EntreContos

Detox Literário.

Sutilezas (Mauro Dillmann)

No sábado passado, era noite e estávamos em casa sozinhos, como quase sempre, depois que as crianças foram pra universidade. Tudo fechado por conta dos mosquitos. Teodoro se lavou com a cueca que não sai do banheiro. Depois, pelado, buscou água na cozinha. Olhei aquela coisa murcha e, brocada de fome, decidi fazer minha vitamina com aveia e linhaça. Cada um com seus problemas, quem sabe Deus resolve.

— O que vamos comer, nega? — Escuto a mesma pergunta todos os dias.

— Vou requentar o almoço e fatiar um pepino. — Sempre temos pepino. Teodoro adora.

— Tem refri zero?

— Nem zero, nem normal. Só Tang de uva. Hoje não passei no supermercado.

Vinte e três anos de casados, de colchão afundado, de colarinho manchado, de luz do banheiro acesa, de bolo de tapioca aos sábados e de Tambaqui aos domingos. Vinte e três anos de sexo. Digamos que metade desse tempo com fartura. Ou ele deitava em cima de mim ou eu ficava de quatro pra ele gozar. Me fodia como quem fode uma prostituta. Pra mim, cinco anos de balanço, de balaio fechado ou aberto. Menopausa é fogo que arde. Fase doida. Pra ele, cinco anos de atorvastatina e de insulina duas vezes ao dia. Por isso ele quer mais, não dá pra ser depois.

Minha semana tem tumulto e agenda lotada. Terça passo no salão e na podóloga, meus luxos. Segunda, quarta e sexta corro na Avenida Jacira Reis à tardinha. Preciso desopilar. Adoro esse lugar só porque leva o meu nome, Jacira. A viatura da PM na mesma esquina sempre e adiante uns desidratados mijando no Tucumanzeiro. Tenho me interessado mais pela pele lisa do fruto do Tucumã. Sutilezas. Coisas boas de acariciar, lamber e comer. Com sorvete é a melhor sobremesa. Meu pai dizia que as pererecas são grudentas como a polpa do Tucumã.

***

Todos os dias volto pra casa de ônibus, sentada no banco alto. Um trecho de quarenta minutos e minha cabeça ferve. Leio Natalia Borges Polesso, escuto Pedro Guerra, Rita Lee e Chico César. Sou professora de Literatura e Língua Espanhola. Meu sonho de adolescência era ser atriz. Hoje penso que eu queria ser comediante. Fazer as pessoas rirem da própria desgraça. No mês passado fiquei empolgada quando vi um caminhão pegando fogo. Na escola, a coordenação só trata de inclusão. E eu falo pelo coletivo. Falo mesmo. Não bastasse o fardo que já carregamos, agora jogam mais essa bomba na nossa cabeça. 

Chego aperreada da escola lá pelas 18h30, o calor dando nos nervos e Teodoro aboletado no sofá, seminu, olhos vermelhos, com aquela piroca jogada pro lado como uma cabeça de tartaruga olhando pra mim. Na segunda, logo questionei:

— Tirou o lixo? Lavou a louça? Deu comida pros cachorros?

— Calma, nega, tô terminando o joguinho – falou encolhido, os pés na manta, com pena de si.

Que ódio.

— Então, não precisa mais, digo eu.

— Calma, nega! Tu não é Joana D’Arc que chegou no cavalinho.

E com um gesto, no movimento dos braços, ele ainda disse:

— Vem! O cheiro do amor acalma.

Às vezes não sei por que eu aguento esse rojão. Tá sempre lesado.

Teodoro chega em casa às 14h30, trabalha numa editora. Um tempo atrás se aborreceu e precisou do meu apoio. Foi acusado de assédio moral e sexual. Teve a maior repercussão nas redes sociais. Pelo menos ganhou uns seguidores.

Então, eu me esforço na simpatia e pergunto:

— Como foi teu dia?

Ele só faz um “certinho” com a mão.

