem falhas de revisão. Uma lógica parecida ocorre no final. Como a dentadura do suposto morto se encaixava justamente na boca do crítico literário? Pelo que entendi, ele teria pagado pra essa coincidência ocorrer. Ok justo, mas veja, no mesmo dia, próximo dali (1h30 de caminhada é pouco) o dono da gráfica em que o cara imprimia seus livros é achado morto e não é investigado por ele ser banguela. Puxa, com tão poucos detalhes o cara da gráfica descobriu a identidade do escritor, mas a polícia não associa um banguela morto perto da casa de um assassinado em série que a principal identidade é justamente uma dentadura? A perícia nem investigou as rodas do Uno perto da casa?Entende o que quero dizer? São muitas pistas, mas elas são todas convenientes, supõe-se facilmente o que parece difícil e ignora-se o que facilmente seria de se inferir.Digo tudo isso (escrevi demais), pois achei sua escrita interessante. Me chamou muito a atenção e li com curiosidade até o final, mas acabei me frustrando um pouco no caminho. De qualquer modo boa sorte!

  11. Augusto Quenard
    21 de março de 2025
    Avatar de Augusto Quenard

    Gostei bastante do enredo, me pareceu bem original. Gostei do tempo do texto, ele é enxuto, sem se demorar muito em cada elemento que é necessário explicar. O desfecho também, gostei da criatividade e do suspense.

    Só me pareceu que não funcionou, ou talvez eu não tenha entendido, a questão da dentadura, ela não era do cara da gráfica? Por que coincidiria com os registros de dentadura do crítico? E quais “restos mortais” seriam esses, se não havia corpo nenhum e o incêndio foi apagado pouco depois pelos bombeiros? A morte súbita do editor do jornal também me pareceu um pouco deus ex machina demais. E quem sabe nem precisava ele morrer, podia apenas ficar com o segredo e logo esquecer.

    Um detalhe gramatical: “a centenas de quilômetros” em vez e “há”.

  12. Kelly Hatanaka
    20 de março de 2025
    Avatar de Kelly Hatanaka

    Não sei se atende ao tema. Não é comédia, com certeza, e o terror passou meio longe também. Há um clima de suspense, mas não de medo. Sinto que houve falta de revisão. Há descrições, muitas e longuíssimas, que tornaram o texto, por vezes cansativo. E o momento da morte do dono da gráfica ficou estranha, com uma cena narrada duas vezes. A história da dentadura tambem, não entendi patavinas. Ele roubou a dentadura de outra pessoa para forjar a própria morte? E que restos mortais encontraram em seu carro vazio, já que o corpo do dono da grafica estava no uno vermelho?

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Publicado às 16 de março de 2025 por em Liga 2025 - 1C, Liga 2025 - Rodada 1 e marcado .