Temos os nossos problemas. De todo jeito, ele me faz rir. Deve ser bipolar, já falei pra ele. Às vezes vem mais doce que caldo de cana. Quando estou lavando a louça ele chega por trás, dá um tapa na minha bunda e diz:

— Nosso maior feitiço é o riso – E faz um remelexo, uma sambadinha à la Coisinha de Jesus, cantando um pagode antigo. O sonho do teatro é meu, mas é ele quem adora fazer uma cena.

— É a minha alegria que te dá prazer – digo a ele.

— Ha ha ha. Alegria sexual, é verdade. Lembra quando fizemos meia nove e eu gozei?

Eu não lembro, mas finjo lembrar. Me esforço na representação.

Vou pro banho e paro no espelho: minhas pernas são grossas na canela, meus seios ainda firmes, os bicos como moedas de chocolate. Me observo bem, unos pechos desnudos. E Teodoro sempre no celular. Na hora de dormir, são vídeos e mais vídeos. Tá certo que uso creme vaginal e fiz harmonização facial na estética da minha colega, Letícia, professora de Educação Física, e meu rosto quase estragou. Fiquei dois meses com a boca do Pato Donald. Mesmo assim, pareço bem para uma mulher de quase 50. Ainda preciso da confirmação dele.

— Você acha que estou bem, nego?

— Estás linda, como sempre, negrona. A blusa aberta e essa teta de fora… hum, que tesão.

— Sei. A gente tá fodendo pouco. E tuas caretas do tesão parecem muito com a verdade.

— Que verdade?

— Não sei. Dá até medo.

Como ele não respondeu, acrescentei: — Homem tem que ter mais que leite nos culhões.

Ele tomava uma batida, e, com bigode de banana, me observou. O olho de peixe morto. Não disse nada. Aquele silêncio me irrita.

— Tu és do povo, Teodoro. E o povão sabe o que quer. Às vezes quer o que não sabe. E tu, o que queres afinal?

De novo, só me olhou e saiu.

Minutos depois, mandou foto no whats da bisnaga plástica vazia na geladeira. Acabou o leite condensado que a gente usa como estimulante sexual. Ele escreveu: acabou… que pena, seguido de um emoji chorão. Respondi só com um kkk. E ele arrematou: foi só uma dica, como quem diz “não esquece de comprar porque vamos usar”.

****

Deixo meu vibrador na gaveta do bidê, meio mocosado. Eu sei que ele sabe. Uma vez me pegou deitada de barriga pra baixo na cama. Disfarcei. Não posso reclamar. Teodoro é bruto, cabeçudo, de ideias curtas como o próprio pau. E um pouco desconstruído. Assistimos “Machos Alfa” juntos e ele riu em vários momentos. Acho que se identificou. Pelo menos notou que se penteava como um dos caras da série. Num dos episódios, ele comentou:

— Se um dia tu me deixares, nega, vou postar #voltaamor.

— E eu vou fazer uma ode à Dionísio numa live. — Ele não entendeu. Quero mais é brindar às possibilidades do corpo. No fundo, ele também quer.

— Não sei como tu arrumas tempo para as redes sociais. São muitos likes, né? — me criticou com ousadia.

— E por que tu não gostas que eu bote coraçãozinho? – devolvi.

E fui além:

— Tu és contraditório, Teodoro! Seu filho da putinha! Ou me criticas pelos likes ou reclama e diz não gostar que eu não goste de ninguém. Na verdade, já nem sei mais de quem ou do quê eu gosto. E nem você.

E assim a gente segue. Dizem que os casais se parecem. Eu e Teodoro, não.

Todos os dias meu telefone toca no mesmo horário, quando estamos descansando no sofá antes de ir pra cama.

— Tá chamando, nega.

— Quem é?

— Número desconhecido.

— Ah, não atendo. Desliga pra mim.

Uma vez por semana, em geral no sábado, fazemos uns petiscos e tomamos uma Corona e uma gim-tônica. Depois ele mija igual cachorro preso quanto foge pra rua. Bom é que demora mais pra gozar.

***

Mas na última segunda cheguei mais cedo em casa. Fucei nas coisas dele. Teria uma amante? Estaria usando algo além de mariguana? Achei duas agendas. Estava tudo lá, anotado nos detalhes. Pensei em quantas vezes ele me puxava, arregaçava minhas calcinhas. Quantas vezes me pediu fio dental. Eu que nem gosto dessa coisa enfiada no rego, fazia só pra agradar.

Quando ele chegou, eu disse:

— Não sei o que tu queres! Já acendi uma vela pra cada falange.  

— Nega velha feiticeira, quer saber tudo, mulher!?

Ele viu as agendas na cama. Foi quase um deus-nos-acuda.

— Você mexeu nas minhas coisas?

Dei o troco: não respondi de imediato.

Ele saiu tão ligeiro do quarto que deixou um ventinho atrás.

Passava da meia noite quando quase detonei o Teodoro. Não tinha outra possibilidade. Minha mãe foi hippie nos anos setenta, eu já tinha entendido tudo.

Ele veio esquisitoe confessou.

— Olhei uns vídeos um tempo atrás. Fiquei curioso.

Caralho, o que eu ia fazer?  

Mãos à obra. Estávamos na cama, não tinha posição para eu me movimentar. Segui firme, não estava acostumada. Se minhas colegas da escola sonharem (e elas vão sonhar), elas vão falar e me criticar. São umas fodidas.

Ele estava enlouquecido. Tão puto que ficou agarrado na minha mão esquerda. Com a direita eu fazia o serviço. Uma hora puxei o cabelo dele. Não teve jeito de soltar minha mão, apertando meus quatro dedos. Depois, não me largava. Ele queria tudo, se soltou. Era cada gemido que parecia amor de gato. Mas ficamos grudados, tipo cachorro.

Achei que eu ia matar Teodoro. A calcinha pro lado, apertada naquele bundão peludo. Era uma sutileza da vida: ele estava puto. Putão. Louco de tesão, um pavão misterioso. Tudo “ão” mesmo. Bundão putão tesão pavão!

Cansei da monotonia. Agora sou Pagu na voz de Maria Rita.

Sobre Fabio Baptista

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21 comentários em “Sutilezas (Mauro Dillmann)

  1. Fabio D'Oliveira
    29 de março de 2025
    Avatar de Fabio D'Oliveira

    Buenas, Matilde!

    É uma boa comédia. Mas acho que não vai funcionar muito bem na EntreContos. Você não esquece do fator principal de uma boa comédia: o humor. Em resumo, o humor é o fator que determina a leveza do texto. E você aplica isso com bastante competência. A parte da comédia é um pouco mais fraca, com poucas piadas e, ainda mais, direcionadas para um público distinto. Eu tive uma leitura tranquila e leve, mas não teve nenhum momento que arrancou um sorriso.

    Porém, os personagens são críveis e suas conversas são naturais — quem já foi casado vai entender.

    Talvez o conto tivesse mais chances de agradar se focasse mais na rotina da protagonista do que no sexo, que foi o tema predominante da metade pro final. Sexo é importante, mas é apenas uma parte da vida de casado. E me pareceu, inicialmente, que o conto iria abordar isso.

    Não é um conto ruim. Ele só não funciona com todos.

    Abração!

  2. Bia Machado
    29 de março de 2025
    Avatar de Bia Machado

    Enredo/Plot: 0,5/1 – Já li o conto duas vezes e não consigo definir um enredo, a não ser o cotidiano de um casal que termina em uma cena para “causar” com o leitor… Terror? Comédia? Não vi qualquer coisa de um e de outro, embora acredito que seja do tema comédia, óbvio, mas não achei graça nisso.

    Criatividade: 0,5/1 – Acho que faltou criatividade para elaborar algo que fosse mais de acordo com o desafio. Está na cara que o autor foi para o lado da Comédia, ou pensou que foi, porque eu fico pensando quem achou algo engraçado nesse texto, desculpe dizer dessa forma.

    Fluidez narrativa: 0,5/1 – Precisei ler mais de uma vez para tentar compreender. Foi bem complicada a leitura, precisei recomeçar pra ver o que eu tinha perdido no meio, porque quando cheguei ao final, me perguntei “E aí?”

    Gramática: 1/1 – Conto escrito de acordo com as normas, se tinha alguma coisa, ficou pouco aparente pra mim.

    Gosto/Emoção: 0/1 – Bem, eu não gostei, a leitura foi para cumprir o desafio. Sinceramente eu não teria lido por minha vontade, porque não é o que eu procuro ler.

  3. Andre Brizola
    29 de março de 2025
    Avatar de Andre Brizola

    Olá, Matilde!

    A comédia da vida privada! É o que veio à minha lembrança ao ler seu conto. Não pelo estilo de literatura, mas pela abordagem. E, se não é uma comédia engraçada do tipo de arrancar risadas, é do tipo divertida, daquela em que te coloca num estado de alerta, em que algo inusitado pode ocorrer a qualquer momento, o que é o que esperamos de uma boa comédia de situações.

    Tudo está acertadíssimo. A linguagem coloquial, com um certo regionalismo que não consegui identificar de onde, eleva o nível, propõe uma aproximação, e deixa tudo ainda mais divertido. E o título do conto faz jus, são muitas sutilezas no decorrer do conto, embora o que é pra ser explícito está lá, vai dando o tom desde o início.

    O texto foca no estabelecimento do casal, e isso acho que faz muito bem. Não tem ação, não tem conflito. É como uma piada, o conto estabelece o contexto para jogar o inusitado no final, buscando o choque, o estupor do leitor. E até acho que funciona. A opção por “segurar a língua” e manter a sutileza, ainda fazendo jus ao título, nos últimos parágrafos foi acertada, e isso mantém o alto nível do texto.

    No geral, tenho a impressão de que esse é um dos melhores contos do desafio nesta série A. Fico feliz de que tenha se destacado justamente na comédia, pois a impressão que ficou é que muitos foram para o terror e, no terror, os temas acabaram se repetindo um pouco. Seu conto ganha pela originalidade e criatividade.

    É isso. Boa sorte no desafio!

  4. Raphael S. Pedro
    28 de março de 2025
    Avatar de Raphael S. Pedro

    Acho que aqui, por mais que houvesse boa intenção, o conto não conseguiu entrar no tema do desafio. Se houve comédia, já foi nos últimos parágrafos. Descreveu-se muito o cotidiano da personagem, o que acabou cansando o leitor.

             A técnica é boa, percebe-se a experiência do(a) autor(a), ponto positivo.

  5. Rodrigo Ortiz Vinholo
    27 de março de 2025
    Avatar de Rodrigo Ortiz Vinholo

    Achei excelente! Divertidíssimo, e ótimo trabalho de linguagem. A construção da vida do casal e das sutilezas e exageros dos personagens é perfeita, e mesmo os pontos mais peculiares fluem com uma naturalidade que deixa os dois reais e tridimensionais (talvez ate quadridimensionais!). A história, em si, não tem tanto desenvolvimento: partimos de uma descrição do status-quo e uma subversão ao final… mas como tudo é bem feito, isso não me incomodou tanto. Parabéns, ótimo conto!

  6. Thiago Lopes
    27 de março de 2025
    Avatar de Thiago Lopes

    Para mim, o melhor conto do certame. Realmente vi as personagens, parecem-se reais. Não são tipos nem figuras idealizadas, são realmente individualizados, com traços marcantes. Um conto de verdade, sem muitas frases clichês. Algumas coisas me incomodam em determinados textos, como frases chulas, palavrões, porque, como comentei em outro conto, fica me passando a impressão de que o autor quer chocar ou se mostrar o desbocado, e isso para mim acaba soando forçado, como uma tentativa de imitar o Bukowski (não é o caso deste conto, ressalto). Nesse conto, esse tipo de coisa não incomoda muito, pois é bem condizente com o conto em si e com os temas. 

    E há algo elegante nesse humor, porque ele é sutil. No fundo, é o relato de um casal, com suas especificidades, gostos, manias. O humor está na maneira como tudo isso é conduzido, na maneira como o autor joga luz na questão. 

  7. Leo Jardim
    27 de março de 2025
    Avatar de Leo Jardim

    📜 TRAMA (⭐⭐⭐▫▫): entendi como um recorte da vida de um casal da tal “melhor idade”. A vida sexual deles é até bem frequente pra idade, mas entendi que o cara queria algo mais, como dizer?, intrusivo.

    Uma história que apresenta bons personagens, mas não conta muita coisa da vida deles. Faltou algo mais para ser uma trama de fato. Faltou também deixar mais claro esse “Pagu na voz de Maria Rita”. Entendi o contexto, mas não por completo.

    📝 TÉCNICA (⭐⭐⭐⭐▫): achei muito boa, conduz bem a narrativa, faz com que o texto se desenvolva de forma muito fluida.

    ▪ Ele veio esquisitoe confessou (esquisito e)

    🎯 TEMA (⭐⭐): embora bem leve, estou considerando como comédia.

    💡 CRIATIVIDADE (⭐⭐▫): dentro da média do desafio.

    🎭 IMPACTO (⭐⭐⭐▫▫): o texto me entreteu mais na parte inicial, em que o casal é apresentado que no fim onde deveria residir a trama. Queria ter gostado mais do fim. Isso, sem dúvidas, aumentaria muito o impacto.

  8. claudiaangst
    27 de março de 2025
    Avatar de claudiaangst

    Interessante dois entrecontistas acharem que este conto é meu. “Bundão putão tesão pavão!” – Não vejo pontos estilísticos que converjam para essa conclusão, mas… Gostei do texto, e como santista, adorei a menção à Pagu. Também não acho que seja do Daniel Reis. Terá boa aceitação e o(a) autor(a) deve permanecer na série A (e portanto, será meu(minha) avaliador(a) na próxima rodada.

  9. rubem cabral
    26 de março de 2025
    Avatar de rubem cabral

    Olá, Matilde.

    Olha, um conto muito bem escrito é o que temos aqui. Interessante a ambientação, que lembra talvez o norte do país (Amazonas, Pará?). Parece algo do realismo, tem cor, cheiro e exala calor.

    Bacana a relação muito real da professora e seu marido meio folgado. Os diálogos são bons e a escrita é excelente.

    Minha única crítica fica quanto à adesão aos temas: não é terror, certamente. E tem pouco de comédia, então terei que descontar um pouco na nota… 😦

    Boa sorte no desafio e abraços!

  10. Thiago Amaral
    26 de março de 2025
    Avatar de Thiago Amaral

    De início, achei a foto bastante sinistra, pensando que seria uma ironia, e que o conto seria um horror pesado por trás dos sorrisos de uma foto. Mas, não: o objetivo é a comédia, mesmo.

    O texto tem personalidade. As referências são mais sofisticadas e a autoria tem uma pegada de quem sabe o que fala. Os personagens são muito críveis e o relacionamento soa real. O sexo é abordado de maneira natural.

    O problema é que ele parece mais um slice of life do que uma comédia em si. Se não fosse pelo contexto do desafio, eu pensaria que é apenas uma história de cotidiano.

    O conto é repleto de pitadas de humor, e bem vejo a autoria relendo o conto com a visão de humor. Contudo, realmente não senti que o centro da história trata da comédia, e muito mais da vida como ela é, sem tantas lentes de “medo”, como seria no caso do terror, ou de riso, como seria no caso da comédia. Me soa como algo um pouco mais neutro, apesar do tom bem-humorado.

    Gostei do conto, só é uma pena que ele esteja nesse específico desafio.

    Obrigado e boa sorte.

  11. bdomanoski
    23 de março de 2025
    Avatar de bdomanoski

    Nao sei se nao sou sutil o suficiente pra apreciar mais o conto. Na primeira leitura, confesso, torci o nariz. Fiquei um pouco confusa c linha do tempo não linear. Queria encontrar sentidos. Mas na segunda leitura me deu a impressão q a linha do tempo pouquíssimo importa, e que o humor do conto, salvo pequenas tiradas engraçadas aqui e ali, é centrado na fatídica última cena, que eu diria q não é descrita de forma muito cristalina, deixando bastante coisa “a entender”. E eu entendi que o Teodoro tinha uma certa fantasia erótica que mantinha em segredo numa agenda (?) de alguma forma, embora a fala dele diga que ele viu filmes, nada a ver com a tal agenda em questão . Mas enfim, se a última cena era pra ser cômica, c Teodoro talvez fazendo papel “submisso” na cena , preciso confessar q pra mim não funcionou. O conto no geral está bem escrito e é bem vivido, mas pareceu insuficiente os dados expostos sobre a personalidade dos personagens para que a cena final tivesse um.maior impacto. Não havia material suficiente para contrapor à cena, para que pudesse gerar o efeito cômico impactante desejado.

  12. Afonso Luiz Pereira
    21 de março de 2025
    Avatar de Afonso Luiz Pereira

    “Sutileza” foi uma aposta ousada em retratar com ironia e sarcasmo a rotina desgastada de um casal que está junto há mais de duas décadas. A narrativa é marcada descrições diretas sobre sexo, envelhecimento e a monotonia da vida a dois dentro de uma perspectiva que trazer humor. A protagonista expressa sua frustração e ao mesmo tempo sua acomodação com o relacionamento, oscilando entre irritação, carinho e sarcasmo.

    Eu até gostei da linguagem coloquial do texto ao conferir autenticidade à narração, criando personagens plausíveis, um retrato realista da convivência de longo prazo. No entanto, devo dizer, pelo menos pra mim, o conto não se encaixa facilmente nos gêneros Terror ou Comédia, os temas propostos do concurso. O humor existe, sim, mas é sutil, sarcástico, não instiga aquele sorriso bobo.

    Fiquei com a impressão que a estrutura do texto se assemelha mais a uma crônica do cotidiano, crônica de costumes. O final sugere uma mudança na protagonista, mas essa transformação não é desenvolvida de forma clara ao longo do texto, o que pode deixar a conclusão menos impactante.

    Este é um conto que pode ressoar bem com leitores que apreciam uma abordagem sem filtros sobre relacionamentos e envelhecimento, mas, sei lá, pode não atingir plenamente o objetivo de se encaixar em um gênero definido dentro do concurso.

  13. Kelly Hatanaka
    21 de março de 2025
    Avatar de Kelly Hatanaka

    Uma narrativa original e boa de ler. Só não achei o tema. Talvez tenha ficado sutil demais. Não entendi a última frase. O que tem Pagu e Maria Rita?

  14. paulo damin
    20 de março de 2025
    Avatar de paulo damin

    Que legal que tu fez um conto de comédia, em vez de terror. Comédia no sentido de leveza, de final feliz, ou de bom humor em relação à vida. Casamento, sexo, falta de sexo, sotaques, comidas populares, isso tudo dá um bom jogo. Nada de novo, mas o que acontece ali pode gerar simpatia. Não sei o que poderia ser feito pra que a história de fundo fosse mais profunda. Está tudo bem nítido na superfície. Tipo crônica, sabe? Inclusive as referências da narradora dão uma chave, escancaram a porta, na verdade, pra a gente olhar e ver tudo que ela sente e pensa. Que nem na mpb e na literatura contemporânea brasileira.

  15. Jorge Santos
    20 de março de 2025
    Avatar de Jorge Santos

    Olá, Matilde. Tudo bem? Li este seu conto sentindo-me profundamente dividido. O conto tem uma carga erótica profunda, mas não tem comédia nem terror. Fiquei a pensar que se enganou na fase da Liga. Afinal, o texto “sabrinesco” é o da última jornada. Imaginar o engano faz-me rir, imaginando o seu terror. Agora a sério: embora faltando a adequação ao tem, o texto está bem escrito e prende o leitor. Achei-o algo excessivo, faltando a tal “sutileza” que ostenta no título (tenho um problema com esta palavra, que não usamos aqui em Portugal – usamos “subtileza”). Feito de forma mais elegante e adequada ao tema e poderíamos estar perante um texto campeão.

  16. toniluismc
    19 de março de 2025
    Avatar de toniluismc

    Conto forte, bem construído e ousado, que impressiona pela técnica narrativa apurada, criatividade no tratamento dos temas cotidianos e um impacto emocional marcante. A história consegue ser provocadora, engraçada e reflexiva, resultando numa leitura prazerosa e impactante.

    O tema central—rotina conjugal desgastada e busca por uma nova forma de desejo—não é inédito, mas é tratado com singularidade, frescor e humor inteligente. O uso de elementos da cultura regional, a caracterização da narradora e o modo como a história constrói um conflito sexual e emocional aparentemente banal, porém carregado de significados, são destaques criativos. A narrativa se destaca por transformar situações cotidianas em momentos intensos e cômicos.

    Parabéns pela capacidade de fazer rir de forma leve e natural!

  17. Cyro Fernandes
    18 de março de 2025
    Avatar de Cyro Fernandes

    Ponto forte do conto é a descrição do cotidiano. Oportunidade de revisar o texto para eliminar uma ou outra falha.

    Pecou por não explorar com intensidade o terror ou mesmo o terrir, temas do concurso.

  18. Fabiano Dexter
    16 de março de 2025
    Avatar de Fabiano Dexter

    Estou organizando os meus comentários conforme irei organizar as minhas notas, buscando levar para o autor a visão de um Leitor regular e assim tentar agregar algum valor. Assim a avaliação é dividida em História (O que achei da história como um todo, maior peso), Tema (o quanto o conto está aderente ao tema), Construção (Sou de exatas, então aqui vai a minha opinião geral sobre a leitura como um todo) e Impacto (o quanto o produto final me impactou)

    História (1,5)

    Aqui temos uma mulher de quase 50 anos, segundo a própria, e que vive sozinha com o seu marido desde que as crianças foram para a faculdade. A partir daí ela meio que conta a sua vida, falando que é professora, meio que fala do marido, que chega em casa cedo e só faz fumar maconha e jogar videogame e sobra a vida sexual do casal.

    O texto é interessante e os regionalismos são muito bem aplicados, mas achei que faltou mais alguma coisa no conto. A ideia é boa, mas o conto ficou um pouco pobre.

    Tema (1,0)

    O texto buscou um humor que acabou não me pegando muito. Como o tema é aberto acaba que vai muito do gosto, mas é fato que o tema está ali.

    Construção (1,5)

    A narrativa é interessante, sendo feita em primeira pessoa, pelo ponto de vista da protagonista. Porém achei que a pontuação foi excessiva, muitos pontos finais tornaram a leitura, especialmente no início, muito truncada.

    Além disso o humor, quando colocado no texto, parecia um pouco forçado, fora de contexto. Ficava a impressão de não ser a narradora fazendo a piada, como se tivesse ali apenas para compor o tema.

    Impacto (1,0)

    Infelizmente o texto acabou não me pegando mesmo. Boa sorte no Desafio!

  19. Leandro Vasconcelos
    15 de março de 2025
    Avatar de Leandro Vasconcelos

    Opa! Um texto engraçadíssimo e um tanto pornográfico! Tinha tempos que não lia algo do tipo. O último foi Mulheres do Bukowski. Este conto é como se tivesse sido narrado pelo Bukowski feminino! Mas tem um quê de surreal também – em alguns momentos, o tom despretensioso do relato beira uma viagem de entorpecentes.

    O enredo é excêntrico: rôla uma desconfiança entre os dois personagens. O cara está empregando evasivas, e a mulher acha que ele a está traindo. Mas os dois já manifestam “tendências”, de um e de outro lado. Pelo menos, assim percebi. No final, os gostos e preferências são revelados, e cada um assume polos invertidos da relação (sexual).

    O autor tenta ser sutil na mudança de ares, e consegue, mas algumas partes são exageradas. E tudo bem, o efeito pretendido parecia ser esse mesmo! O que achei curioso é que alguns trechos parecem desconectados do restante. Pelo menos, não conseguiu identificar relação. Detalhes da vida dos dois, para além da relação sexual, ficaram meio que flutuando na narrativa, como a fumaça da “mariguana”.

    Enfim, um conto “brisado” e bem adequado à proposta do certame, com seus devaneios, é verdade, mas tudo muito saudável.

  20. José Leonardo
    13 de março de 2025
    Avatar de José Leonardo

    Olá, Matilde.

    Tendo em vista as minhas limitações técnicas para apreciar melhor o seu conto e de modo a tentar esquentar meus comentários que acho um tanto insossos, decidi convocar, por meio de um ritual de fervura de miojo de tomate com leite coalhado e digitação de Zerinho-um no MS-DOS, a FRIACA® (Falsa Ruiva Inteligente Auxiliar para Comentários e Avaliações) para me ajudar nessa bela empreitada e proporcionar a melhor avaliação possível acerca do seu texto (dentro da minha perspectiva de leitor).

    FRIACA: Do que se trata o conto?

    R.: As vicissitudes cotidianas e alegrias sexuais de uma vida conjugal de intenções díspares: a esposa provedora e o marido despreocupado, que não quer nada com nada, mas que a faz feliz. Matilde pode dar mostras de que o relacionamento já a fatigou e a sugou de tal modo que gostaria de cessar, mas vemos no próprio conto o porquê de ainda perseverar.

    FRIACA: Como você vê a narração, o estilo, a estrutura, a técnica?

    R.: Sutilezas diversas. Sutileza em tudo. Há uma gama de duplos sentidos ao correr da sua pena. A forma como está estruturado – dividido em blocos – nos permite ver facetas diferentes desse casal (sob sua perspectiva de narradora, Matilde), bem como o avançar do enredo para aquela, digamos, surpresa final. 

    A prosa é limpa e certeira. Mesmo o uso demasiado de palavrões não me incomodou, posto que as cenas são informais (ou melhor, íntimas). Quando não estamos diante da relação dialógica do casal, estamos com Matilde refletindo sobre o cônjuge e sobre a própria vida.

    FRIACA: E quanto à adequação ao tema, à criatividade e ao impacto?

    R.: Humor cotidiano (acrescentando-se a isso um tipo de reflexão sobre disparidades de objetivos, partidas e contrapartidas – papo de contador -, compensações que valem a pena ou que sequer ocorrem…). Está adequado à comédia.

    FRIACA: Indo um pouco mais a fundo nesse particular e apesar do aspecto subjetivo do que a história pode causar no leitor, é um conto para dar risadas ou aterrorizar-se?

    R.: Não tive como deixar de rir com aquele final. Só de me ter causado essa sensação (não abrupta ou forçada, mas sim como resultado do enredo), já me atraiu em alta conta. As agruras de Matilde persistirão, mas ela, no frigir dos ovos, é feliz assim…

    FRIACA: Qual sua posição final sobre esse conto, inclusive sobre a nota?

    R.: Um ótimo conto, Matilde. Provocou riso e pouca aversão a palavrões, além de nos ter mostrado uma prosa de escritora profissional que não tem medo de se desbravar numa verve popular. Nota: 4,3.

    Parabéns pela estória e boa sorte neste desafio.

  21. Givago Thimoti
    12 de março de 2025
    Avatar de Givago Thimoti

    Olá, autora/autor!

    Tudo bem? Eu tenho feitos meus comentários no freestyle. Sem notas, apenas minhas impressões.

    Esse conto é diferente daqueles que vemos geralmente no EC. Tem uma linguagem mais vulgar por assim dizer, mas ao contrário de contos como o do Thales, um humor mais “piada de tiozão a sacanagem parece ter um fundo de porque ser daquele jeito.

    O que achei interessante nessa comédia está justamente no final. O desenrolar da narrativa contada por Jacira, quase uma Fleabag sulista e negra, entrega ao leitor uma subversão interessante, meio cômica; o marido, acusado de ser um assediador sexual no trabalho, sonhava em ser fudid@, num papel diferente daqueles esperado de homens heteros. Uma sacada inteligente no humor do conto.

    Acho que seria interessante imprimir esse aspecto inteligente pelo decorrer do conto. 

    Nommais, de negativo, senti falta de uma boa revisão gramatical. Nega sem acento circunflexo. Palavra juntas… enfim, uma pena.

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Publicado em 9 de março de 2025 por em Liga 2025 - 1A, Liga 2025 - Rodada 1.